O MORGADO DE BALLANTRAE- ROBERT LOUIS STEVENSON

Existem 3 tipos de livros: aquele que voce lê para saber o que acontecerá a seguir. Seu interesse é no enredo e em seus personagens. Existe um outro tipo em que o interesse é na forma como o texto é escrito. O interesse principal é no modo como o autor diz aquilo que será/é dito. E há um terceiro modo. Nele acontece a integração dos dois primeiros modos, ou seja, voce lê interessado nos personagens e ao mesmo tempo nunca deixa de se impressionar com o estilo do escritor. Apenas como exemplo cito Machado de Assis como mestre desse terceiro modo.
O escocês Stevenson é mestre do primeiro modo. Seus livros não são livros da arte da escrita, são histórias bem contadas que nos prendem pelo enredo bem urdido. Aqui acompanhamos a história de dois irmãos, um muito bom, outro muito mau. O modo como eles disputam herança, poder e amor é o cerne do livro. Mas atenção, é livro muito original. Em meio a toda aquela aventura ( piratas, casas frias e escuras, expedições à floresta, tempestades ) há uma fina análise de caráter. O bom filho acaba por nos exasperar, o mau nos seduz por sua esperteza. Ficamos em conflito: de quem gostar? Fato estranho, na verdade todos os personagens são falhos de caráter. Na bondade há muito de odioso. E o mal é revoltante.
A primeira metade do livro é das coisas mais prazerosas que já li. Ação e drama sem parar. E um soberbo clima de tragédia. Depois Stevenson se detém para esmiuçar o caráter da familia. No fim volta a ação. O final é negro, sujo e muito forte. É um livro que mereceu imensos elogios de Borges, Henry James e de Chesterton.
Stevenson foi um aventureiro em vida. Escritor arisco, viajou meio mundo e faleceu de súbito, nos mares do sul. Foi dos primeiros europeus a ver o surf dos reis havaianos. O livro é digno de quem teve tal vida.
Em tempo. Stevenson escreveu Jeckyl and Hyde... não seriam estes dois irmãos faces da mesma alma?

ALGUÉM AINDA OUVE MÚSICA? ( A CRISE ANUNCIADA )

Tem muita gente reclamando: "Ninguém mais escuta um cd inteiro!" Acho que esse povo não sabe o que diz. A molecada deixou de escutar uma música inteira! E qual a novidade? A novidade é a tal da sensação. Vamos por partes....
Primeiro: Elvis não gravava lps. O que ele fazia era juntar um monte de singles e lançar um album. Os fãs ouviam tudo, mas o povão comum queria só os hits. Mesma coisa com Sinatra, Pat Boone ou Chuck Berry. Lp como obra integrada foi coisa artificial criada por Bob Dylan em 1965 com Blonde on Blonde. Vaidade talvez. Mas voce tinha de ouvir os 4 lados do disco duplo para "entender" a mensagem. Logo, todo mundo começou a deixar o single de lado e a pensar em lps. Foi a época mais egotrip da história do pop. Mas deve ter sido muito bom pra eles...
Na era da disco music ( 76/78), o single voltou com tudo, mas os anos 80 ainda são tempo de lps. U2, Prince ou REM pensavam sua música em termos de "encadeamento de faixas". A tecnologia e o culto da sensação mataram isso.
Quando em 1964, Kinks, Yardbirds ou Them lançavam singles e se concentravam só em singles era porque os fãs não tinham dinheiro para comprar lps. Mais: eles se pensavam como moleques fazedores de riffs. Jamais como artistas. Quando o Led Zeppelin lança Physical Graffitti em 1975, eles se enxergam como "mestres" de seu som. Possuem uma mensagem e seus seguidores ansiam por mais e mais e mais. Nesse onze anos ( 64/75), a tecnologia acompanha a ambição, o sentido é de menos para mais, mais ego e mais liberdade de ousar ( mesmo que isso signifique mais chatura, vide Yes ou Gentle Giant ).
Entre 2000/2011, o sentido é inverso, a tecnologia dirige tudo ao rumo do mais para o menos, menos expansão e menos atenção. É a tal cultura da sensação. Explico.
Seja música, seja cinema, o que se procura agora é uma sensação e não uma emoção. Emoção requer preparação e tempo, desenvolvimento de climas e de expectativas, já a emoção vem e vai com rapidez, não necessita tempo, elaboração, e nada deixa de resto. É inofensiva. Esse modo "novo" de usufruir a "arte" é o que faz a glória de filmes como Cisne Negro ( uma coleção de sensações fortes sem sentido nenhum ). E é isso que faz com que a molecada ouça um mesmo riff por todo o tempo. Porque hoje não se escuta nem sequer um single, não se deixou de ouvir apenas um lp inteiro, se deixou de escutar uma canção inteira, ou de se ter paciência para os tempos aparentemente mortos de um filme.
Com seus mp a molecada ouve batidas que se repetem indefinidamente e a graça é sua repetição. Em um minuto a música tem de se resolver e voltar a seu riff original. E é isso: uma constante mudança de faixas que levam sempre à mesma faixa.
Deve ter sido realmente bom fazer lps em 1975 e ter suas dezenove faixas escutadas uma por uma com total idolatria. Eu escutei Physical Graffiti inteiro durante dois meses todos os dias. Mas hoje, quando pego um disco para ouvir me vejo enervado e logo pulando faixa por faixa....
Uma banda jovem hoje tem seu ganha pão nos palcos e só nos palcos. Shows que na verdade são grandes pretextos para azaração e pulação ( alguém ouve com atenção? ). Duvido muito que alguma delas pense em termos de arranjos, encadeamento de faixas ou design de album. Essa época de semi-deuses passou e jamais irá voltar. Gravam-se 3 faixas de trabalho e o resto é enganação. Mais que isso: faz-se uma faixa de clip e as outras duas são mix.
Um momento de choque, de rápida e breve sensação, que se repete ao infinito. A arte hoje é isso.

A ARTE DE AMAR- OVIDIO ( COMO PEGAR MULHER )

Alguma coisa mudou em 2000 anos?
O jovem Ovidio escreve um tratado sobre paquera e sobre sexo e suas dicas são as mesmas que seriam dadas hoje. É isso o que mais impressiona, o encontro dos sexos continua sendo exatamente igual.
Fala de onde encontar as mulheres mais belas ( circo, certas ruas, festas, teatro ), e como saber se ela está disponível. O tipo de abordagem mais indicada ( sempre com humor, mulheres são pegas pelo sorriso ), e como cuidar do visual masculino ( deve-se ser magro, cabelos e barba bem aparada, nada de feminilidades: sem maquiagem e sem pernas depiladas, roupa limpa e bem passada, músculos duros e não exagerados, dentes claros ). A mulher é conquistada por aquele que parecer mais confiante, por aquele que sabe ser desejado, que se sente desejado.
Simples assim. Mas Ovidio avisa: seus conselhos são para os jovens pobres, pois àquele que tem dinheiro basta exibir seu poder.
Na parte final Ovidio se dirige às mulheres. Fala de quais são as melhores posições para o gozo, e ensina a como atrair seu homem. Deve a mulher parecer desinteressada, mas sem jamais desencorajar. Interessante é ele diferenciar o caso furtivo, do namoro: para o namoro é necessário o sofrimento, algo que impeça e adie o livre usufruir dos corpos.
Dica para os homens: quando com sua mulher faça-a sempre feliz. Quando longe, faça-a sofrer. A mulher se apaixona apenas por quem a faz sofrer. Mas deve ser uma dor bem medida, nunca em excesso. Dica às mulheres: se dê sem reservas. Mas jamais seja vulgar.
Ovidio, grande amante quando jovem, na parte final da vida se voltaria para outro tipo de interesse. As Metamorfoses contaria a história dos deuses ( escrito em tempo em que esses deuses já eram passado ). Roma era uma área de flertes sem fim e o grande interesse era seduzir e se deixar seduzir. Nesse jogo, escrito em forma poética mas sem meias palavras, o grande desejo é ser valorizado e ter seu poder reconhecido.
O texto é dos primeiros anos de nossa era. E volto a dizer: mudou o que?

Roxy Music - Mother Of Pearl



leia e escreva já!

ANDRÉ FORASTIERI E O ROXY MUSIC

Jamais eu esperaria que Forastieri tecesse odes aos Roxy. Mas sim!
Lí ontem isso. Ele escreve sobre uma coleção de rock, encartes de jornal com cds, que ele foi incumbido de escrever, e que deu em nada. A foto que ele usa para ilustrar esse texto é do Roxy. Ferry, Eno, Manzanera, MacKay e Thompson em 1973. E André diz: "Uma história do rock sem o Roxy Music é inimaginável. Por isso os coloquei no começo deste post."
André Forastieri no começo dos anos 90 era o cara dos escritos sobre rock. Texto de fã, cultura de jornalista sério. Mas nunca pensei que ele gostasse do Roxy. O que me leva a dizer que existem certas coisas que têm que acontecer. E que qualquer pessoa que realmente ame música pop ou rock vai um dia topar com os caras de lamê e botas espaciais, os Roxy.
Porque tudo que é feito agora é filho pobre do Roxy. Tudo. De Lady Gaga à bandinha mais obscura da Islandia. O rock será pensado em termos de visual/ironia e glamour decadente. E se falará de amor/festa/beleza. E do romantismo caleidoscópico de uma época que tudo oferece e nada doa. Se repetirá aquilo que o RM já dizia e experimentava, tanto tempo atrás....
Mas, o que é o tempo para uma banda que é maior que o contar de dias e noites?
Ferry é o protótipo de todo cantor que se entrega aos fãs com frio sofrimento e alegre distanciamento. E o som da banda é a mistura de soul/rock e eletrônica que é o que existe agora e desde 1979.
Filhos do Roxy Music, eu vos desprezo a todos.
Roxy Music, eu vos amo.

Holland vs Argentina World Cup 1974



leia e escreva já!

Holland vs Brazil World Cup 1974



leia e escreva já!

PARA QUEM QUER SABER DE ONDE VEIO O BARCELONA

O futebol é dividido em AM/DM ( antes de Mitchels, pós Mitchels ). Rinus Mitchels, ídolo de Telê Santana e de Claudio Coutinho, foi o cara que na Holanda dos anos 50, devastada pela guerra, mudou o modo de se pensar o futebol. Ele recolheu das ruas ( já nos anos 60 ) uma molecada que se chamava Crujiff e Neeskens. O resto é história. O Ajax, tri-campeão europeu, fez com que toque de primeira, velocidade e posições não fixas, se tornassem a marca do novo jogo: o futebol total.
Se voce assistir esse video, com alguns momentos de Holanda 2X Uruguai 0 e Holanda 4XArgentina 0, verá tudo aquilo que o Barça faz em 2011 feito em 1974. Do primeiro momento, em que TODO o time holandês ataca a bola em cinco metros de campo, aos toques de primeira no ataque e na defesa, o que voce irá presenciar ( felizmente com boa imagem ) é a maior exibição de futebol da história da bola.
Crujiff foi jogar no Barça depois da copa, e nos anos seguintes se tornou ídolo nos campos e depois no banco, como técnico. Toda a história do clube, desde então, passa pelo modo Holanda/74 de jogar: solto e rápido, posse de bola e marcação em todo o campo.
Eu vi aquilo ao vivo. ( Criança ainda.... ) e lembro de que os bobos chamaram aquilo de pelada e os visionários, de futebol pós-68. Foi uma revolução. Desde então, todos os times que valeram a pena ver ( O São Paulo de Telê, o Flamengo de Coutinho, O Palmeiras da Parmalat, e mais Milan de 89, França e Brasil de 82, Arsenal de Pires, Vieira e Henry ou o próprio Barça, foram todos, mais ou menos, filhos daquele time laranja. )
Assista e babe.

Holanda x Uruguai 1974.wmv



leia e escreva já!

SEXO É BOM, AMIZADE É MAIS

Existem três valores supremos em nosso mundo-moderno-atual-contemporâneo: juventude, consumo e sexo. Nesse mundo os 3 valores ditos acima estão sempre interligados. Juventude é valor em si por ser produto novo para consumo: nova moda, nova casa, novas idéias ( ? ), novos produtos de arte ( ? ). É a lógica do iogurte aplicada ao mundo inteiro, cremos que tudo tem prazo de validade. Gostamos de uma novidade pelo simples fato de ser uma novidade. A comemos como verdura fresquinha.
Quem cultuar o antigo será desancado ( a não ser que culturar "esse" velho seja uma nova moda ). Assim como parar de consumir é estar fora do mundo "que vale a pena". Essa lógica é a mais óbvia e nem vale a pena falar. Mas o que vale dizer é a coragem que é preciso ter para se admitir que "sexo não é tudo isso". ( Como está na Folha de hoje, 20/06 ).
Ao dizer isso voce ouvirá coisas como:
A- Voce deve ser um fracasso na cama.
B- Voce só esteve com fracassados na cama.
C- Voce não saiu do armário.
Todas essas são respostas que nada dizem, elas falam de dentro do sexo como senhor absoluto. É como discutir o Corinthians com um corintiano. ( Ou palmeirense o Palmeiras etc.... ).
Mas o sexo é garantia de felicidade? Comer todas ou dar muito é felicidade? Cama é tão bom assim? E mais: não é esse o grande tabu? Mais que se dizer ateu ou maconheiro ou comuna, ser do contra hoje não é ser assexuado? Assexuado sem nenhuma imposição religiosa nisso, como falta de fome sexual.
Eu não sou assexuado. Mas sexo, pra mim, nunca foi prioridade. E mais, todos os melhores momentos de minha vida, com mulheres, ou sem elas, foram momentos sem sexo, momentos de AMIZADE. Daí a irritação que senti/sinto toda a vida com essa IMPOSIÇÃO. A ditadura ( que os amigos reforçam sempre e sem saber ) de que ser feliz é comer um monte. Então ninguém é feliz aos 12 anos? Ou aos 70? Então todo playboy é feliz? Feliz na cama, talvez, e fora dela?
Amizade é meu valor supremo. Posso ser absolutamente feliz sem sexo algum, mas fico seco e vegeto sem amizade, sem diálogo, sem a liberdade de se poder expressar o que se é. Sexo é legal. É ok. Tanto quanto pegar uma onda ou marcar um gol. Mas não é O Objetivo da vida. ( Aliás, as pessoas mais tristes que conheço/conheci são todas muuuuito experientes em sexo e nada vividas em amizades ).
Me parece que a liberação sexual nos deu essa armadilha. Hiper valorizar um valor que é parte dos prazeres de se estar vivo, mas jamais O Valor. Como cachorro preso em coleira, que quando é solto sai correndo sem rumo e se esborracha numa avenida, a liberação anos 60 nos deu essa euforia ilusória.
Tá dito.

MEDITAÇÕES - JOHN DONNE

Nasce rico e católico. Torna-se um dos mais famosos poetas metafísicos ingleses. Rompe com a igreja, viaja pelo mar, estuda muito, escreve poemas eróticos. E na parte final da vida, torna-se deão da igreja anglicana. Politicamente ativo. Morre em 1631. Inglaterra de Marlowe, Shakespeare, Ben Johnson, do rei James e de Elizabeth. O momento decisivo da criação de um império. Criação dada pela ousadia, pelo arrojo e principalmente pela união. União de pirataria e comércio, união de monarquia e parlamento, união de religião e pragmatismo.
John Donne escreve estas meditações doente, muito doente. Doença da qual ele se recuperaria. Todos os seus pensamentos fazem então um paralelo entre a doença do homem e a doença da Terra, entre o funcionamento da vida individual e o equilibrio do mundo. Equilibrio que não há, pois Donne diz que viver, estar de pé, é estar pronto para cair. A vida é um estar com medo de adoecer e um estar doente, e o planeta é um corpo infeccioso.
Mas não pense que ler Donne é um sofrimento. Sua escrita é clara, poética, e em seus pensamentos sempre há um outro lado. É nos outros que podemos nos curar. A saúde só pode ser encontrada no cuidado dado pelo outro, a vida só é vida em comunhão. Se no semelhante existe o pecado, é também no próximo que se dá a vitória e a absolvição da dor. É impossível ao homem ser só.
Tolos humanos que nada controlam, incapazes de saber o que virá amanhã, incapazes sequer de saber se irão acordar após dormir. Terra que é o que somos, nosso corpo que funciona e adoece como o planeta funciona e adoece. Vida, que na carne do homem, na natureza ou no céu é sempre a mesma: toda a vida funciona e é constituída em mesma arquitetura e ciência. Nosso corpo é um espelho do cosmos.
Impressiona o modo como a escrita metafísica de John Donne antecipa fatos da ciência. O mais relevante são os pontos no céu que engolem a luz e a vida ( buracos negros? ). Donne diz ainda que nosso corpo é nossa fazenda, que a arrendamos e trabalhamos nela e por ela. Terra que é nossa por algum tempo, mas jamais saberemos se irá nevar ou estiar. Escravos do tempo, segundo Donne, tempo que se constitui de 3 partes que não existem ( o passado morreu, o futuro não existe, o presente passa ao ser percebido ) , mas que mesmo nessa inexistência ele, o tempo, nos faz escravos e nos derrota, sempre.
No mais, várias frases de Donne se tornaram citações conhecidas na cultura inglesa. Frases que encerram muito de fatalismo e muito de ensinamento. Metáforas que sobrevivem.
Afinal, todos sabemos hoje, que cada um que morre, morre em nós, e que todo sino que anuncia uma morte, lembra-nos de nossa mortalidade. Sim, John Donne fala todo o tempo da morte, mas eu juro: não dói o ler.

RENÉ CLEMENT/ HITCHCOCK/ DELON/ BECKER/ KUROSAWA

Semana de clássicos. Aí estão eles....
O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Marie Laforêt e Maurice Ronet
Tom Ripley, gatuno de extrema dubiedade criado por Patricia Highsmith, escritora de extremo talento, tem aqui seu retrato definitivo. Matt Damon e John Malkovich também o interpretaram, mas Delon bota os dois no bolso. Damon era bobo demais, fez um Ripley pouco sedutor; Malkovich lhe deu um excesso de perturbação, levou-o a condição de psico; Delon está no ponto certo: alheio a si-mesmo, sedutor delicado, elegantemente cruel. Ripley é o proletário invejoso, falso amigo, que deve levar o playboy Greenleaf, de volta a sua familia. Ripley irá matá-lo e assumir seu lugar. O filme de Minghela era 100% novo rico: tentava ser elegante ostentando dinheiro. Aqui, na absurdamente elegante Itália de 1959, temos o máximo de glamour sofisticado sem nada de brega ou ostensivo. Nas lindas casas de praia, nos objetos de decoração e nas roupas dos personagens temos uma aula de como ser elegante ao infinito. Roma de vias cheias de gente flanando, de mesas à calçada, sol e alegria, troppo bella! O filme, hitchcockiano, prende nossa atenção não só por seu estilo visual ( foto brilhante de Henri Decae ) ou a trilha sonora impecável de Nino Rota; nos prende pela trama sem furos, pelo suspense constante, pelo prazer que temos em observar a esperteza em ação. E pela face de Delon, usando seu dom de parecer sempre perverso e ao mesmo tempo desamparado. O filme tem ainda um dos melhores finais da história: uma construção de climax e de surpresa digna de Hitch. Um final inesquecível em sua ironia e crueldade. Filme atemporal, belo de se ver e intensamente absorvente, é mais um acerto do multi-premiado Clement, diretor de 3 obras-primas eternas. Para ver e rever. Nota Dez.
JAMAICA INN de Alfred Hitchcock com Charles Laughton e Maureen O'Hara
Um nobre inglês do século XVIII é secretamente um contrabandista. Já contratado por Selznick e aguardando sua mudança para a América, o mestre inglês fez este filme às pressas em clima muito ruim. É de seus filmes menos interessantes ( em que pese a excelencia do elenco ). Uma pena... Nota 4
CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO de Alfred Hitchcock com Joel McCrea, Laraine Day, George Sanders e Herbert Marshall
Muito bom filme do mestre. Joel é um repórter americano enviado a Europa para fazer matéria sobre o inicio da guerra. Lá se envolve em trama de espionagem. O filme tem várias cenas sensacionais. Aquela do moinho talvez seja a mais famosa ( mas não a melhor ). O mérito do filme é o de jamais parar, a ação corre todo o tempo, fatos sobre fatos, nada muito lógico, mas quem pede lógica em filme de Hitchcock? O que importa é o clima, a condução de nossa atenção, o brinquedo maravilhoso que é o cinema. Um belo filme! E como é bom ver George Sanders atuar! Nota 7.
A DAMA OCULTA de Alfred Hitchcock com Michael Redgrave e Margaret Lockwood
Fato: este é um dos filmes mais famosos de Hitch. Grande sucesso de sua fase inglesa. Uma velhinha desaparece num trem. Uma moça sabe de seu desaparecimento, mas ninguém crê na existência de tal velhinha. O tema da paronóia à Hitchcock. O filme é delicioso! Filmes em trens sempre são divertidos e este talvez seja o melhor. Lockwood é de uma beleza arrebatadora ( e simples ) e Redgrave ( que é a cara de sua filha, Vanessa ) dá classe e humor ao todo. Puro fun, escapista e rápido, Hitch se diverte e nos diverte muito. Nota 8.
REBECCA de Alfred Hitchcock com Laurence Olivier e Joan Fontaine
O poderoso produtor de ...E O Vento Levou, David Selznick, importou Hotchcock da Inglaterra para fazer este filme. Alfred acabaria voltando à sua terra só em 1972. Este filme, imenso sucesso, é hiper-romantico, gótico, e só se torna 100% Hitchcock nos momentos finais. Mas é um belo filme! Conta a história de um trilionário viúvo que se casa com a simplória mocinha feita por uma exagerada Fontaine. Mas esse casamento será aterrorizado pela lembrança da ex-esposa Rebecca e por uma governanta ( Judith Anderson em ótima atuação ). Joan Fontaine, em que pese sua frágil beleza, tem uma atuação quase caricata. Vê-la ao lado do equilibrado Olivier chega a ser cruel. Ele faz do personagem central uma aula de como ser romantico e econômico ao mesmo tempo. Mas Fontaine comporta-se como em ópera, exagera tudo. Fora isso ( e na época a atuação dela foi elogiada e a dele não ), o filme é digno de seu sucesso. O assistimos com uma estranha sensação de sonho. Todo ele se parece com uma ilusão gótica, mofada, feiticeira. É o menos Hitchcockiano dos filmes americanos do mestre, mas como cinema é obra de competência esmerada. Gigantesco e plenamente bem realizado. Nota 8.
GRISBI, OURO MALDITO de Jacques Becker com Jean Gabin
Jacques Becker... que grande diretor! Eis este filme: um velho gangster quer se aposentar. Um último golpe será tentado. Dará certo? O filme é muito mais: quando Becker dá um close em Gabin, vendo show de strip, vemos a imensa magnitude do filme: é sobre a morte. Gabin está cansado, nada lhe resta a não ser se retirar. Mais: Ele tenta ser nobre em meio ao lixo. Mais: Becker e Gabin sabiam que seu tempo se esgotava, fizeram filme que é ode genial ao fim. Uma elegia. Visualmente o filme é riquíssimo. Boates, aptos, carros, fumaça e putas. Muita grana fácil. Jean Gabin, o mais famoso ator francês, está em seu maior momento. Nunca seu rosto estóico foi tão frio e deseperançado. Becker, diretor dos mais viris, leva tudo com precisão absoluta, o filme não tem erros e não tem nenhum truque. Nada nele tenta ser simpático. O filme é como aquilo que retrata, eis o segredo da perfeição em cinema: dirigir ao estilo do seu tema. Filme fantástico! E além de tudo é dos mais jazz- films já feitos! Nota DEZ!
MAD LOVE de Karl Freund com Peter Lorre
Freund foi grande fotógrafo alemão, mas este filme ( famoso ) de terror é falho, muito falho. Nada a dizer sobre o médico doido que troca as mãos de pianista pelas de um assassino. Lorre está assustador, sempre foi grande. Mas o roteiro é bobo. Nota 2.
OS SETE SAMURAIS de Akira Kurosawa com Takashi Shimura e Toshiro Mifune
Crítica abaixo. Um dos mais famosos e endeusados filmes da história do cinema. Funde arte e diversão à perfeição. Muito ambicioso, ele mudou a história do filmes de ação. Obrigatório para quem deseja conhecer o que seja Um Filme. Que nota dar? DEZ!
A ILHA DO TESOURO de Byron Haskin com Bobby Driscoll e Robert Newton
O primeiro filme ( não desenho ) da Disney ( 1950 ). A Ilha do Tesouro de Stevenson foi meu primeiro livro. Lido ao sol, aos 9 anos de idade. O filme é digno desse livro: bonito e cheio de bons momentos. A fotografia de Freddie Young é lindíssima. Uma bela Sessão da Tarde. Nota 7.