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RONNIE VON, FERNANDA YOUNG, TELEVISÃO, BICHOS E ESTRELOS

   Ás vezes em meio a enorme quantidade de lixo-execrável a gente encontra alguma surpresa deliciosa na Tv. Fico zanzando por mais de 80 canais e percebo certas coisas. Em programas sobre bichos hoje a atração é o estrelo que apresenta a coisa e não o animal. E tome close da cara do bacana. Houve um tempo em que filmes apelativos e programas de Tv muito pop usavam melô pra pegar audiência. Era um tal de cenas bonitinhas e coisinhas gracinhas bem cor de rosa. Agora o que agrada é a violência. Todo filme tem de ter sangue e socos e tiros e explosões. Ou mesmo que nada disso apareça vai ter suicidio, gritos, doença terminal ou tapas na cara. Isso se reflete na Tv. Bichos comendo bichos. Todo o tempo. Nada mais de filhotes brincando ou belas cenas em paz. Como acontece até em programas de humor e novelas, violência vende. Então voce tem de ver o chato-estrelo se arriscando entre cobras e lobos...um saco.
   Outra coisa esquisita é a quantidade de programas que mostra gente trabalhando. Emocionantes cenas de corretores tentando vender casas, de machos arrumando encanamentos, policiais prendendo, mecânicos em ação e veterinários operando. Me parece que as pessoas estão num estado tão adiantado de domesticação para o trabalho, que agora até o lazer se faz em ver gente trabalhando. É como se fora do work nada mais importasse. Tem programas de culinária onde o cara tem de fazer 800 refeições em seis horas e um outro onde uma equipe tem de vencer outra equipe. O simples prazer de se ver um chef preparar um caprichoso prato já era. Culinária com competição, stress, pressa, sem frescura. Sem arte. O mundo está se tornando uma praça de alimentação.
   E passando en passant, vejo aquele monte de séries com imagens escuras bem pastel, falas ditas bem baixinho e closes em rostos sempre bonitinhos ( mas não muito ) vivendo seus draminhas tão chatinhos... E tome Ratinho gritando, e tome um traveco sendo analisado na La Gimenez. E o CQC posando de "inteligentes" mas sendo tão apelativos quanto tudo e tão frenéticos como um video clip onde a cantorinha vende seu corpo e nunca sua voz. O pior é esse futebol brasileiro, onde toda jogada acaba em cruzamento torto e tentativa de enganar o juiz.
   Mas em meio a toda essa coisa tem o programa do tio Ronnie. E Fernanda Young foi ontem o homenagear. Titio fazia anos. E digo pra voces que foi dos vinte minutos mais deliciosos em dias. Fernanda, que estava linda, tomou posse do programa e comandou a atração. Tentou ser fina como Ronnie e se perdeu, errou, atrapalhou-se, riu.  Fez-se o humor carinhoso, suave, sem querer. E ela, sempre esperta, deu o tom. Disse que o programa de Ronnie é anacrônico. Deliciosamente anacrônico. Todos sabemos Fernandinha. Tempo de lentidão onde não existe violência ou mundo cão ( que nunca é real na verdade ). Ronnie até lembrou de sua juventude em Niterói, quando posava de beatnik, cavanhaque e boina, apaixonado por Sartre e Simone. E é engraçado perceber que Fernanda é também sempre desse tempo chic e anárquico. Porque imediatamente antes do anglicismo de Beatles e Stones e do americanismo de Elvis e Dylan, houve o galicismo de Trenet, Gainsbourg e Vian. Tio Ronnie era um beatlemaníaco que ainda mantinha os acentos sofisticados da Rive Gauche.
   Depois na Tv Cultura passou um doc sobre Lacan. Mas quando começaram a tratar Lacan como um tipo de João Batista do deusinho Freud....Bien, eis o pior lado da França....O deslumbre com o dogma ( desde que pareça bem descartiano, n'est pas? ).
   Desliguei e fui pra cama. Titio Ronnie e a fada aflita Fernanda nos vingaram.
   Bons sonhos.

ALMANAQUE DOS ANOS 70- ANA MARIA BAHIANA ( FOI DE VERDADE? )

   Como diz a autora, os anos 70 dão a sensação de que jamais existiram. Para quem viveu neles, as lembranças se parecem com sonho, são todas irreais, como se tudo aquilo tivesse acontecido em um não-mundo e em um não-tempo. E para quem nasceu depois, fica a impressão de que a década foi um tipo de parque de diversões brega. Foi. Nenhuma década se parece com ela.
   O que se pode dizer de um tempo que teve o punk rock e o Abba? A seleção da Holanda e Fio Maravilha? Idi Amim Dada e Margaret Thatcher? Foi no minimo divertido pacas! Não que Idi Amin fosse divertido, mas a diversidade de lideres era absurda e absorvente. Aliás, ainda existia essa coisa chamada liderança. A crise da Europa é acima de tudo uma crise de homens. Um Churchill ou um De Gaulle dariam jeito na bagunça. Depender de um playboy francês e de uma burocrata alemã é o kaos.
   Os anos 70 foram tão esquisitos que Stanley Kubrick era sucesso pop. E as pessoas iam no cine Iguatemi ver filmes com sexo explicito. Lixos como Caligula ou Histoire D'O. O cinema da década é muito esquizo. Hoje existem filmes esquisitos ainda, mas nos 70 eles eram sucessos de público. A década ia de Star Wars e Inferno na Torre a Taxi Driver e Um Dia de Cão. Woody Allen, Al Pacino, Coppolla e Scorsese são a cara da época. Assim como Jack Nicholson, De Palma e Spielberg. O cinema ali virou um cada um por si.
   Foi a década do eu. É quando as pessoas deixam de seguir gurus e passam a fazer "análise". Os analistas nunca foram tão pop. E os astrólogos também. Foi o tempo que criou a ditadura do desejo. Liberar os seus quereres. Transar o sexo numa boa. E tome swing e gay power.
   O que dizer de um tempo que criou a pornochanchada e os Secos e Molhados? Que tinha Clint Eastwood e os Dzi Croquettes? Na verdade os anos 70 inventaram o século XXI. Do mundo interligado à música sintética, tudo foi criado aqui. Inclusive os anti-depressivos.
   Topless nas praias e a praga da cocaína. Tanguinhas e as primeiras celebridades que são famosas por serem famosas. Mas ao mesmo tempo havia Milan Kundera, Italo Calvino e Saul Bellow. Escritores sérios eram ainda muito pop. Philip Roth era uma estrela. John Updike também. E Capote era uma celebridade.
   No Brasil a TV´passou a ser rei. E os enlatados dominavam. Enlatados eram séries made in USA. O futebol do Rio ainda era o melhor e o basquete brasileiro era um dos top 5 do planeta. Tempo das costeletas de Emerson Fittipaldi e de várias mortes nas pistas.
   Uma década onde se usava sapato plataforma e camisa justa pinky não pode ser séria. Lapelas imensas e saias de cigana. Não se procurava a elegãncia sóbria, se desejava o fun. O exuberante excessivo.
   Os Z-Boys criaram o skate profissional e os australianos o surf moderno. Mark Richards, Cheyne Horan, Ian Cairns. E o rock de estádio nasce com o Queen. E o Aerosmith. E Van Halen. O que dizer de um tempo que criou Bruce Springsteen e o Village People? Kraftwerk e Kiss.
   Drogas eram tudo. Mesmo para quem não sabia o que era droga. Porque nas cores dos móveis ( minha mãe tinha um quarto todo roxo com luminárias vermelhas, voce ficava doidão só de entrar nele ), e nos desenhos infantis ( os Bugaloos ou Hardy Boys ), tudo era como uma viagem drogada. A década parecia ser escrita por algum roteirista junky.
   E nessa levada, as pessoas viviam da pura euforia à mais absurda deprê ( que se chamava bode ). E ficavam muito na rua. Era a época em que balada era ficar caminhando pelas ruas cheias de bares, a pé, entrando em todos e não ficando em nenhum ( quando saio eu ainda hoje tento fazer isso ). No fim da década, com a disco, é que veio essa coisa de se enfiar num clube e passar toda a noite trancado.
   O que dizer de um tempo que teve Benito di Paula e Raul Seixas? Lixo nunca foi tão luxo. E arte nunca foi tão profana. O grafiti e o rap nascem aqui também.
   O primeiro filme "sério" de HQ ( Superman ) e o primeiro filme adulto de sci-fi ( Aliens ); e na TV o Saturday Night Live. Além do Muppet Show e Columbo. Que mais voce pode querer? Chacrinha !
   Ainda não havia silicone. As mulheres tinham o corpo da Rose di Primo, cheio de curvas e muuuuuito bronzeado. E os homens mais desejados eram como Robert Redford, magros e nada malhados.
   A autora lembra de uma coisa esquecida: brinquedos eram pra fazer a criança se mover. Nada de coisas pra ficar parado. Brinquedos pra ir pra rua. Ou pelo menos pro quintal. Foi a última década de quintais.
   O que dizer de um tempo em que as torcidas nos estádios não eram divididas? E em que o comunismo ainda era "o futuro"? A giria mais usada era "um barato". E eu pegava carona na avenida Paulista. Era um barato, um sarro, alucinante, odara. Voce parava na janela do carro e dizia: " E aí cara? Vai uma carona?"
   Quem viveu os anos 70 se apaixonou pelo tempo. Taí esse monte de filmes passados naquela época, filmes de diretores apaixonados por aquilo tudo. Desde Boogie Nights passando por Quase Famosos, Dazed and Confused e Crazy. Aliás Tarantino vive nela até hoje, Todos os seus filmes são 70's.
   Ter tido 12, 14 anos em 1976, 1978, e ter ido às bancas comprar Mad ou Homem-Aranha, montado numa Caloi 10, usando uma camiseta Hang Ten, com tênis Bamba e os longos cabelos descoloridos ao vento... De bermuda de calça jeans cortada e com More Than a Feeling na cabeça... Que baratão!
    Mas....aquilo tudo foi real??? Um presidente como Jimmy Carter, ele existiu? Clóvis Bornay e Asdrúbal Trouxe o Trombone, foram pra valer? Não foram delirios de mentes cheias de peyote?
    É doido isso. Para todos nós, os anos 70 parecem sempre ontem, enquanto os anos 80 parecem muito antigamente e a década de 90 se parece com algo muito distante. Os 80 e os 90 têm um aspecto de vida muito real, de coisa sólida, e portanto mortal. Já os 70 ao se parecer com delirio escapam dessa temporalidade. Não foi um tempo, foi como um parente maluco. Ele morreu, mas tá aqui.
   Que bem louco!

   Uma década que nos deu Boney M e Kevin Ayers.... dizer o que? Viva o excesso!
  

CARNAVAL

   Não existe mais samba enredo que vire sucesso popular. Eu ainda peguei o tempo de "Nesse palco iluminado/ Só dá Lalá/ És presente imortal....", ou então, "É hoje o dia/ Da alegria/ E a tristeza/ Nem pode pensar em chegar..." E eu adorava uma que dizia, "O carnaval é a maior caricatura/ Na folia o povo esquece a amargura...."
   Samba enredo é hoje apenas um tipo de marchinha militar com a única função de fazer o povo evoluir. Desfiles de escolas de samba perderam qualquer traço de espontaniedade. Os desfiles se tornaram competição, têm tática, meta e planejamento; o deslumbre visual se aprimorou, o maravilhoso kaos dionisíaco se foi. Apolo é o deus do carnaval das escolas e dos trios da Bahia. A estupenda e estúpida comunhão de suores e de alegrias foi substituída por uma organizada e burocratizada bebedeira geral.
   Acompanhei os desfiles dos anos 70/80. Sem sambódromo, eram feitos na avenida. As toscas arquibancadas de madeira podiam ruir e o povo invadia o asfalto e não deixava a escola andar. Para isso existia o abre-alas, para abrir caminho na multidão. A platéia assistia a escola como se estivesse dentro dela, se podia tocar as fantasias. Um kaos que fazia com que sempre houvesse atraso e lembro de um desfile ( 1977? ) que acabou às 15 horas de segunda-feira!!! Era menos bonito que hoje, mas era lindo. Havia suspense, voce nunca sabia o que podia acontecer. Carros quebravam, a bateria atravessava ( não havia sistema de som ), se chovesse a pista alagava, tudo de errado podia vir. Mas em compensação, quando dava certo, voce via o povo entrar na escola e levar o samba junto. Eram palmas e cantoria vindo da arquibancada para a escola e vice-versa. Por estarem passando muito perto tudo era uma coisa só. Era lindo. A escola passava e o povo ia atrás.
   Quem desfilava era da comunidade, poucos famosos desfilavam, e esses poucos frequentavam a escola o ano inteiro. E o legal é que cada uma tinha seu estilo. A Portela era metida a aristocrata, toda séria e cheia de pose; a Mangueira era a falida, de uma digna pobresa, a rainha da tradicionalidade, brega e de raiz; o Salgueiro era excêntrico. A mais ousada, inovadora, doida de pedra. O Império Serrano sempre comia pelas beiradas, vinha na empolgação, caprichava nos sambas. A Mocidade tinha a melhor bateria e a Imperatriz era a mais fria e sem carisma. Quando veio o furacão Beija-Flor, em 1976, todas entraram em crise e perderam o rumo. O carnaval mudava para sempre com Joãozinho Trinta. O luxo se fazia rei, mulheres nuas e destaques sobre os carros. Todas as outras se beijaflorizaram e a diversidade foi pras cucuias. Que pena...
   Comecei a me interessar pelos desfiles pra ver mulheres sem roupa. Mas depois comecei a achar aquilo tudo muito emocionante. E lembro de até ter chorado com os desfiles da Portela em 81 e da Mocidade em 89. Mas desisti faz tempo. Tá tudo exatamente igual.
   Na Tv, 1981 foi alucinante. Algum maluco na TVE do Rio teve a idéia de cobrir todo o carnaval do cidade ao vivo, sem interrupções, todos os quatro dias. É isso mesmo: de sábado à terça, 24 horas no ar, só carnaval e só na cidade. Isso fazia com que eles passassem blocos da zona norte e desfiles de fantasias de todo clube metropolitano. Eram bastidores de festas, ruas sendo preparadas, rodas de samba em botecos, desfiles de escolas do grupo 3. Voce imagina o que era arriscado transmitir carnaval às nove da manhã de segunda-feira? Sempre ao vivo. De noite voce ouvia os narradores esgotados, avisando que iam dormir quatro horas para logo voltar à folia. Era uma maratona de revesamento, era uma das coisas mais loucas e soberbas que a TV já ousou. E deu certo. Lembro de Clóvis Bornay comendo uvas... Isso que voce leu, Bornay comendo uvas e falando abobrinha, pois não havia mais nada de interessante para passar às 18 horas de terça-feira, então tome Bornay na sua sala e tome desfile de fantasia infantil em Paquetá. Carnaval tem de ser assim: cheio de erros, de desafios, de bobagens, e sempre lindo. A equipe de Fernando Pamplona deu um show!!! 76 horas no ar sem parar, sem nada pré-gravado, nas ruas, correndo para onde houvesse folia. Mesmo os que estavam nas ruas do Rio não se sentiram tão dentro do clima de carnaval do Rio como aqueles que sintonizavam a TVE.
   Carnaval é também guerra de água nas ruas quentes de meu bairro, são os bailes do Flamengo que a TV passava, e que com seus exageros de sexo ajudaram a derrubar a censura. Foram os desfiles que eu via em Santos, na rua, bestificado pela força que uma bateria tem ao vivo. Que show de rock que nada, a zueira é uma bateria completa. Voce fica dias com aquela batida dentro da cabeça. Carnaval era também se fantasiar para correr pelas ruas, jogando confete nos poucos carros e rir e rir e rir...
   E pra voce que odeia carnaval mas adora Keith Richards ou Ozzy, saiba que se eles aqui estivessem estariam na rua, vendo, ouvindo, fazendo. Se perdendo entre as curvas da mulata e alucinando com o ritmo do surdo. O Carnaval verdadeiro não é pra amadores.
  
  

ALDOUS HUXLEY NA TV CULTURA

Tenho percebido que a Cultura tem dado uma ressuscitada. Talvez seja a crise que está fazendo com que ela retorne a algum tipo de espírito "Tv Cultura anos 80".
Ontem ví Barbara Heliodora no Roda Viva. Ela é alta-classe. Formação inglesa, ela não admite teatro que não respeite a intenção do autor. Voce pode criar sobre o texto, desde que esse texto seja contado. Mais interessante é como ela explica o modo como se deve abordar uma obra : o crítico deve descobrir qual era a intenção do autor, e a partir daí, observar se o objetivo foi atingido. Exatamente o que dizia Pauline Kael e exatamente o que tento fazer.
Ela diz que Gielgud, Olivier e Redgrave foram os maiores.
Em seguida vem um documentário sobre Laura Huxley, a viúva de Aldous. Maravilhoso! Várias cenas de Huxley ( inclusive de sua vinda ao Brasil ). Laura tem uma presença estranha. Ele a considerava um tipo de anjo. Aos 95 anos, magérrima, ela é de fulgurante alegria, uma eterna criança, no sentido belo de ser criança : brincalhona, curiosa, cheia de vitalidade.
Conta das experiencias com LSD dos dois. Que o ácido não dá alucinações, ele faz com que portas se abram dentro de nós, coisas que jaziam dentro saiam para fora. Ela descreve a viagem dela e dele. O peyote inclusive.
Naquele tempo o LSD era legal, e toda faculdade americana tinha seu grupo de estudo sobre o ácido. Logo Timothy Leary veio com seu lema : Ligue-se, caia fora, saia de casa. Huxley foi contra esse desbunde. Ele pensava que o LSD deveria ser usado com muito cuidado. Bem... de qualquer modo, existem cenas históricas de Huxley com Leary e entrevistas na tv sobre LSD.
Há uma fala de Aldous profética. Ele diz que a publicidade está penetrando no inconsciente das pessoas. E que isso será devastador para aquilo que consideramos humano. Tudo o que se torna inconsciente se transforma em parte de nosso ser. E se uma mensagem publicitária se aloja em nosso inconsciente, deixamos de ser 100% humanos e nos fazemos mecanismo de consumo.
Diz ele que toda tecnologia é boa, desde que respeite a biologia do homem. O equilibrio biológico e quimico do ser deve sempre manter-se intocado. Nada que não seja humano deve penetrar dentro do homem. Ou haverá o desequilibrio.
Mostra-se a bela casa onde eles moravam ( em Hollywood ), as crianças, os livros, os quadros. Laura descreve a morte do marido, uma "passagem" tranquila sob efeito de LSD. Christopher Isherwood é várias vezes citado, cenas com o amigo Igor Stravinski, com Orson Welles e com George Cukor ( a nata do cinema frequentava a casa ). Mas o que mais brilha é a presença de Laura, com olhos de bruxa e voz de italiana da renascença.
Uma história do Brasil: em 1960, convidados por Kubistcheck, os dois vieram fazer conferências. Viajaram então ao interior do Mato Grosso, para conhecer os indios. No meio do nada, em meio a tribo que os recebeu bem, eis que um dos moradores, de olhos arregalados e mãos trêmulas, se adianta e maravilhado pergunta: "O senhor é Huxley? Contraponto? Huxley? Contraponto?" Aldous sorri emocionado. Laura diz ter sido essa uma das lembranças mais caras a Huxley.
Conclusão: em noites entediantes, com 102 canais a disposição, é na velha tv Cultura que ainda encontro alguma inteligência. Valeu!

séries de tv

Começo contando que Seinfeld foi eleita mais uma vez a melhor série da história. O que penso disso? Vamos ao que acho.
Toda arte melhora com o tempo. O David de Michelangelo parece melhor a cada século, as cantatas de Bach têm mais magnitude hoje do que em seu momento e Shakespeare é mais analisado a cada década.
Tv é produto e produto tem data de validade. Consumir antes que seu tempo se vá.
Recordo das várias decepções que experimentei ao rever séries que eu tanto amei. Coisas como Ultraman, que hoje parece tão entediante; Monkees que não são engraçados ( mas as músicas são para sempre ) ou Jeannie é um gênio, Kung Fu, As Panteras; todos insuportáveis.
Mas ao rever A Feiticeira encontro um encanto que na época em que a assistia ( ainda criança ), jamais percebí. Descubro o talento superlativo de Peter Falk fazendo Columbo e de Telly Savalas como Kojak. Essa permanencia de algumas poucas séries faz delas algo quase mágico, raro, muito especial.
Considero Seinfeld o mais criativo texto de toda história da tv. Tudo nele parece inesperado, os enredos sempre se dirigem ao desastre total e seus personagens são absolutamente cativantes; mesmo sendo feios, neuróticos e egoístas. Mas não sei se é a melhor série.
Um Amor de Família era mais engraçada, anárquica, cínica. Alguns momentos eram realmente ousados, cruéis, arriscados. Frasier era agradabilissima, bateu recordes de prêmios e possui o melhor último episódio da história da tv. Mary Tyler Moore não envelheceu nada. Seus personagens são apaixonantes e a abertura é linda. Os dois primeiros anos de Will and Grace são hilários, assim como o primeiro ano de That's 70's Show.
Monk é uma boa série, House tem um bom ator e My Name is Earl é muito bom. John Doe merecia ter durado e Carnivale era bacaninha. Mas duvido que 24 horas ou Lost sejam assistidas em 2020.
Alguém aguenta rever Barrados no Baile ou Dinastia ? Mas Waltons é uma delícia e Agente 86 ainda é passável. Perdidos no Espaço faz dormir, mas Starsky e Hutch são ótimos.
Como saber então o que sobreviverá ? Qual a série que não nos deixará com vergonha de ter gostado tanto e jogado noites no lixo diante da tv ? Ninguém pode saber.
Anos Incríveis...eis uma série com algo de mágico...