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FASCINADO PELA BELEZA- DONALD SPOTO ( A RELAÇÃO DE HITCHCOCK COM SUAS ATRIZES )

   Em 1966 François Truffaut, fã supremo de Hitch, disse que no futuro existiriam mais livros sobre Hitchcock que sobre Proust. Essa Truffaut acertou. Em qualquer livraria, em qualquer país do ocidente, sempre há um recente livro sobre Hitchcock na prateleira.
   Hitchcock adorava comida. Carne ( carneiro, frango, porco, boi ) e acompanhava tudo com batatas, pão e litros de sorvete. Conhecia vinhos e champagnes e também tinha afeto especial por charutos, cães e o time do West Ham. O cinema era para ele um prazer enquanto o podia fazer em casa, ou seja, na fase das ideias e da escrita. Dirigir nunca era um prazer. Daí que ele trazia tudo pronto para os sets. As cenas detalhadas, explicadas em folhas de papel. Na hora de rodar a equipe já sabia o que fazer, o que dava a Hitch a chance de dormir na cadeira ( é verdade, ele dormia durante as filmagens ) ou ir ler no camarim. Não que ele fosse desleixado. Ao contrário. Ele era daquele tipo de diretor que escolhia as roupas dos atores, o penteado das atrizes, a cor dos carros, o tom do verde das árvores. E é por isso que rodar o filme lhe era enfadonho. A obra já estava pronta, rodar era só fixar a coisa.
   Quando ligado, ele era um adolescente nos sets. Pregava peças ( portas que deveriam abrir que eram pregadas, poltronas que caíam ao chão, barulhos esquisitos ), e vivia falando palavrões pesados e contando piadas sujas. Provocava as atrizes, falava obscenidades em seus ouvidos e chegava a colocar enchimento na calça só pra ver a reação delas. Em tudo era como um colegial chato. O gorducho da última carteira.
   Não ligava pra sexo. Dizia que só o fizera uma vez na vida, e que fora o bastante. Era casado e essa única vez lhe dera a filha Pat. E os filmes são provas de sua vida "sexual". As mulheres são sempre mistérios ambulantes, os homens são seres curiosos sobre essa "alma" feminina. Hitch era duro com elas, ríspido, mal educado, e como todo homem sem sexo, imaginava que todas eram promíscuas. Na cabeça de Alfred Hitchcock, o mundo era um bordel no qual ele não fora admitido.
   Seus atores lhe eram indiferentes. Só notava sua presença quando eram ruins ou davam problemas. Se não, os deixava em paz. Não gostava de dirigir atores, apenas isso. Um filme para ele era feito de movimento de câmera, de cortes e de roteiro. O resto era blá blá blá. Mas com as atrizes ele se ligava. Normalmente se irritava com elas. Ou se apaixonava, sempre de forma insistente. E platônica. Ingrid Bergman foi uma grande paixão e foi a mulher que ele mais respeitou. Ela, rainha do cinema, soube levá-lo para a amizade. Grace Kelly foi outra paixão. E houve Tippi Hedren no fim, que foi aquela que mais sofreu com ele ( com Tippi, Hitchcock foi muito mais "direto". Houve assédio, um tipo de assédio que hoje seria caso de policia ).
  Ele fazia com elas aquilo que James Stewart em Vertigo faz, as recriava. Sonhava em criar uma mulher, fazê-la ser aquilo que ele desejasse. É um sonho adolescente. E é nesse conflito entre um modo infantil de ver o sexo, e uma maneira realista de ver a culpa e o crime, que Hitchcock construiu sua obra. Seus filmes têem o conflito básico de nosso tempo. A fantasia infantil versus a realidade crua e violenta.
   James Stewart era em seus filmes aquilo que ele era. Cary Grant aquilo que ele gostaria de ser.
   Spoto escreve de uma maneira simples e às vezes se torna "fofoqueiro" demais. Ataca o homem Hitchcock sem dó, mas defende apaixonado seus filmes. Pinta-o como sádico. Nem tanto. Ele era um gorducho inglês, recém saído do colégio jesuíta, um homem vitoriano, que se viu em meio a liberalidade do cinema, em meio ao sexo e às drogas. Como ele reagia? Com piadinhas bobas e agressividade vazia. E resolvendo seu interior com o "suspense". Suspense que ele criou ( não existiam filmes de suspense antes dele. Existiam filmes de crime ou de horror, mas não de suspense ), e em que ele podia brincar com seus medos e suas dúvidas.
   Não é um grande livro sobre cinema, mas é um divertido texto sobre a Hollywood em sua golden age. Leia.

HUSTON/ BOGART/ HITCHCOCK/ SAM SHEPARD/ POWELL/ DIETRICH/ HARRISON FORD

   UMA AVENTURA NA ÁFRICA ( THE AFRICAN QUEEN ) de John Huston com Kate Hepburn e Humphrey Bogart
Alguém não conhece a história? Na África alemã, em plena guerra, Kate, uma missionária, tem sua igreja destruída pelos germanos. Bogey é um grosseiro barqueiro que a tira de lá. Na viagem que os dois fazem pela África ( a African Queen é o nome da velha barcaça enferrujada ), vemos o encontro de dois tipos distantes: uma senhora bem comportada e rígida e um ingênuo beberrão das classes mais baixas. O filme deu o Oscar de ator a Bogey ( derrotando Brando em "Um Bonde..." ). Peter Viertel escreveu um livro sobre as filmagens. A equipe isolada na mata, insetos, água contaminada, caçadas, tribos hostis. Clint Eastwood fez um excelente filme sobre a feitura deste filme. Clint faz um ótimo John Huston. O filme é ingênuo, tem sabor de velhas matinês, de sessões de cinema com muita pipoca e poltronas de veludo. Os dois atores estão brilhantes, Kate dando um show fazendo um tipo de velha de igreja que aos poucos se encanta com a aventura e cai de amores por Bogey. Bogart domina o filme. Faz um tipo de grosseiro sujo de bom coração. É bonito ver como ele vai perdendo a vergonha e começa a encarar aquela senhora fria como uma mulher. Um clássico. Nota DEZ.
   PAVOR NOS BASTIDORES de Alfred Hitchcock com Jane Wyman e Marlene Dietrich
No livro de Scorsese ele tece imensos elogios a O Homem Errado, um dos filmes de Hitch menos conhecidos e dos melhores. Este também é pouco conhecido, mas não é dos melhores. Há uma falha da qual Hitch nunca se perdoou: um falso flash-back no começo. Nesta história em que devemos descobrir quem é o assassino falta um vilão mais forte, mais absorvente. Nota 6.
   AS 3 FACES DO MEDO de Mario Bava
No começo dos anos 60 houve uma voga de filmes italianos de horror. Filmes baratos, exagerados, cheios de clima. Bava foi um dos principais nomes desse momento. Aqui temos três histórias de medo  e de desespero. A primeira é fraca, mas as outras duas são muito boas. Há a história de uma aldeia assombrada por vampirismo. Um visual maravilhoso ( e cliché ) leva nossa atenção até o fim. Mas a terceira história é realmente assustadora. Fala da maldição sobre uma ladra de cadáver. Bava cria um horrendo clima de pesadelo. É quase uma obra-prima. Na média, nota 7.
   ASSALTO EM DOSE DUPLA de Rob Minkoff com Patrick Dempsey e Ashley Judd
Se voce desculpar a infantilidade das falas e a tolice da situação poderá até se divertir. É sobre um assalto duplo a banco. Um bando hiper modernoso e organizado, e uma dupla de caipiras fazem esses dois assaltos. Dempsey é um "esquisito" que estava lá e Judd a caixa do banco. É uma comédia. Ok dá pra passar uma sessão razoável no cinema. Pelo menos ele é curto e não tenta ser "de arte". Minkoff dirigiu 'Stuart Little". Judd, que sempre foi belíssima, está perdida no filme, seu papel é quase nada. Nota 5.
   BLACKTHORN de Mateo Gil com Sam Shepard, Stepehen Rea e Eduardo Noriega
Todo diretor sonha em fazer seu western. É uma questão de honra. Aqui temos um western espanhol com equipe americana. Duvido que passe nos cinemas daqui. Fala de Butch Cassidy. Mas não é um tipo de continuação do célebre filme com Paul Newman e Redford. Vemos Butch morando na Bolivia, velho. Ele resolve voltar aos EUA. Mas nessa tentativa de retorno se envolve com ladrão espanhol e tudo acaba dando errado. Porque todo western de hoje tem de ser triste? Pudor de fazer um simples faroeste escapista? Shepard dá dignidade ao papel. É um cara admirável. Autor de teatro, escreveu o roteiro de Paris Texas de Wenders e de Zabriskie Point de Antonioni. Foi o herói, perfeito, em The Right Stuff ( o Chuck Yeager que ele faz é inesquecível ), e se casou com Jessica Lange!!! Que cara!!! Mas este filme é meio flácido. Nota 5.
   CAVALGADA TRÁGICA de Budd Boetticher com Randolph Scott
Um cowboy leva mulher que fora raptada pelos indios de volta a seu marido. Um bando de tipos suspeitos o acompanha. Budd faz westerns simples, crús, como devem ser. Mas este dvd recém lançado tem um grave problema: péssima imagem!!! As paisagens se tornam pálidas, o filme perde todo seu visual. Sem nota.
   COWBOYS ALIENS de Jon Favreau com Harrison Ford e Daniel Craig
Mais uma turma que sonhava em fazer seu western. Mas isto é mesmo um filme do gênero? Tem cowboys, cavalos, poeira e tiros, mas não tem espirito, alma, vida. É apenas uma barafunda de socos, sangue, correrria e pulos no vazio. Craig é um ator que segue a cartilha Stallone de interpretação: cara de fodão e grunhidos de besta; e Harrison Ford, o nobre herói de tantos filmes não soube administrar sua carreira, chega a dar pena vê-lo fazer escada para Craig. Se voce abstrair que aquilo tenta ser um western e esquecer que Craig tenta ser um ator, pode até rir das cenas de ação e do visual falso. Nota 3.
   O DETETIVE DESASTRADO de Robert Moore com Peter Falk, Ann-Margret, e um vasto time de bons atores.
Ann-Margret foi uma das atrizes mais sensuais do cinema. Vulgar, ferina, tola, esperta, bonita, inebriante. E Falk um grande ator, um soberbo comediante, e o "Columbo" da Tv. Este filme satiriza filmes de Humphrey Bogart e tem roteiro de Neil Simon, escritor que foi um dia ( anos 60/70 ) um tipo de rei da Broadway. Com tudo isso, o filme não engrena. Voce ri muito de algumas cenas, mas em seguida o ritmo cai. Daí voce dá gargalhadas, e vem outra vez uma longa sequencia sem interesse. É um exemplo de filme mal dirigido. Nas mãos de um Mel Brooks seria delicioso. Uma pena... Falk faz um Bogey maravilhoso. Nota 4.
   OS CONTOS DE HOFFMAN de Michael Powell com Moira Shearer
Powell... que diretor ambicioso!!! O que dizer deste filme? É uma obra de arte? É um fiasco? É lindo? É vulgar? Trata-se de uma ópera, não tem um só diálogo. Dança ( tipo ballet ) e canto. Fala de amor todo o tempo, do poeta e seus três tipos de amor, o puro, o profano e o artificial. O filme, hiper-colorido, com aquele technicolor do qual Scorsese tanto sente falta, tem algumas cenas que são de jamais se esquecer. Há uma que mostra uma carruagem estilizada que chega perto do sublime. Por outro lado tem várias cenas dignas de carnaval. O filme é todo feito em estúdio, cheio de trucagens, de fantasia ( penso no que Powell faria com os efeitos digitais de hoje ). Se voce viu Moulin Rouge sabe do que falo, Luhrman é fã deste filme. O elenco tem alguns dos melhores bailarinos da época, e se Moira Shearer é responsável pela inspiração de várias meninas que se fizeram bailarinas, Ludmila Tcherina é tão bonita que chega a parecer um pecado. O filme, cansativo, produz um efeito de sonho, e causa uma surpresa: ao assisti-lo voce se irrita com seus defeitos e se entedia com seus momentos longos, mas dias depois voce sente desejo de o rever. Powell foi um gênio. Barroco, exagerado, sem medidas, mas brilhante e jamais comum. Sem nota.
  

HITCHCOCK/ BUÑUEL/ LEAN/ X-MEN/ TAVIANI/ MURNAU/ HENRY FONDA

   MOVIE CRAZY de Clyde Bruckman com Harold Lloyd e Constance Cummings
Filme falado de um dos mais famosos humoristas da época. O tipo de Harold é o "americano comum". Um otimista. Aqui ele vai para Hollywood "ser famoso". Se mete em mal-entendidos. Me parece que "Um convidado Trapalhão" de Blake Edwards se inspirou aqui. Mas Lloyd é bem melhor em seus flmes mudos. Faltam aqui suas soberbas cenas de ação. Nota 4.
   O HOMEM ERRADO de Alfred Hitchcock com Henry Fonda e Vera Miles
Um original. É um dos mais angustiosos filmes do mestre-gênio. Sem qualquer cena de fantasia, sem nenhuma concessão, sem nada de "bonito". Esta história é real, verídica, e Hitch a filmou quase como um documentário. Fonda, desamparado, inconsolável, é um pai de familia que é confundido com um assaltante. Vai preso e todas as testemunhas o apontam como culpado. Nesse processo sua esposa enlouquece. Até que ocorre um milagre... É o mais pessoal filme do gênio do cinema fantasioso. Quando criança, na Inglaterra, seu pai lhe pregou uma peça: fez com que fosse preso "de brincadeira". Hitch nunca mais deixou de ter pavor da policia. Aqui nos sentimos na pele de Fonda. A cena em que ele é trancafiado e anda pelo espaço minúsculo da cela é magnífica. O filme inteiro é seco, objetivo, detalhista. Todo o processo de identificação, de detenção, de códigos legais é mostrado. Quem acha Hitchcock pouco "real" deve ver este filme. Inesquecível. Atenção para a trilha sonora de Bernard Herrman, é uma obra de mestre. Já nos letreiros iniciais somos tocados por essa melodia esquisita. Os olhos de Fonda são os melhores do cinema. Filme que não proporciona qualquer prazer imediato, ele se fixa na mente por sua poderosa dor. Nota DEZ.
   THE PLEASURE GARDEN de Alfred Hitchcock
É o prmeiro filme dirigido pelo mestre. Mas nada tem de hitchcockiano. Trata de duas coristas e suas disputas num cabaret. Uma chatice! Bons tempos em que um diretor podia fazer dúzias de filmes até aprimorar seu estilo... hoje o cara tem de acertar na primeira e depois se repetir pra sempre ( ou fazer continuações de HQ e que tais ). Nota 1.
   L'AGE D'OR de Luis Buñuel
Segundo filme de Luis. Imagens sobre bispos, que viram esqueletos; o desejo de um casal que é separado, escorpiões, mar e sol. Me desculpem, mas em termos de surrealismo prefiro os filmes de Man Ray. Nota 5.
   A SOMBRA DE UMA DÚVIDA de Alfred Hitchcock com Teresa Wright e Joseph Cotten
De todos os seus filmes este é aquele que Hitch mais gostava. Porque? Talvez por ter sido aquele com melhor clima nas filmagens. Inclusive o roteirista, Thorton Wilder, uma estrela do teatro,  não se mostrou chato ou turrão. Mas o principal talvez seja o fato de que este é realmente um grande filme. Um assassino foge de New Jersey e vai morar com sua irmã, numa pequena cidade do interior. Essa irmã é casada, e tem uma simples e alegre familia típica. A filha ansia pela quebra da rotina interiorana e fica em êxtase com a chegada do tio cosmopolita. O que vemos então é a lenta destruição da inocência dessa menina, o aparecimento, passo a passo, do mal na tranquila familia. Mas atenção! Nada de cenas de violência, nada de grandes dramalhões, o filme é sutil, a familia jamais percebe o mal, apenas a filha tem essa percepção. Fato complicador: tanto o tio como a filha têm o mesmo nome, Charlie. Serão duplos? A cena em que ela descobre quem o "querido tio" é, tem um movimento de câmera que se tornou célebre, Coisa de gênio. Aliás, este é um daqueles raros filmes perfeitos, não há uma cena a mais. Obra-prima. Nota MIL.
   PASSAGEM PARA A INDIA de David Lean com Judy Davis, Peggy Ashcroft, Victor Banerjee, James Fox, Alec Guiness
Estava querendo recordar como são os melhores filmes, então passei este semana numa dieta de Htchcock e David Lean. Escrevi sobre este filme abaixo. O que mais dizer? Que apesar de suas 3 horas ele passa voando? E que já sinto vontade de vê-lo mais uma vez? Nota MIL.
   X-MEN PRIMEIRA CLASSE de Mathew Vaughan
Apesar de durar uma hora e meia, este filme parece muuuito longo. E não é ruim. Claro que tem um roteiro tipo "guarda de trânsito", o seu objetivo é apenas o de manter tudo em movimento. Há também um dos mais recorrentes defeitos desse tipo de filme: as melhores cenas estão no começo. Mas se voce esquecer os diálogos ridiculos e a infantilidade dos "motivos dramáticos", dá pro gasto. O diretor não enfeita demais, apenas mostra o que tem pra se mostrar. E os dois "heróis" são feitos por atores competentes ( James MacAvoy e Michael Fassbender ). O que me intriga é: ninguém ainda percebeu que o encanto de um filme de ação está na dosagem entre movimento e diálogo? Nota 4.
   ACONTECEU NA PRIMAVERA de Paolo e Vittorio Taviani
Uma familia de hoje vai á Toscana visitar o avô. No caminho o pai conta aos filhos a história da familia. Desde a época de Napoleão até o século XX. O tema do filme é fascinante, a Europa teria traído o espirito revolucionário e se prostituido pelo dinheiro. Os irmãos Taviani são marxistas e isso os prejudica. Acabam se perdendo num rancor e numa nostalgia pelos "bons tempos" revolucionários. Na cena final as crianças de hoje são mostradas como pequenos monstrinhos que só pensam em dinheiro. Uma pena que um tema tão vasto, rico, seja desperdiçado numa direção que sempre opta pelo errado. Há um excesso de cenas de amor, um excesso de personagens sem carisma e no fim, o avô se mostra apenas um comunista estúpido. De qualquer modo, concordamos com a bundice atual da Europa e lamentamos que os ideias da revolução ( Igualdade, Fraternidade e Liberdade ) tenham sido jogados na vitrine de algum Shopping Center. Nota 4.
   TABU de F.W. Murnau
Em 1930, Murnau, diretor famoso então, se une a Robert Flaherty, maior documentarista do mundo, e rumam a Bora-Bora, Pacifico Sul. Lá fazem um filme que é um misto de ficção e de documento, este sublime Tabu. Há quem o considere o melhor filme já feito. Não sei se é tanto, mas há algo de mágico aqui. Os nativos, verdadeiros, são os atores. O que vemos são pescarias, danças, sol e areia e muito mar. E a história de um casal que se ama mas é impedido por um tabu. Impressiona o sorriso desses homens. Há neles uma leveza e uma felicidade que está extinta do mundo. Eles vivem em idilio, são naturais. Tudo é feito em grupo, todos são livres dentro do mundo que os aceita e é aceito por eles. Juro que não estou romantizando, eles realmente são a imagem da felicidade humana. Lembro que este foi o primeiro dvd que vi na vida, ( mas não o primeiro que comprei, que foi My Fair Lady ), e é um belo começo de coleção. Murnau faleceu logo ao final das filmagens em acidente de carro. O mundo perdeu um soberbo mestre. Nota DEZ.
  

RENÉ CLEMENT/ HITCHCOCK/ DELON/ BECKER/ KUROSAWA

Semana de clássicos. Aí estão eles....
O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Marie Laforêt e Maurice Ronet
Tom Ripley, gatuno de extrema dubiedade criado por Patricia Highsmith, escritora de extremo talento, tem aqui seu retrato definitivo. Matt Damon e John Malkovich também o interpretaram, mas Delon bota os dois no bolso. Damon era bobo demais, fez um Ripley pouco sedutor; Malkovich lhe deu um excesso de perturbação, levou-o a condição de psico; Delon está no ponto certo: alheio a si-mesmo, sedutor delicado, elegantemente cruel. Ripley é o proletário invejoso, falso amigo, que deve levar o playboy Greenleaf, de volta a sua familia. Ripley irá matá-lo e assumir seu lugar. O filme de Minghela era 100% novo rico: tentava ser elegante ostentando dinheiro. Aqui, na absurdamente elegante Itália de 1959, temos o máximo de glamour sofisticado sem nada de brega ou ostensivo. Nas lindas casas de praia, nos objetos de decoração e nas roupas dos personagens temos uma aula de como ser elegante ao infinito. Roma de vias cheias de gente flanando, de mesas à calçada, sol e alegria, troppo bella! O filme, hitchcockiano, prende nossa atenção não só por seu estilo visual ( foto brilhante de Henri Decae ) ou a trilha sonora impecável de Nino Rota; nos prende pela trama sem furos, pelo suspense constante, pelo prazer que temos em observar a esperteza em ação. E pela face de Delon, usando seu dom de parecer sempre perverso e ao mesmo tempo desamparado. O filme tem ainda um dos melhores finais da história: uma construção de climax e de surpresa digna de Hitch. Um final inesquecível em sua ironia e crueldade. Filme atemporal, belo de se ver e intensamente absorvente, é mais um acerto do multi-premiado Clement, diretor de 3 obras-primas eternas. Para ver e rever. Nota Dez.
JAMAICA INN de Alfred Hitchcock com Charles Laughton e Maureen O'Hara
Um nobre inglês do século XVIII é secretamente um contrabandista. Já contratado por Selznick e aguardando sua mudança para a América, o mestre inglês fez este filme às pressas em clima muito ruim. É de seus filmes menos interessantes ( em que pese a excelencia do elenco ). Uma pena... Nota 4
CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO de Alfred Hitchcock com Joel McCrea, Laraine Day, George Sanders e Herbert Marshall
Muito bom filme do mestre. Joel é um repórter americano enviado a Europa para fazer matéria sobre o inicio da guerra. Lá se envolve em trama de espionagem. O filme tem várias cenas sensacionais. Aquela do moinho talvez seja a mais famosa ( mas não a melhor ). O mérito do filme é o de jamais parar, a ação corre todo o tempo, fatos sobre fatos, nada muito lógico, mas quem pede lógica em filme de Hitchcock? O que importa é o clima, a condução de nossa atenção, o brinquedo maravilhoso que é o cinema. Um belo filme! E como é bom ver George Sanders atuar! Nota 7.
A DAMA OCULTA de Alfred Hitchcock com Michael Redgrave e Margaret Lockwood
Fato: este é um dos filmes mais famosos de Hitch. Grande sucesso de sua fase inglesa. Uma velhinha desaparece num trem. Uma moça sabe de seu desaparecimento, mas ninguém crê na existência de tal velhinha. O tema da paronóia à Hitchcock. O filme é delicioso! Filmes em trens sempre são divertidos e este talvez seja o melhor. Lockwood é de uma beleza arrebatadora ( e simples ) e Redgrave ( que é a cara de sua filha, Vanessa ) dá classe e humor ao todo. Puro fun, escapista e rápido, Hitch se diverte e nos diverte muito. Nota 8.
REBECCA de Alfred Hitchcock com Laurence Olivier e Joan Fontaine
O poderoso produtor de ...E O Vento Levou, David Selznick, importou Hotchcock da Inglaterra para fazer este filme. Alfred acabaria voltando à sua terra só em 1972. Este filme, imenso sucesso, é hiper-romantico, gótico, e só se torna 100% Hitchcock nos momentos finais. Mas é um belo filme! Conta a história de um trilionário viúvo que se casa com a simplória mocinha feita por uma exagerada Fontaine. Mas esse casamento será aterrorizado pela lembrança da ex-esposa Rebecca e por uma governanta ( Judith Anderson em ótima atuação ). Joan Fontaine, em que pese sua frágil beleza, tem uma atuação quase caricata. Vê-la ao lado do equilibrado Olivier chega a ser cruel. Ele faz do personagem central uma aula de como ser romantico e econômico ao mesmo tempo. Mas Fontaine comporta-se como em ópera, exagera tudo. Fora isso ( e na época a atuação dela foi elogiada e a dele não ), o filme é digno de seu sucesso. O assistimos com uma estranha sensação de sonho. Todo ele se parece com uma ilusão gótica, mofada, feiticeira. É o menos Hitchcockiano dos filmes americanos do mestre, mas como cinema é obra de competência esmerada. Gigantesco e plenamente bem realizado. Nota 8.
GRISBI, OURO MALDITO de Jacques Becker com Jean Gabin
Jacques Becker... que grande diretor! Eis este filme: um velho gangster quer se aposentar. Um último golpe será tentado. Dará certo? O filme é muito mais: quando Becker dá um close em Gabin, vendo show de strip, vemos a imensa magnitude do filme: é sobre a morte. Gabin está cansado, nada lhe resta a não ser se retirar. Mais: Ele tenta ser nobre em meio ao lixo. Mais: Becker e Gabin sabiam que seu tempo se esgotava, fizeram filme que é ode genial ao fim. Uma elegia. Visualmente o filme é riquíssimo. Boates, aptos, carros, fumaça e putas. Muita grana fácil. Jean Gabin, o mais famoso ator francês, está em seu maior momento. Nunca seu rosto estóico foi tão frio e deseperançado. Becker, diretor dos mais viris, leva tudo com precisão absoluta, o filme não tem erros e não tem nenhum truque. Nada nele tenta ser simpático. O filme é como aquilo que retrata, eis o segredo da perfeição em cinema: dirigir ao estilo do seu tema. Filme fantástico! E além de tudo é dos mais jazz- films já feitos! Nota DEZ!
MAD LOVE de Karl Freund com Peter Lorre
Freund foi grande fotógrafo alemão, mas este filme ( famoso ) de terror é falho, muito falho. Nada a dizer sobre o médico doido que troca as mãos de pianista pelas de um assassino. Lorre está assustador, sempre foi grande. Mas o roteiro é bobo. Nota 2.
OS SETE SAMURAIS de Akira Kurosawa com Takashi Shimura e Toshiro Mifune
Crítica abaixo. Um dos mais famosos e endeusados filmes da história do cinema. Funde arte e diversão à perfeição. Muito ambicioso, ele mudou a história do filmes de ação. Obrigatório para quem deseja conhecer o que seja Um Filme. Que nota dar? DEZ!
A ILHA DO TESOURO de Byron Haskin com Bobby Driscoll e Robert Newton
O primeiro filme ( não desenho ) da Disney ( 1950 ). A Ilha do Tesouro de Stevenson foi meu primeiro livro. Lido ao sol, aos 9 anos de idade. O filme é digno desse livro: bonito e cheio de bons momentos. A fotografia de Freddie Young é lindíssima. Uma bela Sessão da Tarde. Nota 7.

ZURLINI/ ALAIN DELON/ RICHARD BURTON/ KEVIN KLINE/ MALKOVICH/ MELVILLE/ HITCHCOCK/ MILOS FORMAN

O MANTO SAGRADO de Henry Koster com Richard Burton e Jean Simmons
Burton interpreta este soldado romano como se em ressaca. Não reage. O filme, pop épico cristão, é de uma chatice sem fim. Nota 2.
O REENCONTRO de Lawrence Kasdan com Kevin Kline, William Hurt, Glenn Close, Jeff Goldblum, Tom Berenger, Meg Tilly
É o segundo e o melhor filme de Kasdan ( roteirista de filmes de Lucas e Spielberg ). Fala de grupo de amigos que não se vê há mais de dez anos. Se reencontram no enterro de um deles, e esse amigo se matou sem que eles saibam o porque. Após o enterro, que nada tem de trágico, eles resolvem passar um fim de semana juntos. O filme é apenas isso, esse fim de semana, certas feridas reprimidas e relações mal resolvidas. Algumas cenas são bastante emocionantes, mas penso se essa emoção não é mérito apenas da trilha sonora ( é fácil emocionar com you can't always keep what you want ). De qualquer modo é um filme muito acima da média ( concorreu a Oscars em 1983, aliás, um belo ano para o prêmio ). Kline faz o alegre e bem sucedido pai de família, aquele que mais traiu os ideais hippies, Hurt é um ex soldado do Vietnã que ficou impotente, Goldblum é um jornalista cínico, mulherengo, Berenger um ator de tv e Meg Tilly a muito jovem ex-namorada do suicida. Ela é a ponte da geração hippie, que se tornou materialista, e a geração doidinha dos anos 80, que tenta reviver os ideais dos ex-inconformistas. Kevin Costner faz o defunto, todas as suas cenas em flash-back foram cortadas. Todo o elenco brilha, são todos atores adoráveis que teriam tido melhor sorte se tivessem vivido na era de De Niro e Pacino. Bons papéis começam a rarear exatamente a partir daqui, 1983. Para quem tem amigos antigos é um filme obrigatório. Nota 7.
KLIMT de Raul Ruiz com John Malkovich e Saffram Burrows
Picaretagem pura. Um lixo metido a grande arte, um pedante exercício de virtuosismo vazio. Aqui está a afetação máxima em cinema. Odiável! Malkovich está tão ruim quanto. Ah... o filme é sobre o pintor austríaco. Quem espera um retrato da brilhante Viena da épóca, fuja. Nota ZERO.
OS PROFISSIONAIS DO CRIME de Jean Pierre Melville com Lino Ventura
Será Melville o melhor diretor da história do cinema francês?....Quem sabe?...Clouzot, Clair, Bresson, Cocteau...Os filmes de Melville são filmes de quem ama Bogart. Mas são ainda mais viris que Bogart. E mais realistas. Bandidos passam a perna uns nos outros e a policia tenta entender o que se passa. Ventura é um ex-detento. E Melville faz tudo com cenas curtas e cortes muito secos. O filme foge do glamour, mas é cheio de jazz. Poucos entenderam tão bem o que é o jazz quanto este francês. Filme para Homens. Cigarros, carros sujos, botecos e armas pequenas. Eu adoro os filme deste cara!!!! Nota 8.
MURDER! de Alfred Hitchcock com Herbert Marshall
É o primeiro filme falado de Hitch. E é cheio de truques de imagem. Mas percebe-se sua origem teatral, algumas cenas são absolutamente estáticas. Longe das obras-primas do mestre, vale para se conhecer Herbert Marshall, um dos mais elegantes atores ingleses do século. Nota 5.
OS AMORES DE UMA LOURA de Milos Forman
Começa com uma menina tcheca cantando rock em tcheco. É 1965. Época de Kundera e Havel. Três anos antes do massacre. É o primeiro filme de Forman. E é dos seus melhores. Jovens tchecos tentam viver e amar e entre eles há uma moça loura. Quem amar? Os jovens são desajeitados e egoístas, os mais velhos são feios e casados. O estilo de Forman se revela aqui: ele ama rostos banais, gente feia, vulgar e estranhamente magnética. Os ambientes são grotescos, pobres, mesquinhos, mas eis o segredo: são nossos ambientes. É maravilhoso ver um filme com gente de verdade, com fedor, espinhas e roupas sujas. Nada de "mundo cão" falsificado, mas o mundo suburbano como ele de fato foi/é. Há uma cena em baile de soldados, em que as três meninas são paqueradas por três gordos de meia-idade, que é perfeita. A cena é muito cômica, ridícula, comovente e cheia de suspense. Milos Forman já surge sabendo tudo. Um toque: entre 1965/1968 o cinema tcheco era o mais amado por criticos e festivais ( e levaram dois Oscars, em 66/67 ), este filme mostra o porque. Com a invasão dos tanques russos tudo isso seria destruído. Nota 7.
A PRIMEIRA NOITE DE TRANQUILIDADE de Valerio Zurlini com Alain Delon, Sonia Petrova, Renato Salvatori e Gian Carlo Gianninni
Um poema melancólico. A história de um homem que vive sem raiz, sem ilusão, sem afeto. Tenta ser indiferente a vida. Mas se perde ao conhecer uma mulher. É dos mais perfeitos exemplos de uma alma delicada sendo dilacerada pelo mundo estúpido. Belo, implacávelmente belo, este é aquele tipo de cinema que dignifica a arte e em meio a tanta estupidez nos recorda o porque de tanto amarmos filmes. Zurlini era um poeta. NOTA DEZ!!!!!!!!! ( critica abaixo )
A MULHER DO SÉCULO de Morton da Costa com Rosalind Russell
Este filme serve como uma prova: a prova de que alguma coisa se perdeu na América. Porque? Veja: este filme, sofisticadérrimo, foi um sucesso em 1959. Hoje ele nem seria feito. Baseado em peça da Broadway, fala de garoto que é criado por tia triliardária e excêntrica. Ela o ensina a ser livre. O filme é documento de um certo tipo de snob americano da época, o americano novaiorquino que amava arte hindú, poetas russos doidos e professores franceses de arte grega. Rosalind Russell dá uma aula de humor, de elegância, de prazer em viver. Aliás, o filme é um maravilhoso anti-depressivo. Temos a defesa de mães solteiras, de judeus, da diversidade, das "portas que se abrem". Para a época é uma mensagem ousada. Mais que isso, o filme é uma festa, com seus cenários luxuosos, o diálogo sempre interessante, atores carismáticos e cores vibrantes. Assiste-se com esfuziante prazer. E não se emburrece, enobrece-se. Voce assiste e se sente feliz, que mais querer? Obrigatório!!!!! NOTA DEZ!

LOSEY/ VISCONTI/ BURT LANCASTER/ OLIVIER/ HITCHCOCK/ HELEN MIRREN/ JACK NICHOLSON

EVA de Joseph Losey com Jeanne Moreau, Laurence Harvey e Virna Lisi Se eu gostasse tanto de Moreau como Losey parece gostar, o filme seria melhor. A trilha sonora de Michel Legrand é fascinante e a fotografia de Gianni di Venanzo faz deste um dos mais elegantes filmes já feitos. Fala de uma relação completamente vazia entre um homem poderoso, confiante e uma mulher sem alma. Ele sucumbirá. Filme bom de se olhar, mas tão árido quanto seu tema. Losey fugiu do MacCarthismo e se deu bem na Europa. Tem vários filmes maravilhosos, este não é um deles. Nota 5.//////// RUMO A FELICIDADE de Ingmar Bergman com Maj-Britt Nilsson, Stig Olin e Victor Sjostrom Bergman é uma alegria em minha vida. Toda a dor que ele mostra em seus filmes ( e que deprime alguns ) me dá força, paz e confiança. Porque? Pela magnifica beleza que existe em seu mundo. Cada close, cada tomada, todo ator em cena, a escolha das músicas, tudo é digno, claro, hipnótico, belo sem ser tolo ou piegas. Este é seu último filme antes da entrada em sua fase genial, fase de inigualável sequencia de obras-primas ( entre 1951/1982 ). Este fala de jovem casal que não consegue ser feliz. O egoismo dele tudo aniquila. Um filme simples, um ensaio para coisas maiores. Nota 6. ////////HAMLET de Laurence Olivier com Olivier e Jean Simmons Não preciso falar da excelencia dos atores. Este foi o primeiro filme ingles a ganhar o Oscar de melhor filme ( em ano muito forte, basta dizer que venceu Sierra Madre ). Já foi meu filme favorito, o que confirma a tese de Paul Valery de que crescemos todo o tempo com a prática da apreciação artistica. O filme é ainda maravilhoso, mas com esse texto e esses atores que filme não seria? Shakespeare tem alguns bons filmes no cinema, mas o melhor não é este ( é RAN de Kurosawa, baseado em Rei Lear ). O cenário é feito de escadas em espiral, fumaça e escuridão, e Simmons é a Ofelia mais bela possível, mas a direção de Olivier se perde as vezes num excesso de freudianismo ( sim, este é Hamlet sob a ótica de Édipo ). De qualquer modo é um espetáculo nobre e que deve ser sempre visto e revisto ( é minha sexta apreciada ). Hoje um filme tão elevado ganharia o prêmio? Nota 9.//////////// O AGENTE SECRETO de Alfred Hitchcock com John Gielgud e Madeleine Carrol Hitch na Inglaterra fez filmes melhores que nos EUA? Ele próprio pensava que não, mas fica bem para um certo tipo de esnobe dizer que sim. Tolice! Embora na Inglaterra ele tenha feito algumas obras-primas, é nos EUA que ele atinge o cume dos cumes. Este é um suspense médio que serve para mostrar Gielgud, o melhor ator ingles de teatro ( é dele o maior dos Hamlets ), e que jamais deu certo nas telas. Nota 6. ////////////SABOTAGEM de Hitchcock com Silvya Sidney e Oskar Homolka Um belo Hitch da fase inglesa. Cheio de ação e com um clima opressivo, sórdido, cruel até. Lemos em entrevistas que ele não gostava do filme, mas é incompreensível: é uma obra invulgar. Destaque para a cena no ônibus e a da sala de cinema, Hitchcock já sendo um mestre absoluto. Nota 7. ////////////////A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Michael Hoffman com Helen Mirren, Christopher Plummer e Paul Giamatti Só agora é lançado este filme que assisti um ano atrás!!!! Escrevi sobre ele na época e o registro novamente. Se voce quer saber algo sobre o gênio Tolstoi nada vai saber vendo o filme. Mas se voce quer ver dois atores dando aulas de magia e carisma, aqui está. Helen Mirren é a melhor atriz viva, Plummer não desaparece ao seu lado. O filme é bastante melancólico ( existe algum filme "artisitico" feito hoje que não o seja? ), e está longe de ser do tamanho que o tema merecia. Mas é bem superior a 99% daquilo que voce pode ver agora. Nota 6. /////////////////VIOLÊNCIA E PAIXÃO de Luchino Visconti com Burt Lancaster e Helmut Berger Citando Valery outra vez, se voce tem já alguma intimidade com grandes filmes corra ao Cinesesc e se dê o privilégio de ver esta obra-prima. Se voce ainda está naquela ração de lançamentos da semana, fuja. Visconti é o contrário de tudo o que se faz em cinema agora ( quase tudo ), ele é titânico. Seu tema nunca é modesto, tudo é sempre grande, vasto, operistico. Este adorável filme me toca profundamente por falar de meu tema favorito: decadencia. Vemos a vulgarização do mundo de um esteta, o assassinato da aristocracia de gostos e de gestos. O filme exibe a vitória da vulgaridade, do espalhafato, da grosseria. Quando os novos inquilinos chegam, vemos a barbárie rica e pretensamente chic tomar o poder. Impotente, só resta ao aristocrata assistir estoicamente o fim de seu mundo. Lancaster brilha intensamente. Cada olhar que ele nos dá é um testamento de nobre pensamento. O filme é inesquecível. Nota DEZ!!!!!!!!!! O MÁGICO de Sylvain Chomet Que decepção!!!! Este desenho homenagem a Jacques Tati ( parece que ele deixou um esboço de roteiro que foi aqui usado ) é tudo o que Tati nunca foi: chato. Os traços são maravilhosos, as ruas de Londres e de Edimburgo estão belas como em sonho, mas o desenho é de uma melancolia que parece forçada, poética demais. Há que se comentar um fato: por que os desenhos feitos a mão parecem mais humanos? Sem saudosismo, os digitais são mais perfeitos, mas um desenho como este sempre tem mais "autoria", mais calor. Mas o roteiro, sobre um mágico modesto, é enfadonho! Nota 4.////////////////// HEAD de Bob Rafelson com Monkees, Jack Nicholson, Frank Zappa e Victor Mature Jack Nicholson e Rafelson, amigos até hoje, se encheram de ácido e escreveram o roteiro desta viagem psicodélica. Entregaram tudo aos Monkees, que após o fim de seu seriado de sucesso na NBC, se despediam da fama com este fracasso. O filme é um caleidoscópico dia na vida da banda. Mas é dificil resumir a história ( que história? ). A trilha é fascinante e o filme, que hoje é hiper-cult, acaba sendo uma diversão bastante instigante. Para se ter uma idéia do filme, há uma cena com Zappa puxando uma vaca e outra com os Monkees presos num secador de cabelos. Foram meus primeiros ídolos, eu os amava apaixonadamente aos 7, 8 anos de idade. Ainda sinto algo quando os vejo. Nota 6.

PIRATAS DO ROCK/ BRUCE WILLIS/HITCHCOCK/PETER FONDA/DEMÔNIOS SOBRE RODAS

ZAROFF de Irving Pichel com Fay Wray e Joel McCrea
Um dos piores de todos os tempos. A história do náufrago em ilha que é caçado por conde louco. Mal escrito, péssimamente interpretado. Ridículo. Nota Zero.
DEMÔNIOS SOBRE RODAS de Richard Rush com Jack Nicholson
Turma de Hells Angels andam de moto e arrumam brigas. O filme é só isso. Mas tem um muito jovem Jack, fazendo um cara que se mistura com eles e no final vê o quanto eles são tolos. Machismo de montão num filme monótono. Nota 3.
SURPRESAS DO AMOR de Seth Gordon com Reese Witherspoon, Vince Vaughn, Sissy Spaceck, Jon Voight, Robert Duvall
Com esse elenco se conseguiu fazer um muito medíocre filme. Um casal que viaja para passar o natal com os pais. Não há uma só fala razoávelmente bem pensada, nem um minuto de bom cinema. Tudo é tolo, previsível, bobo, infantil. Os rostos estão tão retocados digitalmente que é impossível se ver qualquer sinal de interpretação. Reese, atriz que gosto muito, já não encontra papéis e está estranhamente parecida com Nicole Kidman ! Um lixo ! Nota Zero.
O HOMEM ERRADO de Alfred Hitchcock com Henry Fonda e Vera Miles.
O mais moderno dos filmes de Hitch. Um músico casado e bom pai, é acusado de assalto. É preso e tudo se volta contra ele. Não há suspense, não acompanhamos nenhuma investigação, nada. Tudo o que o mestre nos dá é a via-crucis de Fonda, sua prisão em cada detalhe, sua muda estupefação, suas reações discretas. É filme de imensa tristeza, de nenhuma concessão. Filmado com coragem exemplar, traz ainda um Henry Fonda estupendo ( ele comove o tempo todo usando apenas olhares e movimento de mãos ). Um filme para ser jamais esquecido. Nota DEZ !
PIRATAS DO ROCK de Richard Curtis com Philip Seymour Hoffman, Kenneth Branagh, Bill Nighy e Rhys Ifans.
Maravilhosa surpresa ! História real sobre as rádios piratas inglesas que em 65/69 mantiveram vivo o rock quando ele ainda era combatido na Inglaterra. A Radio Rock realmente existiu, transmitindo de um navio ancorado no mar do norte. O filme, bem-humorado sempre, acompanha a vida desses DJs. O filme é cheio de boas cenas, mas há uma, com uma xícara de chá e som de Leonard Cohen, que é genial : engraçada e humana, que milagre ! A trilha sonora é impossivelmente ótima, tem de Kinks ( começa com ALL DAY AND ALL OF THE NIGHT ) e não esquece Pretty Things, Small Faces, Who e Yardbirds. Um filme que te deixa lá em cima, que te faz gostar dos personagens, com lindas garotas ( uma faz o estilo Anna Karina, outra faz um tipo Anita Pallemberg ) e diálogos muito bons. O que mais voce quer ? O único senão é uma certa melancolia no final... sentimos que dalí em diante fazer rock seria mainstream e que o heroísmo ficava para trás... Porque este filme não fez sucesso ? Será que o público se imbecilizou tanto assim ? Nota 9.
OS SUBSTITUTOS de Johnathan Mostow com Bruce Willis e Rhada Mitchell
No futuro as pessoas ficam em casa controlando seus clones que vivem por elas. Sacou ? Não é genial ? Não é mudernu e ousado ? Não, não é. Trata-se de uma completa e muito burra bomba. Não sei quem foi que escreveu que com menos de oito segundos por take a reflexão num filme se torna impossível. Me dei ao trabalho de contar : 3 segundos em média. Chegou um momento em que tive a impressão de estar vendo um trailer : juro, parecia que aquilo não era um filme, era o anúncio de um filme que ainda ia começar ! Não tem diálogos, os personagens são bonecos sem pensamento algum, os atores estão digitalizados. Um absoluto exemplo do pior lixo de uma época descerebrada. Isto é o fim. Qualquer chance de cinema razoável morre aqui. Um dos mais detestáveis filmes que já ví. E olha que gosto muito de Bruce !! Nota ZERO !
THE TRIP- VIAGEM AO MUNDO DA ALUCINAÇÃO de Roger Corman com Peter Fonda, Dennis Hopper e Bruce Dern
Um cara toma um LSD. O filme é sua viagem. É exatamente o que voce leu : o filme mostra Peter Fonda viajando de ácido. Sabe de quem é o roteiro ? Jack Nicholson !!!! E tem Dennis Hopper, muuuuuito jovem, como um hiper maconheiro. Peter toma um ácido com seu gurú e viaja : cores, sexo, nóia, viagem ao passado, mergulho...... O filme é muito ruim, muito pobre, mas jamais irrita. Talvez porque ele seja estranhamente honesto, simples, bem intencionado. Um toque sobre Peter : filho do grande Henry Fonda. A mãe de Peter se matou quando ele tinha 7 anos. Aos 10 anos de idade, Peter enfiou uma faca na própria barriga. Na época deste filme ele era o segundo ator mais doido da Califórnia ( o primeiro era Hopper, imbatível ). Nicholson era o terceiro mais louco ( a mãe de Jack fugiu de casa e nunca voltou ). O trio faria Easy Rider um ano depois... Não dou nota a este filme. Tô viajandão....
A ARMAÇÃO de Robert Altman com Kenneth Branagh, Robert Downey Jr., Famke Janssem e Robert Duvall
Não deu certo. O modo livre, relax de Altman não combina com este suspense de Grisham. Além do que Branagh como um sulista americano está terrível. Altman fazendo suspense é tão estranho como seria Tarantino fazendo Bergman. Nota 3.

BUSTER KEATON/TAVIANI/SPIELBERG/PAUL NEWMAN

FLIPPER de James B. Clark
A história do garoto da Florida que faz amizade com golfinho. O filme se tornou série de Tv ecológica. Muita gente passou a conhecer golfinhos via Flipper. O filme é ingênuo, doce, meio enjoado. Mas o cenário é lindo. Nota 4.
FREE AND EASY de Clyde Brucknam com Buster Keaton, Robert Montgomery e Anita Page
Buster Keaton em filme falado... ele tem uma voz séria, fria, pouco engraçada. Seu corpo fica subjugado aos diálogos e o filme se torna um grande vazio. É triste assistir ao começo do fim deste mago da poesia. Como ver um pássaro sem asas. Hitchcock disse que " todo filme ruim é igual : são duas pessoas falando e mais nada. " Keaton falando cala seu corpo e amordaça seu rosto. Fim. Nota 3.
NOITES COM SOL de Vittorio e Paolo Taviani com Julian Sands, Nastassja Kinski e Charlotte Gainsbourg
Se voce se interessa por religião e fé este filme é obrigatório. Trata da luta de um homem por conhecer Deus. Ele se entrega ( ou tenta se entregar ) a solidão total. Cenário, música e atores exatos. Há uma cena de chuva de doer de tão bela. Nota 8.
CIÚMES de Clarence Brown com Clarck Gable, Jean Harlow e Myrna Loy
Eu adoro Myrna Loy. Para mim, ela é a mulher perfeita. Aqui ela é esposa feliz de homem apaixonado e romântico. Mas um dia ela põe na cabeça que ele a trai com secretária. O tipo de deliciosa besteira que Hollywood fazia às dúzias, num tempo em que cinema era indústria de "diversão civilizada ". Todos os atores transpiram charme, os diálogos são leves e espertos e o filme corre como trem de prata. Relaxe...... Nota 7.
CASANOVA E A REVOLUÇÃO de Ettore Scola com Marcello Mastroianni, Jean-Louis Barrault, Hanna Schygula e Jean-Claude Brialy
Em que pese um Mastroianni soberbo como um Casanova velho, e um Barrault apimentado como um escritor libertino, este mastodôntico filme do belo diretor Scola, tem os piores defeitos do cinema europeu : ele se acha mais brilhante do que de fato é. Nota 3.
CAVADORAS DE OURO de Mervyn Leroy com Joan Blondell, Dick Powell, Ruby Keeler, Ginger Rogers e Aline MacMahon
Garotas na miséria tentam fazer sucesso na Broadway. É musical coreografado por Busby Berkeley, ou seja, é ridículo, exageradamente carnavalesco, é o máximo do kistch, e é divertidíssimo !!!! Joan é sedutora, Dick é o bom rapaz, Ruby a menina inocente, Ginger faz a gostosa interesseira e Aline diz as melhores piadas. Só vendo para crer neste musical onde ninguém dança ( até o surgimento de Astaire o que se fazia era mover a câmera pegando atores quase parados. Musical era uma sucessão de "quadros" posados, onde o ritmo era dado na edição. Astaire paralisou a câmera e soltou os pés. ) As músicas são ótimas. Nota 7.
LOUCA ESCAPADA de Steven Spielberg com Goldie Hawn e Ben Johnson
Moça "obriga" marido a escapar da prisão para que possam raptar o próprio filho e salvá-lo da adoção. O filme é todo on the road. É divertido ver este muito jovem Spielberg filmando de modo solto, sem nenhum melado, engatilhando algumas cenas pouco "perfeitas", mas já exibindo sua fixação pela infância. O filme foi grande fracasso e nada fazia prever o que Spielberg se tornaria. Um belo road-movie dos 70's. Nota 7.
VALE TUDO de George Roy Hill com Paul Newman
Que belo filme e que bela surpresa ! Nesta história de um fracassado time de hockey no gelo, Paul Newman brilha no papel do técnico-jogador que se convence de que para vencer é preciso ser muito sujo, jogar feio e com violência absoluta. O filme não tem vergonha : o que importa é vencer. Trata-se de uma comédia que se tornou cult, que foi péssimamente refilmada e que diverte muito. O time todo é feito de desajustados e o trio dos Hanson, três atores amadores descobertos para o filme, é hilário. De certa forma este é o primeiro filme de "Adam Sandler ou de Will Ferrell" da história. É o mesmo tipo de humor mal caráter e sujo, mas aqui, ainda com resquícios de roteiro e direção. Nota 8.
O PAI DA NOIVA de Vincente Minelli com Spencer Tracy, Joan Bennet, Elizabeth Taylor e Don Taylor
Refeito em 95 com Steve Martin, Diane Keaton e Martin Short. É incrível, mas o roteiro é quase exatamente o mesmo ! Muito pouco foi mudado, talvez apenas as cenas com Short. Apesar de eu adorar Steve, Spencer Tracy está a anos-luz dele, assim como comparar Elizabeth Taylor com a mocinha que fez a filha em 95 chega a ser cruel. Minelli também não pode ser comparado à Charles Shyer. Então pra que o refilmaram ? Nota 7.
INTRIGA INTERNACIONAL de Alfred Hitchcock com Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason e Martin Landau
Dizer o que ? Este é o filme que me fez descobrir Hitchcock. Trata-se de um dos dois ou três filmes mais divertidos já feitos. Ele é leve, engraçado, cheio de ação, de suspense e de clima de pesadelo também. Um banquete, onde o mestre inglês esbanja genialidade em fazer o que quer com seu público. Se existe um filme perfeito, este é o filme. NOTA ACIMA DE TODAS AS NOTAS.
A TORTURA DO SILÊNCIO de Alfred Hitchcock com Montgomery Clift, Anne Baxter e Karl Malden
O lado negro de Hitch. Filmado em Quebec, cheio de sombras, este filme trata de padre que é acusado de crime. Ele sabe quem é o assassino, mas não pode dizer quem é sem quebrar seus votos de segredo de confessionário. Este filme original trata de religião, de culpa, de paranóia, de razão contra fé e de um ator extraordinário : Clift, o ator que abriu caminho para Brando. É também um dos filmes que melhor usa o truque favorito de Hitchcock : as tomadas em que os olhos dos atores falam conosco; são momentos soberbos. Não é um filme fácil, é desprovido de humor, mas é um grande filme. Nota 9.

INTRIGA INTERNACIONAL - HITCHCOCK, O MELHOR ?

Saiu mais um DVD de INTRIGA INTERNACIONAL. Este vem com dois discos. O filme no disco 1 e no 2 tem quatro horas de extras ! Só o documentário sobre Cary Grant já vale o investimento, mas ainda temos um farto material sobre Hitch com depoimentos de fãs como Scorsese, Guillermo del Toro e Curtis Hanson. Para um fã desse filme como eu sou, é um super prazer. Mas vamos ao filme.
Passei por toda a minha adolescência evitando Hitch. Por dois motivos : Primeiro eu o achava muito Pop. Como fã de Fellini e Truffaut, eu achava que Hitch não tocava em grandes temas. O incrível era eu desconhecer ser Truffaut um fã do inglês. O segundo motivo era OS PÁSSAROS. Eu o vira quando criança e sentira muuuuuito medo. Beeem ...
Até que um dia, num entediante sábado, assisti este INTRIGA INTERNACIONAL na antiga TV Manchete. Nem me lembro o porque de finalmente encarar o mestre, mas ví o filme completamente estarrecido. Eu descobria um segredo : o grande cineasta não era aquele que falava de "grandes temas", mas sim aquele que fazia grandes filmes. Hitchcock ainda é referência por isso : ele diverte quem procura diversão e intriga aquele que vê o cinema como arte. Seu domínio é absoluto. Ele esbanja talento, se exibe, faz brincadeiras, nos pega pela mão e leva onde quer. Não tem concorrentes na arte de iludir, de "filmar leve", no modo como as cenas fluem, constantes, absolutas, certeiramente exatas.
Grant é um executivo bem-sucedido. É confundido com agente-secreto e corre meio USA fugindo dos seus novos inimigos. O filme é todo absurdo : nada faz muito sentido e tudo é inverossímel. Mas... quem se importa ? Hitchcock jamais procura o realismo. Os seus filmes sempre são cinema, ilusão, e nos envolvem. Não questionamos, sentimos. Sua maestria já está inteira nos primeiros 3 minutos de filme : vemos Cary Grant e percebemos sem pensar que já conhecemos seu personagem. Hitch apresenta situações sem discursos, sem apelações, tudo nos é dado naturalmente. Quando notamos já nos apaixonamos pelos personagens e estamos presos ao filme. E quanta ação ele tem ! Mas é ação sempre suave, elegantemente encenada. Tiros, trens, carros, um bandido que exala charme ( James Mason ), uma sedutora agente ( Eva Marie Saint ), leilão, fugas, e muita comédia, comédia inesperada, comédia feita por esse enigma do humor e do bom-viver chamado Cary Grant.
A sequencia do milharal, quase muda, é, provávelmente, a mais perfeita aula de edição e clima já dada por qualquer diretor. Mas todo o filme é uma aula. As posições que a câmera assume, o rodopiar de rostos e lugares, os sets milimétricamente planejados. E ainda há a partitura de Bernard Herrman, mais uma obra-prima desse maestro dos maestros.
INTRIGA INTERNACIONAL foi, nesses seus 50 anos, muitíssimo imitado. Todos os thrillers de espionagem ( incluindo tudo de Bond ) beberam em suas imagens. E mesmo assim ele ainda intriga, absorve, diverte e ensina. De seu primeiro segundo a seu último frame, tudo é absoluta perfeição : nada em excesso, nem um só diálogo sem sentido, cada tomada precisa e criativa, surpresa sobre surpresa, prazer às toneladas. Revendo-o hoje, pela quinta vez, percebo que ele é indestrutível e me vejo pensando se seria este o melhor filme de Hitchcock.
Apesar de existirem nomes como Wilder, Ford, Hawks, Kurosawa, Bunuel, Bergman, nenhum deles tem a quantidade de obras-primas como Hitch e nenhum chega perto da facilidade que ele aparenta ter ao filmar. E o principal, nenhum se comunica tão instantaneamente com todo tipo de público. INTRIGA INTERNACIONAL é obrigatório.

STERNBERG/STAGE DOOR/ALTMAN/BETTE DAVIS

MOLIERE de Laurent Tirard com Romain Duris, Fabrice Luchini, Laura Morante e Ludivine Sagnier
Houve tempo em que filmes europeus eram lançados toda semana no Brasil. Romy Schneider era mais famosa que Jane Fonda e Catherine Deneuve que Barbra Streisand. Mais que Jack Nicholson, Dustin Hoffman ou Clint Eastwood, as pessoas amavam Yves Montand, Jean-Paul Belmondo, e principamente Mastroianni. Alain Delon era tão famoso quanto é hoje Brad Pitt ( Delon era mais bonito ) e o mais amado diretor era Fellini. Nos anos 80, com os filmes tipo Rambo/ Robocop/ Duro de Matar, a América se tornou a única fornecedora de filmes pop. Rompeu-se a ligação, e hoje, estrelas européias com menos de 40 anos... quem ?
Romain Duris é o maior ator/estrela da França hoje, e penso que muito pouca gente o conhece fora de seu país. Ele faz Moliere neste filme, e o faz muito bem. Seu Moliere é o Moliere que imaginamos, se parece com alguém que escreve, atua e possui gênio. O filme, belo e alegre, é delicioso. Mas é esse estupendo Fabrice Luchini, diabólicamente engraçado, fazendo um nobre cornudo com raro talento, que nos impressiona. Torcemos para mais cenas com ele, são hilárias. O filme é cheio de frases elegantes ( tem ótimos diálogos ) e se passa em palácios suntuosos ( que nos fazem ter consciência da triste condição de nossa arquitetura ), o filme é um prazer para a vista. Na França ainda se fazem filmes para o povão em que não há um só tiro, nada é digital e nada se passa num mundo de sonhos. São bons atores, bons diálogos e uma boa história. Aliás, às vezes é um alívio ver atores europeus : você já notou que eles têm rosto de "gente" ? Nota 7.
NAKED CITY de Jules Dassin
Um narrador conta o que vamos ver : um dia na vida de Nova Iorque. As imagens das ruas e dos bares, metrô, barbearias são sensacionais. Na verdade o filme é quase um documentário. Depois vem uma boa trama policial, toda filmada em locais autênticos. São as lições do Neo-realismo colocadas em prática por esse excelente Jules Dassin. O filme é elétrico, rápido, viril, magistral. nota 8.
O RETRATO DE DORIAN GRAY de Albert Lewin com George Sanders, Donna Reed, Angela Lansbury e Hurd Hatfield
O doido diretor do maravilhoso PANDORA, filmou antes este hiper enfeitado Dorian Gray. È irritante ver Sanders vomitar epigramas de Wilde colocados a torto e a direito na história. O filme é enjoativo como glacê branco. nota 3.
A GUERRA DO FOGO de Jean-Jacques Annaud
Após ganhar o Oscar em seu filme de estréia, Annaud passou anos para conseguir fazer este filme. Usando o trabalho do autor de Laranja Mecânica ( Anthony Burgess ) que criou uma língua ancestral, Annaud filma uma aventura passada no início da nossa história, no nascimento da civilização como a conhecemos, na hora da descoberta e da valorização do fogo. O filme é bela aventura, bastante plausível, sério, e com tema tão difícil, consegue se sair muito bem. Mas é isento da poesia maravilhosa que 2001 tem em seu início. Os temas dos dois filmes são complementares, mas Kubrick fez coisa de gênio e Annaud é bom diretor, não um criador original. Mas este filme é ok. nota 7.
PEFÍDIA de William Wyler com Bette Davis e Herbert Marshall.
Baseado em peça de Lilian Hellman, o filme foi feito no tempo em que Lilian era a heroína da esquerda americana. O filme nos mostra como os ricos são maus e não se cansa de acumular maldade sobre maldade. Wyler, um dos gigantes, dirige tão bem que nem tomamos consciência de seu trabalho. Não há um só erro, uma só tomada a mais, uma cena longa demais ou feita às pressas. Wyler trabalha para nosso prazer e para o brilho de texto e atores. Ambos brilham. Bette dá seu show costumeiro. Ela exala maldade. Você é hipnotizado. nota 8.
A IMPERATRIZ VERMELHA de Joseph Von Sternberg com Marlene Dietrich
Entre 1930/1937, Sternberg fez uma série de filmes com sua musa, Dietrich, e a transformou em super-estrela, rival mais quente de Garbo. Marlene foi crescendo filme a filme, e quando os dois se separaram Sternberg se apagou. Os filmes são todos parecidos : lugar exótico, cenários imensos e barrocos, insinuações fortes de sexo anormal e closes e mais closes de Marlene hiper-glamurosa ( Madonna copia esses closes até hoje ). Este é o pior dos que ví. Sternberg enlouquece e perde o senso do ridículo. Nesta história passada na Rússia de Catarina, o palácio é uma gororoba de caveiras e monstrengos, Marlene dorme com metade do exército e os diálogos são risíveis. É exemplo de cafonice chique, de pesadelo gótico. nota 2.
STAGE DOOR de Gregory La Cava com Kate Hephurn, Ginger Rogers e Lucille Ball.
Comédia dos nos 30 é assim : diálogos apimentados que jogam ironia sobre ironia e nos fazem sentir mais espertos se os entendemos e mais sofisticados se os citarmos. São tão bem escritos que continuam, mais de setenta anos depois, a ser o modelo de tudo o que é cosmopolita, fino e elegante. Aqui vemos uma pensão onde vivem aspirantes a atriz. Ginger é a mais cínica e a líder do grupo, Kate é a bem nascida que quer brincar de ser atriz. Ou seja, Kate e Ginger fazem elas mesmas. Kate está linda. É fantástico como ela, que não era bonita, parece a mais bela das atrizes em vários filmes. Isto é diversão inteligente, atemporal, que só não é genial porque tem duas cenas de drama sério que desandam com o ritmo esperto. nota 8.
SILLY SYMPHONIES
Comentei esta coletânea abaixo, em texto próprio. A nota é DEZ !!!!!!
BASQUIAT de Julian Schnabel com Jeffrey Wright, David Bowie, Gary Oldman e Benicio del Toro
Julian foi artista plástico nos anos 80. Amigo de Basquiat. O filme é mensagem carinhosa e saudosa ao amigo morto. A trilha sonora é cheia de canções fantásticas ( Cale cantando Cohen é de matar ). Triste, pesado, tortuoso, funciona a perfeição, por fazer aquilo que Kael reclamava em outros filmes : fala de um artista tortuoso de forma tortuosa. Como o filme de Dylan, que fala de um artista multi-facetado em filme multi-facetado. Kael falava ( mal ) de "Sociedade dos poetas Mortos", filme que era contra a repressão, mas que fora filmado como o mais conservador dos dramalhões. Assim como ruim é RAY, filme que fala de um cantor que era puro calor, sensualidade e feeling, mas que teve como bio um filme que é frio, pudico e calculado. Basquiat é um filme perdido, desencantado e incompleto... como seu personagem foi. nota 8.
ASSASSINATO EM GOSFORD PARK de Robert Altman com Maggie Smith, Helen Mirren, Clive Owen, Emily Watson
A única pessoa no mundo que poderia ter feito este filme é Altman. O fato de ele não se perder e conseguir fazer fluir uma tão vasta galeria de rostos, vozes e sentimentos, atesta, mais uma vez, sua genialidade. Ele era mestre em "colcha de retalhos", em sinfonia de atores, em modernidade anárquica-total. Este jamais brilha como SHORT CUTS ( afinal, Cuts É o maior filme dos últimos vinte anos ), mas é filme de mestre. Um micro exemplo, da mais ampla ressonância, de tudo que há de mesquinho e torpe nas relações de classe. Gol de placa. nota 9.
SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO de Hitchcock com Ingrid Bergman e Joseph Cotten
Que bela era Ingrid ! E que desamparo ela passa ! Mas este filme, o único Hitch feito na América que eu nunca vira, foi feito sob as ordens de Selznick, não é puro A.H. Melodrama gótico, foi adorado pela crítica francesa e odiado pela americana. É um filme muito esquisito...nota 5.

FREARS/CLAUDETTE COLBERT/BOORMAN/HITCHCOCK

OS IMORAIS de Stephen Frears com John Cusak, Anjelica Huston e Annete Bening
Entre 1990/1998 foi moda o filme de malandragem. Aquele tipo de filme que mostrava gente desonesta ( e muito charmosa ) em seu "trabalho" diário. Era um tipo de filme delicioso e este é dos primeiros ( e dos mais amargos e cruéis ). Frears, grande e irriquieto diretor, dirige com sua costumeira correção e apesar de Cusak não ser o ator ideal para o papel ( e aqui começa a amizade dos dois, que os levariam a fazer juntos " Alta Fidelidade" ) o filme sobrevive muito bem, graças ao excelente roteiro de Westlake e as perfeitas Anjelica ( um fenômeno ) e Anette ( linda e maldosa ). Diversão de alto nível. nota 7.
O GENERAL MORREU AO AMANHECER de Lewis Milestone com Gary Cooper e Madeleine Carrol.
Passado na China ( soberbo cenário labiríntico ) é uma aventura sobre americano que luta contra tirano chinês ( tirano de direita ). Impressiona o carisma do elenco conhecido, a fotografia expressionista cheia de sombras e um clima de suspense absorvente. O tipo de filme pop que justifica a existência do dvd e o resgate dos filmes dos anos 30. nota 7.
A OITAVA ESPOSA DO BARBA-AZUL de Ernst Lubistch com Gary Cooper e Claudette Colbert.
O roteiro de Billy Wilder e Charles Brackett é, talvez, o mais perfeito roteiro alegre já escrito. E quem dirige é Lubistch, o mais admirado dos diretores de comédia. O tema : na Paris da Paramount ( ou seja, é a Paris que deveria ter existido ), um americano muuuuito rico e muito ocupado, conhece numa loja, uma francesa de sangue azul, porém, falida. O pai dessa francesa é um malandro de marca maior. É lógico que os dois irão se apaixonar, é lógico que se detestarão no começo. E é lógico que o filme é maravilhoso ! Tudo funciona : Cooper está no auge do carisma, faz um americano como todo americano desde então pensa ser- bonito, esperto e educado. Claudette está belíssima e com um jeito de malicia ingênua exuberante. Todos os coadjuvantes brilham e as falas têm o cinismo alegre que Wilder sempre exibiu. Não tem um só momento arrastado, jamais parece forçado e corre leve como espuma. Se um filme fosse champagne, este seria um Dom Perignon. Nota DEZ !!!!! É uma obra-prima.
UMA HORA COM VOCÊ de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald e Genevieve Tobin.
Não tão bom. Mas bastante amoral : o marido ama a esposa, mas a trai alegremente com sua melhor amiga. A esposa dá o troco. É um musical de opereta, bastante austríaco, e isso quase estraga o filme. Chevalier, que foi super estrela, fala com biquinho. Os franceses até hoje pagam o pato : todos pensam que falar francês é fazer bico. Chevalier fazia bico, os franceses na verdade falam soprando fumaça ( como Jean Gabin ). È um filme antigo como carruagens ou valsas. Nota 5.
UM BOM ANO de Ridley Scott com Russel Crowe e Albert Finney
Um horror !!!!! O livro de Peter Mayle ( que me fez adorar todos os seus livros. Eu lí todos eles. ), é uma alegre e saborosa ode à Provence, terra de prazeres sensoriais. O personagem, no livro, é um homem meio insípido, que d escobre o prazer na mesa provençal. No filme ele é um hiper-yuppie, hiper ambicioso, hiper-chato. O filme é uma bomba!!!!! Scott e Crowe se tornaram amigos ao fazer Gladiador. Ambos adoram a Provence e seus vinhos e comidas. Tal região merecia algo melhor. nota 2.
REGEN de Joris Ivens
A vida transcorre na Holanda. ( Amsterdã ? Rotterdã ? ). Chove na cidade. Volta o sol. O filme ( 30 minutos ) é apenas isso. A chuva caindo e gente se abrigando. Água nas telhas e nas ruas, nos rios, no chão. Mas há tanta poesia aqui que chega a comover. Ivens foi um dos criadores do cinema holandês; este pequeno filme é mitológico. Merece sua fama. Nota 9.
JUAREZ de William Dieterle com Paul Muni, Brian Aherne e Bette Davis
O roteiro é de John Huston. Eis um fato raro : o filme é sobre Juarez, libertador do México, mas ele exibe seu rival, Maximiliano, como um homem tão fascinante quanto ele. Ambos erram, ambos têm boas razões. O filme é exemplar em sua visão multi-facetada da história. Faz o que CHE não faz, olha com coragem e isenção. Nota 7.
SALOMÉ de Ken Russell com Nickolas Grace e Glenda Jackson.
Russell foi diretor famoso nos 70/80. Famoso por sua ruindade e sua pretensão. Todos os seus filmes fazem força para chocar, para serem esquisitos. Se tornam "Joãozinho Trinta". Aqui vemos Oscar Wilde assistindo em sua sala a uma apresentação de sua peça Salomé. O ator que faz Oscar está ótimo, mas o filme é lixo oitentista da pior espécie. É afetado, metido, fake luxuoso, hiper gay e muito chato. Nota Zero!!!!!!
INFERNO NO PACÍFICO de John Boorman com Lee Marvin e Toshiro Mifune.
Atenção !!!!! Este filme mostra tudo aquilo que um diretor deve saber ! Dois soldados, um americano e um japonês, estão sós numa ilha do Pacífico. Brigam por água, por comida, por tudo. Conhecem o inferno máximo e acabam se aceitando ao tentar fugir da tal ilha. O filme é só isso : sem nenhum diálogo, os dois atores grunhem, brigam, sofrem e enfrentam o mar. Boorman, diretor inglês da brilhante geração de Anderson, Richardson e Schlesinger, dá uma aula de movimento de câmera, de ação, de clima. São duas horas que nunca cansam, que emocionam. Ele faz tanto com tão pouco !!!! Quanto aos atores... repito o comentário de Pauline Kael - " Um filme cheio dos lamentos de Lee Marvin e dos grunhidos de Mifune é como algo parecido com o paraíso de todo fã de cinema. " O filme é cheio de Lee e de Toshiro. Não precisa de mais nada. Viril, belamente fotografado ( Conrad Hall ) e com boa trilha de Lalo Schifrin. Nota 9.
DISQUE M PARA MATAR de Hitchcock com Ray Milland e Grace Kelly
O mestre pega uma peça de sucesso e a filma. Simples, sem ambição. Ele precisava de um sucesso e o conseguiu. O filme é perfeito em seu tom. Milland esbanja maldade elegante, Grace está linda e assustada e a câmera de Hitch desliza pelo cenário único sem nunca nos cansar. Entramos na trama, torcemos por Ray, depois por Grace, por Ray de novo e afinal aplaudimos o mestre por sua alegre genialidade. Alfred Hitchcock, como aqui, dirigindo sem esforço, só pra relaxar, coloca 99.999999% dos outros diretores no bolso do colete. Um filme para se ver, rever e sorrir de prazer. Nos extras, belo comentário do fã M. Night Shyalaman. Nota 9.
A VERDADE NUA E CRUA de Mike Chadway com Katherine Heigl e Gerard Butler
O roteiro poderia ter sido escrito por qualquer semi-analfabeto do Arkansas ( e creio que foi ). Tudo é falso, tolo, forçado e o pior, sem graça. Esse tal de Butler é tão mal ator que chega a ser cômico seu esforço para fazer alguma expressão. Não consegue. Tudo o que consegue é posar como se um anúncio de desodorante fosse o tema do filme. Para quem se dirige esta coisa ? Com certeza para aqueles que vivem em anùncios de desodorantes e de cervejas. O filme tem o valor de um copo de cerveja quente e passada. A atriz é bonitinha mas inócua. Nota menos mil.



VIGO/MEL BROOKS/BECKETT FAVORITO DO REI

L'ATALANTE de jean vigo com dita parlo, jean dasté, michel simon e louis lefebvre
todo grande filme é mais que cinema ( mas nunca deixa de ser cinemático ). desse modo visconti ou david lean são também história; fellini e ophuls são pintura; bergman e kurosawa são filosofia e aqui temos vigo- que é poesia. o filme é o mais livre do cinema. o mais poético. possívelmente seja o grande filme da história. nota dez.
JAMAICA INN de alfred hitchcock com maureen o'hara e charles laughton
o mestre fez este filme às pressas. havia assinado com selznick e estava com malas prontas rumo à américa. dá pra notar sua falta de interesse. nota 4.
THE PARADINE CASE de alfred hitchcock com gregory peck, alida valli e louis jourdan
aqui, sete anos depois, o mestre se vê diante de uma briga com selznick. o filme sofre com a interferencia do produtor no roteiro e na própria filmagem. nota 2.
PS- CHAMO HITCHCOCK DE MESTRE PORQUE NÃO EXISTE DIRETOR MAIS PRECISO, MAIS PERFEITO E COM TÃO GRANDE QUANTIDADE DE FILMES DE GÊNIO.
LA TERRA TREMA de luchino visconti com pescadores reais da sicilia.
o chavão comunista está ultrapassado. mas sobrevivem as belas imagens de um mundo passado. nota 6.
ALTA ANSIEDADE de mel brooks com mel brooks, madeline kahn.
o início já avisa : o filme é uma homenagem ao mestre alfred hitchcock ( mais uma ). o que vemos são citações de vários filmes do gênio. tudo encaixado habilmente na história de um psiquiatra que assume a direção de um hospital de pessoas muito nervosas. vertigo e intriga internacional são os mais citados, e é pena não terem achado onde encaixar janela indiscreta. a cena que cita psicose é uma das mais hilariantes e bem filmadas que já tive o prazer de assistir. nota 7.
SILENT MOVIE de mel brooks com o prórpio, marty feldman e vários atores famosos.
no auge do sucesso, de ego muito inflado, mel dá seu famoso tiro no pé : resolve fazer um filme totalmente mudo ! e infelizmente erra. o filme não funciona, e talvez seu motivo principal seja o desacerto da trilha sonora. mesmo assim, passamos todo o filme torcendo por mel, querendo ver se ele consegue renovar o filme silencioso. não consegue. o filme fracassou em seu lançamento mesmo tendo burt reynolds, paul newman e liza minelli em seu elenco ( a participação de burt é muito engraçada ). nota 5.
BECKETT de peter glenville e jean anouilh e hal wallis com peter o'toole, richard burton e john gielgud.
primeiro beckett foi peça de grande sucesso com olivier e anthony quinn. o diretor da peça, glenville, resolveu dirigí-la no cinema. dirigiu sem esforço nenhum- simplesmente ligou a camera e deixou que os atores entonassem o maravilhoso texto de anouilh.
o texto : trata da amizade do muito hedonista rei henrique II e do muito misterioso thomas beckett. os diálogos enfeitiçam qualquer pessoa com um minimo de bom senso/ bom gosto/ sensibilidade. eles voam, dizem tudo objetivamente e têm uma estranha poesia.
a produção : geofrey unsworth cuidou da fotografia, mas é a trilha sonora de laurence rosenthal que impressiona. que coisa maravilhosa ! uma mistura de canto gregoriano e música sinfônica irresistível. uma trilha absolutamente perfeita.
a duração : adiei sua apreciação. o filme tem 3 horas e eu sentia preguiça.--´pois bem- o filme alça vôo. são horas que passam com rapidez e que surpresa- após as 3 horas voce deseja mais !
os atores : richard burton diz suas falas com sua voz costumeira- perfeita. mas o papel de beckett não lhe oferece a dor descontrolada, que é onde ele brilha mais. burton se contém.
mas peter... Deus do céu... que gratidão eu sinto com o que esse ator nos dá ! Que desempenho fascinante!!! vemos em nossa frente um rei- feliz, fanfarrão, mulherengo- ir, pouco à pouco se consumindo em dor. ele ama seu amigo beckett, e é traído por esse amigo. a cena em que o rei percebe a traição é de uma genialidade sublime : vemos o rosto de peter criar nuvens de escuridão, os olhos se apagam em dor e a voz reflete uma imensa agonia. se isso não for pura genialidade, não existe ator genial.
peter teve o enorme azar de concorrer nesse excepcional ano com rex harrison fazendo higgins em my fair lady e perdeu seu oscar certo. qual dos dois é melhor ? quem sabe ? eu premiaria ambos.
beckett é um tipo de filme que deixou de existir : o filme culto ( não de arte, culto. o que é outra coisa. ) um filme que necessita ter um público de bom gosto, adulto, sério, refinado.
fazem 40 anos que alardeiam o fim do western e do musical. bem... os dois continuam por aí. mas este tipo de cinema acabou. com o fim do público adulto, e a queda na qualidade de ensino, ninguém mais tem a sensibilidade de apreciar um filme que pede atenção, conhecimento, detalhismo e alguma erudição. feito hoje, encheriam o filme de batalhas, feitiços e talvez até algum monstrengo medieval.
minha alegria é saber que este filme sobreviverá.
se voce tem alguma curiosidade intelectual, se voce consegue usar mais de dois neuronios, se voce compreende aquilo que escuta... corra e assista este filme.
e aplauda o sublime peter o'toole.

O MAIS PERFEITO DOS FILMES-REAR WINDOW

Raras vezes assistimos a algum filme perfeito. Ocasionalmente o filme pode ser genial, sublime, divertido, mas ele sempre apresenta falhas. Momentos de tédio, tomadas inúteis, frases dispensáveis.
JANELA INDISCRETA não tem um só momento fraco. Desde sua abertura, até seu final perfeito, tudo é feito com precisão, com sabedoria, com maestria.
O som, sem trilha sonora-mas com ruídos e trechos de melodias-que lembra Tati, é perfeito. O cenário, um apartamento e o prédio em frente- é fascinante. As histórias vistas nas janelas e jardins- são tão cativantes que dariam vários outros filmes. Mas este, este filme é absolutamente prazeroso. Torcemos para que não termine.
James Stewart é um fotógrafo solteiro que convalesce com a perna quebrada. Ele é obviamente impotente. Grace Kelly ( sua entrada em cena é A MAIS LINDA IMAGEM FEMININA DO CINEMA ) flerta com ele, o seduz, o conquista. As cenas entre os dois são leves, sofisticadas, cheias de humor e com subtramas de raiva e dor. ( O filme é alegre, mas tem algo de neurótico por trás ). Stewart se agarra em sua solteirice e se envolve com as janelas ( cinemas ? ).
O final, irônico, é de uma riqueza perfeita, e todo o filme prescinde de falas, poderia ser um filme mudo. Stewart agora tem duas pernas engessadas e Grace, linda como o impossível, comanda o apartamento.
Quem mais poderia fazer um filme pop onde as mulheres são víboras, os homens são impotentes e seu único cenário é flagrantemente falso ?
Hitchcock é cinema e o amor à Hitch é a prova final de todo/qualquer cinéfilo.

O AMOR É SEMPRE MENTIROSO-VERTIGO

O melhor dos diretores ( aquele que fazia grande arte e comércio pop ao mesmo tempo ), dá em VERTIGO o mais devastador retrato sobre a ilusão do amor.
Não contarei sua história para não adiantar sua magia. Direi no entanto, que jamais uma cidade foi mais bonita que a SanFran do filme, com seus azuis e amarelos da primeira parte "sonhadora" e seus neuróticos verdes e cinzas da segunda parte. O filme, quase sem diálogos, é como um sonho-alucinógeno, e nos faz realmente sentir o que seu protagonista sente.
Pierre Boulez disse que a trilha sonora deste filme ( bernard herrman ) é a mais perfeita da história cinematográfica. Não sei se ela é, mas direi que ela é hipnótica, wagneriana, obsessiva, inesquecível.
James Stewart tem aqui aquela que é possivelmente a melhor atuação já vista. Ele passa, na hesitação de sua voz, no olhar ansioso, toda a carência, todo o amor do personagem. Sua sina, seu futuro vazio, o seu medo.
Como todo filme de Hitch, o crime é mero pretexto para sua profunda análise da doença humana, das taras e psicoses, das dores e mentiras do mundo. E tudo isso, que em outras mãos se transformaria em arte hermética e obscura, com Hitch se torna diversão simples, direta, nítida e nada pedante, porém, profunda.
Suas cenas recordam muito TAXI DRIVER, a personagem feminina mostra um desamparo tocante e é este o filme que deixa mais clara a afinidade que Bunuel sentia por Hitchcock.
Seu final, trágico-imperfeito-abrupto-louco e vazio, é dos mais cruéis já filmados e ficamos sentindo a mesma dor absurda de Stewart.
Inesquecível, ele nos faz pensar muito. Nas mentiras do amor, na ilusão que criamos para nós mesmos, na busca inutil pela perfeição, e na música irresistível dessa ilusão.
Um dos maiores filmes já feitos e sem dúvida é este o mais moderno e influente dos filmes.
Hitchcock é o cara.

alfred hitchcock, a bíblia do cinema

Se voce ama o cinema sofisticado, artístico, cheio de significados; poderá ler seus filmes como compêndios de taras, aberrações e uma crítica à paranóia do mundo atual.
Se voce procura o puro prazer estético, encontrará aqui o tipo de filme perfeito. Todo plano, toda cena é meticulosamente realizada. Tudo é planejado. A trilha sonora é sempre a melhor possível, a fotografia belíssima, os atores fantásticos.
E se seu caso é pura diversão, voce achará motivos fartos para se distrair, vibrar e ficar satisfeito.
Alfred Hitchcock foi o único diretor a equilibrar extremo apelo popular com requinte artístico superlativo.
Ele é compreendido por todos e amado pelo verdadeiro conhecedor de cinema.
Se eu citar os diretores que o idolatram ficarei citando nomes sem parar, mas basta Truffaut, De Palma, Chabrol e Gus Van Sant para percebermos sua abrangencia.
Porque? O que é tão especial nele ?
Ele domina a arte. Faz do filme, dos atores e da platéia o que quer.
Quando quer nos distrair, nos distrai. Nos engana e nos faz rir. Cria simpatias e aversões à vontade. E é o rei das imagens.
Quando digo imagens, não digo saber filmar um belo pôr-do-sol ou um close bonito. Isso qualquer diretor de fotografia experiente faz. Nem filmar uma longa perseguição de carros ou uma batalha de duas horas de duração. Isso é mérito do editor.
Falo em criar a imagem que informa, a imagem que dialoga com o público que assiste.
São cenas que nos dizem, sem nenhum discurso verbal, quem é aquele personagem, o que ele pretende, onde ele está e o que pode acontecer com ele. Essa é sua maestria. Esse é o tipo de cinema mais difícil de ser feito e é aquele que mede o grau de habilidade do diretor.
E nisso Hitch era/é imbatível.