C.S.LEWIS, ALÉM DO UNIVERSO MÁGICO DE NÁRNIA. ORGANIZADO POR ROBERT MCSWAIN E MICHAEL WARD.

   Poucas coisas foram piores no século XX que a transformação da Imaginação em brincadeira ou brinquedo. Tão ruim quanto, foi a afirmação da Razão como um tipo de fetiche ou de superstição. É disso que trata este livro. Lewis foi um homem de letras, professor, escritor, que lutou pela reconciliação. Ele via nossa vida como um Todo. Imaginação e razão, fé e conhecimento, intuição e experiência, tudo isso unido dentro de uma alma individual. E existindo fora, no universo. A imaginação como um poder central, uma verdade, um conhecimento intuitivo. Mas o livro é muito mais.
  Cerca de 50 intelectuais escrevem sobre Lewis. Cada um pega um tema ( obras, poemas, filosofia, teologia, politica.... ) e analisa Lewis dentro desse campo. Os textos são críticos. Nunca elogios vazios. O que salta desse volume de escritos é precioso. Ele nos faz pensar. Melhora nossa visão. E para mim descortinou todo um campo, imenso, de saber que eu desconhecia. Nosso mundo intelectual, este do século XX ( ainda ele ), desvaloriza e sente imenso preconceito contra todo tipo de razão que leve em conta imaginação e intuição. Nossos gurus são incapazes, e se orgulham disso, de pensar em termos unos. Para eles a razão exclui a imaginação e a lógica mata a intuição. Eles se esquecem que seus gurus, Shakespeare, Giordano Bruno, Montaigne ou Espinoza pensavam no modo harmônico. Eram homens de antes da ruptura que dividiu a mente e a alma em campos desarmônicos. Eram inteiros.
  O livro portanto me exibiu uma série de pensadores que conseguem raciocinar em termos integrais. Procuram aceitar a totalidade. Não são discriminadores. Mas posso falar mais sobre este belo volume. Posso falar sobre a palavra alemã que designa um estado de espírito " Onde desejamos sabendo jamais satisfazer esse desejo, e mesmo assim esse desejo é mais prazeroso que uma satisfação."
Posso falar sobre o ateu Lewis, ateu radical que zombava de Deus, e o modo como ele se converteu, lento e doloroso. Posso ainda contar que sua explicação sobre o porquê da existência do mal é engenhosa e racional, quase convence, e dá um sentido à dor.
  Lewis tem principalmente vários pontos de afinidade comigo, talvez o principal a condenação que ele faz ao niilismo. O mal irremediável que se esconde num certo tipo de arte que transforma o homem em menos que um inseto e faz da vida um estrumeiro. Essa arte é profundamente imoral, pois ela destrói por destruir, nada traz de novo ou de bom. Ela é fácil de fazer, falsa em sua profundidade covarde e fake, tola em sua moral amoral. Posa de tudo aquilo que não é. É lixo.
  Mas não se trata de uma censura. Ela existe e sempre existiu. O problema é que esse niilismo se confunde hoje com A Verdade. É como se toda arte tivesse a obrigação de ser sórdida para ser séria. Ou pior, propagar o mal para poder ser considerada inteligente.
  Inteligência é alegria. Nunca tal qualidade foi considerada uma dor. Hoje é.
  A grande mensagem do livro é essa. A vida é uma alegria. Viver é um sorriso.
  Neste século, nada pode ser mais revolucionário que a alegria.

BRIAN WILSON- BOGEY- JASON STATHAM- VINGADORES- JURASSIC- BETTE DAVIS

   OS VINGADORES-A ERA DE ULTRON com os vingadores
Não rola. Ele começa já com ação, desinteressante, e rola ladeira abaixo. A história é sobre um super ser que toma a mente do Homem de Ferro. O filme falha no principal: pouco ligamos para os heróis. O primeiro filme da série era bem bom. Este é uma coisa perdida.
  OS ÚLTIMOS CAVALEIROS de Kaz I Kirya com Clive Owen e Morgan Freeman
Você vai achando que se trata de um gostoso filme medieval. Você quer um pouco de ação, heróis e magia pop. Mas então você descobre que o filme foi feito em Taiwan e que desse modo se trata de uma visão oriental sobre a idade média. E que no oriente não houve uma idade média. E que portanto o que temos é um carnaval de misturas mal feitas que tornam a coisa insuportável. Alguns personagens parecem do século XII, outros são de 1700 e alguns de Star Wars. Os nobres são negros, há ainda samurais e odaliscas. Nem Stan Lee foi tão doido. Pior de tudo, a ação é pífia.
  JURASSIC WORLD de Colin Trevorrow com Chris Pratt e Bryce Dallas Howard
Então vocês acham que sou um snob que não gosta de filmes pop...pois eu gostei muito deste. Os efeitos são ótimos, a mensagem ecológica é boa, a ação é bem dosada. Divertido e com suspense. Eis um filme digno. Pode ver que é bem legal.
  JOGO DURO de Megaton com Jason Statham e Hope Davis.
Um cara que trabalha em cassino ganha e perde uma fortuna. No meio tempo ele se mete em várias encrencas. Um filme de ação com aquele tipo de herói perdedor que era moda nos anos 90. Eu adoro. Jason é o melhor ator para esse tipo de filme. Ele nunca parece perfeito e sua voz demonstra fraqueza. Isso o humaniza. É um filme em que tudo é chavão, mas por causa de sua falta de pretensão nós desculpamos e relaxamos. Muito bom.
  AMOR E MISERICÓRDIA de Bill Pohlad com Paul Dano, John Cusak, Paul Giamatti e Elizabeth Banks.
Desde a obra-prima sobre Dylan é este filme a melhor bio sobre um rock star. Cusak e Dano dão um show fazendo Brian Wilson em idades diferentes. O filme não tenta mostrar tudo sobre o líder dos Beach Boys, ele se detém em dois momentos de sua vida: o auge em 1966 e o inferno nos anos 80. Todas as cenas no estúdio de gravação são fascinantes. O que vemos é um gênio louco criando magia. O filme consegue unir pesadelo à encanto. Brian conheceu o inferno e o psiquiatra feito por Giamatti é um dos piores vilões da história. E creia, foi isso mesmo o que aconteceu... Um filme que emociona e nos deixa nocauteados. Tem de ser visto. ( Cusak tem a melhor atuação de sua vida ).
  FLINT CONTRA O GÊNIO DO MAL de Daniel Mann com James Coburn e Lee J Cobb.
Quando James Bond se tornou em 1963, no seu segundo filme, uma mania mundial, imediatamente os USA começaram a procurar sua versão de 007. Dean Martin foi Matt Helm e James Coburn foi Flint. Os dois são gozações. Os USA não conseguiram jamais levar 007 a sério. A série de Martin é puro esculacho, esta é uma tentativa de ser engraçadinha com alguma dignidade. Não funciona. O filme em 1965 era moderninho e sexy, hoje é apenas museu vivo. James Coburn é um ator carismático, quem o viu em westerns jamais esqueceu, mas aqui ele parece apenas um adulto brincando com teenagers. Muito colorido, muito moderninho, ele parece agora apenas chato.
  O ROMANCE DE UM TRAPACEIRO de Sacha Guitry com Sacha Guitry e Jacqueline Delubac
Guitry foi um star na França dos anos 30. Ator, cantor, escritor, dramaturgo, diretor de cinema e compositor. Fez alguns filmes muito relax e muito originais. Veja esta pequena maravilha....Com humor soberbo, conta a saga de um trapaceiro. Da infância até a idade madura. O filme não tem um só diálogo, ele é todo narrado por ele mesmo, à mesa de um bar. Dessa forma, vemos as cenas enquanto escutamos sua narrativa. O efeito, que poderia ser chatérrimo, funciona muito bem. Os motivos: a história é excelente e a voz de Guitry é charmosa. O filme tem cenas sensacionais e dá um prazer imenso. Como sempre falei, a França fez os mais metidos e chatos filmes da história. E também os mais leves e bonitos dos filmes. Este é um souflé! Nota 9.
  3 ON A MATCH de Mervyn Leroy com Joan Blondell, Ann Dvorak, Bette Davis e Humphrey Bogart.
De 1932, da Warner, o filme conta a história de 3 amigas de escola. Uma vira cantora, outra vira manicure e outra alcoólatra. O filme é mal desenvolvido. O roteiro é bem tolo. O mais interessante é que Bette Davis, ainda uma novata, faz escada para Ann Dvorak e Joan Blondell. Pior ainda é Bogey, que aparece só em duas cenas, já fazendo o tipo de bandido que ele tão bem sabia fazer. Os dois parecem de outro mundo em meio a um filme tão datado. Parecem atemporais. Há um menino neste filme, que deveria parecer doce, que me deu instintos assassinos!
 

C.S.LEWIS, O HOMEM NÃO É NATURAL

   Estou lendo um grande livro sobre o autor C.S.Lewis. Cerca de 50 filósofos, historiadores e escritores escrevem textos sobre os pensamentos e ideias de Lewis. Quando terminar de ler escreverei algo sobre a obra. O que desejo falar agora é sobre uma ideia central de Lewis que é muito próxima a certas coisas que acredito.
  Ele diz que o Homem não é parte da natureza. Natureza é tudo aquilo que nos cerca. O mundo, o universo são naturais. O homem, sempre intuitivamente sentindo-se fora de lugar, está em meio à natureza, mas nunca faz parte dela. Lewis então desenvolve essa ideia e chega à moral. Explico.
  Se o homem fosse apenas um grupo de células, e se a vida fosse somente um acidente, nada teria nos levado à moral. A hipótese de um costume histórico ou de uma invenção não se sustenta. Nosso mal estar perante o sofrimento, nosso apego a animais, nossa ideia de bem e de mal não se explicam se a vida for vista como acidente. Assim como a razão não se encaixa em um universo acidental. Se fosse o universo apenas uma explosão sem sentido, a razão não teria lugar nesse absurdo inconsciente de sua condição absurda.
  Todos esses pensamentos vão radicalmente contra o mundo pós Darwin. Lewis tem total compromisso com o sentido. E sua mais bela ideia é a que diz que a história tem sido, desde o renascimento, um caminhar reto e resoluto rumo a transformação do homem em desumano. Tudo aquilo que define um homem : moral, razão, alma, imaginação, história, tem sido cruelmente destruído. O homem se faz como um adorador da ciência, e ciência é voltada apenas e tão somente à natureza, àquilo que nos é dado pela vida lá fora. Para poder estudar o homem ela faz do homem mais uma parte da natureza, mais um acidente.
  Lewis diz que nesse mundo sem humanidade, só podem existir 3 modos de viver ( ou de estar ): o absoluto niilismo. O hedonismo radical. E a convivência angustiosa onde se procura desesperadamente um sentido onde ele foi negado. Mas haverá saída...
  Para cima e para dentro. Esse o mote de Lewis. E deixo com você esse mote para ser pensado. Para cima e para dentro.

SEMENTE DIGITAL

   O peixe sempre voltava. E vendo o peixe se renovar o homem começou a ver a vida como roda. O que vai volta. Mais: tudo brotava após o inverno. A vida nunca termina, ela renasce.
   O homem via a vida como a natureza lhe mostrava, ciclos. A semente nasce e renasce após morrer.
   Mas o homem criou a máquina e com ela tudo mudou. A vida passou a ser vista como a máquina lhe mostra. E a máquina trabalha, se desgasta e vira sucata. Daí o fim das religiões possíveis. A vida se torna um mecanismo que falha e vira pó. Máquina não se renova.
   E então vem mais uma etapa, a vida virtual, limpa, sem ruído. E qual reflexo esse mundo terá no modo como vemos tudo ninguém ainda pode saber. A informática não é natural e também não parece perecível como uma usina ou um trem. Tenho a sensação de que entraremos num mundo sem tempo, sem linearidade, em que tudo será agora sempre. E nisso nossa alma não será destruída como fizeram as máquinas e nem vista como semente. Será uma virtualidade. Nossos corpos como hardware e nossa alma sendo o software. Ou o contrário.
  A se ver.

A BELEZA SALVARÁ O MUNDO - GREGORY WOLFE

   Para ser fiel ao seu autor serei breve.
 Wolfe é professor nos USA e crê em Deus. Se diz conservador. E explica o que é ser conservador. E lendo o livro entendo que eu sou um também.
 Reagan traiu os conservadores. Ele fez o que um conservador jamais faz: ideologia. Fez com que os USA engolissem um yuppismo fútil. E ainda o exportou para o mundo. Ideólogos pensam. E acham que seu pensamento deve ser dado ao mundo. São incapazes de olhar a realidade. Só percebem o que sua ideologia vê.
 Conservadores apenas deixam viver. Olham o povo e sabem que cada um deseja coisa diferente. E tentam dar alguma ordem a esse povo sempre e felizmente heterogêneo. O conservador ama a vida real porque é nela que mora o conforto. O fogo da lareira, uma sala, comida boa. E a natureza.
 Wolfe fala muito do puritanismo que deu aos americanos a vontade de dominar a natureza. Eles dominam a natureza, não vivem com ela. Vivem sobre ela. No puritanismo Deus é o homem. No catolicismo Deus é a criação. E a natureza é a criação.
 Por fim Wolfe defende a criatividade. Criar é um ato religioso e um mundo que faz e trabalha não dá valor a pura e simples criação. Wolfe defende a criação solta, abstrata, pura.
 Mais que tudo ele defende a civilização ocidental. Fundada numa moral popular ( a cristã ). O relativismo destruiu toda chance de civilidade. Se tudo é relativo tudo é ideologia e se tudo é ideologia tudo é solidão do eu que pensa e não vê. Ou pior, segue.
 Bom livro.

ROCK IN RIO 2015

   Há toda uma geração mimada que hoje faz rock. A gente nota isso no modo como eles se apresentam. O Sheppard mostrou bem isso. Uma banda bonitinha, da Austrália, imitando o pior do Fleetwood Mac. E não foi ruim. Foi um tipo de bailinho de 15 anos.
   Falei milhões de vezes que o rock é agora outra coisa. Sam Smith é rock. Visto em 2015 ele é rock. Faz soul diluído. Deve ter escutado bastante Jamiroquai. Seal. E Simply Red. Aprender a diluir com diluidores. Duvido que entenda Smokey ou Al Green. Esses caras tinham fome. E tinham fé. Sam Smith apenas canta.
   Elton John foi uma surpresa boa. Estava feliz e trouxe Dee Murray e Nigel Olsson. Solou ao piano. Bastante. E não tocou Honky Cat. Aliás seu repertório é tão rico que dava pra tocar mais duas horas só com hits. Rod Stewart envelheceu bem. Está bronzeado e bonito. Magro  e feliz. E trouxe várias mulheres ao palco. Isso ele aprendeu com Ferry. O show foi curto e ele não cantou as melhores músicas de sua carreira. Foi divertido. Ele sabe viver.
  O Motley Crue mostrou o destino do rock de arena dos anos 80.
  E o Metallica foi chato, melancólico, burocrático. Rock pesado tem de ser sincero. Não dá pra disfarçar. É excelente ou é ruim. O Faith No More foi tédio puro. Tudo neles parece mais do mesmo. Durante dez minutos parece ótimo. Depois vira martírio.
  Hollywood Vampires. Uma banda que fez rock com cara de rock. Tem visual, tem pose e tem festa. Adorei. Tocaram tudo: T Rex, Love, Spirit, Stones, Who....Alice Cooper ainda tem voz e Joe Perry está ótimo. E tá lá o Johnny....o cara sabe.
  Shows de Las Vegas são o grande lance do rock. Luzes, paetês e plumas. Dança. Tom Jones com Elvis. Ann Margret com Minelli. Isso tem sempre. Isso faz dinheiro.
  E tem as bandinhas do bem. Os bacaninhas fofos.
  Nada foi como Jack White. Ou Bruce cantando Raul.
  Foi balada.

The Hollywood Vampires with Johnny Depp at Rock in Rio 2015 Brazil (Full...



leia e escreva já!

CONSERVADORISMO

   Entram dois garotos no meio da aula interrompendo. Fazem propaganda de seu partido. Vai ter mais uma eleição. Falam e a sala boceja. Se vão.
   O professor comenta. Conta que eles são uma bela amostra da morte da palavra. Tudo o que eles disseram é verdade. Tudo é bem dito e bem intencionado. E tudo é vazio. O que eles falaram poderia ser dito por qualquer um em qualquer lugar. Pior, o que eles falaram é exatamente o que ele, o professor, ouvia naquela mesma sala 30 anos atrás.
   Em seguida ele nos dá um texto de Kafka. São apenas vinte linhas. Nenhuma das palavras é elaborada. A sintaxe é banal e o texto pode ser lido por uma criança. Mas as palavras voltam, nesse texto, a fazer sentido. Elas produzem sentido. E o mais incrível, produzem dúvida e inquietação. Para um ideólogo, é um texto politico. Para um religioso, é um texto judaico. Para um poeta, é poesia. Para um filósofo, filosofia.
  A ladainha da TV, do jornal, do cinema, do livro, das artes perdeu o sentido. Falar de mais uma tragédia é falar sobre o nada. As palavras se gastaram, a imagem se escureceu. É preciso uma nova linguagem. Porque hoje tudo parece piada velha ou mais do mesmo de sempre.
  Salto então para o livro do conservador Gregory Wolfe. Um de seus gurus se chama Niemeyer. Professor do Maine. Antes um fato: esses conservadores foram relegados ao esquecimento pela era Reagan. Os conservadores de Reagan são do mesmo naipe que os esquerdistas. Percebem a pessoa como consumidora, como ser ideológico que pode ser moldado à uma ideia. Ambos olham o mundo como lugar para fazer e não lugar dado para se aprender ao observar. O verdadeiro conservador olha. Reagan modificava ao molde sua cabeça. O iluminismo criou a noção, falsa, de que pessoas e natureza devem se moldar a razão. Esquerda e direita, as duas acreditam nisso.
  O segredo é observar e ver o que é.
" When things get too serious - Throw in a banana."
                                                                                                              Kevin Ayers.

E O PROFESSOR FALA DO SÍMBOLO.

   E não é que o professor que tanto entende de Freud, de alemão, de holandês, de dinamarquês, também se revela alguém que compreende e consegue fazer o mais materialista dos alunos entender o que seja o "símbolo" ...
   Quando uma obra de arte, seja texto ou imagem, tem um significado oculto, mas que é revelado aos poucos e para alguns escolhidos, temos uma "alegoria". O Paraíso Perdido de Milton é uma alegoria. A Divina Comédia de Dante é uma alegoria.
   Porém, quando uma obra tem uma linguagem, uma imagem, que nem mesmo seu autor consegue a explicar, essa imagem se explica por si-mesma, e acende em cada pessoa um significado particular, aí temos o "símbolo". O símbolo não pode ser explicado. Ele diz uma coisa, simples e secreta, a cada um. Digamos que ele fala aquilo que as palavras não conseguem dizer. Ele se situa além da linguagem e antes da história.
   Baudelaire fala por símbolos. Assim como Rimbaud. Você pode os traduzir, mas a sua interpretação nunca é a definitiva. O símbolo é inesgotável.
   Isso não significa que o símbolo é superior à alegoria. Milton é maior que o simbolista Verlaine. Mas Verlaine rende mais discussão. Whitman nunca é simbolista. Mas o americano é maior que Leopardi, que usa símbolos. ( Aliás, americanos têm uma enorme dificuldade de lidar com símbolos ).
  A religião é toda símbolo. Mas a igreja é alegoria. Ela tenta dar sentido único a coisas inesgotáveis como a cruz, a pomba ou o milagre. Toda a história de Jesus Cristo é um símbolo, portanto atemporal, inesgotável e particular. Não se traduz em discurso, ela é como um suspiro. A igreja a toma para sí e a traduz. Faz do símbolo uma alegoria e mata sua evolução.
  O marxismo fez o mesmo com a história, a psicanálise com o inconsciente, a crítica literária com a prosa. Pegaram o particular e o transformaram em alegoria universal.
  O símbolo é a prova de que o tempo nada é daquilo que achamos saber. Ele flui através do futuro ao passado e reflui ao presente, renasce a cada nova leitura e nega o certo e o errado. Como diz Gregory Wolfe, a arte abstrata, Kandinsky, Klee, são os verdadeiros artistas, porque eles criam aquilo que passa a existir a partir do nada. Quando Klee pinta uma "coisa" ele a cria do absoluto vazio. Ao contrário de Rembrandt ou de Vermeer que nada criavam, na verdade copiavam, genialmente, aquilo que já existia no mundo, artistas com Marc ou Miró inventam símbolos que surgem do nada e com nada anterior se parecem. São criadores de fato, como criadores foram os homens que desenharam mandalas, símbolos celtas ou intrincados labirintos hindus. Nesse sentido, que não julga mérito, julga criação, Cézanne é o primeiro criador a surgir desde o século XV. Entre Giotto e Cézanne todos foram imitadores.
  Entendeu my friend.