VANDALISMO E HIPOCRISIA: NOSSA EDUCAÇÃO.

   Voces nunca deram a mínima pro vandalismo das salas de aula. O que se faz desde tanto tempo entre muros escolares se faz agora nas ruas. E eu não sei o que penso desses vândalos. Esse povinho falar em "manifestação ordeira" me lembra algo como "manifestação domesticada". Eu não sei.
    Engula PT. Será que voce caiu na real finalmente? Percebeu que hoje voce é situação? Que voce é o detestado poder? Imagino se o PSDB tivesse ganho a presidência....Impeachment nas ruas? Fora Serra? Porque não um Fora Dilma?
   E voces ó sindicatos? A quanto tempo voces viraram um troço jurássico? Sabem falar com as massas? Claro que não! A história os atropela.
   O que Zé Dirceu anda pensando? Inveja desses jovens? Rancor? Ou medo de perder suas coisinhas conseguidas com tanta luta em nome "do povo"? Fala Dirceu!
   Como cabeças coroadas ( o voto no Brasil faz do eleito um tipo de Luis XV de Joãozinho Trinta ), esse bando de "lideres" nada de relevante tem a dizer. A cara de todos é a de marido traído. Chifres.
   Um reles sinal de inflação bota um milhão na rua. Esqueceram que essa galéra de 20 anos não sabe o que é inflação? Graças ao Real, eles não conheceram o horror da inflação à Sarney. 100% por semana!!!!
   E agora? O Brasil viveu quinze anos de vacas gordas e tudo o que conseguiu fazer foi uma Copa e uma Olimpíada. E retroceder a ser um país vendedor de matérias primas. Ainda somos fornecedores de carne, grãos e minério. Exatamente como em 1800. Não aproveitamos para crescer em educação e justiça social.
   Vândalos foram criados. E que eles façam aquilo em que foram não-educados.
   É claro que detesto desordem. Sou pela moral e cívica, né? Mas eu os entendo. E os penso inevitáveis.
   Esperem pelo ano que vem!

AN EXPERIMENTAL FUSION OF HIP-HOP AND JAZZ: JAZZMATAZZ

   Vindo do gueto e assimilado pelo branco-chic, o hip-hop fez o mesmo caminho que o jazz. Questão de ritmo, assim como Armstrong deu improviso e beat a melodia music-hall, o rap deu colagens, batidas e ginga ao velho pop mofado. E o improviso, em letras e em levadas. Substituíram as imensas lapelas dos paletós zoot pelos medalhões de metal. E o sapato bicolor virou tênis grandão. Mas o que é inevitável sempre acontece, o rap se uniu ao jazz, durou pouco o movimento, mas foi bom demais!
   Este disco, o primeiro de GURU mexeu com minha cabeça e com meus quadris. A trilha do final do século XX, a minha trilha, é essa. O disco faz uma mistura irresistível: é rua e gueto e ao mesmo tempo é chique e muuuuuuito metidão! As batidas são do hip-hop, a voz é do rap, os temas são revolucionários, mas tudo é temperado com solos, reviravoltas do mais puro jazz. Como resultado uma trilha contemporânea, trilha do mundo que une a mais abjeta bosta ao mais límpido estilo. Lixo clean, a combinação do mundo agora.
   Branford Marsalis toca aqui. Sola free. Donald Byrd também. O trompete cheio de bossa. E o vibrafone de Roy Ayers embeleza a melhor faixa. Há ainda Courtney Pine e Ronny Jordan. E N'Dea Davenport. Uma festa soturna, o ambiente do som é dark, sombrio e muito frio.
   Estamos em 2013. Reouvir Guru com o McSolaar continua a ser um instigante prazer. Sabe né: Le Bien et Le Mal.
   Bota pra tocar e escuta aí:

PRA GALERINHA IRADA E LINDA DAS RUAS...

   Alô Alô galerinha irada e extra-cool que tem ido a rua protestar. Antes tarde do que nunca, então ok, tudo certo, mas deixa eu dizer unas cositas:
   Onde voces estavam quando o governo resolveu dar de mão beijada às empreiteiras bilhões de dólares para fazer essa copa de novo rico? Londres fez a olimpíada mais barata possível, porque nós aceitamos caladões a copa mais cara imaginável? Voces não deram um pio e eu TINHA CERTEZA de que voces iam bradar e reclamar. O que houve?
   Meus mais próximos compadres de todo dia são todos da perifa. Perdem horas em condução. E a grande reclamação deles não são so vinte centavos. O que eles querem é que FUNCIONE. Voces podem me dizer como fazer funcionar? Estatizar? Mas a saúde e a educação estatal funcionam? Aliás, a policia é do estado né não? Quem como eu tem de ir quase semanalmente a delegacia sabe: a policia está no olho do kaos. E aí?
   Colegas da USP que são cabeças do movimento me dizem que os ônibus podiam rodar a dois e cinquenta. Mas me ignoram quando pergunto: a esse preço a coisa ia melhorar?
   Antes tarde do que nunca é bom ver o sono passar. Voces acordaram e saíram da frente dos video-games. Mas não se esqueçam deste que vos fala. Não deixem de lembrar das centenas que morrem nas mãos dos assaltantes e dos velhos nas filas do hospital. Isso me angustia.
   E dando voz a meus brothers e sisters do Capão e do Campo Limpo, falo: a grana da copa dava pro metrô, dava não? E o que eles querem é busão que os leve rápido ao trabalho.
   A questão moçadinha linda, não é o preço, a questão é: FUNCIONA?

UM ELOGIO A DIE HARD USANDO BEATLES E BEETHOVEN COMO EXEMPLO

   A menos nobre das artes: o cinema. Apesar da arquitetura, que tem feito uma força enorme para se auto- aniquilar. É a menos nobre por ser a mais vulgar, a mais popular, aquela que foi criada por circos e por cientistas, não por "artistas solitários".
   A música pode ser tão vulgar quanto o cinema. Mas ela tem Beethoven e Bach. Beatles e Bob Dylan. Duke Ellington e Count Basie. Cartola e Caymmi. Bartok e Debussy.
   Veja: Mozart é nota 10. E Louis Armstrong também pode ser nota 10. Há na música essa coisa maravilhosa que não há nas outras artes, a democracia do mérito. A música mais intelectualizada, Brahms por exemplo, pode ser colocada em pé de igualdade com música feita por analfabetos ou música popular, como a de Cole Porter ou a de Robert Johnson. Por ser a mais abstrata das artes, por independer de linguagem racional, a música tem essa democracia.
   Na literatura isso é impossível. Por mais que eu adore Conan Doyle ou Michael Chabon, não posso comparar eles a Stendhal ou a Sterne. A mais intelectual das artes, a mais artificial, não comporta essa democracia. Elogio Sherlock Holmes, mas sei que ele não é 10. Por isso que não pode haver nota para livros. Holmes é delicioso, a Cartuxa de Parma é uma obra-prima. É assim.
   O cinema nada tem da racionalidade da literatura. Por depender de um grupo e por depender de dinheiro, o acaso entra em sua formação. A partir do momento em que se termina o roteiro, começa a sorte a influir no filme. Achar o ator certo, a trilha certa, a locação exata, encontrar o diretor que entenda o roteiro. E editar com sabedoria. Tudo é tão lotérico como um casamento.
   Por isso é tolice imaginar o cinema como obra solitária de um gênio titanico. Isso não existe. O cinema nunca é nobre, é sempre burguês, pois é grupal e focado em público. Bergman é o ícone do "autor absoluto", mas ele, mesmo ele, dependia da TV suéca, de um grupo de atores perfeitos, de geniais diretores de fotografia e principalmente de um público bem formado. De um público de cinema "para filmes de Bergman". Nas décadas de 50 a 70 esse público existiu. Hoje Bergman não teria esse público. Esse público não mais existe. O suéco seria um escritor.
   Existe toda uma corrente de críticos, com Ebbert na dianteira, que tenta dar ao cinema aquilo que a música tem: a liberdade de opinar. Se Beethoven é um gênio, os Beatles, mesmo fazendo canções vulgares de 3 minutos, dirigidas a adolescentes semi-analfabetos, também o são. Porque Beethoven consegue o máximo em seus objetivos. E porque a banda de Paul também tirou o máximo daquilo a que se jogou. Desse modo, pode-se dizer que Leoncavallo, mesmo sendo um "clássico", é menor que o Jackson Five, porque Leoncavallo falhou em seu métier, e os Jacksons foram perfeitos naquilo que tentaram.
   Quando Bruce Willis amarra a mangueira de incêncio na cintura e salta do prédio que explode, temos o máximo cinema em sua máxima execução. Edição, fotografia, ator, roteiro e direção se unem e constroem todo um crescendo que consegue nunca parar de funcionar. Na época de herois indestrutíveis, vemos um heroi que geme, sente dor, sangra e cansa. Vemos frases que trazem humor e ironia e nos lançamos em cenas que apesar de impossíveis sempre parecem "críveis". O filme é absolutamente perfeito.   Pragmaticamente ele entrega em 100% aquilo que quer nos dar. E faz ainda mais, cria um novo estilo de ação. O heroi que não é heroi. E nem mesmo anti-heroi. Um simples azarado. Que tem sorte....
   Duro de Matar é Beatles em relação ao Haendel que é Wim Wenders. Paris-Texas e Die Hard são tão bons quanto. Ícones dos cinéfilos dos anos 80.
   PS: O que digo é mais fácil de compreender quando vemos filmes ruins. Um filme que tenta ser genial e raro e se mostra chato e óbvio, é tão ridiculo quanto uma comédia sem graça.

SOBRE OS PROTESTOS

   Conheço quem vá às manifestações de chauffeur. Eu juro que é verdade! Só não cito o nome. Assim como vários outros que nunca pegaram um busão na vida. OK, voce pode dizer, isso é uma bela solidariedade. Não é preciso ser gay para ser solidário com os gays e não é preciso ser pobre para pensar na pobreza. Sei não. Esses caras que conheço jamais moveram uma palha para ajudar um velho sem remédio ou protestaram contra a violência ou a roubalheira. Então o que rola? Bom, o mundo internético tá cheio de imagens de maio de 68 e dos protestos mundo afora. De repente a galerinha percebeu que faz parte de seu mundo ir à rua e botar a boca no trombone. É parte de ser jovem-antenado. Nada tenho contra. Não sou tão conservador e medroso assim. Mas falta uma coisa fundamental para esse povo: Imaginação.
   Vivemos um momento em que a imaginação mingua, consequência natural do excesso de informação. É óbvio, mente cheia de "coisas" e de "fatos" cria pouco. Criação depende de ócio e de vazio. Olhe a seu redor e repare que tudo é um mix de citações. Nesse caldo de "coisas pegadas aqui e ali", a politica se torna um nada absoluto, onde tudo se faz e nada se modifica. O protesto é isso: Se protesta contra o nada que se faz. Se propõe um nada que nunca se fará.
   Pequenos grupos organizados tomando um busão de assalto, na conversa e na boa, e levando os passageiros de graça para seu destino. Pintar os ônibus com frases de guerra. Cercar a prefeitura e acampar lá, ninguém sai, ninguém entra. Deitar no chão à aproximação da polícia, sem reagir. Ir aos locais da copa das confederações e não deixá-la acontecer. Fazer happenings hilários nas avenidas satirizando e esculachando os poderes. São ideias ruins? Provávelmente sim, mas são ideias para se discutir. Ir a rua e parar o trânsito apenas irrita o povão e se a policia fosse menos burra deixaria os manifestantes à vontade para fazer o que desejam. Pixar, gritar e chamar a atenção. Apenas isso. Deixe-os desfilar e eles perdem o motivo de lá estar. Precisam da policia para dar uma razão a coisa.
   Maio de 68 criou slogans. O melhor: A Imaginação no Poder. Diziam claramente o que desejavam. Mudar TUDO. E inventavam de invadir Tvs, rádios...agiram. Sem exitação. E sempre com humor e alegria, condimentos básicos da criatividade.
   Ah sim...e orgulhosamente mostravam a cara. Sem máscaras, please!
   Fogo na rua, pixar paredes e parar a Paulista. Caraca! Voces podem fazer melhor, podem não?

O GÊNIO E A DEUSA- ALDOUS HUXLEY

   É tão bom tomar contato com a literatura inglesa! O bom-senso inglês, nunca tão Descartes-Racine como os franceses, nunca tão Kant-Schiller como os alemães. Há um momento neste livro em que Huxley fala disso. Da razão extremada dos franceses, razão que é uma abstração em si, pois a vida nada tem de racional; e a mania alemã de colocar a vida dentro de um romance, de a imaginar como fato com começo, meio e fim. Os ingleses se abstêm disso. Apenas escrevem aquilo que sentem e percebem. Jane Austen já era assim. E mesmo românticos como Wordsworth ou Keats mantinham a vida dentro dos limites de nossa percepção. Não é uma questão de realismo, pois o ingleses abominam o realismo crú, tampouco questão de materialismo, pois a Inglaterra é o país dos fantasmas e das bruxarias. É uma questão de não tentar falar "com certeza". Nada de correntes de "ismos". O único ismo inglês é o pragmatismo.
   Esta é uma novela de apenas 100 páginas e foi escrita no fim da vida de Huxley. Já quase cego ( como Joyce, como Borges ), Aldous viajava pelo mundo, vivia experiências psicodélicas e se preparava para morrer. A história começa com o encontro de dois velhos. Um deles conta uma experiência vivida na juventude. Ele foi trabalhar na casa de um velho gênio da física e lá se envolveu com a filha e a esposa desse gênio. Tudo termina em kaos.
   O livro basicamente fala da necessidade de "precisar se morrer para poder se viver plenamente". Seus temas são morte, sexo e razão. Tudo tratado de modo simples, objetivo, sem grandes vaidades. O velho gênio quase morre várias vezes, e continua sendo o duro e teimoso gênio de sempre. Sua esposa é a deusa que o faz renascer continuamente, mas como deusa, ela não sabe morrer. A filha é uma adolescente que descobre o sexo e é humilhada pelos adultos. E o narrador, um tateante novato na arte de viver.
   Novela que se lê numa tarde, longe das alturas dos textos mais ambiciosos de Huxley, serve para nos fazer lembrar do soberbo autor inglês, filho de uma familia cheia de intelectuais liberais, de suas ideias que admitem nada saber, mas que mesmo assim indagam e tentam apreender. Huxley abomina os "donos da verdade", os pregadores confiantes, os respondedores. Ele sabe que a vida é inapreensível pelo homem.
   As pessoas deveriam lê-lo muito mais.

STEVE MCQUEEN/ MITCHUM/ MARK WATERS/ PAUL MACCARTNEY/ SCHWARZA/ VISCONTI

   LIVE AND LET DIE de Guy Hamilton com Roger Moore e Jane Seymour
Para o primeiro filme de Moore como Bond chamou-se Paul MacCartney para fazer a música de abertura. Obra-prima ( a canção ), uma brincadeira sem inspiração ( o filme ). Mesmo assim não é tão ruim como A Pistola de Ouro. As cenas de perseguição, onde se usam carros e lanchas, antecipam o futuro da série, ação sem fim e sem motivo. Mas são boas cenas. Vejo nos extras que a cena em que ele pisa nos jacarés é real ( os jacarés, Bond é um double ). Jane é a mais boazinha das Bondgirls. Destaque para a trilha sonora. John Barry sai e assume George Martin ( o próprio ). A trilha chega a constranger. Mas temos a canção de Paul para salvar as coisas. Roger Moore faz humor. Nota 4.
   HOW THE WEST WAS WON de John Ford, Henry Hathaway e George Marshall
Um filme com mais de 3 horas que em Cinerama ( tipo de tela gigante ), conta a conquista do oeste. Cada diretor pegou um segmento. O elenco é all star: James Stewart, Gregory Peck, John Wayne e vasto etc. A fotografia é deslumbrante. Há tanto para se olhar, tantos detalhes, tanta gente se movendo ao mesmo tempo, que ficamos zonzos. Nas salas de cinema devia ser uma experiência incrível. Assisti em 51 polegadas. OK. A melhor história é sobre os indios e os búfalos. Há outras sobre o rio Mississipi, a guerra civil e a ferrovia. Não é um filme ruim. Nota 5.
   A RAPOSA DO ESPAÇO de Dick Powell com Robert Mitchum, Robert Wagner e May Britt
Pilotos americanos na base do Japão durante a guerra da Coréia. Foi a primeira guerra a usar aviões a jato. Isso dá interesse ao enredo. Mas o filme se prende a caso de piloto veterano-cool com esposa de piloto problema. O primeiro arquiteto do ator cool moderno: Robert Mitchum, o cara nem aí pra nada. Ele salva o filme do melô. A sueca Britt era muito bonita mas não deu certo. A Fox não conseguiu fazer dela uma estrela. Cenas aéreas muito boas. Nota 6.
   O ÚLTIMO DESAFIO de Kim-Jee Woom com Arnold Schwarzenegger, Forrest Whitaker, Rodrigo Santoro e Luis Guzmán
É alguma coisa sobre um xerife de cidadezinha que está na rota de fuga de um traficante chicano. Arnold está lento, pesado e tenta ser um tipo de Clint Eastwood mais gordo. Não consegue. Se salvam ótimas cenas na estrada. O roteiro é previsível, banal, todo cheio de clichés sobre clichés.  Rodrigo faz um latino sexy. Rouba o filme. Nota 1.
   LUDWIG de Luchino Visconti
Em 1973 Visconti fez este absurdo. O que ele queria ao fazer esta coisa flácida, pretensiosa e morta? Visconti crê que Ludwig, rei da Baviera, era um tipo de ingênuo-romântico. Um chato. Fraco, e até meio burrinho. Nem mesmo a fotografia se salva. O filme não tem rumo e nunca diz o que quer. Vago. Visconto se perdeu entre 1964-1974, este filme o prova. Sem Nota.
   O AMANTE DA GUERRA de Philip Leacock com Steve McQueen e Robert Wagner
Um dos piores papéis da vida de McQueen. Deveria ser um tipo de hedonista-hiper-agressivo que se põe a prova na segunda-guerra mundial. Um ás da aviação, agressivo, destrutivo. Mas nada disso fica claro. Tudo é feito sem porque, de forma gratuita e a gente percebe que McQueen não tem material para dar alguma força ao personagem. O anti-herói se torna um tipo de chato-birrento. Visualmente é um bom filme, pena que tão mal escrito. É o único filme de McQueen em que não me senti fascinado por ele. Nota 3.
   MINHAS ADORÁVEIS EX-NAMORADAS de Mark Waters com Mathew McConaughey, Jennifer Garner e Michael Douglas
Um fotógrafo mulherengo vai ao casamento do irmão nerd. Lá ele recebe a visita do tio que fez dele o que é. Calcado no Conto de Natal de Dickens, o filme é a coisa mais pró-casamento imaginável. Quem não se casa é do mal, tem algum problema e queimará no inferno da solidão. São tempos repressivos, em 1973 o homem casado era o tolo da história. O conquistador solteiro era o anti-herói a ser admirado. Tiro pela culatra do filme: a única boa cena ( e que faz rir ) traz o excelente Michael Douglas dando conselhos a seu sobrinho sobre a forma de ganhar as mulheres. Waters já fez bons filmes. Este não é um deles. Jennifer tá magra demais!!!!!! Nota ZERO.

OS REIS DOS PATOS - Trechos de Episódios (lista de reprodução)



leia e escreva já!

OS REIS DOS PATOS, KENNETH TYNAN E UM LOBITO RUIM

   Nossa crítica de mal humor tem tudo a ver com aquilo que se oferece a ser criticado. Acabo de reler o livro de Kenneth Tynan e penso que muito da beleza de suas resenhas críticas são frutificadas pela assembléia de gente interessante que havia no globo para ser apreciada. Ele viveu para escrever sobre Olivier, Bogart, Miles Davis e Kate Hepburn. Estava presente em noites de Noel Coward e de Gielgud. A matéria prima para ser escrita era de primeira. Ela exigia boa crítica, bem escrita e bem informada. O maior elogio a Tynan é dizer que ele esteve a altura de seus objetos críticos. Ler este livro, inspirador e generoso em seu oferecimento de beleza viva, é tomar contato com o best of the best.
   Hoje escrevem sobre bestalhadas.
   A melhor frase do livro ( cheio de melhores frases ), "o sorriso e a personalidade de Katharine Hepburn faz mirrar gente mesquinha e desinteressante. Ela é uma ofensa aos pobres de espírito."
   Lobão, o pretensioso-que-se-acha, diz que não dá pra viver em mundo burro. Ora caro Lobo uivador, este mundo foi feito por voce. Suas canções acostumaram toda uma geração a cantores ruins, letras bobas e mensagens deslumbradamente redundantes. Acima de tudo o mundo do Lobinho é chato.
   Na lista dos 101 melhores roteiros tem tanta bobagem que nem vale a pena falar. Vi todos os 101. É uma lista sem um só filme japonês e que ignora Bergman e Bunuel. Bem...os 10 primeiros até dá pra concordar, mas depois a coisa pega.
   Os Reis dos Patos é a melhor coisa da TV hoje. É isso mesmo! TV pra mim não é arte. Ao contrário dos patetas, que são incapazes de ler um livro e pensam compensar sua idiotia via TV, procuro na TV diversão, excitação e entretenimento. Amo bobagens bem feitas. Os Patos é uma familia de caipiras ( como eu ) dos cafundós dos EUA que caçam, fazem merda e dão depoimentos hilários. Eles são ultra-conservadores. Caçam bichos. E são irresistíveis. Tem um episódio em que a espada samurai de um deles é quebrada que é ducaraca! "Também essa espada era uma porcaria!" Frase de gênio! Veja a versão dublada. É muito legal.
   Lembro que em 1976, ano em que comecei a ler jornal, em dois meses os críticos de cinema se deliciaram. Falaram, bem e mal, de TAXI DRIVER, UM DIA DE CÃO, NETWORK, ROCKY, NASHVILLE, A ÚLTIMA NOITE DE BORIS GRUSHENKO, 1900 e BARRY LYNDON.
   Temas para escrever. Espaço na imprensa.
   Sinto falta de Ibrahim Sued: De Leve!!!!!
  

O BRINCALHÃO FERNANDO PESSOA

   Fernando Pessoa gostava de Sherlock Holmes. E até escreveu um conto, incompleto, ao estilo Conan Doyle. Alestair Crowley era um "mago". Raul Seixas e Mr.Coelho eram fãs dele. Pessoa o conheceu via carta. Crowley vivia fugindo dos credores Europa afora. Se convidou para ir à Portugal. E o poeta se viu na obrigação de o receber. Crowley deu um calote nos hotéis e restaurantes portugueses. E inventou sua morte. Forma de parar de ser perseguido. Fernando Pessoa adorou a ideia. Bolou a morte e passou a escrever aos jornais testemunhando a morte de Crowley. Usando nomes falsos, claro.
   Uma vez dois poetas marcaram encontro com Pessoa. Ele foi. Como Caieiro. Os dois poetas mais jovens se ofenderam. E foram embora. Não souberam brincar.
   Fernando amava Ofélia. E escrevia toneladas de cartas pra ela.
   Ele trabalhava apenas duas horas. Por semana! Escolheu ser pobre para ter tempo livre.
   Ao visitar os sobrinhos ele se jogava no chão e passava toda a tarde a brincar com eles. As crianças amavam Fernando Pessoa.
   Combina tudo isso com a imagem que temos dele?
   Quando o poeta morreu foi escrita sua biografia. E o autor, fã do Freud de 1930, forçou sua transformação num tipo de Baudelaire lusitano. O poeta bêbado flanando pela Lisboa misteriosa. Esse bio nada entendeu. Cometeu um crime. Jogou complexos de Édipo, homossexualidade reprimida, instintos destrutivos, num homem que não conheceu e não procurou conhecer. Leu os poemas como se fossem verdade. Como se a arte fosse um diário, um testemunho de vida. Na verdade esse senhor, representante da reprimida e séria geração mais jovem, transformou Pessoa naquilo que ele mesmo era: uma besta.
   Fernando Pessoa feliz. Mentiroso sempre. Brincalhão. Passando trotes nos amigos. Fugindo de contatos intimos para ser livre e poder escrever. Sonhando com livros imensos, em edição de luxo. Adiando a publicação de sua obra por ver nela algo sempre em construção. Fernando Pessoa que antecipou o perfil fake do face. Que iria aprontar muito na internet. Ator e autor de si mesmo.
   Certas aulas são para sempre.

A BELEZA E A NOITE ( contra cegos e ressentidos )

   Ando com um amigo e ele mata a charada: Gostei tanto do ANNA KARENINA de Joe Wright porque é um filme BONITO. E no deserto cinematográfico, onde toda imagem tem a pobreza da tela de TV, o filme surge como um original exercício de estilo.
   Mas posso dizer mais my friend, e digo por experiência de vida: Nada irrita mais o feio que a beleza. Àquele que não consegue apreciar a beleza ela, a beleza, lhe parece ofensa pessoal. O espírito limitado daquele que percebe apenas o que é "util" vê o belo como futil. É a sina dos poetas desde 1750, cultuar o que é inutil, como bem provocou Oscar Wilde na introdução a Dorian Gray. O homem que viveu em meio ao feio, ao funcional, ao "relevante" será incapaz de apreciar o que seja inefável, sutil, belo. Pior que isso, pressentindo sua limitação inumana, ele voltará seu arcabouço racional-redutor-rancoroso contra a beleza que lhe foi negada desde sempre. O FEIO ODEIA O BELO.
   Nós sabemos meu amigo o que seja essa sensação. A THING OF BEAUTY IS A JOY FOR EVER. A beleza cura. Os milagres católicos são milagrosos por serem belos. É no ocidente a única religião que compreendeu isso, a sedução curadora da beleza. E então ela, a igreja de Roma, não teve o pudor de se fazer rica em ouro e em imagens sensuais. O paraíso se confunde em Roma com a estética do belo. Deus como um artista.
   Isso é negado pelas religiões protestantes. Que têm sua beleza em atos e palavras, mas nunca em visual. Elas pregam  desde sempre o util e nunca o enfeite. Daí o espirito claro, limpo e direto que guia países como Suécia, Dinamarca ou Holanda. Para eles nós somos muito complicados, sujos, futeis, ricos em imagens, complexos demais, sensuais, barrocos. Basta comparar o cinema nórdico ao cinema da Itália ou da Espanha. Saiba amigo, as revoluções religiosas de 1500/1600 marcaram o caráter dos povos até hoje. E mesmo um páis que se pretende ateu exibe para quem sabe ler, a língua da igreja que o fundou.
   Nenhum país exibe isso com mais força que a Alemanha, nação que vivia a divisão entre a Prússia e seus satélites, luteranos, e a Baviera católica. Munique vivia, com Vienna, também romana, um reino barroco de dolce vita. Quando houve o advento de Bismarck, a Alemanha optou pelo prussianismo, venceu o luteranismo. Vienna entrou na decadência saudosista e Munique é esse corpo estranho no país, um estado quase latino em meio ao espírito higiênico alemão.
   Mas voltemos a falar da beleza. Assisti esses dias a um filme, cheio de defeitos, que mostra aquilo que falo. Feito em Cinerama, ou seja, a imagem é gigantesca, ele conta a saga da fundação dos EUA como são hoje. E vendo-o recordo aquilo que o cinema pode ser. Grande e Belo. Cada imagem chega a ter cinco planos. Vemos duas pessoas falando. Ao fundo carroças passam. No lado esquerdo uma mulher alimenta o gado. A direita crianças brincam. Mais ao fundo vemos uma fogueira onde homens cantam. Ainda mais ao fundo, passam alguns casais conversando. E ao longe, focado, montanhas onde sombras flutuam entre o verde e o céu sem fim. O filme inteiro tem essa riqueza pictórica. Cinema pensado e feito como cinema e nunca como dvd ou TV. Nada da austeridade dos filmes nórdicos ( austeridade que nasceu com Dreyer e Bergman, que mesmo nessa austeridade-fria não deixavam de ser belos ). Aqui tudo é rico, complexo, nossa vista se perde, pensamos: "para onde olho?"
   Eis uma aula de estética, de beleza, aula que deixará com dor de cabeça àqueles que temem o que é bonito. Penso no cinema ainda mais pobre que será feito pela geração que está se habituando a ver a vida pela câmera do celular.
   Por isso Michael Powell. Por isso RAN. Por isso Mizoguchi. Por isso Ophuls. E John Ford claro. E por isso ANNA KARENINA e também por isso penso que gostarei do Gatsby de Luhrman. Cinema grande, cinema vasto, cinema pra apreciar e que oferece o que se olhar. Cinema inspiração. Quando essa beleza se une a bons diálogos temos a obra-prima. Mas na ausência de bons roteiros, ora, me sirvam imagens lindas e me deixem flutuar. Façam cinema.
   Eu e meu amigo falamos depois sobre a oposição entre iluminismos e romantismos. Não, não vou entrar aqui de novo nessa coisa. É um embate no qual a Europa se complica até hoje. Não saber se a alma deve singrar na certeza do justo e do bem-feito, ou se deve se jogar ao original e sem freios. O que posso dizer é que a beleza pode nascer nos dois caminhos, uma beleza que tranquiliza e outra que excita.
   A cura da vida passa pela estética. O resto eu deixo aos cegos e ressentidos.

TAIPI, PARAÍSO DE CANIBAIS- HERMAN MELVILLE

   Melville foi um jovem azarado. Familia empobrecida, ele não conseguia se destacar em nada, muito pelo contrário. Fez então aquilo que todo jovem de então fazia, quando queria ter nova chance na vida, se lançava ao mar, fosse marinha mercante ou militar. Decepcionado com a rotina dura e seu comando cruel, ele foge do navio onde servia. Se embrenha nas ilhas Marquezas durante uma parada e passa a viver por um mês em meio aos canibais. De volta a América, conta sua aventura a familia e amigos. As pessoas gostam tanto que ele a escreve. Tem problemas de censura para publicar, o livro sai em Londres e é um sucesso. Começa a carreira daquele que é para muitos o maior romancista dos EUA.
   O século XIX foi pródigo em livros sobre o mar e suas aventuras. Vindo lá de Defoe, ainda no século anterior, Stevenson, Conrad, London, escrevem século adentro e irrompem até os anos de 1900 com seus relatos. Livros que li desde sempre, livros de piratas, de tempestades e ilhas desertas, de noites sem fim, de provas cruéis. Nos primeiros capítulos desta aventura há todo esse clima de mar e de mistério. Mas são poucos esses capítulos, 3/4 do volume fala da impressionante caminhada através da ilha e depois de seu convívio entre os "selvagens". O herói central e seu companheiro de fuga cruzam montanhas, cachoeiras, rios. Passam fome, se acidentam, chuvas torrenciais. E o medo constante dos canibais.
   Acabam seduzidos pela vida desses homens. A visão de Melville é radicalmente à Rousseau. Os aborígenes são felizes. Melville exalta a beleza das nativas, a nudez, o sexo livre. A preguiça, os objetos que nunca são cobiçados, o nada ter e nada querer. Risonhos e livres, Melville os contrasta não só com os europeus e americanos, como com os nativos do Hawaii, esses já decadentes, sujos, doentes pelo contato com os missionários e colonos. Melville não deixa de sentir a melancolia por saber que aquela vida, bela, é condenada.
   Como nem o paraíso pode ser perfeito, o narrador tem um grande medo em meio a tanto prazer: o canibalismo. Ele nunca presencia atos de canibalismo, mas tem medo de que sua acolhida faça parte de um tipo de preparação, de ritual. Passam-se 4 meses e ele acaba por fugir. Jamais será o mesmo.
   Melville nunca atinge aqui as alturas dificeis de Moby Dick, livro que ele escreveria seis anos mais tarde. Mas é uma delicia ler suas descrições de corpos, festas, familias, chefes e cantos. Melville já valoriza aqui, em 1844, a higiene dos nativos, a beleza da morenice, a inocência que pode haver no sexo livre, a alegria de um mundo sem dinheiro. Ele chega a testemunhar sexo a três, e causa diversão vermos hoje, em 2013, que aquilo que mais o revolta são as centenas de tatuagens tribais. E também o peixe crú.
   Divertido, documental e irado, um belo livro.