cary grant, george clooney e clarck gable

Quem já assistiu algum filme de Cary Grant sabe do que falo. Ele parecia ter nascido dentro de um terno feito sob medida. Tudo nele era pura elegancia. Nunca afetado, sempre simples.
As mulheres o adoravam porque ele parecia ser protetor, adulto, confiável. Era bonitão, mas não tinha traços femininos. Jamais corria atrás das mulheres, parecia não precisar delas, parecia poder viver bem e ser feliz sem ninguém. Passava a imagem de alguém que sabe viver, sabe ter prazer, mas sempre com discrição, suavidade, tato.
Muita gente diz que George Clooney é a reedição de Grant.
Realmente ele tem o mesmo queixo, usa bem ternos sob medida, não ostenta sua natural elegancia e envelhece sem drama algum. Mas ele tem uma certa infantilidade que Cary jamais exibiu. Clooney é muito mais um Clarck Gable, mais macho que Grant, menos suave e um pouco desleixado.
De qualquer modo, George Clooney é o único ator com menos de 50 anos que une elegancia a virilidade, boas atuações com charme inteligente, um certo " não estou nem aí " que nele parece autentico.
Os outros atores de sua geração parecem muito pouco viris se comparados a ele ( Depp, Keanu, Pitt ) ou destituídos de qualquer sombra de atração ( Hanks, Carrey, Spader ).
Ele é uma anomalia neste tempo em que todo ator fala grunhindo, se veste como um pedreiro e se comporta como um presidiário.

quando voce cresce

Quando voce cresce as mulheres não te assustam mais. Aquela raiva impotente que voce sentia sempre, e exibia em forma de petulância inutil desaparecem. Voce não grita como gritava e passa a procurar a qualidade e não a quantidade.
Novidades só irão lhe seduzir se forem absolutamente originais e não a repetição do velho travestido em maneirismos cheios de botox. Voce quer o que vale a pena, o que é bonito, bom, durável.
Quando voce cresce aprende a escutar e a olhar. O brilho fácil perde seu encanto e o ruído se mostra aquilo que sempre foi: nada.
Nessa hora o rock se torna outra coisa. Deixa de ser uma ansiedade surda e se torna um prazer sensorial. Voce descobre o que realmente importa.
Se voce conseguir largar parte da adolescencia, é nessa hora que voce percebe que a música é muito mais que o pop dos moderninhos ou a saudade do punk dos 70.
A música é um universo e o rock/soul/eletro, o pop enfim, é apenas um planeta desse universo. Um maravilhoso planetinha, feito de ruído, ritmo e nervosismo, mas apenas um ponto em meio ao infinito.
Voce descobre a canção. A canção americana criada no começo do século vinte. A música que é simplesmente música. Que é bonita, bem feita, adulta. Que seduz, jamais estupra; que chama e nunca berra; que pensa mas não se exibe.
Se apaixonará pela extrema elegancia de Cole Porter com suas rimas inesperadas, seus paraísos de navios, champagnes, caviar e praias vazias. Um mundo se tuxedos, sedas, ressacas e amores perdidos. E voce sentirá prazer por envelhecer, gosto por saber viver e admiração pela inteligencia com brilho, com finesse, pelo chic.
Descobrirá que Gershwin era um gênio da melodia, que quando ele canta o amor voce ama aquilo que ele canta. Vai perceber que a música não foi criada para gritar ou pular. Música é acasalamento-sedução.
Voce vai se apaixonar pela voz de Fred Astaire, com seu fraseado perfeito, uma voz que faz de qualquer cantor um plebeu. Uma voz que te leva para o mundo da pura fantasia.Vai vibrar com as vozes de Nat King Cole, Joe Willians, Mel Tormé, Bing, Dean, Ella, Billie, Sarah, Johnny...
E então, e só então, voce terá o privilégio de compreender aquilo que Frank diz, aquilo que Frank viveu, aquilo que O HOMEM sentiu. E vai notar que todos ( Elvis, Paul, Dylan, Lou, Bowie ) eram meninos e que Frank é UM HOMEM.
Bem vindo.

anos 30

Conversando com minha amiga Marília ( grande fã do cinema dos anos 70 ), tomo consciencia do prazer imenso que devo ao cinema dos anos 30. Sim, dos 30! Pois assim como o melhor teatro foi escrito entre os séculos xvi e xvii e a melhor filosofia pelos gregos de séculos antes de Cristo; o cinema mais prazeroso foi feito em sua tenra juventude.
Bastaria dizer que foi nos 30 que se filmou o que vale a pena dos irmãos Marx ( e quem não idolatra Groucho, Chico e Harpo é um cretino ao cubo ). Mas os 30 ainda têm W C Fields, Mae West, Lauel e Hardy e os filmes de horror da Universal.
É a década de Fred Astaire e de Busby Berkeley; das screwball comedies de Hawks, MacCarey e Stevens; da elegância de Cary Grant e Gary Cooper; das loucuras kitsch de Von Sternberg; dos filmes de gangster da Warner com Cagney, Robinson e Raft; do melhor Tarzan; dos mais fortes Lang; dos sofisticados Lubistsch e Mamoulian; do começo sério de John Ford e do Hitchcock inglês; Chaplin faz seus melhores filmes e temos Capra e Clair.
É aqui que a série do Pernalonga nasce e Betty Boop, Disney e Popeye. Um cinema adulto, alegre, vivo, muito inteligente, ágil, inspirador. Tempo de Gable, Harlow, Garbo, James Stewart e Henry Fonda, Bette Davis e Kate, Spencer Tracy, Errol Flynn criando os filmes de piratas, Marlene, William Powell e Barrymore, Myrna Loy, Bogart e tanta gente mais... ou melhor, tantos mitos...pois são os 30 o Olimpo do cinema, o mundo dos ícones, dos modelos eternos, do Forever and Ever...

a primeira noite de tranquilidade

Ele é um novo professor. Começa a dar aulas numa nova escola. Ele é niilista. Em sua primeira aula diz que os comunistas são insuportáveis e os fascistas idiotas ( isso em um tempo 72, em que todo italiano do bem era obrigado a ser comuna ). Nessa escola ele se apaixona e tem caso com aluna. Ela é uma prostituta de luxo. Suicida. Bela como o impossível.
Ele é Alain Delon. Seu professor é feito com um olhar de Stendhal e uma voz com ecos de Proust. Caminha para o absoluto desastre, e não se importa com isso. Tudo em sua impressionante atuação diz : a vida nada vale... E tudo em sua atuação nos seduz.
Valerio Zurlini, o poeta da desesperança, dirigiu este poema em forma de cinema. Lindo, triste, doído. Sonia Petrova faz a aluna. Uma jovem que consegue ser mais triste que o professor. Mas não pense que o filme é deprimente ou choroso. Nenhuma lágrima. nenhuma reclamação, nenhum gesto de desespero. Melancolia confortável.
Um filme para se guardar no peito e se rever por toda a vida e com um final perfeito.

RENOIR/LOLITA/TRUFFAUT/KIRK DOUGLAS/LUMET

MULHER COBRA de robert siodmak
um clássico kitsch, referencia para Almodovar e filmes como Hairspray. os atores são hilários de tão ruins, os cenários são dignos da Imperatriz Leopoldinense e a história fala sobre maldições, erotismo e mitos. nota 1.
POSSUÍDOS de william friedkin
ashley judd no quase pior filme de todos os tempos. um filme que ofende qualquer inteligência mediana, com seu mix de modernices vazias, sustos previsíveis e diálogos de retardados. ZERO.
A CARRUAGEM DE OURO de jean renoir com anna magnani.
de todos os grandes é renoir o mais hiper-valorizado. seus filmes são bons, a regra do jogo é excelente, mas jean jamais é um gênio como muitos dizem. este é um filme de bela fotografia, humor leve e festeiro e com bonita mensagem pró-liberdade. mas não é genial ou especial. 6.
LOLITA de stanley kubrick com james mason, peter sellers, shelley winters e sue lyon.
todo aspecto político do delicioso livro de nabokov inexiste neste freudiano filme de kubrick. inexiste o humor que faz do livro uma obra genial e divertida, inexiste o barroquismo da linguagem do dandy nabokov, o que resta? uma lolita velha demais ( no livro ela tem 12 aparentando 11, aqui parece ter 17 ), um james mason sublime ( ele carrega o difícil personagem com leveza e humor- deve ter lido e entendido o livro ), um sellers asqueroso ( ter perdido o oscar é um vexame do prêmio ) e um clima geral de pesadelo e paranóia que o romance não tem.
mesmo com esses senões, é um filme adulto, bonito e que hipnotiza ( te conduz a algum lugar). 7.
O GAROTO SELVAGEM de truffaut.
seco e simples, truffaut dá a sensação de ter feito algo como um documentário de uma época em que não existia o cinema. nestor almendros dá um show de fotografia. 4.
DUELO AO SOL de king vidor com jennifer jones e gregory peck.
é western portanto é bom. uma ópera a cavalo, um história que beira o ridículo em seu exagero de taras e emoção. jennifer jones chegava a ser um crime de tão bonita e peck está ruim como sempre. mas se vê com prazer... nota 5.
ELEIÇÃO de alexander payne.
payne, coen, burton, hanson, wenders, clint, ridley, scorsese, wall e, o cinema de hoje tem alguns nomes interessantes, seu maior problema são atores ( muitos poucos tem algum carisma, o que abre campo para absolutas nulidades ) e o público atual, que não tem nenhuma sofisticação cinematográfica. este filme, com a maravilhosa reese witherspoon ( tenho um caso de paixão com ela- a melhor comediante de sua geração ) é uma diversão para adolescentes que- milagre- não fede a burrice e histeria. seu único defeito é que sua vilã ( reese ) que deveria ser irritante se torna adorável. nota 6.
MARCHA DE HERÓIS de john ford com john wayne e william holden.
o homero do cinema em filme menor. mas um filme menor de ford é um filme gigantesco para qualquer outro diretor. aqui ele trabalha com sua mitologia de heroísmo, liberdade e solidão. wayne está especialmente bem. filme para quem sabe o que significa uma palavra como virilidade. 7.
MACBETH de orson welles
talvez esta seja a melhor adaptação de shakespeare para a tela. um filme muito barato, um cenário apenas, poucos atores. sombras e escuridão, movimentos exatos de camera, falas claras e bem ditas, clima e emoção. uma aula de requinte, de cuidado, de perfeição. jeanette nolan como lady macbeth chega a arrepiar. 8.
ROMANCE E CIGARROS de john turturro com james gandolfini, kate winslet, susan sarandon. alguém precisa avisar kate que seu tipinho sujo já deu. ela faz sempre o mesmo personagem ( a gorducha gostosa ). este é um musical chato, vazio, pesadão, insuportável. ZERO.
EQUUS de sidney lumet com richard burton e peter firth.
lumet sabia filmar neuroses. este texto de shaffer foi imenso sucesso teatral em todo o mundo ( aqui feito por paulo autran e ewerton de castro ). burton está meio sonolento, mas sua voz era tão poderosa que ele leva o duro personagem do analista cansado com facilidade. um filme obrigatório para psicólogos, filósofos ou cinemamaníacos. um filme do tempo em que havia público sério para filmes simples, sem enfeites desnecessários. uma delícia intelectual. 7.
A SEREIA DO MISSISSIPI de truffaut com jean paul belmondo e catherine deneuve.
françois truffaut era fanático por hitchcock e aqui tenta fazer um filme de hitch. tenta criar um clima de vertigo. erra feio e dá vexame. o filme ´e aquilo que o mestre alfred nunca foi- chato. 1.
CAR WASH de michael schultz.
filme barato de latinos e negros dos loucos anos 70. a trilha sonora tem um arraso de ritmo e tudo aquilo que os filmes de tarantino e soderberg têm: funky. 3.
FUGA ALUCINADA de john hough com peter fonda.
um sub- vanishing point. 3.

carta de uma desconhecida-max ophuls

A câmera voa, roda, baila e flerta com os atores.
O filme, feito por Ophuls ( voce conhece esse austríaco? o mais romantico dos diretores? o mais sofisticado, elegante, nobre, que é capaz de fazer Visconti parecer vulgar? ), bem, voltando, o filme feito por Max Ophuls baseado em conto de Stefan Szweig, fala de um amor irrealisado e se passa na Viena de 1903.
Assistimos a bengalas com castão de prata, carruagens que correm pela chuva sobre calçadas de granito, chás entre espelhos de cristal e veludos da Bélgica, cartas em bicos de pena à luz de gás, vestidos de seda e cartolas negras, luvas retiradas e cigarros acesos...e pensamos que ainda hoje todo o nosso imaginário do amor-sublime está intimamente ligado à essas noites escuras, às sombras de velas, escadarias secretas e peles pálidas entrvistas em decotes discretos.
O filme é uma delícia para os românticos, para os sonhadores, para os literatos, para os fora de moda e fora de esquadro ( Ophuls foi um diretor cheio de lutas, incompreensão e dor, seus filmes em seu tempo eram considerados pesados e exagerados- hoje ele é considerado um mestre- leve, fluido e romantico ).
Fácil de assistir, ele deixa uma vontade de ver de novo e viver mais um pouquinho naquele universo de frases bonitas, ruas bonitas, chuvas bonitas e luzes tão tristes...

A MULHER DE AREIA DE TESHIGAHARA

Feito em 1965, A MULHER DE AREIA de Hiroshi Teshigahara, venceu a palma de ouro daquele ano e concorreu a dois Oscars. Vamos ao filme.
Um homem anda pela areia. Ele coleta insetos para sua coleção. Se hospeda numa casa que fica num buraco, entre as dunas. Lá vive uma viúva, só. Ele se torna um prisioneiro.
O filme é longo, imperfeito, difícil e cheio de grandes e muito fortes cenas.
Primeiro sua fotografia. Areia, cabelos e peles filmadas em detalhes gigantescos dando ao filme um erotismo absurdo. Nós quase sentimos o cheiro dos corpos, quase tocamos o suor que escorre, parece possível tocar as peles que são lavadas, arranhadas e mordidas por todo o filme.
Os atores, Eiji Okada e Kyoko Kishida dão um show de raiva e de sexualidade pura. Raras vezes assisti filme mais erótico.
A música vanguardista de Toru Takemitsu é de uma inesgotável complexidade, preenchendo a fita de climas e momentos impressionantes.
É um filme que excita para em seguida assustar. E é uma alegoria perfeita sobre o sentido do trabalho e da função do homem na Terra.
Único.

A PAIXÃO DE JOANA D'ARC-O QUE É ISTO?

Foi Jean Cocteau quem disse que A PAIXÃO DE JOANA DARC de Dreyer é um filme que parece ter sido feito no tempo em que o cinema não existia. Pois eu digo que Dreyer não faz cinema. Ele faz um outro tipo de arte, uma arte tão original, tão moderna, tão radical que ainda não foi nomeada.
Durante 3/4 do filme o que vemos são paredes brancas e rostos em super-close. Joana, muito jovem, muito crente, muito indefesa, é cruelmente massacrada por inquisidores balofos e machistas. Dreyer usa como roteiro os autos do processo real e isso dá ao filme algo de documentário e de perversamente doido.
A fotografia, de Rudolph Maté, é de um glorioso branco e no final, a cena da fogueira tem o mais belo fogo que já ví.
Falconetti tem aqui aquela que é considerada a mais fantástica atuação feminina da história e o que posso dizer é que chorei ao vê-la perceber, com um olhar apenas, seu final inevitável. Joana sente medo, e nós sentimos com ela.
Carl Dreyer se interessou por apenas um assunto: Deus. Todos os seus filmes falam disso: Deus, o mal, a fé, a dor. Ele foi um bruxo, um louco, um poeta, um Homem. Joana é um soco na boca, um filme poderoso, duro, cruel e absolutamente incomparável em sua originalidade rica e bela. Sua montagem, em que os cortes são velozes, a câmera sempre se movendo em horizontal, os atores berrando e rindo, Joana suplicando e chorando, as portas parecendo fugir e diminuir... é fascinante.
No mais assisti finalmente este mítico filme numa cópia sem trilha sonora e com cartelas em francês. Mesmo assim seus 80 minutos pareceram 20 e me sentí completamente arrasado por sua força. OBRIGATÓRIO para quem se importa com os mistérios da vida e a dor de ser.

O MAIS PERFEITO DOS FILMES-REAR WINDOW

Raras vezes assistimos a algum filme perfeito. Ocasionalmente o filme pode ser genial, sublime, divertido, mas ele sempre apresenta falhas. Momentos de tédio, tomadas inúteis, frases dispensáveis.
JANELA INDISCRETA não tem um só momento fraco. Desde sua abertura, até seu final perfeito, tudo é feito com precisão, com sabedoria, com maestria.
O som, sem trilha sonora-mas com ruídos e trechos de melodias-que lembra Tati, é perfeito. O cenário, um apartamento e o prédio em frente- é fascinante. As histórias vistas nas janelas e jardins- são tão cativantes que dariam vários outros filmes. Mas este, este filme é absolutamente prazeroso. Torcemos para que não termine.
James Stewart é um fotógrafo solteiro que convalesce com a perna quebrada. Ele é obviamente impotente. Grace Kelly ( sua entrada em cena é A MAIS LINDA IMAGEM FEMININA DO CINEMA ) flerta com ele, o seduz, o conquista. As cenas entre os dois são leves, sofisticadas, cheias de humor e com subtramas de raiva e dor. ( O filme é alegre, mas tem algo de neurótico por trás ). Stewart se agarra em sua solteirice e se envolve com as janelas ( cinemas ? ).
O final, irônico, é de uma riqueza perfeita, e todo o filme prescinde de falas, poderia ser um filme mudo. Stewart agora tem duas pernas engessadas e Grace, linda como o impossível, comanda o apartamento.
Quem mais poderia fazer um filme pop onde as mulheres são víboras, os homens são impotentes e seu único cenário é flagrantemente falso ?
Hitchcock é cinema e o amor à Hitch é a prova final de todo/qualquer cinéfilo.

O AMOR É SEMPRE MENTIROSO-VERTIGO

O melhor dos diretores ( aquele que fazia grande arte e comércio pop ao mesmo tempo ), dá em VERTIGO o mais devastador retrato sobre a ilusão do amor.
Não contarei sua história para não adiantar sua magia. Direi no entanto, que jamais uma cidade foi mais bonita que a SanFran do filme, com seus azuis e amarelos da primeira parte "sonhadora" e seus neuróticos verdes e cinzas da segunda parte. O filme, quase sem diálogos, é como um sonho-alucinógeno, e nos faz realmente sentir o que seu protagonista sente.
Pierre Boulez disse que a trilha sonora deste filme ( bernard herrman ) é a mais perfeita da história cinematográfica. Não sei se ela é, mas direi que ela é hipnótica, wagneriana, obsessiva, inesquecível.
James Stewart tem aqui aquela que é possivelmente a melhor atuação já vista. Ele passa, na hesitação de sua voz, no olhar ansioso, toda a carência, todo o amor do personagem. Sua sina, seu futuro vazio, o seu medo.
Como todo filme de Hitch, o crime é mero pretexto para sua profunda análise da doença humana, das taras e psicoses, das dores e mentiras do mundo. E tudo isso, que em outras mãos se transformaria em arte hermética e obscura, com Hitch se torna diversão simples, direta, nítida e nada pedante, porém, profunda.
Suas cenas recordam muito TAXI DRIVER, a personagem feminina mostra um desamparo tocante e é este o filme que deixa mais clara a afinidade que Bunuel sentia por Hitchcock.
Seu final, trágico-imperfeito-abrupto-louco e vazio, é dos mais cruéis já filmados e ficamos sentindo a mesma dor absurda de Stewart.
Inesquecível, ele nos faz pensar muito. Nas mentiras do amor, na ilusão que criamos para nós mesmos, na busca inutil pela perfeição, e na música irresistível dessa ilusão.
Um dos maiores filmes já feitos e sem dúvida é este o mais moderno e influente dos filmes.
Hitchcock é o cara.

o filme mais sinfônico-FANNY E ALEXANDER

Bergman realizou FANNY em 1983. É seu testamento, seu último filme para cinema, seu legado ( como bom pessimista, ele imaginou estar perto do fim. Ainda viveu 24 anos...).
O filme é uma perfeita sinfonia e se a grande arte sempre aspira a ser música, Fanny é arte perfeita.
Ele começa em acordes leves e vagos, cresce em festa de sons harmônicos e coloridos, irrompe fortíssimo em graves dissonancias lúgubres e se encerra numa coda cheia de fúria, magia e mistério.
Mas do que fala o gênio, o mestre, o mais inteligente dos cineastas ?
Da luta entre alegria e dor, da disputa entre liberdade e repressão, saúde e neurose, arte e religião, fantasia e tédio, Deus e o homem. É um compêndio de todos seus filmes anteriores, de todas as suas dores e alegrias e recorda muito Shakespeare- A Tempestade ( um mago recontando sua obra e sua magia ).
Raras vezes um filme mostrou cenários tão ricos em beleza e complexidade, raras vezes tantos atores foram melhor dirigidos ( o final, quando se fala da gratidão aos atores é de se aplaudir de joelhos ), raras vezes um filme foi melhor.
Bergman captura nosso cérebro e o leva para uma viagem. Através do olhar de um menino ( Alexander ) assistimos seu crescimento, suas dores, sua revolta e seu maravilhoso humor ( o filme tem duas das falas mais hilárias já vistas ). Nos apaixonamos por sua família, odiamos certos agregados e tememos seu destino. Tudo em ritmo perfeito, uma variação entre cenas longas e curtas, movimentos elaborados de câmera ou fixidez formal, solos ( monólogos ) ou grupos de até vinte atores atuando em grupo ( coisa que hoje ninguém mais tenta ).
Tudo está neste filme. Comédia amarga e drama insuportável. Citações de PERSONA, GRITOS E SUSSURROS, MONIKA, MORANGOS SILVESTRES, O ROSTO... estão presentes os atores que aprendemos a amar, a fotografia do mestre Sven Nykvyst, a música de Schumann e Britten, as preocupações do cineasta que melhor representou a dor do mundo moderno.
É estranho o fato de que meus cineastas favoritos sejam Kurosawa, Hitchcock, Hawks, Ford, Murnau, Lang... mas é Bergman que fala, pensa e mostra aquilo que vivo, penso e gostaria de expressar. Não sei se ele foi o melhor dos diretores, não sei se ele sobreviverá neste mundo cada vez mais acéfalo; mas ele conseguiu fazer do cinema UMA ARTE NOBRE, nobre como Shakespeare, Mozart, Shelley e Rembrandt.
FANNY E ALEXANDER é obrigatório para qualquer amante da vida, do cinema, da cor. Ele é estranhamente feliz, alegre, vivo e subitamente trágico. Nietszche.
Um filme que é uma vida, um espírito livre, eterno como um homem, belo como um segundo, feito com profundo amor pela arte, imensa criatividade e potencia criativa sem igual.
Mágico, único; INCOMPARÁVEL.

LOACH/ROCKY/LORD JIM/SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS

VENTO E LIBERDADE de ken loach.
ingleses massacram irlandeses. todos sabem do meu sangue cem por cento católico-celta-irlandes...mas não gostei do filme. na verdade o achei maniqueista, falso, tolo, vazio. será que todo ingles era tão nazista?
MONPTI de helmut kautner, com romy schneider e horst bucholz
romy aos 18 era adorável mas o filme é velho e mofado. 1.
ABISMO DE UM SONHO de fellini com alberto sordi, leopoldo trieste.
sonolento.2.
A JANELA SECRETA de david koepp com johnny depp, john turturro.
suspense sem emoção. mistério sem tensão. uma chatice ridícula. 1.
CRIMES DE UM DETETIVE de keith gordon com robert downey, carla gugino, robin wright penn. uma das mais grotescas tolices já feitas. um pseudo musical engraçadinho, um pseudo noir sem drama, um completo equívoco. ZERO.
O LOBO ATRÁS DA PORTA de henning carlsen com donald sutherland e max von sydow. são cinco anos na vida de paul gauguin ( meu ídolo maior ). o filme é escuro, denso e prende a atenção graças a força de sutherland e ao belo strindberg de von sydow ( foi sydow o maior ator do cinema ? ). 6.
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS de peter weir com robin willians. um filme sobre poesia e liberdade filmado sem poesia e sem imaginação. torcemos para que willians fique mais tempo em cena, pois ele é a liberdade e a poesia do filme. os meninos são aqueles meninos de dramas da Metro dos anos 40/50, ou seja, velhos meninos...6.
LORD JIM de richard brooks com peter o'toole, james mason, eli wallach. baseado em conrad, o filme é uma cara aventura arrastada e banal. a falha central é peter que faz jim como um fraco que quase acerta, quando quem leu o livro sabe que jim é um forte que erra sempre.
ROCKY de john g. alvidsen com stallone. sly imita de niro e john imita lumet. 4.