BRASIL, NÃO DESISTE!!!! ( CARTA PARA UM AUSTRALIANO )

   A coisa tá chata cara, e não tem jeito de melhorar. 
 Voce aí na Austrália não sei se sabe, mas agora somos todos macacos. E devemos ter orgulho disso. Acredita?
 Chesterton nos alertava que um dos problemas da modernidade era a constante mudança do ideal. Porque é mais fácil mudar um ideal do que conquistar um sonho. Desse modo, se todos ficam tristes o ideal passa a ser a tristeza e não a alegria. Pois bem, somos o país mais moderno do mundo!
 Se não vencemos o analfabetismo transformamos ser analfabeto em ser feliz. Se não eliminamos as favelas, damos a favela o status de comunidade. Feliz, claro. Se nossa cultura desce a ladeira, fácil é fazer do lixo cultura. Maloqueiros viraram moda. E nosso ex-presidente fez o favor de dar aos incultos o orgulho de serem autênticos brasileiros.
 Agora, como fomos humilhados em campos espanhóis, encontram a saída, burra, de ser orgulhosamente macacos. Sinto muito mas apesar de brasileiro sou orgulhosamente Humano. E não aceito banana jogada no chão. Não a engulo como mico amestrado.
 Voce acha que um jogador da NBA engoliria essa? 
 O plano é claro: como desistiram de erguer o povo brasileiro, botam o ideal pra baixo. 
 Brasil, não desiste! 

UMA FOTO, O AMOR ( O QUE É ) E O TEMPO ( QUE NUNCA PASSA E NUNCA VAI )

   Então foi verdade...
  A foto está aí. Eu, com cinco anos, entre meus primos. Ao fundo tem o hospital, que ainda existe, e mais nada. A esquerda de quem olha a foto se percebe a avenida Paulista. Que fica dez quilômetros além. O alto do Conjunto Nacional e o relógio. No fim da tarde eu olhava as horas por ele.
  É verdade. Existia mesmo esse espaço livre de ruas de barro e terrenos sem dono. Era um mato civilizado. Mato ralo, cortado, limpo. Poucas árvores e muita mamona. Uma imensidão cruzada por córregos com peixes e bilhões de sapos. Cobras sempre possíveis e ratões gigantes. Cigarras. Gafanhotos. Borboletas e abelhas. 
  O céu era grande. E esse ambiente é minha ideia de Paraíso. Não era perfeito. Eu tinha noites terríveis de asma solitária. Vivia a frustração de ter um pai severo, frio. E minha mãe nunca foi carinhosa. E ouvia frases vagas, frases que falavam de um casal que não se dava e de dinheiro que diminuía. 
  Mas o espaço livre compensava tudo. E meus primos que eu adorava. Cantava nas ruas, dormia na relva, ficava horas namorando o céu. E tinha uma sensação de que a aventura era eminente. Eu a sentia em cada moita de capim alto e em toda esquina vazia.
  O sonho podia crescer. Eu ia junto.
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  O amor tenta unir nosso corpo, sedento de carne, com nossa alma, sedenta de sonho. E nunca tente encontrar razão no amor. Não há. E se houver não é amor, é conveniência, amizade ou desistência.
  Porque Eros nos faz loucos. 
  Ela nada tinha a ver comigo. E mesmo assim fui dirigido a ela. Dirigido, pois no amor não somos donos de nós. Somos um outro que é mais eu que todo eu antes fora. E vou à ela como quem deve ir. Quero e não sei. Ou sei e não quero.
  Confio.
  E ela se revela o que eu não pensei que fosse. Ela se encaixa em mim. Mas Eros, deus que leva os partidos a se fazerem um inteiro, sabia desde sempre. Eros sabia aquilo que minha razão não suspeitava. Que ela era a metade perdida. Completude.
  E perdemos o senso. Andamos pelas ruas de madrugada. Ruas escuras, vazias, perigosas. E dormimos na rua sem saber o que possa ser. Porque esperamos pela hora sagrada. Ficamos perdidos na rua para ver o nascimento das estrelas e o apogeu da Lua. E assitimos abraçados a obra que não se repete. ( Só aqueles que não amam pensam que todo amanhecer é igual ). 
 No caminho um sapo cruzou a rua. Na volta um gato branco passou tranquilo. Ela confunde árvores com igrejas. 
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  Eu andava tonto pelas mesmas ruas. Ontem, muito ontem. Mas esse ontem é agora hoje. E amanhã. Escrevi em tempos idos aquilo que seria o caminho. Adentrar o amor é penetrar o caminho. Tive espaço para conhecer e tempo para ver. 
  E como eu sempre soube, era verdade. Sempre a verdade.

A MORTE DO LEÃO ( HISTÓRIAS DE ARTISTAS E ESCRITORES ), HENRY JAMES

   Toda grande literatura ambiciona ser música. Ou pintura. Porque pintura é arte. O pintor tem uma presença aristocrática, em arte, seja bem dito, que a literatura não tem. O literato trabalha a palavra, e a palavra é a mais limitada das ferramentas artísticas. Por ser a mais presa a razão, por dever contas a regra da gramática e do costume. A palavra depende de se conhecer a lingua. A palavra tem código e assim dito, ser artista radical em letras é coisa muito mais estranha que em som ou imagem. Estranha por ser inabitual. Por não ser realmente livre, por estar presa a regras fixas, escrever de modo criativo é sempre sentir o limite da palavra e sofrer a dor da inveja em relação ao mais nobre pintor e o mais livre músico.
  Como posso escrever sobre Henry James ? Ele é o mais perfeito artista da prosa dos últimos cento e cinquenta anos. Talvez apenas Proust lhe seja próximo. James consegue unir forma a conteúdo fazendo assim do texto, arte. Não há uma palavra que lá não esteja como peça importante, nó que faz parte de uma tapeçaria. Ele dá forma enquanto compõe, conta enquanto arquiteta. Parágrafo ou capítulo, tudo tem uma função específica, a de transmitir mensagem estética. Ler Henry James é uma viagem estética que nos faz um outro. Ele aumenta nosso patamar. Faz nosso gosto melhor e nosso padrão mais exigente. Ele diferencia o leitor banal do leitor concentrado. A recompensa flui na própria leitura.
  Em tradução sublime de Paulo Henriques Brito, este livro da Companhia das Letras apresenta cinco contos escritos entre 1888 e 1896.
  A Lição do Mestre conta a história de um jovem que em sua admiração por um escritor mais velho é usado por esse escritor. Cheio da mais fina ironia, uma ironia que congela e nunca é grosseira ( como se a verdadeira ironia pudesse ser grossa ), o conto, perfeito em forma e em invenção, nos arrepia. A forma como o jovem é feito de tolo nos revolta. É uma obra-prima.
  A Coisa Autêntica é pura melancolia. Um casal de nobres falidos vai a um pintor pedir emprego. Querem ser modelos. Mas o que acontece é que eles não conseguem posar como nada mais que Eles Mesmos. Um italiano pobre consegue posar como um nobre herói, os nobres verdadeiros não. O conto, tristíssimo, fala sobre a imagem, a falsidade do que vemos e a mudança de parâmetro do mundo. James não lamenta o fim da aristocracia, ele exibe seu ridiculo, mas também teme a ascensão do comum e do banal.
  Greviile Fane é o conto menos ótimo. É sobre uma velha autora de best-sellers que é explorada por filhos snobs. O filho tem vergonha da literatura pobre da mãe, que os fez ricos, pensa ele ser um grande autor, mas na verdade nada escreve e vive de explorar a velha senhora.
  A Morte do Leão é o melhor dos contos. Um autor é descoberto pela fama aos 50 anos. Envolvido por damas ricas, jornalistas e festas sem fim, ele cessa sua carreira e acaba sem chance de se desenvolver como artista. O conto, cheio de humor feroz, é uma obra de arte perfeita. Humilha aquele que tenta escrever bem.
  O Desenho do Tapete conta a saga de um jovem que tenta desvendar o sentido da obra de um grande escritor. Dizem que James sentia a frustração de não ser bem lido. Ele temia nunca ser entendido. O conto, música abstrata, exemplifica isso. O final, ácido, é um tapa em nosso rosto.
  Lidos os cinco contos fica uma vontade de ler mais. Henry James vicia.

ABANDONE-SE HOJE

   Eu já lera isso ( em Nietzsche, em Agee ) e volto a ler a mesma ideia em Chesterton. A ideia de que o homem tem se tornado cada vez mais frio, contido, reprimido, inumano. Já tenho algumas décadas de memória para contar e devo dizer que o mundo que vi em 1975 ou em 1985 é bastante mais quente que aquele que agora vejo.
 Cada pensador dá sua opinião sobre o porque dessa transformação gradual, mudança que tem feito das pessoas ilhas de indiferença. Para Chesterton o problema é da própria mudança. Uma época que ama a mudança em si-mesma não consegue lutar ou dar valor a nada. Mudar se torna rotina e mudam-se os objetivos, os ideais. Mudar a meta é mais fácil que a alcançar. Derrubam-se totens, a vontade se desfaz e o homem se torna indiferente. Mudar todo o tempo vira rotina. Tudo muda todo o tempo para que nada se construa. 
 Inclusive relações ou arte. Como tudo vai mudar, e assim sabemos que tudo será destruído, para que construir algo de realmente bom, eterno, perdurável ? Se sabemos que o amor não é eterno, para que amar ? Para Chesterton, o primeiro passo para a felicidade do homem ( e ela é possível, aliás, mais que possível, ela existe aqui ), é retomar o conceito de eternidade. E com ela reavivar a moral. Existem coisas que são eternas SIM. E com essa eternidade vive uma moral que é imutável. 
 Um erro repercute para sempre. Um crime será punido com completa reciprocidade. A bondade mora na verdade e a verdade é real e eterna. O amor dá acesso a vida sem fim onde tudo é maior e melhor. A violência é um mal sem nada que o redima. E o principal: Somos todos nós um campo infinito onde se dá a luta sem fim entre o bem e o mal. E, como seres donos de liberdade e de missão escolhida, devemos lutar essa luta. Honrar a vida. 
 Se todo esse modo de pensar parece medieval é porque tudo de mais profundo e imutável que possuímos é medieval. Amamos como homens da idade do romance, cremos como homens de fé, lutamos por um pouco de honra e justiça e sentimos os pavores dos pastores e lavradores de então. Ou, se todo esse mundo agoniza ( é o que observo ) temos a missão, sublime, de defender seus últimos, e derrotados, testemunhos. 
 O coração perdeu. A razão dogmática nos faz crer que o coração é o menos confiável dos orgãos por ser simplesmente o menos controlado. E o que menos aceita dogmas que o reduzem a nada mais que músculo e sangue. Bilis secou.
 Não mais a ira divina, não mais a vingança maligna. Nunca mais iremos morrer por uma ideia. A paixão que move a vida ou a dor que faz com que a vida se revigore. Não mais o mistério. E se voce é cego ao mistério, creia-me, o tédio irá lhe matar. Gota a gota.
 Se um amigo é apenas um contato, se a arte é apenas um evento e se a criatividade nada mais pode ser que uma distração futil, a vida terá o valor da futilidade. Será nada mais que o tic tac de um relógio.
 Vá além. Enlouqueça. E cometa os piores vexames. Seja infantil como todos são e temem parecer. Exiba sua originalidade. Mesmo que ela seja burra. Ame e fale que esse amor é pra sempre. Mas acima de tudo, jogue seu cinismo no lixo e com ele seu egozinho. Confunda-se com a vida. Rasteje. Rasgue. Sangre. E beije. Perca a vaidade de nunca se ajoelhar. Ajoelhe-se. Admita que alguém sabe o que voce nunca irá saber. Apequene-se. E se abandone. E então encontre. 
 É isso.

UM ESCRITOR DA SABEDORIA E DO BOM HUMOR: GILBERT KEITH CHESTERTON

   Sou eu o homem que com maior ousadia descobriu aquilo que a muito já havia sido descoberto.
   Esse o mote do livro, brilhante, de G.K.Chesterton. Não conheço pensamento mais claro. Ele pega aquilo que temos PREGUIÇA de pensar, que temos dado como certo, e com simples bom-senso, mostra seu erro. Dessa forma Chesterton provoca um nó em sua cabeça e mesmo que voce seja um escravo do pensamento escuro e aprisionador, algo em voce balança ao término de sua exultante leitura.
   Chesterton foi uma raridade no século XX. Um escritor que foi um homem feliz. Seu método é racional. Ele pega o que é comumente dito e o leva ao pé da letra. Então compara esse pensamento com aquilo que as pessoas têm como excêntrico e demonstra assim que o que é dado como certo pode ser muito errado. E o excêntrico pode ser o muito claro. Seu estilo é aquele do bonachão professor de Oxford. Não, ele nunca lecionou. Foi jornalista e em seguida escritor de sucesso. Seus debates com amigos ilustres ( Bernard Shaw, H G Wells ) eram transmitidos ao vivo pela BBC. Grande sucesso também fez o debate com Bertrand Russel. Chesterton venceu todos. Sua bússola, ele logo o diz, é o conto de fadas. Sim, contra a ciência e o materialismo ele usa a moral do conto de fadas. O racionalismo de Branca de Neve ou do Gato de Botas ( e ele demonstra onde mora a razão pura e prática desses contos ), contra Darwin e Schopenhauer. O modo como ele demole Darwin é fabuloso.
   Livros como Zorba, poemas de Yeats, o encontro com o pensamento de Montaigne, o teatro de Shakespeare, a leitura de Bergson, todos esses momentos decisivos ( e posso incluir ainda Eliot, Keats, Whitman, Huxley ), foram passos rumo ao encontro com uma consciência maior em minha vida de leitor. Sair da vida pequena e caminhar a uma vida grande. Chesterton é a coroação desse caminho, é a cura de descaminhos. Em um mundo melhor todos leriam Chesterton. Como teriam lido Emerson. Leriam mais Stendhal.
   Melhor pegar frases do livro aleatoriamente. ( Coloco-as em negrito ).
   As pessoas não conhecem o mundo em que vivem e por isso acreditam em meia dúzia de máximas sem pensar nelas.
   Dizem que um homem bem sucedido é aquele que crê em si-mesmo. Pois eu digo que os homens que creem em si-mesmo estão todos no hospicio. Os que lá não estão, e sei que são muitos, podem ser encontrados em bares suspeitos e ruas mal frequentadas, É o poeta "genial"que agora se acha um perseguido, a estrela do cinema que nunca foi descoberta, o filósofo revolucionário que nunca foi entendido. A auto-confiança é a característica de todo fracassado.
   Os contos de fada duram para sempre porque eles têm um herói que é um ser humano normal vivendo aventuras incríveis. Os romances modernos têm um herói anormal vivendo um história banal. 
   Todos os gênios foram pessoas absolutamente normais com ideias originais. Pessoas originais com ideias normais são os charlatães. 
   Dizem que o hospício está cheio de misticos, de poetas. Mentira. A loucura é feita de um excesso de ordem, de zelo, de razão. No hospicio moram banqueiros, administradores e advogados. O poeta convive muito bem com a riqueza, com a complexidade do mundo. Ele é são. A poesia e o misticismo podem curar a loucura, a matemática e o xadrez nunca.
   O mundo do doido é sempre pequeno e nesse pequeno mundo tudo tem sua lógica. O mundo do poeta e do mistico está sempre em expansão. Ele cresce sem cessar e nesse crescimento não se procura lógica embora exista razão. 
   Materialistas fecham caminhos. Para eles vários pensamentos são tabú. Não posso pensar nisso, não posso pensar naquilo. Isto não é racional, isto não é moderno.
   O pensamento mistico abre portas. Posso pensar em tudo. Nada pode ser estranho e nada é impossível. 
   Homens que acreditam em si-mesmo, autores que acreditam no super-homem de Nietzsche, escritores que escrevem sobre seu Eu, todos vivem em vácuo imenso. Nada criam porque nada olham. Seu olhar está sempre para dentro. O mundo lhes é indiferente.
  O mundo moderno não é mau. Na verdade ele é excessivamente bonzinho.
  O mundo moderno tem a seguinte e absurda teoria: a de que é mais fácil perdoar os pecados se crermos que não existem pecados para perdoar. É um erro duplo. Absolve o mau achando-o normal e tira de nós a chance de provar a virtude do perdão.
   Se o homem quiser tornar o mundo grande deve tornar a si mesmo pequeno. Essa a virtude da humildade. 
   Na busca do prazer e no gozo absoluto perdemos o principal fator do prazer e do gozar, a surpresa.
   Os humildes criam os mais altos sonhos. Os egocêntricos os destroem.
   O homem antes duvidava de si, mas nunca da verdade. Agora ele duvida da verdade e jamais de si.
   É inutil falar na rivalidade entre fé e razão. Pois a razão, como tudo o mais, é uma questão de fé.
   O cristianismo é a única religião voltada para fora. Ela olha o exterior e trabalha sobre a matéria. É a religião dos olhos. 
   A teoria da evolução nos dá a licença para sermos tigres ou leões. 
   Não me impressiona o quanto um macaco se parece com um humano, o que me deixa abismado é a imensa e inenarrável diferença que há entre nós e eles.
   Pregar o egoísmo é praticar o altruísmo, eis a contradição de Nietzsche, um homem fraco que amava o que ele pensava ser um forte. O verdadeiro egoísta não sai a rua para pregar, ele despreza a rua.
   Cientistas modernos dizem que somos guiados por genes.  Deus nos deu o livre arbítrio. Podemos escolher o bem ou o mal. Onde a liberdade?
   A vida é em si um milagre. O pensamento é uma magia e a vontade é um mistério. O que importa não é o porque de o espaço ser infinito ou não, mas o porquê do homem desejar saber. Esse querer saber, essa vontade de ser sempre mais e melhor, essa ânsia por ir além, esse é o milagre.
  Isso tudo é uma fração minúscula do que esse livro contém. E Chesterton não escreve aforismos. Cada uma dessas frases é fruto de um raciocínio, de uma razão que é exposta. Ele nos convence. Faz filosofia.
  Lê-lo é como beber, como sonhar, como comer. Um prazer, uma coisa da vida, natural. Se algum escritor pode merecer o título de sábio, esse é o grande Gilbert Keith Chesterton.
   
 
   

PIETRO GERMI/ HARRY POTTER/ PROUST/ NARUSE/ GREGORY PECK/ MAGGIE SMITH

   O SOM DA MONTANHA de Mikio Naruse com Setsuko Hara
Se baseia em livro do grande Kawabata. Mas não espere no filme nada da sensualidade hipnótica do grande romancista. O roteiro opta pelos aspectos externos das perosnagens, não complica e se sai bem. Naruse foi, com Ozu, Mizoguchi e Kurosawa, parte dos quatro grandes do cinema japonês. A trama fala de um pai, seu filho que é infiel a esposa e dessa esposa, que é apegada a familia e ao pai de seu marido. Fosse um filme de Ozu seria leve como uma brisa e belo como uma estação nova, mas Naruse é mais pesado. Sentimos pensa da esposa e raiva do marido. Em Ozu vemos os erros mas os perdoamos. Nota 6.
   O TEMPO REDESCOBERTO de Raoul Ruiz com John Malkovich, Emmanuelle Béart, Vincent Pérez
A dura tarefa de levar Proust as telas é vencida por Ruiz. Ele faz o oposto do que Naruse fez ao adaptar Kawabata, joga no lixo a trama e se concentra no visual. O filme, lindo de se olhar, flutua entre personagens, ambientes, frases, roupas e muito luxo. Para quem leu Proust é uma delicia. É como ver uma coleção de lembranças de uma viagem. Para quem não o leu, que pena! Verá apenas um filme enigmático e sem sentido. Aconselho que o vejam mesmo assim, tentando o usufruir como coleção de clips superiores. Nota 8.
   O CONSELHEIRO DO CRIME de Ridley Scott com Michael Fassbender, Penelope Cruz, Javier Bardem, Cameron Diaz e Brad Pitt.
Belo elenco. Um filme de lixo. Maneirismo sobre maneirismo, fala de um cara tentando entrar no mundo do tráfico entre México e EUA. Loooooongos diálogos sem qualquer importância, loooooongas tomadas tipicas do pior cinema dos anos 80 e a sensação constante de : Vamos! Qual É ????? ZERO!!!!
   HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL de Chris Columbus com Maggie Smith, Alan Rickman, Richard Harris, John Cleese...
Os primeiros trinta minutos são excelentes. Mas logo surge uma certa monotonia. Rowlings aprendeu bem as lições de Lewis, mas Harry Potter é apenas para crianças. Eu adoro desenhos, livros, contos, infantis, mas aqueles que conseguem ser livres da prisão da ïnfantilidade esperta. Aqui, em cada cena, voce percebe o desejo de agradar quem tem 12 anos. E isso exclui todo o resto. Bom ver Alan Rickman em pappel tão bom! Nota 4.
   SONHOS DE UM SEDUTOR ( PLAY IT AGAIN SAM! ) de Herbert Ross com Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts, Viva.
Feito em 1972, baseado numa peça de sucesso de Woody, o filme é um tipo de ensaio para Annie Hall. Woody é um critico de cinema com mania de Humphrey Bogart. Ele se apaixona pela esposa de seu melhor amigo. Ela é Diane Keaton, que faz aqui Annie Hall. O filme é bom? Quando o vi a primeira vez, em 1987, imerso numa fase Woody Allen, achei ele consolador. E muito pra cima. Agora me decepcionei. Não que seja ruim, é comum. Ross fez boa carreira no cinema. Ah sim, o personagem de Woody vê Bogart, que surge lhe dando conselhos. É a melhor coisa do filme. Nota 5.
   ALMAS EM CHAMAS de Henry King com Gregory Peck
Começa muito bem. Um homem em Londres visita um velho campo de pouso e se lembra da segunda guerra. Depois o filme ameaça ser chato. Não tem ação nenhuma. O que temos é um bando de aviadores com medo de lutar. Mas logo vamos nos interessando pelos caras. É um muito bom filme. Peck é o novo comandante. Duro, frio e nada simpático. Henry King, mestre que fez mais de 200 filmes ( !!!!! ), conduz tudo com sua mão de ferro. É o estilo americano, ele conta a história e que se dane o resto ( que resto?? ). As cenas de ação só acontecem no final. Nota 8.
   THE PRIME OF MISS JEAN BRODIE ( A PRIMAVERA DE UMA SOLTEIRONA ) de Ronald Neame com Maggie Smith, Pamela Franklyn e Robert Stephens
Surpreendente. Na Inglaterra de 1936, acompanhamos uma professora "liberal". Ela consegue fazer de suas alunas meninas ärtísticas" É uma mulher alegre, futil, criativa, agitada...feita por uma Maggie Smith que levou o Oscar em 1969. Mas logo vemos que o que parecia tão bonito não é tão perfeito. Ela tem admiração por Mussolini, revela-se uma egocêntrica sem noção de delicadeza e acaba por se perder em seu mundo ideal. O filme é um bom exemplo do grande cinema inglês da época. Um prazer. Nota 8.
   SEDUZIDA E ABANDONADA de Pietro Germi com Stefania Sandrelli e Saro Urzi
Às vezes faz rir, mas é uma impiedosa exibição do patriarcado e do machismo latino. Na Sicilia, uma menina é seduzida. O sedutor não assume o ato. Chega a cupá-la por o tentar. O pai da menina tenta, em ações mirabolantes, salvar a honra de seu nome. Tudo caminha para o erro completo, um erro faz nascer um erro... Germi fez o genial Divórcio a Italiana. Ele foi um observador dos vicios da Itália que se modernizava. Mas aqui ele erra em sua metragem. O filme seria excelente com hora e meia. Dura duas horas e dez, e a gente tem a impressão que ele passa do ponto. Stefania é uma rainha do erotismo. Nota 6.

JUVENTUDE



leia e escreva já!
  De Zorba para Yeats para Montaigne e agora para Chesterton.
  Foi um longo caminho.

JUVENTUDE JUVENTUDE E JUVENTUDE

   Após todos esses posts sobre erotismo, dá agora pra entender porque votei em JUVENTUDE como o filme mais erótico que já vi ?
   Tenho um grande pudor em falar de minha vida pessoal aqui. Mas devo dizer que nada vem por acaso. Faz já um mês que vivo uma intensa relação erótica. Como ela se dá ? Saio com uma menina todo fim de semana. Bebemos, rimos, falamos tudo o que há pra falar. Nos sentimos completamente à vontade um com o outro. Confiamos. 
   Sinto um desejo por ela como nunca senti antes. Não sei se é amor. Tenho pudor em usar essa palavra porque ela não se adapta ao que eu idealizo como musa. Ela é diferente demais de mim. E eu sei que ela também sente desejo por mim. Mas, mesmo bêbados jamais nos beijamos, o que dizer do sexo ? Porque ? Ela está ainda enrolada com seu ex-marido e em sua cabeça não cabe dois homens ao mesmo tempo, mesmo que com um deles não aconteça mais sexo. Mas acontece ainda um fim de relação. E ainda há um filho.
   Não discuto se ela está certa. Já lhe disse que ela é rara. Mas o que nunca disse é que agradeço o que ela tem me dado. Um estado constante de excitação que nunca passa. Tenho vivido este mês em tensão pré-coito ( se voce quiser usar uma linguagem estúpida típica deste tempo brutal ). Na verdade o que vivo é o estado de pleno erotismo. Tudo em mim vive. Minha pele parece mais sensível, vejo as coisas melhor e as pessoas me dizem que pareço mais jovem. Esse o estado erótico. A carne que tende a alma.
   Creio que esta é uma situação rara hoje. Uma pena. 
   Saibam que nada do que aqui escrevo não foi vivido antes. Se falo um elogio a Yeats, aos anjos ou a anarquia é porque vivi isso na vida cotidiana. Não creio em guerreiros que temem se ferir ( Nietzsche ) ou em pessoas bondosas que são egoístas ( Sartre ). Cada vez mais creio no que é simples, bom e principalmente óbvio. E sei que é assim que se pode ser feliz. 

AMOR E AMIZADE- ALLAN BLOOM

   O livro saiu no Brasil em 1996, então não sei se será fácil de achar. Mas procure, é muito bom. Allan Bloom é muito melhor que Harold Bloom ( sem parentesco ). Ele amplia o tema, abrange filosofia, história, arte e sexo. Professor de politica em Yale, morreu em 1993 ainda jovem. O livro fala de erotismo, da sua presença na obra de 4 grandes romancistas ( Flaubert, Tolstoi, Jane Austen e Stendhal ), na filosofia de Rousseau, no teatro de Shakespeare e na vida de Montaigne, Sócrates e Platão. Em posts abaixo falo sobre alguns de seus capítulos. Mas nada pode se comparar aos capítulos finais, textos sobre Sócrates, Montaigne e a belíssima conclusão final do próprio autor.`Dificil citar algum trecho, seu pensamento é construído de forma tão engenhosa que fica impossível destacar algum trecho sem destruir a clareza do que é transmitido.
   Para Bloom, a amizade é alma falando com alma. O amor é a carne se transformando em alma. Amizade é voz e ouvido, amor é olho. Impossível amar sem a participação da beleza física, a amizade esquece a aparência. Quanto maior a participação da alma maior o erotismo no amor e nele existe o amado e o amante, na amizade só há amigo e amigo. 
   A alma... Bloom arma uma surpresa no final do livro. Ele passa toda a obra comentando os autores e sem dar nenhuma pista sobre o seu pensamento. No fim, a forma como ele defende o amor é simplesmente desarmante. E também é desarmante a maneira como ele lê Nietzsche. O filósofo alemão paira em toda a obra assim como Kant e Heiddeger.
  Bloom analisa cinco peças de Shakespeare, e sem o deslumbre do outro Bloom, ele fala que o bardo era acima de tudo um observador. Mais que isso, Shakespeare e Nietzsche têm muito mais a dizer sobre o homem que qualquer gênio da psicologia moderna. Porque o objetivo do artista verdadeiro é dar ao homem seu potencial máximo, único, eles percebem cada homem como um universo, já Freud, burguês sempre, tinha como norte a transformação da diversidade em tábula rasa, dar ao complexo a simplicidade clara de uma equação. Isso é empobrecedor. Um bom burguês mira-se no pior para tirar daí a lei geral, porque não se mirar no melhor?
   Se cada um de nós é, como se fez moda dizer, um personagem de Kafka, de Beckett ou um neurótico de Freud, porque não dizer também que cada um de nós é um pouco Shakespeare, Nietzsche ou Montaigne? O impulso burguês é sempre reducionista. Transformar o mundo em seu espelho medíocre. Reduzir Shakespeare a seu tamanho diminuto e nunca tentar se erguer as alturas de Shakespeare. 
  A igreja, por erros terríveis cometidos, foi justamente atacada pelo iluminismo. Derrubou-se sua autoridade e com ela tudo aquilo que ela detinha. Ora, assuntos da alma humana eram de exclusividade religiosa. Sovina, a igreja retinha textos e o privilégio de ter a última palavra sobre espírito, alma e transcendência. Ao ser colocada de lado, colocou-se os assuntos da alma também de lado. Em um erro absurdo, porém compreensível, tudo o que se referisse a alma passou a ter odor de igreja, de repressão e de conformismo. Para o século XIX, falar em espirito era falar em passado, o passado cristão. A igreja do burguês é uma igreja onde não existe alma. É uma igreja prática, onde se firmam contratos e se apagam as faltas.
   O que tudo isso tem a ver com o erotismo? Sem alma não existe erotismo. Sem a presença do espirito, o sexo fica reduzido a biologia. Queremos porque precisamos procriar. Apenas isso. Amamos aquela mulher porque nossos genes assim o querem. Ou seja, deixamos de obedecer a Deus para obedecer aos genes. Reducionismo maior é impossível. Do Sem Limite e Sem Tamanho, caímos no diminuto. A lógica dirá, óbvio, que os dois extremos se excluem.
   A alma ansia por falar. Por se expressar. Amamos na esperança de poder unir o impossível: alma e carne. Esse o prazer erótico. A expectativa da perfeição. O belo sublime poder ser encontrado aqui e agora. Fora disso o que temos é pornografia, violência e incivilidade. Bloom diz que a existência de Deus é discutível. Mas a Alma existe. Basta conhecer um pouco de música, de poesia para saber disso. Nada há de biológico na arte. Negar isso é chafurdar na lama, que é o que temos feito.
  O mais lindo momento do livro fala de amizade. A amizade de Montaigne com La Boétie. Para Bloom, a amizade verdadeira é mais rara que o amor. Apesar do amor ser muito mais forte. Certas frases de Montaigne, a inevitabilidade da amizade, o prazer sem fim de conversas livres, tudo isso exala beleza. E o belo acaba sendo o problema central do erotismo. 
   Ele existe? Ou o belo é uma convenção social? Pessoas tendem a dizer que o belo é variável. Que o que hoje é feio pode ter sido belo um dia. Welll...
   Assim como Alma sempre houve em toda cultura ( não se conhece uma só cultura atéia ), coragem, justiça, bondade e equilíbrio sempre foram características da beleza. Há um certo prazer frouxo em se relativizar tudo. Temos a tola sensação de que relativizar é ser mais complexo e mais inteligente. Uma grande asneira. Relativizar abole os parâmetros de julgamento e na verdade paralisa o pensamento e o debate. Sabemos o que é belo. Sentimos e intuimos isso com a alma. Sabemos que Mozart é belo e que um matadouro não é. Sempre soubemos que a beleza decantada da guerra pode existir se pensarmos apenas em coragem e honra. Mas sabemos que corpos dilacerados nada podem ter de belo. Podem ser uma crítica, um testemunho, mas não beleza. 
   Porque beleza é erotismo. Beleza é aquilo que nos falta e miséria temos muitas. Beleza é a vitória sobre a dor, o tempo, a morte e o medo. Ela nos recorda nossa alma e nos leva fora da carne. Beleza nunca se engana. Eros é esperteza.
   Admirável livro.
  

SEXTA-FEIRA SANTA. PARA VOCÊ.

   Ninguém trabalhava na sexta-feira. Aliás, até padaria fechava. Nada de consumo, as pessoas conseguiam ficar um dia inteiro sem gastar um tostão. Lembro de ter ido a igreja nesse dia. E de ficar apavorado com aquelas mulheres de véu preto chorando sem parar. As carpideiras. No centro da igreja lotada ficava o corpo morto de Cristo. E eu, criança, morria de medo. Pensava que era um defunto verdadeiro. O calor e o cheiro de velas e de flores me prepararam para meu primeiro velório: o de meu pai, quarenta anos mais tarde.
   Hoje os pedreiros trabalham o dia inteiro na casa aqui em frente. Pessoas fazem compras alegremente. Alguns evitam comer carne, mas eles nem sabem direito o porque. O mundo não pode parar e um Homem que morreu a dois mil anos não pode fazer mais milagres. Na igreja católica o clima é sempre de algo que morreu e não quer aceitar o fato. Católicos hoje se parecem com comunistas, com idealistas e hippies. Morreram e insistem em assombrar. O padre não sabe ser Pop, e não tem mais o maravilhoso ar de erudição da velha igreja. Tenho dúvidas se ele leu Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e Platão. Minha religião fala latim.
  No local onde trabalho as crianças não sabiam que sexta seria feriado. Quando respondo que sexta é Sexta-Feira Santa elas me olham com cara de "E ? ".  A união de homens de negócios, ateus bem intencionados e ciência eufórica matou a igreja no século XIX. Hoje ela é apenas mais um dos muitos bazares que nos distraem do tédio infindável. Moral e código de conduta foram abolidos, ótimo, mas o que se colocou no lugar? Derrubou-se Pai, Mestre e Herói, para que mesmo? Para sermos felizes? Ou para podermos trabalhar em paz? E fazer compras por todo o ano?
   Tente pensar por um minuto naquele que se deu por voce. Seja seu pai, seu avô ou O Homem que se Disse Deus. Tente não ser mais um a passar pelos ritos da Vida com um sorriso bobo de máquina de consumir e de se consumir. 
   É isso.
 

TOLSTOI E JANE AUSTEN, O ENCANTO DO REAL E A SEDUÇÃO DO EXAGERO

   O romantismo vai a falência porque ele se torna fraqueza e não mais sinal de força. A natural tendência humana a facilidade transforma o que era coragem em acomodação e o desafio vira preguiça. O pensamento burguês vence. O homem é uma fera, egoísta e individualista, no mundo é cada um por si. O artista diante desse fato ( ele não tem mais ânimo para ir contra o senso comum, que no capitalismo se torna a fé no individualismo e na disputa ), abre mão do desejo pela beleza via erotismo. O que ele faz? Aceita esse mundo material e entra numa triste competição. A arte do século XX passa a ser uma corrida pelo feio. Quanto mais feia e terrível a obra for mais verdadeira ela é. A vida, vista como mera mercadoria, portanto futil e sem grande valor, passa a ser um pesadelo. O sexo é mero gozo sem transcendência e a literatura um coro de ressentidos. A arte é um retrato de uma vida que vale quase nada. A criatividade só é válida se criar pesadelos.
   Allan Bloom tece esse retrato após analisar Tolstoi e Austen a luz de Eros. Ele demonstra o lado mais problemático de Tolstoi. Começa dizendo que sua geração viu Tolstoi como o guia para a vida. ( Bloom nasceu em 1930 ). Mas relendo Anna Karenina, 35 anos depois, ele percebe que o livro mais que um romance é uma pregação sem fim. Tolstoi prega Rousseau. Tenta unir a familia oa erotismo, critica a Rússia européia modernizada à força e elogia a Rússia camponesa, eslava, simples, pura, natural. É o mesmo discurso de Putin. Tolstoi não morreu. 
   Anna morre porque ela representa a Rússia que acreditou na Europa e Lievin sobrevive por ser o bom russo, o homem rico que descobre a sabedoria do povo. Lievin é Tolstoi. A grandeza do romance reside no fato de que Tolstoi se trai, se apaixona por Anna e acaba fazendo dela uma força irresistível. Ela engole o livro. Anna Karenina é uma enciclopédia sobre todo o mundo, sobre toda a vida e sobre a falência do romantismo. Ao contrário de Stendhal, que em nada acreditava, Tolstoi crê no Deus da natureza, o Deus da reprodução. Todo o livro é construído para enaltecer Lievin, mas acaba sendo de Anna. 
   Jane Austen nada tem dos exageros de Tolstoi e nem da ambição de Stendhal. Ela aceita a vida como ela é. E por isso, apesar de ser a mais antiga dos quatro gigantes ( Stendhal, Flaubert e Tolstoi ), ela é a mais próxima da nossa vida de hoje. Irônica, ela acena sempre com a sabedoria de quem enxerga todo o ridiculo da vida, mas ela compreende que instituições são necessárias para a vida. Ela sabe que Eros é indomável, mas que ele deve ter um canal por onde fluir e esse canal se chama compromisso. Os casais se analisam, testam, pesam, pensam e aceitam ou não. Familia e dinheiro é o que os move. Austen evita tocar em politica e em igreja, eles são fatos estabelecidos. Inglesa ao extremo, ela é prática. Seu mundo é aquele em que ninguém é herói e ninguém é muito mal. As pessoas têm limites claros. Eros acaba sendo a força que lhes salva do tédio e do vicio. 
   Burguesa? Não porque Austen se coloca fora desse mundo. Suas heroínas são sempre inconformistas, mas lidam com a vida como ela é e não como querem que ela seja. Não sonham, se viram. Esse o segredo do encanto de Austen.