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ELEIÇÃO

   Estudando na USP, um dos centros da esquerda mais retrógada do país ( lá ainda se fala em proletariado e campesinato ), me tornei um conservador sem qualquer problema de consciência. O mesmo ocorreu no país em tantos anos de ataque aos valores comuns. São ataques diários à igreja, à masculinidade, à família tradicional, ao passado. Ao ser atacado voce tem a possibilidade de duas reações: baixar a cabeça e se culpar, ou erguer a cabeça e reafirmar aquilo que voce é. A esquerda deslumbrada não entendeu e não quer entender isso. Bater no conservadorismo não faz com que ele desapareça. Ao contrário, ele se torna furioso. E deixa assim de ser conservador. Vira proto-fascismo.
   Não falarei sobre o partido dos mentirosos e dos ladrões. Não há o que dizer sobre um partido que nos obriga a escutar a voz de um bêbado presidiário mendigando votos na TV. Falarei sobre o fenômeno de um homem tosco, que contra toda a elite "inteligente" fez de um partido de garagem um partido poderoso. Ele lembra o fascismo por ter o domínio sobre a massa de seguidores frustrados e rancorosos. Isso é perigoso. Mas ele não é um fascista de verdade. Aliás nestes tempos de hiper vigilância e hiper conectividade não há como o fascismo se implantar em um país razoavelmente civilizado. Lula tentou um fascismo de esquerda e se deu muito mal. A vigilância o pegou. Bolsonaro nunca conseguiria. E sei que ele sabe. Lula é muito mais esperto que o simplório ex soldado.
  Se vencer, Bolsonaro tentará fazer um governo moralista e liberal. Moralista em comportamento, liberal no mercado. Para negociar com os países capitalistas de ponta, e esse é seu sonho, terá de se apresentar como moderninho e confiável. Ele sabe disso. Não há escolha.
  Provável que a turma mais hardcore que o elege se sinta traída. O mesmo ocorreu com o PT hardcore. Fundarão um partido à direita de Bolsonaro. Um PSOL de camisas pretas. O que acho interessante em Bolsonaro é que ele fala muita bobagem mas nunca parece mentir. Teria ainda mais votos se mantivesse a boca fechada. Ou aprendesse com Lula a falar o que o público da vez deseja escutar. E isso entendo bem porque sou assim também, desbocado e tosco. O diabinho me faz falar tudo que vem à mente. E quando vejo o estrago foi feito. Um político conseguir milhões de votos falando por impulso é admirável. Não posso e não vou negar.
  Você que me lê deve estar estranhando algo aqui. Parece que só elogio o Coiso. Não. Apenas o olho como o que ele é: humano. Seu governo tem tudo para ser um kaos. Mas o do PT também o será. Com o adendo de ter empáfia e revanchismo. Os petistas babam por vingança.
  Bolsonaro tem muito de Jânio Quadros. E se for eleito será vigiado por uma esquerda louca por sangue. Se seu governo naufragar, Boulos aguarda sua vez. A guinada será à esquerda mais utópica e irresponsável. Espero que seus assessores saibam disso.
  O povo, esse desconhecido, cansou de "folias artísticas", declarações modernetes e roubos à granel. O povo é moralista. Em qualquer canto do planeta ele é. O PT acreditou em certo momento que o Brasil era o baixo Leblon. Que bastava um discurso libertário para ter seus erros perdoados. Não é assim. Para o povo comum, o discurso libertário acrescentou cinismo à história. Perderam o respeito. Não notaram que formadores de opinião só formam opinião de formadores de opinião. Círculo fechado.
  O Mané garçon não quer saber de liberação de drogas, casamento gay ou direito animal. Ele quer respeito à sua igreja, á sua filha e ao seu pai. Bolsonaro sabe disso. Lula sabia e esqueceu. E isso faz uma enorme diferença.

SOBRE O TAL MUSEU E SOBRE A HISTÓRIA DO BRASIL

   Trabalho com educação. E amo meu trabalho. Compreendo os alunos, todos eles. Não me misturo com professores. Alunos são ainda indivíduos, professores, salvo raras coragens, são grupo comandado. O museu pegou fogo e veio abaixo. Nada mais óbvio. Sendo acidente, é um ato falho perfeito. Sendo crime premeditado, é de uma lógica perfeita. Por que?
   Um bando de brancos assassinos vem ao Brasil para matar índios e destruir o paraíso. Depois, esses mesmos monstros escravizam negros. Daí vem a ditadura militar de 64 e enfim surge Lula, nascido em meio ao povo. Esse é o modo como se conta a história do Brasil hoje. Não há amor ao passado que aguente tal narrativa. É dada a ideia de que se deve zerar todo o país até 2003. Só então começa a verdadeira história do real país. Crime hediondo contra uma história cheia de dubiedades e de erros e acertos. Perto desse modo de reduzir a história, queimar um museu faz todo sentido.
   Se diz que somos índios e negros. Talvez sejamos. Mas há quem não o seja. Esses têm duas escolhas apenas: Fingir ser tupi ou se envergonhar. Nessa equação não há lugar para um imigrante europeu ou asiático. Ele deve se reconhecer como filho de um explorador. E se ajoelhar no altar da culpa. Eu falo palavras indígenas e ouço música de preto. Sou tropicalmente indolente. Como feijão. Mas também falo uma língua europeia descendente do latim. Cresci em cultura moldada pela renascença, pelo cristianismo e pelo iluminismo. Conheço escrita, matemática, cinema e melodias românticas. Mas faz de conta que sou africano e guarani. Eis a cultura do fake. Sou uma complexa mistura de gregos, tupis, iorubas, portugueses, romanos, yankees, ingleses, romanos, árabes, indianos, russos e alemães. E adoro a cultura britânica. Mas faz de conta que não. Sou apenas um brasileiro. E sendo brasileiro, sou negro e índio. E se me reconheço como filho de europeus, sou um boçal.
   Foi de uma mediocridade hilária ver postagens comemorando o incêndio do museu. Diziam ser o fim merecido de uma cultura burguesa e escravocrata. Esses pobres idiotas me lembram aqueles filhos mimados de pais odiados. Recebem educação dos pais e depois usam essa educação mal absorvida para negar a própria família. Fiz muito isso. Sei do que falo. A vergonha simplista das origens faz com que um cara se torne o mais imbecil dos seres. Ele mutila a própria raiz. Imagina raízes mortas e podres. Ser um humano inteiro é compreender e aceitar sua história. Entender que o homem do século XIX não era apenas um escravocrata. Era muito mais que isso. Assim como não somos apenas matadores de animais que apertam teclas e assistem filmes pornô. Perceber que índios foram mortos, mas que os marujos faziam apenas seu trabalho e que tiveram uma coragem de gigantes.
  A história do mundo é uma história de guerra. Uma luta pelo poder. O mais forte vence. O mais fraco tenta sobreviver e se fortalecer. Dentro disso há a bela saga da ciência, da arte, dos homens e mulheres mais inteligentes e mais criativos. Negar a crueldade e a beleza dessa história é querer transformar todos em crianças, ou pior, em bichos. O ser adulto sabe que o mundo é duro. Injusto e desafiante. Sempre foi. Sempre será. Nunca houve um paraíso de índios. Eles guerreavam entre si todo o tempo. Torturavam. Estupravam. Nunca houve uma alegre vida africana. Eles viviam em guerra. E os escravos eram capturados nessas guerras. A escravidão sempre existiu em toda cultura humana. E, pasmem!, foi o cristianismo quem primeiro lutou contra ela.
  Não digo que devemos nos conformar com o mal. Lutamos contra ele dia  a dia. Mas devemos saber que ele sempre existiu, existe e existirá. O mal maior é quando acreditamos em sua fraqueza. Reduzir a história a "tempos do mal" e "tempos do bem" é dar trégua à maldade.
  O museu caiu.
  

DENER - DENER PAMPLONA ABREU. O CHIC DE UM TEMPO REAL.

   Eu vi meus caros, eu estava lá. Quando voce olha uma foto, hoje, de 1970, talvez voce veja apenas costeletas longas, calças justas demais ou camisas com estampas exageradas. Mas por detrás de tudo isso, perceba, havia um genuíno desejo por elegância. Crianças, mesmo as de escola pública, não podiam estudar sem o uniforme. E uniforme era uma roupa que se ocupava de camisa, calça, meia e sapato; não era apenas uma camiseta com símbolo da escola. ( As meninas mais ainda, a saia tinha de ser com pregas ).
  Recordo que os empregados de meu pai, simples balconistas de bar, recém chegados do Paraná e da Paraíba, ficavam horas no vestiário antes de ir embora do trabalho. Banho, calça passada, camisa de manga comprida e uma montanha de perfume. Só então eles iam pra rua. A vaidade se exibia em roupa, hoje ela se exibe em carne e pelo. ( Nossa vaidade atual é a vaidade do corpo malhado e do cabelo em corte diferente. Uma vaidade pelada. Sem arte, a vaidade do guerreiro ou do prostituto. )
  A costureira ia em casa quatro vezes por mês. As roupas da minha mãe, mesmo as compradas feitas ( pret a porter ), era ajustadas por uma profissional. E tudo tinha forro. Engraçado, a arte do forro é uma arte perdida. O forro era o luxo que ninguém via, apenas sentia na pele. Neste mundo todo pra fora, exposto, morreu o forro. Mas vamos ao Dener...
  Antes de Dener gente muito rica comprava tudo na Europa. Com Dener eles passaram a comprar Dener. Nascido rico, no Pará, Dener vendeu sua moda vendendo sua frescura. Ele mesmo fala isso. Seu jeito fresco de ser vendeu a ideia de moda ultra chique no Brasil. E como ele era fresco!!! Coisa que ele não fala, o livro foi escrito em 1972, minha edição é a da Cosac de 2005, é que ele foi o primeiro gay brasileiro querido por donas de casa e crianças. Graças a Flavio Cavalcanti, que tinha um programa de TV, na Tupi, domingo a noite, audiência gigante, Dener era jurado, e lá ele se tornou mega estrela. Fãs esperando na rua, no aeroporto. Eu era criança e lembro. Muito antes de Ney Matogrosso, Dener foi o primeiro gay a entrar nos lares tupis. Eu o via e não sabia o que achar. Aquele moço tão frágil, magro demais, tão romanticamente vestido, sedas e lenços, babados, tão vaidoso, tão ferino, e bonito, sim bonito. Mas eu sabia que havia algo de secreto nele, Criança sabe. E fica encafifada.
  O ateliê de Dener era na Paulista. Uma esquina onde depois foi um McDonalds. Quem tem menos de 50 anos não sabe o que foi o chique paulista. No Mackenzie ainda peguei o fim desse tempo. Gente que nunca havia pego um ônibus. Que não sabia entrar em um banco. Que jamais havia pago uma conta. Sim porque a principal característica do chique é viver no mundo da Lua. São distraídos, pouco práticos, o tipo que não percebe um incêndio no vizinho. O tipo que não sabe apertar botão de elevador. Os outros fazem tudo por ele. Meu amigo Leandro Cunha Bastos, minha amiga Claudia Lindolfo Daher, amigos do Mackenzie, nunca pensaram nem em aprender a dirigir. O chauffeur os conduzia. E como todo chique, não tinham nome, tinham nomes e um apelido gracinha: Lelê e Clau.
   Dener diz que a utilidade do chique é ensinar as classes pobres o que significa ser civilizado. Exemplo. Acredito que sim. Essa é a única utilidade da realeza inglesa desde 1688. Hoje nossos modelos são algum cantor sertanejo e alguma cantora da Bahia. Em 1970 os modelos não eram os Mayrinck ou os Campos, mas Pelé e Roberto Carlos, os modelos de então, pegavam como moldes esses chiques de verdade e os passavam para nós, simples aspirantes. Veja uma foto de Pelé em 1967 ou de RC em 1968. Há informação naquele visual. À partir de 1978 a coisa se degringola.
  Último toque: não leia este livro se voce tem menos de 40 anos. Dener elogia o regime militar. Se voce não tem alguma lembrança da época não vai aceitar isso. De jeito nenhum.

O BRASIL DE 2018 E A ARTE DO SÉCULO XX

   A mania por ideologia que o Brasil vive hoje, uma mistura pesada e rancorosa de politicamente correto, esquerdismo mofado e direitismo de fantasia, me fez, afinal, perceber algo que sempre ocorreu durante todo o século XX: o viés ideológico em toda forma de crítica artística.
  Sim, foi ingenuidade minha, mas crescendo em um país sob censura dura, os críticos de arte não podiam dar nome aos bois, e então atacavam Howard Hawks por exemplo, sem dizer o porquê de tal esnobada. No fim do século, nas décadas de 80 e 90, essa patrulha ideológica arrefeceu, mas agora, na segunda década do século XXI, ela tem voltado. Dessa vez travestida de feminismo, ecologia e de "igualitarismo".
  Hoje há um movimento que volta a desvalorizar os filmes de Sam Peckimpah, de John Ford ou de Clint Eastwood. Dentre muitos outros. São os mesmos que eram preteridos em 1970 em favor de Antonioni, Pasolini ou de Welles. Hoje eu sei que se amava tanto esses diretores ( e Godard, e Cassavetes, e Rosselini, e Varda ) , por serem todos eles anticapitalistas, quando não comunistas assumidos. Nesse mundo patrulhado, Frank Capra era taxado de fascista, e apesar desses críticos gostarem de seus filmes, Capra era sempre considerado um "artista menor".
  A lista de diretores e atores desvalorizados por não serem de esquerda é imensa. Vai de Ford e Hawks à Malle, Chabrol, Clouzot, Bresson e Carné. Muito da "genialidade" de Chaplin se deve ao fato dele ser do PC. Buster Keaton, tão genial como ele, era visto apenas como um americano alienado. Brando era maior que qualquer outro por ser visto como um antiamericano. ( Ele era mesmo? ).
  Muitos foram hiper valorizados por esse perfil PC. Picasso, claro que genial em qualquer tom, foi colocado acima de Matisse ( que seria apenas um burguês colorido ), quando na verdade os dois são do mesmo patamar. Não pense que o status de Frida Kahlo se deve apenas à sua pintura.
  Percebo então, com certo aturdimento, um óbvio que demorou muito a me atingir, a de que a crítica e o valor em toda a arte é muitas vezes poluído pela opinião política. Um artista de direita, como Eliot ou Yeats, tem de ter uma genialidade imensa para poder ser aceito por um crítico de esquerda. Para esse crítico, Sartre sempre parecerá maior que Camus e Genet será mais considerado que Saint-Exupéry.
  Tenho amigos que não conseguem mais ver um filme com John Wayne. Para eles, que antes o assistiam com amor, ele é hoje o símbolo do mal. Em sua mente Wayne é um Trump no faroeste.
  Tenho a certeza que se vivo, Nelson Rodrigues e Paulo Francis seriam atacados o tempo todo, sem parar, e seu valor seria diminuído ao burlesco.
  Uma pena.

CHEGA DE ROMANTICOS!

   Meu coração é romântico, mas meu cérebro é do século XVIII.
Vejo imigrantes venezuelanos entrando no Brasil. Fico triste em assistir mais um dos vários desastres nascidos do romantismo. O gigantesco EU de um líder "sonhador" levou mais uma vez um povo ao desastre. O romantismo, ideia que crê na força do sonho, do ego, da coragem destemida, da força da vontade, perde, mais uma vez, seus seguidores. Mas não seus líderes. "Pensadores" encontrarão milhões de desculpas, e o culpado será sempre o "frio pragmatismo do mundo real". Bullshit! O romantismo sabe e deve lidar com o coração, mas nunca com a razão, com as coisas do mundo real, o mundo do estômago. Poetas e filósofos são péssimos administradores.
  O chavismo foi mais uma versão, das mais fuleiras, do sonho no poder. Essa ideia de que basta querer para poder, é uma desvirtuação do idealismo alemão. Esse idealismo dá sempre na mesma lama, um líder tresloucado indo atrás de um arco-íris de felicidade. E levando consigo uma população inocente, rota, faminta, que ergue as mãos e abraça o ego imoral desse líder poeta-sem-poesia. De Napoleão à Fidel, de Trotsky à Hitler, todos venderam um Novo Mundo Ideal, o sonho de um recomeço, o sonho romântico de uma história pura e inocente. Sem os porcos mercadores. Sem os bancos hipócritas. Sem as fronteiras burguesas.
  No iluminismo do século XVIII acreditava-se na razão como força impessoal. O mundo é o que é, e compete ao homem o conhecer e o compreender. Não há fronteiras para o comércio e para o saber. Não precisamos de grandes líderes, precisamos de grandes ideias que funcionem.
  Estou lendo um livro delicioso sobre Alexander von Humboldt, um homem que foi romântico antes do romantismo e que voltou à razão quando o mundo enlouqueceu no romantismo. A América Latina, lugar que Humboldt amava acima de todos, desde 1820, com as revoluções românticas de Simon Bolivar, teve gravado em seu DNA essa fantasia de um ego salvador. Agora somos obrigados a socorrer os refugiados, inocentes que só querem paz e comida. Somos obrigados a ouvir cínicos a dizer, mais uma vez, que a culpa é do sistema impessoal do capitalismo hiper desumano. Chega dessa besteira toda! Precisamos de gente discreta, gente racional, gente que sabe o que a vida, sólida e prática, é. Estamos cheios de sonhadores.

AVENIDA PAULISTA - JOÃO PEREIRA COUTINHO ( E JUCA CHAVES )

   Pego num sebo um livro que reúne crônicas de Coutinho escritas entre 2005 e 2008. O autor tem belo estilo: leve. E belo pensamento: conservador na tradição de Burke, que ele cita. Coutinho em nada se parece com Paulo Francis, mas o seu gosto estético recorda muito o do mestre mais velho. Ler Coutinho é adentrar o mundo do bom gosto e mais que isso entender que sem bom gosto não existe vida que valha a pena ser vivida.
  Assim ele fala de Scruton e ainda de Nelson Rodrigues, de pintura, de Woody Allen, de nazismo, da revolução francesa, do futebol, de mulheres e ao final de SP. Leitura de verão, boa e nunca tola. Coutinho é muito mais sério do que deixa se entrever. Sabe onde a Europa se rebaixa e porque os EUA salvam. Seu texto sobre a Estátua da Liberdade é o melhor entre todos. Nossa ingratidão ao ideal americano é a ingratidão do mendigo ressentido pela esmola que recebe.
  Somos todos ressentidos. Nietzsche acertou o sintoma mas errou o motivo. Não suportamos a alegria. Dos outros.
  Falo agora de Juca Chaves. Ele foi tão famoso quanto RC ou Chacrinha. E um país que produz e conhece Juca, o Juquinha, é um país nem de todo condenado. Seu humor é fino, cristalino e o modo como ele sente a mulher e a política é o mais fora de moda possível. Por isso, é superior. Ele se diz um menestrel. E como figura medieval, perdeu seu lugar no mundo de funkeiros e sertanejos óbvios. Imaginas Juca chamar sua musa de vadia ou piranha, imaginar Juca chorar a dor de ser corno, sem humor, é tão impossível como pensar na esquerda usando a ironia para falar de politica. O Brasil que deu voz a uma figura como essa era país com chance de futuro. Hoje tudo que nos resta é a chance de voltar ao começo.
  PS: Juca é o Kevin Ayers brasileiro e carioca da gema.

A VIAGEM DO BEAGLE - JAMES TAYLOR

   Mas que decepção! James Taylor, curador de museus náuticos e científicos, não consegue criar empatia mesmo com assunto tão magnífico. O tema é o Beagle, o mítico navio que transportou Charles Darwin em sua viagem rumo às Galápagos e além. O personagem central não é o cientista inglês, mas sim o esquivo comandante do navio, o capitão Fitzroy. É graças a ele que Darwin é convidado a participar da viagem.
  O livro conta a construção do Beagle, seu design. Depois fala sobre Fitzroy, homem que gastou sua fortuna para o bem da ciência. Darwin, de quem não precisamos falar. E até os marujos são apresentados em capítulo só deles. O livro é bonito, aquarelas, fotos e desenhos da época, retratos, mapas. O papel imita papel antigo, a capa é dura, ampla. E digo que não é um livro ruim, é decepcionante diante de seu tema, um dos mais fascinantes possíveis.
 Vale destacar o comentário de Darwin sobre o Brasil: "Um país belíssimo, fascinante, mas o povo...rude, vaidoso, indolente, ineficiente..."

COISA NOSSA.

   Nem a guerra do Paraguai nos uniu. Brasileiros jamais se uniram pelo amor. Seja amor á vitória, seja amor a uma causa. Mas o ódio nos une. Hoje estamos unidos em dois blocos, um sentindo ódio pelo outro. É uma forma inferior de união.
   Brasileiro desconhecem a palavra beleza. É como se olhar para uma coisa com prazer fosse proibido. Olhamos para uma mulher querendo sexo. Para um automóvel pensando em seu valor financeiro. Uma casa vale por seu tamanho ou seu status. Ruas são vias de comunicação e paisagens redutos de fuga. A beleza, que antes tinha residência na música, um milagre, a muito deixou nossos ouvidos.
  A natureza abomina a linha reta. Essa frase, linda, é de um nobre inglês do século XVIII. E realmente, na natureza inexiste a linha reta. Ela ama a curva, o arabesco, o labirinto, o desenrolar. Mas, óbvio, a França logo discordou e fez do homem o guardião da reta. Pensamento reto e arquitetura de Le Corbusier. Que deu em Niemeyer, o ditador do feio. Deu no que deu. Com muito custo nossos arquitetos aceitam o barroco português, não ousam confessar seu desprezo por Aleijadinho e pelas igrejas antigas. Mas destroem o que conseguem tocar, e transformam o país da curva, da praia, da bunda, em nação do concreto liso e reto, do vidro frio e da construção sem conforto.
  Por fim, esqueçam o Brasil. Tivemos nossa chance. É tarde. Nascemos para feder.

MEU PRIMEIRO DISCO

   Fazia um calor africano. As cigarras cantavam alto e o capim seco estava imóvel. Fui pra casa almoçar, era uma da tarde e eu tinha 7 anos de idade. Em casa havia um certo rebuliço. Meu tio João tinha acabado de sair e deixara para nós uma coisa chamada LP. Na minha cabeça cheia de pipas e de lagoas, eu imaginei um violão. Estranho isso, mas foi o que pensei, e assim fiquei decepcionado quando vi que era um disco. Enquanto minha mãe terminava o almoço eu e meu irmão ficamos na sala ouvindo o tal disco. E isso se repetiria por semanas e semanas. Minha mãe descobrira que uma forma ótima de fazer com que eu e meu irmão sossegássemos era deixar o LP rolar.
  Gosto de pensar e falar que minha mente musical foi impregnada na infância com canções como Help, Lady Jane, These Boots Are Made for Walking, A Whiter Shade of Pale, I'm a Believer e To Sir With Love. Mas devo dizer que meu primeiro disco, totalmente decorado aos 7 anos, foi Em Ritmo de Aventura. Eu cantava as letras junto com o disco. Aprendi, mesmo às vezes não entendendo direito do que ele falava. A guitarra arranhada, a flauta doce, o órgão agudo, e principalmente o excelente contrabaixo rítmico se enfurnaram na minha cabeça. " O Cara que Tinha a Minha Cara" era minha favorita. 'Quando voce se separou de Mim" é a melhor. E ao escutar ele outra vez, hoje, mais de 40 anos depois, posso destacar sua ingênua beleza. E sua breguice encantadora.
  O disco foi feito para um país que ainda guardava nas botas a terra do mundo rural. A cidade era uma novidade, como era o carro, a TV, o rock e a língua inglesa. Era o fim do mundo do rádio, do francês e da lotação. As letras nesse contexto, são "singelas". Encanta hoje o modo galante, delicado como a mulher é tratada nas letras. Ela é uma princesa, ele é um príncipe. As rimas são pobres, os temas são todos sobre o amor, o cantor sofre muito, a menina é indiferente, ele espera, ela partiu. Mas isso tudo é dito com delicadeza, uma chuva de suavidade fofa, um zero de cinismo. Ele acredita no amor, realmente acredita. Mais que tudo: ele crê NELA.
  A mulher comanda o sentimento. O homem obedece.
  Musicalmente há muito daquilo que nos anos 70 viraria "o Brega". Amado Batista, Waldick Soriano, Altemar Dutra, todos usaram a guitarra rítmica e o órgão agudo que abunda aqui. Mas neste disco, de 1967, há algo que no brega não há, um contrabaixo dançante e arranjos de metais e de cordas que são econômicos, exatos, pensados. Sim, é um disco brega como brega é Tom Jones ou Neil Diamond; a realeza do brega, aquilo que o brega tenta ser e nunca pode ser por ser mera diluição. E digamos a verdade, não há uma frase neste disco que eu não tenha vivido com paixão. Nossas emoções quando purificadas são todas bregas. Amo e não sou amado. Quero e não posso ter.
  "Olha" é filha direta de As Tears Goes By dos Stones. Lá está o cravo, os violinos, a doçura de inverno e o nobre servindo sua dama. É ainda linda. Assim como linda é a pulsação de "Quando voce se Separou de Mim". O disco se ouve com prazer. Absurdo pensar nos top 10 discos do Brasil e não colocar um RC.
  E tem a voz. RC jogou fora seu dom quando quis ser Julio Iglesias. Ou ousou pensar ser o Sinatra do Brasil. Grande orquestra, grandes canções, era isso que ele queria. Não deu certo. Em 1967 sua voz convence, ela é clara, sincera, perfeita, exata. O controle é absoluto. Ele nunca exagera, nunca fica frio, nunca explode. É a voz do amor "made in Brasil", um pouco acanhado, muito adocicado, cheio de promessas, encantador. E cristalino.
  É um bonito disco.

OLIMPÍADAS DE 2016. NADA DE NOVO NO PAÍS DO FUTURO.

   Brasileiro não gosta de esporte. Ele gosta de torcer. Não apreciamos o esporte, e por isso, não suportamos atletismo. No atletismo todos são colegas e não rivais. Brasileiro acha que tal coleguismo é lorota. Ou falta de garra. Atletas viajam juntos e treinam juntos. Muitos são amigos. O que eles querem é SER O MELHOR e isso é diferente de VENCER O OPONENTE. Uma ética educativa que o brasileiro não entende.
   Nunca houve tocha olímpica tão esculachada. Ela se tornou COADJUVANTE de sua própria festa. O estádio olímpico, retrato de nossa incompreensão ao atletismo, foi jogado lá pro engenhão e o palco maior virou o Maracanã. Esculacho foi pouco. As cadeiras nunca ficaram cheias. Deu tristeza ver Mo Farah correndo apenas para seus colegas. E mesmo Bolt não teve o público que merecia. Foi uma despedida protocolar.
   Phelps foi o cara da festa, mas as piscinas também estava a meia boca. Se a gente tirar os parentes e amigos dos atletas não tinha quase ninguém. E hoje, claro, o basquete dos EUA jogou para casa meia boca. Ingresso caro não é desculpa. A classe média lotaria tudo. O fato é que a gente não tá nem aí pra basquete ou corrida.
  Os americanos ganham porque se divertem em disputar. Phelps se divertiu pacas! Mas é diversão puritana, bem entendido, familiar. A equipe americana tem cara e alma de excursão escolar.
  Foi uma olimpíada triste. Ok, meio triste. Afinal, foi a olimpíada das despedidas. Phelps e Bolt, bye bye, Mo Farah e Gatlin, bye bye. E ninguém novo surgiu. Nenhum fenômeno. Daí uma certa melancolia de fim de era. E as arquibancadas vazias só não incomodam quem se acostumou ao campeonato brasileiro de futebol.
  A coisa mais emocionante que vi foi a disputa épica entre Andy Murray e Del Potro. O melhor brasileiro foi o cara da canoa. Que será tratado como o "brasileiro do povo cheio de garra e força ninguém pode com nós". Ok.
  Adorei o hipismo. E na maratona notei que toda cidade brasileira é igual. O Rio é como SP. É sim! O mesmo mal gosto. A mesma uniformidade em prédios com área gourmet. O que o Rio tem de lindo foi feito por Deus, não pelo brasileiro. O brasileiro apenas tenta estragar aquilo que a criação fez.
  O Brasil ganhou dos meninos da Alemanha. Na verdade empatou. A goleada tá zerada. Ok.
  PS: Volto à vida normal. Foi uma olimpíada sem graça. Só Atlanta foi pior.

NOVELA DAS OITO

   Como um carcará fedido a novela das oito é uma memória do PIOR que habita as mentes artísticas brasileñas. É novela feita por aqueles que se acham bons demais para fazerem novela. Escancara a hipocrisia de quem ganha dinheiro produzindo aquilo que abomina.
  Entre "mãinhas" e peles suadas, a mensagem é clara: A volta dos anos 70 já!!!!

Flamengo 2x1 Vasco [Final Carioca 1981]



leia e escreva já!

ZICO com ROBERTO ASSAF e ROGER GARCIA

   É um lindo livro sobre um jogador muito especial.
   Acompanhei toda a carreira de Zico, desde 1975, quando começou a se falar nele, até o final. Depois disso, sua moral nunca mais caiu. Depois da era Pelé, Zico é o mais inatacável do jogadores. O cara tem caráter. Conseguiu sobreviver a dois terremotos que teriam derrubado qualquer outro.
  Primeiro o imenso preconceito que havia em SP contra o futebol do Rio. Zico foi até 1981 considerado uma invenção de carioca, uma tentativa do Rio de criar um novo Pelé. Por melhor que ele jogasse, por mais gols que fizesse, ele era chamado de enganador, falso, um mero produto. Mas eu vi a mudança. Foi exatamente em 1981. Nesse ano, com o Flamengo que tinha Tita, Raul, Adilio, Andrade, Junior, Leandro, ele ganhou mais de 15 troféus em um ano! Dois torneios na Espanha ( num deles vencendo o Barcelona ), mais um na Colômbia. Depois o carioca, a libertadores, o mundial e mais alguns outros torneios. Eu vi Zico no Morumbi vencer o São Paulo de Serginho, Renato, Daryo Pereyra, Oscar; depois voltar e vencer o Corinthians, o Palmeiras, o Guarani. Eram sempre grandes jogos, mais de 90.000 pessoas, placares tipo 4 X 3, 3 X 2...
  Depois ele venceu o azar histórico de não ter ganho uma Copa do Mundo. Jogou as de 78, 82 e 86. A da Espanha era sua copa. Deu no que deu. Mas ele sobreviveu. Passou sem mácula.
  Ele era um atacante. Um cara que pegava a bola na linha do meio e ia tabelando, tocando curto até dentro da área. Driblava, mas seu grande dom era o passe. Ele tocava e quando recebia de volta já sabia o que fazer a seguir. E acima de tudo ele fazia gols. Muitos. Centenas. Só em 1979 foram mais de 70. Vi dúzias de vezes ele vencer sozinho, desequilibrar um jogo amarrado. Mas cima de tudo, Zico amava jogar. Ele sorria.
   Este livro mostra sua infância, livre, na ZN do Rio. O pai, que o educou e fez dele um homem honrado, os irmãos, todos jogadores bons de bola, o casamento com a namorada da adolescência. Uma vida que parece abençoada, protegida, mágica.
  Ler a vida de Zico é ler uma vida boa e do bem.

BOTAFOGO- SÉRGIO AUGUSTO, MAIS QUE UM CLUBE

   Didi ganha um campeonato. Sai do estádio, e para cumprir a promessa feita, volta a pé para casa. Foram 132.000 pagantes, e em meio aos fãs, vemos fotos dele andando, terno e chapéu. São oito quilômetros entre risos, abraços, respeito. Isso é o Rio de 1959.
  O Botafogo foi dois, já nasceu esquisito. Havia o Botafogo de regatas, fundado no século XIX. Regata era o esporte número um da cidade. E depois, em 1903, um grupo de meninos, de 14 anos, fundou o Botafogo FC. Só nos anos 30 os dois se unem e surge o Botafogo de Futebol e Regatas. É o único clube fundado por adolescentes, na rua, no improviso. A estrela é símbolo da Estrela D'Alva, a primeira estrela que os remadores vêm quando treinam as 5 da manhã.
  A história do clube é história de enormes vitórias e imensas crises. Sempre foi assim. O grande rival é o Fluminense, o queridinho do poder. O Botafogo é o time dos intelectuais, dos artistas.
  ( Aqui um adendo. Um time deve manter seu caráter! O Flamengo é o time da massa, o Flu do poder, o Vasco dos portugueses e da ZN, sempre o mais odiado, o Bota dos esquisitos. Aqui em SP, vemos uma descaracterização de alguns clubes...O Santos se mantém como o primo pobre e chato, com seus sonhos de requinte; o Palmeiras continua o clube da italianada e da região da Barra Funda, mas o clube do Morumbi está perdido, assim como o Corinthians. Me parece que os dois estão trocando de papéis. )
  O Botafogo teve Heleno de Freitas. Didi. Garrincha. Nilton Santos. Gerson. Jairzinho. Paulo César Cajú. Desses eu vi jogar três. Gerson foi o maior passador de bola que já vi. Jair foi um artilheiro perfeito. E o PC tinha uma habilidade rara. Fazia o que queria com a bola grudada no pé.
  Mas a gente ainda pode falar de Mario Sergio. De Marinho Chagas. De Valdeir. Manga. E do Biriba. Biriba era um vira lata preto e branco que entrava com o clube nos jogos do Maracanã. Amuleto. O Botafogo foi o time do Zagalo né...e Amarildo. E do João Saldanha.
  Era um tempo de ingresso barato e de estádios lotados. Disso eu lembro também. De ir ao Morumbi e achar que o público estava fraco...só 80.000 pessoas...O Maraca com menos de 90.000 parecia vazio. A rotina era 110.000, 120.000 pessoas. Futebol era festa, muita festa e isso passava aos jogadores que então festejavam. Mais que um clube, ler sobre o Botafogo é ler sobre uma época morta, mas linda.
  Sérgio Augusto é um crítico de cinema que fez minha cabeça nos anos 80 e 90. Depois perdi sua pista. Escreve melhor que o Ruy Castro. Mesmo estilo, mais saboroso.
  Infelizmente não sou Botafogo. Não sou do Rio. Mas dá uma vontade danada de torcer pelo time da estrela solitária.

A GERAÇÃO QUE FAZ DE CONTA

   A minha é a geração do faz de conta. Conheço quem faça de conta ser um beat. Outro finge e acredita ser Keith Richards. O desejo e a imaginação se tornaram coisas mágicas, reais...faz de conta né. Assim mulheres fazem de conta ser diva e casais fingem e têm fé em ser Brad e Angelina. Vários fazem de conta ser escritor ( e nunca escrevem ), outros brincam de fazer cinema ( e nunca filmam nada ). Eu fiz de conta ser Heminguay. Depois Yeats. Gosto de fingir ser medieval.
   Pessoas fazem de conta ser budista, católico, ateu, existencialista.
   O Brasil sempre acreditou nesse faz de conta. A gente gosta de crer na culpa de Portugal, da Inglaterra e dos EUA. Adoramos fazer de conta que somos inocentes. E alegres opa! É nóis!
   Há toda uma geração que inveja a geração que tinha vinte anos nos anos 60. Essa geração ama fazer de conta que Oasis foi Beatles, Radiohead Pink Floyd e que o Blur foi Stones. Vão a festivais brincar de Woodstock. Caem na estrada brincando de ser estradeiro e ecológico.
   Esses brincalhões brincam. Fazem de conta. Forçam a barra.
   É fácil ser estradeiro com GPS e celular. Fácil imitar Bukowski ou Kerouac. ( Difícil seria brincar de Proust ou de Nabokov...mas aí não vale, brincar tem de ser moleza né ). Fácil ser gay em mundo cheio de politicamente corretos. ( Talvez não tão fácil, mas bem menos difícil ). Faz de conta que este blog será lido. Faz de conta que voce lê.
   O tal Golpe é uma das mais tolas brincadeirinhas. Ninguém foi censurado, ninguém foi exilado, ninguém foi apagado, o exército não saiu à rua, todos podem ir e vir, não se cassou ninguém. Pode-se pregar revolução, xingar, chamar pra briga e tudo bem. Mas...minha geração quer sentir o sabor de estar em 1968 ( óh 68....quanta inveja....como eu queria ter nascido em 48... ). Então faz de conta que a gente é revolucionário, faz de conta que é um golpe e faz de conta que a gente corre perigo. Um barato ser rebelde sem o risco de ser morto.
  Na verdade, se voce pensar um pouco, todas essas brincadeiras desvalorizam os verdadeiros rebeldes e os verdadeiros mortos.
  Na USP se vende por 25 paus camisetas com a palavra GOLPE!
  É isso aí.
  PS: A geração mais nova adora fazer de conta que vive num filme pornô. Ou num mangá.
  
 

FILOSOFIA NÃO É ISSO.

    Tive uma pequena discussão com um professor de filosofia do ensino médio. Além de professor, ele é militante do PSOL. Não usarei este espaço para falar mal de alguém que não pode contra argumentar. Mas devo dizer que tem coisas que ficaram bem claras.
    Primeiro o susto que levei ao me defrontar com um verdadeiro comunista. Eles são poucos. Tive contato com 3 ou 4 em toda minha vida e fazia mais de 20 anos que não falava com um. O susto veio do fato de que o discurso não mudou. Ele são superficialmente de Rousseau. Acreditam na bondade inerente a todo ser humano. Menos na bondade dos capitalistas. Para eles, todo homem nasce bom, o capital os torna ruins. Toda a complexidade da vida é reduzida a essa simples certeza. Nisso, são mais simplórios que qualquer religião banalizada.
    Me assombrou também a acusação a mim feita: para ele eu seria um defensor de Alckmin, a prova disso é não o atacar. Pior ainda, para ele a queda de Collor foi justa porque Collor foi eleito graças a edição do debate feito pela Globo. Dilma é inocente. Se ela mentiu nos comícios e na TV isso foi um erro perdoável.
   Ele se diz feliz. A anarquia está se impondo ao país e isso é muito positivo. É preciso destruir. Mais ainda, sim, há mais, ele é incapaz de entender uma coisa chamada Midia, pois entende que a Midia simplesmente força as pessoas a desejarem o mal.
   Acho que não preciso dizer nada, suas teses falam por si. Obviedades, lugares comum e uma sofisticação de pensamento digna de Bolsonaro. Uma mistura esquisita de Franciscanismo, feudalismo ritual, senso de pecado, medo do ouro, e preconceito, muito preconceito.
   E ora veja só, ele ensina!

IMPEACHMENT

   Na verdade não dou a mínima para a queda ou não do governo. Esse não é o ponto. O bacana é ver pela primeira vez um monte de big boss na prisão. Esse é um fato novo. E estranhamente o povo da esquerda não comemora isso. Sempre achei que esse fosse um dos sonhos deles, ver o grande empresário preso.
  Quanto ao resultado do jogo, qualquer que seja trará um grande bode. Bode para quem vencer. Se o PT ganha, ele terá de sair do papel de vítima e governar. Terá de unir o país e atrair o capital de volta. Será quase impossível. E se a oposição vencer virá após a festa o bode da reconstrução. E a cobrança.
  Eu aposto que nos dois casos o desastre será absoluto.
  Pode me cobrar em dezembro.

BRASIL BOLA

   Vamos deixar de nos enganar, aqui no Brasil roubar não é pecado. Neste país a gente tolera o ladrão, desde que o roubado não seja a gente. E se for, fingimos que não é.
 A mentira também não é pecado. Desde que seja uma mentira boa, agradável. Somos amigos dos amigos, os outros, os desconhecidos, que se explodam.
 Adoramos uma piada, uma sacanagem, uma boa malandragem. E temos uma atitude omissa perante a vida. Que façam por nós. Esse nosso mote.
 Churrasco, cerveja e bunda. Isso é tudo.
 A livraria Cultura fechou. Nas prateleiras vazias eu vejo mais um degrau que desce. E na unidade que ainda está aberta, noto uma enorme quantidade de não-lançamentos. Parou tudo.
 Nada de novo. Demoramos 300 anos para ter uma biblioteca.
 Na escola se joga ao lixo toda uma geração. Nada de novo: gerações são desperdiçadas. Os progressistas são saudosistas: sonham com a volta da bossa-nova, do cinema novo e com o retorno de Fidel. Os liberais são ignorantes. Confundem liberalismo com roubo. Acham que ser liberal é burlar impostos.
 Índios morrem, pretos vivem na senzala, roubos nas esquinas, el rey não governa e a rainha é louca. Nada mudou. Nada muda.
 O Brasil prova que o tempo é uma bola.

LULA E FHC, O LEGADO

   Deixo de lado minha postura aristocrática e comento, mal eu sei, a situação desta fazenda chamada país. ( Fazenda porque ainda somos um território produtor de carne e grãos ).
   FHC fez o favor de desmoralizar a figura do intelectual enquanto presidente. O antídoto a essa imagem foi o anti-intelectual, Lula. Mas o legado de Lula é muito pior, ele desmoraliza a esquerda. Sim, todos sabemos que Lula nunca foi de esquerda, é apenas um populista no estilo getulista. Mas a esquerda o adotou e assim o mal está feito: de agora em diante ser esquerdista será visto aqui como ser lulista. O rótulo colou.
  É uma pena. Assim como nossa direita civilizada foi desmoralizada pelos militares, nossa esquerda do bem está sendo implodida por Lula.
  Nada mais tenho a dizer.
  Continuo aristocrático.