Poor Boy - Lomax Prison Recording



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NUMA MESA DE BAR

   Blind Willie Johnson. Wim Wenders realizou um dos mais impactantes clips da história. Ele imaginou como seria um clip de WJ, se no tempo de WJ houvesse uma MTV. E eu falo: se existisse WW em 1920.
   Pessoas brancas não passam impunes pelo blues. Isso eu converso num bar, quase drunk, com amigos que sabem o que o blues é. O clip é de uma beleza aterradora.
   Son House é o ídolo de Jack White. JW não passou impune.
   Não era pra ser assim. O blues era pra ter ficado no gueto. Era pra ter morrido. Mas por ser de verdade ele é imortal. Voce sabe baby, tudo o que é de verdade é pra sempre.
   Se engane não. Nada disso é criação do tal mercado. Quando o rock estourou o mercado queria Chubby Cheker, Pat Boone, Brenda Lee. E o Elvis mansinho. Não era pra ter acontecido Little Richard.
   Se engane não. Era pra ter acontecido apenas Hermans Hermits. Dave Clark Five. E Beatles. Não era pra um bando de ingleses toscos se apaixonarem por Muddy e Bo e Hooker. Mas era isso, era blue.
   Na mesa do bar eu conto que uma garrafa de gim é mais perigosa em casa que uma 38 na rua. Me dizem que falei uma frase de blues. Ora, faz tempo que sei que mulheres são invenções do diabo que nos levam pro céu. Ou criações divinas que nos exibem o inferno. Faz tempo que sei o que é acordar e não saber pra onde ir. Repito desde sempre a muito blue frase de Keith: Quando morrer irei pro céu porque passei a vida in hell...Ele é o branco mais blue do mundo baby.
   O melhor na música são esses acidentes. Coisas que não era pra ter sido, mas é. E que têem de engolir. E então ficam tentando pasteurizar e domar. A coisa fica viva. De verdade. Um bando de negros caipiras moldou a alma de caras como eu. E a sua. E a de Wim, Scorsese....etc. Do interiror do interior para SP 2012: um milagre baby, um milagre. Deus existe, veja-O no clip de Poor Boy...Amém.

WHITMAN, O WALT PRIMEIRO

   Aprendi a ler poesia com Whitman. Até então, eu lia poemas como se lesse prosa. Com o mesmo tempo, o mesmo ritmo. Whitman me ensinou o tempo e o ritmo da leitura da poesia. Tempo poético. E então eu me encantei com seu ego. Tudo nele é ele e ele está em tudo. O poeta canta a América, a América é ele.
   Walt Whitman é masturbatório, e sim, alguns poemas são descrições cifradas da masturbação. A geografia do amor é a geografia de seu próprio corpo. Como ele fala, ele se basta.
   Nosso tempo nasceu não na primeira guerra mundial, ele nasce na construção da América e a América nasce na guerra civil. É a primeira guerra moderna, a primeira com jornalistas, metralhadora, tanques, máquinas; e ainda hoje há quem diga ter sido a pior. Walt estava lá, enfermeiro, viu a morte de perto e cantou. Soube ver o renascimento na dor.
   Seu estilo é o do pregador. O poeta sobe ao púlpito e prega aos crentes. Crentes que são americanos, de todas as Américas.
   A Europa jamais poderia ter um Whitman. Ele precisa de espaço, de virgindade, de começos. A Europa é pequena, é velha, está viciada.
   Wordsworth é a Inglaterra e Goethe a Alemanha. Dante é o mundo latino e Petrarca é a Itália. Pois Whitman é os EUA. Ele fala de um presente eterno, ele olha o futuro, ele deixa o passado. Ama o movimento, o ir-se, o individualismo, a coragem, a comunhão. Acima de tudo, ele se ama. Ele olha para si-mesmo e cai de paixão. Mas jamais uma paixão sofrida, ele a goza. Da folha de grama ao soldado que passa, tudo lhe é irmão, e tudo ele ama.
   Whitman teve uma visão e passou a vida inteira descrevendo-a. Reescrevia sua obra sem cessar. Mas desde 1855 sua palavra se afirmara. Um canto a si-mesmo que era um canto a todas as Américas. Todas as terras onde vivessem homens que amassem a democracia, onde as mulheres andassem a cavalo e soubessem atirar, onde os seres fossem camaradas. Onde os horizontes não tivessem fim.
   Os EUA acreditaram em Whitman até 1949. Depois disso, apenas beats e hippies e hoje os ecológicos tentaram manter viva a voz do poeta. Até pouco depois da segunda-guerra voce percebe em filmes e discos e livros americanos a voz de Whitman. A confiança absoluta na vida americana. Mas a partir da guerra da Coréia, da caça aos comunistas, voce começa a notar um desencanto, uma farsa, a América deixa de ser a terra do agora e do porvir e se torna a terra do medo e da nostalgia. Walt Disney e sua fantasia é o Walt desde então. Distração e diversão.
   Os homens que Whitman amou, os simples homens que sabiam atirar e plantar e caçar e domar e amar, esses se foram. As simples mulheres de Whitman, aquelas que eram como cavalos, essas se foram. A América endeusa esses homens e mulheres, porque sabe que eles jamais voltarão. E canta esses heróis no blues, no country, e nos westerns. O individuo que faz parte, o original que é nós-mesmos, o americano.
   Whitman me ensinou a ser eu-mesmo. A olhar o caminho e a cantar. Não é mais meu poeta favorito, mas a ele devo a entrada da poesia em minha vida. Viva Walt!

Jeeves &Wooster S01E03 Part 1/6 ...HUGH LAURIE FAZENDO WOOSTER!!!! QUE MARAVILHA!!!!



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SEM DRAMAS, JEEVES - P.G. WODEHOUSE

   Bertram Wooster...Que personagem maravilhoso! È ele o narrador das 19 aventuras dele e de seu mordomo Jeeves. Wodehouse com esses livros se tornou um superstar e veio a ser eleito o maior humorista inglês do século. Wodehouse teve tempo, viveu 95 anos.
   Voce ouve falar de mordomo e senhor, livro inglês do século XX e deve pensar: Livro policial!!! Não, não é, nem perto disso na verdade. Wooster é um tipo de sátira a alta classe inglesa. Desocupado, burro, com um pensamento bem limitado, ele passa seus dias indo ao clube beber, comprando roupas e visitando seus parentes. Parentes que são tão inuteis e esquisitos como Wooster.
   Então o que move seus livros? Na verdade o que importa é ler seus ridiculos pensamentos, o modo como ele se enrola em teorias pseudo-espertas. A maneira como Wooster vê os outros e vê a si-mesmo. Se há um fio condutor, neste, e bem tênue, o que move é Wooster tentando salvar o casamento de uma prima e ao mesmo tempo procurando fugir de um compromisso. Apenas isso. Mas por Deus!, como ele se enrola!
   Jeeves, o mordomo, aparece pouco e tem tudo que um mordomo deve ter: É quase invisível. Quando a coisa aperta, Jeeves vem e resolve tudo. Seu dom? Ele é a única pessoas a pensar com praticidade. Não por acaso, é o único plebeu.
   Wodehouse cria dezenas de personagens hilários. Tio Basset, Madeline Basset ( uma bela gozação a meninas poéticas ), Fink-Nottle, Spode, o cão Bartolomiau, Stiffy, Emerald Stoker...Uma galeria de tipos irritantes, exagerados, exigentes e engraçados. Todos vivendo em seu limitadíssimo mundinho de Martinis, Whiskys, jantares, pic nics e casamentos. Em suas casas de lambris e de pedra, com seus mordomos que mordomeiam e que, ao contrário do que pensamos, NUNCA falam como Laurence Olivier. A aristocracia inglesa fala, como já dizia Paulo Francis, por girias, por frases feitas e com montes de erros de gramática. É essa a lingua do livro, uma saborosa mistura de ofensas, pedaços de ditados e de agressiva difamação. Explêndido!
   Que eu saiba só 3 livros de Wodehouse foram traduzidos. Todos em 2004. Corra e compre.

TV

   Ok eu confesso! Adoro o canal Fox-Life. Veja bem, eu não tenho saco pra ver ficção na Tv. Se quero ver drama ou comédia pego um dos meus dvds e assisto. Às vezes tem algum documentário legal na Cultura ou no NatGeo. Mas em geral a coisa é terrível ( já falo do Fox... ).
   Assisto Tv entre 22 e duas da manhã. Fico zappeando, tento topar com algo que me faça parar. O que? Não suporto novelas, evito telejornais. Clips me entediam atualmente. Corro sobre os desenhos ( alguns parecem legais, mas parei na época do Pinky e Cérebro ). Sportv só vale em tempo de futebol. NBA e American Football eu adoro, às vezes vejo na ESPN. Os canais Globo são de matar!!! Nada pode ser pior que o Manhattan Connection sem Francis e Nelson Motta. Ficaram os piores. E tem uns jovens magrinhos que falam com sotaque! Afff... Fora isso, tem um monte de programas espertíssimos sobre moda e sobre moda e sobre moda. Fora aqueles sobre viagens em que o ego do cara aparece mais que o lugar onde se vai. Socorro! Sergio Mallandro é legal, mas passa tão pouco...Quero mais ié ié!!!Há!
   Sony, TNT e etc pra mim não existem. Estão fora do meu mundo. Quando passo noto sempre o mesmo: big closes em rostos de plástico. Cenários escurinhos e aquele ambiente de confessionário-antro-de-pecados-e-dores. Eita povinho masoquista!!!
   É engraçado ver os canais internacionais. Em dez minutos voce aprende muito sobre o país. Gosto de ver a NHK e relaxar. Os japoneses continuam os mesmos, falam baixinho e sempre exclamam um "Oh" e um  "Ah" entre as frases. Sempre tem matéria sobre cerejeiras, sobre peixe e sobre o Monte Fuji. Que país!!!
Na RAI em dez minutos voce vai se deparar com uma mulher de peitos grandes e um gordinho com a barba por fazer. O tempo todo tem algum programa de auditório onde se grita e se ri alto. Juro que na Tv da Alemanha sempre está tendo alguma coisa sobre ciência. Seja agricultura, quimica, fisica ou arqueologia, sempre o saber está envolvido. Téeedio alemão. Risos nunca vi. A Tv da França é um kaos. Falam, falam e falam. E depois metem um clip do nada e entra um filme hiper chato. E tem a RTP, a Tv da Terrinha. É a cara de Portugal. Tudo tão pequeno, tão simplesinho. E sempre com alguma cançãozita tristinha, alguma mãezinha a falar...
   Tento Ronnie Von, mas o "grand chef de cuisine" Zé das Silvas já se foi. Então vou pro Fox Life e lá fico.
   TV é folia, Tv é escapismo, é eletrodoméstico de relax. A Fox é ótima!
   Vejo um programa em que oito caras têm de decorar cada um seu cômodo. Alguns fazem coisas pavorosas. Em outro programa, Antonio decora casas em estilo RocknRoll. Muito divertido! Tem ainda o Million Dollar, em que decoradores fazem transformações em casas decadentes. Show de bola! E juro que não estou sendo irônico. A edição é tão rápida e os caras tão carismáticos que a coisa funciona.
    Tem um programa em que são mostrados os melhores quiosques de rua da América. Tem um outro em que dois chefs disputam um prêmio. Programas em que gente compra casa, acompanhamos o corretor. E tem os clássicos da Fox, os dois programas que primeiro descobri, isso dois anos atrás: Man vs Food e Kitchens Nightmare. Gordon Ramsey tenta salvar restaurantes quase falidos e Adam Richman prova pratos gigantes em cidades dos USA. Ele chega a comer quatro quilos de bifes em meia hora. Com bom-humor sempre. São programas que me divertem, e que nada têm de pretensioso ou de estúpido. São o que são, o lado leve da vida. Sem apelações e sem sacanagens.
    PS: Não pense que sou um xiita. Já fui fã de Seinfeld e de Frasier, de Mad About You e de Will and Grace. E acabo de ver Três, sim, Três box de Columbo. E mais um de Kojak. Ou seja, eu tenho uma antiga e forte ligação com tv. E sem culpa. Vejo às vezes A Praça é Nossa e Chaves. Mas a Tv tem estado chatinha, presa, ordinária. Hora de virar o disco, de mudar o penteado, de refazer. A Tv parou em 1993, congelamos nas novidades da HBO e nas séries da Sony/Warner. Na TV Aberta, paramos na época do escracho e das séries respeitáveis da Globo. Saturou. Ninguém merece mais MTV, mais Casseta e Planeta. E nem vou citar os execráveis Pânico e Lu Gimenez. Argh! A coisa tá tão ruim, que Domingo a Noite, sempre execrável,  tem Silvio Santos como o menos pior. A Tv fechada não tá muito pior que isso. A Fox me salva!

Cary Grant tribute narrated by Michael Caine...COMO MICHAEL CAINE, EU TAMBÉM SEMPRE QUIS SER CARY GRANT...



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MANUAL DE ESTILO da revista ESQUIRE

   Tem vendido muito esse lançamento da CEN. Capa dura em xadrez vermelho, é um belo livro editado por David Granger. A Esquire, mítica revista onde homens aprendiam a não só se vestir, como também a ler, jogar, beber, viajar, flertar e viver. Heminguay colaborou, assim como Mailer, Faulkner, Huston e quem mais fosse homem e soubesse escrever bem. Não, não, o livro não é reedição ou histórico, ele é de 2012, fala com a galera de hoje, mas no estilo Esquire, ou seja, chique sem ser afetado. E adulto, nada GQ aqui. Voce sabe, a GQ é a Esquire de quem mal sabe ler.
   Lê-lo tira um zilhão de dúvidas, desde como tirar manchas em colarinhos até a melhor forma de organizar um guarda-roupas. ( A melhor é ter um mordomo, mas como poucos podem ter.... ).
   Paletós, camisas, calças, casacos, relógios, tem de tudo, como usar, o que comprar, como conservar. Caretaço? Talvez, mas o texto deixa claro, são dadas dicas, cabe a voce criar seu estilo. Mas não exagere! A Esquire cria a base sólida e atemporal, voce dá seu toque pessoal.
   Eu disse atemporal? Eles contam a história das roupas. Onde e quando surgiu o paletó, a parca, o jeans, o veludo... 80% das roupas masculinas têm origem militar. E mais que isso já estava estabelecido antes de 1920. De 1920 pra cá quase nada mudou, só tamanhos e cores.
   O príncipe de Gales, aquele, irmão de George, que o filme O Nome do Rei expõe, é o maior nome da moda dos últimos 200 anos. Excêntrico, ele largou mão do trono para poder se casar com uma americana divorciada ( ato que nem William ousará cometer ). Foi nessa emergência que George assumiu um trono que não queria. ( Voce não viu o filme? Corra à locadora! É soberbo e magnífico ). Voltando.... Então o principe, Edward, começou a ser fotografado, seguido, imitado. Para a Esquire foi ele quem mudou tudo. Tirou os homens do preto e do cinza e começou a misturar veludo com gabardine, xadrez com listras. Informal, mas sempre muito, muito elegante. E dando a sensação de ter acabado de sair do banho.
  Pois bem, Edward pode ser o mais influente, mas o livro elege Fred Astaire o homem mais elegante do século XX. Seria bom em caso de dúvida todo homem pensar: Como Fred faria? O que ele vestiria para ir nesse coquetel? 
  Fotos dos ícones: Bogart, Sinatra, Marlon Brando ( que lançou a camiseta como roupa de rua e não como roupa de baixo ), Andre 3000, Jay-Z e George Clooney são os mais elegantes de agora. Jack Nicholson é o cara dos anos 70 e Michael Douglas foi o ícone dos anos 80. Nos anos 60 o ícone é Mick Jagger com a moda dos ternos skinny. Dois destaques muito citados: Steve McQueen, o extra-cool que lançou N modas que ficam até hoje, e claro, não poderia faltar, Cary Grant, que tem a imagem da perfeição absoluta, do simples e saudável como o verdadeiro sofisticado e original.
   Alguns dogmas caem por terra. Tênis, o mais elegante ainda é o mais simples, sempre. Óculos de sol, só o Ray Ban Tipo Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo, ou o óculos aviador, que também é Ray Ban. Cabeça raspada virou ícone depois de Michael Jordan e sapatos nunca devem ser delicados. Sola grossa, costuras fortes.
   Marcas, as melhores são citadas. E surpresa, nada de Armani ou DG. São marcas centenárias, de pouca divulgação, marcas de entendidos. Ternos? Brioni, Canali, Hickey Freeman ou Gieves and Hawkes. Camisa? Borrelli, Tyrwhitt ou Turnbull. Conhece? Melhor mala de viagem? Valextra. Isso mesmo, marca tão secreta que nem logo usa. Para cuidados de pele: Kiehl. Pelo menos essa eu conhecia!
   Cheio de humor, tirando uma dos erros imperdoáveis ( ele não tolera minhas amadas camisas estampadas, e também abomina bermudas e camisetas que não sejam lisas ), o livro nos faz perceber que muito mais que futilidade, elegãncia é uma busca pelo funcional, funcional unido a auto-imagem, a passar para os outros a mensagem certa. Qual a mensagem? Eu sou e eu posso. E me sinto bem.
   Duas coisas mais: Diz ele que mulheres, garçons e taxistas adoram homens de terno.
   E para quem puder, eis o endereço:
   ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS MORDOMOS PROFISSIONAIS: www.butlersguild.com

GROUCHO, CHICO, HARPO E ZEPPO/ STEPHEN CHOW/ VON STROHEIM

  Todo fim de ano eu aprecio uma revisão de filmes de Fred Astaire. Combina muito com champagne e roupa alinhada. Mas este ano fiz diferente, engoli uma leva de filmes dos irmãos Marx. Se alguém nunca viu um filme deles ( creia em mim, isso existe ), vou avizando:
  1- Eles não são engraçados.
  2- São atores ruins.
  3- Não usam humor inteligente como exibicionismo.
  Então porque se mantém à tona desde 1930 ?
  Porque:
  Não são engraçados mas nos dão bom-humor. São crianças, eles vêem o ridiculo das coisas e as bagunçam. Anarquizam inclusive os filmes. Os diretores os odiavam, não seguiam scripts e não se deixavam dirigir. Eles simplesmente saem pela tangente em tudo. São absolutamente auto-centrados. E muito, muito cruéis. Não a toa, o povo do dadaísmo e do surrealismo os idolatravam. Nada neles faz o menor sentido. O Monty Python perto dos três Marx parece travado. Um adendo: Eu aindo dou risadas com certas cenas. Mas hoje não é mais isso que nos pega. Principalmente pelo fato de que a maioria das piadas verbais são trocadilhos intraduzíveis. O que nos pega é a energia vital, a aula de alegria de vida, o descompromisso com a seriedade morta.
   São atores ruins porque não são e nunca pensaram em ser atores. Eles iam lá fazer um filme. E nesses filmes faziam seu show de vaudeville.
   Nunca exibem inteligência. Nada de piadas que mostram como eles são melhores que nós. É humor de moleque de rua, de tio ranzinza, de circo. O legal é que eles eram Muito bem relacionados. Harpo era amigo dos grandes cabeças de seu tempo.
   Os filmes que revi, alguns pela quinta vez, na ordem em que revi:
   UMA NOITE NA ÓPERA de Sam Wood
   É o filme favorito de Groucho mas não dos fãs. É o primeiro feito na Metro, sob a proteção do produtor Irving Thalberg. Grande sucesso. Tem a histórica cena da cabine lotada, que muitos acham ser a cena mais cômica da história do cinema. Gosto muito deste filme, mas eu prefiro os Marx mais mambembes da Paramount. Nota 7.
   UM DIA NAS CORRIDAS de Sam Wood com Maureen O'Sullivan
   Será que Woody Allen se casou com Mia Farrow por causa da mãe dela? Woody é fanático pelos Marx e Maureen é a mãe de Mia... Este é o segundo filme na Metro e também virou nome de disco do Queen. Adoro este filme! Tem uma cena no consultório que é absurda demais até para os padrões deles. O enredo mistura casa de saúde com corrida de cavalos. E ainda tem um fantástico clip de jazz. Nota 9.
   UMA NOITE EM CASABLANCA  de Archie Mayo
   Thalberg morre jovem e Louis B. Mayer, dono da Metro não gostava de Groucho. Os Marx são chutados para produções classe B. Eles desistiriam de tudo, não fossem as dívidas de Chico no jogo. Mesmo assim este é um filme muito ok. Nota 6.
   A GRANDE LOJA de Charles Riesner
   O mais modesto dos filmes que revi. Se passa numa grande loja de departamentos e tem muita música. Usam mais pastelão que o habitual. Nota 6.
   OS GÊNIOS DA PELOTA de Norman Z. McLeod
   Os irmãos ainda na Paramount, ou seja, muito mais soltos. Harpo corre atrás das mulheres ( na Metro ele se infantilizou ), Chico exagera em seu sotaque de araque e Groucho pode falar besteiras a vontade. O filme tem uma das melhores entradas de Groucho em cena. Aqui ele é reitor de uma universidade. É o filme que tem o jogo de futebol no final. Totalmente anárquico. Nota DEZ.
   OS QUATRO BATUTAS de Norman Z. McLeod
    De tudo o que eles fizeram é este o que consegue ter menos história. Eles são clandestinos em navio. Muitas cenas sexy, muita correria, muita piada de vários sentidos. Nota 7
   O DIABO A QUATRO de Leo MacCarey
   Numa entrevista, MacCarey dizia que dirigir os Marx foi a pior experiência de sua vida. Eles nunca o escutavam e ficavam macaqueando o estúdio. Este filme é hoje considerado a melhor comédia da história. Não acho, mas é um filme muito original, muito alegre e o único com viés sério dos irmãos. Groucho é o primeiro ministro de Freedonia e por causa de mal entendido ele leva o país à guerra. Os vinte minutos finais são das coisas mais geniais de toda a história do cinema. Este filme, amado por dúzias de diretores, é um acidente, a gente nota que tudo foi feito por um fio. Transborda de ideias. Uma obra-prima. Nota DEZ.
   NO HOTEL DA FUZARCA de Florey e Santley
   Primeiro filme dos irmãos, 1929. Feito com uns trocados, é pobre e mal produzido. E por isso dá pra ver os três sem nenhum controle. Uma história legal: Na década de 30 um garoto do interior de Pernambuco se tornou fã de Harpo e ao ir para o Rio trabalhar na Radio começou a imitar o gênio dos Marx. Nome do pernambucano? Chacrinha. O filme é nota 7.
   Fora isso, nesses dias ainda vi:
   GREED de Von Stroheim
   Atenção! Lançaram este clássico em dois dvds e 4 horas de duração. Greed é um filme lendário do doido Erich Von Stroheim. Por décadas se pensou que o filme estivesse perdido, mas eis ele aqui. Com um problema: Faltam cenas e mais cenas. Trechos enormes sumiram e ver esse filme se torna uma epopéia aborrecida. Evite.
   KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow
   Mais uma vez essa obra-prima do humor dos anos 2000. É aventura, é fantasia, é dança, é humor. Não sei por onde anda Chow, mas o que sei é que isto é obra de muito, muito talento. PS: Mamãe engasgou de tanto rir. Nota DEZ.

SÓ COM AZEITE

   E a gente reclamava do Benito di Paula!!!!
   O tal Show da Virada mostra aquilo que é a música deste tempo. Tá bom cara, eu sei que o underground tem coisa muito melhor! Mas arte é sempre atemporal, o que se torna retrato de seu tempo é aquilo que ouvimos na rua, nas novelas, nos comerciais, no rádio, em todo canto. Os anos 80 tiveram Husker Du, The X e o sublime Lloyd Cole, mas o retrato do tempo é Michael Jackson e Madonna.
   E o que temos em 2012/2013? Um monte de cantores barrigudos que são chamados de lindos, com suas calças justas e seus paletós ( que minha mãe diz se parecerem com pano de chão ), estourando de tão justos. As melodias variam do sempre igual ao sempre ruim. TODOS são bobíssimos. Pior é o que eles tentam falar! O assunto é um só: sexo. Sexo como festa, sexo como gozo, sexo como corno, mas sempre o sexo. Não existe mais nada nesse mundo de bundas gordas e rostos sorridentes.
   Os nomes que vou citar são ruins, mas digo com dor na alma, perto do Ximbinha, são gênios!
   Silvio Brito, Wando, Gilliard, Peninha, Agepê, Guilherme Arantes, Originais do Samba, Benito di Paula...esses os Ximbinhas de 1978.
   Em 1974 eu escutava aos domingos de manhã as 10 Mais da Rádio América AM, mais popular era impossível. Secos e Molhados, Roberto Carlos, Raul Seixas, Tutti Frutti, e os cantores brasileiros que cantavam em inglês: Steve MacLean e Crystian. Desses nomes, alguns são geniais, todos são muito melhores que qualquer das duplas atuais.
   Se eu apelar posso dizer que o Show da Virada de 1970 teria Simonal, Tim Maia e Tony Tornado. Que se passa?
   Mudo de canal e vejo um festival inglês ( não é Glastonbury ). Afff!!!! TODAS as bandas imitam punks de 1978 !!!! TODAS, sem excessão! Chegam até a cuspir, pular e fazer caras e bocas dos Stiff Little Fingers ou de Howard Devotto. Qué isso nego???? A história do rock acabou? Paramos em 1987 e daí pra frente é só imitação? As discotecagens em Manchester '87 foram o fim? Todo o resto, seja Nirvana, Radiohead ou Dandy Warhols, apenas misturas de coisas velhas com sotaquezinhos novos?
   Então vamos jogar fora essa bosta e partir pra outra coisa! Música do Iraque, dos ciganos, do Haiti, tudo menos essa merda de cópias do Sham 69 ou dos Stranglers. Calça skinny com All Star!!! Again!!!!!!
   Repetimos o mesmo faz tanto tempo que se em 67 fosse assim  Mick Jagger se vestiria como Chaplin !!! E cantaria como Al Jolson !!!
   Carla Bardi, AZEITE DE OLIVA. É isso, tudo que voce precisa saber sobre ele. Belas fotos e boas receitas. Vem embalado em lata de azeite. Lindo. E nada caro. Adorei !!!
   É o que falo: Música e Cinema estão um lixo, mas os livros....Que beleza!!!!!!
   Bonne Anné !!!!