VINIL. A ARTE DE FAZER DISCOS. - MIKE EVANS.

   Saiu agora este bonito livro, pela Publifolha. Evans começa falando da invenção do som gravado, ainda em cilindro, depois a criação da bolacha de acetato. No começo, discos de 3 minutos apenas, a 75 rotações por minutos. E em 1948 a grande revolução com a criação do LP como o conhecemos. Toda essa parte é a mais interessante do livro. Fotos de discos históricos, dos primeiros a vender bem, das capas mais bonitas ou criativas.
  Interessante notar que até os anos de 1990, toda mudança tecnológica tinha por alvo favorecer a música erudita. Para se ouvir uma sinfonia em 1945, por exemplo, era preciso ouvir oito discos. Vinte minutos em oito discos. Uma ópera completa usava cerca de 25 discos. Quando o LP é inventado, pela CBS, é a música clássica que se beneficia a princípio. Todo o catálogo da CBS, e depois da Decca, da RCA, da Philips, são vertidos para LP e são esses os discos que mais vendem. Entre 1949-1959, de cada 100 novos discos lançados, 60 eram títulos eruditos. Eu observei em 1995 críticos reclamando que os novos títulos de eruditos começavam a cair, pois na popularização do CD, entre 1987-1993, eram lançados milhares de discos de música clássica por ano. O CD, como antes com o LP, era uma nova mídia perfeita para óperas e sinfonias.
  Com o download isso acabou. Esse meio, que faz com que as pessoas mal suportem 10 minutos de música ininterrupta, sepultou o disco clássico. Foi a primeira invenção a não favorecer a música de Bach, Brahms ou Berlioz.
  Evans lança bela tese sobre a vantagem do LP. Além da beleza da arte gráfica, dos encartes, há a deliciosa sensação de "ser dono da música". On Line, voce escuta um disco. No LP voce o compra, é seu e só seu. Fisicamente presente. Pra sempre.
  O resto do livro, que fala da história das grandes gravadoras ( Motown, Island, Factory, Chess, Verve, Blue Note...estranho ele pular a Virgin, Decca, Atlantic, Stax, Casablanca, Sub Pop ), as grandes capas, não é tão bom. Talvez porque são histórias que eu conheça muito bem...
  De qualquer modo é um belo livro e que se favorece muito da internet. Pois apesar de o LP ser bem melhor, na NET podemos ouvir todos os sons citados. Então, vamos à eles...

DEBBIE, STANLEY, GENE, DONALD E A GENTE

   A alegria não cabe mais em nosso mundo. O que nos consola é um tipo de histeria sorridente que nada tem a ver com a alegria. No cinema o máximo que podemos almejar é a comédia cínica ou a fantasia abstrata. Há pudor em ser alegre no mundo da arte. Ou pior, há maldade no mundo artístico.
  Debbie Reynolds encarnava a inocência. Stanley Donen a elegância. Gene Kelly a destreza e Donald O'Connor o humor. Todo se uniram para fazer CANTANDO NA CHUVA, o filme que todo amante da vida tem a obrigação de ver. É a prova dos nove de seu grau de sanidade.
  Debbie partiu. Ou melhor, nosso mundo não mais pode a aceitar. Ela e seu universo são tão distantes de nós que se tornaram incompatíveis.
  Debbie viveu os dois mais temidos pesadelos da alma feminina: Ela perdeu o marido para a melhor amiga e ao fim da vida viu sua filha morrer. Por piedade ela morreu. Justo.
  Meu mundo é este de agora, pós 1968, o mundo em que Deus é o desejo e todo desejo é poder. O desejo é Dionísio e as pessoas se esqueceram que Dionísio é um deus cruel, violento, egoísta. Ele exige sacrifícios em sua honra, sangue e vinho. O mundo de Debbie era o de Apolo, elegante, belo, ordenado ( mesmo que fosse apenas aparência, aparências são o mundo ). Ela sorria, cantava, chorava, sorria de novo e sabia dançar. Era a vizinha que todo mundo quer ter, a namoradinha da sexta série, a melhor amiga que vira esposa. Nunca foi sexy, ela era amável.
  Partiu.
  E o que nos resta, enquanto alguns ainda sabem, é cantar na chuva e ser um palhaço.

COMO SER UM CONSERVADOR - ROGER SCRUTON ( NÃO EXISTEM NA POLITICA BRASILEIRA ).

   Talvez um dia tenhamos tido verdadeiros conservadores. Mas eles devem ter se afastado da politica em 1889. O horrendo golpe republicano alienou do brasileiro sua alma conservadora e instituiu a história brasileira como um eterno recomeço, um jogar fora o passado. Começo que jamais termina.
   Dos livros de Roger Scruton este é o mais politico. Portanto não espere outro assunto a não ser as agruras do partido conservador e do trabalhista na Inglaterra. Claro que é um excelente livro e eu o recomendo para todos. O que ressalta no texto é a diferença imensa que há entre o conservadorismo real, inglês, e aquele que cá é chamado de direitismo. O direitismo, chamado por Scruton de liberalismo, prega o progresso, o consumo, a indústria e a economia como únicas verdades. Isso existe no Brasil, em que pese ser aqui conspurcado por uniões podres e cínicas com o estado.
  Conservadorismo, o verdadeiro, doutrina de Burke, de Alex de Tocqueville, prega o respeito ao passado. É uma democracia que leva em conta os mortos, os vivos e aqueles que ainda não nasceram. Tem no centro tudo o que nasce de baixo e não o que é imposto de cima. Seu vínculo é o amor entre familiares e vizinhos e não o dever para com o estado.
  As pessoas amam sua família, sua rua, seu bairro. E é esse amor que as une aos desconhecidos das cidades. Uma cidade é a união de famílias e não a união de indivíduos. Para esse amor ser respeitado, ruas, igrejas, monumentos, paisagens precisam e devem ser preservados, conservados. Uma cidade só é humana quando tem história, passado, e quando suas dádivas são guardadas como herança para o futuro. Lar, clube, time, igreja, escolas, praças. São esses os organismos de uma nação. Não se deve, jamais, impor a essas pessoas aquilo que lhes é melhor, o que se deve é garantir a liberdade de que elas continuem construindo sua história.
  Scruton escreve suas melhores e mais lindas páginas na defesa da beleza. Beleza é conforto, é bem estar, é dar sentido, é sentir-se aceito dentro do mundo. A arte moderna abomina essa ideia e Scruton explica como e quando aconteceu esse desprezo à beleza. A arte, deixou de ser um modo de se atingir a plenitude, e se tornou modo de destruir tudo.
  Vou resistir a tentação de comentar o fantástico capítulo final. Nele Scruton descreve a alegria. Para fazer justiça a algo tão bem escrito só se eu o reescrevesse. Leiam.
  Termino contando uma experiência minha...
  Em 1980 ainda andava de noite pela avenida Paulista com o coração em suspenso. Sombras nas esquinas e luzes embaçadas nas janelas dos casarões, os últimos, que contavam silenciosamente sua história para mim. Eu andava devagar, usufruindo de cada fachada, cada uma com seu emaranhado de linhas, cada linha cantando uma história.
  O pessoal do governo não conservou nada, e a indústria derrubou tudo. Segundo os seguidores de Le Corbusier e de Niemeyer, aqueles casarões não tinham valor nenhum. Eram bolos de noiva, lixo. O valor seria vidro e aço, linhas retas e muita luz. Hoje lamentamos sua extinção. Nunca voltarão.
  Uma casa é um lugar cheio de história. Tem coisas, tem cheiros, tem segredos.
  Nesse lugar a gente fuma, bebe, fala, dorme, lê. A gente tem coisas, a gente ama pessoas e por essa casa a gente trabalha e sonha. Essa a base do conservadorismo. Manter vivas as coisas. Preservar para o futuro o que melhor há do passado. E nessa ideia se encontra a beleza, o conforto e a história. Amar uma nação, a sua, é poder amar sua família.
  Muito "grosso modo" é isso.
  Mas é mais. Bem mais.

Status Quo - Paper Plane



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Status Quo - Down Down (Glastonbury 2009)



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A BOBAGEM DO TAL ROCK ADULTO E A VERDADE DO TALENTO...PENSANDO A MORTE DE GEORGE MICHAEL.

   O coração de George Michael havia parado de bater a muito tempo. Assim como Prince, seu tempo acabou por volta de 1995. A era dos Clinton, de Seattle, das camisas de flanela enterrou o POP chique, vaidoso, hedonista dos dois e de tantos outros. A versão branca da música de Stevie Wonder, Marvin Gaye e Al Green não tinha mais vez. E o tipo de música de Prince, o negro feliz, vaidoso, satisfeito, sexy, se tornou o RAP, mais agressivo, mais masculino, mais suburbano. O público de George passou a ouvir música eletrônica, o de Prince, RAP.
  Para piorar, George processou a Sony, num tempo em que gravadoras ainda mandavam em tudo. Fosse hoje ele não teria o menor problema, mas na época ele ficou isolado. Na geladeira. Quando voltou o mundo já mudara. Os anos 80 eram outro planeta. E as meninas, seu maior público, dançavam ao som de Ricky Martin, pois George já assumira sua condição gay. ( Ironia ).
  Ele não se tornou um novo Elton John porque não tinha o gênio de compositor que Elton tem. George era uma voz perfeita. Listen Without Prejudice é seu melhor disco e em Praying For The Time ele atinge o sublime. Ouvir essa canção nos recorda que a beleza é aquilo que mais precisamos. Praying é a faixa que abre o disco. Quando a orquestra começa a tocar nos sentimos em outro mundo. Isso é genial.
  A geração de George teve a pretensão de unir música popular adulta ao rock. Perceberam que mesmo Dylan era apenas um adolescente velho. Dylan podia ser genial, mas era um teen sempre. Pensaram em ser adultos copiando a postura de adultos. Bowie, Ferry, Robert Palmer, George, todos vestiram ternos, pegaram melodias Cole Porter- Gershwin- Berlin e pensaram que assim seu POP se tornaria adulto. O máximo que conseguiram era parecer adultos no lugar errado. Erraram de desejo e erraram o alvo, claro. Mas em meio a esse processo criaram um tipo de trilha sonora chique que nunca mais foi tentada por ninguém. ( OK, Amy sim... ). Sade, Paul Weller no Style Council, o Everything But The Girl, todos chegaram nesse hibridismo que jamais foi adulto, mas que era uma bela festa de adolescentes travestidos de Cary Grant.
  O estranho é perceber que Al Green fez tudo isso 15 anos antes. E sem imitar ninguém.
  Bowie saiu dessa e voltou a tentar ser um tipo de vampiro eletrônico. Vários deles se tornaram cantores de dvd. Ferry nunca saiu desse mundo. Vestiu bem e se sente em casa nele. E George sumiu. Alguns shows bonitos, tristes, intimistas. E o coração na voz. A voz...
  Termino falando que Rick Parfitt morreu aos 69 dia 23. Sua banda era o STATUS QUO e essa banda nunca mudou. Desde 1970 eles fizeram e refizeram o mesmo disco, um boogie de pub, rock analfabeto de adolescente feliz. Eu amei essa banda na minha adolescência e voltei a escutar, muito, de 2012 em diante. Penso que nada é mais distante do mundo de George que eles. A música deles é diversão, diversão e só diversão. Com algumas baladinhas muito lindas. On The Level é o melhor disco.
  Bom saber que a música POP pode ser tão variada.

O QUE SIGNIFICA O NATAL.

   A base de uma civilização saudável é o costume. A raiz está no amor, amor que cria a família e que daí se espalha formando a vizinhança. O amor ao seu lugar é o que constitui a identidade. Uma nação é o conjunto de pessoas que se protegem por compartilharem a mesma raiz: a família. A verdadeira democracia garante o respeito a essa base. Familia, bairro, praça, igreja, clube, time, festas populares. Por maior que seja a cidade, ela é habitável quando constituída por essa células. O estranho é que há uma intelectualidade que detesta toda essa rede amorosa. Chama-a de hipócrita, falsa, doente, cínica. Na verdade esse intelectual vê sua face em tudo aquilo que olha.
   Ditaduras começam por atacar alguns desses costumes. Mudam escolas, mudam ruas, mudam nomes de lugares, mudam festas, proíbem encontros, amizades, religiões. Mantém apenas a família porque precisam de filhos. Mas se pudessem fariam fábricas de crianças. O ideal de toda ditadura é a indústria. Um mundo industrial.
   Por isso o natal é sagrado. De todas as festas do ocidente é a mais vital. Ela festeja a família e o nascimento. Ela festeja o milagre. E essa festa é atacada, e já faz algum tempo, em duas frentes: na comercialização, que retira toda a interioridade da noite de natal; e na simples negação, que tem orgulho em dizer que o natal não existe. ( Para esses estou aqui a falar do nada. O que prova apenas a burrice desses seres vaidosos ).
  Toda civilização precisa preservar seu legado. Respeitar os que morreram fazendo viver aquilo que ele nos deixaram, e garantir aos que não nasceram a herança que vem desde sempre. Quando essa corrente se rompe a civilização perece.
   Tenha um bom natal. Olhe uma estrela e pense no tempo transcorrido, nas gerações e mais gerações que o comemoraram. Respeite-as. Ame. Conserve seu mundo.

O GATO ZEN - KWONG KUEN SHAN

   Kwong nasceu em Hong Kong e mora na Inglaterra. Li um ano atrás O Gato Filósofo, um bonito livro da editora Estação Liberdade. Kwong não é escritora, é pintora. Ela faz lindos desenhos sobre gatos e escolhe frases de Confúcio, Lao Tsé, de grande nomes chineses e os combina. O livro se torna assim um delicioso passeio por beleza e sabedoria.
  Kwong confessa ter tido gatofobia por anos e que faz apenas 6 anos e superou esse medo. Hoje ela tem 3 gatos e os usa como modelos. Os desenhos, elegantes, leves, sempre bonitos, nos acalmam, nos deixam em suspensão.
  Vejo no Tube que a edição francesa é muito mais caprichada. A brasileira tem papel bom, boa impressão, mas é econômica, formato pequeno. Isso barateia o livro, é nossa realidade.
  Bela lembrança para amigos que amam gatos.

[Nouveau concept !] Le premier livre-tableau : Les Chats du Tao



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