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Charles Mingus "Wednesday Night Prayer Meeting" footage Live at Antibes ...

Charles Mingus Sextet - Peggy's Blue Sky Light - Belgium 1964

UMA QUESTÃO DE SWING E DE MOOD....CHARLES MINGUS +++++++ MINGUS AH UM, UM DOS 5 MAIORES DISCOS DA HISTÓRIA

O disco, de 1959, histórico, abre com BETTER GIT IT IN YOUR SOUL, e tudo se torna beat. A bateria swing e corre como numa noite asfaltada de chuva e sexo. Dannie Richmond o batera. Mingus, gênio, era um cara que sabia usar naipes de sopros como ninguém mais. Eles escorregam levando um ritmo alucinado. Mingus e seu baixo, como deve ser: lá no fundo, empurram a coisa toda. E há o piano: uma repetição de acordes em um break diabólico de danado! Tudo é velocidade e eu sinto que a vida pulsa dentro do meu coração e da minha alma e de tudo ao meu redor. Sim baby, eu sabia que era um disco histórico, mas não achei que fosse tão tão tão BOM ! ------------------ Alguém grita ao fundo. -------------- Uma balada depois, sensual como é toda música escrita com a verdade. Música é sexo, mas às vezes ela é impotente. Não aqui. Mingus devia transar bem pra caramba. Uma faixa agitada em seguida que traz aquele tipo de solo de bateria que só o jazz tem: curto e vital. Aula de batida. Os pratos têm vida. Mingus escreve preguiça como ninguém mais. Sabe tipo um cara acordando de ressaca? No centro de NY ? Carros da janela lá embaixo e frio pra cacete? É isso. Ou então uma loira pelada indo tomar café. Mingus escreve isso e sempre com esse ritmo africano que vem direto dos colhões. Acelera. Lento. Acelera. Lento. Que coisa foda!!!! --------------------- O pianista é Horace Parlan Jr. e os sopros, muitos, têm John Handy, Booker Ervin, Shafi Hadi, Willie Dennis e Jimmy Knepper. ---------------- Bird Calls é um chamado de pássaro no mato, quase um desafino que se torna jazz esperto. Fables of Fabus é dança, um walkin ritmado na Quinta Avenida ou um grupo se movendo numa boate secreta. Mingus quebra o ritmo que poderia ser de Duke Ellington mas que com Mingus é outra coisa. Ouça esse acorde dissonante, essa batida na caixa invertida, a súbita aceleração do ritmo, o bass que sobe e desce todo o tempo, o tropeço geral que lembra Monk mas é Mingus. Todos os solos de sax são exatos, nem longos nem curtos demais. ------------- Sexy e safo, can you dig it? -------------------- Qual foi o cara que descobriu que aquele instrumento tão desajeitado poderia ser a alma do ritmo do jazz? O contrabaixo é a adrenalina que faz pulsar e eis Mingus solando afinal. Pena que é tão pouco.... Pussy Cat Dues...é o que voce imaginou: uma gata se estica sobre o tapete. Eis o som que ela merece: trombone com surdina, enrolando-se nela. O blues mais blues do disco. A faixa mais tradicional entre todas. Talvez porque uma pussy cat seja sempre e será pra sempre isso que aqui se escuta. Um MIAAAAAUUUUUU em forma estendida de jazz. ------------------ Afinal, Jelly Roll fecha o disco. No final, a origem, ou uma das origens. ( Que disco perfeito e que delícia de disco ). Voce sabe, a invenção do jazz e seu desenvolvimento é um tipo de milagre. Quando se cria o samba ou a rumba a coisa é muito forte mas a raiz africana está bem presente nesses ritmos. Mas o jazz..... ele não parece samba e nem música europeia! Ele tem o ritmo e a alma da Africa mas ao mesmo tempo é tão harmonicamente e melodicamente sofisticado como são Ravel ou Strauss. E além! O jazz criou um universo que seria inimaginável no tempo de Chopin ou de Brahms. E dentro desse novo universo, desse big bang, nasceram coisas como Kind of Blue e este Ah Um. Obras primas tão distantes do batuque tribal ou da sinfonia concertante como Mercúrio está longe de Alfa Centaurus. Mundos em si que parecem terem paridos a si mesmos. Charles Mingus foi um gênio, como foram Duke e Miles e Monk e Trane. Ah Um é uma obra prima, mais uma, do jazz. E é sexy pra carai.

ACONTECE OUTRA VEZ: IN A SILENT WAY, MILES DAVIS

Gravado no dia 26 de fevereiro de 1969, sim, em um dia, IN A SILENT WAY é mais uma aterradora obra prima elétrica de Miles. Na época, puristas de jazz torceram o nariz, hoje ele é unaminidade, é um ponto alto da vida do gênio Miles Davis. Aos 42 anos de idade, cercado de jovens cheios de futuro, Miles nos dá o mais simples dos discos, composto de apenas 4 ou 5 riffs que se repetem em looping enquanto os músicos tecem breves e pacatos solos. Músicos? Se por volta de 1958 Miles lançava Coltrane, Cannonbal Adderley e Sonny Rollins, aqui estão presentes todos os nomes que farão o jazz dos anos 70: Chick Corea, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Joe Zawinul, John McLaughlin, Tony Wilians. Cool, sempre extra cool, Miles deixa que os outros brilhem. John McLaughlin, guitarrista que Jeff Beck considerava o melhor da história, é o solista que mais se destaca. Vindo do blues inglês, muito jovem, meio desconhecido, ele começa sua carreira no jazz neste disco. Daqui ele iria para o estrelato na sua Mahavishnu Orchestra. -------------------- No futuro toda nossa música será feita de modo individual. Um programa de AI, com seus dados, irá compor música só para voce, ao seu gosto. Mas, caso ainda haja espaço para música "em geral", Miles Davis será o cara a ser estudado quando se falar em música do século XX. Em meio a Bartok, Cole Porter, Beatles, Hendrix ou Rap, Miles Davis é o centro irradiador do espírito da época. Irriquieto, fértil, suave e demoníaco. --------------- Neste disco, há um momento, breve, em que Tony Willians se solta. Estranhamente a bateria é contida por quase todo o tempo, ela marca o beat de modo discreto. Então ela quebra essa regra e bate mais forte. Imediatamente meus pelos do braço se erguem e minha cabeça começa a balançar. Como em Agharta o duende se faz presente. Miles conseguiu de novo, tudo preparado para esse momento: transe. -------------- São quatro temas desenvolvidos em grooves que usam riffs curtos e simples de baixo e bateria. Três teclados rodam transitando entre e dentro desses riffs e a guitarra sola dando beleza à coisa. Os sopros, Shorter e Miles solam pouco e quando solam criam paz e equilíbrio na coisa toda. É um quase funk, um tipo de soul jazzístico. É como uma miragem. A música surge incorpórea e se desfaz em sopro. Sim, é uma viagem, mas não é música doida ou psicodélica, há controle aqui, precisão, o som é limpo, refinado. O duende surge apenas quase ao final, no momento em que Tony Willians ergue as baquetas e bate mais forte. Sublme é a palavra. ----------------- Alguns meses atrás eu falei que Agharta é o maior disco já gravado em qualquer estilo de música. In a Silent Way chega muito perto disso. E talvez seja melhor.

MAIS CONSIDERAÇÕES SOBRE AGHARTA

Há uma cidade dentro da Terra e seu nome é Agharta. Uma lenda, uma crença, um folclore ancião. Miles pega esse nome e faz dois shows no Japão que serão a descoberta de uma cidade dentro de nossa alma. Esse o sentido do nome do disco. E a música, arte imaterial, a mais espiritual das atividades humanas, é a ferramenta para chegar até lá. Mas, que música? Miles sabe e intui: voce não irá falar com sua cidade profunda por meio de um mapa. Nem por um discurso. Não haverá um caminho, apenas um deixar ir. Ou seja, um ritmo. Uma percussão. E não será um avanço ou uma construção, mas sim uma repetição em círculo de um ritmo, um groove. Porque não se quer ir ao longe, mas sim ir onde se está, porém, para dentro. A música deverá girar sem se mover, perfurar e assim adentrar. O corpo ajuda. Como ajuda? Se tornando vazio. Perde-se e pede-se que o corpo abra mão de sua solidez. Ele se desmancha em dança. Esvai-se. Primeiro a cabeça que se faz um átomo em movimento circular. Depois as mãos que viram cometas. E o ritmo leva os quadris ao modo sexual. Não é mais voce ouvindo, é voce parte da música. Não há garantia, o êxtase pode não ocorrer, ele é raro. Mas haverá o perigo. Duende-dionísio. Frenesi-perder-se-deixar ir-entrar. A coisa gira. --------------------------------------- Eis a imagem da coisa girando.

O MAIOR DISCO GRAVADO EM TODOS OS TEMPOS: AGHARTA, MILES DAVIS, O MAIS PERIGOSO DOS SONS

lar Era 1975 e Miles estava no Japão. Em Osaka, ele resolveu gravar dois shows. Um de tarde e outro à noite, no mesmo dia. O disco da tarde seria este, Agharta, e o da noite seria Pangea, o seu disco seguinte. Voce acha muito? Pois saiba que Miles estava com problemas de coração, dores horíveis nas pernas e ombros, viciado em morfina, cocaína e ansiolíticos. A dor era tanta que ele se ajoelhava para poder apertar os pedais do trompete. E mesmo assim...Agharta é, para mim, o mais poderoso disco já gravado. -------------- Lançado em 1976, album duplo, uma faixa por lado, ele foi massacrado pela crítica. Dizem hoje que Agharta é, ao lado do Metal Machine Music de Lou Reed, o disco mais divisor de águas, mais anti-fãs habituais, um dia lançados. Odiaram Agharta. Odiaram muito. Chamaram de "insuportável", "Monótono", "apenas um som sem inspiração que se estica por hora e meia". Disseram não ter melodia, nem harmonia, falaram que Miles não compusera nada, não criara nada, o disco era um desperdício de vinil. A resposta de Miles foi exemplar: "Eu faço o que eu quero." ---------------- Após este disco Miles Davis ficou 6 anos sumido. Voltou em 1981, mais POP, mais comportado, quase yuppie. Ao mesmo tempo começou a ressurreição de Agharta. Toda uma geração de punks, funks, avant garders elogiavam o esquecido disco de Davis. Os Beastie Boys sempre o citavam. David Byrne. Prince. Beck. E eu então o escuto num sábado. Ouço domingo. Ouço segunda. Ouço terça, ouço hoje. Ele é inesgotável. O melhor disco que ouvi na vida. -------------- Ele começa e eu me sacudo todo. Não posso parar. Transe. Hipnose. É funk. É jazz. É noise. É absurdo. E é simples. Miles disse que é o disco que ele ia gravar com Hendrix. Mas ele morreu. Então ele chama dois guitarristas: Peter Cosey e Reggie Lucas. Baixo, Michael Henderson. Batera, Al Foster. Percussão, Mtume. Sax é Sonny Fortune. Dizem que a plateia japonesa adorou. Aplaudiram por 15 minutos. Em 1975 só eles gostaram. Porque viram a coisa nascer na hora. ------- A bateria funkeia e o baixo vai junto. E o resto segue atrás. É um disco afro, a batida manda. É diabólico. O transe está presente por todo tempo. E Miles usa um equipamento eletrônico que produz ruídos, que distorce o trompete, que assombra e tempera tudo com cores de pesadelo. Dá medo. E é sexy. O duende desceu naquele palco e graças aos deuses isso foi gravado. O duende tomou Miles e Miles conduziu os músicos. Falam que ele os regia com os olhos. Cada olhar era uma nova mudança. Tocava de costas para a platéia. Sem agradecer aplausos, sem apresentar os músicos, sem estar ali. A guitarra de Cosey, um negro misterioso que sumiu na história, solando todo o tempo, vudu na tarde do Japão. O sax de Fortune, Coltrane solto, os timbres metálicos do synth sem teclas, botões que produzem fantasmas, o trompete que é angústia, morte, dor, sangue e orgulho. E eu? ------------- Eu ouço e no meio do disco me sinto na beira do abismo. Algo de Miles e de seu duende me é ofertado. Sinto que basta um passo para eu entrar no transe. O disco é como uma noite na selva sem possibilidade de manhã. ------------ O maior disco porque ele é Stravinski e é Duke Ellingoton. É Sly Stone e é Psicodélico. É Can e é Velvet. É negro ao máximo. É 1975 e é algo que não nasceu. Um aborto. Após este disco não haveria como Miles continuar. Morte ou mudança. Ele morreu 6 anos e depois mudou. De novo. Sim, um gênio. ----------------- Eu quero o escutar de novo. O carnaval de eletricidade dionisíaca. O duende me chamando outra vez. Ao mesmo tempo tenho medo. Pois há um perigo nele, a despersonalização de Dionísio. O disco é uma droga, um alucinógeno. E é pra dançar, porque toda arte quer ser música e toda música quer ser corpo. Eis o fato: ESTE DISCO É CORPO. CARNE E SANGUE. Não o ouça com a razão. Não o sinta no coração. Ele é carne sexual, carne que se come, canibal e assassino. Por isso seu perigo. Por isso sua enganosa monotonia. Pois ele é INSTINTO. E instinto É. Ele É. A hora e meia não é tempo é lugar. O disco não anda e não passa, ele permanece. É um momento imortal e imorrível. E eu posso o escutar eternamente. E falar dele pra sempre.

Weather Report - Live at Montreux (1976) [Remastered]

Weather Report - Birdland

WHEATER REPORT

NADA é mais anos 70 que o chamado jazz rock. Que na verdade nada tem de rock. É jazz elétrico. Jazz tipo jazz, com a única diferença de usar baixo elétrico e teclados eletrônicos. Isso faz com que o baixo seja muito mais forte. Além do que, nesse jazz tipo elétrico, o baterista pode tocar alto, bem alto. Por causa desse volume, puristas o chamaram de rock. Tolos não? Nada há de rock aqui. ------------- O Wheater Report era o mais respeitado dos grupos de jazz elétrico. Tinha Wayne Shorter no sax, e Shorter tocara anos com Miles. Havia ainda Joe Zanwill no teclado, que também era ex Miles. Mais Alex Acuña na batera e Jaco Pastorius no baixo. Todos são feras, mas a estrela logo se tornou Jaco. Em 1976 o cara mudou toda a história do contra baixo. Colocou o som grave lá em cima, o baixo passou a ser o centro do som. Mais do que Chris Squire no rock ou Bootsy Collins no funk, Jaco deu ao baixo absoluto protagonismo. Na mãos de Jaco, ele sola, é maestro, dá a harmonia e ainda repercute. É sim o maior baixista da história da música. Qualquer música. ----------------- Pastorius. como todo gênio, era esquisito. Se drogava muito e não tava nem aí pra nada. Morreu cedo, nos anos 80, na rua, quase como mendigo. Mendigo mesmo sendo famoso, muito famoso. Lembro que em 1981, na banda que eu tinha, meu baixista falava de Jaco como fosse ele um tipo de deus. ( a banda não podia ter dado certo....eu queria ser a versão masculina de Chrissie Hynde ). Todo baixo quando bem tocado é hipnótico. Nosso inconsciente o segue como rato atrás do cheiro de comida. Nossas mãos rebatem, nossos pés marcam o ritmo. Jaco nos subjuga. ---------------- Anos 70 eu disse. O jazz elétrico é mais anos 70 que o disco ou o rock progressivo porque ele traz a mente coisas que só os anos 70 tiveram. Dentre elas o hiper ego trip, as camisas floridas e a intelectualidade numa boa. Jazz elétrico é tudo isso. É som bonito transado numa nice. Por hoje eu estar amando quem toca bem, ter desenvolvido o prazer de ouvir, jazz elétrico caiu no meu gosto, pela primeira vez.

JOHN MCLAUGHLIN, ELECTRIC GUITARIST

De todos os grandes guitarristas nenhum tem sido mais esquecido pela moda que John McLaughlin. E eu não ficaria surpreso se voce, jovem, não o conhecesse. ( Esquecido apenas pela moda, pois os prêmios não param de cair em seu colo ). -------------- Jeff Beck, o guitar player dos guitar player, considera John o melhor de todos, vivos ou mortos. E noto no estilo de McLaughlin algo do que Jeff faz. Técnica, capacidade de fazer o que quiser, velocidade, timbre metálico, limites fleixíveis, prazer ao tocar. A diferença entre os dois é o blues. Jeff Beck jamais abriu mão completamente de seu começo de carreira. O blues está sempre perto de seu toque, mesmo que venha transformado em soul ou funky. Já John McLaughlin abandonou o rock, e com ele o blues, totalmente. O que ele toca desde 1970 é jazz, jazz rock, jazz pop, mas sempre jazz. --------------- John nasceu no interior da Inglaterra durante a guerra de 1940. No começo dos anos 60, companheiro de geração do trio Eric-Jimmy-Jeff, tocou blues com Jack Bruce e Ginger Baker. Mas não era sua praia. Enquanto seus companheiros partiam para o rock, as drogas e a fama, John partiu para o jazz. Fez nome no underground e para surpresa geral, Miles Davis o chamou. Ficou famoso. No começo dos anos 70 descobriu o budismo e foi rebatizado como Mahavishnu. Alcançou a fama mundial com a Mahavishnu Orquestra, grupo que tinha Billy Cobham na bateria e Jan Hammer nos teclados. É aí, na minha puberdade, 1976, que o conheço. McLaughlin tinha fama então, para rivalizar com Page ou Clapton. Mas seu interesse era a iluminação espiritual. E para ele, a luz vinha tocando sua guitarra de dois braços. ---------------- Era uma época sem internet e com LPs caros. Então eu lia sobre John, mas nunca tinha como o escutar. Até que em 1979 comprei um disco solo dele, este Electric Guitar, lançado em maio daquele ano por aqui ( é de 1978 ). Odiei. Não tinha vocais e na época era inviável eu gostar de música sem vocal. E era jazz. Me pareceu sem sentido, vazio, não possuia riffs, refrões, nada. Me livrei logo do disco. Troquei por revistas de mulher pelada. ------------------ Reescuto este disco hoje, 43 anos mais tarde. Não lembrava de nada, claro, mas sentia que poderia agora o apreciar. E foi o que aconteceu. John toca tão bem, é tão absurdo o que ele faz, que me posto fascinado. É como John Coltrane na guitarra. Milhões de notas por segundo. Ele faz o que deseja. ------------- Cada faixa, são sete, tem uma banda diferente com ele. Só feras. Quem mais se destaca é Tony Willians, o jovem batera de Miles e de Hancock na faixa 5, a suingada are you the one?, faixa que tem ainda o baixo de Jack Bruce. Na faixa seis Stanley Clarke faz miséria no baixo enquanto Chick Corea voa no teclado. Mas há mais, bem mais: Billy Cobham, Carlos Santana, Jack de Johnette, Alphonso Johnson e vasto e nobre etc. Sobre tudo soa a guitarra de Mclaughlin, dedilhada ou em wha wha, quase acústica ou pesada, lírica ou glacial. ---------------- Sem pudor algum, John fez sua carreira se desgrudar do mainstream e focou no jazz e nas experiências sonoras. Sempre penso nele ao lado de Robert Fripp, um guitarrista tão genial e tão indiferente à fama quanto John. Se nos anos 70 ninguém chegou nem perto da fama de Page e Clapton, McLaughlin e Fripp desenvolveram estilos e timbres únicos e com técnica perfeita. Jamais quiseram o trono de rei da guitarra. Estavam ocupados em tocar.

TIME OUT - DAVE BRUBECK ( E O ESTILO BRIAN ENO DE SER )

Jazz já foi mania minha. Passei um ano ouvindo jazz e só jazz. 1988. Eu procurava na música um tipo de elegância que não encontrava no pop. E Time Out foi, naquele ano, o primeiro disco de jazz que ouvi sem cessar. Durante dias e dias eu o escutava. Não me cansava dos acordes eruditos e cheios de molejo de Brubeck, o baixo infalível de Eugene Wright, o sax de timbre inesquecível do genial Paul Desmond e a bateria exata, matemática de Joe Morello. Era e é perfeito. Apesar do desgaste, é o disco de jazz que as pessoas que não gostam de jazz possuem, este disco é uma obra prima. É uma dessas gravações que definem o século XX. O século da gravação. ( Quem diria... ele é o único século de gravação, de fetiche por coleções de música gravada. De capas como arte. ) ----------------------- Do primeiro acorde, Blue Rondo a La Turk, ao úmtimo, é um LP perfeito. O groove está sempre lá, mas ele possui um rigor, uma exatidão clean que era novidade na época. Era 100% jazz, mas tinha a seriedade do erudito. Jamais mal humor, não confunda, Brubeck é divertido, leve, irônico, mas ele tem algo da partitura, do fazer perfeito, do não erro, ausência de acidentes. O famoso solo de bateria de Joe Morello demonstra isso. É, talvez, o mais famoso solo de bateria do século, mas é ao mesmo tempo um exemplo de solo que não é jazz. Não tem a fúria de Krupa, nem a pegada anarquista de Rich, é frio, belo, matemático. E por isso, histórico. Talvez seja meu solo mais amado em qualquer gênero, inclusive rock. ------------------- Já falei em outros posts que o timbre é aquilo que em música mais me interessa. E nisso sigo o que Brian Eno diz. Posso citar dezenas de exemplos de amores musicais meus que se devem ao timbre único. A voz de Lou Reed. A mixagem de certos discos de Bryan Ferry. A guitarra de J.J. Cale. A bateria de Ginger Baker. As produções de Eno sempre buscaram isso. Devo ou Talking Heads, Bowie ou Ultravox, ele tinha como objetivo dar a produção um timbre estranho, diferente, uma marca diferente. A partir do Coldplay a produção de Eno virou preguiça, mas mesmo neles há a bateria em timbre exaltado e a massa de teclados "gelados", marca registrada de Eno. ------------ Pois o sax de Paul Desmond é assim. Ele possui um timbre frio, limpo, apurado que é o refinamento máximo do que Lester Young fazia. O sax de Desmond arruma o mundo, coloca tudo no lugar, limpa a sujeira, toda sujeira. Não haveria Brubeck sem Desmond, é uma união perfeita. A magia deste LP é Paul Desmond. Ele faz seu sopro soar como uma estrela no espaço. Luz sinuosa, não reta, brilha como laser, é gelado e sem emoção, ou melhor: emoção sob controle. ùnico. E jamais cansativo. Um milagre.

PRÉLUDES VOLUME 1. CLAUDE DEBUSSY POR ARTURO BENEDETTI MICHELANGELI

Debussy chegou perto do segredo. Há um mistério na música que nunca iremos descobrir. Como se ela estivesse aqui antes. Fosse componente primeiro do que é o todo. Música que é colhida pelas pessoas, não criada. Como a luz ou o calor, ela está. Debussy intuiu isso sem precisar pensar, pois não se pensa o impensável. A música é a realidade básica. Debussy colhendo música. ------- Os Prelúdios são pequenas peças que exploram tudo aquilo que o piano pode dar. São ventos pianísticos. São névoas em teclas. Sol sobre as mãos. Ouvir é voltar à um mundo não perdido. Mundo hoje obscurecido, porém sempre presente, permanente para além de nós mesmos. Mundo de Claude Debussy, aquele de cristal, da luz sobre e entre o cristal, das vozes abafadas pelo veludo das cortinas e almofadas. ----------- Quando vejo essas novas fotos de Plutão, vermelho com nuances de azul turquesa, ouço no distante mundo a música de Debussy. Porque ela está lá e além de lá. E é esse o segredo de toda música. A digital da criação. A respiração do começo e do que será fim. ------------- Arturo Michelangeli é um dos dois grandes pianistas da Italia, o que não é pouco. Seu Debussy evita a armadilha do excesso de delicadeza. É um Debussy viril. Bravíssimo! --------- Como adendo eu percebo aqui o toque de Kind of Blue de Miles Davis. Eis o jazz impressionista modal. Bill Evans bebeu tudo daqui e Miles levou isso para seu sopro. Como eu disse, a música é um segredo e Miles também o intuiu.

O DISCO MAIS VENDIDO NA HISTÓRIA DO JAZZ....HERBIE HANCOCK, HEADHUNTERS

No folheto do cd, Herbie Hancock diz que foi ouvindo Thank You de Sly Stone que nasceu este disco. Após 13 anos tocando com seu sexteto, e com Miles Davis também, Herbie eletrifica seu som e lança, em 1973, este disco de jazz-funk. E claro que seus fãs puristas nunca o perdoaram por isso. ---------------- Interessante observar que 2022, a época da história que mais fala de diversidade, tem uma das trilhas sonoras menos diversificadas de todas. Claro que se voce for atrás voce achará músicas diversas. Basta procurar música do Qatar, da Etiópia, do México ou do Egito. Mas falo do mainstream, daquilo que vende, daquilo que será lembrado como o som de 2022. Sem preconceito, tudo soa parecido, quando não, igual. Basta assistir uma hora de MTV. Ou ouvir uma hora de rádio. Refrões que se parecem. Vozes que são idênticas. Batidas repetidas ao infinito. No mundo da diversidade, a música que vende nunca foi tão igual. ------------------- Ok, sou velho e falo como velho. So what? Em 1973, entre os 20 mais da Billboard havia hard rock, progressivo, funk, soul music, música POP hiper soft melosa, a pré disco da Philadelphia, country music, música de cinema, erudito, POP tradicional e esse tal de jazz-rock, que de rock nada tinha, era na verdade jazz-funk ou jazz elétrico. --------------- Jazz rock nasceu em 1970, com Bitches Brew de Miles Davis, disco gravado sob impacto do som de Jimi Hendrix. Depois veio Sly Stone e então a coisa pegou mais funky, mais groove. A lista de nomes é longa, John McLauglin, Jean-Luc Ponty, Jaco Pastorius, Jan Hammer, Spyro Gyra, Chick Corea, Stanley Clark, George Duke... a coisa veio pro Brasil: Sergio Mendes, Wagner Tiso, Azimuth, Hermeto... -------------- O que o diferencia do jazz é a amplificação. O som tem peso. O baixo tem muito maid destaque e a bateria é o centro do som. Todo bom disco de jazz rock tem um grande batera. É um dos estilos sonoros que mais marcaram sua época ( 1972-1979 ). O cinema usou muito. Não há filme cool que não tenha uma trilha sonora de jazz rock, geralmente de Lalo Schifrin ou de Quincy Jones. Aliás, até hoje filmes cool imitam esse som. A gente vê um cara planejando um roubo e já pensa num groove de jazz rock. David Holmes usa isso como nenhum outro. É um estilo que pega a elegância fria do jazz, mais soma à isso a malandragem do funk e a coisa teen do rock. Somando tudo dá um Steve McQueen ou um George Clooney. ------------------ Headhunters abre com Chameleon, um som hiper mega conhecido. Foi usado em centenas de comerciais ( Top Time...a loja do shopping Iguatemi que vende relógios ). Hoje seria uma trilha perfeita para filme de malandragem. Sempre será. Harvey Mason leva a batida na batera e Paul Jackson comanda no baixo. Bernie Maupin é o sax quase free. E Hebie usa piano elétrico, Moog, Oberheim, e tudo mais que tem teclas. Eu ouvi sábado passado numa loja. Comecei a balançar o quadril. Não tem como não balançar. Só se voce já morreu. Mas o resto do disco, são só 4 longas faixas, é tão bom quanto. Groove puro, é um dos discos mais influentes da história. ------------- Tem muita coisa chata no jazz rock. Ele propiciou que os egos perdessem freio. Solos sem sentido, chatos, repetitivos. Não é o caso aqui. Se voce quer conhecer o estilo ouça dois discos: este e Blow By Blow, de Jeff Beck. Não precisa mais nada.

Blue Monk, Thelonius Monk

THELONIOUS MONK E A IMPERFEIÇÃO

Pessoas imperfeitas. A inovação em arte nasce da imperfeição. Whitman fazia versos sem rima, sem metro e que dificilmente poderiam ser cantados. Sim, voce pode dizer que eram perfeitos a seu modo, mas de um ponto de vista formal eram imperfeitos, ou melhor, estavam fora do mundo formal, criavam seu próprio mundo e seu padrão. Gauguin pintava sem perspectiva, Proust não desenvolvia enredos. --------------- O jazz já nascera como imperrfeição. Quando voce escuta um trombone ou um trompete numa filarmônica e em seguida o escuta como tocado por Miles ou Paul Gonsalves, voce logo percebe que há algo de errado ali. Numa obra de Stravinski ou Haydn, o sopro é puro, sem sujeira, sem indefinição. A nota flui como uma flecha certeira. No jazz o sopro é sinuoso, áspero, sujo, indefinido, hesitante, roncador. --------------- Thelonious Monk não é um dos melhores pianistas do jazz. Não tem a velocidade de Bud Powell, nem a beleza de Bill Evans e muito menos a elegância de John Lewis. Mas Thelonious é um gênio, coisa que os outros não são. Tudo em Monk é errado. Ele toca com os dedos rígidos, duros, alongados, pulsos pesados, braços nada relaxados. Bate nas teclas, parece brigar com o piano. Imagino que seus dedos e pulsos doíam. A mão esquerda produz harmonias pobres e dissonantes. A direita não parece solar. Ela se atrasa, se adianta, nunca toca no momento que parece o mais correto. Pior, ele desafina. Notas que parecem pontos de interrogação. Mas, eis o milagre, ele vicia, ele tem segredos, instiga. ------------ Acompanhar Thelonious deve ser um imenso desafio. Pois ele muda o tempo, desarmoniza, erra, erra sem parar de errar e esses erros viram acertos, porque se tornam uma invenção, um estilo. São digitais de Monk. -------------- Um pianista técnico nos assombra e pode até comover, mas ele nunca se torna aquilo que toca. Ele interpreta. Já Thelonious Monk é o que toca. Cada erro é dele e só dele. Como Jimi Hendrix, outro gênio que passava longe da perfeição, Monk faz do erro um novo mundo e nos faz sentir que esse erro TINHA DE SER ASSIM. Sua mente e suas mãos, pesadas, pouco refinadas, moldam o barro seco de uma imagem de vida nova, de desafio, de liberdade. --------------- Gente como eles dá a ilusão de que todo iniciante exitante pode ser um executante de génio. Mas não é assim. Há um Monk, um Hendrix, um Gauguin. Eles não são preguiçosos que pouco praticaram. Não são inabilidosos. Eles são corajosos. Aventureiros. Se jogaram no mundo que criaram. São deles mesmos. Donos de sua arte. Inimitáveis e sem filhos.

MALCOLM MCLAREN - PARIS

No começo dos anos 90, ser chique era escutar coisas como Galliano, Incognito, Brand New Heavies, Swing Out Sister e principalmente Soul II Soul. Chamavam de acid jazz ou de new jazz, mas de jazz tinha nada e de acid pouco se sabe. Eu ouvia muito. Era minha praia. Uma doce mistura de soul music tipo Cutis Mayfield com rap e Barry White. Tudo com um banho de teclados moderninhos e baterias digitais. PARIS de Malcolm McLaren é o disco em que o "famoso por ser famoso" tenta se dar bem no estilo ultra plus chic. Se deu mal. O disco não vendeu e a crítica ignorou. ------- São duas horas de som. CD duplo. Duas absurdas, pretensiosas, longas horas. As letras são primárias. Mas servem pra uma coisa: nos lembrar de como todos nós eramos tolos em 1988 ou no caso, 1994. ------------ Mc Laren narra sobre as músicas. Ele conta, em seu modo mais narcisistico, sua vida em relação a Paris. Desde sua meninice, em que ele já sonhava com a cidade, até os anos 90, em que ele anda pelas ruas e se sente feliz. A tolice nasce desse amor bobo. Paris descrita como a cidade dos filósofos, Beauvoir, Grecco, BB, jazz etc etc etc. Chavões. Clichés. O pior dos anos 80: citar nomes como se fossem um tipo de reza. Exalar erudição de bula. McLaren não esquece nem de exaltar a sua roupa preta. So What? ---------- Ele ama Paris porque ele se vê nela. Nos anos 80 todo cara chique era assim. A gente era pretensioso pacas. E tinha a certeza de ser especial. Só porque, como faz McLaren, conhecermos Cocteau e Satie. ------------ Por outro lado: o som é bom. A música é uma soul music interessante e gostosa. Macia e suave. Mas, QUE COISA, a voz de Malcolm incomoda. Para narrar histórias e sentimentos sobre uma base sonora, o cara precisa ter uma voz sugestiva. Ser um Lou Reed, um Leonard Cohen, um Paolo Conte. A voz deve conter autoridade, história e ser instigante. De preferência timbre grave, rouco, potente. Pois bem, a voz de Malcolm parece a de um pato sem vitaminas. É fraca, é juvenil, é boba. Soa como a voz de uma pessoa burra. Isso é imperdoável. ----------------------------- Malcolm McLaren foi um dos primeiros caras a ser famoso por ser famoso. Ele era um empresário atrapalhado, um dono de loja sem função e depois um músico sem música. DUCK ROCK de 1982 foi um grande disco. Ele teve a esperteza de usar RAP e música africana antes de virarem mainstream. Depois não fez mais nada de valor real. ( Não vou falar do modo como ele fodeu os Sex Pistols....voce já sabe disso não é? ). ------------ Dos vários pecados de PARIS, este disco, a pior é botar numa faixa o nome de MILES DAVIS e ouvirmos um trompete que soa como....Clifford Brown. Miles tocando hot e não cool é como Bowie cantando RAP. Nada a ver. Qual a intenção? O solo é o mais anti Miles possível. Há mais, uma faixa chamada Satie que tem um monte de som. E Catherine Deneuve narrando uma coisa qualquer. A versão de Je Taime, do Serge é medíocre. Aliás, eis um cara com voz interessante: Gainsbourg. ------ Mesmo assim o disco é divertido. Dá pra ouvir comendo morangos. Bebendo Pastis. Carregando uma baguete no sovaco. Moral da história: SEMPRE DESCONFIE DE UM INGLÊS QUE DIZ AMAR A FRANÇA.

JAZZ NO CINEMA

Andei revendo alguns filmes sobre jazz. Minha conclusão? Jazz e cinema, por incrível que pareça, não combinam. -------------- Voce sabe, tanto Bird de Clint Eastwood, como Round Midnight, de Tavernier, são muito insatisfatórios. Até mesmo chatos. Já as bios de Chet Baker e de Miles são apenas isso: mais bios dos anos 2000. Filmes pequenos, mega saudosistas, cheios de tiques cool e que passam longe do segredo da alma do jazz. Chet no filme é nada mais que um junkie beeeem triste e Miles um viciadinho nervoso. Jazz? Onde? -------------- Paris Blues, dirigido pelo bonzinho e muito PC Martin Ritt é uma das coisas mais bobas e idiotas já feitas sobre qualquer tema musical. Paul Newman está péssimo como nunca fazendo um trompetista e tudo no filme exala fake ao cubo. Imagina um cara rico tentando parecer um pobre francês. É o estilo que o filme passa. Logo na primeira cena a gente sente a ruindade: todos os clichès sobre a França e o jazz jogados em 3 minutos de ação. Martin Ritt sempre foi um diretor bonzinho demais, democrata demais, compreensivo demais, e aqui ele atinge seu auge. Newman, ator que adoro, como jazzman parece um modelo barato de anúncio de Pernot. Lixo insuportável! ------------ Revi também O HOMEM COM O BRAÇO DE OURO. Quem dirige é o muito famoso e poderoso Otto Preminger. Otto só fazia filmes bons quando tinha um roteiro impossível de ser estragado. Isso porque Preminger desconhece o que seja leveza e ritmo. Este filme parece ser sobre jazz, ou sobre drogas, mas na verdade é sobre um casamento ruim. Uma pena...Sinatra está excelente e foram filmes como este que o fizeram perder o tesão por atuar. ---------------------- YOUNG MAN WITH A HORN é bem divertido. Kirk Douglas é um desajustado que se redime apenas quando toca seu pistão. Mas há um problema grave aqui: quando Lauren Bacall entra no filme. O personagem é tão falso, artificial, fala de um modo tão canastrão que é impossível crer naquela paixão de araque. Mesmo assim, como filme sem compromisso é okay. Mas esqueça o jazz. Michael Curtiz de Casablanca e Robin Hood dirigiu ao seu modo habitual: bem. E sem paixão. ---------------------- Jazz no cinema voce encontra quando o filme não é sobre jazz mas usa jazz em algumas cenas. Então nessas poucas cenas voce sente a presença da coisa real. Tipo o filme sobre boxe, outra vez Paul Newman, onde ele é Rocky Graziano. O filme nada fala sobre música ou drogas, mas em todas as cenas no ringue a gente sente o ritmo e o estilo da música dos anos 50. Talvez porque quem dirigiu foi Robert Wise, e Wise entendia de ritmo, de edição e de swingue. É um grande, grande filme. ------------------- Aliás filmes sobre boxe costumam ser jazzy. Assim como o filme sobre a midia que vi recentemente, aquele com Tony Curtis e Lancaster, totalmente noturno, nova iorquino, hiper jazz. Há jazz também, do bom, em algumas cenas de alguns musicais. Inclusive em All That Jazz e na cena com Cyd Charisse em CANTANDO NA CHUVA, uma cena que ensina muita gente sobre o que é jazz. Portanto, se voce quer ver jazz na tela, fuja de filmes que prometem ser sobre jazz e vá naqueles que foram escritos sob efeito do jazz. Thats all.

THE BIRTH OF COOL - MILES DAVIS ( E UM CERTO PILOTO )

Em 1949 foi lançado um disco de Miles Davis chamado O Nascimento do Cool. Nesse disco, Miles se unia à galera da costa oeste e gravava aquilo que seria chamado de cool jazz. É o primeiro uso popular do adjetivo cool. Até então Jazz era Hot. Charlie Parker e Dizzy, ambiente onde Miles surgiu, era hot. Count Basie era hot. Hot é grito. Hot é exibir fôlego nos solos. Hot é dar seu máximo todo o tempo. Hot é fazer força. Assim fica mais fácil definir cool. É o contrário do hot. Economizar. Nunca dar o máximo. Ameaçar ir longe e se conter. No hot voce transpira. No cool voce não amassa a roupa. Ficou fácil definir o cool agora...Duke Ellington já era cool antes do cool. Vejo numa revista inglesa uma lista dos esportistas mais cool do século XX. Imaginei Bjorn Borg em primeiro. Ele jogava tênis sem jamais emitir grito. Nunca perdia a calma. Imaginei que poderia ser algum piloto tipo James Hunt ou Gilles Villeneuve, esportistas que pareciam não ligar em perder ou ganhar. Mas sabe quem venceu? Pelé. Nosso tão mal amado Pelé. Por que venceu? Por conseguir tudo sem nunca parecer fazer força. Por jamais ser visto mal vestido, bêbado ou gritando com a imprensa. Por vencer tudo como se tudo fosse nada. Não se esqueça. Chuck Yeager, lendário piloto, quebrava recordes de velocidade toda manhã. Após mais uma quase morte, ele ia a seu café favorito e dizia: Manhã normal. Fui lá e quebrei mais um recorde...os Yankees venceram ontem? Ser cool é acima de tudo pouco ligar pra nada. Principalmente a seus próprios feitos.