A BOA VIDA SEGUNDO ERNESTE HEMINGUAY- A.E. HOTCHNER

   Uma amiga querida me deu este livro. Se ela acha que eu tenho tudo à ver com o livro esse é um bom elogio. Ser comparado por uma mulher à Heminguay é sempre ser chamado de viril. E a virilidade, mesmo neste nosso tempo afeminado, é um elogio. ( Virilidade e machismo não são sinônimos ).
   O autor, Hotchner, privou da amizade Heminguay em seus últimos 15 anos de vida. Esteve com ela em Cuba, na África, na Europa. Observou o amor do escritor por Paris, pela pesca, pela caça e pela ação. Coligiu neste livro frases ditas por Hem. O livro, pequeno, é isso, uma coleção de frases ditas pelo autor de O SOL TAMBÉM SE LEVANTA.
   As frases são divididas em temas, o primeiro sendo A Escrita. É o melhor. Os conselhos de Heminguay, as opiniões sobre seu trabalho são todos ótimos, às vezes excelentes. Inspira ler esse trecho. Os demais nem tanto. Heminguay foi o mais influente escritor do século XX, nunca o melhor, ele mudou o modo de se escrever e de se apreciar um livro. Trouxe o jornalismo para dentro da ficção, e desse modo, sem querer, deu aval para um monte de jornalistas ruins se fingirem de escritor.
   Falando sobre seu trabalho ele mostra aquilo que realmente sabe. Falando sobre esportes, mulheres ou a guerra ficamos na dúvida, ele mente? Tem alguma relevância o que ele fala?
   Montes de fotos de Heminguay e de seus cenários e amigos. Todas maravilhosamente históricas. Algumas emocionam.
   Nunca vamos saber quem realmente foi Heminguay. O que era fato, o que era invenção. Pois seus amigos são os primeiros suspeitos. E nunca vamos saber se ele era realmente feliz. Ou um poço de medo e de frustração. Minha opinião é a de que ele era humano. Mentia e confessava, tinha bons e péssimos dias. Mas viveu a vida que desejou viver. Essa minha certeza, ele foi livre, fez e falou o que quis, esteve onde sua vontade o levava e nunca deixou de ser aquele que projetou construir.

Thelonious Monk Cuarteto en Dinamarca-1966



leia e escreva já!

THELONIOUS MONK, O MAIOR MESTRE MUSICAL DOS ÚLTIMOS 60 ANOS.

   Existem músicos que procuram a perfeição através da tapeçaria. Eles acumulam notas e escrevem um tipo de painel sonoro onde montes de informações se acumulam. Outros fazem o oposto. Pegam apenas uma linha, e com ela procuram o máximo de perfeição. Esticam essa linha, arrebentam o fio, ameaçam um nó, tingem, escondem, fazem mágica com uma simples linha. Monk era o gênio da linha. 
   Vi ontem um doc sobre ele na TV. Estranha figura quase muda. Um baterista diz que foi o visitar. Ficaram oito horas na sala, juntos, sós. E Monk nada disse por sete horas e 59 minutos. Na hora de sair disse, OK, Nos vemos amanhã. 
   O mestre Zen ensina sem o uso de palavras.
   Um outro excursionou com ela por 4 meses. Monk nunca lhe falou uma só palavra. No último show ele disse: Nos vemos na próxima.
   O som de Monk é assim. Apenas o núcleo. Sem enfeite. A linha, pura e simples. O silêncio sempre presente. 
   Durante o documentário lembrei de Keith Richards. Monk faz uns movimentos ao piano que são idênticos aos movimentos absurdos e aparentemente gratuitos que Keith faz à guitarra. Trejeitos de ombros, batidas de pé, mãos que flutuam, dedos duros e lentos que tocam, quase quedas ao chão. Voce acha que eu forcei a comparação? Voce conhece um guitarrista mais simples e cheio de silêncios entre os riffs que Keith?
   Monk nunca mudou. Ao contrário de Miles, Dizzy, Sonny ou Lester, ele nunca tocou bossa-nova. Ou se eletrificou. Ou ficou mais funk. Adicionou violinos. Nada disso. Monk era sempre Monk. E em 1967 parou. Sem anunciar, ele simplesmente saiu de cena. Calou o piano.
   Viveu ainda até 1982. Poderia ter gravado mais uns vinte discos. Ter feito centenas de shows. Sido homenageado. Não.
   Dizem que todo sábio tem a clarividência de saber falar o Não. E eu sei que parece hoje banal dizer isso, mas Thelonious Monk foi um sábio. Um gênio. E um ET. 
   Sábio porque nada do que ele fez foi demais. E isso é muito raro em música. Todo mestre musical tendeu a fazer à mais. A não silenciar na hora exata. 
   Gênio porque ele trouxe algo de onde não se anunciava nada. O estilo de Monk pode ser percebido levemente em Basie e em Duke ao piano. Mas ele foi completamente inédito. E desde então inimitável. 
   E um ET porque ele criou seu mundo e sua lingua. E nesse mundo apenas uma pessoa podia viver. Ele. Todo gênio é um individualista radical. E portanto um solitário abissal. Na vida de Monk só Monk vivia.
   Entre as notas há o silêncio. E esse é seu segredo. O vazio entre as notas. A suspensão do ritmo. Os furos. A linha que deixa de ser vista e retorna outra e a mesma.
   Thelonious é inesgotável.

VERMELHO AMARGO- BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

   Naquela tarde gelada meu pai e minha tia voltaram do hospital onde minha mãe estava. Eu tinha 13 anos e de nada eu sabia. Mas percebi a febre que infectou as paredes da casa. No rosto de minha tia, a sempre sorridente Noémia, o assombro de um brinquedo quebrado antes do Natal. Ela foi para o quarto sem falar comigo, e lá ficou. Meu pai se sentou em sua poltrona de sempre e assistiu o jornal. Mas não era mais meu pai. Era outro. O silêncio absoluto era diferente de seu silêncio balbuciante. O rosto dele estava rígido. Para eles dois, soube muito depois, minha mãe estava morrendo. E a febre eu a sentia na casa.
 O que meu pai faria? Ele foi jovem durante a segunda guerra, sua geração foi a última a admitir que a vida não é um prazer. Como meu pai daria uma familia para dois filhos se ele sabia que ser pai nunca pode ser mãe? Meu pai foi da geração que admitia não ter e deixar então de querer. Meu irmão brincava naquela noite, no tapete. A sorte de se ter apenas 10 anos. 
 Minha mãe foi salva. O desvio que haveria em minha vida nunca se fez.
 Hoje leio este livro. Que nada fala de mim, mas que dialoga com meu pai. Porque ele perdeu a mãe cedo e viu cada um da casa partir. Um de cada vez. Primeiro o pai, que se calou para sempre. Depois os irmãos, ao Brasil, à África, ao mato, à serra. A pedra era o tomate de sua vida. As paredes de pedra, o choro calado de cara à parede, as tardes de neblina sem fim. Pedra não se fatia, se engole inteira. 
 O livro é triste como um fado. Triste como a outra margem do Rosa. A prosa é poesia que se come e amarga a boca. A prosa do centro do Brasil. Do norte pedroso de Portugal. Terra dura e gelada que é pedra, cada enxadada uma dor nas mãos. E o vento que venta sem nunca aquietar. Fome.
 Meu pai....que saudade....

CHAGALL- JACKIE WULLSCHLAGER

   Chagall tinha tudo para ter dado errado. Nasceu judeu pobre numa cidade de judeus pobres. Numa familia inculta em meio a familias incultas. Fim do século XIX, Rússia. Fome. Passou pela guerra de 1914/1918, pela revolução comunista, sendo perdedor nas duas. Passou fome em Paris e na Alemanha. Pintava quadros figurativos quando a moda era abstrata. Tímido, sonhador, era um místico na época mais materialista da história humana. Preguiçoso, tomou sempre decisões tardias e sempre dependeu da força de uma mulher, primeiro da mãe e depois da esposa e da filha. Foi o queridinho da mamãe. E um desastre na escola. Só pensava em pintar. E mesmo assim ele é um dos pintores mais amados do século XX, morreu rico aos quase cem anos de vida ( em 1985 ), lúcido e com boa saúde. Como pode? O livro responde à isso com uma clareza colorida digna dos quadros de Chagall.
  Ele bebeu sua infância e se embriagou dela para sempre. Apesar de pobre, ele amou cada segundo daqueles dias. E os levou vivos para suas telas. Chagall pintava como uma criança. Sem regras e sem escolas ou modas. E é por isso que nunca houve ou haverá um seguidor de Chagall. Muitos são discípulos de Miró ou de Cézanne, mas só Chagall podia tentar ser Chagall. Seus quadros são seus sonhos e sonhos não se transmitem. 
  Passivo, nesta longa biografia nada vemos de muito heróico nele. Sua primeira esposa Bella foi um tipo de heroína, e mais ainda sua filha Ida. Nas fotos, muitas, vemos o quanto elas foram bonitas. E o quanto Chagall tinha a imagem, não pensada, natural em seu meio judaico hassidico, de boêmio. Ele nunca o foi. Bebidas ou excessos passaram longe dele. Chagall amava muito. E pintava. Com cores. Só Matisse chega perto dele como colorista. Mas os dois são completamente distantes. Matisse é equilibrado, francês até o osso. Chagall é russo e judeu, solto e sonhador, sofrido e feliz, religioso e mágico. 
  Cheguei a viver em um mundo que tinha Chagall vivo. E lembro do dia em que ele morreu. O mundo dele havia desaparecido na segunda guerra. Dos 240.000 habitantes de sua cidade natal, só 118 restaram após a passagem das tropas. Apenas oito casas de pé. Ele conseguiu escapar do nazismo via Lisboa. Foi para NY, cidade cinza que ele odiou. Lá morreu Bella. De saudade da Europa. E quase morreu Chagall. De saudade de Bella. 
   O livro é lindo.

OSCAR 2015

   Sem emoção. Ou melhor, muita emoção só com A Noviça Rebelde. Sinal dos tempos. Um filme de 1965 trouxe o único sinal de vida à noite. Birdman mereceu? Sim. É um grande filme. Impossível um cara que goste seriamente de cinema ou de teatro não se encantar pelo filme. Iñarritu disse ser uma comédia. Eu ri muito durante a exibição. As pessoas não entendem mais o humor negro?
   Felicity Jones é linda. Estou in love por ela. Tipo da menina delicada de 1964. E Travolta com seu colar de metal. Qualé?????
   Pena de Wes e de Linklater. Fazer o que....
  Lady Gaga foi ótima. E Julie uma lady. Palmas para a mulher que foi Mary Poppins, A Noviça e de quebra ainda nos deu Victor/Victória e o delicioso Modern Millie. ( E Elisa Doolitle no teatro ). Chorei.
  E é só. Nada de Oscar honorário, nada de Irving Thalberg. Morreram todos? Ninguém mais para homenagear?
  Ano que vem tem mais.

BUDDY RICH IMPOSSIBLE DRUM SOLO *HQ*



leia e escreva já!

O JOGO DA IMITAÇÃO/ A TEORIA DE TUDO/ JAZZ/ MARCEL CARNÉ/ A STAR IS BORN/ BOYHOOD/ FANNY

O JOGO DA IMITAÇÃO de Morten Tyldun com Benedict Cumberbatch e Keira Knightley
Mesmo conhecendo a bio de Alan Turing fiquei chocado com o fim do filme. Imagino como se sente quem não a conhece. O filme é sensacional. Ele toca todos aqueles que se sentem esquisitos, todos os que foram perseguidos na escola, todos os diferentes. Ou seja, toca quase todos nós. Turing foi um gênio e o filme é digno dele. Suspense bem feito, drama e uma bela história. Adoraria ver este filme ser, como foi O Discurso do Rei alguns anos atrás. a grande surpresa inglesa do Oscar. Os dois se parecem muito. São filmes clássicos, muito ingleses, com um momento chave do século XX pescado do esquecimento. O melhor ator do ano é Benedict. E quem achar que caio em contradição, pois costumo criticar essa mania de confundir boas imitações com grandes desempenhos, que Benedict não imita Turing, ele cria uma personagem. Pois ao contrário de Capote ou de Ray, Turing tem um nada de videos para se imitar. Foi em vida uma pessoa obscura. 2015 é a melhor safra do Oscar desde o século XX, este é o filme que mais me emocionou, O Hotel Budapeste é o melhor filme. Qualquer dos dois que vencer será uma alegria para mim. Nota 9.
A TEORIA DE TUDO de James Marsh com Eddie Redmayne e Felicity Jones
Se Eddie vencer o Oscar será mais uma vitória do papel de doente. Impressiona como o Oscar ama gente interpretando doentes! O filme é legal, mas está muito atrás de O Jogo da Imitação, com o qual poderia se parecer. Tudo aqui é correto, como Hawking, que é um cara do bem. Mas o filme não causa impressão. Dois dias depois voce mal recorda uma cena. Felicity é na verdade a heroína. Excelente interpretação, ela foi uma santa em aguentar o casamento. O filme é dela. Nota 6.
WHIPLASH, EM BUSCA DA PERFEIÇÃO de Damien Chazelle com Miles Teller e JK Simmons
Um pensamento ruim me ocorreu durante o filme. O jazz desde os anos 50 virou isso...um fóssil estudado por chatos, nerds e infelizes. O que era uma expressão folclórica de vida, virou objeto de adoração semi-religiosa e de estudos devotados. But....o filme, simples, barato, é bom. E mostra algo de muito particular que só o jazz tem: nele não existe nada de bom ou de correto. Ou o cara é """do cacete"""ou é muito ruim. Para fazer parte da coisa voce tem de ser uma fera. Músicos bons, como no rock são quase todos, não sobrevivem no jazz. Porque aqui, mesmo aquele esquecido baixista da banda de Fletcher Henderson ou do trio de Benny Golson, era mais que excelente. No jazz, como na música erudita, não dá pra enganar. Porque aqui o simples barulho ou as notas simples inexistem. Para quem toca este filme é obrigatório. E mesmo para o resto, é um bom filme. Espero que ele mostre aos roqueiros o quanto bateristas discretos, jazzistas, como Charlie Watts ou Mitch Mitchell são bons. Ritmo, isso é tudo. Conseguir manter a batida, sem variação de velocidade ou de volume, matematicamente preciso, é isso. Posto acima um Buddy Rich, o mito. JK dá um show. Mas o garoto também é bom. Nota 7.
BOYHOOD de Richard Linklater com Ethan Hawke e Patricia Arquette
Somos uma geração, a minha, entre 40/50 anos, desastrada. Criamos filhos como amigos e eles queriam pais. O filme acompanha o crescimento de um menino. E Linklater, que entre seus filmes favoritos tem Truffaut e Bresson, evita todo momento de drama, exibe o banal e nesse banal o que há de mais bonito. O filme é leve, puro, otimista. O menino, que sorte, vira um cara legal. Mas eu queria que mostrassem mais a irmã! Ela parece mais interessante. Ethan faz Ethan Hawke, o cara gente boa. Patricia manda muito bem. Gorda, a sensual Alabama virou uma americana comum. Ponto pra ela! O melhor de Linklater ainda é Dazed and Confused, mas se ele vencer o prêmio de direção será bem legal. Ele é Wes, com seu amor por filmes franceses, são dos poucos caras a dar ar de liberdade ao amarrado e cabisbaixo cinema atual. Nota 8.
FANNY de Marcel Pagnol com Raimu, Pierre Fresnay e Orane Demazis
Por falar em cinema francês...Eis Pagnol, escritor, autor de teatro e diretor de cinema. O homem da Provence antes do lugar virar moda. A história aqui é de uma menina, grávida e solteira. O pai da criança a abandonou para virar marinheiro. Ela aceita a proposta de um homem mais velho, que assumirá o nenê. Mas o marinheiro volta...O filme é tosco, sem produção, primitivo. E encantador. É um tipo de filme tão arcaico que hoje fica parecendo muito fresco, novo, original. Assistir Fanny é como ver um documentário sobre um planeta que deixou de existir. O mundo de Cézanne e de Cassat. Um prazer. Nota 9.
CONTRABANDISTA A MUQUE de Christian-Jacque com Totó e Fernandel
Existe uma cidade na fronteira entre França e Itália em que ruas e casas marcam a divisão. O filme mostra desse modo o contraste entre os dois países. Totó é um contrabandista. Fernandel um policial. Um é bem italiano: malandro, preguiçoso, mentiroso. O outro é rigido, cumpridor das leis, burocrático e meio bobo. Divertido, o filme, de 1958, nos faz pensar que essas diferenças hoje seriam ilusórias. A Europa virou um grande caldeirão comum. Uma certa nostalgia surge, onde os italianos estão? Totó, um gênio como ator, nunca mais. Nota 7.
FAMÍLIA EXÓTICA de Marcel Carné com Françoise Rosay, Michel Simon, Jean-Louis Barrault, Louis Jouvet e Jean-Pierre Aumont.
No cinema clássico francês dois caminhos logo surgiram. O cinema simples de Renoir e o cinema elaborado de Carné. Prefiro Carné. Aqui temos uma rocambolesca comédia com os melhores atores de então. Como explicar a história? Tem um escritor que finge ser um pacato burguês, tem um doido assassino, tem um conquistador barato...e muito mais. Os diálogos, de Prévert, são brilhantes. É um filme Pop, feito para divertir, para entreter. Nota 7.
NASCE UMA ESTRELA de William Wellman com Janet Gaynor, Frederic March e Lionel Stander
Um grande clássico. A primeira versão da história da moça que quer ser estrela de Hollywood e se envolve com um ator decadente. Ela sobe, ele afunda. Tudo aqui funciona. O filme emociona, dá raiva, toca, fica. O mecanismo da imprensa surge crú. March está magnífico! Faz um alcoólatra com tintas de Barrymore sublime. Temos pena dele. E admiração. Gaynor jamais se torna doce demais. Ela ama March. Ama o cinema. E tem ainda Stander, um jornalista que é o mal em pessoa. Ele odeia March e goza em ver sua queda. Wellman faz o roteiro de Dorothy Parker voar. É um grande filme. Nota DEZ.

LET`S STICK TOGETHER- BRYAN FERRY. PORQUE O AMOR PODE SER UMA QUESTÃO GLAMUROSA.

   Então em 1976 nada em Londres era mais chique que gostar de Mr. Ferry. Ele vendia discos, vendia shows, fazia cinema e estava sempre na TV.  Nessa ego trip ele deu um chute no Roxy e começou a namorar a mais famosa modelo do mundo, Jerry Hall ( que está no clip abaixo ). Desde 1973 Bryan lançava discos solo. Mas nesse verão de sua ego trip ele solta este disco. Uma coleção de 11 músicas. Seis são covers, e elas vão de Beatles à Louis Armstrong. As outras cinco são releituras de faixas gravadas com o Roxy Music. Três do primeiro disco, uma do quarto e outra do segundo. Para o acompanhar ele chamou Chris Spedding, John Wetton, Mel Collins. A carreira solo de Ferry sempre foi marcada por uma excelência em som, em timbre, por um aveludamento sonoro, uma suavização daquilo que ainda pode ser chamado de rock, mas que na verdade sempre foi simplesmente canção. Elvis Presley é o ídolo branco de Bryan, o Elvis pós 1960, e Otis Redding o ídolo negro, o Otis de sempre. 
  Let`s Stick Together abre o disco e foi um single de sucesso na Inglaterra. ( Só na Europa Ferry vendia então. A coisa não mudou muito em 40 anos ). Sacolejante, irônica, é uma alegria. Casanova está irreconhecível. Apocaliptica com o Roxy, aqui ela é noturna, suavemente safada. Sexy ao extremo. Sea Breezes é um lamento. O espírito é o mesmo da banda antiga, mas aqui ele está mais seguro. Shame é cover de um blues dos bons. Ferry faz dela um Pop acaipirado, alegre, esfuziante. 
  Os deuses olímpicos se aquietam e Vênus sorri quando 2HB começa a tocar. É uma das mais belas coisas da história da música do ocidente. HB significa Humphrey Bogart, a canção homenageia Bogey, To HB portanto. Mas pode ser To Heartbroken. Ela decola, ela é linda, inesquecível. A melodia sobe da voz e do teclado e voa, rodopia, gira colorida, melancólica, sagrada e diáfana. Ferry atinge um dos seus pontos alfa. A versão original, de 1972, com o Roxy, é tão boa quanto, mas esta...
   The Price of Love é puro Pop feliz. Riff de guitarra vibrante, forte. Chance Meeting é uma das mais tristes canções do Roxy. Esta versão tem mais equilíbrio, menos dor, a beleza se mantém. Ela me recorda todos os meus amores. Os antecipou desde 1976. Os anuncia hoje. 
   It`s Only Love é dos Beatles. Ele faz dela uma canção de Brian Wilson. Leva-a à Califórnia. You Go To My Head é luxuosa. De certo modo ela dá a dica do que Bryan faria na meia idade. Sinuosa. ReMMake, ReModel foi a primeira faixa do primeiro disco do Roxy. Ela era barulhente e bastante desenfreada. Aqui ele cortou as arestas e a deixou redonda. Ainda desafiadora, só que dançante, aveludada, líquida. 
   Por fim Heart on My Sleeve. Simples como o amor. Singela. E nunca tola. O amor para Ferry é simples. é básico, singelo, porém nunca silly. 
   Neste momento de amor, voltar a este disco, trilha dela, da amada, é um ato de amor.

Bryan Ferry - Let's Stick Together



leia e escreva já!

Chris Isaak - Somebody's Crying Official Music Video



leia e escreva já!

O AMOR SE GUARDA DO TEMPO. CHRIS ISAAK- FOREVER BLUE

   ...Heminguay disse um dia que o ódio termina mas o amor é para sempre.
   Eu amo para sempre aquela menina e com ela eu amo este disco. Que foi e é sua trilha sonora. E Heminguay combina bem porque este disco e este amor tem cheiro de camisa de flanela e de eucalipto e ele é frio, é sopro de vapor e mãos que se esfregam. Touca de lã.
  Ela é frágil como se fosse feita de promessas dificeis de serem cumpridas. A voz de Chris é de cristal? Não, acho que melhor dizer orvalho. E ele canta o amor todo o tempo. Ele realmente crê no amor. E te digo amigo, neste mundo a gente tem de crer no amor e mais ainda, a gente tem de bradar e exercitar o amor. All the time.
  Como pode isso? É um milagre e o fato desse amor existir prova que milagres só acontecem para quem crê neles. Oh God! Eu crio no amor e creio nela. Porque ela é linda.
  Como é este disco com seus solos de guitarra curtos, delicados e viris, com sua luz de estrada de quem vai voltar. com sua tristeza esparramada, mas não desespero, porque desespero só vem para quem deixou de acreditar.
  Este disco me foi proibido por anos e anos. Doía demais escutar a trilha dela. E minha alma, saudosa, guardou esse disco como quem guarda cinzas. Agora ele toca porque chegou a hora de tocar de novo. Ela é agora como sempre foi. O amor guarda e protege do tempo da vida.
  Tão bom ouvir a voz de Chris novamente. E tocar o corpo conhecido que se encolhe.
  Ela é linda. E eu sou bom.