Mostrando postagens com marcador ford. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ford. Mostrar todas as postagens

BILLY WILDER/ GAINSBOURG/ FORD/ OSHIMA/ SIRK/ HELEN MIRREN

CUPIDO NÃO TEM BANDEIRA de Billy Wilder com James Cagney
De todos os clássicos diretores de Hollywood ( Ford, Hawks, Wyler, Stevens, MacCarey ) ninguém tem tantos filmes decepcionantes como Billy. Sim, ele é um cara genial, quando acerta, mas seus filmes fracos são mais irritantes que os filmes menos bons da turma citada acima. Este fala de executivo da Coca-Cola que trabalha em Berlin nos dias da construção do muro. É uma comédia boba. As piadas vêm e erram o alvo. O resultado é histérico. Nota 3.
A ÁRVORE de Julie Bertuccelli com Charlotte Gainsbourg
Fujam! Na Austrália morre um jovem pai em ataque cardíaco junto a árvore. Essa enorme e belíssima árvore é o centro e interesse único do filme. Pena que nada de interessante ocorra depois dessa tragédia. Quem quiser que encontre um sentido nesta coisa chata e lenta, se encontrar, esse sentido será acidental, o filme é tão cheio de "arte" que tudo pode ter um significado. Inclusive o significado da picaretagem. Nota 1 ( um ponto pela bela árvore ).
DONOVAN'S REEF de John Ford com John Wayne e Lee Marvin
A vida de um dono de boteco em ilha do Taiti. Acontece a visita de uma herdeira e mais nada. Ford, após cinquenta anos filmando. mostra sinais de cansaço. O filme é flácido, solto demais. Uma bela paisagem, atores gostáveis, mas nada mais que isso. Nota 3.
O MERCADOR DE ALMAS de Martin Ritt com Paul Newman, Joanne Woodward, Orson Welles, Anthony Franciosa
Belo exemplo de cinema adulto dos anos 50. Newman faz seu tipo mais habitual: o cara malandro, egoísta e carismático. Esse cara penetra em família do sul e acaba por se tornar herdeiro do "dono" de toda a cidade: Welles. Filhos que odeiam o pai, sensualidade reprimida, poder do dinheiro, homossexualismo, há de tudo um pouco. É uma diversão completa, um prato rico e gorduroso. Joanne está muito bem como uma solteirona. Nota 8.
O TÚMULO DO SOL de Nagisa Oshima
Em Osaka, anos 60, gente das ruas vende sangue para comer. Mais prostituição, drogas e Oshima, um diretor sempre violento. O filme é representante da Nouvelle Vague japonesa. Cores berrantes, câmera nervosa e cortes abruptos, incisivos. Oshima seria o centro desse movimento. O filme, um dos primeiros dele, é irregular, mas supreende sua modernidade. Nota 5.
TUDO QUE O CÉU PERMITE de Douglas Sirk com Jane Wyman e Rock Hudson
Muito melhor do que eu esperava. Sirk, dinamarquês rei do melodrama em Hollywood, faz aqui um dilacerante retrato da classe média da época ( terá mudado tanto assim desde 1955 ? ). Jane Wyman é uma viúva com dois filhos, cheia de amigos porém solitária. Ela se envolve com seu jardineiro, um jovem livre, que tenta seguir a filosofia de Thoreau. Ninguém aceita isso e os filhos ( quase adultos ) impedem o casamento. Só, ( e é chocante se observar como na época ver tv era considerado ato de perdedores, de gente sem vida social ), ela vê que caiu numa armadilha, os dois filhos seguem sua vida e ela fica à parte de tudo. Todo esse drama é conduzido de uma forma tão leve, fina, vibrante que é impossível resistir. Voce embarca na novelona. Fassbinder o refilmou na Alemanha e Almodovar sempre o cita ( além de Todd Haynes ). Rock Hudson era um canastrão, mas ninguém sabe ser mais tão galã. Nota 8.
MANON de Henri-Georges Clouzot com Cecile Aubry e Serge Reggianni
Clouzot é um dos maiores diretores que a França já teve. Fez pelo menos quatro obras-primas, mas este não é uma delas. Conta a história de mocinha muito "livre" que trai seu amor com vários homens de poder. O namorado sempre descobre, e sempre a perdoa. O final, hiper-romantico, é em deserto. O filme se vê com interesse, mas está muito abaixo do melhor Clouzot. Nota 5.
A RAINHA de Stephen Frears com Helen Mirren e Michael Sheen
Pra que ver este filme? Qual o interesse em se rever os dias da morte e do enterro de Lady Di? Tudo visto pelo ponto de vista de Tony Blair e da Rainha...pra que? Bem...o filme é estupendo, uma aula de direção e de interpretação. Stephen Frears, diretor da geração de Ridley Scott, mas que ao contrário de Scott, optou sempre pelo risco ( é dele a obra-prima Ligações Perigosas e ainda Minha Adorável Lavanderia, Alta Fidelidade, e mais uma infinidade de pequenos filmes instigantes ), dirige com uma eficiência que beira o milagre. Penetramos na mente de Elizabeth, conseguimos sentir o absurdo daquilo tudo, e melhor, não sabemos o que pensar. Ficamos desorientados. Mas há Mirren. Talvez seja este o desempenho feminino da década. Em personagem dificílimo, contido, frio, distante ( e tão cotidiano ) Helen cria uma alma, não imita. A rainha que ela nos mostra vai lentamente tomando consciência de sua derrota, do fim de uma ilusão. ( " Eu me recolho e nada declaro, sou sincera, enquanto isso essas pessoas que jamais a conheceram estão morrendo de dor, e eu é que sou a doida" ). Pois o filme é sobre isso: os súditos passam a querer lágrimas, frases pomposas, a exibição pornográfica de luto. Quando Di morre e a rainha se esconde, pois essa é a tradição, luto não é show, sentimentos devem ser contidos e discretos; o povo passa a odiá-la. O filme tem duas cenas de antologia: a hora em que ela lê as mensagens nas flores colocadas nos portões do palácio ( todas ofensivas a ela ) e a maravilhosa cena com o cervo, quando ela percebe a beleza que mora nele e o risco de ser caçado. Esse animal, que será morto lentamente e decapitado ( decapitação é o fim de todo rei deposto ) representa a bela elegância de uma época que morrera muito tempo antes, época que Elizabeth só então percebe ter chegado ao fim. De certa forma, Blair a salva dessa decapitação e ele acaba tomando seu partido. O filme então, feito pelo esquerdista Frears, tem a sabedoria de reconhecer que perante os novos tempos de midia e falta de respeito, ( são magnificas as cenas de telejornais da época, que mostram Lady Di tão falsa em sua "dor" e o povo deseperado com sua morte; e ainda vemos no enterro o absurdo de Elton John, Tom Cruise e Spielberg serem mais "gostados" que a familia de Di e de Charles ) a rainha ainda representa algo de decente, correto e de verdadeiramente real. O filme torna-se então imenso. Que admirável surpresa! Nota 9.
TERRA BRUTA de John Ford com James Stewart e Richard Widmark
Ford chamava este seu filme de "bela porcaria". Longe disso. Apesar de ele quase não ter história ( fala algo sobre brancos resgatados de Comanches ), o filme tem um ar de improviso, de alegre camaradagem, que acaba por encantar. Há quem o chame de obra-prima. Não é. Mas ele sem dúvida é invulgar. Nota 6.

FORD/ BOND/ HAWKS/ FRITZ LANG/ PAUL NEWMAN/ WOLVERINE

RASTROS DE ÓDIO de John Ford com John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles e Ward Bond
Após assistir e me apaixonar por tantos filmes ( filmes esses que vão desde Buster Keaton e Carl Dreyer até Clint Eastwood e Joe Wright ) se torna impossível imaginar qual meu filme favorito. A última vez que arrisquei essa opinião votei em O Atalante de Jean Vigo, para logo em seguida me arrepender ao lembrar de mais 100 filmes que poderiam ocupar esse lugar. Dito isso, afirmo que Rastros de Ódio, se não é meu filme favorito, é aquele que mais me emociona, mais me ensina e mais importancia tem no desenvolvimento de meu gosto estético. Se voce quer ler sobre ele, há uma critica por aí.... Nota INFINITAMENTE ALTA.
O SATÂNICO DR NO de Terence Young com Sean Connery e Ursula Andress
O primeiro filme de Bond já possui algumas das marcas que o acompanhariam até Daniel Craig. Matar sem pensar e transar com todas as mulheres possíveis sendo as principais. Atualmente a violencia é maior e o sexo é ínfimo. Mas este 007 ainda é feito num estilo que tenta ser Hitchcock. A ênfase é para o suspense e não para a ação pura. Sean Connery nasceu para ser James Bond. Ele é seco e elegante. Como um dry martini. Longe de ser o melhor da série, tem belas imagens de uma Jamaica que não mais existe. Ursula surge aqui como o molde de todas as futuras Bond-girls. Nota 6.
RIO VERMELHO de Howard Hawks com John Wayne e Montgomery Clift
Faroeste lendário de Hawks, que é bom, mas não me toca tanto quanto outros filmes desse diretor imenso. O que se percebe é a esquizo do elenco: John Wayne com seu estilo "antigo" de interpretar e Clift criando o estilo Actors Studio, que é predominante até hoje ( o filme é de 1948 ). Sabe-se que Wayne transformou a vida de Clift num inferno durante as filmagens. Ele não perdia uma chance de zombar de seu jeito efeminado. O que vemos é o estilo antigo de Wayne, estilo em que o ator interpreta o personagem como um ideal, uma visão simbólica do personagem; e o novo estilo de Clift ( que é o precursor de Brando e Dean ) onde o ator procura ser "real", onde se espirra no meio de uma fala, se coça o nariz antes de se montar no cavalo ou se tropeça ao caminhar. Todos até hoje devem a popularização desse estilo a Monty Clift. O filme é o embate entre esses dois mundos e sobre a rivalidade entre cowboy veterano e garoto novato. Hawks conduz com sua leveza habitual. Há quem o considere ( Tarantino e Inácio Araújo entre eles ) um dos três melhores filmes já feitos. Eu não. Nota 7.
O ÚLTIMO PISTOLEIRO de Don Siegel com John Wayne e Lauren Bacall
Em 1976 John Wayne, já tendo apenas um pulmão, lutava contra seu câncer. Este acabou sendo seu último filme, e há quem o considere a mais bela despedida do cinema já vivida por qualquer ator. Quem dirige é o homem que criou Dirty Harry e no elenco vemos Ron Howard, o futuro diretor de Appolo 13, Cocoon e Ed Tv. O roteiro fala de um velho cowboy que se hospeda em hotel para morrer em paz ( tem câncer ). Seu médico é feito por James Stewart. Mas seu passado de vingador não o larga e ele terá de lutar mais uma vez. O filme corria um risco imenso de ser piegas, apelativo, desagradável. Não é fácil, mas acaba superando seus imensos obstáculos. John Wayne não nos dá pena, dá saudade. Nota 6.
SCARFACE de Howard Hawks com Paul Muni e George Raft
O filme original, de 1932. E que filme!!!!! A violência é absurda para a época. Tanta gente é metralhada e o som dos tiros é tão alto que o efeito é de histerismo total. Muni faz o persoangem como uma espécie de simio deslumbrado pela violência ( ele ama o que faz ) e que guarda um amor incestuoso pela irmã. E o que vemos é a escalada desse gangster ao topo, matando, rindo, traindo, ousando. Sua queda é rápida e sem drama nenhum. Hawks dirige em seu modo simples, rápido, sem frescura. Dá uma aula de estilo. Este filme criou Scorsese, Coppola, Tarantino, De Palma, Melville e Walsh. É pouco ? Nota DEZ.
FORTY GUNS de Samuel Fuller
Os criticos de tendencia francesa adoram Fuller. Chegam a chamá-lo de gênio. Eu me irrito muito com ele. Veja este filme: é um western. Mas há uma cena em que seis cowboys tomam banho em tinas e cantam. E não é para ser uma comédia!!!! Em outra cena um cara aponta a arma para outro, e a câmera mostra o outro focando por dentro do cano da pistola!!! Todo o filme é assim, Fuller sempre mostrando o quanto é genial. Me irrita.... Nota 1.
O RETORNO DE FRANK JAMES de Fritz Lang com Henry Fonda
Excelente. O melhor diretor da Alemanha, após fugir do nazismo, triunfa maravilhosamente em Hollywood. Lang tem carreira longa e exemplar. Poucos de seus muitos filmes são menos que ótimos. Aqui vemos o irmão de Jesse James, que tenta ter vida pacata, partindo para matar os assassinos de seu irmão ( eles foram absolvidos pela justiça ). Henry Fonda foi talvez o melhor ator americano. Agora que a América começa a terminar, sentimos a forma como ele encarna o grande americano. Seu olhar e sua voz são tudo aquilo que todo cidadão queria ter sido e ter possuido. A imagem ideal do americano como herói pacifico. Só ele conseguiu fazer isso. O filme é, como são os melhores filmes de Lang na América, sem erros. Se lhe falta o brilho de seus primeiros filmes de denuncia social ( também feitos com Fonda e absolutamente geniais ), ele tem o bastante para despertar um desejo de quero mais. Nota 8.
UM DE NÓS MORRERÁ de Arthur Penn com Paul Newman
Paul Newman entre 1958/1975 dominou completamente o cinema americano. Não teve pra ninguém. Seus concorrentes eram Warren Beatty, Steve McQueen e Robert Redford, mas ele batia todos com facilidade. Depois, a partir de 1970, também bateu em Dustin Hoffman, Jack Nicholson e Gene Hackman. Neste western, do futuro diretor de Bonnie e Clyde, ele tem uma atuação estupenda. Faz o jovem Billy The Kid como um adolescente burro, hiper-ativo, meio desastrado e cheio de tiques. Vemos um bandidinho real em nossa frente, reles, pé de chinelo. Precisaríamos esperar 15 anos para ver outro bandido vagabundo tão bem interpretado ( por De Niro em Mean Streets ). Acompanhamos com emoção a vida tola e vazia desse moleque perdido. O filme, de 1958, foi um fracasso na época. Estava anos adiante de seu tempo. Billy é visto como Clyde em Bonnie e Clyde, um bronco charmoso sem noção do que faz. Nota 8.
WOLVERINE de Gavin Hood com Hugh Jackman
Na falta de atores machos hoje ( Clint Eastwood aos 35 anos seria um Wolverine perfeito ), Jackman se vira como pode. Mas seu Wolverine é pouco duro e nada sujo. Ás vezes se parece com um garoto brincando de ser Charles Bronson ( e Lee Marvin ou James Coburn também nasceram para ser Wolverine ). O filme, que começa bacaninha, depois cai bastante e chega a enjoar. Mas é melhor que o X Men 3, porque ele não tem aquela pretensão anti-racista do X Men. Nunca tenta ser o que não é. Nota 5.
BABYLON AD de Mathieu Kassovitz com Vin Diesel, Gerard Depardieu e Charlotte Rampling
Diesel em papel sob medida para Jason Statham. Não funciona. O filme, que ainda tem Michelle Yeou, é daqueles que mostra o futuro "russificado". Gangues dominam tudo. Kassovitz é o tipo de francês que pensa que ser moderno é ser chocante ( uma das primeiras cenas mostra o herói cortando e comendo um gato frito ) e que fazer arte é ser o mais complicado possível ( que é uma visão jeca. Aquela crença em que tudo que é arte é dificil ). O filme é uma mixórdia que mistura ação com filosofices, misticismos e que tais. Não tem nenhum sentido. Nota 3. ( pelo visual ).
OS REIS DE DOGTOWN de Catherine Hardwicke com Emile Hirsch, Heath Ledger, James Robinson, Nikki Reed, Johnny Knoxville e Victor Rasuk
Maravilhoso. De total simplicidade, retrata a adolescencia como ela é. Um filme para se guardar ao lado de Quase Famosos como retratos perfeitos de uma época de imperfeição. Lindo, lindo, lindo...assista e creia. Voce vai se apaixonar. Nota DEZ, com suavidade....

UM SENTIDO A VIDA : RASTROS DE ÓDIO, O MAIOR DOS FILMES

A tela escura anuncia : Texas, 1865. Um corte e vemos uma porta que se abre. O sol, inclemente lá fora.... Contraste entre espaço escuro/seguro/fechado e espaço claro/perigoso/livre. Como diz Martin Scorsese nos extras desse dvd, só essa cena já basta para exibir a genialidade de John Ford. Rastros de Ódio é o filme mais complexo, mais desconcertante, mais duro de sua carreira de 120 filmes ( !!!!!!!! ).
O tema é o racismo. John Wayne é Ethan, um cara mau. Mas é também o herói ( ??? ) do filme. O centro é seu rosto. Crispado, sombrio, ruim. E Wayne está a altura desse papel. Sua voz é terrível, seu andar é confiante e seu rosto parece escuro, perdido em algum inferno. Como Curtis Hanson lembra, o modo como Wayne diz as falas é coisa de imenso ator. Para mim, esta é uma das poucas interpretações que parecem definitivas. Não poderia ser melhor.
Mas o filme tem outro tema. A relação de Ethan com o jovem personagem de Jeffrey Hunter. Um garoto meio indio. A relação dos dois é de pai e filho, e se tornará ao final de iguais.
O roteiro, estupendo em seus aspectos ricos e vários, conta a história de familia trucidada pelos comanches. Uma menina é levada pelo cacique e Ethan passará dez anos cruzando o país atrás dela. Nessa base é construída uma riquesa sem fim. Ethan esteve anos fora de casa e quando volta, vmos que ele não se sente bem em meio às pessoas. Acontece a tragédia e ele parte. De volta a seu meio, o universo da luta, do espaço aberto, da crueldade, ele readquire um motivo para viver.
John Milius diz que o filme é principalmente sobre isso: que todos nós, por pior que sejamos, podemos dar um sentido a nossa vida. Ethan passa uma década percorrendo o vazio e tem nessa busca seu sentido e sua salvação. O filme é também um profundo relato existencial.
Assisti este que é meu filme mais amado, pela primeira vez, em fevereiro de 1986. Até então eu odiava westerns por dois motivos : eram fascistas, não eram "de arte".
Naquela época, de longe a pior de minha vida, eu sofria o inicio da Sindrome do Pânico. Minha vida estava totalmente no inferno. Lendo a Folha me deu vontade de tentar ver esse filme na Globo. De qualquer modo eu sofria de insonia. Pois bem, desde a primeira cena até o fim, tudo nele me deixou em estado de extase. Toda a explicação de minha crise estava ali exibida. E melhor, o filme deixava claro que eu tinha esperança, que minha vida tinha UM SENTIDO.
Desde então, Rastros de Ódio é o mais amado dos filmes. E o western deixou de ser uma bobagem e se tornou a imagem mais profunda do que significa ser um homem.
Bem.... Na época de seu lançamento ( 1956 ) o filme foi tratado como mais um filme de Ford. Ele já tinha 4 Oscars de direção ( um recorde até hoje imbatível ) mas todos os seus prêmios foram por filmes não-westerns. Naquele tempo como hoje, a academia não estava nem aí para cowboys. Então o filme saiu, não foi indicado para nada e foi mais ou menos de bilheteria. Mas aconteceu o começo do mito quando ele foi exibido na França.
Na França havia uma revista amada por todo cinéfilo sério, o Cahiers du Cinéma. Nela escreviam os críticos terríveis e cruéis chamados Eric Rhomer, Claude Chabrol, François Truffaut, Jacques Rivette e Jean-Luc Goddard. E eis que eles proclamam : Rastros de Ódio é uma obra-prima ! Principalmente Godard passa a defender o filme. ( Em 2005 ele diz que continua a chorar com a hora em que John Wayne diz : - Vamos para a casa Debbie! ")
Reassiti ao filme ontem. Foi a sexta vez em 25 anos. Há dez que eu não o revia. A expectativa imensa e tudo para desmistifica-lo. Mas lentamente se refez a magia. Quando ele terminou, eu estava com os olhos molhados, trêmulo, meio fora de mim. Penetrar nesse filme é sempre uma prova avassaladora. Qual seu mistério ? Na superficie é apenas mais um western....
Scorsese chama a atenção para a fotografia. Ford é famoso por isso. Seus filmes não têm um só take que não seja estupendo. Tudo é gigantesco e talvez seja esse seu maior segredo: ele, como Homero ou Shakespeare, mostra a vida em sua dimensão real, gigantesca. As pessoas parecem plenas, inteiras, completas, e as paisagens, de tirar o fôlego, são um cosmos de profundidade.
Martin diz que uma vez perguntaram a Kurosawa como ele aprendera a captar imagens tão belas, ele respondeu : Tudo está em John Ford.
Penso na maravilha que devia ser assiti-lo em Vistavision. Scorsese diz que hoje não existe nada parecido com aquilo. A imagem era muito alta e muito profunda. Mas ainda dá pra perceber isso em dvd. O filme inteiro tem essa profundidade de campo. Enquanto um diálogo acontece à frente, ao fundo vemos gente passando, cavalos, ação, movimento. Todas as tomadas são ricas, complexas, cheias de detalhes. Sómente Kurosawa conseguia fazer igual.
Ford é famoso por suas cenas de casamentos, cafés e enterros. Ele acreditava que são essas "cerimonias" em grupo que definiam nossa vida. O filme tem todas elas. E Milius destaca a cena do café da manhã logo no inicio. A mesa ao centro, cadeiras ao lado e gente se movendo e falando ao fundo. São doze personagens em cena, todos com algo para fazer e falar, todos dentro do foco, e tudo sem um só corte ou um movimento de câmera. Espero estar enganado, mas hoje, apenas Paul Thomas Anderson ( um fã de Ford ) tenta fazer cenas como esta. Se consegue é outra história, mas pelo menos ele tenta.
Hanson mostra como é mostrada a violência no filme ( e o porque dela ser tão contundente ). Ela simplesmente não é mostrada. Exemplo: Ethan chega onde a familia foi massacrada. Se mostra o rosto de Wayne antes e após ver tudo. Essa é a verdadeira violência que raramente vemos nos filmes: Ford mostra a consequencia da violencia, o que ela faz com quem a testemunha, os efeitos dela. Isso é muito mais devastador e precisa de atores muito melhores. Mostrar uma mulher estuprada é fácil, muito mais duro é exibir o sofrimento de quem viu aquilo.
O filme caminha então, inexorável, ao seu destino. Ethan cada vez mais racista, cruel, brutal. E vem a frase que marca todo o filme: Vamos para casa, Debbie. Uma das três ou quatro cenas mais famosas do cinema. Mas o nervo do filme vem então....
Todos voltam ao lar. Todos com seus pares, sua familia, seu sorriso. John Wayne fica parado à mesma porta do começo da saga. Exita, se volta, e vai. Ele parte sózinho ao deserto, pois ele sabe que aquele não é seu mundo. O filme então se agiganta ainda mais. O mito do homem ali exibido.
Rastros de Ódio nesse momento se faz um filme sem igual. Em poucos minutos ele diz tudo aquilo que os grandes escritores levaram quilos de papel para dizer. A sina do herói.
Ethan foi útil enquanto a selvageria imperou. Enquanto a civilização perigava. Quando tudo se assenta, ele fica sem lugar. Deve partir. E se vai. Assistir esse final é dilacerante. Ethan, personagem que passamos todo o filme odiando, se faz adorável. Está completa a rota do heroísmo.
Quando o filme terminou, na primeira vez que o vi, eu estava salvo. Eu caminhava com Ethan e nunca mais me perdi. Pois havia um sentido em tudo aquilo.
Desde então, percebi reflexos deste filme em dezenas de outros westerns ou não. Taxi Driver é quase uma refilmagem, e Paris/Texas também. Nas listas de melhores de todos os tempos ele não pára de subir ( Finalmente os americanos o colocaram entre os 10 mais ). Não sei se é o melhor filme que já vi. Mas se tivesse de passar o resto da vida com apenas um filme, bem, seria este sem dúvida. É o que melhor me define e melhor me guia. Estou todo lá.
John Ford foi o maior de todos.

ALTMAN/ LEONE/ FORD/ STEVE MCQUEEN/ MAX VON SYDOW

ERA UMA VEZ NO OESTE de Sergio Leone com Henry Fonda, Jason Robards, Claudia Cardinale e Charles Bronson
Impressiona e muito. Raros filmes são tão bonitos de se olhar. Cada gesto e cada ângulo de tomada é um primor. Apesar de por vezes cansar ( é longo e lento ) não conseguimos desistir de o acompanhar. Seus primeiros trinta minutos são das melhores coisas ( em termos de diversão ) da história da arte. O final deixa saudades. Após ver este filme, o Bastardos de Tarantino lhe parecerá bem menos atraente. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS de Robert Altman com Warren Beatty e Julie Christie
Foi Pauline Kael quem disse que este filme é como viagem de ópio. Revendo-o agora percebo isso. As vozes vêm não se sabe de onde, todos os diálogos parecem distantes, murmurosos. As imagens são embaçadas, desfocadas, estrábicas. Tudo no filme se parece com sonho, é um tipo de longo devaneio sobre o fracasso e sobre a melancolia de se viver sem ninguém. Beatty ( excelente ) é um pseudo-malandro, que chega a vila do Alasca ( o filme tem muita neve ) e monta um bordel. Interesses capitalistas irão lhe destruir. Warren está comovente, seu tipo é de uma doçura/malandrice cativante. Julie faz uma puta pretensiosa e esperta. Sem coração. A trilha sonora é feita por canções de Leonard Cohen. São amargas baladas sobre a solidão e a estrada. Cortam nosso coração, são de uma beleza absurda. Todo o filme é como a música de Cohen: bela preparação para o fracasso. E o filme, feito no auge do sucesso pop de Altman, foi um proposital fiasco. Altman desejou destruir sua chance de ser mainstream. Conseguiu. O filme é das coisas mais originais já feitas. Nota 8.
O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA de John Ford com James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin e Edmond O'Brien
Este, que é o último grande filme de Ford, trata de dois tipos de herói. O individualista e o comunitário. Stewart é o senador que vai a enterro de velho amigo. Conta-se sua história. De como ele foi um jovem advogado e de como foi ajudado por Wayne, que faz o solitário e duro herói cowboy. O filme chora o fim desse tipo de homem, o homem que fez os EUA. Stewart é o homem politico, o homem da lei, do futuro. Há muito de elegia neste filme e tem a famosa frase: Se a lenda é melhor, que se publique a lenda! Mas não é um tipo de western que empolgue. Ele é muito mais uma revisão de todo o Ford que uma obra vital e criativa. De qualquer modo, é adorado por todos os fãs de western. John Wayne está soberbo e o filme peca por usá-lo menos do que queríamos. A cena do incendio é o ponto alto. Nota 7.
FUGINDO DO INFERNO de John Sturges com Steve McQueen, James Garner, Charles Bronson, Richard Attenborough, James Coburn
O rei do cool se tornou rei neste filme. Steve McQueen faz um prisioneiro de campo nazista que é conhecido por ser o rei do cooler ( solitária ). O filme é isso, prisioneiros que tentam fugir e alemães que tentam impedir. Dirigido com profissionalismo, o filme vai crescendo conforme avança e sua hora final é extremamente empolgante. É mais um dos top 20 de Tarantino. É este tipo de filme que faz falta hoje: muito popular, simples, sem nenhum tipo de enfeite, mas de produção cara, divertido, sem grandes tolices, que vale cada centavo gasto. É dos filmes mais queridos dos anos 60 e foi grande sucesso. Nota 8.
O MENINO E O SEU CACHORRO de LQ Jones com Don Johnson e Jason Robards
Como lançam este dvd? É um muito obscuro filme doido dos anos 70 que exemplifica o ponto de piração que a época chegou. Em mundo do futuro, destruído pela radiação, um garoto anda pelo deserto com seu cão. O cão fala, e fala como um muito prático e ranzinza conselheiro. O garoto o usa para conseguir mulheres, que são estupradas e descartadas. O cão quer comida, e no fim o garoto lhe dá uma moça para comer. Um pesadelo mal feito e muito doentio. Nota 1.
ANUSKA de Francisco Ramalho Jr. com Francisco Cuoco e Jairo Arco e Flexa
Um jornalista se divide entre o mundo politizado do jornal e o mundo da moda de sua paixão, Anuska. O tema é bom, o filme é inacreditávelmente amador. Simplesmente o diretor não sabe como contar uma história. E ainda tem patética homenagem a Jules et Jim!!!!! ZERO!!!!!
O LOBO DA ESTEPE de Fred Haines com Max Von Sydow e Dominique Sanda
Baseado em Hesse e tendo o bergmaniano Sydow no elenco. O ator é o certo, o filme é errado. Não li o livro, mas dá pra notar que tudo se torna confusão neste filme que não tem uma só cena criativa. Um blá blá blá sem fim. Andam por bares e cabarets, mulher oferece sexo e por aí vai. Incompreensível. Nota ZERO
THE HIT de Stephen Frears com Terence Stamp, Tim Roth e John Hurt
Grande Frears!!!! O talentoso diretor de Ligações Perigosas, fez em 1984 este muito bom policial. É sobre dedo-duro que é caçado na Espanha por enviados do dedurado. O filme é a viagem pela Espanha dos dois assassinos e do capturado. Conseguirão executá-lo em Paris? Os três atores estão excelentes. Stamp, ex-sex symbol inglês que optou pela boemia, faz um blasé dedo-duro. Nas mãos dos executores, ele jamais demonstra medo. Hurt faz o calado matador. Frio. E Roth, bem jovem, é o bandidinho novato, bobo e afobado. O filme é diversão de primeira linha ( apesar de barato ). Frears sabe tudo. Nota 7.
DUPLO SUICIDIO EM AMIJIMA de Masahiro Shinoda
A nouvelle vague de Godard fez com que brotassem nouvelles vagues mundo afora ( foi o último movimento em cinema a fazer isso ). Tivemos uma nouvelle alemã, uma brasileira, australiana e até a japonesa. Na Alemanha ela se caracterizava pelo seu esquerdismo radical, e no Japão por sua fascinação por morte e sexo. A nouvelle vague made in Japan é toda calcada nisso: sexo e morte. Este filme fascinante e original trata disso. Uma paixão sexual que leva a morte. As imagens são belíssimas e desde seu incio vemos que o filme é especial. Nota 7.
FILHOS DE HIROSHIMA de Kaneto Shindo
Moça volta a Hiroshima. Estamos em 1951. A cidade é ainda uma cicatriz. Ruínas e gente abandonada. O filme é quase um documentário. Fortemente influenciado pelo neo-realismo italiano. Nota 5.
O VINGADOR de F.Gary Gray com Vin Diesel
Continuo tentando. Este trata de policial que tem a esposa morta por traficante e parte pra vingança. As cenas de ação são tão rápidas que mal se vê o que acontece. Mas o filme não é ruim. A gente assiste sem sentir tédio ou sono. O único problema é que depois que ele termina nada resta para ser recordado. Será que ninguém sabe mais escrever diálogos bons em filmes de ação??? Nota 5.
RAW DEAL de Anthony Mann com Claire Trevor e Dennis O'Keefe
Um dos primeiros filmes de Mann, é um noir barato que funciona bem. Um cara foge da prisão com duas mulheres: sua garota e a outra. Uma é do mal, a outra é do bem. Com trama tão frágil, é construído um sólido filme sem uma cena fraca. Rápido e viril. Cinema noir com suas sombras, suas noites quietas e seus tipos perdidos. Muito cigarro e carrões. Uma tremenda diversão! John Alton fez a foto contrastada. Nota 7.

ERA UMA VEZ NO OESTE- SERGIO LEONE, PODERIA SER O MELHOR FILME DA HISTÓRIA?

Nos fartos comentários deste dvd, feitos entre outros por John Carpenter e John Milius, é dito que esta "ópera" de Leone é o primeiro filme pós-moderno. Pois, pela primeira vez, um filme é feito tendo por base não a vida ( ou a literatura ) mas sim, o próprio cinema. Entenda, não se fala de refilmagem, que isso sempre houve, mas de um tipo de filme que nega a vida; tudo o que ele mostra não é a tal vida, mas sim o cinema. Desse modo, Leone jamais tenta criar situações reais, mas sim situações de cinema; o céu que vemos não é "o céu", é céu de filme. Ele não procura nos convencer de que aquilo é a vida, todo o tempo ele fala: é um filme! Portanto, Sérgio faz o primeiro filme de Lynch, de Almodovar, de Tarantino e de tantos outros.
E tinha de ser em forma de western, pois nenhum gênero é tão cinema quanto o faroeste. Não existia teatro western, literatura western, pintura de faroeste, óperas de cowboys. É o cinema que cria esse tipo de arte, de espetáculo. Quem ama o western ama o cinema, quem o ignora, tem amor por outra coisa ( filmes que são livros ou filmes que são teatro ). E Leone amou o cinema com uma paixão sublime. Este filme o atesta.
Foi um grande fiasco em 1968. No fantástico ano de 68, ano de 2001, de If, de Amor em Fuga, de The Wild Bunch, de Kes e de Partner. Os americanos odiaram sua lentidão e seu tamanho. Uma crítica o chamou de "O cacto e o Tédio". Mas, um cinema na França ( e é Alex Cox nos extras quem diz isso, chamando os franceses de "nação de cinéfilos" ), o exibiu durante quatro anos!!!! Logo ele se tornou cult, e hoje há quem o considere um dos maiores filmes já feitos.
É Carpenter quem chama a atenção para seu modo "japonês" de usar o tempo. Como nos grandes filmes do Japão, o tempo aqui não passa, ele escorre. Todas as cenas são longas, são exauridas, observadas ao máximo, distendidas. Voce termina sentindo outro tipo de tempo fílmico, silencioso, quase zen.
O filme começa. O início é puro "Bastardos Inglórios", só que bem melhorado. É o mesmo tipo de som, a mesma amplidão, o mesmo suspense. A primeira coisa que impressiona é o tamanho das imagens. Ver esse filme em tela grande deve ter sido um inenarrável prazer. Se um dia voce tiver a chance, corra para vê-lo. Tonino Delli Colli, dos filmes de Pasolini, fez a fotografia. Não consigo lembrar de algum filme com melhor visual. Closes imensos ( penso nos olhos azuis de Fonda em tela imensa, nas rugas de Robards ) e cenas vastas, horizontes sem fim, desertos vermelhos e amarelos, poeira voando. O filme é tão belo visualmente que chega a dar vertigem. E a cenografia, com seus barracões de teto aberto, seus objetos cuidadosamente dispostos, lembra o melhor de Visconti e de Ophuls.
E começa o filme.... Os primeiros trinta minutos são dos melhores momentos que já ví em cinema. Três pistoleiros esperam um trem. Silêncio quebrado por ruídos. Os atores são atores de John Ford, a situação é típica de clássicos do western, mas o modo de filmar é outro. São trinta minutos para se ver trinta vezes. E com eles, aprender tudo sobre cinema. Pois neles há humor, ironia, suspense, violencia, arte e até mímica de cinema mudo. Não conto o final dessa primeira cena. Veja-a.
A primeira aparição de Henry Fonda também é histórica. E entenda, Fonda era o mais nobre dos atores americanos. A imagem da integridade, do americano como ele gostaria de ser ou de ter sido. Pois aqui ele é um cruel assassino, e seus olhos azuis funcionam como texto sobre a violência. Outra surpresa, o filme dura quase três horas, e tem apenas quinze páginas de diálogos. É quase imagem e música. Mas suas poucas falas são todas marcantes. O roteiro é de Dario Argento e de Bernardo Bertolucci.
Ennio Morricone fez a trilha. Muita gente considera-a a melhor trilha da história do cinema. São quatro temas musicais. Acho que o próprio Ennio fez trilhas melhores, mas há uma grandiosidade aqui, um operismo tão irônico, e ao mesmo tempo nobre, que sim, é tocada a raia da genialidade. Mas considero a trilha de THE GOOD THE BAD AND THE UGLY melhor.
Claudia Cardinale faz o papel central. Falar de sua beleza é chover no molhado, mas há uma cena.....Claudia desce do trem e entra na estação, a câmera se ergue e pela primeira vez vemos a cidade em construção. Entra a música de Ennio. É uma cena tão perfeita, tão bela, de tanta riquesa estética, que imediatamente pensamos: Eis o maior filme da história do cinema! Eis a mais bela das cenas! Quando em seguida Claudia anda de carruagem e percebemos que estamos em Utah, no Monument Valley de John Ford...bem, não existe chance de ficar com os olhos secos. É uma homenagem a Ford tão bonita, tão sincera, tão reverente e respeitosa, que como amantes de Ford, nos sentimos homenageados também. É como se Sergio falasse : "Voces Fordmaníacos estão certos! Ele foi um gigante! Vejam suas pegadas aqui!"
Mas há mais. Jason Robards faz um bandido. Robards foi rei do teatro sério dos EUA. E fez bela carreira em cinema ( ganhou dois Oscars nos anos 70 ). Foi alcoólatra e casado com Lauren Bacall ( ex-senhora Bogart ). Sinta a responsabilidade do homem: foi ele quem tomou o lugar de Bogey! Bem....Robards tem também sua cena perfeita. É ao final, com Claudia, quando com olhos chorosos, ele diz à ela que uma mulher bela tem a obrigação de dar essa alegria aos homens. Para voces meninos, Jason Robards é o velho que está morrendo em Magnólia ( e cinéfilo como sei que PT Anderson é, sei que ele deve amar este filme e esta atuação ).
Charles Bronson faz o "Harmonica". É o único "quase herói". Movido por vingança. Esse papel poderia ter sido de Clint Eastwood, ou de James Coburn. Mas Bronson não faz feio. É sujo e bruto como exige o papel. Acabamos gostando dele. Mas eu adoraria ver Clint ou Coburn duelar com Fonda!!!!
Não nego que o filme às vezes cansa. E sentimos vontade de correr o dvd. Mas ao mesmo tempo, desde seu primeiro momento, sentimos estar vivendo um momento especial. Quando ele termina, melancólicamente, estamos gratos pelo talento de Sergio Leone. È preciso ser longo, é necessária sua lentidão. Seu tempo "oriental" é o segredo de sua riquesa.
E só no fim seu tema se desvenda. É sobre o final do herói. O fim dos últimos individualistas. Vemos o que se torna a América: uma miscelânea de trabalhadores indios, brancos, chineses e negros. Massa de gente anônima. Os "mavericks", os últimos puro-sangue, os cavalos selvagens se vão. O tempo do homem auto-suficiente, do ser que se define pelo que pode ser e pode fazer termina. Sendo parte da cidade ou se isolando no mato, o homem que surge é parte de um todo.
Sua mensagem torna-se ode de profunda melancolia. O herói que é herói por ter nascido assim, e não por seguir um papel, ou o bandido que é mal por ser o mal, eles deixam de existir. Tudo se torna algo que remete a algo que remete a algo. Como é este filme, que remete a tantos outros faroestes. Mas que é de infinita beleza, autêntica nobreza e exuberante amplidão.
ERA UMA VEZ NO OESTE não é o melhor ou maior filme já feito.
Mas se alguém pensar isso, quem vai poder negar?
Com este filme, Leone diz aos americanos: - "Valorizem seus westerns! Eles possuem uma grandesa infinita!" Desde então, gerações e gerações de movie stars tentam fazer "o seu western". De Ed Harris a Russel Crowe, de Christian Bale a Tommy Lee Jones, de Kevin Kline a Richard Gere. Mas não é mais tempo de seres perdidos e solitários, de estradas que vão do vazio ao nada. Sergio Leone conseguiu o que queria. Deu ao faroesta status de arte nobre.
PS: Quem for assisti-lo. Atenção aos closes nos rostos. Voce nunca mais verá rostos assim. Eles são continentes. Leone amava seus atores. Coisa de italianos......

MEU NOME É JOHN FORD ( NA FOLHA BY PEDRO BUTCHER )

Excelente, Folha de domingo, 26/09. Parabéns à Pedro.
Começa com uma visita ao grande diretor, no set de O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA. Quem visita Ford é um garoto de 15 anos. John Ford dá um conselho à esse rapaz: "Não enquadre o ator. Enquadre o horizonte. E quando voce souber se a linha horizontal deve ficar acima ou abaixo do personagem...aí voce será um diretor." O nome do garoto é Steven Spielberg.
Ford foi o melhor diretor nascido na América. Não há como duvidar disso. E mundialmente, somente Hitchcock e Kurosawa podem ser comparados a ele. O segredo de Ford é claramente exposto no artigo. Mas mesmo assim, ainda fica o segredo.
Todo grande artista tem um dom que pode ser explicado, mas não imitado. Voce pode explicar Billy Wilder ou Fellini. Mas por mais que voce fale sobre John Ford, alguma coisa sempre está além, inexplicada. É esse mistério que define o gênio. E sua falta de afetação também.
Ford nunca tentou ser "um artista". Como tod grande escritor, sua preocupação era contar uma história. E como todo grande homem, ele possuia um inabalável senso de moral. A família é o centro de seu universo. Ele crê na família, ele crê no bem ( mas conhece a força do mal ). Seus filmes sempre têm casamentos, enterros, refeições familiares, bailes, cenas de reencontro. Ford sabia que o ser-humano se define nas suas cerimônias. Mas há muito mais, há o herói.
O herói de Ford nunca é simples. Ele sempre é imperfeito. E sempre é alguém ferido, alguém que foi expulso do meio social. E que ansia, sem assumir, a ser aceito. Para Ford, a vida é comunitária. Mas há mais.
O senso estético de Ford. Cada tomada é uma cena perfeita. E um de seus segredos é o de que nada é esfregado em nosso rosto. Ele não filma como quem diz : "Vejam que lindo!!!", ou como quem exige que amemos ou odiemos um personagem. John Ford nos respeita, ele deixa que escolhemos o que pensar, o que sentir e o que admirar. Ele é profundamente democrático. Respeita sua platéia.
Mas nada disso é seu objetivo. O principal em John Ford é sua naturalidade. Não existe peso em seus filmes. Toda sua arte é de instinto, por isso é simples, fácil e agradável. Ele narra, ele exemplifica, e jamais foi didático.
O artigo mostra uma hilária entrevista que Ford deu à Bogdanovich : "-Como o senhor filmou a sequencia elaborada de Three Bad Men?" resposta: "-Com uma câmera."
Há também a citação de uma constatação de Tavernier ( quando crítico dos Cahiers ), a de que é nas retrospectivas que vemos o quão grande um cineasta é. George Cukor ou Minelli, por exemplo, perdem muito se vistos em sequencia. Uma sessão de 3 filmes de Cukor faz com que comecemos a ver seus defeitos. Com Ford é o contrário. Uma longa sequencia de filmes de Ford faz com que admiremos ainda mais sua obra.
Isso ocorreu quando comecei minha coleção de dvds. Alguns diretores ao serem assistidos dia a dia começavam a cansar. Já com Ford ( e Hitchcock também ) quanto mais eu o assistia , mais eu o amava. Sinto saudades de minha semana Ford e de minha semana Hitch.
Butcher conta ainda da companhia Ford. A equipe de técnicos e de atores que ele sempre usava. De seu amor a filmar ao ar livre e do modo como ele filmava. Ford montava o filme na câmera ( como Hitch e Kurosawa ). Não havia muita fita no chão da sala de edição. Fazia isso para que ninguém pudesse mexer em seu filme. Não deixava tomadas extras para o editor trabalhar. Pedro conta que hoje, com a câmera digital, tudo é filmado, quilômetros de filmagem, para deixar o editor ( e o produtor ) com centenas de opções. Que eu saiba, hoje, só Clint monta na câmera.
Há ainda o momento em que Ford enfrentou De Mille no MacCarthismo. Uma descrição que me deixou com lágrimas nos olhos. Não a descreverei, mas cito sua primeira frase ( que diz tudo sobre quem foi John Ford, diretor mais oscarizado da história, até hoje )
"-MEU NOME É JOHN FORD E EU FAÇO WESTERNS. EU NÃO GOSTO DE VOCE."
Macacos me mordam se isso não é atitude!
No fim de tudo, o maior herói de John Ford foi ele próprio.

BERGMAN/ JOHN FORD/ BOORMAN/ GODARD/ CHABROL/ CAROL REED/ ANTHONY MANN

PERSONA de Ingmar Bergman com Bibi Andersson e Liv Ullman
Dificil classificar este filme. Todas as notas que dou têm relação com o prazer. Não dou um dez porque o filme é importante ou complexo. O dez é dado ao filme que me dá um supremo prazer, seja estético, seja emotivo, seja moral. Mas como falar de Persona? O filme tem a profundidade simbólica dos melhores sonhos, mas ao mesmo tempo é árido. Nenhum prazer existe em sua visão. Assistir este filme é sentir desconforto, medo e até mesmo angústia. Não há como em outros filmes do mestre, o alívio prazeroso da bela imagem e dos atores geniais. Aqui tudo é dor. Impossível a mim dar uma nota.
OS DEZ MANDAMENTOS de Cecil B.de Mille com Charlton Heston, Yul Brynner e Anne Baxter
Aqui tudo é circo. Cecil se despede do cinema com imensa produção. São milhares de figurantes, bichos e cenários gigantes. Heston é Moisés e Brynner é o faraó. Anne está uma delícia como Nefertiti. Tem tudo nesse enredo de crioulo doido: tempestades, milagres, a voz de Deus, escravos, estupro e lutas. Profundo como um episódio de cartoon. Estranhamente é ainda divertido em sua cafonice esperta. Nota 6.
A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES de Billy Wilder com Robert Stephens e Colin Blakely
Na primeira parte vemos Holmes como um tipo de dandy gay viciado em cocaína. Watson é seu simplório amigo que como bom vitoriano finge nada perceber. É um tipo de comédia suave. Mas quando acontece o crime e Holmes passa a tentar o resolver o filme se perde. O caso é óbvio e simples demais para um detetive tão genial. È um dos últimos filmes de Billy e foi imenso fracasso. Nota 4.
DEPOIS DO VENDAVAL de John Ford com John Wayne, Maureen O'Hara e Victor McLaglen
Deixa eu contar: este é o filme favorito de meu pai. Assisti com ele quando eu tinha 10 anos de idade, na Globo, sábado às 21 horas. Lembro que achei o filme muito bobo, muito alegre e muito cheio de socos. Na adolescência passei a detestar esse tipo de filme ( como detestei tudo que lembrasse meu pai ). Mas após os 30 anos comecei a aceitar esses filmes, a ver sua poesia, seu imenso valor mitico. É o maior sucesso em bilheteria de Ford e ganhou Oscar. Conta a história de americano que vai a Irlanda ( Galway ) comprar casa que foi de seu pai. Lá, ele se enamora de vizinha ( Maureen maravilhosa ) e briga com grande valentão do lugar. O filme mostra a Irlanda do folclore, onde todos bebem e brigam, riem e fazem tudo beeeem devagar. Ford cria seu universo fordiano, mundo onde os mitos e os símbolos vivem. O filme é de uma comovente simplicidade e de uma esfusiante beleza. Wayne irrompe como rei da masculinidade e Maureen é a fêmea ideal. Lembrete de outro mundo possível ( extinto? ). Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!
XEQUE-MATE de Paul McGuiguan com Josh Hartnett e Lucy Liu
O que significa este filme? O ponto mais baixo em que uma diversão pode chegar? Observem: um filme ruim, antes, era um filme mal feito. Um filme ruim agora, como é este, é um filme mau. Violência pornográfica, roteiro imbecil e atores deploráveis ( o tal Josh mal sabe falar ). Há participações de atores de verdade ( infelizmente muito curtas ): Ben Kingsley e Morgan Freeman e de dois bons tipos: Bruce Willis e Stanley Tucci. Mas este lixo é inominável. Nota ZERO.
EXCALIBUR de John Boorman com Helen Mirren, Cherie Lunghi, Liam Neeson, Nicol Williamson
Uma fascinante viagem por mundo interior. Percebemos por entre as brumas nosso mundo e nossos símbolos mais imorredouros. Jung mora em cada personagem. Quando esta saga termina, sentimos que alguma coisa nos foi fixada. Há uma riquesa imensa nestas imagens. As cenas de Lancelot são as melhores, exemplos simples do que é o amor cortês. Nota 8.
FEDORA de Billy Wilder com William Holden e Marthe Keller
Último filme de Billy. Sem dúvida é o pior filme já feito por um grande diretor. Chega a dar pena. Trata-se de uma gororoba mal temperada sobre atriz anciã que tenta voltar ao cinema. Diálogos risíveis e interpretações lamentáveis. Nota Zero.
BANDE À PART de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Sammi Frey e Claude Brasseur
Liberdade em forma de filme. Jean-Luc pega tudo que esperamos e nos devolve transformado. Os atores brincam e nos encantam, Anna dá um show no papel de uma bobona. O filme é leve, jovem, solto e soberbamente anárquico- mas atenção! É para amantes de cinema, sua magia está no filme em sí, não em sua "história". Nota 9.
ALPHAVILLE de Jean-Luc Godard com Anna Karina e Eddie Constantine
Godard consegue nos levar à ficção científica sem criar cenários ou efeitos. Ele filma a Paris de 1965 de um modo "esquisito", e nos faz crer que aquilo é um "outro mundo". Em que pese essa habilidade, este é de todos os seus filmes da primeira fase ( a fase Anna Karina ), o menos interessante. Um James Bond de vanguarda, ou um Godard em sci-fi. Nota 4.
MULHERES FÁCEIS de Claude Chabrol com Bernadette Lafond e Stephane Audran
É a história de 4 moças em Paris. Seus amores ( ou não ), bebedeiras, orgias e seu trabalho alienante. O filme é bastante ousado para a época e tem um final hitchcockiano. Lafond é uma comediante maravilhosa, tudo nela é ironia. Chabrol jamais foi um gênio, mas era um cineasta seguro, afiado, instigante. Nota 7.
O ÍDOLO CAÍDO de Carol Reed com Ralph Richardson e Michele Morgan
Na embaixada da França em Londres, um menino apegado a mordomo, presencia sua infidelidade e no processo descobre o que significa a palavra "verdade". Este filme, feito por um dos 3 maiores diretores ingleses, é uma obra-prima de suspense. O final me deixou com o coração na mão!!!! Detestamos o menino cada vez mais e nos compadecemos do mordomo e de sua amante. Cenários belos e labirínticos e fotografia exemplar de Georges Périnal. O grande ator shakespeareano, Ralph Richardson, mostra todo o medo e toda a aceitação do destino do patético mordomo. O filme, original e asfixiante, é uma jóia do melhor momento do cinema inglês. Veja e se apaixone por esse muito grande diretor. Nota DEZ!!!!
O HOMEM DOS OLHOS FRIOS de Anthony Mann com Henry Fonda e Anthony Perkins
Mann nunca errava???? A primeira cena deste western já é antológica, um passeio em grua, num preto e branco brilhante, pela cidade. Mas o filme é todo assim, uma aula de cinema. Fonda está estupendo como o herói amargo e quieto, exemplo de virilidade bem resolvida. Seus olhos são os olhos de um anjo caído. Tudo neste filme caminha para seu final catártico. Quem desejar saber o que é um herói e para que serve uma aventura, que veja este monumento. Anthony Mann, mestre de westerns que se fazem mitos, dava estatura de arte filosófica a filmes aparentemente banais. Um diretor perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

OPHULS/ MORGAN FREEMAN/ CHABROL/ FORD/ LUBISTCH

LOLA MONTÉS de Max Ophuls com Martine Carol e Peter Ustinov
De longe é este o pior filme de Ophuls. Um longo e enfadonho exercício de pretensão. Sabe-se que ele teve problemas com a produção e que sua ambição era a de fazer um filme muito maior. Mas este painel sobre a decadencia de uma cortesã não tem ritmo, não tem gosto, tem falta de tudo aquilo que sempre fez a fama de Ophuls. Uma pena. Muita gente considera este filme um dos maiores da história. Onde? Nota 3.
A DAMA DO LAGO de Robert Montgomery com Audrey Totter
A idéia é arrojada: fazer um policial noir em câmera subjetiva. O herói jamais é visto ( só quando se olha no espelho ) a câmera é o olho desse detetive. Mas essa idéia não funciona. Queremos ver as reações do herói, queremos ver o ambiente onde tudo ocorre, nos cansamos de olhar para rostos que falam olhando para nós. Fato muito interessante: sem a distração de nossos pensamentos, o que olhamos numa conversa é absolutamente banal. O filme se torna árido, mas jamais indiferente. Audrey Totter tem uma sensualidade perversa eletrizante e o enredo tem tanta podridão que nosso interesse se mantém. Mas seria muuuuuito melhor se feito sem a tal câmera subjetiva. Nota 6.
SER OU NÃO SER de Ernst Lubistch com Carole Lombard e Jack Benny
Vamos ver se consigo explicar a história: na Polonia de 1939 ( o filme é de 44 ) uma trupe de atores judeus vê os nazistas invadirem Varsóvia. Sem teatro e na miséria eles acabam ( através de mirabolante e muito bem escrita história ) tomando o lugar dos verdadeiros nazistas e se passando até por Hitler, salvando assim um espião da RAF. O burlesco impera. Lubistch não tem o menor pudor de zombar de nazis em plena guerra. Mas ele também zomba de atores e suas pretensões. O filme é uma delícia! Lombard brilha como a atriz cortejada pelos nazis e Benny é seu marido, um ator-pavão que se torna herói. É impagável. Nota 8.
DOMÍNIO DE BÁRBAROS de John Ford com Henry Fonda, Dolores del Rio e Pedro Armendariz
Um filme muito estranho. Fala de padre que é perseguido em revolução mexicana. O padre é um tipo de martir culpado e as atrocidades se amontoam. É um filme hiper-católico e hiper-carola. Mas algo o redime. A maravilhosa fotografia de Gabriel Figueroa. O México jamais foi tão misterioso, gótico, irreal e infernal. Trabalho de gênio. Mas é um drama muuuito estranho.... Nota 5.
A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Lasse Hallstrom com Robert Redford, Morgan Freeman, Jennifer Lopez e Josh Lucas
Hallstrom dirigiu Minha Vida de Cachorro. Ele é muito bom para esse tipo de filme bucólico, sensível, humano. Aqui temos Redford ( muito bem ) como um rancheiro que vive em semi-isolamento com seu amigo ( Freeman ) aleijado por ataque de urso. Jennifer é sua nora, que vai viver lá fugindo de namorado violento. O filme é sobre a reconciliação. É bonito. Fácil de ver, muito bem narrado e todos os atores estão ótimos ( inclusive J-Lo ). Mas, como quase sempre acontece com Hallstrom, falta a criatividade, a fagulha que faz de um filme ok um filme marcante. Nada aqui é ruim, mas nenhuma cena é forte. É bacaninha. Nota 6.
MORTE SOBRE O NILO de John Guillermin com Peter Ustinov, David Niven, Maggie Smith, Bette Davis, Jane Birkin, Angela Lansbury
Hercule Poirot investiga mortes em viagem pelo Nilo. Ustinov está delicioso como Poirot e Niven dá classe ao todo. Mas o jovem casal central, feitos por Lois Chiles e Simon MacKindale, é de canastrice irritante!!!! E ainda tem Mia Farrow como a principal suspeita, hiper-atuando. Um filme que não flui, em que pese a delicia de se ver tantos medalhões. Nota 4.
A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Michael Hoffman com Helen Mirren, Christopher Plummer, James MacAvoy, Paul Giammati
Tolstoi em seus últimos dias, tendo seu legado disputado por sua esposa e por seus discipulos. Tolstoi, nos últimos anos de sua longa vida, abriu mão de sua fortuna e de sua arte em pró de sua crença. Ele lançou o toltoianismo, um tipo de pacifismo marxista vegetarianista. O filme mostra os embates entre a condessa sua esposa, que ama o Tolstoi nobre e escritor genial, e o líder do tolstoianismo, que parece estar de olho em sua herança. Helen Mirren brilha. Sandra Bullock ter lhe tirado um segundo Oscar é piada de péssimo gosto. Mas Plummer, MacAvoy e Giamatti, todos brilham, todos se entregam aos papéis invulgares. A cena da morte de Tolstoi é belíssima. E terrivelmente dura. Faltou um diretor de maior ambição, um diretor que criasse cenas de impacto e não apenas que se deixasse levar pelo texto e pelos atores. Hoffman nunca atrapalha, mas também nada cria. Mas, em tempos de gnomos e que tais, é um filme especial. Nota 7.
UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS de Claude Chabrol com Ludivine Sagnier
O grande Chabrol erra aqui. Veja bem, não é um filme ruim, é apenas um filme sem porque. Uma garota ama um escritor velho e é cortejada por playboy bilionário. E daí? E daí nada. Não há nenhum aprofundamento, nenhuma surpresa, nada de belo ou de diferente. Chabrol não erra, mas e daí? Claude Chabrol é o mais querido dos diretores da nouvelle-vague nos EUA. Ele tem uma sucessão de bons filmes de suspense ( quando critico ele amava Hitchcock ). Mas aqui, aos 82 anos, ele faz um filme inútil. Nota 3.

OS MALDITOS UNITED/ O SEGREDO DOS SEUS OLHOS/ CROSSFIRE/ JOHN FORD

CROSSFIRE ( RANCOR ) de Edward Dmytryck com Robert Young, Robert Ryan, Robert Mitchum e Gloria Grahame
É um muuuuuito bom filme. Uma lição de direção segura, com garra, e de atores perfeitos em seus papéis bem escritos. Se voce quer se iniciar no filme noir é esta a escolha. Nota Dez.
TIRAS EM APUROS de Kevin Smith com Bruce Willis e Tracy Morgan
Chegou a passar aqui ???? No século passado este diretor chegou a ser levado a sério. O trágico foi que ele começou também a se levar a sério. Mas aqui não. È uma bobagem assumida, uma comédia policial sobre dupla de tiras e tráfico de drogas. O filme seria bem melhor se esse tal de Tracy não estivesse presente. Ele é péssimo !!!!! Bruce faz o que sempre faz : John MacLane. Quer saber ? Tem até que boas piadas. Numa tarde de domingo em dvd até que desce. Nota 5.
O SEGREDO DOS SEUS OLHOS de Campanella com Ricardo Darin
Uma bela história de amor ( sim, é de amor ) que tem várias cenas ( as melhores, inclusive a excelente cena no estádio ) tiradas de Kurosawa. Mas não é uma obra-prima como alguns dizem. Não é, porque se trata de um filme igual àqueles que os italianos faziam às dúzias entre 55/75. Uma dose de romance, pitadas de pieguice e colheres cheias de politica. Em tempos de big business este filme se destaca por parecer ir contra a corrente. Não é, como parece ser obrigatório hoje, pura ação vazia, e também não é filme de arte cabeça, que é a segunda opção de nosso cinema atual, é apenas uma bonita história. Campanella tem talento para mostrar cenas de amor travado e dirige os atores com delicada atenção. É um bom filme. Nota 7.
O PRISIONEIRO DA ILHA DOS TUBARÕES de John Ford com Warner Baxter
Estamos no mundo de Ford. E é um Ford dos anos 30. E foi um dos poucos fiascos de Ford. Entende-se o porque : é uma história triste, sobre injustiça. Fala do médico que foi preso por tratar da perna quebrada do assassino de Lincoln. A fotografia expressionista de Bert Glennon é soberba e Ford conta sua história economicamente bem. O cenário da prisão na ilha tem um design soturno, uma delicia ! Nota 7.
OS MALDITOS UNITED de Tom Hopper com Michael Sheen e Timothy Spall
Filme de 2009 que não passou por aqui. Fala de Brian Clough, o melhor técnico inglês que a seleção inglesa "não teve". Vemos sua carreira entre 68/74. Um muito vaidoso técnico de futebol, que leva o Derby County da segunda divisão ao campeonato da primeira e a semi-final da euro contra a Juve. Depois ele vai para o Leeds ( que é o maldito United ) o grande time vencedor da época ( jogando sujo, violento, feio ) onde fracassa. Para quem viu e gosta do verdadeiro futebol inglês, o filme é obrigatório. As cenas de pancadaria ( o filme intercala cenas reais com ficcionais ) no incio do filme, ver Kevin Keegan jogar pelo Liverpool...é maravilhoso ! O futebol inglês ficou fora das copas de 74 e 78 e este filme mostra porque : eles jogavam o futebol mais violento, tosco, manhoso da história. Uma delicia ! Vemos o bandido Billy Bremmer e o assassino irlandes Giles, a lama de péssimos gramados, os socos, cabeçadas, chutes, cuspes... Ah !!!! Quem matou essa Inglaterra tosca ? Time que tinha como grande objetivo vencer a Escócia no torneio das ilhas, time que pouco se lixava para o resto do mundo. Pra onde foi tudo isso ? Aqueles açougueiros zagueiros, aqueles atacantes pernetas, os goleiros e seus chutões até a outra área..... Os cabelos sujos e longos ao vento, as camisas sem patrocinio ( que linda a vermelha do Liverpool sem nada a manchá-la ) a torcida bêbada.... Estará o mundo se tornando Castrati ? Sábados de manhã na Globo, Inglaterra X País de Gales.... carrinhos e mais carrinhos, todos maldosos..... bem, me excedi. Para quem gosta disso tudo o filme é ótimo. Quem não gosta, sai fora !!!! O roteirista é o mesmo de A Rainha e Frost/Nixon. Em tempo : em 1978 Clough foi para o Nottingham Forest. Sabe o que ele fez lá ? Bi-campeonato europeu ! O único inglês a conseguir isso ! Bi !!!!!! No Forest !!!!! 79/80 !!!!! Nota 6 ( como filme )

JOHNNY GUITAR/DE MILLE/JOHN FORD/THELMA E LOUISE

HOMEM SEM RUMO de King Vidor com Kirk Douglas
Uma quase comédia num quase perfeito western. Kirk está exuberante e o filme, de beleza deslumbrante, seria perfeito não fosse seu final apressado. Vilões muito bem construídos e ação constante fazem deste um filme classe a. Vidor, diretor mito, saiu-se bem, mais uma vez. nota 8.
KISMET de William Dieterle com Ronald Colman, Marlene Dietrich
Ver Colman na tela é sempre um prazer e Marlene é mais que isso. Dieterle foi ator na Alemanha e é mais um desses emigrados que fizeram a glória de Hollywood ( Lang, Wilder, Preminger, Zinnemann, Wyler, Ulmer, Sirk e tantos fotógrafos e maestros ). O filme, fantasia árabe sobre o rei dos mendigos, é encantador. Cenários imensos e bem fakes e um roteiro que é uma bobagem divertida. nota 6.
O CONTADOR DE HISTÓRIAS de Luiz Villaça com Maria de Medeiros
O neo-realismo ainda rende bons frutos. Movimento mais importante de toda a história do cinema, o neo-realismo de De Sica, De Santis, Rosselini, Visconti, Lattuada, Germi e tantos mais, dá o tom neste simpático filmezinho. Medeiros é além de boa atriz uma figura simpática e o filme agrada por sua verdade. 6.
O GÊNIO DA MÚSICA de Karl Hartl
Feito na Austria durante a segunda guerra, esta bio de Mozart o mostra mais real que o histérico filme de Forman. Em Amadeus tudo brilha, mas tudo é falso. Mozart não foi aquele tolo adolescente futil, e Salieri não era vilão. Neste filme, o gênio está próximo do que deve ter sido : um dandy. Os cenários são belíssimos e sua morte é como deve ter sido. De estranho o fato de mostrarem poucas obras do mestre. Para quem gosta de música, é obrigatório. nota 6.
JOHNNY GUITAR de Nicholas Ray com Joan Crawford, Mercedes MacCambridge e Sterling Hayden.
Não é um western. É um dramalhão, gaysíssimo, afetadíssimo, operístico, passado por acaso entre cowboys. Joan, dona de saloon, é insanamente odiada por Mercedes, lésbica de paixão mal resolvida. Todos os homens no filme são fracos, as mulheres mandam. Johnny é um homossexual arrependido e as falas são hilárias. Nicholas filmou com ousadia e espírito de sacangem, os franceses levaram a sério, e na época, Godard à frente, o chamaram de obra-prima. Os americanos, que entendem de western, nunca entenderam este filme. É uma deliciosa brincadeira entre pervertidos talentosos. Filme amado por Almodovar. Inacreditávelmente cara de pau. Exagerado, escandaloso, todo errado e de talento bizarro. nota 7.
PAGAMENTO FATÍDICO de John Farrow com Glenn Ford, Patricia Medina e Diana Lynn.
Outro talento esquisito é o de Farrow. Este muito divertido noir feito no Mexico, entre ruínas indígenas, tem todos os clichés. Tudo soa a falsidade, mas tudo é hilário. A fotografia é um manual de foto noir, as falas são tiradas de Bogart. Mitchum ou Ladd; as situações são Hammet ou Chandler de terceira. Mas o filme prende. Tem cenas inacreditáveis em sua cara de pau, mas são fluidas, leves, elegantes. O tipo de filme pop adulto que os americanos pararam de fazer. nota 7.
MULHERES E HOMENS de Cecil B. de Mille com Claudette Colbert e Herbert Marshall.
Dois casais se perdem em floresta. Assistimos sua fuga entre feras, pântanos e selvagens. Colbert era de uma beleza exótica, magérrima, elegante. O filme, feito antes do código de censura, tem até banho em cachoeira ! De Mille, inventor do filme espetáculo, do filme circo, oferece aquilo que o povo quer : romance, aventura, violência e sexo. Mas ele pode ser melhor que isto. nota 6.
O SINAL DA CRUZ de Cecil B. de Mille com Frederic Marsh, Claudette Colbert, Elissa Landi e Charles Laughton.
Inacreditável. E maravilhoso!!!!! Diversão gigantesca sobre cristãos perseguidos por romanos. Tem feras comendo gente, um gorila atacando moça nua, jacarés atacando outra cristã nua, gladiadores, elefantes pisoteando gente, dúzias de leões e romance proibido. Tudo filmado com ritmo, competência e falta de vergonha. Marsh sofre por amar cristã, Landi é a cristã; Laughton, o grande ator, cria um Nero hiper bicha-louca: seus gestos, olhares, a barrigona sobre almofadas, se contorcendo no coliseu com seu escravo nú, comendo uvas fazendo biquinho, ateando fogo à Roma entre gritinhos de tédio...é hilário e genial. Seu Nero criou tudo o que entendemos por camp. Claudette toma banho em leite de burrinhas e desfila, linda e meio nua, pelo filme. A rainha que faz se parece com uma dondoca mimada. De Mille é o diretor que criou a imagem cliché do que é ser um diretor : megafone na mão, botas, cadeira escrito "diretor" e gritos no set. È dele a imagem do hiper-diretor que pede : quero amanhã cedo: trinta girafas, cinquenta elefantes e cem leões. E também trezentos cavalos e cinco mil figurantes. A Paramount lhe dava tudo. Ele foi o inventor do super-espetáculo: circo para o povo. Religião e sexo, mistura infalível. Este filme é totalmente delicioso!!!!!!! nota 9.
WAGON MASTER de John Ford com Ben Johnson, Harry Carey jr, Joanne Dru e Ward Bond
Por que Ford fazia filmes ? Fazia filmes para juntar seus amigos e ir para o campo. Alojado por lá, longe de estúdio e de pressões, ele jogava cartas, cantava, cavalgava, e filmava nas horas vagas. Seus amigos eram seu elenco. John Wayne, James Stewart e Henry Fonda eram as estrelas que às vezes ele usava. Mas seus amigos eram os atores secundários. Gente como Victor McLaglen, Ward Bond, Harry Carey, Jane Darwell, Andy Devine e tantos mais. Irlandeses de alma, como Ford. Este era seu filme preferido. Sua história ? Dois cowboys ajudam caravana de mormons a chegar a seu destino. No caminho encontram troupe mambembe e bandidos. O filme despreza a aventura, seu interesse é a imagem pura : carroças sendo puxadas por cavalos, paisagens gigantescas, fogueira com música, silêncio. Há uma cena em que vemos o deserto e as carroças... voce pensa que Ford vai cortar, mas ele deixa a cena se esticar e esticar... e nós aplaudimos sua genialidade discreta. A trilha sonora, canções folk, é coisa de arrepiar. Os atores são nossos amigos, amamos seus rostos. O filme é de gênio, é viril, simples, puro, poético. Curto, modesto em sua pretensão, ele é imenso em seu resultado. Ford é rei. Enquanto houver cinema será rei. Este filme é como uma epopéia. nota Dez.
OS ÚLTIMOS MACHÕES de Andrew Mc Laglen com Charlton Heston e James Coburn
Péssimo. Tenta ser Peckimpah. Violento e amoral. Mas é um Peckimpah sem a loucura genuína de Sam. È forçado. nota 2.
O MUNDO DE APU de Satijajit Ray
Chegamos ao final da trilogia de Apu. Ray criou com eles o cinema artìstico indiano. Antes dele, tudo era Bollywood. Na parte um, Apu é criança. Na 2 é adolescente e aqui é jovem adulto. Este filme me lembrou Truffaut ( Ray filmou este um ano antes da estréia de François ). Apu ama, tenta empregos e sofre uma tragédia. O filme é o menos bom dos três. O problema da trilogia é que o primeiro é tão original, tão belo, tão forte, que os outros sofrem na comparação. Este é o mais comtemplativo. nota 7.
LASSIE COME HOME de Fred M. Wilcox com Roddy Mc Dowall, Donald Crisp, Elsa Lanchester, Elizabeth Taylor, Dame May Whitty
Este é o filme que inventou o gênero "filme de cachorro". É de longe o melhor. Por vários motivos : por ser assumidamente romântico, pelo fato do cão se comportar como um cão, por fazer chorar sem apelar, por não ser bonitinho e fofinho. Ele é belo e sincero. O elenco é fantástico e vemos Elizabeth aos 11 anos, já linda e cheia de carisma ( o que é carisma ? como pode isso ? Ela é uma star há sessenta e seis anos !!!!!! e sobreviveu a Michael Jackson, seu amigo.... como pode ? Elizabeth é pré Sinatra, pré Gene Kelly, pré Elvis ! E está viva ! Sã e lúcida. É uma força da natureza, uma heroína e talvez a melhor atriz que o cinema já teve. Basta ver "Quem tem medo de Virginia Wollf" e aplaudir. ). Lassie é adorável, puro, comovente e encantador. O molde do que veio depois ainda é o topo do gênero. nota Dez!!!!!!!!
THELMA E LOUISE de Ridley Scott com Susan Sarandon, Geena Davis, Harvey Keitel, Brad Pitt e Michael Madsen.
A primeira hora é um pé no saco. Um banal filme amarelado de estrada com crime. Mas de repente o filme vai enlouquecendo, se tornando livre, inconsequente e nos pegamos rindo. Torna-se comédia, maravilhosa comédia. Scott foi sábio, nos faz mergulhar no mundo surreal em que elas mergulham. Ao final, o mundo se torna um tipo de "Alice no país das maravilhas" adulto. Elas assumem a loucura, e nós nos apaixonamos por elas. Não vou falar de Susan. Ela é sempre divina. Mas Geena tem aqui seu grande momento: seu rosto ao contar à amiga a transa com Pitt é fantástico. Alegre, boba e desamparada. O cinema deveria ter olhado Ridley com mais reverência. Não é qualquer um que faz isto e ainda Blade Runner, Aliens I e Os Duelistas. O final deste filme, um vôo rumo à liberdade é de antologia. nota 8.

WYLER/GROUCHO MARX/AVANT-GARDE/RAY

INFÂMIA de William Wyler com Audrey Hepburn e Shirley MacLaine
Numa escola feminina, aluna acusa as sócias da tal escola, de terem um caso gay. Está feita a tragédia. Filme levado com bela discrição e grandes atuações. Mais um acerto desse venerável Wyler, o mais premiado diretor do cinema americano. Voce se envolve, torce e fica chocado com seu final absolutamente pessimista. nota 7.
ANDREI RUBLEV de Andrei Tarkovski
Não consigo assistir Tarkovski. Percebo sua originalidade, sua nobreza e seu realismo. Mas me irrito com sua lentidão, me perco em seus devaneios, adormeço com sua frieza. Nota 1.
ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA de Roberto Farias com Roberto Carlos, Reginaldo Farias, José Lewgoy
Há uma cena em que vamos dentro de um helicóptero em vôo rasante pelo Rio de 1967. É de doer : que bela cidade ela foi ! Quase sem favelas, muito verde e um trânsito ainda civilizado. Quanto ao filme : é um Help tupiniquim. Um Roberto, muito jovem e cheio de alegre ingenuidade, vive aventuras moderninhas em ritmo de nouvelle vague. Suas roupas são fascinantes e Reginaldo está hilário como o diretor de cinema doido. A trilha é uma brasa, mora! Tem desde "Eu sou terrível " até "Negro Gato". Roberto era um tipo de bom menino com roupas bacanas. Funciona, o filme é o retrato de um país que não existe mais : jovem e inocente. nota 6.
APARAJITO de Satijajit Ray
Segunda parte da vida de Apu. Ray, com dinheiro de amigos e de imóveis, criou o cinema indiano realista. As 3 partes da vida de Apu dignificam o cinema. Aqui vemos Apu adolescente, indo para a cidade grande e se tornando bom aluno. Mas o foco é sua relação com a mãe : dolorosa. O filme é menos emocionante que "O mundo de Apu", mas ainda assim é fascinante e hipnótico. Ray foi um grande poeta e suas histórias têm o encanto de fábulas. Nota 8.
UTAMARO E SUAS CINCO MULHERES de Kenji Mizoguchi
Dos três gigantes do cinema japonês, Mizoguchi é o mais nipônico. É fascinado por sexo e morte, e tudo em sua obra exibe cuidado plástico e tradição. Porém ele se perde neste confuso e inconvincente drama sobre erotismo, arte e mentira. O roteiro é mal desenvolvido e a ambição está acima da realisação. O mais fraco Mizoguchi. Nota 4.
A AVENTURA de Michelangelo Antonioni com Monica Vitti e Lea Massari
Excelente filme para quem sofre de insônia. Após 30 minutos é impossível não se adormecer. O filme tem o pior dos defeitos : fala do tédio da burguesia. E nos entedia. Nota Zero.
OS 4 PRIMEIROS FILMES DOS IRMÃOS MARX : THE COCOANUTS, OS GÊNIOS DA PELOTA, OS 4 BATUTAS e OS GALHOFEIROS. Diretores : Victor Hermann, Norman Z. McLeod e Robert Florey. Com Groucho, Harpo, Chico e Zeppo. Mais Lilian Roth e Margaret Dumont.
Uma das alegrias da vida é poder assistir os filmes dos irmãos Marx. Não é cinema, como WC Fields não o é. É mais que isso. Assistimos seus filmes como se neles encontrássemos um segredo : são uma religião. Por isso que com eles não há meio termo, ou se ama, ou nada se entende. Não existe o mais ou menos, não existe a meia fé. E minha fé é grouchoharpochicoana. Graças ao vaudeville. Seus filmes não têm história, não têm evolução. Assistimos para comungar com sua felicidade. Pois o mistério dos irmãos é esse, eles exibem uma profunda felicidade. Amar os irmãos Marx não é sinal de inteligência ou de bom gosto. É sinal de saudável espirito brincalhão. São um topo inatingível de descompromisso com tudo, de criatividade anti- correta, de brilho hedonista. Groucho fala o que pensa e o que ninguém entende, Harpo anda pela vida como um cachorro no cio e Chico é o mal-humor feliz. E nós, crentes na Marxilandia do espírito anarquista, sorrimos gratificados com o fato do cinema nos ter dado tal clarividencia. Para o mundo dos Irmãos, a vida é uma bosta e para viver bem é preciso nada se levar a sério. Os quatro primeiros filmes, da fase da liberal Paramount, são meus favoritos por serem os mais toscos. Na Metro eles ficariam um pouco presos. E palmas para Margaret Dumont, a vítima perfeita de Groucho, e atenção para Lilian Roth, símbolo belíssimo e sapeca das estrelinhas dos anos 30. Nota Um milhão quatrocentos e setenta e oito mil e sete.
A ARCA RUSSA de Alexander Sokurov
Crítica abaixo. Dizer mais o que ? Um diamante, uma porcelana de Sévres, um quarteto de Haydn, um conto de Voltaire. O filme brilha e é uma obra-prima dos anos 90. Nota Dez.
ELMER GANTRY de Richard Brooks com Burt Lancaster e Jean Simmons
O filme ataca um dos calcanhares de Aquiles da América : a religião. Deu o Oscar de ator à Burt e ele brilha como um malandro que se torna pastor. Nos irritamos com sua falsidade, mas ao mesmo tempo, nos apaixonamos pelo seu carisma. Burt lhe dá várias facetas, o que faz de seu desempenho exercício fascinante. Mas a direção de Brooks é crispada, séria demais, veemente em excesso, pesada. O prazer em se ver o filme se esvai na direção dura de Brooks. Nota 5.
HANGMAN'S HOUSE de John Ford
Filme pseudo irlandês, da fase muda de Ford. Tem belo trabalho de fotografia e se assiste com belo interesse. Mas está longe das obras-primas do mestre maior. Nota 6.
LES AMANTS de Louis Malle com Jeanne Moreau e Alain Cuny.
E Malle continua sua obra sobre a culpa. A não-culpa, no caso. Uma chatíssima burguesa entediada tem um amante. Diverte-se com ele como quem compra um novo casaco. Mas o marido, esteta chato, convida o amante e a amiga da esposa a passarem um fim de semana na mansão do casal. No caminho a esposa infiel conhece jovem e arruma um novo amante. Nada de culpa e nada de drama. Malle é um grande diretor : mostra o tédio e jamais nos entedia. O filme flui lindamente e tem uma fotografia em p/b brilhante ( de Henri Decae ). Moreau, atriz que não me agrada, está aqui sensual e muito bem. O filme arrisca em seu final : o apaixonar-se dos dois tem todos os hiper clichês de uma nova paixão. Sentimos enjôo. Mas funciona, vemos toda a tolice do se apaixonar por tédio. As cenas são plasticamente belíssimas, mas o que eles dizem é chocantemente tolo. O filme se faz comédia estratosférica. Malle sabia tudo. Nota 7.
PAL JOEY de George Sidney com Frank Sinatra, Kim Novak e Rita Hayworth
O azar de Kim Novak foi seu contrato com a Columbia. Ela era muito mais do que o studio acreditava. De qualquer modo ela esteve em dois anos em Vertigo e em Pic Nic. E neste Pal Joey, onde ela rouba o filme. Linda e vulnerável. Sinatra é um cantorzinho mulherengo fracassado, que tem sua grande chance ao conquistar viúva rica ( Rita muito abatida ). O filme tem na trilha "My funny Valentine", "The lady is a trammp" e "Bewitch", todas de Rogers e Hart. Precisa mais ? São três das maiores canções já escritas. Mas o filme sofre de um roteiro pouco inspirado, bobo. Melhora quando Kim aparece mais e Sinatra se humaniza. Em tempo : no filme Frank conquista toda mulher que deseja. Sua teoria é : trate a mulher sempre como ela não espera. A bonita como se fosse feia, a feia como bonita; a deusa como vagabunda, a vagabunda como deusa; a séria como palhaça e a palhaça com seriedade. Isso é puro Sinatra ! Nota 6.
A PARTIDA de Yojiro Takita
Fuja deste chatíssimo exemplo de filme vazio e sem porque. Deve agradar ao tipo de público bonzinho. Mas é exemplo do vazio absoluto de idéias e de projetos do atual cinema japonês. Chato pacas!!!!! nota zero.
A FRONTEIRA DA ALVORADA de Philippe Garrel com Louis Garrel e Laura Smet
O diretor, séculos atrás, foi namorado de Nico. Este filme recorda isso. Tem os piores tiques moderninhos dos anos 70 levados aos xoxos anos 2000. O filme é uma imensa crise existencial que só pode interessar a quem a vive e nunca a nós que a assistimos. Exemplo de filme masoquista. nota zero.
AVANT-GARDE
Houve um momento na história do cinema em que ele precisou se definir. Ou se assumia literatura, ou se fazia arte plástica. Venceu a literatura, e o cinema que hoje conhecemos tem história. Tem enredo, personagens e narrativa pessoal. Esta coleção de dvds, mostra a vertente derrotada, a turma que via no cinema algo próximo a fotografia e a pintura, imagens, puras imagens em movimento. Se alí fosse percebido algum sentido literário seria por mero acidente. ( Aliás, uma pintura pode contar uma história. Mas não é o principal. O que define a pintura é sua realidade como imagem, como puro visual. E isso lhe justifica, lhe basta. )
O que vemos nestes videos são curtas de artistas que filmaram imagens em movimento. Alguns são completamente aleatórios, outros possuem enredo, mas todos têm o fascínio da imagem solta, livre, sensual. Se os video-clips tivessem alma seriam assim. ( E a gente nota que todo diretor de clips assistiu e estudou estes filmes ! ). Que filmes são estes ?
Man Ray é o que mais me tocou. São quatro curtas desse irriquieto fotógrafo americano, que viveu a boemia francesa como poucos. A ESTRELA DO MAR é uma das maiores obra-primas que já assisti. São cenas de um prazer imenso, de absurda sensualidade, onde toda imagem é uma nova surpresa. Mas os outros três mantém o mesmo nivel : maravilhosamente surreal. Mas há mais. Hans Richter com cenas de força e de ritmo vertiginoso, Charles Cheeler e suas tomadas de Manhattan baseadas em Whitman, BALLET MECANIQUE de Léger, famosíssimo curta que merece a fama que tem, há ainda a obra-prima de Germaine Dullac LE COQUILLE ET LE CLERGYMAN, filme encantador como sonho e como viagem de ópio, BRUMES D'AUTONNE de Dimitri Kirsanoff, com imagens de melancolia obsedante. E esse burlesco CHATEAU DE DÉ de Man Ray, que é um monumento ao nada. Todos são fantásticos, como continentes perdidos, um mundo cinematográfico abandonado, porém é mundo vivo, moderno, instigante e transgressor. Conhecer estes filmes é ver aquilo que esta arte poderia ter sido, aquilo que em seu inconsciente ela quer ser : livre. Impossível dar nota a tal monumento. Assita e se surpreenda.

DEPP/SAURA/SISTER CARRIE/OZU

INIMIGO PÚBLICO de Michael Mann
Me fez recordar uma crítica sobre música pop, escrita por Ezequiel Neves. Zeca falava de sua tristeza. Ao se tornar crítico, ele perdera o prazer de escutar aquilo que realmente lhe agradava. Era obrigado a ouvir, toda semana, uma pilha de discos que as gravadoras lhe enviavam.
E eu penso : será que Inácio Araújo encontra tempo para rever os Hawks que ele tanto adora ? Eu, mero curioso, ultra-amador, me sinto, às vezes, na obrigação de espiar aquilo que está rolando. Ter como comparar, como ver para onde a história ruma. Posto isso...
O rosto de Depp. Tão modificado em digitalizações que nada transparece de sua face. Quase um cartoon. Mas não é a isso que o povinho pop se acostumou ? Rostos e lugares que remetem àquilo que foi visto na propaganda mais ilusionista possível ? Mundo onde nada recorda o mundo real, e uma vida ( a do povinho pop ) em que nada de verdade ocorre. O filme, de longe o pior do bom operário Mann, é um floco de algodão doce. Enjoa, é bonitinho, o vento leva, não mata fome alguma. Ideal para quem não tem paladar e odeia aquilo que tem peso.
Não vou comparar este filme à sua origem. Os filmes de gangster dos anos 30, com Cagney, Robinson ou Muni eram jornalísticos. Foram feitos ao mesmo tempo em que as balas voavam. Não vou comparar com Bonnie e Clyde, pois o filme de Penn foi dirigido com ambição artistica, senso de relevância e suprema inteligência. Bonnie existe no filme, Clyde é real. Temos política, sexo e humor. Aqui o que temos ? O absoluto zero. Nenhuma linha de diálogo demonstra algum sinal de trabalho refinado, todas as atuações são estereotipadas, o filme não possui verve, ambição, inteligência, nada. Mas dá aquilo que o moço da pipoca quer : rostinhos de bonecos, ambientes chics e estridência que adormeça, que não faça pensar. O filme me deu sono, muito sono.
Depp precisa voltar a viver. Ele adormeceu num tipo de limbo "Edward mão de tesouraiano ". Fazem séculos que ele não cria algo novo. Jack Sparrow foi uma excessão bem-humorada, uma brincadeira que deu certo. Em sua idolatria à Marlon Brando, Depp segue os passos do ídolo em sua preguiça, mas não em genialidade. Uma pena se Johnny não nos der seu "Ultimo Tango" ou seu "Poderoso Chefão". Acorde e se torne John !!!!! nota 3, pelo belo visual. È impossível um filme tratar dos anos 20/30 e não ser chic.
A QUEDA DA CASA DE USHER de Jean Epstein
Antes de dirigir seu primeiro filme, Bunuel foi assistente de Epstein neste filme tirado do conto gótico de Poe. O cenário é muito assustador e quem quiser saber de onde Tim Burton tira suas idéias, eis uma das fontes. Nota 6.
A LADRA de Otto Preminger com Gene Tierney
Que linda mulher era Tierney ! Traços de chinesa unidos a traços de irlandesa ! O filme é ok. O tipo de filme classe A, que Hollywood fazia às dúzias. Cleptomania, hipnotismo, roubo, tudo misturado numa diversão sem grandes erros ou acertos. Nota 6.
LARANJA MECÂNICA de Stanley Kubrick com Malcolm McDowell
Os outros diretores devem se sentir muito mal ao se lembrarem de Kubrick. Não é o melhor diretor. Mas sua inteligência é humilhante. Todos nós, um dia, fomos Alex, hoje somos o segundo Alex. Este filme, cheio de erros, chato em vários momentos, é um bofetão irado em nosso rostinho macio. Do cacete !!! Nota 9.
BODAS DE SANGUE de Carlos Saura com Antonio Gades
É necessário. Foi imenso sucesso nos anos 80 este filme do melhor diretor da Espanha antes de Almodovar e pós Bunuel. O que é o filme ? Um grupo de teatro se maquia, conversa, fuma. O diretor ensaia a peça de Lorca. O filme é o ensaio. Não há cenário, apenas um ambiente. Música flamenca e dança, sem diálogos. E uma súbita beleza estarrecedora. A cena da morte, duas facas em movimento contínuo, é uma das mais perfeitas já filmadas. Antonio Gades, belo-viril-enfeitiçante, rouba o filme para sí. Um gênio da dança cigana. A poesia de Lorca surge inteira, sem que se fale uma só linha de texto. Um milagre ! Nota 9.
ESPOSAS INGÊNUAS de Erich Von Stroheim
Houve um homem na Hollywood dos loucos anos 20 que insistia em fazer filmes de 9 horas de duração, com cenários imensos, extras aos milhares e meses de filmagem. Aqui está seu filme menos dispendioso. Ele constrói a Riviera francesa em LA, filma festas luxuosíssima, roupas caríssimas e faz uma cena de tempestade maravilhosa. Se ele foi um gênio ou um louco, até hoje se discute, mas este mastodôntico espetáculo é bastante assistível. 80 anos após sua premiere ! Em tempo: como ator, Von Stroheim está como o mordomo no CREPÚSCULO DOS DEUSES e é o general alemão em A GRANDE ILUSÃO. Seu lugar na eternidade está seguro. Nota 5.
HALLELUJAH ! de King Vidor
Maravilhoso Vidor. Em 1929, enquanto a KKK enforcava negros em árvores, ele, diretor famoso, faz este filme com atores negros, em favelas do sul, e cheio de gospel, jazz e spirituals. Um documento de uma era. O que me deixou boquiaberto é constatar como os negros americanos de 29 se parecem com aquilo que somos hoje. Se movem como nos movemos, falam com nosso sotaque e cantam rocknroll ! Quando vemos os atores brancos da época na tela, apesar de os amarmos, sentimos que são seres de outra era. Eles andam, falam, se vestem, atuam como gente de outro planeta. Aqui isso não ocorre. ( Como não ocorre quando vemos Louise Brooks ). Nota 7.
AS QUATRO PENAS BRANCAS de Zoltan Korda com John Clements, Ralph Richardson e June Duprez
Foi refilmado em 2000 com atores australianos ( Heath Ledger e Guy Pearce ). Este é o original. Desavergonhadamente colonialista, pinta os ingleses como arautos da civilização, um povo que deve salvar a Africa de sua ruína pré-histórica. O mundo mudou ? Hoje são as grandes multinacionais que salvam os povos atrasados de sua ignorância. Se voce esquecer sua caretice colonial, é uma cara e bonita produção. nota 5.
3 BAD MEN de John Ford
A fase muda de Ford já mostra tudo aquilo que ele sempre adorou filmar : casamentos, funerais, festas, camaradagem entre homens e mulheres corajosas. O filme é cheio de humor e tem uma corrida de carroças impressionante ! São centenas de carros, milhares de cavalos e burros, correndo numa planicie sem fim. Emociona muito, pois sabemos que alí estão homens e animais de verdade. Que eles se machucaram de verdade para fazer a cena, que eles têm um limite para aquilo que pode ser feito. Cada homem, cada cavalo tem seu detalhe próprio, seu movimento único, sua verdade concreta. A ação digital emociona menos porque sabemos que TUDO pode acontecer, e se não existe um limite, não existe a coragem em se superar esse limite. Sempre penso em DURO DE MATAR. Bruce Willis nos dois primeiros emociona porque o vemos sangrar e sabemos que ele não vai voar ou cair de 20 andares e ficar vivo. Algo razoávelmente crível terá de ser criado. No último DURO DE MATAR, ele ricocheteia andares abaixo, derruba um jato e sobrevive a viadutos desabando. Tudo pode e nossa crença se vai. O que resta é tédio.
Ah sim... a nota para este Ford é 7.
SISTER CARRIE de William Wyler com Laurence Olivier e Jennifer Jones
Caraca ! Drama pesado, sem açucar. Ninguém morre ou fica doente, mas como se sofre ! Olivier empobrece por amar a mulher errada, e Jennifer sofre por ser pobre. O filme foi um fracasso. Ele não alivia nada, o que está ruim, piora. Não tem final bonitinho, tem final nobre. Olivier dá um show. Seu sofrimento é feito de olhares, tom de voz, gestos das mãos. Um deus entre os atores. A cena final é aquilo que tinha de ser : perfeita. Wyler dirige com o dom de quem ganhou quatro Oscars - retidão e competência. Um exemplo de bom drama. nota 8.
CORAÇÃO CAPRICHOSO de Yasujiro Ozu
Bendito DVD ! Onde alguém poderia assistir tal raridade ? Estão lançando tudo de Ozu e este, pasmem, é mudo ! O estilo ainda não é totalmente Ozu : a câmera se move e abundam cortes. Mas o tema, o amor entre pai e filho, já é Ozu. Um diretor precioso. Um poeta do cotidiano simples, de familias comuns, amores normais, bairros como são todos os bairros. Ele mostrava a beleza dessa normalidade, a poesia da rotina, o heroísmo da vida amorosa. Aqui vemos o mestre ainda tateando, mas já acertando muito : o inicio tem humor abundante e o fim tem tristeza sublime. nota 7.
SIM SENHOR de Peyton Reed com Jim Carrey e Zooey Deschanel
Eu gosto de Jim Carrey. Numa Hollywood menos tirânica ele seria o cara. Mas não é. Sua carreira já mostra sinais de acomodação. ( Incrível, com a idade de Jim e de Depp - Clint Eastwood e Bogart estavam começando ! ). O filme tem um excelente tema, desenvolvido rasteiramente. Mas é ok. nota 6.

CHER/WONDER BOYS/JULIE ANDREWS/JAMES STEWART/O REI E EU

Filmes que assisti nesses dias de frio e de ócio...
TURNER E HOOCH de Roger Spottiswood com Tom Hanks e Hooch
Total sessão da tarde anos 90. É o filme do jovem Hanks, policial, que tem de morar com o cão mais babão do planeta. Uma bobagem que sempre me diverte. Mas sei que sou suspeito para comentar filmes com cães.....o animal é 10, o filme vale nota 4.
AO RUFAR DOS TAMBORES de John Ford com Claudette Colbert e Henry Fonda
Um muito colorido Ford, contando os apuros de jovem casal na América de 1780. Todos os temas de Ford estão presentes : a fé, a família, a união da comunidade, as festas e os enterros. Não é um dos grandes, falta a poesia estratosférica de seus momentos culminantes. nota 6.
FEITIÇO DA LUA de Norman Jewison com Cher, Nicolas Cage, Danny Aielo
Em suas listas os americanos colocam este filme entre as maiores "comédias" da história. Waaaal.... sua primeira hora é chata pacas, mas depois fica legal. Deu o Oscar para Cher e Cage faz as caras e bocas de sempre. Não é uma comédia, é mais uma crônica sobre a solidão. nota 5.
MERMAIDS de Richard Benjamin com Cher, Winona Ryder, Christina Ricci e Bob Hoskins
Vem no mesmo DVD de Feitiço, mas é muito melhor. A história de uma mãe muito moderna e doida ( em 1963 ) e suas duas filhas, uma criança com mania por água ( uma Christina Ricci maravilhosamente natural ) e outra com mania católica ( o melhor papel da vida de Winona ). Hoskins está encantador como o alegre e descomplicado namorado da mãe. Um filme muito bonito e que não teme resvalar no melô. nota 7.
WONDER BOYS de Curtis Hanson com Michael Douglas, Robert Downey Jr, Frances McDormand, Tobey Maguire.
Existem filmes que nos pegam. São obras maravilhosas, mas não são "o melhor" filme. Mas os revemos sempre e passam a nos acompanhar pela vida como amigos queridos. É assim, em minha vida com All That Jazz, Os Eleitos, My Fair Lady e Hatari. São todos filmes excelentes, atingindo às vezes o nivel mais alto imaginável; mas não são tão "arte" como são Cabaret, Oito e Meio ou Persona. Creio que tem algo a ver com ambiente. Esses filmes mostram um local onde eu gostaria de viver, pessoas com as quais eu adoraria conviver e têm um personagem com o qual me identifico cem por cento ( o que não significa que o veja como herói ). Wonder Boys, que reví pela quarta vez em cinco anos, é isso. Mostra um fim de semana desastroso de um desastrado professor de redação. Tudo no filme me seduz : a trilha sonora, os atores ( até o chatinho Tobey ), os sets, e o maravilhoso roteiro. Vemos um cão ser assassinado, uma festa de escritores chatos, vários baseados e um livro voando numa tarde fria. Hanson dirige com rara felicidade. As cenas se encadeiam sem pressa e sem morosidade, duram o tempo certo. Douglas está frágil, cativante, e muito engraçado e Downey dá uma aula de finesse em comédia. Uma festa em forma de filme, uma inspiração, uma delicia. nota Dez!!!!!!!!!!!!
APERTEM OS CINTOS O PILOTO SUMIU de Zucker, Abrahams e Abrahams
A tal enquete americana colocou este filme no top 10. Inaugura o estilo de humor muito idiota e grosseiro que se mantém até hoje. Tem poucas risadas, mas a gente se entretém, esperando até onde a doideira pode chegar. nota 4.
THE STAR! de Robert Wise com Julie Andrews e Daniel Massey
O grande Wise começou a desandar com este caro e imenso fracasso. Esta biografia de Gertrude Lawrence tem um grave problema : a vida de Lawrence tem pouco drama. A primeira parte deste filme é fascinante. É um prazer ver como era o music-hall londrino nos anos 20, ver Massey interpretar um delicioso Noel Coward e ouvir as canções de Coward, espertas e maliciosas, que revolucionaram o show-bizz da época, criando a imagem do super-star. Mas depois, nas duas horas restantes, o que vemos são suntuosos shows, cenários caríssimos e uma diva sofrendo de solidão glamurosa. É pouco para segurar o filme. Mas, pelo inicio...nota 5.
PEEPING TOM de Michael Powell
Por falar em desastre... Este é clássico. Powell, um dos mais talentosos e famosos dos diretores ingleses, após uma dúzia de clássicos maravilhosos, resolve lançar este filme. E este filme destrói sua carreira e recebe uma das reações mais iradas que um filme já recebeu. Tudo em Powell era belo. Seus filmes, pretensiosos, eruditos, muito bem escritos, agradavam ao público comum e ao público metido. Mas este filme desagradou e ofendeu a todos. Porque ? Bem... ele é ruim. Talvez o mais neurótico filme que já vi. Fala de um fotógrafo em Londres que precisa filmar assassinatos. Crimes que ele próprio comete. O filme mostra essa compulsão voyerística- a de gravar o medo. As falas são atrozes, as cenas têm cores avermelhadas e tudo no filme se parece com um pesadelo eternamente repetido. Após esta obra, Powell passou a fazer filmes classe b e perdeu toda a atenção de público e crítica. Em 1968 fez inclusive "A Idade da Reflexão", que considero o filme mais feliz já feito. Bem... em 1980 Martin Scorsese, com a ajuda de Lucas e Coppolla, fez um festival Powell em Nova York. A justiça ao brilhante diretor de Sapatinhos Vermelhos e de Coronel Blimp foi feita. Mas este filme ( que tem um clima identico ao de Taxi Driver ), não merece ser descoberto. Um clamoroso erro e um filme detestável. nota zero!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
TERRÍVEL SUSPEITA de Robert Wise com Valentina Cortese e Richard Baseheart
Filme do começo da carreira de Wise. Uma mulher dá um golpe do baú. Mas nada é o que parece ser... Falar o que? O roteiro engenhoso, convence e nos deixa totalmente ligados, o cenário é perfeito, os atores não poderiam ser mais apropriados. Repare : nenhuma cena sobra. Nada parece durar mais do que devia. Tudo é exato, enxuto, lógico, correto, bem feito. Não há um único exagero, um só take mal costurado. Isto é cinema em seu maior grau de perfeição, de diversão, de entretenimento. Pop, muito pop, mas cheio de respeito ao público. nota 8.
ANATOMIA DE UM CRIME de Otto Preminger com James Stewart, Lee Remick, Ben Gazarra, George C.Scott e Arthur O'Connel.
Filme de tribunal. Longo e sério. E impecável. Stewart é um advogado banal. O crime em que ele se envolve é banal. A corte da cidade interiorana é banal. Mas voce se entrega ao espetáculo. Torce. Tem dúvidas. Dá vereditos. Se envolve completamente. É a magia irresitível do cinema. A música é de Duke Ellington ( ele aparece numa cena ), a foto de Sam Leavitt, e James Stewart está como sempre : perfeito, nobre, um imã em nosso olhar. nota 9.
O REI E EU de Walter Lang com Deborah Kerr e Yul Brynner
Talvez o maior sucesso da história da Broadway. As músicas de Richard Rodgers são um tipo de opereta à Bizet. Mágicas. Nos deixam otimistas e em estado de encantamento. Kerr está competente, daquela forma muito inglesa, como é de se esperar nessa atriz tão agradável; mas o filme é de Brynner. Muito mal ator, mal cantor, o canastrão maior. Mas então um milagre acontece : mesmo vendo o quanto ele é ruim, nos sentimos exatamente como a professora inglesa : caímos em seu encanto, rimos com suas frases, perdoamos sua falta de talento, e sabemos que jamais nos esqueceremos desse rei. Um dos maiores mistérios e um dos mais inescrutáveis milagres do cinema : é esta atuação de sorte e de voodoo de Yul Brynner. O resto do filme é desfrutável, um pouco meloso demais... a não ser uma cena de genialidade soberba : a apresentação de A Cabana do Pai Tomás em versão tailandesa. São minutos de coreografia de Jerome Robbins superlativa. Vemos alí, cenários, roupas, música de uma modernidade, de um gosto, de uma beleza arrojada ainda insuperável. Por essa cena e pelo trabalho de Yul. nota 9.
VAN GOGH de Robert Altman com Tim Roth e Paul Rhys
Não dá. Nunca saberemos como Vincent era. Nunca saberemos como Gauguin era. Este filme tem a lenga-lenga das loucuras de Van Gogh e da empáfia de Paul. Muito chato, muito metido, muito louco, muito sujo. Uma pena, pois Roth nasceu para este papel. nota zero.

WISE/BLOW-OUT/BOOM/DESPERAUX/WILL ROGERS

O CACHORRO de Carlos Sorin
É aquele estilo Vittorio de Sica. Mas sem a beleza e a poesia estranha do gênio italiano. O cachorro é muito bom, mas o filme é pouco mais que nada. nota 3.
QUANDO EXPLODEM AS PAIXÕES de John Sturges com Frank Sinatra, Gina Lollobrigida, Charles Bronson e Steve McQueen. Filme que tornou Steve estrela. E apenas sua presença, curta, dá vida à este bem intencionado porém enfadonho filme. nota 2.
DESAFIO DO ALÉM de Robert Wise com Julie Harris e Claire Bloom. Nunca sentí tanto medo vendo um filme. Algumas pessoas se hospedam numa casa para descobrir se lá existem fantasmas. O filme não tem sangue, violência nenhuma, visão de espíritos ou assassinatos. Mas afeta nossos nervos. Tem um ar de claustrofobia, de neurose, de loucura. O cenário é maravilhoso, a trilha sonora fantástica e a direção de Wise, soberba. Uma verdadeira obra-prima do medo, do horror, do incrível. nota Dez!
BLOW-OUT de Brian de Palma com John Travolta, Nancy Allen e John Lithgow. A primeira meia hora, homenagem à Blow-up de Antonioni é uma exuberante aula de técnica cinematográfica. Tudo é brilhante : os cortes exatos, o som perfeito, o clima de intriga, o rosto de Travolta. A cena na ponte, sons do vento, a coruja piando, é digna de gênio. Mantivesse esse clima por todo o filme, estaríamos diante da perfeição. Mas Brian, como sempre, se empolga com seu próprio talento e começa a exagerar. Uma trama policial óbvia de serial killer, destrói todo o encanto original de seu filme. Mesmo assim, trata-se de um hipnotizante thriller, uma obra de alguém que realmente ama o cinema e sabe tudo sobre sua arte. Nota 9.
BOOM de Joseph Losey com Elizabeth Taylor, Richard Burton e Noel Coward. Que filme é este ? Vamos por partes : Losey foi um diretor americano, perseguido pelo MacCarthismo, se refugiou na Inglaterra e se tornou um dos melhores e mais britânicos diretores. Este filme, que trata de uma milionária às portas da morte, foi escrito especialmente para o diretor por ninguém menos que Tennessee Willians. Mas os diálogos, que triste, são ruins. Pretensiosos, freudianos, snobs. A mansão da trama fica numa maravilhosa e isolada ilha do Mediterrâneo. Nunca tive o prazer de ver casa tão bela. Branca, cheia de sol, viva. John Barry fez a trilha sonora. Raras vezes ouví trilha tão instigante. Dá vontade de ouví-la sem ver o filme. Cheia de psicodelismo. Pois bem, a foto é de Douglas Slocombe : ou seja, perfeita. Com tudo isso junto, o filme não funciona. Noel Coward, gaysíssimo, é um amigo afetadérrimo. Burton, já em sua fase de alcoólatra radical, perambula pelo filme com cara de sono. Taylor tenta levar tudo a sério, mas está perdida neste carnaval-gay-pretensioso. É uma diversão de loucos dandys, uma brincadeira de intelectuais vazios. Bonito de olhar e escutar, totalmente sem sentido. Vale para se conhecer o grande Noel Coward, inglês que criou o conceito de star, de multi-midia, de dandy século XX. nota 5.
O RATINHO DESPERAUX. Porque os desenhos têm hoje roteiros melhores que os dos filmes ? Creio que é pelo fato de que os roteiros de desenhos são mais livres. Não precisam criar um papel para um astro. Não precisam evitar a pieguice. Podem ter uma moral e não parecer careta. Podem brincar com qualquer coisa. Não precisam parecer "adulto". São ingênuos, então, verdadeiros. Honestos. Este é encantador. Fala de perdão, de coragem e de nobreza. Não é pouca coisa. E fala com autoridade. Creio que as crianças não gostarão muito do ambiente dark do cenário. Mas é mais um excelente produto que assume o que é e o que quer. nota 7.
NAS ÁGUAS DO RIO de John Ford com Will Rogers. É muito difícil falar de Rogers. É um ator como nenhum outro. Atua como quem come uma maçã. Tranquilo, natural, simpático. Diferente porque ele é de outra era : começou a atuar em 1910 ! Se o estilo de atuação em 1910 era esse... caramba! Que época abençoada! Este filme se passa no Mississipi. È puro Mark Twain ( e acredito que alguns atores conheceram Twain ). Um tipo de filme alegre, camarada, muito bem-humorado, feliz. Tem uma corrida de barcos no final que é maravilhosa comédia, soberba ação e bela poesia. Todos os personagens ( e são muitos ) são bem delineados, bem interpretados, bem definidos. O filme é quase um cartoon, do tipo Pernalonga, do tipo Pica-Pau. Uma festa, dirigida com sua segurança costumeira, pelo pai do cinema : John Ford. Pena Will Rogers não ter vivido um pouco mais...Ford e ele fizeram 3 filmes juntos. Seriam muitos mais....nota 9.