BROTHER, FILMES FOFOS E PEANUTS

   Não falo com meu irmão desde 1984. Tempo pacas! Mas como fomos muito próximos por toda a infância e adolescência ( a biológica, a mental nunca termina ), ele acertou na mosca com os presentes que me trouxe dos EUA. Botas de alpinista, um livro sobre cinema e este que agora comento.
   Sempre percebi que Charlie Brown foi o primeiro Woody Allen, e o primeiro Catcher in The Rye tambe'm. O modo como ele fala com a gente e se relaciona com o mundo foi o molde onde se ajustou o estilo de toda uma generation de moleques-adultos mal ajustados. Ao contrario dos filhos de Dylan, os filhos de Charlie Brown eram muito mais timidos, melancolicos e pateticos. ( Sem acentos, tem um defeito nesta maquina maldita que uso para ESCREVER).
   Snoopy era amado pelos hippies, mas hippies nada tem de Snoopy. Os caras de SanFran fizeram uma patetada e acharam que Snoopy viajava de LSD quando pensava ser o Red Baron ou um legionario. Snoopy na verdade faz o papel da sanidade, da criatividade.
   E chegamos a 2014. E depois de ver o novo filme de Spike Jonze noto que TODOS os caras e mocinhas melancolicos dos filmes de Sofia, Spike e vasto etc descendem de Linus e seu cobertor. Desamparados, profundamente inseguros e muito fofos. Esperimente ler qualquer tira de Linus escutando qualquer musiquinha de qualquer filme triste de hoje. Bingo!
   Peanuts foi criado por um genio chamado Charles M. Schulz. Eles mudaram o mundo para sempre. A industria cultural via jornais e depois cinema moldaram tudo aquilo que entendemos por mentalidade contemporanea. Livros ou teatro foram postos de lado. Snoopy era lido em todo o mundo por 4 decadas. E mais TV e cinema. Botou pra fora a melancolia sublime que vive na infancia. Se leitores de romances ingleses sabiam disso desde sempre, o brasileiro do Rio ou o caipira de Iowa descobriu isso com Schulz. A neurose woodyalleniana de Charlie Brown, a fofura de Linus ou os delirios de Snoopy entraram no nosso pensamento, em nossos gostos e se fizeram muito intimos de todos.
   Este livro, imensa coletanea de tiras de 1958 a 1969 deve ser tratado como aquilo que deve ser: uma das vigas do seculo XX.
   

HER, UM FILME INCOMPLETO DE SPIKE JONZE

   Um computador super-desenvolvido adquire sentimentos humanos e resolve destruir os humanos e alcançar a imortalidade. Isso é 2001.
 Um cara se apaixona por uma cabra, mas eles não podem viver juntos. Isso é Woody Allen.
 Um robot cria sentimentos e sofre por não ter mãe, por não ter história e afinal, por não poder morrer. Isso é AI.
  Mas o que mais interessa: anjos acompanham os humanos em Berlin e ao se apaixonar, um deles sonha em ter um corpo. 
 Tudo isso está em mais um filme de Spike Jonze, diretor que faz filmes que desejam ser tão originais que acabam sendo sempre iguais. A primeira cena, no trabalho do personagem de Joaquim Phoenix, em que várias vozes se misturam narrando as cartas que escrevem, cita diretamente a obra-prima de Wim Wenders ( a perturbadora cena na biblioteca ). Outras cenas virão. As ruas aqui são como as de Berlin, só que não. Se Wenders é um brilhante humanista alemão, que deixa sua obra cheia de significados e de pistas, e consegue triunfalmente deixar as portas abertas para inúmeras interpretações, aqui, mais uma vez, Spike se dá um trabalho muito além de sua capacidade intelectual. Óbvio que o filme foi escrito sob o impacto do filme do alemão. É fácil ver Spike o revendo em blu-ray e indo dormir com a mente fertilizada. Obras-primas são assim, trazem ideias. Mas o problema neste filme é sua infantilidade, problema aliás que mata todo o filme.
  A não ser que tudo seja uma comédia!!! Tenho em minhas aulas percebido que inúmeros artistas produzem comédias que nós acabamos por levar a sério. Kafka era assim. Beckett também. Há uma cena em que Phoenix e a voz transam no escuro. E Gozam. É hilária ( apesar que acho que os meninos vão levar a sério todo o filme, como levaram a "Horror chanchada" Cisne Negro a sério ). Well...quando eles gozam dá pra esperar por Je T Àime com o gozo de Jane Birkin entrando na trilha. É brega pacas! Vemos então que o filme é nada mais que TED, O Urso Maconheiro levado em tom de "filme de arte".
  Todas as falas de Scarlett são risiveis em seu discurso tipo novela das oito. Ora, dá um tempo!! Que me importa esse Groucho Marx com prisão de ventre amando sua ovelha eletrônica?
  A carta que Phoenix manda a ex-esposa, na óbvia cena final, beira a caricatura. So What?
  Faça uma experiência: tire a trilha sonora ( Brian Eno de quinta categoria ) e coloque Lionel Hampton. O filme irá mostrar sua verdadeira cara.
  O tema da virtualidade é o mais sério de nosso tempo. A revolução é tão braba que o mundo de 2005 já parece ancestral. Mas ficar aqui, acompanhando as fotinhas, as frasezinhas, o dia a diazinho de um tonto e sua namoradinha silly...please!
  Spike Jonze tem grandes ideias. O problema é que ele nunca consegue as levar adiante e fica andando em circulos. Cansa. E as vezes sinto que seu nivel mental ainda é o de um garoto, brilhante, mas com 12 anos de idade.
  PS Veja 30 minutos de Asas do Desejo e este em seguida. Voce sentirá com uma força terrível o contraste.
 
 

RUSH/ WONG KAR WAI/ AZUL/ LOSEY/ ANGELOPOULOS

   FAMILIA DO BAGULHO de Hawson Marshal Thurber com Jennifer Anniston e Jason Sudeikis
Jennifer está cada vez mais linda. Aqui ela faz uma striper que finge ser esposa de um pequeno traficante que pega uma grande missão no Mexico. O filme é previsível, mas tem ritmo, atores ok e Jennifer. Nota 5.
   FLASH GORDON de Mike Hodges com Sam Jones, Ornela Mutti e Max Von Sydow
Um cult do trash. Tem um dos piores roteiros de todos os tempos, uma trilha sonora tola e um ator que não consegue atuar. E a bela Mutti e o bergmaniano Max sendo o vilão ( Max nunca escolhe filme, até hoje pega o que vem ). É o pior filme de HQ? A concorrência é forte ( Hulk, Demolidor, Capitão América, Sheenah ). Tentei ver com bom humor, não rola.
   RUSH de Ron Howard com Chris Hemsworth, Daniel Bruhl e Olivia Willians
Escrevi sobre ele abaixo. Uma ótima diversão com tinturas de drama que nos envolve, seduz e emociona. Mathew MacCornaghy sempre foi bom ator, desde Dazed and Confused e incluindo as comédias pop. Pois saibam que o Thor, Chris Hemsworth é um bom ator. O primeiro Thor já deu uma pincelada em seu talento e aqui ele emociona. É um adorável James Hunt. Estou com vontade de ver de novo! Ron Howard, ator em American Graffitti é um diretor a moda antiga, pouco vaidoso, dirige em função da história. Nota 8.
   RIDDICK 3 de David Twohy com Vin Diesel
O mundo é o de um deserto amarelo e brumoso. Vin enfrenta monstros e gente monstruosa. O filme é bobo, ralo, sem nada, o clima é bom e há horror autêntico. Twohy tem talento, mas desperdiça sua carreira. 2.
   A ESPIÃ QUE VEIO DO CÉU de Leslie H. Martinson com Raquel Welch e Tony Franciosa
Um daqueles super bobinhos filmes dos anos 60 que passavam direto na velha TV Record. Raquel, uma gata, é mostrada de bikini ( wow ) a toda hora. A trama, incompreensível e sem sentido, tenta ser esperta, moderninha, groovy. O filme nos distrai...do próprio filme. Nota 2.
   CERIMONIA SECRETA de Joseph Losey com Elizabeth Taylor, Mia Farrow e Robert Mitchum
Losey foi um graaaande diretor! O cara fez O Mensageiro! E excelentes filmes pequenos na Inglaterra de 58/64. Mas por volta de 67/69 ele fez 3 filmes metidos a arte que são lindos de ver mas que nada dizem. Mia Farrow é uma doida que usa Taylor como mãe de faz de conta. O filme nos leva a mente de uma psico e a coisa é barroca, exagerada. Taylor só posa, não tem nada aqui a sua altura. Farrow dá medo! Eu tenho muito medo de Mia Farrow. Nota 3.
   O GRANDE MESTRE de Wong Kar Wai com Tony Leung e Ziyi Zhang
Os closes de Wong se justificam, são lindos. Ninguém filma casais apaixonados como ele no cinema de agora. Este filme abusa da beleza, depois de hora e meia estamos exaustos. Mas é hipnótico. Sou fã dos filmes de Kung Fu e Wai sabe filmar golpes e movimentos, e ainda injetar lirismo amoroso na ação. É um épico histórico discreto em nota pianíssimo. Mas é longo, muito longo...Nota 7.
   A ÚLTIMA VIAGEM A VEGAS de Jon TTurteltaub com Michael Douglas, Kevin Kline, Morgan Freeman, Robert de Niro e Mary Steenburgen
Amigos velhos se reencontram em Vegas para a despedida de solteiro de Douglas ( que pra variar é um playboy ). O roteiro é preguiçoso, nada acontece de inesperado. É um filme gracinha para uma geração amarga. Não combina. Há uma certa moda de filmes para gente madura. A princípio essa é uma ótima nova, mas não se eles tiverem de fazer filmes teen em que a única diferença são as rugas. Porque não colocaram Morgan no papel de Douglas? De qualquer modo o filme é digno e tem um ótimo De Niro e um simpático Kline ( que não é da geração deles!!! ) Algumas boas piadas. Nota 5.
   A ETERNIDADE E UM DIA de Theo Angelopoulos com Bruno Ganz
Não dá, Theo é o diretor mais lento que há.
   THANKS FOR SHARING ( UMA BOA DOSE DE SEXO ) de Stuart Blumberg com Mark Ruffallo, Tim Robbins, Gwyneth Paltrow.
Como alguém consegue fazer um filme tão babaca? Um bando de caras que foram viciados em sexo. E sua vidinha cinzinha e tristinha. Argh!! Se voce quiser saber o que considero o pior cinema existente veja isso. É pretensioso, infantil, auto-referente, masturbatório e muito óbvio. ZERO
   AZUL É A COR MAIS QUENTE de Mechiche
Quer ver duas teens na cama? Quer se sentir parte do hype GLS ? Este filme óbvio ( que vá lá, daria um bom curta ) mostra a falência da crítica atual. Ele é ruim? Claro que não! Mas todo esse bla bla bla? É um filme banal. Nota 3.
  

LANTERNA MAGICA- AUTOBIOGRAFIA DE INGMAR BERGMAN, NO FIO DA NAVALHA

   Bergman mal fala de cinema. E nunca se coloca como algo acima do competente. Então o que ele fala? Que odiava o pai por seu rigor, que odiava a mãe por sua frieza, ele conta que tentou matar o irmão quando era criança, depois quase assassinou a irmã e esbofeteou o pai antes de sair de casa.  Tudo descrito com detalhes. Não é uma leitura agradável e Bergman nada tem de simpático. Mulherengo, abandona suas esposas e mal percebia a presença dos filhos. Como todo problemático, Bergman é completamente um umbigo. Ele fala de suas dores, seus erros, suas falhas, seus traumas. E cansa. Cansa sua falta de humor, cansa o modo como ele ignora tudo aquilo que desejamos saber. Ele fala muito de sua carreira no teatro. Que não é exatamente aquilo que aqui no Brasil mais sabemos sobre Bergman.
   Claro, Bergman escreve bem, e algumas descrições são soberbas. Assim como o modo, pena que breve, em que ele descreve o cinema de Tarkovski, Kurosawa, Bunuel e Fellini ( diretores que filmam como em sonho ). Mas o livro frustra quem como eu tem amor por seu cinema. Ele se mostra um homem frio, rigido, como ele mesmo diz: um sueco.
   O que salta das folhas escritas em ritmo de montagem: a enorme influencia que seu modo radical de ver a vida teve sobre diretores, de Woody Allen, que escreve um belo texto introdutor, a Von Trier. Mas Ingmar foi o criador. Seu cinema dura para sempre. Mas lendo este livro sinto o quanto deve ter sido duro viver a vida de Bergman, e sorrio sentindo saudades dos livros de Huston ou de Wilder, autores que conseguem sair de seu casulo e se anular em favor de uma historia. 
  Estranho, amo muito os filmes de Bergman, mas nunca o ser Bergman.

O QUE AMA O AMOR

   Ela salvou minha vida. Foi em 1988. Naquele primeiro momento em que a vi aconteceu aquilo que hoje, machucado, não mais sei o que seja, paixão a primeira vista. Olhei os cabelos ruivos e o rosto claro, o nariz espanhol, empinado, e o jeito de quem não sabe para onde está indo, e imediatamente comecei a sonhar. 
 Eu vinha de um tempo duro, onde cada dia era uma decisão, medo presente em toda noite, e ao sentir por ela o que eu sentia, a vida se transformou. Havia um motivo na dor, conhecê-la e salvá-la. 
 A aproximação foi lenta, foi um longo inverno de blusas brancas e de corredores gelados, até que na primavera nos tornamos amigos. Ela tinha um compromisso e para ela todo o compromisso era sério. Mas alguma coisa se abria e nós ficávamos horas falando. Eu queria a proteger porque assim, eu sempre soube, eu me salvaria. E ela aceitava tímida, e tudo em nós era tateante, delicado, quase ao ponto de se partir. Criávamos um irrealidade que nos absolvia.
 Mas eu me cansei e ela percebeu e sentiu. Saí do sonho e comecei a ficar mais sólido, estúpido até. Magoada, ela foi. Eu a ignorava.
 Ontem eu a revi. Após décadas lá estava ela, e a primeira coisa que eu vi foi seu cabelo, de novo. Magra, menos frágil, após anos vivendo em Barcelona, ela visita o país e continua não gostando do que vê.
 Alívio. Vê-la é um alivio e conversamos horas, como se as últimas décadas tivessem sido outra vida e esta vida, dela, fosse contínua e sem tempo. Estar com ela é certo. É bom. Falamos de tudo, falamos do mundo, de bichos, de língua, de sempre. Casada a 20 anos, ela continua séria, correta e com alguma coisa que tateia. Eu ainda quero a proteger.
 Dói se separar. A dor que acontecia todo dia ainda está viva hoje, quem diria, em 2014. Melhor se virar logo e andar...Mas me preocupo, ela estará bem?
 É um tipo de amor. Ou melhor, é amor.
 1988 foi importante pra mim. Foi quando descobri Yeats e a coisa celta, Chet Baker, Espanha e Chagall. Brideshead. Muito interiorizado, foi dos anos mais solitários e dos que mais escrevi. E foi o ano dessa menina, agora mulher, que vejo diante de mim. A vida que ela planejou ela viveu. Mora onde quis, trabalha com o que desejou e não foi mãe, algo que ela também pedia a vida. Eu tive o que pude.
 A voz dela se altera na hora de partir. E vejo, mais uma vez, o quanto o amor ama a dificuldade, o quanto ele pede por obstáculos possíveis, mas sempre obstáculos, o quanto ele ama adiamentos, mal entendidos, espinhos, lutas, e reencontros. O amor ama o que pode ser, talvez seja, foi...O amor se enfada com o certo, correto e conforme.
 Ela se volta e a voz fica diferente...E eu me afasto com a mesma dor de 1988.

SEXO NO CINEMA

Pior que qualquer inquisição, pior que o pior dos Papas, são esses filmes repressores, cortadores de tesão, que mostram o sexo como uma coisa sempre triste, dolorida, cinza, sem festa ou poder de vida.
Malditas cenas que são sempre assim: uma menina infeliz, ou pior, doente, um cara tristinho, ou pior, junk, e as massacrantes cenas de sexo em que os dois padecem de tédio, de dor e de falta de sentido. Será que só eu noto isso? Que esses quartos cinzentos, esses atores sofridos, essas falas mortas, ensinam de forma virulenta que o sexo NÃO é uma alegria, uma celebração uma doce sacanagem?
Chega de sexo filosófico, velho, velhaco, chato, sem tesão!
Quando um filme mostra o sexo como coisa divertida, ele faz do ato comédia e mostra o ridiculo de sermos bichos que transam. Chega!!
E Quando um filme mostra o sexo como coisa "humana", ele mostra o ato como beco sem saída, dor sem motivo, ato de violência.
Chega! Basta! Quero sexo como alegria!
Já!

Trailer do filme "Oh! Rebuceteio"



leia e escreva já!

SOBRE A PORNOGRAFIA

   O canal Brasil tem passado a meia-noite de quinta-feira uma série de filmes ( pornô? eróticos? ) feitos entre 1979/ 1983. Na época eu era menor de idade e nunca havia visto a produção de Claudio Cunha e de Ody Fraga. Lembro que eles eram exibidos nas salas do centro, avenida Ipiranga, São João, e raramente algum chegava a Pinheiros. A questão é: eles são pornográficos?
  Ontem assisti "'Oh! Rebuceteio!" de Claudio Cunha. Primeira surpresa, a imagem. O filme é bem iluminado e a fotografia em película dá ares de "filme de verdade" a coisa toda. Bem, ele é um filme de verdade! Segunda surpresa: O roteiro tem alguma pretensão a arte subversiva. Conta a história de uma atriz, muito jovem, de teatro, que entra em grupo e começa a trabalhar com diretor doidão. A mãe da jovem atriz sonha em vê-la na Globo, mas a peça em que ela ensaia é uma orgia de cenas de sexo explícito. 
  Outra surpresa, as cenas são de sexo "de verdade". A penetração é mostrada em detalhes e vemos ejaculações, sexo oral, closes dos orgãos sexuais masculinos e femininos. Mas a impressão causada é muito estranha! Após anos de sexo via internet ou via dvds, o filme exibido na TV parece erótico, explicito, porém erótico, nunca pornográfico.
  Porque? Talvez porque haja uma história? A fotografia, bem mais cuidada? Ou serão os atores, que além de tentar interpretar, surpreendentemente não possuem a cara e o corpo dos atores pornôs? Parecem gente de verdade, os rostos são de colegas do trabalho, e são saudáveis, bonitos. As meninas jamais parecem devoradoras, taradas ou artificiais. Os garotos são bonitos, parecem inocentes. Vemos então paus que gozam, pernas abertas, mas não vemos sujeira. As cenas parecem naturais. Isso chega a ser chocante. Se analisarmos o sexo por aquilo que é produzido para consumo de jovens masturbadores, a coisa está bem pior do que a gente pensa. Sexo explícito feito com alguma inocência e com desejos de se fazer cinema. Atores com cara de alunos de cursinho. Se alguém quiser saber de onde veio a inspiração para Boogie Nights, eis sua chance.
 

A SIBILA- AGUSTINA BESSA-LUIS

   Agustina, uma das mais destacadas vozes portuguesas do século XX, desenvolve aqui a história de uma familia do campo, avôs, pais, primos. Familia que aparece cheia de posses, mas que vai sendo dilapidada por homens gastadores, galanteadores, infantis. Há uma frase, maravilhosa de Agustina que faz brilhar a narrativa: "Os homens vivem o tempo e o espaço, e assim perdem a vida. As mulheres não se colocam tão confortáveis no modernismo, elas perdem o tempo, ignoram o espaço e assim conhecem a vida".
   Duas irmãs são centro do livro. Quina, uma delas, desenvolve aquilo que perdemos no tempo, ela lê sinais no clima, percebe como são as pessoas, sente coisas que todos um dia sentiam mas que não conseguimos sentir mais. Em meio a saga, em meio as idas e vindas da vida, Agustina consegue dar toques misticos, sem nada de forçado, e demonstrar duplos sentidos, sem jamais interromper a história.
   É um livro dificil de ler. A autora escreve de modo farto, rico, um tipo de ourivesaria verbal, um banquete léxico, português do norte, cheio de expressões que nos são estranhos. Mas vale a pena, ela cria um mundo, cria um ritmo. A Sibila não se esgota nunca.

When Playboys Ruled the World Barry Sheene and James Hunt



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RUSH, JAMES HUNT X NIKI LAUDA, O FIM DO ROMANCE

   Porque os anos 70 exercem tanto fascínio sobre tanta gente? RUSH, este bom filme de Ron Howard talvez deixe clara essa questão.
 Temos aqui um cara cool. James Hunt poderia ser aquilo que quisesse. Milionário, bonitão, bem humorado, ele anda cercado por mulheres, bebe muito, se diverte todo o tempo e é piloto porque, como ele próprio diz, é a única coisa que ele faz bem. Hedonista, mas no belíssimo final deste filme, vemos que não é só isso. 
 Niki Lauda também tem origens abastadas, mas ele é de outro mundo. Ele é prático, frio, antipático e na verdade é muito melhor piloto que Hunt. Lauda não corre por prazer, corre para vencer, sempre e sempre. 
 Os dois entram em choque e a grande falha do filme, que nunca poderia ser evitada sem que se ferisse a verdade, é que nunca conseguimos torcer por Niki Lauda. Ele é tão obcecado e tão eficiente que nada nos faz simpatizar por ele. Seu acidente não nos emociona. James Hunt é o verdadeiro herói, um tipo de criança grande, ingênuo, raivoso e que dá respostas maravilhosas aos jornalistas ( hoje ele não duraria um mês no negócio se falasse metade do que ele falava em 1976 ). E eis então que se revela o segredo da década, os anos 70 foram o último suspiro de um certo amadorismo, de uma certa liberdade que foi morta nos anos 80. De ALMOST FAMOUS a BOOGIE NIGHTS, todos mostram isso, a ingenuidade e o hedonismo sendo corrompidos pela fria eficiência. A fórmula Um teve em James Hunt seu último romântico, e em Niki Lauda o primeiro piloto do total profissionalismo. Vem daí a emoção da cena final, cena onde Hunt diz que eles são como "cavaleiros templários, lutando pela honra e contra a morte", e Niki responde dizendo que isso é "típica bobagem inglesa." Mas eles reconhecem a necessidade de se ter um rival. E surgem as emocionantes cenas com o Lauda real e o Hunt de verdade...Para quem como eu acompanhou a história na época, recordo ainda hoje o momento em que o carro pegou fogo, é de fazer chorar.
  James Hunt largou a F1 e continuou a viver. Lauda foi tri-campeão...Hunt morreria aos 45, do coração. Lauda vive.
  Muita gente falou: Porque não fizeram sobre Prost versus Senna? Fácil responder, porque seria uma história de dois Niki Laudas, não haveria contraste. Para nós, brazucas, que vemos Senna como um tipo de mártir-perfeito das pistas isso não procede, mas tanto Senna como Prost ou Schummi ou Alonso têm essa unilateralidade, essa super-eficiência, essa coisa de vida vivida só nas pistas e mais nada. Lauda criou esse estilo. Em 1975 ele era uma anomalia, hoje é o molde da linha de montagem.
 PS: Piquet tentou ser o último dos James Hunts. Faltou finesse. 
 PS2: O filme é ótimo.