carta de uma desconhecida-max ophuls

A câmera voa, roda, baila e flerta com os atores.
O filme, feito por Ophuls ( voce conhece esse austríaco? o mais romantico dos diretores? o mais sofisticado, elegante, nobre, que é capaz de fazer Visconti parecer vulgar? ), bem, voltando, o filme feito por Max Ophuls baseado em conto de Stefan Szweig, fala de um amor irrealisado e se passa na Viena de 1903.
Assistimos a bengalas com castão de prata, carruagens que correm pela chuva sobre calçadas de granito, chás entre espelhos de cristal e veludos da Bélgica, cartas em bicos de pena à luz de gás, vestidos de seda e cartolas negras, luvas retiradas e cigarros acesos...e pensamos que ainda hoje todo o nosso imaginário do amor-sublime está intimamente ligado à essas noites escuras, às sombras de velas, escadarias secretas e peles pálidas entrvistas em decotes discretos.
O filme é uma delícia para os românticos, para os sonhadores, para os literatos, para os fora de moda e fora de esquadro ( Ophuls foi um diretor cheio de lutas, incompreensão e dor, seus filmes em seu tempo eram considerados pesados e exagerados- hoje ele é considerado um mestre- leve, fluido e romantico ).
Fácil de assistir, ele deixa uma vontade de ver de novo e viver mais um pouquinho naquele universo de frases bonitas, ruas bonitas, chuvas bonitas e luzes tão tristes...

A MULHER DE AREIA DE TESHIGAHARA

Feito em 1965, A MULHER DE AREIA de Hiroshi Teshigahara, venceu a palma de ouro daquele ano e concorreu a dois Oscars. Vamos ao filme.
Um homem anda pela areia. Ele coleta insetos para sua coleção. Se hospeda numa casa que fica num buraco, entre as dunas. Lá vive uma viúva, só. Ele se torna um prisioneiro.
O filme é longo, imperfeito, difícil e cheio de grandes e muito fortes cenas.
Primeiro sua fotografia. Areia, cabelos e peles filmadas em detalhes gigantescos dando ao filme um erotismo absurdo. Nós quase sentimos o cheiro dos corpos, quase tocamos o suor que escorre, parece possível tocar as peles que são lavadas, arranhadas e mordidas por todo o filme.
Os atores, Eiji Okada e Kyoko Kishida dão um show de raiva e de sexualidade pura. Raras vezes assisti filme mais erótico.
A música vanguardista de Toru Takemitsu é de uma inesgotável complexidade, preenchendo a fita de climas e momentos impressionantes.
É um filme que excita para em seguida assustar. E é uma alegoria perfeita sobre o sentido do trabalho e da função do homem na Terra.
Único.

A PAIXÃO DE JOANA D'ARC-O QUE É ISTO?

Foi Jean Cocteau quem disse que A PAIXÃO DE JOANA DARC de Dreyer é um filme que parece ter sido feito no tempo em que o cinema não existia. Pois eu digo que Dreyer não faz cinema. Ele faz um outro tipo de arte, uma arte tão original, tão moderna, tão radical que ainda não foi nomeada.
Durante 3/4 do filme o que vemos são paredes brancas e rostos em super-close. Joana, muito jovem, muito crente, muito indefesa, é cruelmente massacrada por inquisidores balofos e machistas. Dreyer usa como roteiro os autos do processo real e isso dá ao filme algo de documentário e de perversamente doido.
A fotografia, de Rudolph Maté, é de um glorioso branco e no final, a cena da fogueira tem o mais belo fogo que já ví.
Falconetti tem aqui aquela que é considerada a mais fantástica atuação feminina da história e o que posso dizer é que chorei ao vê-la perceber, com um olhar apenas, seu final inevitável. Joana sente medo, e nós sentimos com ela.
Carl Dreyer se interessou por apenas um assunto: Deus. Todos os seus filmes falam disso: Deus, o mal, a fé, a dor. Ele foi um bruxo, um louco, um poeta, um Homem. Joana é um soco na boca, um filme poderoso, duro, cruel e absolutamente incomparável em sua originalidade rica e bela. Sua montagem, em que os cortes são velozes, a câmera sempre se movendo em horizontal, os atores berrando e rindo, Joana suplicando e chorando, as portas parecendo fugir e diminuir... é fascinante.
No mais assisti finalmente este mítico filme numa cópia sem trilha sonora e com cartelas em francês. Mesmo assim seus 80 minutos pareceram 20 e me sentí completamente arrasado por sua força. OBRIGATÓRIO para quem se importa com os mistérios da vida e a dor de ser.

O MAIS PERFEITO DOS FILMES-REAR WINDOW

Raras vezes assistimos a algum filme perfeito. Ocasionalmente o filme pode ser genial, sublime, divertido, mas ele sempre apresenta falhas. Momentos de tédio, tomadas inúteis, frases dispensáveis.
JANELA INDISCRETA não tem um só momento fraco. Desde sua abertura, até seu final perfeito, tudo é feito com precisão, com sabedoria, com maestria.
O som, sem trilha sonora-mas com ruídos e trechos de melodias-que lembra Tati, é perfeito. O cenário, um apartamento e o prédio em frente- é fascinante. As histórias vistas nas janelas e jardins- são tão cativantes que dariam vários outros filmes. Mas este, este filme é absolutamente prazeroso. Torcemos para que não termine.
James Stewart é um fotógrafo solteiro que convalesce com a perna quebrada. Ele é obviamente impotente. Grace Kelly ( sua entrada em cena é A MAIS LINDA IMAGEM FEMININA DO CINEMA ) flerta com ele, o seduz, o conquista. As cenas entre os dois são leves, sofisticadas, cheias de humor e com subtramas de raiva e dor. ( O filme é alegre, mas tem algo de neurótico por trás ). Stewart se agarra em sua solteirice e se envolve com as janelas ( cinemas ? ).
O final, irônico, é de uma riqueza perfeita, e todo o filme prescinde de falas, poderia ser um filme mudo. Stewart agora tem duas pernas engessadas e Grace, linda como o impossível, comanda o apartamento.
Quem mais poderia fazer um filme pop onde as mulheres são víboras, os homens são impotentes e seu único cenário é flagrantemente falso ?
Hitchcock é cinema e o amor à Hitch é a prova final de todo/qualquer cinéfilo.

O AMOR É SEMPRE MENTIROSO-VERTIGO

O melhor dos diretores ( aquele que fazia grande arte e comércio pop ao mesmo tempo ), dá em VERTIGO o mais devastador retrato sobre a ilusão do amor.
Não contarei sua história para não adiantar sua magia. Direi no entanto, que jamais uma cidade foi mais bonita que a SanFran do filme, com seus azuis e amarelos da primeira parte "sonhadora" e seus neuróticos verdes e cinzas da segunda parte. O filme, quase sem diálogos, é como um sonho-alucinógeno, e nos faz realmente sentir o que seu protagonista sente.
Pierre Boulez disse que a trilha sonora deste filme ( bernard herrman ) é a mais perfeita da história cinematográfica. Não sei se ela é, mas direi que ela é hipnótica, wagneriana, obsessiva, inesquecível.
James Stewart tem aqui aquela que é possivelmente a melhor atuação já vista. Ele passa, na hesitação de sua voz, no olhar ansioso, toda a carência, todo o amor do personagem. Sua sina, seu futuro vazio, o seu medo.
Como todo filme de Hitch, o crime é mero pretexto para sua profunda análise da doença humana, das taras e psicoses, das dores e mentiras do mundo. E tudo isso, que em outras mãos se transformaria em arte hermética e obscura, com Hitch se torna diversão simples, direta, nítida e nada pedante, porém, profunda.
Suas cenas recordam muito TAXI DRIVER, a personagem feminina mostra um desamparo tocante e é este o filme que deixa mais clara a afinidade que Bunuel sentia por Hitchcock.
Seu final, trágico-imperfeito-abrupto-louco e vazio, é dos mais cruéis já filmados e ficamos sentindo a mesma dor absurda de Stewart.
Inesquecível, ele nos faz pensar muito. Nas mentiras do amor, na ilusão que criamos para nós mesmos, na busca inutil pela perfeição, e na música irresistível dessa ilusão.
Um dos maiores filmes já feitos e sem dúvida é este o mais moderno e influente dos filmes.
Hitchcock é o cara.

o filme mais sinfônico-FANNY E ALEXANDER

Bergman realizou FANNY em 1983. É seu testamento, seu último filme para cinema, seu legado ( como bom pessimista, ele imaginou estar perto do fim. Ainda viveu 24 anos...).
O filme é uma perfeita sinfonia e se a grande arte sempre aspira a ser música, Fanny é arte perfeita.
Ele começa em acordes leves e vagos, cresce em festa de sons harmônicos e coloridos, irrompe fortíssimo em graves dissonancias lúgubres e se encerra numa coda cheia de fúria, magia e mistério.
Mas do que fala o gênio, o mestre, o mais inteligente dos cineastas ?
Da luta entre alegria e dor, da disputa entre liberdade e repressão, saúde e neurose, arte e religião, fantasia e tédio, Deus e o homem. É um compêndio de todos seus filmes anteriores, de todas as suas dores e alegrias e recorda muito Shakespeare- A Tempestade ( um mago recontando sua obra e sua magia ).
Raras vezes um filme mostrou cenários tão ricos em beleza e complexidade, raras vezes tantos atores foram melhor dirigidos ( o final, quando se fala da gratidão aos atores é de se aplaudir de joelhos ), raras vezes um filme foi melhor.
Bergman captura nosso cérebro e o leva para uma viagem. Através do olhar de um menino ( Alexander ) assistimos seu crescimento, suas dores, sua revolta e seu maravilhoso humor ( o filme tem duas das falas mais hilárias já vistas ). Nos apaixonamos por sua família, odiamos certos agregados e tememos seu destino. Tudo em ritmo perfeito, uma variação entre cenas longas e curtas, movimentos elaborados de câmera ou fixidez formal, solos ( monólogos ) ou grupos de até vinte atores atuando em grupo ( coisa que hoje ninguém mais tenta ).
Tudo está neste filme. Comédia amarga e drama insuportável. Citações de PERSONA, GRITOS E SUSSURROS, MONIKA, MORANGOS SILVESTRES, O ROSTO... estão presentes os atores que aprendemos a amar, a fotografia do mestre Sven Nykvyst, a música de Schumann e Britten, as preocupações do cineasta que melhor representou a dor do mundo moderno.
É estranho o fato de que meus cineastas favoritos sejam Kurosawa, Hitchcock, Hawks, Ford, Murnau, Lang... mas é Bergman que fala, pensa e mostra aquilo que vivo, penso e gostaria de expressar. Não sei se ele foi o melhor dos diretores, não sei se ele sobreviverá neste mundo cada vez mais acéfalo; mas ele conseguiu fazer do cinema UMA ARTE NOBRE, nobre como Shakespeare, Mozart, Shelley e Rembrandt.
FANNY E ALEXANDER é obrigatório para qualquer amante da vida, do cinema, da cor. Ele é estranhamente feliz, alegre, vivo e subitamente trágico. Nietszche.
Um filme que é uma vida, um espírito livre, eterno como um homem, belo como um segundo, feito com profundo amor pela arte, imensa criatividade e potencia criativa sem igual.
Mágico, único; INCOMPARÁVEL.

LOACH/ROCKY/LORD JIM/SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS

VENTO E LIBERDADE de ken loach.
ingleses massacram irlandeses. todos sabem do meu sangue cem por cento católico-celta-irlandes...mas não gostei do filme. na verdade o achei maniqueista, falso, tolo, vazio. será que todo ingles era tão nazista?
MONPTI de helmut kautner, com romy schneider e horst bucholz
romy aos 18 era adorável mas o filme é velho e mofado. 1.
ABISMO DE UM SONHO de fellini com alberto sordi, leopoldo trieste.
sonolento.2.
A JANELA SECRETA de david koepp com johnny depp, john turturro.
suspense sem emoção. mistério sem tensão. uma chatice ridícula. 1.
CRIMES DE UM DETETIVE de keith gordon com robert downey, carla gugino, robin wright penn. uma das mais grotescas tolices já feitas. um pseudo musical engraçadinho, um pseudo noir sem drama, um completo equívoco. ZERO.
O LOBO ATRÁS DA PORTA de henning carlsen com donald sutherland e max von sydow. são cinco anos na vida de paul gauguin ( meu ídolo maior ). o filme é escuro, denso e prende a atenção graças a força de sutherland e ao belo strindberg de von sydow ( foi sydow o maior ator do cinema ? ). 6.
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS de peter weir com robin willians. um filme sobre poesia e liberdade filmado sem poesia e sem imaginação. torcemos para que willians fique mais tempo em cena, pois ele é a liberdade e a poesia do filme. os meninos são aqueles meninos de dramas da Metro dos anos 40/50, ou seja, velhos meninos...6.
LORD JIM de richard brooks com peter o'toole, james mason, eli wallach. baseado em conrad, o filme é uma cara aventura arrastada e banal. a falha central é peter que faz jim como um fraco que quase acerta, quando quem leu o livro sabe que jim é um forte que erra sempre.
ROCKY de john g. alvidsen com stallone. sly imita de niro e john imita lumet. 4.

amigos, escutem!

Um amigo me acusa de ser de direita. E um outro diz que sou socialista demais. Weeeelll....
Eu sou ferozmente contra quem manda alguém calar a boca. Sou a favor de regimes que não se importam com o que é publicado, exibido ou veiculado.
Adoro quem garante a liberdade de ir e vir, de criticar e louvar, e de possuir-sim. Pois o homem, desde a pré-história, quer ter mais que o vizinho. Seja dinheiro, cultura, mulheres, neuroses ou armas. E quero que todos tenham o direito de LUTAR PARA SER DIFERENTE.
Deu pra entender?
Outro amigo diz que não sou MODERNO.
Se ser moderno é consumir séries de tv e bandas inglesas-cover, não sou.
Mas o QUE É SER MODERNO?
O espírito moderno se define em:
Ser infiel. Não se prender a nada. Nem crença, nem gostos, nem desejos.
Ser inconstante. Jamais levar nada até os finalmentes. Ter projetos sempre pelo meio.
Não se comprometer. Se abster de vínculos, de compromissos, de promessas.
Ignorar distancia e tempo. Nações perdem o sentido, pois meus amigos vivem na europa, meu amor foi para a Austrália, falo todo o dia com franceses e fui criado em ambiente americano. Estou em todo o mundo agora. TEMPO. O passado está ao meu alcance, o futuro também. Um quarteto de cordas de Haydn acabou de ser relançado. Ele está ao alcance de todos, influindo na vida de todos-agora- e sendo redescoberto-agora. Portanto, esse quarteto de 1802 é de agora. ( assim como Murnau/ Cocteau/ou Tati- influindo em jovens mentes-hoje! ).
Ter Pressa. Existe tanto a ver e fazer que a pressa é eterna. O moderno tem pressa de ter, ver e saber; e uma preguiça imensa de viver.
Sentir tédio. O moderno está sempre entediado, pois para ele tudo é fácil demais, reprisado demais, comum demais, óbvio demais.
Ser Oscar Wilde ( mesmo sendo hetero e não sabendo quem ele foi/é ).
Ter muito, muito medo. Pois tudo o que é moderno encobre o medo de depender, pertencer, passar, envelhecer e morrer.
Serei então moderno?

DE OLHOS BEM FECHADOS-VOCE VIU?

Um anjo cai do céu e perde suas asas. Condenado, ele vagueia pelas ruas sem conseguir se conectar à ninguém. O filme é isso. Mas...
Um ingênuo marido descobre que mulheres têm desejo. Ou...
Numa festa, marido é cortejado por duas modelos. Elas querem lhe conduzir ao final do arco-iris. Ele não vai, pois a morte intervém. Depois ele irá à esse rainbow, e descobrirá que ao final, rainbow é uma loja de fantasias. Porém...
Ele descobre que tudo é fake. Falso. Aparência. Sua esposa, seu amigo, a cidade...nada é o que parecia ser. Ele tenta se conectar com alguma verdade: é abordado por uma prostituta. Mas não transa com ela. Lhe dá dinheiro ( observe que todas as conexões dele envolvem dinheiro ). Vai à uma orgia. E não toca ninguém. Pensa ter descoberto um crime. Mas ele pode não ter ocorrido. Volta para casa e encontra a esposa dormindo ao lado da máscara.......
Observe que a esposa não o traiu na verdade. Apenas pensou e sonhou. Observe que nada acontece de verdade- tudo é quase/ talvez/ quem sabe...
Recorde a orgia. Críticos mal informados reclamaram dela ser pouco erótica. Bingo! Esse é o objetivo: corpos nús sem qualquer erotismo/ beijos mascarados que não se tocam/ intenções infantis onde tudo é fingimento.
Tom Cruise ( justiça feita: ele está ótimo ) é um crente. Acreditava no amor, no compromisso, na amizade, na verdade. Ao ver a máscara ao lado de sua esposa ( cena muito bela e emocionante) ele chora, reconhecendo que a vida é fake. Nossa vida.
O filme é sim um digno testamento de um gênio, uma mente superior que se ocupou de uma arte inferior ( como Welles, Bergman e Kurosawa ).
Ao final, Nicole diz que precisamos foder. E penso: não é isso que fazemos todo o tempo? No que mais, nós, classe média pensamos? Com quem foder, com quem amar, com quem casar...e de novo, e de novo, e de novo...é tudo o que restou, o único consolo, a última fé.
Mas não existe erotismo nesse mundo. Pois não há tabú a ser rompido, virgindade a ser cobiçada, e nem sequer toque real ( máscaras ).
Uma obra-prima que melhora muito na segunda visão e aumenta na terceira ( como todos os filmes de Kubrick- todos decepcionam na primeira olhada e fascinam na segunda- todos).
Nota dez.

LISSU/MICHAEL CAINE/TRAINSPOTTING/KEIRA/REESE

COMO POSSUIR LISSU de ronald neame, com michael caine e shirley maclaine. filme de assalto extremamente engenhoso, surpreendente, original, safado. impossível contar a história sem estragar seu prazer. caine está soberbo!........8.
UM GOLPE A ITALIANA de peter collinson com michael caine, noel coward. outro filme de assalto. mal refilmado em 2002 ( com walhbergh no papel de caine-argh! ).....7
SUNSHINE de isztvan szabó, com ralph fiennes, rachel weisz, deborah kara unger. bela novelinha. mostra como os húngaros foram humilhados por todo o século. a nobreza fraca e alienada, o fascismo cruel e o comunismo enlouquecedor. fiennes nasceu para papéis como este: um chorão impotente......6
NORMAL LIFE de john mcnaughton com ashley judd. judd está tão bonita que chega a doer. ela é uma psicótica-junkie que destrói sua vida e a de seu marido policial. muito melhor do que aparenta, é um filme pobre, crú e estradeiro......7
GHOST WORLD de terry zwickoff com thora birch e scarlett johanson. que belo filminho fofo. thora está adorável como uma adolescente que odeia tudo ( os amigos, música, dias de sol...). ela é aquele tipo de menina de óculos, minissaia, botas e cara de tédio. um colecionador de vinil ( steve buscemi ) lhe introduz o blues urbano ( aquele que usa orquestra, anos 30 ) e a garota se apaixona por blues e pelo colecionador. o final é bem amargo. lento, tristinho, moderninho, e muito simpático......8
TRAINSPOTTING de danny boyle. não o assistia desde 1998. os primeiros dez minutos, ao som de iggy pop, são absolutamente geniais. mas ele vai caindo, perdendo a leveza e caindo na pura chatice. envelheceu cedo este filme......7
DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS de russ meyer. há quem ame meyer, o homem que criou o cinema quase-pornô americano. este é seu único filme mainstrean. uma salada de lesbianismo, sadismo, rock'n'roll, horror. os atores são inacreditávelmente ruins, o roteiro beira o grotesco, as falas são tolices imensas. cortes abundam ( todo diretor inseguro abusa dos cortes ), e ele fascina e irrita muito.....ZERO.
LOST HIGHWAY de david lynch. Lynch é aquele tipo de diretor que nada tem a dizer. ele não tem histórias para contar e não consegue criar personagens. mas...o cara sabe filmar. cria climas em cima de climas. sabe iluminar, cortar, usar o som, sugerir. eu prefiro o filme com a naomi watts, mas este tem bill pullman muito bem e uma patrcia arquette bem fatal.....7
DESEJO E REPARAÇÃO de joe wright com keira knightley. ouçam e anotem: wright é o melhor diretor de sua geração. a cena da praia ( sem cortes, uma só tomada ) é coisa de mestre. keira já é a atriz de sua época. o filme é perfeito ( e ainda tem vanessa dando show ).....DEZ.
DR. JIVAGO de david lean e todo mundo conhece o elenco. jivago se ergue da cama. lara dorme a seu lado. ele vai à mesa e escreve poemas para ela. lara se ergue e os lê. bem... eu passei anos tentando viver isso!.....9
ARMADILHAS DO CORAÇÃO de oliver parker com reese witherspoon, colin firth, rupert everett, judi dench. baseado em oscar wilde. diálogos brilhantes ( claro ). mas falta alguma coisa...é um excesso de casas bonitas, roupas vistosas, chás das cinco...Wilde se perde...firth está passando a vida fazendo sempre o mesmo papel : ingles triste e tonto. rupertt imita cary grant. ele não sabe que cary é inimitável. e reese... bem, sou apaixonado por ela! devo ser o único não-americano que a adora!.....6
SOCIEDADE FEROZ de griffin dunne com diane lane, donald sutherland e um vasto elenco adolescente. dunne foi ator nos 80 e hoje é diretor. -e que filme é este?- ele fala dos índios brasileiros. de amadurecer. de ritos de passagem. de sexo e de poder financeiro. é um filme cheio de erros, de idéias mal desenvolvidas- mas...é cheio de idéias!- infelizmente faltou coragem para levá-las até o fim. o filme cai num quase policial bobo. mas ele fica na memória, é original, e merece muita consideração. ( donald aparece pouco e brilha como sempre. todo o elenco é bom )........9

lolita, vladimir nabokov- o livro que voce acha que conhece

Sim. Trata-se, aparentemente da história ( bastante cômica ) de um homem de trinta e cinco que se apaixona por uma criança- ninfeta de doze. Ele, Humbert-Humbert, se casa com a mãe da ninfa; a mãe falece e ele viaja pelos EUA com Lolita.
Mas o livro não é só isso. É bem mais.
Humbert é a velha Europa. Ele só valoriza o que é antigo, culto, feito pelo homem superior. Ele é pretensamente sofisticado. Humbert despreza jazz, cinema. Odeia a imensidão americana, os vastos panoramas, as florestas desumanas, o excesso de " por-do-sol", o gigantismo. Ele olha os americanos como caipiras. Gente que só pensa em trabalhar, gente ridícula e sonhadora, gente que não sabe viver.
Veja que coisa: Humbert odeia o cinema por ser apenas ação sem pensamento. E note que por toda a história europeus só fazem cinema quando o misturam a literatura ou teatro, artes nobres e antigas ( na visão deles ). Europeus não amam o cinema -cinema, pura ação, puro movimento, pura imagem. Assim como a música não pode parecer improvisada, deve ser estudada.
Mas Humbert se apaixona por Lolita.
E Lolita é jovem, inocente e muito sensual. Ela rí de sua cultura, ela não presta a menor atenção no que ele diz ou pensa. Ela está sempre rindo, ou chorando, ou gritando. Está sempre em movimento.
Lolita ama as estradas, os motéis, hamburgers, sorvetes, cocas, balas... Para ela a história não interessa, tudo é hoje.
Lolita é infiel e Humbert, que pensava ser o sedutor- senhor, se torna o escravo- capacho.
A Europa ama a América e não cansa de olhá-la. Ela a critica, tenta catequizá-la, mas sempre a lambe, beija, namora. A América, namorada infiel, criou uma forma de governo sem nobreza, sem parlamento, sem tradição. Criou sua própria música, sua própria arte, sua religião ( várias ), seu mundo único.
Humbert se ressente disso. Mas continua a amá-la.
Lolita é tudo isso. Escrito como comédia. Num estilo rico, caleidoscópico, saboroso e muito erótico.
Humbert é ridículo. Lolita é linda. E quem pode negar?

dr jivago, aula de história

Imenso sucesso de bilheteria ( mas não de critica ), Jivago mostra para todos um tipo de cinema classudo, competente, porém, um pouco engessado.
Está lá a competencia de David Lean em montar cenas. Jamais percebemos os cortes. As tomadas se encadeiam naturalmente, todas com o tempo exata e caminhando em cadencia musical. A camera nunca chama a atenção sobre sí mesma, ela é como a caneta que escreve a página. Mas, o David Lean, jovem-ousado dos anos 40 já se fora. Ele ilustra o belo roteiro de Robert Bolt, mas não cria-acrescenta nada. ( As excessões são a belíssima cena no palácio de gelo e a genialidade pura da cena à janela- aquela em que Tom Courtney briga com Julie... puro cinema mudo ).
Lean foi inteligente em diminuir as falas de Shariff, usando seus olhos chorosos como comentário à ação. Julie Christie, musa-maior, brilha com sua imensa força interior, seus olhos de fogo gelado, sua voz metálica. Podemos ainda admirar os lords monstruosos do teatro ingles: Ralph Richardson, como o pai de Geraldine Chaplin; Alec Guiness, como o irmão de Jivago; e Courtney como o noivo. Klaus Kinski causa imensa impressão como o intelectual louco.
Quanto ao fim do filme- não há quem não se comova...
O filme criou em 1965 o padrão Oscar; que se mantém até hoje nos filmes de Spielberg, Ridley Scott, Frank Darabont, Michael Mann e um imenso etc.