WOODY ALLEN, FLA X FLU E BENJAMIN

    A criatividade cala-se. Converso com um amigo, ontem. Este momento é um daqueles em que a criatividade está relegada a posição secundária. O que importa é o "mundo real", que na verdade ninguém sabe o que é. Um livro só será respeitado se falar da "triste condição humana" e quanto mais cinza melhor. O romantismo/simbolismo em baixa. O realismo/naturalismo em alta. Flaubert acima de Balzac.
   Engraçado o cinema. Aceitamos o "realismo" de Batman ou de Von Trier. Onde esse realismo? Na verdade nossa época é tão deprimida que todo filme down é aceito como real. Mesmo que tenha um tonto fantasiado de morcego ou viagens mentais de um umbigo narcisista. Toda obra cheia da alegre vitalidade da criatividade absoluta será vista com reservas.
   O fato é que as pessoas não estão ocupadas em nascer. Elas se ocupam em não morrer. Isso resume todo o mundo de agora.
   Leio um muito belo texto de João Pereira Coutinho sobre Woody Allen. Ele fala que as pessoas não levam Woody muito a sério porque ele não fez sua grande obra-prima. Ele não tem o filme perfeito. E isso é confirmado pelo próprio Woody Allen, que em entrevista recente, falou que nenhum de seus filmes podem ser comparados aos filmes de seu ídolo, Ingmar Bergman.
   Pois Coutinho diz que não é assim. Woody tem três filmes que podem ser comparados aos melhores Bergmans ( Crimes e Pecados, Manhattan e Hannah ), o problema é que Allen não teve, nunca, uma grande fase. Bergman lançou uma obra-prima atrás da outra durante 14 anos. Foram 17 filmes de alto nível e que mudaram o cinema. Woody, além de nada ter feito que mudasse o cinema, nunca conseguiu fazer mais de dois grandes filmes a cada seis ou sete anos. Mas Coutinho mata a charada ao dizer que na verdade Woody Allen, como um Proust do cinema, fez apenas um único filme, que deve ser dividido em capítulos. Cada filme é um volume de um grande filme, o filme-obra de Woody Allen, um filme único de um artista que começa como humorista satírico, se torna porta voz da inteligência de New York tipica dos anos 70 e depois envereda por traumas Bergmanianos e ironias literárias. Por fim, descobre tardiamente Fellini, e neste milênio faz sua "coda", um colorido panorama do mundo e das figuras mundanas Fellinianas. Uma carreira longa e talvez a mais interessante em seu todo, neste cinema sem direção de hoje.
   Leio também um texto de Jabor que chora o cinema sem alma.
   Ele deve ter lido Benjamin. Troque alma por aura e lá está a teoria de Benjamin. Assim como cinco Fla-Flu por ano destrói qualquer espirito Fla-Flu, filmes feitos para cinema, DVD, internet, PC, TV, acabam com toda chance de culto, de alma, de paixão secreta.
   O nome é Tame Impala. Boa banda de covers.

GLORIOSOS DIAS

   Gloriosos dias!
   O que falo não é nunca por ter lido ou pelo dogma de um mestre ( apesar de ler muito e saber que ler é tomar conhecimento de um ato potencial ). É por sentir na carne que escrevo. Sabendo que jamais conseguirei dizer exatamente o que sinto.
   Glorificados dias! Minha fé diz que é preciso morrer e renascer em vida para poder morrer a morte em paz. Minha mente vê que a vida é toda feita de pequenas mortes e buracos sombrios e que sabedoria é renascer após essa mortezinha. A vida só vale a pena desse modo. A saga particular da morte e vida, vida e morte latente na existência de cada um.
   De Avignon tudo o que vi foram árvores pequenas retorcidas e ruas sujas. E o vento Mistral, que deixa todo mundo acabrunhado e querendo sumir. Lembro do céu azul demais e do cheiro de aniz que impregnava a casa. E das montanhas de sinais de cristianismo muito suspeito. Os anti-papas viveram em Avignon. As seitas gnósticas fizeram de lá seu lar.
   Quando lá estive eu não sabia de nada disso. Senti frio e uma melancolia que me fazia odiar o tempo. Calçadas de pedra eram só calçadas velhas. Eu não sabia as ler.
   Antes eu tivera uma experiência de cigano. Ratos do tamanho de coelhos que ficavam olhando pra mim e mexiam suas patinhas nervosas. Ratos têm cheiro e eles exalavam esse cheiro ao sol do meio-dia. Bosta seca também fedia. Bosta de gente, desidratada ao sol. Aquele lugar tinha apenas isso, ratos, bosta, capim e córregos sujos. E eu, torrando ao sol até esquecer onde eu estava ou o que eu era. O sol me fazia suar e tudo o que eu sabia era do calor que subia e do suor que descia. Cheiros e o leve movimento do capim na brisa que mal existia. Aquelas tardes são renascimentos. Duram para sempre. Minha eternidade habita aquele lugar.
   Gloriosos dias! Enamorado da vida. Solto em mim-mesmo e solto de mim-mesmo. A vida foi criada pela matéria inerte ou a vida criou a matéria inerte? É mais fácil da vida nascer a matéria ou da matéria nascer a vida ? Para haver morte é preciso a vida.
   Então encontro perdido entre meus livros o primeiro volume do Quinteto de Avignon de Durrell. E tudo nele faz sentido. Um escritor daqueles que fazem parte dos buscadores. Dos inquietos. Os indagadores. Os autores que se exilaram ao redor do Mediterrâneo, sentindo lá a origem e fim. Adentro essas páginas e sou preso da febre de ler tudo. Febre ou sonho?
   O nosso erro, radicalmente tolo, é pensar ser a matéria superior a vida.

voce CONHEce GONg ? QUANDO DAEVID ALLEN

daevid allen nasceu na Austrália. E desde sempre foi um beatnik. O que ele Queria/quer/pra sempre é transcender. A CONCIÊNCIA BEAT SABE: O ÚNICO OBJETIVO DA VIDA É TRANSCENDER A REALIDADE E VER-ENTENDER-SABER-SENTIR. Mas o mundo luta contra: daí a arTe.
quando daevid allen saiu da austrália e foi pra inglaterra em 1959 ele sabia que CANTERBURY era o lugar. ( Porque cada nação tem sua alma e a alma da Inglaterra é Canterbury como a da Espanha é Toledo e da França é Avignon.      EM CANTERBURY ele encontrou..........:
Robert Wyatt, que após estudar música fora para a Espanha. Seu objetivo era o de DESCOBRIR A VIDA. Quando Daevid estava em Canterbury eis que Robert Wyatt volta da Espanha e os dois se encontram. Fazem um som: Daevid usa ruídos pré-gravados e Robert declama poemas beat. Outros caras se misturam ao duo. Fazem um tipo de jazz elétrico, um mix de Monk com Ornette Coleman.
vão para LondreS e lá tocam num club de porão. WILLIAM BURROUGHS vai lá uma noite e eles começam a usar uma tal de LSD.
..........................................................PARIS.....................................................................................
eles acham a InglateRRa conservadora. Moram um tempo em IbiZA e lá fazem happenings nas areias com amplo consumo de coisinhas estranhas. depois Vão á Paris e lá fazem experiências com fitas pré-gravadas, ruídos eletrônicos, percussão tribal e poesia surrealista. Um grupo de anarquistas começa a gravitar ao redor do grupo. A proposta: fazer o que vier á cabeça. Tudo será um grande improviso: tanto a vida como o som.
era então 1962.......os beatles ainda estavam em LOVE ME DO. Daevid já planejava o FLYING TEAPOT.
O Gong existe até hoje. E Daevid Allen ainda está em estado de transcendência.
Quando voce vê esse cara em 1973 pirar, aquilo é real. Ele não está "viajando" por influência de um antigo freak cool, ele é esse velho freak cool.
A VIDA COMO ATO DE CRIAÇÃO.
Não é pequeno esse legado desse australiano doido.

GONG "Master Builder" MANCHESTER uk 2010 ( QUANDO DAEVID ALLEN.....)



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Gong - I Never Glid Before - Live 1973 ( QUANDO DAEVID ALLEN.... )



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O FALECIDO MATTIA PASCAL- LUIGI PIRANDELLO, A LIBERDADE EXISTE?

   Mattia Pascal, morador de uma pequena cidade italiana, é dado como morto. Aproveitando-se dessa nova vida, cria uma identidade e viaja pela Europa com dinheiro ganho em jogo. Parando em Roma, acaba por se envolver em estranhas aventuras, que vão de espiritismo à romance, um duelo à um quase suicídio.
   Esse seria o enredo, bastanto reduzido, de Mattia Pascal. Uma comédia, muito engraçada, bastante absurda, que levei anos para resolver ler. Pena ter demorado tanto, que bom tê-lo lido afinal. Pirandello, ganhador do Nobel de 1934, é autor central do século. O absurdo que ele exibia antecipa o absurdo em que vivemos agora.
   O livro pode ser chamado de existencialista. Mattia procura e pensa todo o tempo na liberdade. E descobre que nada pode ser pior. O homem completamente livre se vê totalmente só. Livre das obrigações e das amarras afetivas, livre de rotinas e trabalho, livre de seu nome e de sua história, Mattia tem o que de seu? Quando está livre ele se sente o último dos homens, e quando percebe que sempre será si-mesmo e que portanto a liberdade é uma ilusão, ele se vê como é: um covarde.
   Mattia Pascal foge de tudo. Desde a infãncia, rico e protegio, passando pelo casamento, pobre e infeliz, tudo nele é irresponsabilidade. A única atitude que ele toma é a de fugir. Ele foge de sua vida, foge de um duelo, foge do amor e ganha dinheiro por acaso, em jogo na cidade de Monte Carlo.
   É um livro atual? Muito. Mattia Pascal é um tipico homem moderno, preso e ao mesmo tempo solto, sem compromissos e sem porque. O absurdo da história se perdeu, após décadas de cinema-fantasia, ela irá parecer bastante plausível. Talvez hoje sejamos todos absurdos.
   Pirandello se fez mais famoso no teatro. Suas peças alacançaram imenso sucesso e fizeram escãndalo. Numa estréia ele quase foi surrado pela audiência. Mas este seu romance consegue uma coisa rara. Ser muito sério, muito profundo e ao mesmo tempo ser divertido, cômico, elétrico.
   E o melhor, tem um gostoso sabor italiano, às vezes me lembrou alguma coisa de Monicelli, de Germi e de Totó até. Leia.

COSMOS, NOSSO AMOR DESDE SEMPRE

   Quanto mais longe a ciência chega, mais ela se vê obrigada a falar e reafirmar sua condição de "não religião". Chega a ser cômica a avidez com que eles correm a enfatizar isso. Fiquem tranquilos, todos sabemos que ciência se baseia na fé em hipóteses que deverão ser confirmadas empiricamente. A religião se baseia na fé em certezas que prescindem de confirmação. Ambas possuem dogmas e é por isso que as duas são repressoras. A religião exige obediência e a ausência de dúvida, a ciência exige o materialismo absoluto. Mas as fissuras se fazem.
   Se voce falasse para um físico anterior a Einstein, que poderia existir uma partícula invisível, ele te chamaria de charlatão. Que essa partícula pudesse mudar de massa, de peso e de comportamento, ele te chamaria de louco. E se voce então afirmasse que essa partícula tem certa inteligência e que está fora do tempo e da gravidade, bem, ele diria que voce é um mistico. Mas Einstein, que não era religioso, mas era espiritualista, bagunçou o coreto, e foi tão longe que acabou por negar parte de sua obra por achá-la fantástica demais. E é essa parte que foi confirmada nesta semana.
   Leio que há a possibilidade de que exista uma anti-matéria, de que tudo tenha sua cópia em negativo. Leio que essa nova partícula só passa a existir como matéria quando em choque com outras partúculas, que antes ela não é material. Então é o que? Espírito? Um Gasparzinho?
   Milhares de anos atrás, um bando de ignorantes, aborígenes ou celtas, intuiu que havia dentro de nós algo vindo do céu. E que esse algo não podia ser visto. Era não sólido e não temporal. Lhe deram o nome de alma. Essa tribo intuiu que a vida começara na luz e que essa luz vinha do sol e que o sol nascera no éter. Eles desconheciam a roda, a escrita e até o  fogo. Mas sentiam que era assim.
   Séculos depois, após tanta gente genial, após tanta grana, descobrimos que em nós há a mesma matéria das estrelas. Que tudo que existe foi feito da mesma matéria. E que além dessa matéria existe uma não-matéria. Vejo na TV berçários de estrelas, as mais belas imagens já vistas, e penso imediatamente no "Fez-se a Luz", da Bíblia. As estrelas nascendo naquela luz e naquele calor e a fertilização lembrando tanto as estrelas que nascem. Nossa fertilização, os espermatozóides e os óvulos. E agora a hipótese de que temos dentro de nós essa partícula sem massa e sem tempo. Uma partícula de virtualidade pura.
   Mas somos obrigados a reafirmar: Isto nada tem a ver com religião. É ciência puramente racional. Quem disse que não é?
   A ciência ainda irá confirmar todas as intuições do homem. Porque eu creio firmemente que a mente é um Cosmos, que as estrelas nascem como pensamentos. E que a mente humana, sem cultura, sem ciência, sem história, sem passado, intui seu nascimento, sua morte, sua verdade.
   Livre de toda baboseira que nos distrai, ela SABE desde sempre o que é a vida, o que é o Cosmos, o que significa existir. Quanto mais a ciência anda mais os aborigenes se tornam atuais.

ALCEU AMOROSO, BERGSON, FÍSICA QUÂNTICA, MACONHA, HIPSTERS E ARSENE LUPIN

   Tem um monte de coisas que leio hoje. Nada pra fazer no trabalho. Caraca! O tempo corre, voa, urge e ruge, vira fumaça....já fazem 25 anos que uma carga de maconha em lata foi jogada de um navio nos mares do sudeste do Brasil !!!! E passamos meses ouvindo gente dizer que havia fumado "da lata". E que era coisa forte pra "dedéu"..... 25 anos!!!! Ai mamazita!!!!!
   Um site legal pra voces: http://www.saopauloantiga.com.br/
   Eles fotografam as casas e coisas que estão por um fio pra serem demolidas. E se mexem, tentam salvar as construções. Eu pensei que só eu sentia asco das demolições paulistas. Os caras do site saem andando pela city e disparam fotos sobre fotos. Bacana e urgente.
    Se voce tiver fotos manda pra eles.
    Marcelo Coelho fala de Arsene Lupin. Fazia tempo que ninguém falava dele. Os livros que têm Lupin como personagem são "quase" tão bons quanto os de Holmes. Não sei porque, mas eu tinha a certeza de que Marcelo Coelho era fã de Sherlock. Ele é. Nós, fãs de Conan Doyle, somos todos uns Watsons.
   Matéria sobre Alceu Amoroso Lima. Ele é do tempo em que intelectual era alguém que fora educado sobre várias coisas com profundidade. Teve o francês como primeira lingua e aos 17 anos já assistia aulas de Henri Bergson no College de France. Alceu era um intelectual católico. Veja bem, não falo de religioso, falo de católico. Ele seguia as normas e dogmas. E numa época em que ser católico era ser um quase fascista de direita, Alceu lutou contra a ditadura militar e pregou pela liberdade. Sem jamais romper com o Vaticano. Sua trajetória tem um nome: Honra. Intelectual hoje opina sobre tudo sem saber muito nada. E pior, nega compromissos como se isso fosse coragem.
   O College de France ainda é o sonho de todo intelectual francês. Para dar aulas lá voce tem de ser convidado. Recebendo o maior salário entre os docentes do país, voce pode escolher o assunto de sua aula e dar esse único curso, muito curto, em todo o ano. Henri Bergson foi mestre lá. Lacan também. Bem, nem o College de France é perfeito.
   Meu amigo Pagotto leu todo Os Miseráveis, de Victor Hugo, na tela do celular. Ler o imenso no muito minimo. Eu me recuso. Ainda.
   Matéria sobre uma tribo dominante: os Hipsters.
   Mexam-se no caixão Boris Vian e Thelonious Monk! Hipsters eram os amantes de jazz. Um povo muito cool e muito angustiado. Agora é essa turminha de calça skinny, óculos de armação grossa, gorro na cabeça e blusas velhas de lã. Ninguém entende o porque de usarem esse nome. Eles se revelam pela palavra Não: não são artistas, santos, reformadores, aventureiros ou cientistas. São vendedores. O único interesse é por aquilo que funciona. Vendem a si-mesmos e são hiper-conformistas. Disfarçados de "alternativos" não têm proposta nenhuma de mudança em nada. Quando gritam por reformas é só isso, gritam para que o que existe continue a existir. Se vendem como perfil e como produto, e sabem que o melhor produto é aquele que ninguém tem. Para eles, bom é aquilo que ninguém gosta. Forma de parecer diferente.
   Beatniks queriam o êxtase, a experiência transcendental. Hippies queriam o amor livre e a droga que abria a mente para o sonho. Punks queriam o anarquismo niilista. Os yuppies queriam o consumo, a festa chic. A geração dos anos 90, apática, queria ser deixada em paz. Os hipsters querem vender, vender sem parecer ambicioso, ser boêmio sendo conformista, obter sucesso sem pagar o preço da ambição. Eles querem parecer. Nunca ser.
   Pra finalizar, física quântica.
   Quanto mais longe a ciência vai, mais ela se parece com misticismo. Então existem mais de 12 sentidos? Existe toda uma realidade que não temos como ver? O tempo se dobra nas beiradas e transforma-se em "enroladinhos"? A maior parte da matéria é invisível e indiferente a tempo e distância? Caramba! O mundo do século XIX vive nas pessoas como eu, de cultura média, mas para a ciência de ponta, a velha matéria racional e sólida dos velhos cientistas positivistas já morreu.
   Já foi tarde.

Rod Stewart - Maggie May (Original Video 1971 Totp) E TUDO COMEÇOU AQUI ( PRA MIM ). I ALWAYS LOVE ROD....



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PETER SELLERS/ COELHOS/ ANA MARIA BAHIANA/ ASTAIRE/ MILESTONE/ JOHN GARFIELD

   ROMANCE INACABADO de Stuart Heisler com Bing Crosby e Fred Astaire
Astaire, em seu tempo de vacas magras, serve de escada para o sempre bonachão Crosby. O filme tem um score com um monte de canções de Irving Berlin, ou seja, apesar de ser produção de rotina, tem momentos de alto nível. Fred Astaire canta Puttin' on The Ritz...precisa de mais o que? São alguns minutos de técnica, alegria, classe e leveza. Como é bom poder ver esse gênio na tela! Nota 7.
   EXPERIMENT IN TERROR de Blake Edwards com Lee Remick e Glenn Ford
Acabou de sair em dvd. A música, climática, classuda, bem conhecida, é de Henry Mancini. O filme tem a fama de ser um dos favoritos de David Lynch. Tem o clima doente de seus filmes. A história fala de um maníaco asmático, que persegue e aterroriza pacata mocinha. Edwards estava aqui em seu apogeu. Acabara de fazer uma das melhores comédias do cinema e iria dominar a década com seu humor ácido. Aqui, nada de humor. É suspense esquisito, pouco hitchcockiano. Nota 6.
   2 COELHOS
Filme trailer. Me peguei esperando que ele finalmente começasse. Não começa. O diretor é daquela escola que pensa assim:"Se os trailers são tão bons, porque não fazer um filme que seja um trailer de hora e meia?" Nos anos 70 reclamavam que os filmes começavam a se parecer com TV, muito close e muito corte, nos anos 80 reclamavam que eles se pareciam com comerciais de TV, imagem fake e personagens rasos, nos 90 era o clip, muito efeito e excesso de cortes, pois veio depois o filme trailer, simples flashs de pedaços de ação com letreiros e apresentação de personagens que nunca termina. O futuro será o filme facebook, perfis de personagens e ações irrelevantes... Nota 1. pela boa produção.
   O PRISIONEIRO DE ZENDA de Richard Quine com Peter Sellers
O ponto baixo desse gênio chamado Sellers. Trata da velha trama da troca de um rei à perigo por um sósia simplório. Sellers dá um show como os dois. Um snob e afrescalhado principe da Europa central e um inglês pobre, pacato e de sotaque cockney. Há um filme de Tv com Geoffrey Rush que mostra quem foi Peter Sellers. Um homem sem personalidade, que só existia em seus papéis. Sellers foi meu primeiro ator-ídolo. Morreu do coração em 1979, com 50 anos apenas. A jovem geração perdeu a chance de conhecer esse ator incomparável. Poderia estar vivo ainda...uma pena. O outro filme que fez nesse mesmo ano ( 1978 ) com Hal Ashby, Being There, é talvez, o mais influente filme a servir de modelo a nosso tempo. André Forastieri disse isso, o cinema fofo e moderno de Wes Anderson, Juno e que tais é 100% Hal Ashby. Mas este tal de Zenda leva Nota 5.
   OS BRAVOS MORREM DE PÉ de Lewis Milestone com Gregory Peck
No inicio de sua carreira, Milestone fez o melhor filme de guerra do cinema ( Nada de Novo no Front ). No final dessa inconstante trajetória ele fez este outro histórico filme de guerra. Aqui, Peck é o comandante de um pelotão que deve tomar posse de uma montanha na Coreia. Eles a tomam, mas a que preço? O filme mostra o absurdo da situação: a batalha é inutil, os superiores mentem aos soldados, a ajuda nunca vem, o terror domina a todos. Nada há de heróico, eles apenas tentam sobreviver. O filme é forte, soberbo, tem cenários inesquecíveis. Peck transmite sua autoridade de homem íntegro. Consegue parecer assustado e sob pressão sem perder a altura. Funciona. O filme é quase uma obra-prima. Nota 8.
   SUGATA SANSHIRO de Akira Kurosawa
É o primeiro filme do mestre. Fala de um jovem que tenta ser um mestre do judô. O tema de Kurosawa já se expõe: vontade sob dor, teimosia que leva a vitória, prêmio que nunca compensa o sofrimento. Mas a vida se justifica nessa luta. Ela, a vida, vence, e nós somos parte dela e nunca seus senhores. A imagem do filme está estragada, muito escura. Se o achar em alguma loja, fuja. Não posso dar nota.
   O EGÍPCIO de Michael Curtiz com Edmund Purdom, Jean Simmons, Victor Mature e Gene Tierney
Fim da carreira de Curtiz. Fim digno em produção "épica" sobre um egípcio que se torna médico e se envolve com mulher fatal. O elenco é problemático. Purdom não vingou, Mature foi o simbolo do canastrão, Gene Tierney, que foi a mais bela das atrizes, já está irreconhecível. Teria logo uma doença nervosa que a isolaria da vida. E Jean Simmons, que faz o papel da mocinha boazinha que ajuda o herói, tinha sua carreira prejudicada por Zanuck, o poderoso produtor, por não ceder a suas cantadas. Jean era inglesa e foi a mais bela das Ofélias no Hamlet de Olivier. Este filme é enorme, pesado, melodramático, sem noção, tolíssimo e apesar disso tudo, deixa-se ver com facilidade. Nota 5.
   VINGANÇA DO DESTINO de Jean Negulesco com John Garfield e Micheline Presle
Garfield é um jockey americano. Ele vende corridas, faz "marmeladas". Foge para a França, mas o destino o persegue na forma de um mafioso que ele traiu. O filme tinha tudo para ser bom. Um ator excelente ( Garfield, foragido de MacCarthy, logo morreria na amargura. Seu tipo feio, sujo, antipático fez dele o primeiro ator a parecer "gente de verdade" ), um tema ousado e uma Paris pós-segunda guerra ainda existencialista. O filme é cheio de jovens barbudos, clubes de jazz e ruas imundas. Fascinante Paris que desapareceria nos anos 60 com seu boom de crescimento. Mas com tudo isso o filme é chato. Cai em excessos de melô na figura do filho de Garfield, um menino enjoado, choroso e bonzinho demais. O filme é frustrante então. Nota 3.
   1972 de Ana Maria Bahiana e José Emilio Rondeau com Dandara Guerra, Rafael Rocha e Tony Tornado
Foi um fracasso de bilheteria esta produção cara que foi a estréia de Ana na direção. Ana foi critica de rock e o filme tem algo de autobiográfico na figura da mocinha que tenta ser repórter de rock em 1972. Há algo de Quase Famosos aqui, mas o filme, que é bom, nunca emociona. O que mais o prejudica são os dois atores centrais. O mocinho do subúrbio é interpretado de modo completamente amador. Já a repórter é um pouco menos ruim, mas Dandara, que é impressionantemente linda, tem problemas de dicção. O melhor é ver Big Boy sendo homenageado e sentir o amor ao rock que há em todo o roteiro. O filme é sobre rock na época em que gostar de rock ainda era coisa de bandido. Nesse ponto ele acerta na mosca. Era coisa de não- bandidos, jovens ingênuos, idealistas, sonhadores e que se uniam na grande irmandade dos cabeludos. O chato é que esse filme podia ser tão mais..... Nota 6.

O LEOPARDO, de GIUSEPPE TOMASI DI LAMPEDUSA

   Um dia eu teria de escrever sobre essa obra-prima. É um dos grandes romances do século XX e deixou embasbacados os leitores ao ser editado em 1954. Quem era esse tal de Lampedusa?
   Nobre italiano, Giuseppe Tomasi di Lampedusa viveu a realidade de seu personagem central. O empobrecimento da nobresa européia e a consequente mudança de valores. Escreveu pouco. Apenas este livro, editado já postumamente, e um volume de contos ( excelentes ). 
   Salinas é esse inesquecível personagem. Poderoso, rico, viril, ele foi educado para existir num mundo sólido, ordenado, imutável. Mas o que ele verá será bem diferente. Revoluções fazem do mundo algo de cambaleante e a classe dos mercadores assume o poder financeiro. Mas não o poder sobre as mentes. Aliam-se então. Vem a famosa frase de Lampedusa : " Ceder os anéis para não perder os dedos, ou melhor, mudar tudo para não mudar nada."
   O livro vale por tratado de sociologia, de história e de costumes. Dói em Salinas perceber a falta de cultura e de sabedoria da nova classe dirigente. E esses mercadores sabem, têm consciência de sua vulgaridade. Unem-se. Toda a melancolia explode no enredo. Por mais que os vulgares novos-ricos admirem o nobre Salinas, ele se encontra em posição subalterna. Olha suas coisas, suas terras, sua vida com a consciência de que é um mundo condenado. O que ele simboliza vira mito. A única verdade passa a ser a do dinheiro, não a do berço.
   A prosa de Lampedusa é magnífica. Simples e rica. Amamos o nobre e ao mesmo tempo vemos o quão duro ele é. Um pavão, um touro reprodutor. E pouco a pouco percebemos sua queda. Ele afunda em meio a herdeiros ambiciosos e inseguros e a alianças vergonhosas. Tudo tomba e afunda em cada página sublime.
  Eu amo este livro. Tanto quanto O Morro dos Ventos Uivantes ou Anna Karenina, ele demonstra e escancara alguma coisa que me é muitocara: a amarga e viciante beleza da decadência.
  PS: O filme de Visconti consegue algo de muitíssimo raro: ser tão bom quanto o livro, sendo igual e diferente. Burt Lancaster é Salinas. Seus olhares transmitem toda a dor perplexa do personagem. Ele tem autoridade, savoir faire e também uma humilhante impotência.  E há a cena do baile, uma das sequências mais lindas da história da arte. São 50 minutos em que cada frame é pleno de significado, drama e sentido. E de esfuziante e acachapante beleza. Jóia de imenso requinte, junto ao Oliver Twist de David Lean e Os Mortos de Huston, é dos raros filmes que não decepcionam os amantes de seus livros originais.
  

NELSON FREIRE, WOODY ALLEN, FUTEBOL E RAFINHA

   Nelson Freire talvez seja o maior brasileiro vivo. Ele voltou a São João del Rey para tocar no museu da cidade. Após 60 anos. Na verdade ele tocara lá aos 6 anos em 1950. Mozart. O Estadão escreveu sobre isso, hoje, uma página com várias e emocionadas linhas. Todo o texto, lindo, é calcado sobre a memória e tem como centro o reencontro do pianista com o velho piano usado em 1950. Freire o encontra em sala escondida e toca nela Mozart, só para recordar.... Depois, no palco, ele tocará Beethoven, Chopin e um bis com Grieg.
   Esse belo texto serve de contraste com o texto da Folha, mesmo dia. A folha usa também uma página inteira, mas com metade das linhas. Mas o diferencial maior vem no tom. Quando Nelson encontra o velho piano se fala de saudade e de reencontro, no Estadão. Já a Folha conta apenas que o velho piano estava desafinado... O texto da Folha é frio, distante, oco. Claro que rasga elogios a Nelson, mas exemplifica a "teen-agerização" da Folha. Blá!
   E é ainda no Estadão que vem um comentário soberbo sobre o novo Woody Allen. Não vi o filme, mas é dito que ele detona a tola superficialidade da comunicação e da internet. Lendo dá uma vontade de ver....
   SNL não dá!
   Os convidados fazem pose de convidados americanos, Rafinha faz caras e bocas de Chevy Chase, as moças lutam para ser Gilda Radner. E tem a banda...que não tem G.E.Smith. Tudo se parece com novela mexicana. Cópia, humor made in Paraguay. Eu amo o SNL de Dan Akroyd, Bill Murray, Steve Martin e Belushi. E depois as fases com Eddie Murphy, Martin Short, Will Ferrell....mas Rafinha não dá! O programa é fake. E começa a imitar o Pânico, o que é sinal de desespero.
   Roberto Carlos, o lateral, disse que a seleção de 2002 foi melhor que a de 82. OK. Uma venceu e a outra não. Porém, a seleção de 2002 jogou a copa mais fraca da história. Basta dizer que Coreia e Turquia ficaram entre os quatro top. Alguém pode me citar um craque da Coreia? E a final foi com a pior Alemanha. E com frango do goleiro....
   A seleção de 82 jogou uma copa maravilhosa, onde quatro seleções mereciam ser campeãs. E entre as quatro ( Itália, Alemanha, Brasil e França ), havia Rossi, Zoff, Antognoni; Breitner, Rummenigge e Littbarski; Boniek e Deyna; Platini e Tigana. E Maradona, Roger Milla, Passarella...que nem chegaram entre as quatro. Aliás o Brasil não chegou, a terceira foi a Polônia. Acho que não dá pra comparar. ( E quem pensar que é puro saudosismo digo que a copa de 1978 foi um lixo, assim como foram as de 1990 e a de... 2002!)
   Pondé fala de gente que entende de vinho como o plus-ultra do tolo. Falar de terroir, acidez, merlot e pinot-noir....blá!
   Existe também o "conhecedor" de arte. É aquele cara que vai no Masp, vê Van Gogh e sai vomitando teses sobre expressionismo. Há quem fale de Pollock com autoridade só por ter visto o filme de Ed Harris. Aliás a maioria fala de tudo só por ter visto em algum filme. Ou na TV.
   E é sobre isso o filme de Woody Allen. Que não vi...