john cheever

Heminguay e Fitzgerald foram geniais apenas em seus contos. Os romances longos que deixaram são insatisfatórios. Já Faulkner e Henry James são grandes nos dois formatos. Nos últimos cinquenta anos tivemos grandes romancistas americanos. Autores do calibre de Philip Roth, Saul Below ou Updike. No conto John Cheever não tem rival.
Acabo de ler " No tempo das Maçãs ", uma coletânea de contos que vão desde a época da segunda guerra até os anos 80. Cheever escreve sempre sobre a classe média. Os personagens centrais são homens, normalmente de cidades grandes, casados e aparentemente banais. Os contos são curtos ( de 10 a 15 páginas ), a linguagem é simples, porém ele não usa gíria ou palavrões. Não acontecem atos de heroísmo. Mas muita coisa acontece.
Ao contrário da maioria dos autores de contos atuais, John Cheever nunca escreve sobre o tédio. Seu texto jamais parece vazio e jamais parece gastar tempo à toa. É objetivo ao extremo. Mostra pessoas em crise, em momentos decisivos, surpresas com a vida.
Somos seduzidos com narrativas sobre gente nada sedutora. O homem que resolve nadar um bairro inteiro de piscinas, um outro que tem sua vida salva ao ver o pai nadar nú numa cachoeira, um desempregado que acredita na vida, um rádio que transmite as conversas reais dos vizinhos. Nós flutuamos com esses personagens e nos vemos totalmente absorvidos por seu inconsciente desespero e por seu cotidiano feito de reuniões, churrascos, gim, sexo casual e cinema.
O mundo para John Cheever é cruel, vazio e muito frio, mas como todo grande escritor, ele ama seus personagens. Seu conto, curto e singelo, sobre um homem numa cabana, que ao relembrar sua vida descobre que ao morrer sentirá saudades da solidão ( anoitecer, o mar, a luz do sol, o cheiro da chuva ) e não das pessoas ( esposa, filhos, amigos ), só não é a melhor coisa que já lí em forma de conto porque um dia lí Os Mortos de Joyce.
Procure esse livro e leia todas as suas linhas. John Cheever era um escritor. Um verdadeiro escritor.

LEONE/COEN/FRANK CAPRA

THE GOOD THE BAD AND THE UGLY de sergio leone com clint eastwood, elli wallach e lee van cleef. Foi Pauline Kael quem disse que assistir à um western italiano é tão estranho à um americano quanto assistir um filme sobre aborígenes da austrália. Cowboys com caras de napolitanos... Este é um divetidíssimo filme que marcou toda a geração de Tarantinos e Ritchies. Não é um western, é uma aventura passada num western made in europe. Fotografia maravilhosa de tonino delli colli e trilha famosa e excessiva de morricone. nota 9.
HIGH PLAINS DRIFTER de clint eastwood com o pro´prio. Dizer o que ? Belo, ágil, cheio de imperfeições, intrigante, quase ridículo, inesquecível e saboroso. nota 9.
THREE MULES FOR SISTER SARAH de don siegel com shirley maclaine e clint eastwood. juntar a adorável shirley ao taciturno clint é como colocar açucar em gim fizz. nota 2.
BUGSY MALONE de alan parker com jodie foster e scott baio. Um musical sobre gangsters dos anos 30. porém o filme é interpretado por crianças, em cenários diminuídos e as armas atiram chantilly. é o primeiro filme de parker e jodie está com 12 anos de idade. há um clima de pedofilia que hoje incomoda. mas é divertido. nota 5.
ARIZONA NUNCA MAIS de joel e ethan coen com nicolas cage, holly hunter, john goodman, frances mcdormand. os irmãos coen nunca foram tão bugs bunny como neste filme. um casal caipira rapta um filho de um figurão. mas, como acontece com os coen, tudo se complica. muito. cage está hilário, holly dá um show e a fotografia ( do futuro diretor sonnenfeld ) parece cartoon. um sucesso dos anos 80 e que é uma aula de edição e roteiro. nota 9.
LOUCURA AMERICANA de frank capra com walter huston. que diretor mágico capra foi !!!! um filme curto e simples, todo passado dentro de um banco. mas quanta fluidez, como os personagens são bem definidos, quanta graça e drama em tão poucas linhas. slumdog millionaire- alguém notou que ele é um capra de segunda ? - cheio de brilharecos e balangandãs ?.... fique com o otimista/ moralista original, o poeta frank capra. nota 7.
A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO de curtis hanson com rebecca de mornay e annabella sciorra.
a fotografia, com sua cara de filme feito para a tv, estraga muito deste suspense com péssimos atores e roteiro banal. hanson faria depois o ótimo la confidencial e um dos meus mais adorados filmes : garotos incriveis. este leva nota 1.
CRY BABY de john waters com johnny depp, iggy pop, traci lords. rebeldes gays brigam com almofadinhas gays. garotas machudas participam. este filme, chato- flácido- tolo, é colorido como um clip das go go's e tão esquecível como seus discos. nota 1.
MULHERES E LUZES de fellini e lattuada com carla del poggio, giulieta masina e peppino de filippo. as cenas iniciais com o show mambembe são das melhores coisas que fellini já filmou. mas o filme todo, o primeiro do gênio, é de uma beleza estúpida. cenas de estrada e de trem inesquecíveis e uma visita ao circo para se guardar. nota 7.
CAMINHO DO DIABO de budd boeticher com randolph scott e maureen o'sullivan. um cowboy solitário se envolve em sequestro. de todos os diretores classe b que os críticos franceses salvaram do esquecimento, budd é o melhor. este filme, curto, barato, simples, tem tudo aquilo que o western precisa : ação, poesia e honra. a prova de que o talento pode transformar a banalidade em ouro puro. nota 8.
CASINO ROYALE de huston, mcgrath, annakin, parrish e guest com peter sellers, david niven, ursula andress, woody allen, orson welles. a trilha de burt bacharach é uma delicia! sexy e cafona, alegre e fofissima. o filme, que foi um desastre de critica e de bilheteria, precisou de cinco diretores para ser acabado. a história, cheia de furos, tem até woody allen ( hilário e já sendo woody allen ). mas eu me diverti muito! adorei seu ar de malicia ingenua, suas cores psicodélicas e seu desfile de garotas bonitas e atores admiráveis. é aquilo que onze homens e um segredo sempre quis ser. nota 6.

apenas ir andando...

Na maior parte do tempo fomos caçadores. "Caçávamos" qualquer coisa que pudesse ser capturada. Insetos, filhotes, carniça, crustáceos. Andávamos muito para conseguir esse alimento. Nosso corpo foi se tornando o que é. Feito para andar e olhar, andar e olhar.
Mas um dia alguém plantou e então paramos de andar. E foi nesse momento que alguma coisa se partiu em nós. Passamos a esperar. Esperar pelo crescimento da planta, pela chuva, pela mudança de clima. Não íamos mais atrás do bom clima, esperávamos por ele. Começamos a olhar para a paisagem, não como caçadores; como simples observadores que matam o tempo. O movimento das nuvens, as cheias dos rios, a aproximação de forasteiros. Sementes foram acumuladas, terras acumuladas, cães treinados e o resto voce sabe : a contagem de grãos dando na matemática e a cidade se desenvolvendo como fortaleza contra o roubo de terra.
Mas o que me interessa é outra coisa. Começamos nessa hora a nos divorciar daquilo que a vida realmente é. Começamos a criar conceitos que não existem na vida. Ao observar a semente, se regada e cuidada, brotar e crescer, passamos a crer na justiça da vida. Se voce planta voce colhe- maçã dará maçã, em março irá chover, todo verão será quente- para sempre será assim.
Mas não é.
A natureza não é justa. Às vezes não chove em março.
Um leão mata um filhote de zebra e o come vivo. Uma enchente leva o que estiver por perto. Um filhote não oferece seu alimento ao irmão mais magro. Uma estrela explode sem haver qualquer senso de justiça nisso. Mas nós passamos todo o tempo querendo encontrar um sinal de justiça, de lógica em tudo que acontece.
Que sentido? O único sentido é o de que a vida tenta permanecer viva e que toda vida se alimenta da morte ( quando voce come uma alface ela precisou ser arrancada e morta, sabia ? ). E sua gripe foi curada com a morte de um inocente virus que tentava viver.
Se seu amigo morreu aos 17 anos, se um país aniquilou um outro, se sua esposa se foi mesmo voce sendo tão bacana, se seu patrão sumiu com o dinheiro da empresa... não pense em justiça. Nada disso tem a ver com o mundo agrícola onde o limão dá limão e se plantarmos colhemos. A natureza continua sendo o mundo em que fomos criados : um bosque fechado, onde andamos eretos, olhos arregalados, procurando não ser atacados e atacar algo mais fraco.
Para quem conheceu o mundo de onde vim, pensar assim é mais natural. Sou de um tempo onde se caçavam passarinhos com estilingue. Assistí cães lutarem na rua por fêmeas, gatos brincarem cruelmente com ratos. Toda casa, inclusive as mansões, tinham horta. Nelas nós tomávamos consciência dessa abstração criada pela agricultura : o tempo. Eu olhava minha mãe vir da feira, frangos vivos enrolados em jornal com a cabeça para baixo. Ela os matava com a indiferença de quem abre um pacote de arroz. Eu adorava ver o coração ser arrancado das tripas, quente e ainda pulsando. Cruel ? Claro que é. Me revolta tudo isso. Hoje minha mãe não consegue matar uma barata. Mas o que é a floresta que voce tanto ama ? O que fazem os índios inocentes ? Os africanos da savana ?
Esse caçador grita em nós e reprimido dá tiros a esmo do alto de uma escola, atropela bebados nas avenidas, luta vale tudo em ginásios ou dá tiros virtuais em telas coloridas. Esse caçador entende a vida real melhor que o agricultor, que o filósofo, que o artista. Ele caminha e procura. Não inventa motivos para agir, éticas, símbolos, enrolações.
Sua religião pede apenas por mais caça, seu casamento é desejo de procriar, sua arte é chamamento para viver.
O homem agricultor, que planta e espera colher, ainda é, mesmo após séculos de revolução industrial, o predominante em nosso modo ilusório de ver o mundo. Mas talvez surja um tipo de humano ainda, tolamente, mais distante da vida. Um corcunda apertador de botões. Com olhos que só percebem imagens luminosas e ouvidos que apenas existem se plugados. Um homem que só entenderá o tempo se ele puder ser acelerado; desligado totalmente de tudo que for feito de pedra, madeira ou barro. Deletando pensamentos inúteis, emoções sem razão e maus fluidos.
Felizmente não estarei presente nesse mundo.

3 momentos de um herói

The good, the bad and the ugly. Aqui nasce o moderno filme de aventuras. Eis o filme favorito de 9 entre 10 diretores moderninhos, este é o western que até aqueles que não gostem de western adoram. O revejo então. E me emociono com suas faces gigantescas, com seu enquadramento absolutamente magistral, com seu roteiro cheio de humor e com uma violencia exata. Reconheço o personagem Tuco, feito com rara genialidade por Eli Wallach e vejo o nascimento do moderno herói cool - o Blonde- de Clint Eastwood- modelo de todos os heróis atuais. Note bem o que disse : todos!
Sergio Leone, fã confesso de Kurosawa, dirigiu este filme que mudou a história do cinema. Dirigiu sem medo de demonstrar seu amor ao mestre japonês: o inicio do filme é puro Kurosawa, o roteiro é ao estilo Kurosawa e Clint faz um Toshiro Mifune americano. Suas cenas de ação são lutas de samurais sem espadas e os longos silencios recordam Rashomon ou Os 7 Samurais.
Mas há um outro lado: todo europeu tem uma necessidade visceral de colocar algo de superior, de pseudo-aristocrático em tudo que faz. Um europeu não consegue- jamais- ser puro. Por mais que Leone ame o cinema de Ford e Hawks ( outras duas referencias do filme ) ele, Leone, jamais terá sua pureza, sua simplicidade, seu imediatismo americano.
Então, mesmo Leone tentando, ele cai na tentação de encher o filme com imagens pictóricas artística, de exagerar nas doses de música operística( a tão famosa trilha de Morricone funciona genialmente como música em sí- mas as boas trilhas de cinema devem fazer o filme avançar, comentar a ação e não, como aqui, chamar a atenção sobre ela própria e distraírem o expectador ).
É como rock inglês : por melhor que o cara seja ( e olhe que sou fã dos hiper-ingleses Roxy Music e Kevin Ayers ) eles nunca conseguem parecer tão crús/ diretos/ não afetados/ descomplicados- como os americanos. Sempre colocam arte no bolo. Pitadas de erudição, quilos de pretensão, temperos de simbolismo.`É o que diferencia Clash e Ramones/ Bowie e Iggy/ Beatles e Dylan.
Leone então, por mais que tente, acaba empetecando seu filme, dando uma profundidade ao que não necessita ostentar tal profundidade. E quase perde o rumo, nos ofetando um excesso de cenas bonitas, de música magnífica, de rostos arquetípicos.
Mas Sergio Leone é um mestre e consegue superar tudo isso. Se despe desse excesso e termina por nos dar um maravilhoso filme: divertido- apaixonante e inspirador.
Clint Eastwood, já famoso, dirige seu segundo filme : HIGH PLAINS DRIFTER ( O estranho sem Nome ). Um cowboy chega à uma cidade e se vinga de toda a população. Como ? Não direi para não estragar seu prazer. O que posso falar é que a vingança é tão terrível quanto é original.
Este filme, que tem uma fotografia belíssima de Bruce Surtees, é muito, muito estranho. Ele flutua entre o humor grosseiro e um tipo de horror sanguinário. Acaba sendo um filme meio indefinido, meio vago e absolutamente fascinante.
Voce começa a ter um imenso prazer em olhar aquela paisagem ( que não é "bela" ), voce passa a torcer intensamente pelo dito "herói" ( que é muito amoral ) e se pega envolvido.
Em seu tempo -1973- o filme foi intensamente massacrado pela critica, hoje é um quase clássico do western.
Eu sei que o filme de Leone é muito maior e melhor, mas este filme me deu um prazer bem maior.
Por fim, 3 Mules for Sister Sarah, filme de Don Siegel que é bacaninha mas que nunca dá certo totalmente. Simplesmente porque Eastwood não combina com Shirley MacLaine. Ela precisa de um ator mais falante, mais bonzinho a seu lado e na verdade, Clint Eastwood nunca funcionou ao lado de uma mulher ( nem com Meryl Streep ).
Neste filme ela é uma freira perdida no México e Clint é mais uma vez Toshiro Mifune nascido na América. Mas não se faz a fagulha. Esqueça.

os dois melhores escritores

Não é dificil encontrar livros de Henry James nas livrarias. Ele está sempre presente em novas edições e traduções. Este é um fato que me dá esperança e alegria : ler James é fundamental. Ele é um dos dois maiores escritores em qualquer língua surgidos nos últimos 100 anos. Um americano que se tornou inglês e que escreve com ritmo e requinte. Voce penetra em sua prosa, se vê cercado por seus ambientes e passa a pensar o que os personagens pensam. Henry James possui a magia de Proust com a fluidez de Stendhal. Um mestre.
O outro, e que é o melhor, é Joseph Conrad. Qualquer um que já tenha suado ao tentar escrever algo que preste, fica assombrado com a escrita desse autor. Conrad, que nasceu polonês, foi marinheiro até os 30 anos. Percorreu todo o globo e viu de perto o auge do sistema colonial inglês. Se naturalizou e passou a escrever livros aos 35 anos- sempre em sua nova língua- na qual se tornou, por opinião consensual, o maior dos mestres.
Joseph Conrad se tornou a meta a ser alcançada por um certo tipo de autor: o escritor que viveu- o intelectual que não perdeu o sabor da vida real. Heminguay, Mailer, Greene, Hammet, Updike... todos devem muito à Conrad. Seus livros, que têm o enredo do livro de aventuras e a profundidade do livro filosófico, são milagres inatingiveis- frases perfeitas sobre frases perfeitas- personagens profundamente reais em situações limite- momentos decisivos em lugares distantes- o horror do isolamento- viagens sem motivo ou destino.
James e Conrad, dois desenraizados estrangeiros, exemplificaram o destino do homem moderno, a inadaptabilidade da alma atual, o futuro incerto do herói.
Ler seus livros é obrigatório.

vila madalena/vila olimpia/sra smith/gomorra

O filme é italiano. Para os los hermanos da vila madalena já conta muito. Gomorra. Artificial, calculado, óbvio, chatíssimo. Mas como fala de "sociedade" interessa aos revolucionários da cervejinha/ aos sempre barbudinhos de sandália/ os chapéuzinhos vermelhos saudosistas/ os cegos que não têm bengala/ os classe média que amam os proletários ( proletários que não conhecem. O único pobre verdadeiro de suas relações é o garçom- que com condescendencia, ele trata por "igual").
É um lixo de cinema. Calculado para os orfãos das brigadas vermelhas e para aqueles macaquinhos amestrados que aplaudem qualquer idiotice feita por qualquer macho anti-americano.
O filme é americano. Para os playboys suburbanos que frequentam a Vila Olimpia isso conta muito. Trata de dois robozinhos programados para matar. E eles matam com grande alegria e eficiencia. São Brad ( que com a idade está ficando com cara de burro ) e Angelina ( cujo beiço parece poder explodir à qualquer momento ). Mas a propaganda diz que os dois são lindos. Os fortinhos/ sorridentes/ celular na mão/ "olha aquela gostosa" da Vila O acreditam em tudo que as revistas bacanas e os canais a cabo dizem. Então Brad/Angelina são tudo o que eles querem ser. E ter. O filme, calculado como uma campanha de marketing, tem a cozinha que todos querem, os carros que eles sonham, os computers do futuro e eles até vão a bares iguais aos da Vila O. E dão tiros em gente com cara de pobre-safado.
Se hoje em sp, voce tem desprezo pela turma Vila O, e morre de rir com o discurso idiota "de esquerda" da Vila M... cara, voce deve fugir do filme italiano e do filme dos assassinos-glamurosos.

CARRIE/BETTE DAVIS/STEVE MCQUEEN

Tom Horn de William Wiard com Steve McQueen
o último filme de steve é um western de uma tristeza glacial. dá pra notar o avanço da doença que mataria o astro logo após o final das filmagens. ele tinha 50 anos, mas aparentava 70 naquela altura. é triste pensar no que ele poderia ter feito no futuro que não viveu. tinha carisma de sobra e um estilo calado e frio insuperável. mas este é apenas um filme pobre e de pouca razão de ser. 3.
Teu Nome é Mulher de Vincente Minelli com Gregory Peck e Lauren Bacall.
o roteiro de george wells ganhou o oscar daquele ano. é o avô das ditas comédias romanticas. aqui, feita com muita classe e diálogos adultos e leves. peck é um jornalista de beisebol e lauren uma snob designer. minelli leva com seu bom gosto de esteta. nota 7.
Domino de Tony Scott com Keira Knightley e Mickey Rourke.
foi scott, o irmão de ridley o culpado. foi ele quem nos anos 80 criou a mania de filmes cheios de truquezinhos de imagem. atores posando. camera dançando. ar de anuncio de tv. filmes como top gun, fome de viver, dias de trovão e maré vermelha. este filme é dos maiores lixos imagináveis. um monte de movimento que não vai a lugar nenhum, ação sem emoção, cores e sons que existem por existir. um vergonhoso retrato do quanto o cinema se tornou futil. Zero.
Mama Mia!!!!!!!!!!!! de Phyllida Lloyd com Meryl Streep, Pierce Brosnan, Colin Firth, Julie Walters.
produzido por tom hanks. e isto é muito importante : o filme tem o astral de the wonders. que imenso prazer o de se ver meryl streep brincar. que delicia assistir pierce brosnan esbanjar charme adulto pela ilha encantada onde o filme existe. e que deplorávelmente ruim roteiro temos aqui ! será que não podiam criar um mínimo de emoção, um minimo de surpresas ? temos neste a prova do porque de os musicais atuais não funcionarem : os números de canto e dança são jogados na tela sem preparação. o roteiro não cria um gancho, um motivo poético para que a canção se inicie, ela vem de repente. de sopetão. mesmo assim eu senti afeto pelo filme. por meryl, pierce e colin, e por que não ? pela muito subestimada música do abba, que desde a década passada vive sua vingança contra aqueles que não enxergavam nos anos 70 que aqueles suecos eram os herdeiros de phil spector. nota 6.
Vitória Amarga de Edmund Goulding com Bette Davis, Ronald Reagan e Bogey.
bette é uma frívola milionária. adoece. cancer cerebral. dramalhão ? é. mas nada revoltante. o filme flui e bette estraçalha. só vivien leigh em e o vento levou poderia lhe tirar o oscar daquele ano- e tirou. bette mostra egoismo, vaidade, medo, culpa, dor e coragem, ensinando como iluminar a tela. quando ela está em cena o filme brilha. brilha muito. felizmente ela está em todas elas. 7.
Depois do Ensaio de Bergman com Lena Olin e Gunnar Bjorstrand.
é um dos filmes que o genio fez após sua "aposentadoria". conversas sobre teatro, existencia, tempo, morte. não é filme de cinema, é feito para a tv sueca. 5.
Carrie de Brian de Palma com Sissy Spaceck, William Katt, John Travolta e Piper Laurie.
As pessoas que odeiam os anos 70 são aquelas tímidas personalidades que abominam a exuberancia louca que havia então. tudo era super-big nos 70 : carros imensos, cabelões gigantescos, sapatos e lapelas colossais, filmes egocentricos!!! e que felicidade a de uma época que em 3 anos assistiu : O chefão e a conversação/ taxi driver e alice não mora mais aqui / tubarão e contatos imediatos/ guerra nas estrelas e american graffitti/ annie hall e manhattan e nashville com um estranho no ninho. e carrie. um filme do mais exagerado e anos 70 dos diretores: de palma. um diretor que sempre vai ao limite, que não teme o mal-gosto, o exagero e a falta de tato. neste filme, se uma pessoa morre, mais 20 morrem; se uma cena é cruel, mais crueldade é adicionada. o roteiro é péssimo, os atores ( com excessão da comovente sissy ) estão à deriva, a trilha sonora compromete, o papel da mãe é caricatural... mas, funciona! funciona como uma homenagem aos filmes ruins, como uma diversão pop, e para mim, é uma deliciosa comédia de saudável humor-negro. a cena da corda segurando o balde com sangue é puro hitchcock : brian segue a dica do mestre : se o balde apenas caísse sem sabermos que ele iria cair teríamos apenas um susto- mas sabemos que o balde cairá, e vemos a agonia de carrie lá embaixo e esperamos-quando irá cair???? carrie é um filme que feito hoje mostraria visceras e explosões, a camera rodopiaria pelo cenário e os alunos seriam deprimidos sórdidos. de palma tem muito mal gosto, mas filma bem demais. nota 8.
Appaloosa de Ed Harris com Ed Harris, Viggo Mortensen, Jeremy Irons e Renee Zelwegger.
primeiro: o que aconteceu? Jeremy irons surgiu em 81 como possivelmente um novo olivier. após seu oscar em 88 foi relegado a apenas um tipo : o vilão fino e gelado. se tornou um desses atores excelentes e sub-utilizados, como gary oldman, malkovich, willem dafoe, terence stamp. dito isso...o western, de todo tipo de filme é o que mais depende de carisma. trata-se de um tipo de filme que expõe o ator : é seu corpo se movendo. aumentado, isolado, observado. esse ator tem que ser magnético. como o foram wayne, cooper, stewart, clint ou burt lancaster. viris e magnéticos. esse tipo de ator não se forma estudando teatro ou assitindo tv- ele se forma na vida. para o western são necessárias cicatrizes, rugas e uma voz que transmita solidão e coragem moral. no western não existe um homem numa estrada correndo ao sol- no western é O homem correndo NA estrada debaixo DO sol. tudo é amplificado e exposto na sua mais profunda e última realidade. meninos não gostem de westerns. eles não têm celulares/ carrões e computadores. mas o principal é: ele mostra aquilo que seremos ou já somos. este é um faroeste do tipo anthony mann- crepuscular. existe ação e companheirismo. mas é tudo mudo, surdo, meio em vão. ed e principalmente viggo têm bons rostos para westerns, mas falta um pouco de brilho ( quem teria hoje ? ) mas há aquele relacionamento direto, tipo john ford e dá pra ver que todos os envolvidos amam o que estão a fazer. digno, honesto e preciso. 7.

gore vidal, um ensaísta

DE FATO E FICÇÃO de Vidal. Foi lido na década de noventa. O emprestei para alguém que jamais o devolveu. Agora releio esse delicioso livro.
Gore Vidal tem um modo malicioso de escrever, sem papas na língua, sem nove horas. Ele vai direto ao ponto e mesmo assim jamais parece reles ou estúpido. Ele é suave e gentil e ao mesmo tempo duro e incisivo.
Ensaios sobre escrita, cinema e politica : tudo aquilo que ele entende. Entende por ter sido roteirista, politico e um belo autor de prosa e de dramas teatrais.
Scott Fitzgerald é para ele um chorão. Um autor que tem apenas dois ou tres bons contos e apenas um belo livro : Gatsby ( que mesmo assim sofre de absoluta falta de humor ). Gore ve em Scott o mesmo que em Heminguay : autores que devem sua fama ao que foram e não ao que escreveram. Ele alerta que com o avanço do pensamento científico, só o que é de verdade e não inventado importa, e portanto, a vida que um escritor viveu é mais importante que sua obra. Ou seja, nesse mundo pseudo-científico-útil, Heminguay/ Jack London e Steinbeck são mais relevantes que Proust/ Flaubert, Joyce, o que se trata de um absurdo.
Fitzgerald foi roteirista em Hollywood, onde ao contrário do que diz a lenda, ganhava muito bem e nada produzia. ( Huxley, Faulkner, Greene e Dos Passos também foram. )
Depois Gore escreve sobre Edmund Wilson, o melhor ensaísta que a América já produziu. Um grande bebedor de gim ( e Gore alerta sobre o fato de que toda essa geração foi chegada a litros e tonéis de álcool ruim ), e um homem que provou um erro de Freud : Wilson criava muita ficção e crítica e tinha uma imensa vida sexual ativa. Edmund Wilson trouxe às letras americanas os nomes de Verlaine, Yeats, Proust, Flaubert. Viveu até os 75 e era um ferrenho esquerdista ( num tempo em que ser de esquerda exigia coragem, hoje exige cara de pau ).
No terceiro capítulo, Vidal fala sobre Christopher Isherwood. Um ingles que viveu na Berlim pré-nazismo, tipo 1930/35. Um grande estilista que em seus contos descrevia de forma bela e contundente a vida boêmia desse momento único na história. Hordas de americanos e ingleses bem de vida iam à Berlim, onde conseguir um amante homossexual proletário era muito fácil. Nunca existiu um lugar com tal concentração de Homos/ Bis e travestís.
Isherwood foi amigo de Huxley e também escreveu para cinema ( inclusive Hitchcock ). Vidal aproveita para discorrer sobre a perseguição nem tão sutil que autores gays sofriam/sofrem.
O capítulo sobre cinema. Traz uma questão que todos nós nos esquecemos de fazer : afinal, o que faz um diretor ?
Estamos tão condicionados ( desde a Nouvelle Vague- pois foram Godard e Truffaut quando jornalistas que criaram essa crendice ) a ver o diretor como deus que não mais pensamos naquilo que ele realmente faz. Vidal, que esteve lá, conta que o poder do diretor acabou no cinema mudo, época em que imagem era tudo. Quando o cinema começa a falar, Hollywood chama a peso de ouro os melhores escritores e o roteiro passa a ser coração e alma de um filme. Gore Vidal cita Kurosawa, único grande cineasta que teve a humildade de confessar : " um grande roteiro dirigido por um cineasta ruim ainda pode se tornar um bom filme. Mas um roteiro ruim dirigido pelo melhor dos diretores ainda será um filme ruim ".
Diretores/ roteiristas ( Huston e Wilder ) podem ser considerados donos de um projeto, mas devemos sempre entender que um direor pega o projeto já desenvolvido. Atores escolhidos, fotografia, data de estréia, quem fará a montagem.
O livro ainda discorre lembranças sobre Tennessee Willians, outro grande chorão.
Depois temos Louis Aunchincloss ( autror que deveria ser melhor lido ) e um belo capítulo que anuncia o fim da leitura. No futuro todos lerão só o que é útil/ comprovadamente saudável e que garante ser vida real- ou seja- biografias exemplares.
Há um texto sobre Mishima e que me fez recordar como o mundo enlouqueceu por volta de 1970. Mishima, o mais famoso escritor japonês ( não o melhor ) se suicidou praticando seppuku após discursar na tv contra a presença americana na vida do Japão. Um general, por pedido expresso do autor, decepou sua cabeça e a exibiu no alto da torre da tv de Tokyo.
Mishima era um raDICAL de direita que cultuava o corpo. Para ele, a beleza da alma estava na beleza do corpo. Segundo Vidal, ele se mata aos 45 por não querer viver a queda desse corpo pela idade. ( Gore é informado o bastante para nos alertar que no ocidente o suicidio é ato de desespero, no Japão é uma escolha livre. Ato de afirmação. )
Daí temos uma critica àquela turma tão em moda nos 60. Autores franceses que iriam destruir o romance e criar o romance do futuro : romances sem tempo, sem personagens e sem enredo. Deram com os burros na água.
Depois um perfil de Teddy Roosevelt, o presidente dandy que meteu os americanos em guerras vergonhosas e da qual o país paga o pato até hoje.
E vem um maravilhoso texto que fala do ódio que as mulheres devotam aos homens. Ódio que nasce da escravidão milenar pela qual elas passaram. Vidal previu em 61, que a liberação feminina faria com que a vingança viesse : chifres aos milhões, desprezo pelos apaixonados, sexo por sexo, descartabilidade masculina e mulheres de 60 com garotos de 18.
Afinal, durante cinco milenios elas foram a serpente, a bruxa, a danação, a fonte da doença e um animal procriador. No final do livro, um dado :
Talvez, Darwinisticamente, estejamos nos preparando para o fim da vida. Estamos deixando de nos procriar, nos tornando mais homos e menos interessados, estamos nos enclausurando na virtualidade da droga e do sonho ( e hoje no mundo virtual em sí ). Tudo isso parece um fim de ciclo, fim de vida, inicio da despedida. É como se não mais valesse a pena crer na vida.


aprendendo a olhar- uma tentativa

Andando pelas ruas desta cidade. Observo cada cor. Noto toda variação de luz que não cessa seu cambio infinito. A sombra que bate naquela parede. Uma folha que se move.
Procuro nada deixar escapar. A beleza está em toda parte. Basta saber para ONDE OLHAR.
Mas ainda SABEMOS ?
Dois exemplos de deseducação do olhar :
Um rosto em big-close. Uma boca linda. Uma bela mão sobre uma bela mesa. Close rápido em seio nú. Um belo mar azul.
Exemplo dois :
Estrada longa com cactus verde musgo. O sol se põe. Corte. Neve cai sobre pinheiros. Corte. Crianças brincam ao anoitecer. Close. Um sorriso.
Tempo de duração dessas duas cenas acima descritas : 1 minuto.
Consequencia : voce ACHA que viu coisas belas. acredita. compra a idéia. o filme vende isso. seus olhos, domados e passivos, olham aquilo que é JOGADO SOBRE VOCE. Não existe escolha. Seu olhar não é educado porque não existe como PROCURAR o belo. voce está passivo.
PROBLEMA CRUEL : VOCE SE ACOSTUMA À PASSIVIDADE. Belo se torna o que parece belo. Não existe escolha. Nada de apreciação. Voce desaprende a olhar e quando algo de genuinamente belo se lhe apresenta - voce não percebe- está cego para a vida.
DOIS EXEMPLOS DE DEMOCRATIZAÇÃO DO OLHAR :
45 minutos de um baile. Imagens amplas, vastas, sempre em movimento. Seu olhar tem A LIBERDADE DE ESCOLHER para onde olhar : o belo décor ? as roupas de época ? o movimento dos corpos que bailam ? as faces dos atores ? a luz de velas e de janelas de autentico cristal ? A CAMERA GENEROSA MOSTRA TUDO E DEIXA QUE NÓS ESCOLHEMOS O QUE APRECIAR. O diretor confia em nosso bom gosto. AO MESMO TEMPO : 8 linhas narrativas se sobrepõe - se voce for muito inteligente conseguirá seguir todas as 8. Uma sensibilidade mediana seguirá 3. HÁ A TRAGÉDIA- um homem realmente nobre perde seu porque na vida. Seus dias se foram MAS ELE SABE E NÓS SABEMOS que ele é melhor que aqueles que lhe tomam o lugar. HÁ A COMÉDIA BUFA- uma bela porém ridicula moça torna-se o símbolo da vulgar beleza que nasce alí. É a beleza burguesa em oposição a nobre beleza anterior. NASCE A LINHA NARRATIVA POLITICA - os novos ricos precisam do lustro cultural da nobrza e da respeitabilidade do sangue azul. Tristemente, o nobre se torna um empregado. SURGE O PURO PRAZER ESTÉTICO - todas as histórias contadas sutilmente. VOCE É CONVIDADO A USUFRUIR CADA MOMENTO. CONVIDADO E SEDUZIDO. Nada é jogado ou imposto. Todo esse drama está no rosto e no gestual de cada personagem. SUA INTELIGENCIA DEVE LER O FILME.
Voce passa então a LER A VIDA, percebendo todo o drama e toda a beleza que se desenrola ao seu redor.
EXEMPLO SEGUNDO:
Neve cai numa praça. Sem cortes. A camera caminha entre brinquedos. Balanços, gangorras, tobogã. É noite. Um velho se balança no brinquedo. Está só. Continuamos sem nenhum corte. Sem trilha sonora. A camera se aproxima da face do personagem. Ele chora. E começa a cantar uma canção que fala do tempo.
Sem qualquer pressa. O diretor, confiando em nosso espirito, deixa a nosso critério o julgamento da beleza ou não de tal cena. SERÁ POESIA OU SERÁ DRAMALHÃO PESADO ? Cabe a nós decidir.
Citei cenas de O Leopardo de Visconti e de Viver de Kurosawa.
Filmes que desenvolvem nosso olhar, nossa inteligencia. Eles nada empurram sobre nós. Educam. Fazem com que percebamos a beleza e o drama da vida do dia a dia. Seus diretores nada vendem. Suas cenas dão a POSSIBILIDADE DA ESCOLHA : para onde vou olhar ? onde está o belo ?
O filme nobre jamais grita : _Olhe que coisa linda!!!!!!!!
O filme nobre apenas diz : _ Olhe...
Voce precisa procurar a beleza nesse filme. Para a encontrar, é necessária inteligencia e refinamento. E quando voce percebe, é como se o artista lhe dissesse : BEM VINDO .

rápidinho-, comentários e notas

.QUEIME DEPOIS DE LER dos Coen. Em ano muito ruim, se destaca fácil. nota 8.
VICKY CRISTINA BARCELONA de Woody Allen. Um tipo de Eric Rhomer pop. Woody acerta na leveza, Scarlet naufraga, Bardem brinca e Penelope estraçalha. nota 8.
AGENTE 86 de alguém que não importa. Uma lástima. nota zero.
THE READER de Daldry. Com Winslet. Kate está caricatural. Sua alemã parece uma alemã feita por uma inglesa. O filme aborrece e agita sempre um cartaz onde se lê : arte! - pois não o é. Trata-se de presunção do pior tipo. Risquem o nome de Daldry do meu caderno. nota 1.
CLUBE DOS PILANTRAS de John Landis com Belushi. Nunca foi dos meus favoritos. Penso que John Belushi nunca fez um filme a altura de seu potencial. nota 3.
YOUNG MAN WITH A HORN de Michael Curtiz com Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Filme sobre jazz. É baseado na vida de Bix Beiderbecke. Kirk se esforça, mas voce percebe que o diretor não entende de jazz. E nem se interessa. nota 2.
O MAIOR AMANTE DO MUNDO de Gene Wilder. Um tímido americano caipira se torna o novo Valentino. Gene dirige sem inspiração. Parece Mel Brooks de segunda mão. 3.
O IRMÃO MAIS ESPERTO DE SHERLOCK HOLMES de Gene Wilder. nota zero.
EXPRESSO DE CHICAGO de Arthur Hiller com Gene Wilder, Jill Clayburgh e Richard Pryor. Funciona. Muito agradável, é o que chamo de pop honesto. Assume o que pretende e o atinge. nota 6.
CENAS EM UM SHOPPING de Paul Mazursky com Woody Allen e Bette Midler. Um casal discute a relação num shopping. Só isso. O filme é um tipo de análise pop para trintões. Mazursky surgiu em 1970 como enorme promessa. Ficou pelo caminho. Nota 3.
OURO É O QUE OURO VALE de Walter Graham com James Coburn. Faroeste de humor. Mas o pastelão passa do ponto. fuja!!!!!! zero.
SARGENTO YORK de Howard Hawks com Gary Cooper.
York fez enorme sucesso na época da segunda guerra e deu a Cooper seu oscar. Conta a saga de um caipira que se torna herói. Sem querer e sem ter noção do que faz. Ele é um tipo de Garrincha da guerra. Todos que me acompanham sabem do meu amor pelo cinema falsamente simples de Hawks. Quem já tentou fazer qualquer tipo de arte sabe que o mais dificil é transformar o grande trabalho em prazer. Parecer fácil o que é dificil. Hawks sempre consegue isso. Relaxar e deixar rolar. Mas York não me agrada. Há algo de muito carola, de muito falso aqui. Provavelmente Hawks se sentiu pressionado pelo clima de guerra e fez um filme travado. Um anti-Hawks. Gary Cooper está muito bem. nota 3.
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph l. Mankiewicz com Bogart e Ava Gardner. Bem... Mankiewicz é o maravilhoso diretor de clássicos como A Malvada e O Fantasma Apaixonado. É considerado um mestre do diálogo, da interpretação. Mas este muito pretensioso filme erra em sua análise do que seria Hollywood. Conta a história de uma espanhola que via publicidade se torna grande estrela. Mas ela é ninfomaníaca e se casa com principe italiano impotente. Bogey está sobrando neste filme. Ava está bonita. Mas o filme não evolui. 3.
A IDADE DA REFLEXÃO de Michael Powell com James Mason e Helen Mirren. Escrevi um comentário mais longo sobre este delicioso filme abaixo. Procure. Se voce achou que o pintor feito por Bardem no filme de Woody é muito chavão, veja James Mason neste filme. Aqui vemos aquilo que um pintor realmente é. Helen resplandece. Sua sensualidade é uma aula para JessicasBiels e NataliesPotmans. Ela é de carne e osso. E brilha como o sol deste filme feliz. Mais uma dentre a dúzia de obras-primas de Powell. Nota DEZ.
O FIO DA NAVALHA de Edmund Goulding com Tyrone Power, Gene Tierney e vasto etc. O livro de Someset Maugham é uma deliciosa novela pop que fala da falta de sentido da vida. O personagem, Larry, volta da guerra traumatizado e roda o mundo atrás do nirvana. Lí o livro já 3 vezes e se trata de um best-seller com suprema habilidade e vasta ambição. O filme pega tudo isso e transforma numa pecinha escolar sobre ciúmes e dor de cabeça. Chato e ofensivo. Um detalhe: Power interpretou dois de meus mais amados personagens : larry aqui e o narrador de O sol também se Levanta. O fato de ele afundar os dois filmes diz muito sobre o que Hollywood é. nota 1.
A FACA NA ÁGUA de Roman Polanski. Trata-se do primeiro longa de Polanski, feito ainda na Polonia num maravilhoso preto e branco. 3 personagens e aquele clima claustrofóbico do qual ele é mestre. ( aliás, Roman já nasce mestre aqui. o filme tem a segurança de um veterano ). Casal dá carona a jovem e o leva para velejar. Nasce o suspense. Todas as enquadrações de cameras são belíssimas, os atores estão muito bem orientados, e a história nunca se trona monótona e nos hipnotiza. Um filme muito barato, muito simples, muito original e totalmente acessível de um diretor que nos daria a obra-prima Chinatown. nota 8.
QUEM MATOU LEDA? de Claude Chabrol com Bernadette Lafont e Jean Paul Belmondo. Crítica escrita abaixo. Leia que vale a pena. O filme é direto, vibrante, profundo e inesquecível. Fotografia de Decae genial e um Belmondo divetidissimo. nota 8.
AS DIABÓLICAS de Clouzot com Simone Signoret. Foi refilmado com Sharon Stone e Isabelle Adjani. Um desastre essa refilmagem. Este é asfixiante, paranóico, muito habilidoso e um prazer absoluto. nota 7.

o japão, o brasil e um outro mundo

Estudei em escola pública até os 13 anos de idade. Meu bairro, o Caxingui, era formado de casas com longos quintais no fundo. Galinhas, coelhos, limoeiros e couves. Toda casa tinha um porão e todo porão tinha um reino de fantasia.
Em minha escola não havia um só negro. Onde eles estavam eu não sei.
O Brasil parecia distante, ficcional, inexistente. Foi sómente aos 12 anos que falei com um brasileiro. Um mulato, Juscelino, filho da empregada de casa. Aliás, devo a Juscelino a descoberta dos quadrinhos da Ebal.
Em minha infancia, todos os meus amigos eram japoneses. Mauricio, Wilson, Donato e Celso. Todos falavam e escreviam japones. Eram filhos de japoneses e suas casas eram atulhadas de bonequinhas, samurais, pinturas do monte Fuji.
Jogava beisebol na rua com eles. Todos tinham bonés azul-marinho e usavam meias tres-quartos branca bem esticada. Riam muito. Os pais adoravam pescar. E pareciam muito unidos.
Assistíamos Nacional Kid. Ultraman. Samurai Kid. Speed Racer e Super Dínamo. Eu era Hawata nas brincadeiras. Eu pensava que todo o Brasil fosse japonês.
Aos poucos foram surgindo alguns italianos para bagunçar tudo. Eu me sentia mal com sua estridencia, sua falta de tato, sua indiscrição. Mas logo meu lado latino acordou, comecei a me soltar, a falar alto, a relaxar.
O Japão se tornou o império de minha infancia.
O Brasil, hoje, não tem mais japoneses. Tem coreanos e chineses. E eles são bem diferentes. Por isso, sempre me emociono ao ver um ancião nipônico andando na rua. Ele é sempre um viúvo. Leva um guarda-chuva e um jornal da colonia. Cheira a sakê. E tem o porte nobre de um ex-imperador.
O Brasil, hoje, é um país estranho para a criança que fui. E o olho com olhar estrangeiro. Me parece muito sensual demais, muito colorido demais, violento demais, latino americano demais.
Sei que parece uma pequena loucura minha. Mas quanta gente de minha geração é assim sem ter a consciencia do porque ?
Na idade adulta conheci os filmes de Kurosawa, Mizoguchi, Ozu, Oshima, Imamura, Ishikawa... foi como voltar a meu país. Foi como reencontrar meu quarto. E Mauricio, Celso, Wilson, Mario...
Portanto, não me fale da distancia do pensamento japones para o brasileiro. Sempre morei entre os dois.
E de forma lógica, aos 12 anos me apaixonei por Sueli e depois por Marc ia... escrevia hai-kais para elas, sem saber que eram hai-kais. E plantava bambús.
Ainda tento encontrar a beleza dos bambús pingando orvalho em manhãs geladas de maio.
Onde encontrar?

o oscar, um vovô muito chato!

Acompanho o prêmio desde 1976 !!!!! ( caramba ! ). Foi o ano de Rocky e de Faye Dunaway. A entrega acontecia às segundas e durava várias horas. Não existia essa mania de se agradecer agentes, contadores, produtores. E na platéia as câmeras mostravam gente como Jack Lemmon, John Wayne, Laurence Olivier, Gregory Peck, Charlton Heston ou Audrey Hepburn. Uma nova geração se afirmava. De Niro, Pacino, Diane Keaton, Travolta e Stallone. Paul Newman, Warren Beaty e Steve McQueen eram muito quentes ! E Jack já exibia seus óculos escuros.
No ano seguinte ví Annie Hall vencer tudo, Lucas e Spielberg despontarem e o mundo do cinema começar a se infantilizar. Se acomodar ( e com isso reconquistar o público que os anos 60/70 haviam afastado ).
Tive tempo de ver Hitchcock ser homenageado, assim como Bergman, Kurosawa, Fellini. Recordo um aplauso de 5 minutos para Olivier ( num tempo em que só ele, Chaplin ou John Wayne faziam o público aplaudir de pé ). Eu me maravilhava em poder ver na tv, na minha sala, aqueles ícones tão distantes, tão elegantes, tão irreais.
No oscar deste ano, a primeira ovação de pé, tão já em seu final, foi para Sophia Loren e Shirley MacLaine. Finalmente a emoção se fazia notar. Porque até então o que víamos era aquela festinha tipo encontro escolar. Xoxo e morninho.
O que acontece ? Eu mudei ou o oscar mudou ?
Sentí falta de Jack e seus óculos. De Scorsese elogiando algum diretor genial. Sentí falta de ícones. ( e mesmo de estrelas como George Clooney, Johnny Depp ... )
É trágico notar o fato de que as pessoas não conseguem mais vestir um terno e se sentir confortável. E não terem a coragem então de não usar o tal terno escuro. A caipirice impera.
Falar dos prêmios ? O bom moço venceu. A boa moça venceu. O filme dos meninos bonzinhos venceu. Penn é bom ator. Mas Milk é mal cinema. Kate é boa atriz. Mas O Leitor chega a dar vergonha. Slumdog tem talento. Mas erra muito mais que acerta.
O verdadeiro futuro vive nas animações. Wall e foi de longe a melhor coisa nas telas em 2008 ( e o futuro provará isso ). Atores não se tornarão desnecessários : já o são.
A academia não teve os culhões de votar no arrogante e não=bonzinho Mickey Rourke. Sua atuação se tornará clássica. Milk será esquecido ( mas não os outros papéis de Sean Penn ).
Oscar sempre foi propaganda. Mas agora tem um jeito de relações públicas terrível.
E fico tentando reencontrar a emoção de ver Lucas e Spielberg homenageando Kurosawa ou Cary Grant dando prêmio ao amigo James Stewart...
Foi perdida a chance de se fazer justiça a Jerry Lewis. O primeiro ator que conhecí. Um gênio criativo, um gênio da comédia para franceses e alemâes. Mas a academia o esnoba. Como sempre esnobou Chaplin, Buster Keaton, Os irmãos Marx, Cary Grant, Steve Martin, Jim Carrey...
De bom o prêmio para Penelope. Quantos atores foram premiados em filmes de Woody ? Diane Keaton, Michael Caine, Dianne Wiest, Mira Sorvino, Judy Davis...e devo ter esquecido alguém.
Meus indicados teriam sido Gran Torino, Vicky Cristina, Wall e, Queime depois de Ler e talvez Slumdog ou o western de Ed Harris. Mas...
Aplaudiram De Niro de pé. Daniel Craig parece Barney Rubble e Hugh Jackman chegou a dar pena... Nicole Kidman é mais bonita que Angelina Jolie e o vestido de Penelope Cruz era o mais bonito. Que mais ? Dormir é bem melhor !