DANNY TREJO/ LECH MAJEWSKI/ SODERBERGH/ CANET/ CLARK GABLE

   O FUNDO DO MAR de Peter Yates com Robert Shaw, Jacqueline Bisset, Nick Nolte, Louis Gosset e Eli Wallach
Vi no cinema quando moleque. Tou ficando velho...este filme é antigo até em dvd. E é muito chato! Fala de tesouro no fundo do mar. Shaw era um ator inglês interessante, Bisset era bonita e fria e Nolte, ainda bonitão, era considerado na época o pior ator do mundo. Yates foi um diretor promissor. Fez o fantástico Bullit com Steve McQueen, mas aqui tudo dá errado. Nota 2.
   13 HOMENS E UM NOVO SEGREDO de Steven Soderbergh com Al Pacino e Ellen Barkin
Após o ótimo primeiro filme e o chatíssimo número dois, este terceiro é bom de se ver. Estranhamente Clooney aparece menos, Matt Damon tem boas cenas e Elliot Gould é o centro da trama. Soderbergh sabe criar o clima. O filme não faz feio em comparação com as boas aventuras sofisticadas que foram moda em Hollywood por volta de 1960/67. O elenco tem classe, as falas ok e Pacino faz um tipo muito divertido. Um prazer de primeira. Nota 7.
   CHAMADO SELVAGEM de William Wellman com Clark Gable e Loretta Young
Baseado no ótimo livro de Jack London, dele ficou só o nome do cão, Buck. A ênfase aqui vai toda para um romance entre o aventureiro e uma viúva perdida no Alasca. Tempo em que o cinema não humanizava a um cão. Buck é um cachorro com jeito de cachorro. Gable está a vontade, faz o macho de bom coração e muito safo. Wellman foi um dos grandes do cinema clássico. Nota 6.
   BAD ASS de Craig Moss com Danny Trejo
E não é que Trejo sabe interpretar? Aqui ele é um ex-combatente do Vietnâ que se torna estrela do youtube ao salvar velho de bandidos. Em registro que mistura Gran Torino com Charles Bronson, o filme é triste, meio chato, bobo até. Mas Trejo é uma figuraça!  Não se compara ao maravilhoso Machette, esse sim, excelente homenagem a Danny Trejo. Nota 5.
   O MOINHO E A CRUZ de Lech Majewski com Rutger Hauer, Michael York e Charlotte Rampling
O que vemos é um quadro. De visual riquíssimo. Acompanhamos então a vida dos personagens do quadro. E vemos Pieter Brueghel pintando-o. E o que há nesse quadro? Um moinho que pode ser Deus e pode ser o tempo. Os espanhóis que humilham e torturam os belgas. Cristo sendo crucificado, que pode ser todo e cada um daqueles que foram contra a tirania. Tudo isso de modo lento, silencioso. Lembra Sokurov, Dreyer e até Tarkovski, é lógico que não atinge a estatura de nenhum deles. Mas acontece uma coisa perturbadora com quem o assiste: voce se sente hipnotizado "depois" que ele termina. Só sentirá seu efeito após a sessão, se tiver paciência e prestar atenção. É um filme invulgar. Quase uma viagem ao passado. Sem nota.
   ATÉ A ETERNIDADE de Guillaume Canet com Jean Dujardim, François Cluzet e Marion Cotillard
Canet presta homenagem ao filme de Kasdan, O Reencontro. O que vemos é um grupo de amigos que se reúne. Faz tempo que não se vêem. O que sentirão? Que dores e alegrias irão ser acordadas? O filme fala sobre amizade. E sabe falar. O cinema americano perdeu o dom de falar sobre pessoas. Fala apenas sobre o excepcional. Sejam loucos, drogados ou heróis, o cinema made in usa só conta histórias fora do comum. Os franceses, como os italianos e outros, ainda consegue falar de gente comum. É uma delicia ver isso. Quem verá este filme??? Jean Dujardim, após O Artista, se mostra um ator adorável. Nota 7.
   EM NOME DO REI de Uwe Boll com Jason Statham, Ray Liotta e Claire Forlani
Lixo. Gosto muito dos filmes de Statham. Acho ele um simpático ator para ação. Mas aqui o que temos? Uma idade-média que se parece com backstage de um show do Metallica. Cavaleiros medievais negros, mocinhas com cara de Kate Perry, ação pouco criativa, roteiro medíocre. Se no filme de Lech Majewski nos sentimos completamente em 1640, aqui nos vemos num passado com cara de video-clip. ZERO!!!!

Anna Karina & Serge Gainsbourg-Anna



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Ma ligne de chance ANNA KARINA......



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ANNA KARINA, GUILLAUME CANET, BATMAN E CINEMA FRANCÊS

   Brasilia se torna uma cidade quase bonita amanhã. A mais que perfeita ANNA KARINA virá abrir o festival de cinema da cidade. Anna Karina é a mais fascinante atriz da história do cinema. Godard foi gênio enquanto teve essa musa dinamarquesa a seu lado. Depois que se separaram Jean Luc se tornou um chato. Anna era timida, sexy, esperta, enigmática e pensativa. Os olhos mais lindos do mundo com a boca mais perfeita da história.
   O Estadão diz que ela virá cantar. A voz é aquela que toda cantora "tristinha" de 2012 queria ter. Só que Anna nunca foi tristinha. Na vida real ela era cheia de ideias, de ideais e de atitudes. Fugiu de casa aos 16 e foi pra Paris. Logo era modelo da Chanel e daí para o cinema de Godard.
   Ela conta que o problema do cinema de hoje é simples: todos querem ser ricos e famosos. Eles se contentavam em ter um carro velho e um canto pra morar. Mas Anna mostra sua inteligência ao dizer que "Godard, de forma alegre e descompromissada, fazia filmes muito sérios; hoje, gente muito séria e metida faz filmes bobos e sem porque".
   Anna Karina se diz feliz por ainda ser lembrada e por morar no Quartier Latin. Fico feliz por saber que ela é feliz. Na verdade ela é mais que lembrada, é referência para elegantes e estilosos de todas as idades.
   Falando em Anna, falo em Guillaume Canet. ATÉ A ETERNIDADE é o melhor filme em cartaz. Mas, é lógico, por ser francês não terá público. Não deixa de ser cômico o fato de que meus colegas "rebeldes" da USP terem um forte preconceito contra filmes franceses. Eles se dizem contra o consumo e a moda, mas acham Tim Burton, Chris Nolan e Wes Anderson "gênios". Só assistem filmes made in usa. Como diria Francis, weeeeeelllll.....
   Esse povo teen acredita quando o sr. Nolan posa de "cineasta com ideias", esquecendo que Batman é uma franquia de uma mega produtora. Nada há de risco em Batman. Todo Batman deu lucro. Não foram ver o magnífico CONVERSAS COM MARGUERITTE, e perderam a chance de ver O ARTISTA.
   Pela enésima vez me explico: Adoro cinema pop-bobo. Mas só quando esse cinema pop se assume como tal. Tipo Tarantino ou Soderbergh. Quando o cara vem tentar me enganar salto fora. Não me venha com papo cabeça em filme pop. Não venha posar de artista sem ter coragem ou ideias para ser. Não me venha pegar um título popular e de apelo teen, e envergonhado, tentar me convencer de que aquilo é mais do que de fato é. Isso se chama "coisa de jeca". Só americano inseguro é assim. Vergonha de ser pop.
   Respeito muito mais Levinson com seu HOMENS DE PRETO assumidamente bobo, que um jeca tentando me fazer crer que Batman é mais do que é.  Meus colegas teen entram nessa como ovelhas inteligentes. Eu vou atrás de Guillaume Canet.
   Em sua entrevista Canet tece loas à O REENCONTRO de Lawrence Kasdan. Tenho amigos que não conheciam esse filme e foram apresentados a ele por mim. Adoraram. Como Canet adorou. Viva o DVD.

O MOINHO E A CRUZ, FILME DE LECH MAJEWSKI

   Aviso que não é um filme fácil. Sokurov faz escola e se trata de um filme lento, quase estático. Ao mesmo tempo tem uma fotografia que beira o fantástico. Ao término do filme voce se encontra em um tipo de estado alterado. Por mais chato que ele seja ( ele é ), ele te deixa hipnotizado. Cria um mundo e subverte o tempo. Seu poder se dá em seu final. Só quando ele termina notamos que durante hora e meia vivemos em outra dimensão. Dentro do universo contido em um quadro. Uma das obras-primas de Brueghel.
   Brueghel é feito por Rutger Hauer, e ele está compondo seu quadro. O que o filme mostra são os personagens da pintura em seu cotidiano e se dirigindo ao cenário que é a pintura. Parece complicado? Não é. Nos primeiros minutos voce ficará meio tonto, mas depois tudo vai se clarificando.
   Brueghel foi pintor mestre da escola nórdica. Enquanto os pintores católicos pintavam imponentes retratos de reis, cenas bíblicas e históricas; os nórdicos inseriam a vida do povo em suas pinturas. Camponeses e soldados rasos. Na época do quadro a Espanha dominava vastos reinos nórdicos e perseguia cruelmente os hereges ( protestantes ) desses países. A pintura de Brueghel coloca os espanhóis como "novos romanos" e os belgas/holandeses/alemães como os seguidores de Cristo. O diretor, Lech Majewski, não facilita, ele exibe dor, crueldade, chagas.
   Interessante observar roupas, casas, modos da época ( cerca de 1630 ). São humanos que hoje parecem alienígenas para nós, corretos homens de 2012. Esquecemos que aquela era uma Europa cheia de animais e de crianças. Muitas crianças.
   Há uma frase no filme ( é um filme quase mudo ) muito importante: a de que as coisas mais fortes, os fatos que podem mudar o mundo, passam despercebidos por todos. Essa é uma mensagem direta para nossa época. Cristo morre sem que o mundo saiba. No ano 33 DC. o que o mundo olhava era Roma, os reis romanos e suas guerras. Ninguém se importou com um pobre profeta judeu. A mesma coisa com vários homens e acontecimentos em toda nossa história. E a mesma coisa pode estar ocorrendo agora.
   O simbolismo do filme é explicado pelo personagem Brueghel. O moinho é o Tempo, tempo que mata e alimenta.
   Comento aqui um desses momentos chave que o filme não fala ou toca, mas que me fez pensar: a Espanha destruiu o catolicismo. Seu fanatismo, aquele de Isabel e Fernando, deu ao catolicismo seu caráter cruel. Penso que se a armada espanhola houvesse vencido a Inglaterra, se a tempestade não houvesse afundado a marinha gigantesca da Espanha, o que seria do mundo hoje? Teríamos a vitória do modelo espanhol. Monarquia sem constituição, fanatismo inquisitorial, fidalguia sem trabalho. Os reis católicos ingleses voltariam ao poder, todos os protestantes seriam perseguidos, o caos nas ilhas. A Escócia mandaria na Grã-Bretanha. Este filme não mostra nada disso, mas exibe o que foi a Espanha nos países baixos.
   Claro que pode, e deve, ser feito um paralelo com a URSS sobre a Polônia. O povo polonês massacrado e executado. Mas qualquer outra tirania tem lugar aqui. Cristos foram executados por falarem aquilo que precisava ser dito.
   É um bonito filme. É cheio de ideias e toca fundo quando termina. Mas não é um grande filme. E nisso que falo não há nada de contraditório. Pois ele é mais uma tese, uma obra audio-visual, uma experiência com imagem. Mas não é aquilo que entendo por "grande cinema".
   Espero em breve poder explicar o que seja "grande cinema".
   Em cartaz agora em SP, merece ser visto.
  

REENCONTRO ( RENARD, VELHA RAPOSA )

   Eu ficava olhando aquela capa de papelão grosso. Admirava o azul celeste que emoldurava o desenho. Um leão, pássaros, um galo, carneiro, esquilo e um urso com uma lança à mão. E a raposa que se apresentava nessa cena diante do rei, o Leão. Eu não sabia ler, e então deveria ter menos de seis anos. Minha barriga sobre o tapete, frio, ficava vendo os desenhos nas páginas. Uma casa medieval em meio a neve e a Lua. Um cachorro vestido de camponês. E a raposa, sempre presente, dando golpes, fugindo com seu roubo.
   Depois esse livro desapareceu de casa. Foi um presente de minha madrinha, que se chamava Lourdes. Uma amada madrinha que me mimava com doces e brinquedos. Mas que um dia me dera esse que foi meu primeiro livro.
   Os anos passaram e acabei por descobrir que aquele livro desaparecido deveria ser o famoso "Renard, velha raposa", um livro francês medieval, de autor ignorado e que é considerado um dos textos fundadores da literatura do país. Nunca mais o vi. E, frequentando sebos desde 1992, sempre ia à sessão de livros raros para ver se o reencontrava. Quando arriscava perguntar, a resposta era sempre a mesma: "Jamais o vi". Será que eu sonhara com aquele livro?
   Fosse eu um milionário seria esse o livro que eu iria à caça. Nada de gravuras de Rembrandt ou textos sacros medievais. Seria o meu Renard.
   Minha madrinha morreu velhinha, eu entrei na maturidade e nunca esqueci desse livro número um.
   Um dia...
   Numa manhã chata e sem nada pra fazer, comecei a andar pela Paulista. Desci a Augusta e pensei em ir a uma feira. Mas em vez disso entrei em ruas que não costumo andar. Comprei então um porta-retratos e um livro de poesias de Keats. Já tarde, resolvi, cansado, voltar pra casa. Parei para amarrar o tênis e então olhei uma vitrine. Livros bobos e banais. Me voltei para partir mas meus olhos ainda tiveram tempo de ver uma capa azul... RENARD...era ele! Deus, era ele!!!! O mais procurado dos livros, o primeiro de todos, o impossível, o milagre....RENARD!!!!!
   Entrei na loja, o coração aos pulos. Pedi o livro e disse, "Vou levar!!!" Que importa o preço? Ele vale tudo o que tenho em minhas estantes. Mas estou ansioso. Antes da moça o colocar numa sacola eu o pego nas mãos. Olho, quarenta anos depois, sua capa, a raposa e o leão. Entrego o livro para a moça e finjo olhar outros livros. Escondo meus olhos, com lágrimas.
   Editora Vecchi, Rio, Capital, MCMXLVII....1947....quando o ganhei ele já era antigo....1947, por isso era impossível de o achar, 1947.....
   Volto pra casa e olho cada página. Estranho, lembro de tudo, de cada desenho, de cada forma.
   Obrigado pelo presente outra vez, minha madrinha....

WOODY ALLEN, FLA X FLU E BENJAMIN

    A criatividade cala-se. Converso com um amigo, ontem. Este momento é um daqueles em que a criatividade está relegada a posição secundária. O que importa é o "mundo real", que na verdade ninguém sabe o que é. Um livro só será respeitado se falar da "triste condição humana" e quanto mais cinza melhor. O romantismo/simbolismo em baixa. O realismo/naturalismo em alta. Flaubert acima de Balzac.
   Engraçado o cinema. Aceitamos o "realismo" de Batman ou de Von Trier. Onde esse realismo? Na verdade nossa época é tão deprimida que todo filme down é aceito como real. Mesmo que tenha um tonto fantasiado de morcego ou viagens mentais de um umbigo narcisista. Toda obra cheia da alegre vitalidade da criatividade absoluta será vista com reservas.
   O fato é que as pessoas não estão ocupadas em nascer. Elas se ocupam em não morrer. Isso resume todo o mundo de agora.
   Leio um muito belo texto de João Pereira Coutinho sobre Woody Allen. Ele fala que as pessoas não levam Woody muito a sério porque ele não fez sua grande obra-prima. Ele não tem o filme perfeito. E isso é confirmado pelo próprio Woody Allen, que em entrevista recente, falou que nenhum de seus filmes podem ser comparados aos filmes de seu ídolo, Ingmar Bergman.
   Pois Coutinho diz que não é assim. Woody tem três filmes que podem ser comparados aos melhores Bergmans ( Crimes e Pecados, Manhattan e Hannah ), o problema é que Allen não teve, nunca, uma grande fase. Bergman lançou uma obra-prima atrás da outra durante 14 anos. Foram 17 filmes de alto nível e que mudaram o cinema. Woody, além de nada ter feito que mudasse o cinema, nunca conseguiu fazer mais de dois grandes filmes a cada seis ou sete anos. Mas Coutinho mata a charada ao dizer que na verdade Woody Allen, como um Proust do cinema, fez apenas um único filme, que deve ser dividido em capítulos. Cada filme é um volume de um grande filme, o filme-obra de Woody Allen, um filme único de um artista que começa como humorista satírico, se torna porta voz da inteligência de New York tipica dos anos 70 e depois envereda por traumas Bergmanianos e ironias literárias. Por fim, descobre tardiamente Fellini, e neste milênio faz sua "coda", um colorido panorama do mundo e das figuras mundanas Fellinianas. Uma carreira longa e talvez a mais interessante em seu todo, neste cinema sem direção de hoje.
   Leio também um texto de Jabor que chora o cinema sem alma.
   Ele deve ter lido Benjamin. Troque alma por aura e lá está a teoria de Benjamin. Assim como cinco Fla-Flu por ano destrói qualquer espirito Fla-Flu, filmes feitos para cinema, DVD, internet, PC, TV, acabam com toda chance de culto, de alma, de paixão secreta.
   O nome é Tame Impala. Boa banda de covers.

GLORIOSOS DIAS

   Gloriosos dias!
   O que falo não é nunca por ter lido ou pelo dogma de um mestre ( apesar de ler muito e saber que ler é tomar conhecimento de um ato potencial ). É por sentir na carne que escrevo. Sabendo que jamais conseguirei dizer exatamente o que sinto.
   Glorificados dias! Minha fé diz que é preciso morrer e renascer em vida para poder morrer a morte em paz. Minha mente vê que a vida é toda feita de pequenas mortes e buracos sombrios e que sabedoria é renascer após essa mortezinha. A vida só vale a pena desse modo. A saga particular da morte e vida, vida e morte latente na existência de cada um.
   De Avignon tudo o que vi foram árvores pequenas retorcidas e ruas sujas. E o vento Mistral, que deixa todo mundo acabrunhado e querendo sumir. Lembro do céu azul demais e do cheiro de aniz que impregnava a casa. E das montanhas de sinais de cristianismo muito suspeito. Os anti-papas viveram em Avignon. As seitas gnósticas fizeram de lá seu lar.
   Quando lá estive eu não sabia de nada disso. Senti frio e uma melancolia que me fazia odiar o tempo. Calçadas de pedra eram só calçadas velhas. Eu não sabia as ler.
   Antes eu tivera uma experiência de cigano. Ratos do tamanho de coelhos que ficavam olhando pra mim e mexiam suas patinhas nervosas. Ratos têm cheiro e eles exalavam esse cheiro ao sol do meio-dia. Bosta seca também fedia. Bosta de gente, desidratada ao sol. Aquele lugar tinha apenas isso, ratos, bosta, capim e córregos sujos. E eu, torrando ao sol até esquecer onde eu estava ou o que eu era. O sol me fazia suar e tudo o que eu sabia era do calor que subia e do suor que descia. Cheiros e o leve movimento do capim na brisa que mal existia. Aquelas tardes são renascimentos. Duram para sempre. Minha eternidade habita aquele lugar.
   Gloriosos dias! Enamorado da vida. Solto em mim-mesmo e solto de mim-mesmo. A vida foi criada pela matéria inerte ou a vida criou a matéria inerte? É mais fácil da vida nascer a matéria ou da matéria nascer a vida ? Para haver morte é preciso a vida.
   Então encontro perdido entre meus livros o primeiro volume do Quinteto de Avignon de Durrell. E tudo nele faz sentido. Um escritor daqueles que fazem parte dos buscadores. Dos inquietos. Os indagadores. Os autores que se exilaram ao redor do Mediterrâneo, sentindo lá a origem e fim. Adentro essas páginas e sou preso da febre de ler tudo. Febre ou sonho?
   O nosso erro, radicalmente tolo, é pensar ser a matéria superior a vida.

voce CONHEce GONg ? QUANDO DAEVID ALLEN

daevid allen nasceu na Austrália. E desde sempre foi um beatnik. O que ele Queria/quer/pra sempre é transcender. A CONCIÊNCIA BEAT SABE: O ÚNICO OBJETIVO DA VIDA É TRANSCENDER A REALIDADE E VER-ENTENDER-SABER-SENTIR. Mas o mundo luta contra: daí a arTe.
quando daevid allen saiu da austrália e foi pra inglaterra em 1959 ele sabia que CANTERBURY era o lugar. ( Porque cada nação tem sua alma e a alma da Inglaterra é Canterbury como a da Espanha é Toledo e da França é Avignon.      EM CANTERBURY ele encontrou..........:
Robert Wyatt, que após estudar música fora para a Espanha. Seu objetivo era o de DESCOBRIR A VIDA. Quando Daevid estava em Canterbury eis que Robert Wyatt volta da Espanha e os dois se encontram. Fazem um som: Daevid usa ruídos pré-gravados e Robert declama poemas beat. Outros caras se misturam ao duo. Fazem um tipo de jazz elétrico, um mix de Monk com Ornette Coleman.
vão para LondreS e lá tocam num club de porão. WILLIAM BURROUGHS vai lá uma noite e eles começam a usar uma tal de LSD.
..........................................................PARIS.....................................................................................
eles acham a InglateRRa conservadora. Moram um tempo em IbiZA e lá fazem happenings nas areias com amplo consumo de coisinhas estranhas. depois Vão á Paris e lá fazem experiências com fitas pré-gravadas, ruídos eletrônicos, percussão tribal e poesia surrealista. Um grupo de anarquistas começa a gravitar ao redor do grupo. A proposta: fazer o que vier á cabeça. Tudo será um grande improviso: tanto a vida como o som.
era então 1962.......os beatles ainda estavam em LOVE ME DO. Daevid já planejava o FLYING TEAPOT.
O Gong existe até hoje. E Daevid Allen ainda está em estado de transcendência.
Quando voce vê esse cara em 1973 pirar, aquilo é real. Ele não está "viajando" por influência de um antigo freak cool, ele é esse velho freak cool.
A VIDA COMO ATO DE CRIAÇÃO.
Não é pequeno esse legado desse australiano doido.

GONG "Master Builder" MANCHESTER uk 2010 ( QUANDO DAEVID ALLEN.....)



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Gong - I Never Glid Before - Live 1973 ( QUANDO DAEVID ALLEN.... )



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O FALECIDO MATTIA PASCAL- LUIGI PIRANDELLO, A LIBERDADE EXISTE?

   Mattia Pascal, morador de uma pequena cidade italiana, é dado como morto. Aproveitando-se dessa nova vida, cria uma identidade e viaja pela Europa com dinheiro ganho em jogo. Parando em Roma, acaba por se envolver em estranhas aventuras, que vão de espiritismo à romance, um duelo à um quase suicídio.
   Esse seria o enredo, bastanto reduzido, de Mattia Pascal. Uma comédia, muito engraçada, bastante absurda, que levei anos para resolver ler. Pena ter demorado tanto, que bom tê-lo lido afinal. Pirandello, ganhador do Nobel de 1934, é autor central do século. O absurdo que ele exibia antecipa o absurdo em que vivemos agora.
   O livro pode ser chamado de existencialista. Mattia procura e pensa todo o tempo na liberdade. E descobre que nada pode ser pior. O homem completamente livre se vê totalmente só. Livre das obrigações e das amarras afetivas, livre de rotinas e trabalho, livre de seu nome e de sua história, Mattia tem o que de seu? Quando está livre ele se sente o último dos homens, e quando percebe que sempre será si-mesmo e que portanto a liberdade é uma ilusão, ele se vê como é: um covarde.
   Mattia Pascal foge de tudo. Desde a infãncia, rico e protegio, passando pelo casamento, pobre e infeliz, tudo nele é irresponsabilidade. A única atitude que ele toma é a de fugir. Ele foge de sua vida, foge de um duelo, foge do amor e ganha dinheiro por acaso, em jogo na cidade de Monte Carlo.
   É um livro atual? Muito. Mattia Pascal é um tipico homem moderno, preso e ao mesmo tempo solto, sem compromissos e sem porque. O absurdo da história se perdeu, após décadas de cinema-fantasia, ela irá parecer bastante plausível. Talvez hoje sejamos todos absurdos.
   Pirandello se fez mais famoso no teatro. Suas peças alacançaram imenso sucesso e fizeram escãndalo. Numa estréia ele quase foi surrado pela audiência. Mas este seu romance consegue uma coisa rara. Ser muito sério, muito profundo e ao mesmo tempo ser divertido, cômico, elétrico.
   E o melhor, tem um gostoso sabor italiano, às vezes me lembrou alguma coisa de Monicelli, de Germi e de Totó até. Leia.