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FORD/ BOND/ HAWKS/ FRITZ LANG/ PAUL NEWMAN/ WOLVERINE

RASTROS DE ÓDIO de John Ford com John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles e Ward Bond
Após assistir e me apaixonar por tantos filmes ( filmes esses que vão desde Buster Keaton e Carl Dreyer até Clint Eastwood e Joe Wright ) se torna impossível imaginar qual meu filme favorito. A última vez que arrisquei essa opinião votei em O Atalante de Jean Vigo, para logo em seguida me arrepender ao lembrar de mais 100 filmes que poderiam ocupar esse lugar. Dito isso, afirmo que Rastros de Ódio, se não é meu filme favorito, é aquele que mais me emociona, mais me ensina e mais importancia tem no desenvolvimento de meu gosto estético. Se voce quer ler sobre ele, há uma critica por aí.... Nota INFINITAMENTE ALTA.
O SATÂNICO DR NO de Terence Young com Sean Connery e Ursula Andress
O primeiro filme de Bond já possui algumas das marcas que o acompanhariam até Daniel Craig. Matar sem pensar e transar com todas as mulheres possíveis sendo as principais. Atualmente a violencia é maior e o sexo é ínfimo. Mas este 007 ainda é feito num estilo que tenta ser Hitchcock. A ênfase é para o suspense e não para a ação pura. Sean Connery nasceu para ser James Bond. Ele é seco e elegante. Como um dry martini. Longe de ser o melhor da série, tem belas imagens de uma Jamaica que não mais existe. Ursula surge aqui como o molde de todas as futuras Bond-girls. Nota 6.
RIO VERMELHO de Howard Hawks com John Wayne e Montgomery Clift
Faroeste lendário de Hawks, que é bom, mas não me toca tanto quanto outros filmes desse diretor imenso. O que se percebe é a esquizo do elenco: John Wayne com seu estilo "antigo" de interpretar e Clift criando o estilo Actors Studio, que é predominante até hoje ( o filme é de 1948 ). Sabe-se que Wayne transformou a vida de Clift num inferno durante as filmagens. Ele não perdia uma chance de zombar de seu jeito efeminado. O que vemos é o estilo antigo de Wayne, estilo em que o ator interpreta o personagem como um ideal, uma visão simbólica do personagem; e o novo estilo de Clift ( que é o precursor de Brando e Dean ) onde o ator procura ser "real", onde se espirra no meio de uma fala, se coça o nariz antes de se montar no cavalo ou se tropeça ao caminhar. Todos até hoje devem a popularização desse estilo a Monty Clift. O filme é o embate entre esses dois mundos e sobre a rivalidade entre cowboy veterano e garoto novato. Hawks conduz com sua leveza habitual. Há quem o considere ( Tarantino e Inácio Araújo entre eles ) um dos três melhores filmes já feitos. Eu não. Nota 7.
O ÚLTIMO PISTOLEIRO de Don Siegel com John Wayne e Lauren Bacall
Em 1976 John Wayne, já tendo apenas um pulmão, lutava contra seu câncer. Este acabou sendo seu último filme, e há quem o considere a mais bela despedida do cinema já vivida por qualquer ator. Quem dirige é o homem que criou Dirty Harry e no elenco vemos Ron Howard, o futuro diretor de Appolo 13, Cocoon e Ed Tv. O roteiro fala de um velho cowboy que se hospeda em hotel para morrer em paz ( tem câncer ). Seu médico é feito por James Stewart. Mas seu passado de vingador não o larga e ele terá de lutar mais uma vez. O filme corria um risco imenso de ser piegas, apelativo, desagradável. Não é fácil, mas acaba superando seus imensos obstáculos. John Wayne não nos dá pena, dá saudade. Nota 6.
SCARFACE de Howard Hawks com Paul Muni e George Raft
O filme original, de 1932. E que filme!!!!! A violência é absurda para a época. Tanta gente é metralhada e o som dos tiros é tão alto que o efeito é de histerismo total. Muni faz o persoangem como uma espécie de simio deslumbrado pela violência ( ele ama o que faz ) e que guarda um amor incestuoso pela irmã. E o que vemos é a escalada desse gangster ao topo, matando, rindo, traindo, ousando. Sua queda é rápida e sem drama nenhum. Hawks dirige em seu modo simples, rápido, sem frescura. Dá uma aula de estilo. Este filme criou Scorsese, Coppola, Tarantino, De Palma, Melville e Walsh. É pouco ? Nota DEZ.
FORTY GUNS de Samuel Fuller
Os criticos de tendencia francesa adoram Fuller. Chegam a chamá-lo de gênio. Eu me irrito muito com ele. Veja este filme: é um western. Mas há uma cena em que seis cowboys tomam banho em tinas e cantam. E não é para ser uma comédia!!!! Em outra cena um cara aponta a arma para outro, e a câmera mostra o outro focando por dentro do cano da pistola!!! Todo o filme é assim, Fuller sempre mostrando o quanto é genial. Me irrita.... Nota 1.
O RETORNO DE FRANK JAMES de Fritz Lang com Henry Fonda
Excelente. O melhor diretor da Alemanha, após fugir do nazismo, triunfa maravilhosamente em Hollywood. Lang tem carreira longa e exemplar. Poucos de seus muitos filmes são menos que ótimos. Aqui vemos o irmão de Jesse James, que tenta ter vida pacata, partindo para matar os assassinos de seu irmão ( eles foram absolvidos pela justiça ). Henry Fonda foi talvez o melhor ator americano. Agora que a América começa a terminar, sentimos a forma como ele encarna o grande americano. Seu olhar e sua voz são tudo aquilo que todo cidadão queria ter sido e ter possuido. A imagem ideal do americano como herói pacifico. Só ele conseguiu fazer isso. O filme é, como são os melhores filmes de Lang na América, sem erros. Se lhe falta o brilho de seus primeiros filmes de denuncia social ( também feitos com Fonda e absolutamente geniais ), ele tem o bastante para despertar um desejo de quero mais. Nota 8.
UM DE NÓS MORRERÁ de Arthur Penn com Paul Newman
Paul Newman entre 1958/1975 dominou completamente o cinema americano. Não teve pra ninguém. Seus concorrentes eram Warren Beatty, Steve McQueen e Robert Redford, mas ele batia todos com facilidade. Depois, a partir de 1970, também bateu em Dustin Hoffman, Jack Nicholson e Gene Hackman. Neste western, do futuro diretor de Bonnie e Clyde, ele tem uma atuação estupenda. Faz o jovem Billy The Kid como um adolescente burro, hiper-ativo, meio desastrado e cheio de tiques. Vemos um bandidinho real em nossa frente, reles, pé de chinelo. Precisaríamos esperar 15 anos para ver outro bandido vagabundo tão bem interpretado ( por De Niro em Mean Streets ). Acompanhamos com emoção a vida tola e vazia desse moleque perdido. O filme, de 1958, foi um fracasso na época. Estava anos adiante de seu tempo. Billy é visto como Clyde em Bonnie e Clyde, um bronco charmoso sem noção do que faz. Nota 8.
WOLVERINE de Gavin Hood com Hugh Jackman
Na falta de atores machos hoje ( Clint Eastwood aos 35 anos seria um Wolverine perfeito ), Jackman se vira como pode. Mas seu Wolverine é pouco duro e nada sujo. Ás vezes se parece com um garoto brincando de ser Charles Bronson ( e Lee Marvin ou James Coburn também nasceram para ser Wolverine ). O filme, que começa bacaninha, depois cai bastante e chega a enjoar. Mas é melhor que o X Men 3, porque ele não tem aquela pretensão anti-racista do X Men. Nunca tenta ser o que não é. Nota 5.
BABYLON AD de Mathieu Kassovitz com Vin Diesel, Gerard Depardieu e Charlotte Rampling
Diesel em papel sob medida para Jason Statham. Não funciona. O filme, que ainda tem Michelle Yeou, é daqueles que mostra o futuro "russificado". Gangues dominam tudo. Kassovitz é o tipo de francês que pensa que ser moderno é ser chocante ( uma das primeiras cenas mostra o herói cortando e comendo um gato frito ) e que fazer arte é ser o mais complicado possível ( que é uma visão jeca. Aquela crença em que tudo que é arte é dificil ). O filme é uma mixórdia que mistura ação com filosofices, misticismos e que tais. Não tem nenhum sentido. Nota 3. ( pelo visual ).
OS REIS DE DOGTOWN de Catherine Hardwicke com Emile Hirsch, Heath Ledger, James Robinson, Nikki Reed, Johnny Knoxville e Victor Rasuk
Maravilhoso. De total simplicidade, retrata a adolescencia como ela é. Um filme para se guardar ao lado de Quase Famosos como retratos perfeitos de uma época de imperfeição. Lindo, lindo, lindo...assista e creia. Voce vai se apaixonar. Nota DEZ, com suavidade....

UM SENTIDO A VIDA : RASTROS DE ÓDIO, O MAIOR DOS FILMES

A tela escura anuncia : Texas, 1865. Um corte e vemos uma porta que se abre. O sol, inclemente lá fora.... Contraste entre espaço escuro/seguro/fechado e espaço claro/perigoso/livre. Como diz Martin Scorsese nos extras desse dvd, só essa cena já basta para exibir a genialidade de John Ford. Rastros de Ódio é o filme mais complexo, mais desconcertante, mais duro de sua carreira de 120 filmes ( !!!!!!!! ).
O tema é o racismo. John Wayne é Ethan, um cara mau. Mas é também o herói ( ??? ) do filme. O centro é seu rosto. Crispado, sombrio, ruim. E Wayne está a altura desse papel. Sua voz é terrível, seu andar é confiante e seu rosto parece escuro, perdido em algum inferno. Como Curtis Hanson lembra, o modo como Wayne diz as falas é coisa de imenso ator. Para mim, esta é uma das poucas interpretações que parecem definitivas. Não poderia ser melhor.
Mas o filme tem outro tema. A relação de Ethan com o jovem personagem de Jeffrey Hunter. Um garoto meio indio. A relação dos dois é de pai e filho, e se tornará ao final de iguais.
O roteiro, estupendo em seus aspectos ricos e vários, conta a história de familia trucidada pelos comanches. Uma menina é levada pelo cacique e Ethan passará dez anos cruzando o país atrás dela. Nessa base é construída uma riquesa sem fim. Ethan esteve anos fora de casa e quando volta, vmos que ele não se sente bem em meio às pessoas. Acontece a tragédia e ele parte. De volta a seu meio, o universo da luta, do espaço aberto, da crueldade, ele readquire um motivo para viver.
John Milius diz que o filme é principalmente sobre isso: que todos nós, por pior que sejamos, podemos dar um sentido a nossa vida. Ethan passa uma década percorrendo o vazio e tem nessa busca seu sentido e sua salvação. O filme é também um profundo relato existencial.
Assisti este que é meu filme mais amado, pela primeira vez, em fevereiro de 1986. Até então eu odiava westerns por dois motivos : eram fascistas, não eram "de arte".
Naquela época, de longe a pior de minha vida, eu sofria o inicio da Sindrome do Pânico. Minha vida estava totalmente no inferno. Lendo a Folha me deu vontade de tentar ver esse filme na Globo. De qualquer modo eu sofria de insonia. Pois bem, desde a primeira cena até o fim, tudo nele me deixou em estado de extase. Toda a explicação de minha crise estava ali exibida. E melhor, o filme deixava claro que eu tinha esperança, que minha vida tinha UM SENTIDO.
Desde então, Rastros de Ódio é o mais amado dos filmes. E o western deixou de ser uma bobagem e se tornou a imagem mais profunda do que significa ser um homem.
Bem.... Na época de seu lançamento ( 1956 ) o filme foi tratado como mais um filme de Ford. Ele já tinha 4 Oscars de direção ( um recorde até hoje imbatível ) mas todos os seus prêmios foram por filmes não-westerns. Naquele tempo como hoje, a academia não estava nem aí para cowboys. Então o filme saiu, não foi indicado para nada e foi mais ou menos de bilheteria. Mas aconteceu o começo do mito quando ele foi exibido na França.
Na França havia uma revista amada por todo cinéfilo sério, o Cahiers du Cinéma. Nela escreviam os críticos terríveis e cruéis chamados Eric Rhomer, Claude Chabrol, François Truffaut, Jacques Rivette e Jean-Luc Goddard. E eis que eles proclamam : Rastros de Ódio é uma obra-prima ! Principalmente Godard passa a defender o filme. ( Em 2005 ele diz que continua a chorar com a hora em que John Wayne diz : - Vamos para a casa Debbie! ")
Reassiti ao filme ontem. Foi a sexta vez em 25 anos. Há dez que eu não o revia. A expectativa imensa e tudo para desmistifica-lo. Mas lentamente se refez a magia. Quando ele terminou, eu estava com os olhos molhados, trêmulo, meio fora de mim. Penetrar nesse filme é sempre uma prova avassaladora. Qual seu mistério ? Na superficie é apenas mais um western....
Scorsese chama a atenção para a fotografia. Ford é famoso por isso. Seus filmes não têm um só take que não seja estupendo. Tudo é gigantesco e talvez seja esse seu maior segredo: ele, como Homero ou Shakespeare, mostra a vida em sua dimensão real, gigantesca. As pessoas parecem plenas, inteiras, completas, e as paisagens, de tirar o fôlego, são um cosmos de profundidade.
Martin diz que uma vez perguntaram a Kurosawa como ele aprendera a captar imagens tão belas, ele respondeu : Tudo está em John Ford.
Penso na maravilha que devia ser assiti-lo em Vistavision. Scorsese diz que hoje não existe nada parecido com aquilo. A imagem era muito alta e muito profunda. Mas ainda dá pra perceber isso em dvd. O filme inteiro tem essa profundidade de campo. Enquanto um diálogo acontece à frente, ao fundo vemos gente passando, cavalos, ação, movimento. Todas as tomadas são ricas, complexas, cheias de detalhes. Sómente Kurosawa conseguia fazer igual.
Ford é famoso por suas cenas de casamentos, cafés e enterros. Ele acreditava que são essas "cerimonias" em grupo que definiam nossa vida. O filme tem todas elas. E Milius destaca a cena do café da manhã logo no inicio. A mesa ao centro, cadeiras ao lado e gente se movendo e falando ao fundo. São doze personagens em cena, todos com algo para fazer e falar, todos dentro do foco, e tudo sem um só corte ou um movimento de câmera. Espero estar enganado, mas hoje, apenas Paul Thomas Anderson ( um fã de Ford ) tenta fazer cenas como esta. Se consegue é outra história, mas pelo menos ele tenta.
Hanson mostra como é mostrada a violência no filme ( e o porque dela ser tão contundente ). Ela simplesmente não é mostrada. Exemplo: Ethan chega onde a familia foi massacrada. Se mostra o rosto de Wayne antes e após ver tudo. Essa é a verdadeira violência que raramente vemos nos filmes: Ford mostra a consequencia da violencia, o que ela faz com quem a testemunha, os efeitos dela. Isso é muito mais devastador e precisa de atores muito melhores. Mostrar uma mulher estuprada é fácil, muito mais duro é exibir o sofrimento de quem viu aquilo.
O filme caminha então, inexorável, ao seu destino. Ethan cada vez mais racista, cruel, brutal. E vem a frase que marca todo o filme: Vamos para casa, Debbie. Uma das três ou quatro cenas mais famosas do cinema. Mas o nervo do filme vem então....
Todos voltam ao lar. Todos com seus pares, sua familia, seu sorriso. John Wayne fica parado à mesma porta do começo da saga. Exita, se volta, e vai. Ele parte sózinho ao deserto, pois ele sabe que aquele não é seu mundo. O filme então se agiganta ainda mais. O mito do homem ali exibido.
Rastros de Ódio nesse momento se faz um filme sem igual. Em poucos minutos ele diz tudo aquilo que os grandes escritores levaram quilos de papel para dizer. A sina do herói.
Ethan foi útil enquanto a selvageria imperou. Enquanto a civilização perigava. Quando tudo se assenta, ele fica sem lugar. Deve partir. E se vai. Assistir esse final é dilacerante. Ethan, personagem que passamos todo o filme odiando, se faz adorável. Está completa a rota do heroísmo.
Quando o filme terminou, na primeira vez que o vi, eu estava salvo. Eu caminhava com Ethan e nunca mais me perdi. Pois havia um sentido em tudo aquilo.
Desde então, percebi reflexos deste filme em dezenas de outros westerns ou não. Taxi Driver é quase uma refilmagem, e Paris/Texas também. Nas listas de melhores de todos os tempos ele não pára de subir ( Finalmente os americanos o colocaram entre os 10 mais ). Não sei se é o melhor filme que já vi. Mas se tivesse de passar o resto da vida com apenas um filme, bem, seria este sem dúvida. É o que melhor me define e melhor me guia. Estou todo lá.
John Ford foi o maior de todos.

CLIVE OWEN/ JET LI/ ERROL FLYNN/ JOHN WAYNE/ BILL MURRAY

MANDANDO BALA de Michael Davis com Clive Owen, Paul Giamati e Monica Bellucci
Tiros e tiros e tiros. Sem socos ou pontapés. Sobre um cara de mal-humor que protege um recèm-nascido de pessoas que querem o matar. É milésima homenagem a Fervura Máxima de John Woo ( talvez o filme de ação mais importante dos anos 90 ). Me incomoda essa mania atual de assexualizar tudo. Podemos ver sangue e tripas a vontade, mas nas duas cenas de sexo os atores estão vestidos!!!! Pelo jeito sexo é mais "pecado" que violência.... Mas o filme é legal. Acaba sendo um Robert Rodriguez à inglesa, ou seja, menos caliente. Clive é muito bom para esse tipo de papel e Davis tem ritmo e humor, o filme na verdade é uma comédia. Fracasso de bilheteria ( porque será ? ), é pura diversão escapista. Várias vezes recordei o cinema mudo. Malabarismos visuais, truques de imagem e diálogos irrelevantes. Quem poderá negar ser esta a verdadeira alma do cinema ? O filme de ação não seria o tal cinema puro, livre de diálogos teatrais e de afetações literárias ? Pois um filme como este só pode ser cinema : ele é inviável sobre um palco e impossível como romance. É este pensamento que expresso aqui que explica a grandeza de Hawks ou Ford, filmes que são cinema puro, obras que só podem existir como luz e ação. Este filme, divertidíssimo é sim bom cinema. Nota 7.
ROBIN HOOD de Michael Curtiz com Errol Flynn, Olivia de Havilland e Claude Rains
Versão definitiva do mito. Curtiz é o diretor de Casablanca. O filme, em explendoroso colorido, é bastante infantil. Robin é uma criança alegre. Deve-se assisti-lo como se assiste um cartoon da Disney. Flynn está perfeito: belo, sorridente, atlético. Ele e Olivia formavam um casal perfeito, ela era a pura lady esperta. Longe de ser o melhor filme de Errol, dá pra se ver. Nota 6.
O BEIJO DO DRAGÃO de Chris Nahun com Jet Li
Produção de Luc Besson. Ou seja, Paris como um inferno, fumaça saindo de bueiros, um vilão psicótico, tolices sem fim. A violência chega a ser revoltante. Para que tanta pornografia ? Jet Li tem pouco carisma, mas luta bem. Há cenas de bela coreografia. Mas o enredo é tolo demais, bastaria uma ida a embaixada e tudo se resolveria ! Nota 5.
ROMEU TEM DE MORRER produção de Joel Silver com Jet Li, Bridget Fonda, Burt Kuwok
Aqui quem produz é Silver, o cara de Matrix. Portanto, lutas chinesas e fotografia com sombras. Mas é um filme chato. O herói é muito fraco e os vilões são pouco ruins. Nota 2.
AS AVENTURAS DE DON JUAN de Victor Sherman com Errol Flynn e Viveca Lindfors
Na primeira parte, pura chanchada, o filme é delicioso. Juan é um conquistador compulsivo, irônico, meio decadente. Flynn dá um show de humor. Mas então ele se torna inconvincente aventura séria e Juan transforma-se num chato apaixonado. Uma pena. Nota 5.
BIG JAKE de George Sherman com John Wayne e Maureen O'Hara
É um dos últimos filmes de Wayne. Veterano, ele brinca com sua idade na história de um pai que volta ao lar para salvar neto que foi raptado. Os filhos vão com ele. Wayne cativa com seu carisma gigantesco, mas o roteiro ( dos autores de Dirty Harry ) se perde, não tem ritmo ou suspense. Vale só pelo velho Duke. Nota 4.
13 de Gela Babluani
Penso que fazer um filme de arte ruim é sempre mais fácil que fazer uma comédia ou uma aventura ruim. Eis aqui um filme cheio de "arte". Fotografia cinzenta, personagens deprimidos, ação lenta, falas enigmáticas. E, é claro, história contada de trás pra frente. Sobre pessoas fracassadas que são convocadas para roleta russa. Lixo da pior espécie, talvez seja o mais medíocre filme que já assisti. Nota muito muito ZERO !!!!!!!!
GHOSTBUSTERS de Ivan Reitman com Bill Murray, Sigourney Weaver, Dan Aykroyd, Harold Ramis, Rick Moranis, Annie Potts
Murray está preguiçoso, cool, sujo e irônico. Dan faz o seu tipo nervoso, Weaver está belíssima e Ramis é o nerd. Ainda tem Moranis como o bobalhão e um fantasma que vive no freezer. Que mais voce pode querer ? Porque a comédia é tão pouco levada a sério ? Por não parecer nobre ? Ivan Reitman é pior que seu filho Jason ? Após um filme como 13, assistir os Caça Fantasmas é uma dádiva. Se os efeitos ruins hoje incomodam, os atores nos entregam presentes e jóias de satisfação. Um filme que dignifica o cinema popular. Nota 8.
GHOSTBUSTERS II
Mesma equipe, quatro anos depois. O sucesso de bilheteria foi ainda maior, mas o filme é pior. Chega a ser chato. Nota 4.

ALTMAN/ LEONE/ FORD/ STEVE MCQUEEN/ MAX VON SYDOW

ERA UMA VEZ NO OESTE de Sergio Leone com Henry Fonda, Jason Robards, Claudia Cardinale e Charles Bronson
Impressiona e muito. Raros filmes são tão bonitos de se olhar. Cada gesto e cada ângulo de tomada é um primor. Apesar de por vezes cansar ( é longo e lento ) não conseguimos desistir de o acompanhar. Seus primeiros trinta minutos são das melhores coisas ( em termos de diversão ) da história da arte. O final deixa saudades. Após ver este filme, o Bastardos de Tarantino lhe parecerá bem menos atraente. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS de Robert Altman com Warren Beatty e Julie Christie
Foi Pauline Kael quem disse que este filme é como viagem de ópio. Revendo-o agora percebo isso. As vozes vêm não se sabe de onde, todos os diálogos parecem distantes, murmurosos. As imagens são embaçadas, desfocadas, estrábicas. Tudo no filme se parece com sonho, é um tipo de longo devaneio sobre o fracasso e sobre a melancolia de se viver sem ninguém. Beatty ( excelente ) é um pseudo-malandro, que chega a vila do Alasca ( o filme tem muita neve ) e monta um bordel. Interesses capitalistas irão lhe destruir. Warren está comovente, seu tipo é de uma doçura/malandrice cativante. Julie faz uma puta pretensiosa e esperta. Sem coração. A trilha sonora é feita por canções de Leonard Cohen. São amargas baladas sobre a solidão e a estrada. Cortam nosso coração, são de uma beleza absurda. Todo o filme é como a música de Cohen: bela preparação para o fracasso. E o filme, feito no auge do sucesso pop de Altman, foi um proposital fiasco. Altman desejou destruir sua chance de ser mainstream. Conseguiu. O filme é das coisas mais originais já feitas. Nota 8.
O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA de John Ford com James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin e Edmond O'Brien
Este, que é o último grande filme de Ford, trata de dois tipos de herói. O individualista e o comunitário. Stewart é o senador que vai a enterro de velho amigo. Conta-se sua história. De como ele foi um jovem advogado e de como foi ajudado por Wayne, que faz o solitário e duro herói cowboy. O filme chora o fim desse tipo de homem, o homem que fez os EUA. Stewart é o homem politico, o homem da lei, do futuro. Há muito de elegia neste filme e tem a famosa frase: Se a lenda é melhor, que se publique a lenda! Mas não é um tipo de western que empolgue. Ele é muito mais uma revisão de todo o Ford que uma obra vital e criativa. De qualquer modo, é adorado por todos os fãs de western. John Wayne está soberbo e o filme peca por usá-lo menos do que queríamos. A cena do incendio é o ponto alto. Nota 7.
FUGINDO DO INFERNO de John Sturges com Steve McQueen, James Garner, Charles Bronson, Richard Attenborough, James Coburn
O rei do cool se tornou rei neste filme. Steve McQueen faz um prisioneiro de campo nazista que é conhecido por ser o rei do cooler ( solitária ). O filme é isso, prisioneiros que tentam fugir e alemães que tentam impedir. Dirigido com profissionalismo, o filme vai crescendo conforme avança e sua hora final é extremamente empolgante. É mais um dos top 20 de Tarantino. É este tipo de filme que faz falta hoje: muito popular, simples, sem nenhum tipo de enfeite, mas de produção cara, divertido, sem grandes tolices, que vale cada centavo gasto. É dos filmes mais queridos dos anos 60 e foi grande sucesso. Nota 8.
O MENINO E O SEU CACHORRO de LQ Jones com Don Johnson e Jason Robards
Como lançam este dvd? É um muito obscuro filme doido dos anos 70 que exemplifica o ponto de piração que a época chegou. Em mundo do futuro, destruído pela radiação, um garoto anda pelo deserto com seu cão. O cão fala, e fala como um muito prático e ranzinza conselheiro. O garoto o usa para conseguir mulheres, que são estupradas e descartadas. O cão quer comida, e no fim o garoto lhe dá uma moça para comer. Um pesadelo mal feito e muito doentio. Nota 1.
ANUSKA de Francisco Ramalho Jr. com Francisco Cuoco e Jairo Arco e Flexa
Um jornalista se divide entre o mundo politizado do jornal e o mundo da moda de sua paixão, Anuska. O tema é bom, o filme é inacreditávelmente amador. Simplesmente o diretor não sabe como contar uma história. E ainda tem patética homenagem a Jules et Jim!!!!! ZERO!!!!!
O LOBO DA ESTEPE de Fred Haines com Max Von Sydow e Dominique Sanda
Baseado em Hesse e tendo o bergmaniano Sydow no elenco. O ator é o certo, o filme é errado. Não li o livro, mas dá pra notar que tudo se torna confusão neste filme que não tem uma só cena criativa. Um blá blá blá sem fim. Andam por bares e cabarets, mulher oferece sexo e por aí vai. Incompreensível. Nota ZERO
THE HIT de Stephen Frears com Terence Stamp, Tim Roth e John Hurt
Grande Frears!!!! O talentoso diretor de Ligações Perigosas, fez em 1984 este muito bom policial. É sobre dedo-duro que é caçado na Espanha por enviados do dedurado. O filme é a viagem pela Espanha dos dois assassinos e do capturado. Conseguirão executá-lo em Paris? Os três atores estão excelentes. Stamp, ex-sex symbol inglês que optou pela boemia, faz um blasé dedo-duro. Nas mãos dos executores, ele jamais demonstra medo. Hurt faz o calado matador. Frio. E Roth, bem jovem, é o bandidinho novato, bobo e afobado. O filme é diversão de primeira linha ( apesar de barato ). Frears sabe tudo. Nota 7.
DUPLO SUICIDIO EM AMIJIMA de Masahiro Shinoda
A nouvelle vague de Godard fez com que brotassem nouvelles vagues mundo afora ( foi o último movimento em cinema a fazer isso ). Tivemos uma nouvelle alemã, uma brasileira, australiana e até a japonesa. Na Alemanha ela se caracterizava pelo seu esquerdismo radical, e no Japão por sua fascinação por morte e sexo. A nouvelle vague made in Japan é toda calcada nisso: sexo e morte. Este filme fascinante e original trata disso. Uma paixão sexual que leva a morte. As imagens são belíssimas e desde seu incio vemos que o filme é especial. Nota 7.
FILHOS DE HIROSHIMA de Kaneto Shindo
Moça volta a Hiroshima. Estamos em 1951. A cidade é ainda uma cicatriz. Ruínas e gente abandonada. O filme é quase um documentário. Fortemente influenciado pelo neo-realismo italiano. Nota 5.
O VINGADOR de F.Gary Gray com Vin Diesel
Continuo tentando. Este trata de policial que tem a esposa morta por traficante e parte pra vingança. As cenas de ação são tão rápidas que mal se vê o que acontece. Mas o filme não é ruim. A gente assiste sem sentir tédio ou sono. O único problema é que depois que ele termina nada resta para ser recordado. Será que ninguém sabe mais escrever diálogos bons em filmes de ação??? Nota 5.
RAW DEAL de Anthony Mann com Claire Trevor e Dennis O'Keefe
Um dos primeiros filmes de Mann, é um noir barato que funciona bem. Um cara foge da prisão com duas mulheres: sua garota e a outra. Uma é do mal, a outra é do bem. Com trama tão frágil, é construído um sólido filme sem uma cena fraca. Rápido e viril. Cinema noir com suas sombras, suas noites quietas e seus tipos perdidos. Muito cigarro e carrões. Uma tremenda diversão! John Alton fez a foto contrastada. Nota 7.

BERGMAN/ JOHN FORD/ BOORMAN/ GODARD/ CHABROL/ CAROL REED/ ANTHONY MANN

PERSONA de Ingmar Bergman com Bibi Andersson e Liv Ullman
Dificil classificar este filme. Todas as notas que dou têm relação com o prazer. Não dou um dez porque o filme é importante ou complexo. O dez é dado ao filme que me dá um supremo prazer, seja estético, seja emotivo, seja moral. Mas como falar de Persona? O filme tem a profundidade simbólica dos melhores sonhos, mas ao mesmo tempo é árido. Nenhum prazer existe em sua visão. Assistir este filme é sentir desconforto, medo e até mesmo angústia. Não há como em outros filmes do mestre, o alívio prazeroso da bela imagem e dos atores geniais. Aqui tudo é dor. Impossível a mim dar uma nota.
OS DEZ MANDAMENTOS de Cecil B.de Mille com Charlton Heston, Yul Brynner e Anne Baxter
Aqui tudo é circo. Cecil se despede do cinema com imensa produção. São milhares de figurantes, bichos e cenários gigantes. Heston é Moisés e Brynner é o faraó. Anne está uma delícia como Nefertiti. Tem tudo nesse enredo de crioulo doido: tempestades, milagres, a voz de Deus, escravos, estupro e lutas. Profundo como um episódio de cartoon. Estranhamente é ainda divertido em sua cafonice esperta. Nota 6.
A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES de Billy Wilder com Robert Stephens e Colin Blakely
Na primeira parte vemos Holmes como um tipo de dandy gay viciado em cocaína. Watson é seu simplório amigo que como bom vitoriano finge nada perceber. É um tipo de comédia suave. Mas quando acontece o crime e Holmes passa a tentar o resolver o filme se perde. O caso é óbvio e simples demais para um detetive tão genial. È um dos últimos filmes de Billy e foi imenso fracasso. Nota 4.
DEPOIS DO VENDAVAL de John Ford com John Wayne, Maureen O'Hara e Victor McLaglen
Deixa eu contar: este é o filme favorito de meu pai. Assisti com ele quando eu tinha 10 anos de idade, na Globo, sábado às 21 horas. Lembro que achei o filme muito bobo, muito alegre e muito cheio de socos. Na adolescência passei a detestar esse tipo de filme ( como detestei tudo que lembrasse meu pai ). Mas após os 30 anos comecei a aceitar esses filmes, a ver sua poesia, seu imenso valor mitico. É o maior sucesso em bilheteria de Ford e ganhou Oscar. Conta a história de americano que vai a Irlanda ( Galway ) comprar casa que foi de seu pai. Lá, ele se enamora de vizinha ( Maureen maravilhosa ) e briga com grande valentão do lugar. O filme mostra a Irlanda do folclore, onde todos bebem e brigam, riem e fazem tudo beeeem devagar. Ford cria seu universo fordiano, mundo onde os mitos e os símbolos vivem. O filme é de uma comovente simplicidade e de uma esfusiante beleza. Wayne irrompe como rei da masculinidade e Maureen é a fêmea ideal. Lembrete de outro mundo possível ( extinto? ). Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!
XEQUE-MATE de Paul McGuiguan com Josh Hartnett e Lucy Liu
O que significa este filme? O ponto mais baixo em que uma diversão pode chegar? Observem: um filme ruim, antes, era um filme mal feito. Um filme ruim agora, como é este, é um filme mau. Violência pornográfica, roteiro imbecil e atores deploráveis ( o tal Josh mal sabe falar ). Há participações de atores de verdade ( infelizmente muito curtas ): Ben Kingsley e Morgan Freeman e de dois bons tipos: Bruce Willis e Stanley Tucci. Mas este lixo é inominável. Nota ZERO.
EXCALIBUR de John Boorman com Helen Mirren, Cherie Lunghi, Liam Neeson, Nicol Williamson
Uma fascinante viagem por mundo interior. Percebemos por entre as brumas nosso mundo e nossos símbolos mais imorredouros. Jung mora em cada personagem. Quando esta saga termina, sentimos que alguma coisa nos foi fixada. Há uma riquesa imensa nestas imagens. As cenas de Lancelot são as melhores, exemplos simples do que é o amor cortês. Nota 8.
FEDORA de Billy Wilder com William Holden e Marthe Keller
Último filme de Billy. Sem dúvida é o pior filme já feito por um grande diretor. Chega a dar pena. Trata-se de uma gororoba mal temperada sobre atriz anciã que tenta voltar ao cinema. Diálogos risíveis e interpretações lamentáveis. Nota Zero.
BANDE À PART de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Sammi Frey e Claude Brasseur
Liberdade em forma de filme. Jean-Luc pega tudo que esperamos e nos devolve transformado. Os atores brincam e nos encantam, Anna dá um show no papel de uma bobona. O filme é leve, jovem, solto e soberbamente anárquico- mas atenção! É para amantes de cinema, sua magia está no filme em sí, não em sua "história". Nota 9.
ALPHAVILLE de Jean-Luc Godard com Anna Karina e Eddie Constantine
Godard consegue nos levar à ficção científica sem criar cenários ou efeitos. Ele filma a Paris de 1965 de um modo "esquisito", e nos faz crer que aquilo é um "outro mundo". Em que pese essa habilidade, este é de todos os seus filmes da primeira fase ( a fase Anna Karina ), o menos interessante. Um James Bond de vanguarda, ou um Godard em sci-fi. Nota 4.
MULHERES FÁCEIS de Claude Chabrol com Bernadette Lafond e Stephane Audran
É a história de 4 moças em Paris. Seus amores ( ou não ), bebedeiras, orgias e seu trabalho alienante. O filme é bastante ousado para a época e tem um final hitchcockiano. Lafond é uma comediante maravilhosa, tudo nela é ironia. Chabrol jamais foi um gênio, mas era um cineasta seguro, afiado, instigante. Nota 7.
O ÍDOLO CAÍDO de Carol Reed com Ralph Richardson e Michele Morgan
Na embaixada da França em Londres, um menino apegado a mordomo, presencia sua infidelidade e no processo descobre o que significa a palavra "verdade". Este filme, feito por um dos 3 maiores diretores ingleses, é uma obra-prima de suspense. O final me deixou com o coração na mão!!!! Detestamos o menino cada vez mais e nos compadecemos do mordomo e de sua amante. Cenários belos e labirínticos e fotografia exemplar de Georges Périnal. O grande ator shakespeareano, Ralph Richardson, mostra todo o medo e toda a aceitação do destino do patético mordomo. O filme, original e asfixiante, é uma jóia do melhor momento do cinema inglês. Veja e se apaixone por esse muito grande diretor. Nota DEZ!!!!
O HOMEM DOS OLHOS FRIOS de Anthony Mann com Henry Fonda e Anthony Perkins
Mann nunca errava???? A primeira cena deste western já é antológica, um passeio em grua, num preto e branco brilhante, pela cidade. Mas o filme é todo assim, uma aula de cinema. Fonda está estupendo como o herói amargo e quieto, exemplo de virilidade bem resolvida. Seus olhos são os olhos de um anjo caído. Tudo neste filme caminha para seu final catártico. Quem desejar saber o que é um herói e para que serve uma aventura, que veja este monumento. Anthony Mann, mestre de westerns que se fazem mitos, dava estatura de arte filosófica a filmes aparentemente banais. Um diretor perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

RIO BRAVO-ONDE COMEÇA O INFERNO- HOWARD HAWKS

Filme favorito de Inácio Araújo e um dos top ten de Tarantino.
Hawks amava as pessoas. Sua câmera observa-as, deixa-as respirar. O tema central do filme é trapaceado : esse tema é apenas uma desculpa para se mostrar pessoas interagindo. E de tudo que apaixona Hawks, nada o interessa mais que a amizade masculina. É o mestre da amizade.
O tema deste western é : bandido está preso. Um xerife é ajudado por velho aleijado e alcoólatra. A missão : manter o bandido preso. A dificuldade : o irmão do bandido manda dúzias de pistoleiros para o libertar.
Mas o filme não é sobre essa aventura. É sobre a relação entre o xerife e o alcoólatra. Uma velha amizade em crise. Esse é o coração do filme. E é isso que interessa Hawks.
A câmera nunca tem pressa. Muita gente reclama que um dos maiores problemas dos filmes de hoje é que eles têm um só objetivo e ignoram todo o resto. Empobrecem a vida. Explico :
O excelente filme de Kathryn Bigelow fala de um grupo que desarma bombas no Iraque. E mesmo sendo um filme acima da média, ele trata sómente disso. A linha de narração jamais se desvia. Ele promete falar disso, e apenas disso ele fala. 99 por cento dos filmes hoje, mesmo os ditos de arte, são assim. Não existe dispersão, divagação, mudança de tom.
Hawks divaga. Súbito o filme é sobre alcoolismo. Sobre o flerte de Wayne e Angie Dickinson. Sobre um jovem cowboy. Comédia tola sobre velhote esquentado. E ainda envereda por diálogos relaxados sobre coisa nenhuma. ( Não é a toa que Tarantino o adora ). E o mais importante é : o filme nunca tem pressa, se demora, observa, deixa os atores atuarem.
John Wayne faz o seu melhor. Símbolo de virilidade. Feio, corajoso, nada vaidoso. Parece que todo lugar é seu lugar, mas ao mesmo tempo ele é profundamente individualista. Um pai. Dean Martin, que rouba o filme, está soberbo como o alcoólatra. Tudo nele é patético. A relação entre os dois é seca, cheia de nuances, absorvente. O filme é todo dos atores. Nada de paisagens, nada de truques de câmera ( é incrível como Hawks nunca faz questão de se exibir ).
E há o eterno romance de Howard Hawks. Seus filmes sempre trazem o encontro de um solteiro-durão e de uma mulher-aventureira. É ela quem seduz. É ela quem tem a coragem de tentar. E ele se deixa seduzir. Hawks não tem pudor nenhum em se auto-plagiar. ´Vários de seus filmes repetem cenas de sedução. Inclusive no nome da mulher : Feathers.
Howard Hawks foi piloto de automobilismo e um apaixonado por aventuras. Se tornou cineasta por acidente ( todos os grandes que fundaram o cinema americano se fizeram cineastas sem querer. Arrumaram algum emprego no meio e foram construindo uma carreira sem levar o cinema muito à sério. Isso se traduz em filmes leves, nada duros, easy going.... ) Ele dirigia sem pressão, falava baixo no set, jamais brigava, fazia piadas.
É o diretor que irá menos impressionar àqueles que começam agora a conhecer o bom cinema. Ele é discreto e nada "artístico". Mas depois de anos de falsos profetas, novidades antigas e fazedores de arte tediosa, voce começa a perceber o brilho de Howard. Começa a perceber como seu estilo é estranho, um estilo tão natural que parece ser fácil, mas que é terrivelmente individual. Voce percebe que Howard Hawks é o diretor dos diretores, o que mais tem a ensinar a todos que fazem filmes, e aquele que traduz o sentido de se fazer cinema : observar a vida.
Clint Eastwood é um dos que mais tem procurado ser Hawks. Ás vezes ele quase chega lá.
Ser Howard Hawks deve ter sido uma delícia. Mas não é para amadores. O homem foi um gigante. Nos ensina em seus filmes a como ser honesto, viril, como suportar a pressão estóicamente, a ficar frio, a saber viver.
Hawks foi o mais adulto e o mais sábio dos diretores. Perto dele, todos os outros se parecem com adolescentes histéricos.

ALL THAT JAZZ/TARANTINO/PAUL NEWMAN/BECKER

A LENDA DOS DESAPARECIDOS de Henry Hathaway com John Wayne e Sophia Loren
Aquele tipo de filme de cara que vai pro Saara descobrir tesouro. A fotografia de Jack Cardiff ajuda, Wayne exibe seu carisma e Loren faz a italiana emotiva. Competente. Nota 6.
BASTARDOS INGLÓRIOS de Tarantino
Os 3 grandes defeitos do cinema atual : 1. péssimos diálogos, 2. roteiros cheios de complicações que existem sem razão nenhuma. Apenas disfarçam banalidades, 3. visual de TV, muitos closes, muitos zooms, imagens estouradas, edição frenética ( tenta se dar ação pela edição ! ). Pois bem. Neste filme Tarantino faz um filme com cara de cinema. A estética é a dos grandes filmes de aventura dos anos 60. O roteiro é certo e direto, nada de pseudo-intelectualismos. E os diálogos são dignos dos anos 30. Ele faz seu filme mais adulto. O cara sabe tudo e ama a arte com sinceridade. Ele me dá esperança. Nem tudo se perdeu ! Nota DEZ.
O INDOMÁVEL de Robert Benton com Paul Newman, Bruce Willis, Jessica Tandy, Melanie Griffith e Philip Seymour Hoffman
O último grande desempenho do mais simpático dos atores americanos ( de 1960 pra cá... ). Paul é um velho quebra-galhos numa cidade pequena. É um perdedor. O filme não é triste, é quase uma comédia lenta. Willis é seu patrão muito mal caráter. E a maior atriz do teatro americano, Tandy, é sua senhoria; Melanie é a esposa do patrão e Philip um guarda fascista. Robert Benton foi um roteirista de gênio ( Bonnie e Clyde ). Como diretor sempre foi apenas OK. Mas o filme é bonitinho. Paul Newman é excelente. Nota 7.
PAIXÃO PROIBIDA de Serge Gainsbourg com Jane Birkin, Joe Dalessandro e Depardieu
Dalessandro foi ator dos filmes de Andy Warhol. Ele se parece com um jovem Iggy Pop mais bonito. Péssimo ator, ele apenas posa fazendo cara de mau. Ele aqui é um caminhoneiro. Gay. Ele viaja com seu namorado. O filme foi feito nos USA. É um filme estradeiro. A trilha sonora, do próprio Serge, é um tipo de som "Bonnie e Clyde". Pois bem... o caminhoneiro conhece num posto de gasolina uma moça que é muito magra. Tão magra que se parece com um garotinho andrógino. Joe se apaixona por ela. Mas por ser gay, ele só faz com ela "sexo gay". Entendeu ? A moça é Jane Birkin, esquisita e com um rosto lindo. O filme é cheio de lixo, poeira e fedor. É ruim pra caramba. Serge põe a câmera sempre em lugares errados e os atores ficam perdidos. Os diálogos são de doer ! Gerard Depardieu faz um gay sempre de branco, longos cabelos e sobre um cavalo também branco. O filme nunca teme o ridículo. Eu achei muito divertido. Mas é um lixo. Lixo que me seduz. Nota invisível. ( ).
ERA NOITE EM ROMA de Roberto Rossellini
3 homens fogem da prisão dos nazistas. Se abrigam na casa de uma romana. O filme mostra o cotidiano da Roma da guerra. Os fugitivos são cada um de uma nação. Roberto dirige daquele modo seco e pobre de sempre, parece televisão educativa. nota 2.
FANTASMA de F.W.Murnau
Ele seria o grande diretor na América dos anos 30/40 se não houvesse morrido em acidente de carro tão cedo. Este é um filme silencioso sobre a perdição da paixão. Há uma cena de baile que usa câmera na mão, efeitos de zoom e fundo psicodélico !!!! Em 1922 !!!!! Murnau sabia ser ousado. Mas este roteiro é bastante piegas.... nota 4.
MULHERES NO FRONT de Valerio Zurlini com Anna Karina, Marie Laforet, Lea Massari
Fala dos grupos de prostitutas que eram usadas no front pelos soldados italianos. Cada moça era objeto de um batalhão inteiro !!!!! Zurlini era um diretor maravilhoso ! Seus filmes são poemas à melancolia que não nos deprimem. Anna está lindíssima como uma prostituta que ainda vê humor na vida, uma bela comediante. O filme é trágico e apesar de ser um dos menos conhecidos de Zurlini, é ainda invulgarmente bom. Nota 7.
LE TROU de Jacques Becker
Um milagre ! Eis um filme de duas horas e quinze minutos, todo passado entre uma cela e uma rede de buracos, que jamais entedia ou irrita. Becker, grande diretor, se deu este desafio, e o venceu. O filme é viril e apaixonante aventura. Tem, inclusive, um dos melhores e mais terríveis finais que já assisti. São cinco prisioneiros, que com engenho e calma, tentam fugir da prisão. O filme evita os chavões : a prisão é limpa e tranquila, não há violência alguma, o diretor é compreensivo e os presos comem bem e são camaradas. Mas eles estão confinados ! E como o homem está condenado à liberdade.... O filme não tem trilha musical nenhuma, e os sons do esforço físico daqueles homens abrindo túneis na rocha pura é aterrorizante ! Fime diferente de tudo que voce já viu, ele permanece na memória. Becker ( pai do também bom diretor, Jean Becker ) era um talento gigantesco ! Esta OBRA-PRIMA o prova. Nota DEZ.
OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR de Jacques Demy com Catherine Deneuve
Ah!!!!!! Jovem Deneuve... tão lindamente perfeita que chega a parecer uma ficção ! Este filme, com trilha musical de gênio de Michel Legrand, é todo cantado. Quando digo todo é todo : quando alguém diz : - Quanto custa ? Isso é falado em música. Ou seja, é uma ópera. Mas em ritmo de jazz pop. O filme é colorido, fantasioso, feliz e hiper-romântico. Se voce gosta das melodias vai amar, se detesta musicais, irá rir dele. Nota 6.
ALL THAT JAZZ DE BOB FOSSE COM ROY SCHEIDER E JESSICA LANGE
FELLINI JAZZ E ANSIA POR VIVER = O FILME DA MINHA VIDA.
Quantas vezes ? Vinte... mais... trinta...talvez. Só no cinema foram quatro. Este não é o filme que penso ser o melhor que já assisti, mas é MEU filme. Tenho de o rever todo ano.
Bob Fosse... ele foi o mais sexy coreógrafo e diretor da Broadway , e é, até hoje, o único cara a ter ganho no mesmo ano os 3 grandes prêmios : Oscar/Tony e Emmy- cinema, teatro e TV, tudo em 72. Se ele escrevesse teria ganho o Pulitzer naquele ano... Bob Fosse era como Joe Giddeon, o personagem deste filme ( ah... se voce não sabe, o Oscar de 1972 foi por Cabaret, vencendo O Poderoso Chefão ). Mas voltando, Fosse era fumante doido ( quatro maços por dia, inclusive no chuveiro e na cama ), mulherengo, egocêntrico, anfetamínico, criativo, cardíaco e genial. Morreu na reestréia de Chicago, Broadway... Como acontece aqui, em ALL THAT JAZZ, morte na estréia. Fosse escreveu o roteiro de sua futura partida.
A verdade é que nunca desejei ser O Homem-Aranha ou Bill Gates. Eu queria ser Joe Giddeon/ Bob Fosse. Brinquei disso por mais de uma década, na faculdade e na vida. Namorei e escrevi como se "fosse" Joe Giddeon. Confesso. Foi muito bom...
Cada década tem um musical que espelha o que ela foi. Não é necessariamente o melhor da época, mas é seu retrato. Os anos 2000 têm o chatíssimo CHICAGO, que desmerece o trabalho no palco de Fosse. É um filme cheio de acontecimentos, truques e baboseiras. É a cara deste cinema. Os anos 90 são representados pela jovialidade colorida de ROMEU + JULIETA, aquele de Baz Luhrman com Di Caprio. Bobinho e bacaninha, como os 90. Nos 80 temos FLASHDANCE, e nem preciso dizer nada... e os 60 têm o muito otimista e cômico POSITIVAMENTE MILLIE. Nos anos 70, os anos de drogas, sexo, loucura e nóia, existe este plásticamente exagerado, histéricamente fascinante ALL THAT JAZZ.
Bob Fosse pega o roteiro de OITO E MEIO de Fellini, diretor pelo qual ele tinha obsessão confessa, e o refilma. No lugar do diretor de cinema em crise, um diretor de teatro. Sai a Itália, entra New York. Continuam as mulheres, as memórias e a doença. Permanece a absoluta e completa genialidade. A memória, sonhos, ideal de beleza, música.
Joe Giddeon, numa impressionante atuação "de macumba" de Roy Scheider, acorda ( esta cena é repetida por todo o filme ) e ao som de Vivaldi, se entope de bolinhas e cigarros ( o Camel que eu fumava...) Pinga colírio no olho vermelho, e em frente ao espelho, ele repete a sí-mesmo : "- SHOWTIME FOLKS!" Todas as manhãs..... Hoje, quando em ansiedade, ainda me pego neste " Showtime folks! " para mim mesmo... Então ele vai ao teatro ensaiar uma peça que não evolui. Ele está em crise.
Ao mesmo tempo ele sofre com a consciencia de ter estragado um bom casamento, mas continua não resistindo às jovens atrizes. E ainda tem de editar seu novo filme, ineditável. E sofre a pressão de um ator perfeccionista e crítico temível ( o filme, na vida real era LENNY e o ator carrasco era Dustin Hoffman, famoso por torturar diretores com sua mania de perfeição ).
Giddeon sofre infarte e o anjo da morte é Jessica Lange, de branco, maravilhosamente linda ( em Fellini foi Claudia Cardinale ). O filme ousa : sua hora final é a descrição da morte do diretor do filme. Giddeon conversa com a morte/mulher, e beleza das belezas : tenta flertar com ela.
Joe/Bob Fosse tem apenas um grande amor real : aquele anjo da morte.
As cenas de ensaio, de bastidores e a atuação dos bailarinos chega a ser comovente. Mas na morte do diretor, longa cena dançada, com enfermeiras, corações de plástico, sangue e seringas, Bob Fosse atinge o mal-gosto e o sublime, o mais feroz pessimismo, mas também uma garra vital dionisíaca. Não há filme que nos dê tão explícita imagem da força da arte dionisíaca. A agonia da criação está toda em exposição. Dor e prazer, vaidade e aniquilamento.
ALL THAT JAZZ mostra a vida que desejei ter. Bela e perigosa, glamurosa e podre. É óbvio que não sou Fosse ou Giddeon. Sempre soube disso, minha viagem não foi tão doida. Mas a graça estava em seguir a miragem. Bob Fosse me deu um presente que iluminou meu caminho. É pouco ?
Perfeição é sempre sinal de má arte. Perfeição é para ciência. Chicago tentou ser perfeito. Moulin Rouge é perfeito. ALL THAT JAZZ é todo errado. E por ser torto, chega lá. Não é feito de luz e música. Ele é semem, tabaco, coxas, traição, sangue, suor, solidão, tosse, doença e inenarrável beleza. Transcende. Ele é eterno. Anjo da morte que seduz Joe Giddeon e nos arrebata.
Continuo fã deste filme. Não precisaria de nenhum outro se tivesse de levar um só para a tal ilha deserta. Me diverte, me inspira e me guia. Joe Giddeon é meu xamã.
ALL THAT JAZZ. Voces queriam saber ? Sempre ( desde 1979 ) foi meu filme favorito. Não o melhor, mas o mais amado.
Fecho o zíper : riiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiipppppppppppppp..... fim.

ALTMAN/CORNEAU/JOHN WAYNE/ERA DO GELO

SIM SENHOR de Peyton Reed com Jim Carrey e Zooey Deschanel
Volto a falar deste filme para dizer algo assustador : o quanto um filme pode ser ruim. Um cara ( um Carrey apático em seu medíocre papel ), fala não para a vida. Após palestra ( dada por Terence Stamp ), começa a dizer sim a tudo. Fosse menos cretino, o filme o envolveria em confusões sexuais, confusões com patrões e com os amigos. Mas não. Para o roteirista, dizer sim é pagar bebidas aos amigos, pagar cursos e comprar coisas. Para se falar sim é preciso ter cartão de crédito dourado. Retrato de um tempo onde diversão é encher a cara e pagar algo de novo. O romance com a mocinha é inconvincente : ela canta em banda de rock tipo anos 80 mas é a imagem da caretice. E que amigos são esses ? Em todo o filme não dizem duas frases diferentes ! Um horror ! sem nota.
A ERA DO GELO 3 de Carlos Saldanha
Uma deliciosa comédia com personagens bem delineados, belo visual e que não tenta vender nada. É lógico que não procuramos arte aqui, mas ele faz algo que os filmes pop de hoje não sabem mais nos dar : uma alegre diversão que não nos agride, não nos chama de idiotas. nota 5.
MAC CABE & MRS. MILLER de Robert Altman com Warren Beatty e Julie Christie
O que primeiro salta aos olhos é a foto de Vilmos Zgismond. O filme é de uma plasticidade melancólica e gelada. Passa-se na fronteira EUA/ Canadá e estamos em 1890. Um cara otimista monta bordel em vila mineira. Ele tem bom coração e tudo que deseja é alguém que lhe dê afeto. Assistimos o que lhe acontece. O filme é difícil : lento. Talvez seja o mais triste filme americano já feito ( Pauline Kael o chama de " o mais triste e belo dos filmes " e Roger Ebbert de " um filme perfeito " ). Eu o assisti com dois sentimentos : quase irritado por sua lentidão, mas, ao final, apaixonado por sua magnífica beleza. O final, numa nevasca, é talvez o mais melancólico já visto. Tem uma beleza aterradora. Não tem trilha sonora : é pontuado por lindíssimas baladas desesperançadas de Leonard Cohen. É uma obra-prima da inocência poluída, da esperança destroçada, da solidão sem fim. Uma obra-prima de cinema ousado, sem nenhuma concessão, heróico. Nota DEZ.
IF... de Lindsay Anderson com Malcolm MacDowell
Um perfeito retrato da rebeldia e do desamparo adolescente. Eles tentam ser diferentes e não conseguem, tentam ser livres e não sabem o que é a liberdade. O que fazem então ? Destroem. Surrealista, cheio de significados e fácil de se assistir, é um filme manifesto, um poema à ira, um filme de ação. nota 9.
WEEK-END de Godard com Mireille Darc, Jean Yanne e Leaud
Não pode ser analisado a luz da razão. Ele vai contra tudo e todos. Do dinheiro ao sexo, de burgueses aos grupos extremistas, sobra pra todo mundo. Sem nota, pois um zero seria absurdo e um dez impossível.
NUNCA AOS DOMINGOS de Jules Dassin com Melina Mercouri
Um americano vai à Grécia atrás de respostas. Ele quer saber onde a Grécia errou. Lá, conhece uma prostituta que é a personificação da alegria grega. Mas ele tenta lhe dar cultura, filosofia, e a estraga. No fim, a alegria vence. Dassin foi um ótimo diretor. Na América fez alguns dos melhores policiais da história. Perseguido pelo MacCarthismo, teve na Europa uma segunda e excelente carreira. Aqui ele encontra a estrela grega Melina, com quem se casaria. Ela lutaria contra a ditadura grega e terminaria ministra da república livre de seu país. O filme, comédia bela e despretensiosa, encanta por sua alegria genuína e a bela paisagem grega. nota 7.
A TRÁGICA FARSA de Mark Robson com Humphrey Bogart e Rod Steiger
Último filme de Bogey. Fala do submundo do box. Um lutador tipo Maguila, inocente e manipulado, vence lutas arranjadas até um quase título. Bogey é o jornalista que manipula essa verdade falsa. Um derrotado. O filme é ok. nota 5.
MALPETIUS de Harry Kummel com Mathieu Carriere e Orson Welles.
Pretensioso e chato. Algo sobre deuses e mitos. Uma bomba! nota Zero!!!
TRUE GRIT de Henry Hathaway com John Wayne e Kim Darby
O filme que deu o oscar à Wayne ( vencendo maravilhosos Dustin Hoffman e Jon Voigt em Perdidos na Noite ). Ele está comovente como um justiceiro bêbado e amargo que ajuda mocinha a vingar a morte do pai. Belas paisagens, ação na medida exata, algum humor e o carisma do mito da aventura. Muito satisfatório. nota 7.
NO VELHO CHICAGO de Henry King com Tyrone Power, Don Ameche e Alice Faye
A primeira hora é um melô envelhecido sobre família irlandesa que enriquece na Chicago de 1870. Mas a meia hora final é um primor. Um incendio que devasta a cidade. Efeitos especiais que ainda impressionam e um senso de suspense e movimento soberbos. Os figurantes, centenas, estão maravilhosamente bem dirigidos e fotografados. Fogo, água e multidões se movendo sem cessar. Vale o filme. nota 6.
TODAS AS MANHÃS DO MUNDO de Alain Corneau com Jean-Pierre Marielle e Gerard Depardieu
A vida do músico Saint-Colombe ( que nunca ouví falar ) narrada por Marin Marais, seu aluno bem sucedido. O filme é tudo aquilo que Amadeus não pode ser : místico, reverente, artístico. Talvez por a arte de Mozart ser terrena, comunicativa e leve. O ambiente é o do Jansenismo do século xviii. O filme tem uma austeridade rígida, fria, severa. Marielle brilha. Vemos e sentimos sua dor. O filme quase faz um milagre : ele chega perto de nos comunicar o segredo da música. Há um diálogo final entre Marielle e Depardieu que é absoluto sublime. O aluno tenta obter o segredo do mestre. Nós o obtemos. O filme é também um manifesto de um mundo perdido : mundo em que se criava e se vivia para Deus, para a eternidade, para o atemporal. Corneau venceu 8 césares em 1991. Mereceu todos. Eis um corajoso e original ! nota 8.
COWBOY de Delmer Daves com Glenn Ford e Jack Lemmon
Nesta história de um atendente de hotel que quer ser cowboy temos tudo aquilo que pedimos : ação, emoção e boas atuações. Entramos na vida de bois, cavalos, índios, espaço aberto, poeira. A violência é constante e para sobreviver é preciso ser individualista e frio. Jack dá show, mas Ford, ator subestimado, impressiona mais. Seu cowboy é a imagem da vida na estrada. Belíssimo. Nota 8.

ANG LEE/NICHOLAS RAY/CARROS/WALSH

RAZÃO E SENSIBILIDADE de Ang Lee com Emma Thompson, Kate Winslet, Hugh Grant, Alan Rickman
Justiça seja feita a Lee. É um muito grande diretor. Banquete, Tempestade de Gelo e mesmo Brokeback são grandes filmes. Assim como este maravilhoso Razão... Tudo funciona aqui. Cada movimento de camera, cada nuance dos atores, todo diálogo. Há a sabedoria de se compreender Jane Austen, é o dinheiro quem manda no amor. O roteiro de Emma Thompson, premidado com um justo Oscar é exemplar : nada em excesso, nada com pressa. Todo o elenco brilha, mas Emma e Hugh Grant ( com uma timidez não caricata ) chegam a comover profundamente. Uma quase obra-prima que se assiste com imenso prazer. Cheia de beleza, encanto e profunda inteligência. Pessoa magnífica deve ser Emma Thompson !!!!! Concorreu a 8 Oscars e perdeu 7. Preferiram o filme de Mel Gibson , pasmem! nota Dez!!!!!!
HORIZONTE DE GLÓRIA de Nicholas Ray com John Wayne e Robert Ryan
Filme sobre a aviação na segunda guerra. As cenas de ação valem pelo filme. São combates aéreos reais, filmados na guerra de verdade. A caça de aviões pelo ar, piloto seguindo piloto, nos emocionam pela sua verdade. Há uma cena da explosão de um destóier japonês que nos choca, o navio se desintegra, explode em chamas e nada sobra do que fora um barco. Wayne e Ryan sempre são um prazer e o filme, no gênero, é um bom exemplo. nota 6.
TAMBORES DISTANTES de Raoul Walsh com Gary Cooper.
Tenho lido um site do Cahiers du Cinema. É incrível como os franceses adoram Walsh. Vêm nele uma profundidade e uma maestria que raramente percebo. Gosto muito de seus filmes, aventuras sempre bem feitas e com heróis interessantes, mas gênio ele não foi. Este western passado nos pantanos da Flórida é muito bom, belo passatempo, mas não traz nenhum sinal de originalidade ou poesia. nota 6.
REMBRANDT de Alexander Korda com Charles Laughton
Bela bio do maior pintor da história. O cenário, recriando a Holanda da época é fascinante e Laughton, um ator nunca menos que genial, considerado por muitos o melhor da história cinematográfica, hipnotiza e fascina nosso olhar como sempre faz. Seu Rembrandt é poético e bastante convincente. Eis um ator que poderia ser Shakespeare na tela e nos convencer disso. Este filme brilha por seu trabalho e pelos ótimos diálogos que traz. nota 8.
OS INCONQUISTÁVEIS de Cecil B. de Mille com Gary Cooper e Paulette Godard
De Mille, com Hitchcock, o mais famoso diretor da história, traz aqui seu senso de show para as massas. Um pai de Spielberg, seu melhor dom é o de fazer a ação nunca parar. Esta aventura, em constante movimento, sempre indo em frente, tem de tudo : humor, tiros, correrias, paisagens de sonho, romance. Belo passatempo. nota 7. Ps. Como Paulette, ex-senhora Chaplin era bonita!!!
CARROS de John Lasseter
Por uma hora este desenho erra em tudo. Seu herói é um chato e não nos interessamos por ele. É legal vê-lo com um nome que é homenagem à Steve McQueen, de quem sou fã, mas a história não flui. Mas sua meia hora final é tudo o que queremos. Vem a crítica que a Pixar sempre faz ao mundo atual, o herói cresce, se humaniza, e nos apaixonamos pela pacata cidade perdida no tempo. No tempo, como diz o filme, em que as pessoas viajavam para ver, não para chegar. O veterano, homenagem linda à Paul Newman rouba as melhores cenas. nota 7.
OS INCRÍVEIS da Pixar, Disney
A mensagem é maravilhosa : fomos heróis um dia. Hoje, nosso medíocre mundo nos proíbe de o ser. Fomos Shakespeareanos. Hoje somos Big Brother. Mas isso é mostrado de um modo tão detalhado que chegou a me enjoar. Uma ação tão cheia de "trecos" me entedia. Bocejei ao final. Mas sem dúvida, nos cartoons de hoje, existe uma nobreza há muito ausente dos filmes com gente real. Dignificam a arte que nos deu Pinóquio e Dumbo e que tem agora esse absoluto momento de gênio chamado Wall.e. nota 6.

GINGER ROGERS/ROGER RABBIT/WANDA/RIO LOBO/ STEVE MARTIN

En cas de Mal-heur de Autant-Lara com Jean Gabin e B.B.
Que bomba insuportável ! De todas as grandes musas do cinema ( Marlene, Garbo, Rita, Ava, Marilyn, Deneuve, Loren ) ninguém fez piores filmes que Bardot. Foi contra este tipo de lixo que Godard e Truffaut se ergueram. Nota zeroooooooooooooooooooooo!
Vivacious Lady de George Stevens com Ginger Rogers e James Stewart
Agradabilíssima comédia. O tipo de roteiro que Clooney, Reese, Spacey, Hanks, Os Coen, dariam a alma para ter. Passatempo que não te chama de idiota. 7.
The Rocky Horror Show com Tim Curry e Susan Sarandon.
Finalmente assisto o mitico Rocky Horror. Curry tem uma das maiores atuações do cinema. Sua entrada em cena, como o vampiro ultra-glitter-marc bolan-gay é antológica! Se Velvet Goldmine tivesse algum senso de humor ele seria assim. No mais, espero que voces saibam a história deste musical: um fracasso na estréia que se tornou cult, ficando vinte anos em cartaz na mesma sala, onde os fãs assistiam interagindo com a história. Há quem o tenha visto mais de cem vezes. Nota 6.
Um Rei Em NY de John Landis com Eddie Murphy e Arsenio Hall.
No período 73/93 se fizeram toneladas de grandes/excelentes comédias. Esta é uma das melhores. Todos já a viram, todos já gargalharam. Puro prazer e uma atuação histórica de Eddie lembrando o melhor de Alec Guiness. As cenas na barbearia e na igrja são antológicas.
Inesquecível. Nota 9.
Uma cilada para Roger Rabbit de Robert Zemeckis com Bob Hoskins e Christopher Lloyd.
Todos conhecem este filme. Resistiu ao tempo? Sim, resistiu, e é essa o único julgamento válido a qualquer obra de qualquer arte : resistiu ao tempo? nota 7.
Um Peixe Chamado Wanda de Alexander MacKendrick com John Cleese, Kevin Kline, Jamie Lee Curtis e Michael Palin.
Ele começa devagar. E vai crescendo, ficando cada vez mais doido, mais exagerado, atingindo ao final um frenesí de loucura e humor irresponsável. O trabalho de Kline beira a perfeição e todo o elenco brilha estupidamente. nota 8.
Alien de Ridley Scott com Sigourney Weaver, Tom Skerrit e John Hurt.
Segundo filme de Scott. Bela carreira tem esse inglês. No teste do tempo, Alien sobreviveu? Mais ou menos. Não provoca medo ou nojo, pois nos acostumamos a pornografia de visceras e sangue aos borbotões. Mas mantém seu clima claustrofóbico e a elegancia de uma direção enxuta e matemática. nota 7.
Rio Lobo de Howard Hawks com John Wayne.
Último filme de Hawks. É seu pior. Um western comum em que só se destaca a simpatia de Wayne. nota 5.
Longa Jornada Noite Adentro de Sidney Lumet com Kate Hepburn, Ralph Richardson, Jason Robards e Dean Stockwell.
A terrível peça de Eugene O'Neill levada inteira por Lumet. O filme é muito desagradável, árduo´,cruel, sem concessões. Mas há Kate. Mágica. Em minutos ela passa da estrema fragilidade para pura maldade egoísta; de jeito de criança para uma velha anciã. Tudo feito sem qualquer esforço. por ela o filme vale ouro. ( robards também dá seu show de sempre, como o filho alcoólatra ) nota 6.
Star Wars de George Lucas com os dois robots e mais alguns robots de carne e osso.
O filme que inaugurou a total simplificação do cinema ( com Tubarão ). Os atores estão interpretando como se fossem robots, os robots são os astros. O texto chega a ser ridículo e algumas falas com sua pseudo filosofia oriental, beiram o ridiculo. Tudo é infantil, jogado na tela sem qualquer senso de elegancia, ritmo ou psicologia de personagem. Lucas ( péssimo diretor) mal sabe cortar as cenas. Então o porque do sucesso?
Star Wars surge no auge do cinema deprê, intelectualizado, paranóico. Dá ao público a estética infantil da publicidade, o clima de tv e a profundidade das hq. A música de Willians, a foto de Gil Taylor e a batalha final ( uma obra-prima de montagem ) resgatam suas gritantes falhas. Para o bem ou para o mal, este filme antecipa tudo que se fez nos últimos 30 anos. 5.
O Panaca de Carl Reiner com Steve Martin.
A melhor comédia de Martin ( o que não é pouca coisa ). nota 9.
Oliver! de Carol Reed.
Reed é o genial diretor de vários filmes ingleses sobre o sub-mundo londrino, sobre a vida dos pequenos malandros derrotados. O chamaram para dirigir este imenso ( longo, caríssimo ) musical. Venceu quilos de oscars em 68, derrotando o 2001 de Kubrick. Mais uma das papagaiadas do prêmio. Este musical é tudo aquilo que um musical não pode ser : pesado, arrastado, sem simpatia. Mas faz cair o queixo sua cenografia: john Box ganhou o único oscar justo com seus imensos cenários. Uma maravilhosa Londres vitoriana, cheia de córregos, pontes, vielas, barracos e centenas de figurantes. O tipo de cenário que hoje seria inviável. Fariam tudo digitalmente, barateando os custos e frustrando sensibilidades mais afinadas. É o cenário que Tim Burton não pode fazer em seu último filme. nota 4.
A Roda da Fortuna de Joel e Ethan Coen com Tim Robbins, Paul Newman e Jennifer Jason Leigh.
Chatíssimo filme. Os Coen quando tentem fazer algo profundo sempre se tornam chatos. Perdem a leveza e o humor se torna óbvio. nota 2.
A Culpa é dos Pais de Vittorio de Sica.
Vittorio entendeu o que os homens são. Ninguém no cinema conseguiu como ele, mostrar a dor sem culpados, a injustiça sem vilões, como fazemos o mal sem perceber e como sofremos sem poder evitar a dor. Seus filmes são peças de música, poemas de água e fogo, encadeamentos lógicos e simples daquilo que a vida sempre é e sempre será.
Este é seu primeiro grande filme. Uma criança perdida entre seus pais. A total incomunicabilidade que existe entre o adulto e a criança ( mesmo que o adulto a ame, ela sempre será INACESSÍVEL). O filme dói, o filme exalta, faz recordar e é absolutamente delicioso. Mostra como ser criança é dificil, como ser pai é errar sempre, como amar é em vão, como a solidão é constante. Um filme de hoje e de amanhã, o sonho de Salles, Meirelles, Almodovar iranianos e chineses. Só não leva dez por ser modesto, um ensaio para as quatro obras-primas absolutas que Vittorio faria em seguida. nota 9.