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LOST....PAIXÃO É QUANDO PODEMOS SER AQUILO QUE SOMOS...

  Querido Bryan
                                       Voce conseguiu de novo! LOST é uma canção linda, tão linda que parece sua. Sublime. A mistura de tristeza e de beleza, dor e prazer.
Mas não é só disso que quero falar. Voce sabe, quando a gente ama, se apaixona, a gente se torna aquilo que é de verdade. As pessoas acham que é o contrário, que a gente fica doido quando ama. Não! O nosso normal, o que somos aparece na paixão e só nela.
Então Bryan, voce cantou para tantos amores meus e eu te digo que mais um milagre aconteceu na minha vida! Se voce não fosse voce, eu pensaria que voce agora estaria achando que vou me casar. Mas voce me conhece porque é do meu planeta. Eu apenas a vi, falei com ela e senti, na hora de partir, que ela e eu somos um. E foi só isso. E isso é tudo.
Lost é a trilha desse momento, desta despedida impossível. Eu parto e fico. Ela fica e se vai comigo.
Eu a amo. E com ela, para o mal e para o bem, eu sou eu.
Só isso Bryan.
Espero vê-lo em breve.
Amor, de teu discípulo Anthony R.

Bryan Ferry - Shameless



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C'EST CHIC ( QUANDO A MÚSICA SE TORNA FASCISMO )

   Em 1978 fãs do grupo The Who se reuniram num estádio em Cleaveland, e antes de um show de Roger, Pete, John e Keith, juntaram toneladas de discos de discoteque e os destruíram no gramado. Hoje Pete se arrepende e diz que o ato foi fascista, mas na época ele até compôs uma música chamada Goodbye Sister Disco. Eu odiava disco em 1978. Ou melhor, eu queria e DEVERIA odiar disco em 1978. Eu gostava de rock e portanto TINHA de achar disco um lixo. Mas o estranho é que eu assisti SATURDAY NIGHT FEVER oito vezes no cinema e vibrava quando os Trammps tocavam. Mas sentia vergonha. Muita vergonha.
  Lembro que um dia, em 1980, eu e meu irmão, ouvindo rádio, falamos a verdade: Tinha várias músicas disco que a gente adorava! Coisas de Rick James, Sylvester, Cerrone, Giorgio, Trammps, Rose Royce, Celli Bee. E claro, o melhor de todos, Chic.
  Na Enciclopédia do Rock da Rolling Stone, Robert Christgau diz que a disco deu tanto ódio aos rockers por dois motivos muito fortes:
  1- Foi o primeiro movimento pop assumidamente gay, latino e feliz.
  2- Enquanto no rock o amor era dor ou era um tipo de estupro machista, na disco ele era sedução suave e sexy. Essas duas características, não-musicais, eram naquele tempo insuportáveis para jovens acostumados às dores do amor frustrado ou ao machismo de carros velozes e "olhe garota como ele é grande". A disco era democrática, era para todos, era miscigenada, convidava nerds, bichas, velhos, crianças, ricos e pobres, mulheres e homens, travestis, todos para uma grande festa de purpurina, neon e roupas bonitas. Para os cabeludos sujos isso tudo queria dizer só uma coisa: Viadagem conformista.
  Estávamos todos errados.
  Pretos bem vestidos e felizes. Isso era novo. O rocker aceitava negros raivosos ou negros pobres e tristes, ou mesmo a Motown, negros chorando o amor; mas na disco os negros eram MUITO alegres, MUITO sexys, e mais estranho, MUITO chiques...Isso era muito estranho. Eles pareciam mais jovens, mais bem resolvidos, mais felizes que nós! Pior, eles se vestiam melhor! Que coisa esquisita!!!!
  ( Marvin Gaye e Stevie Wonder sempre foram tudo isso, mas gente fingia que não percebia ).
  Então agora, em 2016, pego este disco de 1978 do grupo CHIC. Na época um enorme sucesso. E um dos poucos do movimento que alguns críticos não malharam. Só alguns ( Ezequiel Neves foi um deles ). Rockers diziam que os músicos disco não sabiam tocar. Eles preferiam a habilidade do Kiss ou dos Pilot. Aff.... Se eu fosse músico eu queria ser baixista e se eu fosse baixista eu queria ser Bernard Edwards. Não há baixista melhor no pop ou no rock. Suas linhas melódicas dançam, fluem, pulam, são velozes, nos fazem dançar e ao mesmo tempo são lindas, femininas, sexys. Flea toca parecido, só que Flea é menos sexy e mais punk. Mas a banda, um trio, tinha ainda a bateria de Tony Thompson, um batera que mistura a discrição rítmica-esperta do jazz com a marcação pesada do funk. E completando temos um gênio: Nile Rodgers, o guitarrista mais sacudido e chique do pop, o maior produtor pop dos anos 80, o cara que mudou o rádio para sempre.
  Nile Rodgers nos anos 80 produziria Debbie Harry, David Bowie, Bryan Ferry, Duran Duran, Madonna, Robert Palmer, Peter Gabriel e mais um monte de gente que esqueci ou não quero citar. Porque ele, entupido de cocaína, aceitava tudo e todos e de certo modo ele se tornou um tipo de ditador da moda musical de então. Todo mundo queria ele como produtor-guitarrista-diretor musical. LET'S DANCE! de Bowie foi o disco que abriu o mercado branco para Nile e desde então ele esteve sempre em evidência. ( Bowie e Ferry estavam de olho nele desde 1978 ).
  Na capa deste disco já há algo que muito irritava os rockers de 78: 3 negros e 2 negras muito bem vestidas, tipo Ralph Lauren, numa sala chique e com expressões faciais à Roxy Music. Parecem ricos. Parecem contentes. Parecem de bem com a vida. Não sorridentes. Mais que isso, resolvidos. E o som reflete isso. Ele é suave, muito bem gravado, sacolejante, sem suor e sem lágrimas, os instrumentos soam como cristal, tudo é exato. Artificial, de bom gosto, e negro, muito negro. É um som que faz voce se sentir dentro de uma Mercedez. E ao mesmo tempo no bairro negro. Isso era a disco.
  Difícil escrever sobre o som dos caras. Eles são bons demais. Basta dizer que Bryan Ferry procura esse som até hoje ( e continua gravando com Nile ). Bowie tentou e errou por toda a década de 80. E Madonna deve a ele 50% de sua fama. Seus melhores discos foram feitos com ele. Miles Davis logo entendeu a coisa e percebeu que os caras levavam às massas aquilo que ele era desde sempre. O negro livre. Auto-suficiente. E muito, muito chique.
  Este disco, agora em um mundo menos preconceituoso, é delicioso!

PRESENTES DE NATAL: A ARTE DO KITSCH = SEXY COM PIMENTA.

Comecemos dezembro com quatro presentes de mim para todos vocês. Comecemos com o mestre do sexy: Bryan Ferry. Quatro vídeos de quatro discos diferentes. Todos apresentam a tapeçaria sonora na qual ele é mestre. Linhas de som vão se costurando uma na outra e se você fechar os olhos e se deixar conduzir irá se perder nos nós rítmicos que são então construídos. Dezenas de instrumentos urdidos em batidas negras e enfeitadas por sonoridades gélidas. Sim, é artificial. Sim, é pura produção. Mas é delicioso!
Quanto as imagens... Ferry criou e depois marketeou a mistura que ele aprendeu com seu professor de artes plásticas: Richard Hamilton, o mestre POP, nos anos 60, quando aos 18 anos o jovem Bryan estudava na escola de Artes de Birmingham. Essa mistura é o sonho colorido de um jovem aberto ao mundo do NOW. Surrealismo com cabaret barato. Páginas da Vogue unidas a paredes do MOMA. Comercial de cigarro e festas em Montmartre. Filmes de Carné e musicais de Fred Astaire. James Bond brega com o mais fino Cecil Beaton.
E Bryan, cercado de gatas, se equilibra nesse mundo que vai do mais lixo ao mais luxo. Se equilibra inclusive e principalmente nesse modo gay de se hetero. Dúbio sempre.
A dubiedade e a decadência é aquilo que melhor o define. Todos os vídeos parecem muito ricos e muito toscos. Muito chiques e Buzina do Chacrinha. É proposital. Estilo. Gente como George Michael ou Seal tentou ou viu só o chique, e assim se tornou apenas Vogue. Ferry vai além. O brega apimenta e dá relevo ao bonito. Seus vídeos são agora o que eram em 1995: instigantes. Beleza com pimenta e alguma sujeira= eis o cool.
Essa dubiedade se revela no som também. É muito POP, mas nunca o bastante. Falta sempre o refrão grudento. É dançável mas nunca quente. E Bryan canta como um romântico, mas nunca canta forte, apenas murmura. estranheza.
Mamouna é fascinante. Limbo é pervertidamente kitsch. I Got a Spell é tentador. E ainda há apenas a beleza banal e colorida de mais um...Presentes de Natal.
BF é sempre um laço de fita que a gente abre suspirando.

Bryan Ferry - I Put A Spell On You



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Bryan Ferry Limbo



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Bryan Ferry - Mamouna (US Video) [Official]



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AVONMORE, MAIS DE BRYAN FERRY

   O som de Bryan Ferry começou a ser criado em 1982, no último disco do Roxy Music, o luxuoso Avalon. Esse som, criação única, é um tipo de delicada tapeçaria, pontos musicais que se entrelaçam. Podemos também chamar de flocos de neve em caleidoscópio. É um som frio, cheio de volteios, ângulos que se abrem para serem fechados em seguida, riffs que ameaçam nascer e desaparecem. As batidas são sempre negras, mas elas são partidas, retomadas, perdidas. Em meio a essa massa sonora vagueia a quase sonâmbula voz de Ferry, sussurrante e aliciante. Sempre.
   Desde então ele nunca mais mudou. Disco após disco, ele apenas se contentou em aperfeiçoar essa tapeçaria, às vezes com grande sucesso ( Taxi ), às vezes errando feio ( Olympia ). Mesmo ao gravar seu disco de standards da música pop dos anos 20/30, As Times Goes By, ele conseguiu fazer trompetes e banjos soarem como seu costumeiro tricot. Avonmore não atinge as alturas de Taxi, ou mesmo de Frantic, ( estou falando apenas dessa fase costureira. Os discos solo anteriores a 1982 não contam ). Por outro lado, o novo disco nunca desce a ladeira como o citado Olympia, ponto mais baixo de toda a carreira do romântico maior da Inglaterra. 
   Como é esse som? O clip que postei, apresentação no show de Jay Leno em 1993, duas faixas de Taxi, demonstra esse som em seu modo mais simples. Em disco Bryan chega a usar 3 baixos, 3 baterias e 4 guitarras tocando juntas. É um sinfonia de eletricidade, mas que mesmo com essa montanha de som, soa sempre leve, delicada, fina como gelo. No novo disco ele volta a usar Johnny Marr, Flea, Jonny Greenwood, David Gilmour, Marcus Miller... e claro, o maestro, o grande Nile Rogers. 
   Nile está presente nesse clip de 1993. Egresso da cena disco, lider do delicioso Chic, em seu auge, entre 1982/1990, Nile produziu Bowie, Madonna, Duran Duran, Debbie Harry, Robert Palmer e um imenso etc. A guitarra dele pulsa e ela é a linha que une todos os instrumentos que gemem e arremetem durante as sonhadoras canções de Ferry. Nesse video temos também Robin Trower, guitarrista inglês que por volta de 1975 foi chamado de novo Hendrix. Sua guitarra cheia de ecos e wah wah enfeita e dá feeling ao som. São duas guitarras no palco, no disco são quatro, o efeito se expande. 
   Bryan Ferry abraçou esse estilo e nesses trinta anos jogou fora uma de suas maiores características, a surpresa. Em entrevistas ele diz ter se encontrado após as buscas feitas entre 1972/1982. Esse estilo, em seus auges, é muito sedutor, ele pega nossa alma e a leva para fluir por aí. E tem o espírito de amores perdidos e amores novos. 
   Bryan Ferry não muda. E aqui é um prazer dizer isso. Ferry é Ferry. Again.

Bryan Ferry & Robin Trower - I Put a Spell on You + Will You Love Me Tom...



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LET`S STICK TOGETHER- BRYAN FERRY. PORQUE O AMOR PODE SER UMA QUESTÃO GLAMUROSA.

   Então em 1976 nada em Londres era mais chique que gostar de Mr. Ferry. Ele vendia discos, vendia shows, fazia cinema e estava sempre na TV.  Nessa ego trip ele deu um chute no Roxy e começou a namorar a mais famosa modelo do mundo, Jerry Hall ( que está no clip abaixo ). Desde 1973 Bryan lançava discos solo. Mas nesse verão de sua ego trip ele solta este disco. Uma coleção de 11 músicas. Seis são covers, e elas vão de Beatles à Louis Armstrong. As outras cinco são releituras de faixas gravadas com o Roxy Music. Três do primeiro disco, uma do quarto e outra do segundo. Para o acompanhar ele chamou Chris Spedding, John Wetton, Mel Collins. A carreira solo de Ferry sempre foi marcada por uma excelência em som, em timbre, por um aveludamento sonoro, uma suavização daquilo que ainda pode ser chamado de rock, mas que na verdade sempre foi simplesmente canção. Elvis Presley é o ídolo branco de Bryan, o Elvis pós 1960, e Otis Redding o ídolo negro, o Otis de sempre. 
  Let`s Stick Together abre o disco e foi um single de sucesso na Inglaterra. ( Só na Europa Ferry vendia então. A coisa não mudou muito em 40 anos ). Sacolejante, irônica, é uma alegria. Casanova está irreconhecível. Apocaliptica com o Roxy, aqui ela é noturna, suavemente safada. Sexy ao extremo. Sea Breezes é um lamento. O espírito é o mesmo da banda antiga, mas aqui ele está mais seguro. Shame é cover de um blues dos bons. Ferry faz dela um Pop acaipirado, alegre, esfuziante. 
  Os deuses olímpicos se aquietam e Vênus sorri quando 2HB começa a tocar. É uma das mais belas coisas da história da música do ocidente. HB significa Humphrey Bogart, a canção homenageia Bogey, To HB portanto. Mas pode ser To Heartbroken. Ela decola, ela é linda, inesquecível. A melodia sobe da voz e do teclado e voa, rodopia, gira colorida, melancólica, sagrada e diáfana. Ferry atinge um dos seus pontos alfa. A versão original, de 1972, com o Roxy, é tão boa quanto, mas esta...
   The Price of Love é puro Pop feliz. Riff de guitarra vibrante, forte. Chance Meeting é uma das mais tristes canções do Roxy. Esta versão tem mais equilíbrio, menos dor, a beleza se mantém. Ela me recorda todos os meus amores. Os antecipou desde 1976. Os anuncia hoje. 
   It`s Only Love é dos Beatles. Ele faz dela uma canção de Brian Wilson. Leva-a à Califórnia. You Go To My Head é luxuosa. De certo modo ela dá a dica do que Bryan faria na meia idade. Sinuosa. ReMMake, ReModel foi a primeira faixa do primeiro disco do Roxy. Ela era barulhente e bastante desenfreada. Aqui ele cortou as arestas e a deixou redonda. Ainda desafiadora, só que dançante, aveludada, líquida. 
   Por fim Heart on My Sleeve. Simples como o amor. Singela. E nunca tola. O amor para Ferry é simples. é básico, singelo, porém nunca silly. 
   Neste momento de amor, voltar a este disco, trilha dela, da amada, é um ato de amor.

Bryan Ferry - Let's Stick Together



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Roxy Music - Avalon



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O PLATONISMO EM ROCK, AVALON.

   Eu amava Pat Wonderful porque ela era linda. E se vestia, de uma forma discreta, melhor que qualquer menina que conheci. Até hoje. Jamais pensei em fazer amor com ela. Eu queria sair com ela. E isso nós fizemos. Meu desejo era poder desfilar pelas ruas ao seu lado. Fazer parte de seu mundo. 
 Wonderful tinha um doce perfume. Leve. E seus olhos negros pareciam abismos. Imagem óbvia...mas exata. Ela era uma bailarina. E caminhava pela vida como uma boneca de porcelana. O pescoço sempre ereto e as coxas finas e duras. O nariz empinado. Ela era pequena, e mesmo assim olhava o mundo de cima. Uma noite ela disse que eu era da mesma espécie que ela. Wonderful me fazia feliz. Ignorávamos toda a feiura do mundo. Conosco a vida era champagne, cristal e muita música. 
 Há um esnobismo sempre latente em mim. Nela isso era assumido. Da sacada de seu enorme apartamento, a paisagem era o clube Pinheiros, nós ficávamos madrugadas adivinhando futuros e alfinetando os mortais. Nossa carne era pó. O desejo era pelo etéreo. Assexuados, conseguíamos ter a ilusão de que o idilio duraria para sempre. Ela era Vênus e eu era Mercúrio. O Olimpo era a Terra.
 E sua voz, seu andar de bailarina, eles assombraram toda minha vida futura...
 Avalon é a trilha sonora desse mundo tão irreal que se fez mito. Ela existiu? Vejo fotos e sei que ela era exatamente como eu recordo. O cabelo castanho lustroso, curto, a boca aristocrática, a pele macia e rosada, um tipo de anoitecer de verão. 
 Em Avalon tudo é amor e nada é sexo. Aqui, 1982, Bryan cria o estilo que será dele forever. Milhares de guitarras fazendo uma tapeçaria de sons diminutos, percussão que ricocheteia em vielas de um oriente inexistente, e teclados oitentistas flutuando e harmonizando a elegância sublime de toda essa ourivesaria de sons preciosos. Há uma delicadeza de borboleta em todo som. Por isso a gente ouve e sente o odor de rosas.
 E há a voz. Inumana. Ela vem de um sonho e Bryan nunca mais irá acordar. Ele canta dormindo, profundamente adormecido. É a voz da vida de Tony Roxy e de Pat Wonderful. A voz que rodopia numa irrealidade esfumaçada de estações que ficam. Sem carne, pois a carne conhece a solidez e o tempo. E neste universo tudo é intocado e para sempre. 
 Ter criado este mundo atesta a verdade. Avalon, ilha onde vivem Arthur e Guinevere, é mais real que Londres ou que Bristol. Porque Avalon deu frutos e aquilo que dá filhos é real. Todo o Pop inglês classudo, feito entre 83/94, entrou no mundo de Avalon. Muito lixo foi aqui engendrado. E alguns minutos de pura beleza também.
 Talvez o meu pior viva neste canto. Não sei. 
 Avalon é feito sobremaneira de silêncio. O ruído está longe daqui, foi banido. Idealisticamente, tudo deve ser perfeição. 
 Pat era perfeita.
 Portanto, ela não podia ficar. 
 Platão.
 E o rock, o mais crú dos estilos, conhece com Roxy, o platonismo da pura ideia. 
 E fora daqui, só barulho.

O PIOR DOS ANOS 70 É O MELHOR DO SÉCULO XXI ?

   Fico babando ovo dos anos 70 ( que foi a última década origonal, como atesta o livro recém lançado do Forastieri ), mas me esqueço que havia algo de enervante na época: a intolerância. Talvez as coisas tenham sido tão fascinantes exatamente por causa desse mal. Cada grupo ia ao limite em sua linguagem, sem desvios de caminho ( as exceções voce conhece ). Mas caramba, como isso me irritava!
   Se voce gostava de Led Zeppelin era inadmissível que voce ouvisse Elton John ou Rod Stewart, e pior ainda, já que voce gostava do Led voce TINHA de gostar de Foghat ou dos Allman Brothers. Brancos não ouviam música de negro e negro não podia tocar música de branco. Um saco!
   Quando um artista quebrava essa lei era uma "decepção", o cara era crucifixado. Saía das fileiras sagradas e puras do rock e passava a fazer companhia às prostitutas do pop. Era assim com David Bowie. Os roqueiros ( ô raça! ), jamais o perdoaram por Young Americans em 1975.  Os Stones se enrolaram de vez em 1973 com a baladona Angie e Rod, bem, Rod dançou feio desde 1974 com suas canções à Elton John. A coisa era tão idiota que quando Jeff Beck gravou Stevie Wonder em 1973 perdeu todo seu público. Virou um tipo de guitarrista pária, um vendido ao soul.
   Eu odiava tudo isso. Meus amigos não me entendiam. Como voce, Paulo, um cara que ama o Led, Jimi, Clapton, pode ouvir Bee Gees!!!! Como voce pode não gostar de Yes???? Eles são muito melhores que esses medíocres do Roxy Music!!!!
   O Punk radicalizou mais ainda. Para eles TUDO gravado por alguém com mais de 23 anos não tinha valor. Talvez apenas com as exceções de Iggy Pop e de Lou Reed. Talvez... Jogaram no lixo os discos de Neil Young, MC5 e Van Morrison, e depois passaram os anos 80 comprando todos de novo. 
  A década de 80 recuperou os velhos charmosos e os anos 90 os hippies raivosos. Os anos 80, com Prince, Red Hot e Beastie Boys aboliu a barrreira da cor da pele, e os anos 90 desfez o preconceito contra os cafonas dos anos 70. Kiss, Thin Lizzy e Black Sabbath começaram a ser levados a sério. Daí pra frente só faltava reabilitarem a disco music. 
  Eis onde quero chegar. Sempre odiei Balck Sabbath e agora, em 2014, ouço sua discografia com prazer. Sabbath Bloody Sabbath é genial e Sabotage é uma obra-prima. Os riffs são muito bons e o baterista toca com ritmo e vontade. Legal ! Mas....porque essa mudança? Penso que é porque apesar de achar que não, eu também era preconceituoso. Eu me pautava pela crítica ( Zeca Neves, Ana Maria Bahiana, Big Boy, Nelson Motta ) e eles NÃO gostavam do Sabbath. Como detestavam também Genesis, Rush e ELP. Em 1977, sendo eclético me fiz preconceituoso contra o não-sofisticado, o não eclético. Pode?
  Recentemente vi na TV a entrega do rock`nroll hall of fame ao Rush. Quem entregou foi Dave Grohl. Ele pulava excitado por poder homenagear seus heróis. Sim, heróis. E vi que os canadenses são encantadoramente humildes. E very funny. O Foo Fighters tocou com eles nessa noite e todo o preconceito de 1977 caiu por terra. 
  Ainda não gosto do Rush. É chato. Mas fico lembrando de Johnny Rotten, que vomitava contra os WHO, ouvindo hoje os FACES. É justo. É certo.
  Posso enfim ouvir Alice Cooper como ele merece: com amor.

JULIE CHRISTIE NÃO NASCEU NA INGLATERRA ( MAS SIM )

   Sol de maio em Londres e times jogam sobre a grama verde escura. Recordo então de um Escócia e Inglaterra em Wembley. Era 1977 e eu amava Julie Christie. É isso mesmo. Há uma fase em nossa vida, cheia de frescor e de fé nos sentimentos, em que não os dissecamos, simplesmente os aceitamos, em que sentir amor por uma ideia de mulher, por uma imagem, se faz ato de completa dedicação. Eu amava Julie porque imaginava quem ela era. Criava a saga de sua vida e sentia que ela era feita pra mim. Idolatria. Beleza.
  Hoje vejo que uma alma abençoada fez a mistura perfeita. Colocou no Tube imagens de Julie ao som do Roxy Music. Os dois nasceram um para o outro, Gim e vermute. Julie sendo Gim, ácida e forte, linda, e o Roxy é vermute, enganosamente doce, colorido e inebriante. 
  Sol de maio em 1977. Wimbledon com Connors e Borg. A rainha era a mesma. Penso que a Inglaterra seja o país que deu certo. Desde Charles I não sabe o que seja ditadura. Conseguiu fazer do mais indisciplinado dos povos um modelo de educação. Discrição. A França cometeu o erro de criar a coisa chamada intelectual ativo, aquela falsidade que nos deu Sartre e Lacan, a Alemanha sempre sofreu de um excesso de idealismo fanático, e a Itália é um país que não se acha. A Inglaterra é uma nação que chegou lá. E um passeio pelo Hyde Park irá te mostrar isso. Conseguiram unir o conservadorismo da rainha e do costume com o deslumbre pelo novo e pelo hype. 
  Juntaram Roxy com Julie. 
  E após as brumas de invernos que nunca terminam, sabem fazer piqueniques ao sol de maio.

Julie Christie Tribute



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SOBRE A EXPO DE BOWIE NO MIS...BOA PARA VOCE, QUE NUNCA FOI SEGUIDOR DE BOWIE

   Ver uma exposição com trilha sonora é sempre bom, melhor ainda se for David Bowie nos ouvidos. Então eu entro e a coisa começa meio fria com um ar condicionado ao máximo e a fase pré-Ziggy em telas. Logo percebo, a exposição não é sobre Bowie o músico, é sobre Bowie o cara da moda. Como aceitar uma expo sobre um cara central no rock ( de sua altura só Dylan, Jagger, Lennon e olhe lá ), que tem apenas uma guitarra? Onde estão as guitarras de Mick Ronson, Robert Fripp, Carlos Alomar, Steve Ray Vaughan? Como levar a sério uma expo que dá mais destaque aos estilistas de seus ternos e fantasias que a Andy Warhol e Lou Reed? Não há uma só referência a Fripp, Lou, Marc Bolan ou Mick Ronson. Brian Eno só aparece como ser secundário, nada sobre Tony Visconti e Iggy está lá, mas pra que? 
   Então percebo que aqui não é lugar para quem, como eu e meus amigos, amamos David Bowie. Aqui é para quem já ouviu falar do artista e quer saber quem ele é. Esses gostarão da exposição. Irão sair achando que Bowie é maior que Damon Albarn, talvez até maior que o Bono!!! Aff...
   Mas nós, eu, que acompanho David desde 1974, desde ouvir Sorrow a primeira vez numa rádio AM mono e ficar enfeitiçado pela voz clara e confidente e o arranjo elegante e estranhamente sensual ( óh Mick Ronson, como eras genial ), para nós e para mim aquele Bowie da exposição não mostra nada do cantor, nada do rock star e apenas arranha sua importância social.
   Falo agora do que se pode pescar naquelas paredes frias do MIS.
   Na sala das telas circulares, que nos envolvem nas imagens e criam um efeito inebriante de presença, não de Bowie presente, mas da nossa presença em Bowie, Jean Gennie explode em blues-gay e sexy. Pois bem, são dois clips que se misturam, a versão de Mick Rock, que vi em 74 num Sábado Som na rede Globo que mudou toda a minha vida, e uma versão de Jean Gennie ao vivo, em palco da BBC. Nessa versão, com platéia, vejo dois garotos desajeitados dançando. Dançando não, tentando dançar. Os cabelos sujos, devem ter 13 anos de idade. Os rostos felizes, com sorrisos de êxtase. Os quadris duros tentam se soltar e os braços serpenteiam contra sua rigidez inglesa. Esses dois garotos aparecem por cinco ou seis segundos. E exemplificam aquilo que a exposição nunca exibe: o alcance libertário social de Bowie. Aliás Jean Gennie atinge um fogo que chega a ofuscar toda a exposição. Eis o tal do rocknroll !!!
   Há um bilhete que Christopher Isherwood escreveu para David. Para quem não sabe, Isherwood foi um escritor americano que imigrou para Berlin antes da segunda-guerra. Lá ele conheceu a loucura dessa Berlin e a descreveu em contos e romances. Um deles deu origem a Cabaret, o filme famoso de Bob Fosse. Cabaret foi hiper sucesso em 1972 e influenciou Roxy Music e David Bowie. Quando David vai para Berlin ele vai atrás da lenda de Isherwood. E a encontra. Me emociono ao entrar no ambiente Bowie em Berlin. Quadros pintados por David, o disco de Iggy, e a suprema coisa das coisas, o synth que foi usado em LOW. Um texto diz que o synth era de ENO e que ele deu-o para Bowie recentemente. ENO diz que ainda hoje nada consegue repetir aquele som. Olho as teclas azuis, ele todo vem dentro de uma mala tipo 007. Chaves, plugs, entradas, osciladores...Fico fascinado. Os timbres espaciais, fantasm'aticos, funebres, excitantes de LOW nasceram naquela mala. 
   Nada mais pode ser dito depois disso. 
   As chaves do apto em Berlin, um Gitanes rabiscado, Sense of Doubt... Coleto fagulhas da expo do MIS. Coleto as letras e a grafia elegante de Bowie, coleto o tamanho Peter Pan das roupas, coleto sons que passam. Mas Bowie fica ausente do MIS. Faltou sujeira, faltou rock, faltou poesia, faltou perigo. 
   Valeu.
cam