PEQUENA ANTOLOGIA AMOROSA- JUAN DE LA CRUZ, LA NOCHE ESCURA...

   São duas noites. Na primeira o Eu vai a seu limite em clareza. Sentidos e inteligência usados ao máximo. A hiper-afirmação da vontade. Na segunda noite vem o esquecimento. Abrir mão de tudo. Não mais ser. Largar-se nas mãos do Amor. Morrer então, para assim ser eternamente.
   Juan de La Cruz foi monge. Espanhol do século barroco. Feito Santo por Pio XI. Uma vida de ansiedade em busca da comunhão com o divino. Suas palavras poéticas choram e se humilham. Comemoram e se erguem depois. A destruição absoluta do eu para dar lugar ao nascimento do não-ser, da comunhão com a Divindade. Sentimento que nos é inalcansável. Espírito distante de nós. Juan seria hoje calado e ridicularizado. Medicado.
   Clássico da alma espanhola, da negra noite da Espanha, busca pela negação, afirmação da condição sagrada da vida. A alma de Juan sai da sua casa e plana livre pelo escuro e ansiando pela paz absoluta. Perturbador, para nosso tempo incompreensível, lê-lo jamais é um prazer.
   Mas é estranhamente real. Para aquele que sofreu é um reencontro. Um âmago secreto. Um nó.
   Fonte de poesia. E além...

A AGULHA OCA- MAURICE LEBLANC, O OCASO DE ARSÉNE LUPIN

   Li um livro sobre Os Franceses em que Theodore Ziegler diz que o que define um francês é sua pretensão outsider. Todos querem ser do contra, sempre. Pois bem, a resposta francesa ao sucesso de Conan Doyle e seu Sherlock Holmes tinha de ser alguém como Arséne Lupin, um gênio do crime, um bandido charmoso, o cérebro a serviço da mentira. Tudo é dúbio em Lupin, torcemos pelo bandido.
   Imenso sucesso por todo o século XX, Lupin hoje anda meio esquecido. Vale o reencontrar. Leblanc escreve com precisão, cria expectativa, nunca ofende a inteligência do leitor. Ego gigantesco ( o contraste com Holmes é completo ), Lupin aqui engana um pequeno gênio investigativo que pensa estar em sua pista. Mais não conto. As féria de verão logo irão chegar e ler este livro a varanda numa tarde quente será grande prazer para voces todos.
   Fácil de achar em sebos. Compre.

HONRA TEU PAI

   Honra dos aristocratas. Daquele que se considera, sempre, melhor que todos os outros. Por ser melhor ele se cobra um tipo de Honra. Por ser superior ele se dava maiores obrigações. Sua honra se media pelo peso das obrigações auto-impostas. Um homem tão superior não pode se permitir ser diminuído. Esse o primeiro fardo, não aceitar uma ofensa, um desaforo. Seu Nome deve ter a Honra intocada. Não se pode dar um só motivo para uma futura desonra.
   Esse aristocrata não deve deixar uma mulher ser desonrada, pois toda a honra feminina em suas terras está sob sua guarda. Assim também com uma criança faminta ou uma viúva nas ruas. Será uma desonra ter mulheres e crianças ao relento, mas não os homens.
   Observe então. como essa Honra é auto-imposta, ela se baseia toda na auto-estima, a Palavra dada adquire um valor tremendo. Palavra dada vale mais que a vida, pois um aristocrata que quebra sua palavra não suporta viver sem sua Honra. Na verdade a Honra vale mais que a vida, pois como Valor ela se faz eterna, é transferida de Pai para filho, se torna o maior bem de uma familia. Morrer Honrado se faz a grande ambição de uma vida, ambição que na verdade não é ambição, é obrigação auto-imposta.
   Honra sem testemunhas, Honra que existe de mim para mim-mesmo.
   A Honra da burguesia passa a ser a honra dos documentos. Ela vale diante da comunidade, deixa de ser íntima. Se torna imposta e muito mais que isso, é um Dever de todos, ricos e pobres. Não é mais a honra da palavra, é a honra dos tribunais. Honra deixa de ser Preservar seu Nome e passa a ser Pagar suas dívidas.
   Veja a diferença: No Aristocrata tudo deve respirar e demonstrar sua Honra. Gestos, roupas, hábitos, tudo, desde sua infância, exibe ao mundo, mas acima de tudo a si-mesmo, sua intocada Honra. Por isso que cuspir na bandeira, dar um tapa no rosto ou blasfemar contra a fmilia se torna a pior das ofensas, sua Honra em seus mais nobres símbolos é naquele momento difamada. Óbvio notar que nada há de democrático aqui. O nobre detém a honra, o plebeu é um vilão. E o pior vilão é o comerciante, desonrado por profissão, pois quem vende se desonra ao esquecer sua dignidade e bajular o comprador. ( Observe como isso sobrevive nos artistas pretensiosos ).
   O honrado burguês parte da ideia comerciária de que ninguém é honrado. A honra deve ser garantida pelo documento escrito e pela lei. Honra que não é mais uma regra de vida, mas apenas uma obrigação para que a sociedade gire, para que negócios se façam.
   O aristocrata vive em Honra e tem momentos grandiosos em que sua Honra se exibe ao mundo. Seu idela seria a de um mundo em que sua Honra fosse sempre posta a prova. O burguês sonha com um mundo onde todos tivessem a mesma honra que a dele, onde sua honra nunca fosse questionada.
   Estamos hoje vivendo um dos raros momentos em que a Honra não mais existe. A aristocrata se foi há muito e a burguesa está em crise e em prova. Daí o barbarismo.
   Este texto escrito por mim foi inspirado por outro de Renato Janine Ribeiro.
   Vale!

TEM ARTE NA TV? ÁGUA VIVA.

   Acho que foi Benjamin quem disse que o melhor juiz da arte é o tempo. Arte sobrevive, o resto passa. Ou vira apenas nostalgia de quem viveu aquele tempo. Quando esses saudosos morrem a coisa se vai com eles.
   Sou testemunha disso. Entre meus filmes favoritos, alguns são itens de nostalgia. Eu gosto porque me recordam a primeira vez, feliz, que os vi. Lembram um tempo de minha vida, uma pessoa, um sentimento. Mas há o filme que se impõe apenas por seu valor. Não vivi os anos 30 por exemplo. Não tem essa década o charme dos anos 20 ou a rebeldia cool dos 60. Nunca assisti um só filme dos anos 30 quando criança ou quando teen. E meu pai nunca via filmes tão velhos, sua praia eram os anos 50 e 60. Mas vejo os filmes de Hawks, MacCarey, Cukor, Dyke ou Capra e me apaixono por filmes feitos mais de 30 anos antes de meu nascimento. Porque? Arte.
   Falo tudo isso pra dizer que a principio não creio em arte na TV. Se adoro Columbo é por nostalgia. Nenhum garoto de 15 anos vai ver Columbo hoje e gostar. Noto que Seinfeld já não produz efeito sobre os teens de 2013 e duvido que em 2030 um cara de 20 anos se dê ao trabalho de ver Lost.
   Ou será que erro? Star Trek, o original, não é visto pela molecada? Mas ele não tem a propaganda dos novos filmes da série? O Pernalonga é atemporal mas o Pernalonga é cinema. Foi criado e exibido em cinema.
   Falo tudo isso pra contar que ontem vi um capítulo de ÁGUA VIVA e senti uma hiper nostalgia. Vi a novela em 1979 e adorava. Queria ser o Reginaldo Faria. Vendo hoje acho tudo tão lindo e tão antigo também. Tenho a impressão, confirmada pela novela, de que as pessoas então pareciam mais calmas, mas chiques e bem mais bronzeadas. Fábio Jr era bem mais bonito que o Fiuk e Glória Pires tinha 16 anos. Raul Cortez, Beatriz Segall, José Lewgoy, Tônia Carrero, todos eram um luxo! As roupas leves, bem cortadas, com caimento. E ao mesmo tempo me dá um bode, uma sensação de que todo o mal estava ali, que aquele monte de playboy quarentão, em festas sem fim, com seu ouro e seus iates, que todos aqueles caras chiques e sorridentes, praieiros e magros, são os malandros que deixaram a coisa virar o vale tudo de hoje.
   A novela é pura antropologia. Reginaldo em crise, percebe que a vida não é apenas a zona sul. E nesse capítulo ocorre uma cena que seria impensável hoje numa novela. Claudio Cavalcanti vai visitar Reginaldo e os dois conversam. Uma longa conversa que parece improvisada e onde NADA acontece. Falam da vida, da crise, falam em ser amigos, em companheirismo. Acho que aquilo foi quase um momento de arte. Solto. Hiper natural.
   O mundo de Água Viva não tem pressa. Pessoas muito magras, muito bronzeadas falam e vão a praia. Era a Abertura Politica, um otimismo eufórico no ar. O sexo começava a se liberar e por isso ainda era novidade. Tinha gosto de festa. A novela, pudica, mostra isso nas entrelinhas. Tempo de Mascarenhas e de Gabeira.
   Tenho a certeza de que ninguém com menos de 40 anos vê Água Viva.

O VALOR DA VIDA, UM SABIÁ

   Ontem  na Mangueira que dá manga, cinco jovens Sabiás voaram seu primeiro voo.Saltaram do meio das folhas e tomaram coragem sobre um fio de luz. Pousaram no chão e depois voaram. Todos os cinco. Entenderam que eram Sabiás e Sabiás voam. Tudo como deve ser.
   E homens olham pássaros e se encantam com eles.
   Meu pai ao fim da vida se enamorava desse Sabiá que o acompanhava na noite sem sono. Ele era seu sonho. Me toca perceber como na Natureza tudo é certo e tudo é sempre. Esses novos Sabiás são corretos e agora, neste meu sonho acordado são cantos que me dizem ser a vida certa. Quatro horas, escuro, e eles cantam.
   Lembro ainda que nos anos 70 Sabiá só em gaiola. Ao fim da tarde milhares de pardais e de andorinhas se aninhavam e piavam em coro. Mas nada de Sabiás. E recordo com clareza do primeiro Bem Te Vi, foi em 88, ele veio e pousou no meu quintal, bravo, livre, decidido. E cantou seu Bem Te Vi. Desde então voltaram todos. E neste século ocorreu o milagre das Maritacas. A alegria de sua folia aos fins de tarde.
   Voltaram por falta de espaço nos campos? Ou por melhoria na cidade? Bem, não são mais caçados, isso eu sei. Menino com estilingue sumiu. E arapuca não vejo. Se topar com uma eu piso e sumo com os pedaços.
   Agora amanhece e mais alguns se juntam ao canto. Trazem este dia pra mim. Anunciam.
   O que vale a vida sem tudo isto?

VENTO, AREIA E AMORAS BRAVAS- AGUSTINA BESSA-LUIS. UMA MENINA BACANA.

   Gente. Parentes em que cada um interessa por ser único. É uma menina que narra e ela é feinha. E tudo olha. Casa rica na praia com multidão de empregados. Tias, avós. Gente excêntrica. Surpresas em toda página. Vida. Ela descobre a vida. Bichos e gostos. As cores cheiram. Perfume vivo que ri.
   Como ela escreve bem!!! As palavras são comidas por quem as lê. Nada acontece no livro que é um livrinho. A vida cresce. Dá pena quando acaba.
   Filosofia. A autora foi central no Portugal de todo século XX. Escreveu muito. Para adultos. E pouca coisa para crianças. Do que ela fala? Do vento que irrita. Da areia que incomoda. Das amoras bravas lá do mato. Ela faz a gente estar lá. E as frases? São redondas, rolam dentro da gente. Iluminam também. E aquecem.
   Pode marcar. Já me conquistou.
   A menina sabe que cresce. E sente aquela dorzinha dentro que nunca se sabe de onde vem. Cresce e não quer. Cresce e quer que cresça logo. A irmã vaidosa e linda, o irmão que some em caçadas. Tem uma tia doida. E um monte de solteirões. Gente que não se casa porque não necessita de alguém que lhes diga que são amados. Se amam. Avó calada e que morre como se em sonho. O pai que joga e a mãe que é puritana. A igreja. Festas! E as comidas boas. Os campos sem fim, pinheirais, fragas, serras...
   Viver!

AS NAUS- ANTÓNIO LOBO ANTUNES, Portugal, este pesadelo.

   Quando era um miúdo, lá por 1975, lembro de uma portuguesa ir fazer faxina em casa. E de minha mãe comentar com meu pai como era triste esse povo que fugia corrido de Moçambique para não ser estripado pelos negros. Faz tempo.
   Lobo Antunes toca nessa ferida. Num tempo que voa entre 1500 e 1977, Pedro Alvares Cabral, Diogo Cão, Vasco da Gama, Luis de Camões, entre outros, voltam da África e tentam sobreviver na Lixboa setentista e socialista. Tudo lhes parece sujo e louco e agora eles são anônimos. A narrativa, eliptica, tonta, é cheia de adjetivos, de imagens de pesadelo, de becos sem saída, imagens de sujeira, de sexo, doenças, fedor e uma melancolia quente e desesperada.
   Portugal é o lugar onde todos pensam e querem crer ter sangue de fidalgo. E seus heróis andam sem saber onde estão, onde ficar, o que fazer. Miragem. Sofrem de saudades africanas. Querem as mulatas e o verão sem fim. O mar cheio de pestes, a fome e a violência.
   Ler Lobo Antunes não é fácil. Ele exige muito do leitor. Quer atenção e quer cultura. Escrita espinhosa, complicada, exagerada, tortuosa. Quase barroca. Barroquismo ateu.
  

FERNANDO PAMPLONA E ANDRÉ BARCINSKI

   Parece que não mas uma nota se liga a outra.
   Leio no blog do Barcinski que nem unzinho jornalista brazuca chegou no Bruce Springsteen e perguntou o porque do Raul. Pior ainda, ficaram surpresos com a excelência do show!!! Leio as cartas enviadas ao blog e noto o estado de miséria do jornalismo feito hoje. É tudo na base do press release. Ninguém vai atrás de nada e ninguém opina sobre nada.
   Fernando Pamplona morreu. Foi o cara que mudou o carnaval do Rio e um dos caras mais cultos do país. O conheci como comentarista dos desfiles das escolas de samba pela tv Manchete. E vem aí a coisa que liga com o texto do Barcinski. Quando o desfile era ruim Pamplona metia o pau. E se o carnaval daquele ano era um lixo ele dizia, o carnaval tá um lixo! Falava com conhecimento, foi o carnavalesco que lançou João Trinta e Arlindo. Para ele carnaval tinha de ser coisa de preto, sempre. Desfile sem Pamplona opinando não tem graça.
  O mundo vai acabar em tédio e preguiça. Arre!!!

ALBERTO SORDI/ JEAN DUJARDIM/ JOHN LE CARRÉ/ PI/ RICHARD BURTON/ CLAIRE BLOOM

   AS AVENTURAS DE PI de Ang Lee
Resiste muito bem a uma segunda olhada. É um vencedor de Oscar que vai sobreviver. Tem aventura, humor e imagens de sonho. Mais, instiga interpretações. Na verdade ele fala do valor da narrativa como alma da vida. Nesta minha segunda visita meu prazer foi maior. Esse é o sinal do bom filme, na segunda assistida ele cresce. Nota 9.
   O ARTISTA de Michel Hazanavicius com Jean Dujardim, Berenice Béjo, John Goodman, Malcolm McDowell
Minha mãe tentou ver este filme e eu o revi com ela. Ela adormeceu, eu gostei mais que na primeira visita. Agora vejo algo mais que apenas sua coragem. Aqui se usa toda a linguagem que o amante de filmes conhece e guarda no peito. Citações da história da arte usadas modernamente. Sim, a forma é a de 1928, mas a mensagem, a narrativa é a de 2012. Dujardim tem uma atuação histórica. Ele seduz, varia, cresce, faz rir, hipnotiza. É uma estrela, um grande ator! Que belo filme!!! Nota 9.
   VIAGEM FANTÁSTICA de Richard Fleischer com Stephen Boyd, Donald Pleasence, Raquel Welch
Uma equipe é diminuída e colocada dentro do corpo humano. O objetivo é destruir um coágulo no cérebro. Os efeitos especiais são pueris, mas até que o filme sobrevive. Foi malhado quando de seu lançamento. Houve um tempo em que temas ridiculos eram ridicularizados a priori. Lembro de assisti-lo na TV com 11 anos de idade e passar mal. Agora me diverti. Nota 5.
   MEU PÉ DE LARANJA LIMA de Marcos Bernstein
Até tú José Mauro? Botaram um monte de tiques de arte nesta história simples e transformaram isto num trambolho frio e sem porque. Apagaram a poesia, limaram as lágrimas e deixaram um filme ruim. Nota Zero.
   DEEP IN MY HEART de Stanley Donen com José Ferrer e Merle Oberon
Conta a vida do austríaco Romberg, que apesar de suas pretensões eruditas se tornou uma estrela da Broadway. O filme tem um problema central, a vida dele é desinteressante. Nada acontece. Donen dirige sem capricho e até sua leveza mágica está ausente. Tem números com Gene Kelly e seu irmão, Fred. Além de Howard Keel. Nem eles salvam o filme da banalidade. José Ferrer, queridinho da critica na época, transpira antipatia. Nota 4.
   TO THE WONDER de Terrence Malick com Ben Affleck, Olga Kurilenko, Rachel McAdams
Um erro sério de Malick. O tema é sublime, o amor como dom da alma, como condição de vida, como alma do mundo. Mas o modo como isso nos é passado é desastroso. O filme tenta nos levar ao sonho hipnótico com o uso de cortes ritmados e movimentos de câmera dançados. Os atores rodopiam e o ângulo mais usado é do alto e de costas. Isso cansa, produz tédio. O filme é muuuuito chato! Nota 1.
   42, A HISTÓRIA DE UMA LENDA de Brian Helgeland com Chadwick Boseman e Harrison Ford
Em 1947, o dono dos Brooklyn Dodgers contrata o primeiro jogador negro da história, Jack Robinson. O filme é quadrado, básico, mas é impossível não se deixar levar pelo tema. Robinson, que era briguento, suporta as provocações com frieza e vence. Hoje ficamos revoltados com aquilo que ele viveu. Xingamentos no campo de jogo, ameaças das arquibancadas, preconceito do próprio time. Ford está maravilhoso como o dono do time. Digno e muito real. Um bom filme que acho que não será exibido aqui. Procurem em dvd. Vale a pena. Nota 7.
   O ESPIÃO QUE SAIU DO FRIO de Martin Ritt com Richard Burton, Claire Bloom, Oskar Werner
Meu Deus, que mundo era esse! Todos tinham de se posicionar, esquerda ou direita. Um mundo rigidamente dividido. Este magnífico filme fala disso. Burton é um agente inglês. Ultra desiludido. É usado numa tortuosa trama para salvar um colaborador na Alemanha Oriental. Num preto e branco frio e fascinante, obra do genial Oswald Morris, o diretor americano Ritt, grande nome da esquerda de então, faz um filme inesquecível. Não espere aventura e galmour. O livro de John Le Carré desmistificou a vida de James Bond. A espionagem é trabalho de entediados, de homens sem alma. Burton tem uma atuação de mestre. Um monstro de ressentimento, de dor fria e sob controle. O filme é brilhante. Nota DEZ.
   UM AMERICANO EM ROMA de Steno com Alberto Sordi
Sordi cria uma personagem hilária: um italiano que pensa ser americano. Vive falando frases em inglês macarrônico, canta como Gene Kelly e dança sapateado. Pensa ser cowboy, gangster, playboy. Alguns momentos de sua atuação beiram o sublime. Mas há um problema: o roteiro se perde ao final. Parece que não se sabe o que fazer com personagem tão louco. Uma pena... Nota 5.