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Holland vs Argentina World Cup 1974



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Holland vs Brazil World Cup 1974



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PARA QUEM QUER SABER DE ONDE VEIO O BARCELONA

O futebol é dividido em AM/DM ( antes de Mitchels, pós Mitchels ). Rinus Mitchels, ídolo de Telê Santana e de Claudio Coutinho, foi o cara que na Holanda dos anos 50, devastada pela guerra, mudou o modo de se pensar o futebol. Ele recolheu das ruas ( já nos anos 60 ) uma molecada que se chamava Crujiff e Neeskens. O resto é história. O Ajax, tri-campeão europeu, fez com que toque de primeira, velocidade e posições não fixas, se tornassem a marca do novo jogo: o futebol total.
Se voce assistir esse video, com alguns momentos de Holanda 2X Uruguai 0 e Holanda 4XArgentina 0, verá tudo aquilo que o Barça faz em 2011 feito em 1974. Do primeiro momento, em que TODO o time holandês ataca a bola em cinco metros de campo, aos toques de primeira no ataque e na defesa, o que voce irá presenciar ( felizmente com boa imagem ) é a maior exibição de futebol da história da bola.
Crujiff foi jogar no Barça depois da copa, e nos anos seguintes se tornou ídolo nos campos e depois no banco, como técnico. Toda a história do clube, desde então, passa pelo modo Holanda/74 de jogar: solto e rápido, posse de bola e marcação em todo o campo.
Eu vi aquilo ao vivo. ( Criança ainda.... ) e lembro de que os bobos chamaram aquilo de pelada e os visionários, de futebol pós-68. Foi uma revolução. Desde então, todos os times que valeram a pena ver ( O São Paulo de Telê, o Flamengo de Coutinho, O Palmeiras da Parmalat, e mais Milan de 89, França e Brasil de 82, Arsenal de Pires, Vieira e Henry ou o próprio Barça, foram todos, mais ou menos, filhos daquele time laranja. )
Assista e babe.

Holanda x Uruguai 1974.wmv



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JAIR, PELÉ, TOSTÃO E RIVELLINO ( O MELHOR ERA GÉRSON )

A maior alegria que tenho é a de fazer parte de uma geração que ainda sabia o que era ingenuidade. Não sei se por falta de informação, não sei se por causa do monte de tempo livre para ser bobo e bobear a toa, o que sei é que os pais da minha geração tinham ainda um ou dois pés no campo, e então eu e todos os caras da rua crescemos acreditando em heróis, semi-deuses e iluminados. Esse tesouro, a luz da ignorância, é o que mais valorizo em mim.
Porque é preciso ser um pouco tolo para poder criar. Se voce sabe tudo e pode explicar todas as coisas que acontecem, se voce joga luz em todo porão, voce nada consegue criar. Ter fé em coisas inexplicáveis, crer naquilo que é porque é, sem isso voce não consegue inventar uma história, uma lenda, uma saga.
Tive a sorte de ainda ser de um tempo em que a gente tinha a certeza de que todo astro do rock era um ser de outro planeta e de que todo diretor de cinema era um guru versado em segredos ancestrais. E eu sabia que todo amor era pra sempre e toda amizade era divina.
Mas eu estou escrevendo tudo isto só pra dizer que essa época fez com que um grupo de brasileiros se tornassem heróis. Que era uma emoção absurda ( ainda é ) ver alinhados Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivellino. A gente tinha a certeza de que eles eram perfeitos. De que eles eram genuínos, de que eram "para sempre".
Voce pode amar Ronaldo hoje. Ou Romário. Mas é diferente. Naqueles caras de 70 voce via apenas jogadores de futebol. Nada de modelos famosas, de festas glamurosas, de campanhas de midia. Nem Ferraris, nem BMWs. Voce sabia que eles eram simples, amáveis, nada arrogantes, que gostavam de uma caipirinha, um sambinha, um feijão. Cada um tinha sua marca pessoal, mas era marca feita sem jeito, sem acessor, sem grife.
Clodoaldo era o tímido, Gerson o briguento falastrão, Jair o ídolo das crianças, Pelé o melhor do mundo, Tostão o inteligente e Rivellino era o menino. Ninguém ligava muito pra cabelo, sobrancelha ou cor de chuteira. O negócio era jogar bola. Jogar e cavalheirescamente manter uma certa ética: se voce joga eu jogo.
Na última copa, a melhor das últimas três, e mesmo assim tão pobre, tive um pensamento: Tanta produção, imagens tão lindas, gramados impecáveis, para jogos tão feios. O quarto gol contra a Itália em 70 merecia esse monte de ângulos e slows e tira-teimas.
Hoje vi Rivellino. Meu coração foi pra boca. Herói pessoal é aquele que faz o máximo usando o mínimo. É o que vai ao topo e VOLTA A SUA ORIGEM. O que faz de crianças como eu ( em 70 eu tinha seis anos e nunca esqueci do que vi ) eternos apaixonados.
1970 foi um ano de heróis. E os maiores moravam aqui ao lado. E eram um bando de não-loucos, de não-bolas de ouro e de não-capas de Capricho. Que bom!

FILOSOFANDO SOBRE FUTEBOL

Domingo antes do rachão africano, dei uma olhada em Brasil x Inglaterra, México, 1970.
Minha mãe apareceu na sala e perguntou o que era aquilo na tv, aquilo com uma imagem tão ruim. Expliquei, e o primeiro comentário dela foi : "Nossa! Parece tão chato!"
Depois assistimos o vale-tudo africano e ela acabou dizendo : 'Mas isso também é bem chato! Tudo o que eles fazem é correr e se jogar uns sobre os outros." Weeeeel....comecei a pensar então....
Dizem que a copa de 70 foi a melhor e o que parece ser chato hoje seria assim tão chato se fosse ao vivo? Explico:
Daqui a quarenta anos ( em 2050 ) será que Brasil x Costa do Marfim terá algum interesse? Voce já tentou rever a final de 94, Brasil 0x0 Itália ? É masoquismo puro.
Vamos ao jogo de 1970.
Primeira coisa que estranhamos: o jogo tem muito espaço. Antes de 1974 não se marcava no campo do adversário. O campo do adversário era CAMPO DO ADVERSÁRIO. A marcação só ocorria a partir do ataque. Então havia muito tempo para se pensar a jogada. O cérebro funcionava com mais clareza, o stress era menor. Então a bola não se demorava na defesa. O jogo era basicamente de ataque para ataque.
Segundo. Uma total ausência de medo. Como não se marcava a saída de bola, nada de pavor de perder a bola. Se tocava com carinho, de lá pra lá ( sempre para a frente, eram 3 toques até estar no ataque ) e então se procurava resolver o ataque.
Terceiro. Não existe o toque de primeira, há um exibicionismo no trato com a pelota, o empurrão é muito raro. Se entra muito na canela, poucos carrinhos. A marcação na defesa é quase igual a de hoje. Cinco contra três. O meio campo é que fica vazio.
Mas há uma sensação de tempo, de lentidão, de usufruir o pensamento. Não vou entrar na inutilidade futil de dizer se Rivellino ou Bobby Charlton conseguiriam jogar hoje. Pelé hoje seria melhor preparado atleticamente, a medicina esportiva o protegeria mais. No final daria no mesmo. Eles enfrentariam melhores defesas mas estariam melhor condicionados. Em 1970 um problema de menisco ou uma fratura era fim de carreira. Mas o que mais percebo no futebol antigo é a ausência de stress. E foi minha mãe quem percebeu isso no meio do jogo africano: o stress que existe no jogo de hoje, a pressa absurda, os rostos completamente crispados, a ausência de prazer ( com excessão de Messi e de jogos que acabam em 7x0 ).
Penso que o futebol de Brasil e Inglaterra, 1970, ainda se pauta pela estética. Há tempo para se pensar uma bela jogada e para se apreciar essa jogada. Seria maravilhoso o super-slow naquele quarto gol contra a Itália. Conteúdo e pouca forma.
O futebol hoje é bloqueio e cortada. Milhões de bolas jogadas a esmo na área e uma tabela a cada 30 minutos jogados. Não há tempo para pensar e tudo o que nos fascina é o fato de NÃO SE SABER O FIM DA HISTÓRIA. Se for tirado o suspense do resultado final, quase nada resta que nos prenda a atenção.
Ficamos então fascinados pelo rosto em slow, pela rede que se estufa, pela bola girando. Tecnologia tentando preencher a miséria estética. Ninguém se interesserá por Brasil e Costa do Marfim em 2050. Nem eu e nem voce.

COPA DO MUNDO

Minha mãe não acredita, mas eu lembro de um monte de caras fumando cigarros fedidos ( talvez Continental sem filtro ) e ouvindo a copa de 66. Recordo da tv com um campo de futebol preto e uma bolinha branca. O azar do Brasil foi cruzar com Eusébio. Portugal aliás, foi a primeira seleção européia a ter negros no time. Eusébio era um Christiano Ronaldo macho. Um Etoo muito melhorado.
Em 1970 tivemos o melhor time do mundo e da história. Nunca uma equipe campeã foi tão incontestável. O esquema era louco: 4-6-0. E deu certo!!!!! Lembro da estréia, a Tchecoslovákia saiu na frente e meu pai achou que vinha mais um vexame. Mas depois ficou fácil. Foi o jogo de Jairzinho. Inglaterra e Brasil foi um dos top five de todos os tempos. Charlton contra Pelé. Era pra ter sido 6x6 ou 8x8. O melhor jogador da Inglaterra era irlandês e nunca jogou uma copa ( George Best ), mas eles tinham Lee, Banks, Jack e Bobby. Tocavam de prima e perderam montes de gols. Do outro lado o melhor time da história do esporte. Foi ao vencer os ingleses que começamos a pensar: talvez dê. Foi pena o Brasil não cruzar com a Alemanha. Overath, Seeler e Beckembauer. E Gerd Muller, que marcou 9 gols nessa copa e foi o artilheiro. Mas os alemães ficaram na Itália, que venceu por 4x3 com prorrogação estafante. Lembro que no dia desse jogo teve festa junina no quintal de casa. Brasil e Peru eu ví na casa de minha madrinha. E na final jogamos um prato de espaguetti na casa de um italiano. O primeiro tempo foi 1x1 e muito dificil. A Itália tinha um zagueiro genial, Fachetti, e um grande atacante, Gigi Riva. Mas no segundo tempo eles cansaram e recordo Rivellino berrando no campo e o gol maravilhoso de Gerson. Gerson foi o melhor jogador daquela copa. Foi o cara. E teve aquele golaço do Carlos Alberto fechando aquela copa hors concours. 1970 foi o fim do romantismo. Brasil 4x1 Itália foi o fim de uma era. Não sei se foi a melhor final da história. Em 54 teve Alemanha e Hungria. Mas foi a final digna de uma copa brilhante. Uma copa onde 4 equipes poderiam ter vencido.
Se 70 foi o fim do romantismo, 74 foi a primeira copa moderna. A copa da Holanda. Eu adorava os holandeses. Era o time de maio de 68. Cabeludos, desencanados, esquisitões, sexys. A camisa laranja passou a ser símbolo de tudo o que era novo. Mas qual era a novidade? Eles pressionavam. Ás vezes a gente via os dez jogadores em dez metros de campo. Avançavam e encurralavam o adversário. Linha de impedimento comandada por Neeskens e Krol, defensores que viravam centro-avante, todos defendendo, todos atacando. Destruíram o Uruguai, não deixaram o time de Pedro Rocha e Forlan passar o meio-campo. Massacraram a Argentina ( 4x0 ). Suurvier, Crujff, Rep, Resenbrinck, VanHannigan, Van der Kerkoff. Que festa!!!!!!! Os jogos do Brasil eram uma chatice! Zero a zero com Iugoslávia e Escócia. Só jogou bem contra a Argentina. E perdeu de Holanda e Polonia. Polonia de Lato e Deyna. A final foi um bom jogo. Mas a Holanda fez um a zero aos 2 do primeiro tempo. E relaxou. E os alemães tinham Becekembauer, Overath, Breitner, Muller, Vogts, Bonhoff e Sepp Maier. Raça e técnica. Mas a Holanda tinha de ter ganho. Eles eram bons demais. Lembro de um jogo fantástico: Alemanha e Suécia debaixo de chuva. Foi 5x3 pros alemães. Os suecos tinham seu melhor time da história. 1974 foi das minhas copas favoritas. Se voce esquecer o Brasil mediocre, foi copa de novidades, velocidade, arrojo, de um jeito diferente de jogar. E eu adorava aqueles jogadores com cabelos longos e cara de bandidos.
Detesto recordar 1978. O Brasil não merecia ganhar, mas a Argentina foi campeã suspeita. Foi uma copa onde ninguém merecia vencer ( talvez a Itália de Bettega e Causio. Venceu os argentinos na primeira fase, mas caiu muito nos mata-mata ). A Argentina tinha os ótimos Ardiles e Kempes, mas a final contra uma Holanda envelhecida ( e sem Crujff ) poderia ter sido vencida pelos laranjas. Meteram uma na trave aos 44 do segundo tempo ( estava 1x1 ). Mas quando recordo aquela copa de generais, de papel picado e gramados ruins, me dá um argh. Chorei de raiva ao ver a Holanda perder de novo. Entendi que o futebol era um esporte injusto. Esporte onde Crujff e Platini jamais seriam campeões, e onde centenas de pernas de pau ergueriam a taça. ( Jogadores como Zico, Gullit e Puskas jamais venceram. E Best, Weah, Cantona sequer a jogaram. Enquanto isso temos nove jogadores da Itália de 2006, absolutamente medíocres, campeões do mundo; e mesmo o Brasil de 2002 tinha meio time abaixo do nível de "time campeão".)
1982 foi uma copa maravilhosa. Aliás, foi a última copa-show. Verão na Espanha, o público com roupas e caras de praia. E jogos inesquecíveis. O Brasil foi assim tão bem? Venceu a URSS no roubo e goleou Escócia e Nova Zelandia. Depois sim, engrenou nos 3x1 na Argentina e foi excelente sim, contra a Itália. Zico, Falcão, Sócrates e Oscar fizeram uma copa sem erros. Mas Cerezzo, Serginho, Luizinho e Junior foram irregulares demais! Dizer que foi azar a derrota é ser um idiota arrogante. A Azzurra venceu Brasil, Argentina, Alemanha e Polonia, sem ajuda de juiz e sempre dominando o jogo. Tinham Zoff, Scirea, Gentile, Cabrini, Antognoni, Conti, Graziani e Rossi. Uma defesa perfeita, um meio campo criativo e um ataque muito rápido. Era um time leve. A final, em que bateram a Alemanha de Rumenigge e Breitner por 3x1 foi a última final aberta, bem jogada e emocionante. Mas 82 teve mais. A Polonia de Bonieck, a Belgica de Gerets e a França, de futebol técnico e encantador, de Platini, Giresse, Tigana, Tresor, Rocheteau, Six e Ghenghini. E o melhor jogo que já ví, a semi com a Alemanha, 3x3 e a derrota dos bleus nos penaltis. Italia e França deveriam ter feito aquela final. Seria um jogo estupendo. Acompanhei todos os jogos da França naquela copa. Foi o melhor time que eles já tiveram. Foi uma injusta derrota. Chorei de novo. Quem disse que a vida/futebol tem justiça?
1986 foi uma doida torcida contra Maradona. O cara fez a maior atuação individual que já assisti. Nos jogos contra Inglaterra e Belgica ele atingiu o ponto máximo a que um atacante pode chegar. A final foi jogo de um time só. Apesar de ter sido 3x2, os alemães já entraram derrotados. Foi uma copa chatinha. Jogaço só Brasil e França ( os dois já mais pragmáticos que em 82 ) e um Dinamarca 5x1 Uruguai que causou espanto. Houve quem chamasse o time de Laudrup e Elkjaer de novos holandeses. Mas na sequencia tomaram de 5 da Espanha de Butragueño.
1990 foi a pior copa da história. Montes de prorrogações. Violencia e muita cera. A Itália de Schilacci, Donadoni e Baresi conseguiu perder em casa. A copa foi tão ruim que Maradona arrebentado e manco foi o astro. Mas deu a Alemanha de Mathaus, Klinsmann e Voller. A Holanda de Van Basten, Rijkaard e Gullit foi a decepção. A Inglaterra fez sua última boa copa. Tinha Paul Gascoigne, um George Best revivido. A final foi digna da copa, um a zero com gol de penalti suspeito.
Em 1994 só jogou o Brasil. Copa nos EUA sem ingleses e irlandeses é como copa no Brasil sem Portugal e Itália. A Romenia teve certo brilho com Hagi e a Bulgaria com Stoichkov. Mas Alemanha, Itália e Argentina só decepcionaram. Os italianos chegaram à final porque alguém tinha de chegar. Sobrou pra eles. Mesmo assim foi zero a zero e penaltis. Uma final horrenda. O Brasil foi ok. Uma defesa excelente e Romário fazendo gols com a ajuda de Bebeto. E só. Zinho e Mazinho é dupla que ninguém merece! Copa de quarenta graus a sombra não podia ser boa! O melhor jogo acabou sendo Brasil 3x2 Holanda. Branco salvou o país.
1998 foi a copa onde até a França se tornou pragmática. Thurran, Desailly, Blanc e Lizarazu formaram talvez a melhor defesa da história. E ainda tinham Deschamps e Vieira no meio campo. O esquema era o do Brasil de 94. Em vez de Romario, Zidane. Só que Zidane foi expulso no jogo contra os sauditas. Pegou 3 jogos de gancho ( a copa positivamente não foi roubada ) e voltou só na final. Todos os jogos eliminatórios foram sem Zidane. E a França teve de rebolar com um ataque ruim. Mas foi justo. Na final dominaram e atordoaram o Brasil. Que jogou uma copa muito mediocre. Os patrioteiros inventam até hoje as teorias mais idiotas para não aceitar o que o mundo inteiro viu: venceu o melhor. Em 98 a França, como o Brasil em 94, não teve contra quem jogar a final. Sobrou pro Brasil.
Se a copa de 1990 não tivesse existido, 2002 teria o prêmio de pior copa da história. O único bom jogo foi a vitória do Brasil sobre a Alemanha na final ( mesmo assim seria melhor com Ballack em campo. ) Não consigo lembrar de jogo nenhum que me tenha divertido. Basta dizer que Turquia e Coreia chegaram entre os quatro! Recordo do jogo mais roubado da história, Espanha e Coreia, em que os espanhóis eram a toda hora pegos em impedimentos inexistentes e tiveram dois gols absurdamente anulados. O Brasil também foi favorecido contra Turquia e Belgica. Nunca foi tão fácil vencer.
2006 teve um dos piores campeões. A Itália tinha Totti. E só. A França seria uma campeã melhor. Mas Zidane pirou. Raras vezes vi o Brasil levar um baile. Lembro de um jogo da Inglaterra no Maracanã em que John Barnes destruiu o Brasil. Mas o que Zidane, Vieira e Henry fizeram com o Brasil foi sacanagem!!! 1x0 com sabor de goleada. Acho que não passamos do meio campo!!! Que saudades de 1970 !!!
Não dá pra saber o que virá agora. Eu queria uma copa aberta como a de 70, revolucionária como a de 74 ou divertida como a de 82. Um campeão digno de copa, como o Brasil de Pelé, a Alemanha de Beckembauer ou a Itália de Rossi. Um craque incontestável, tipo Maradona e Crujff. Quero gols e nenhuma decisão por penaltis. Final com penaltis não vale!!!!!
Mas sei que o esporte mudou. Tem brasileiro na Alemanha, meio Arsenal na França, amigos brasileiros e argentinos na Inter. Antes o Brasil jogava como Brasil porque todos eram treinados no Brasil. O mesmo para ingleses, italianos e franceses. Agora todos são treinados à italiana, carrinhos e pressão. A copa deixou de ser o encontro de estilos diferentes e se tornou o encontro de estrelas que se parecem demais. Surpresas são impossíveis. Mas é a copa....

O DIA EM QUE UMA BOLA ME FEZ CHORAR

As malas estavam prontas e nós iríamos para Paris em 3 dias. Eu não queria ir. Era ainda um anglófono, não gostava da empáfia parisiense. Mas alguma coisa estava mudando em mim. Era a copa da Espanha, uma copa marcada pelo sol e por alguns jogos inesquecíveis. A última copa em que quatro seleções poderiam ser campeãs com justiça. ( Itália, Alemanha, Brasil e França. ) Foi a copa de Rossi, Rummenigge, Falcão e Platini. Mas também de Antognoni, Breitner, Junior e Tigana. E muito mais...
No meu quarto, eu, que durante a copa aprendera a amar a seleção da França, assistia mais uma exibição de gala desse time que era como Mozart em campo : refinadíssimo toque angélico. Eles jamais davam um chutão, nunca faziam um lançamento longo. Eram passes curtos, milimétricos, dribles limpos, claros, refinados. Uma completa âusência de violência. As camisas azuis, da Le Coq Sportiff, jamais erravam. Aprendi a idolatrar aquele meio campo que era um quarteto de cordas digno de Haydn : Alain Giresse, um ladrão de bolas, um baixinho de Marselha, um Napoleão da bola; Ghenghini, o rei do passe, príncipe de modos sublimes, magro garçon; Tigana, o ágil, veloz, surpreendente Tigana, primeiro ídolo negro da bola tricolor, habilidoso atacante de raio sem fim; e o maior de todos : Michel Platini, apesar de Zico, Maradona, Zidane, Romário, Crujff, Van Basten e vasto etc, foi este 10 tricoleur, o mais perfeito toque que um time já teve. É dele o mais belo gol que ví ( Juventus x Argentinos Júniors em Tóquio. Três chapéus, limpos e longos na pequena área, e o gol. Tudo sem deixar a bola cair e sempre com o mesmo pé. O juiz anulou esse gol. Porquê ? Nunca ninguém soube. A Juve venceu com gol de Michel. )
O jogo naquele dia era pela semi-final, contra a Alemanha de Rummenigge, Breitner, Hansi Muller e Kaltz. Detalhe : a França até então jamais vencera os alemães em competições oficiais. Mas o jogo foi uma festa francesa ! Toques e mais toques de classe, dribles maravilhosos e um fato raro : essa seleção nunca errava um passe ! Era um ballet dos quatro mosqueteiros do meio campo. Mas... tragédia de Racine : o ataque de Rocheteau e de Six perdia gol atrás de gol ! Um gol fez a França, um mísero gol ( como em 2006 contra o Brasil, em que moralmente o jogo deveria ter sido 3x0 ). E a Alemanha, que na época ainda era A Alemanha, fez um também, e levou o jogo para a prorrogação.
Vieram então os mais fantásticos 30 minutos de toda a história do esporte ( e quem diz isso não sou eu, é a FIFA. Este jogo é o quarto maior da história. Os outros 3 são : 1970- Alemanha 4x4 Itália, 1982: Brasil 2x3 Itália, 1970: Brasil 4x1 Itália e este França e Alemanha ).
Nessa prorrogação a França, nos quinze primeiros minutos, jogou o melhor futebol que presenciei em toda minha longa vida. Fez 3x1 nos alemães e começou a comemorar a final, que seria contra Brasil ou Itália. Trocava passes, dava dribles, e finalmente, fazia gols. Veio o segundo tempo e nada mudou : um show de classe. O quarteto tocava Beethoven para os germânicos. Mas... aos 10 do segundo tempo Rocheteau invade a área livre para fazer o quarto. O goleiro Schumacher, sai e tromba com Rocheteau. O francês sairá de campo com o maxilar fraturado. A França desaba. O pênalti não foi marcado e Rummenigge, aos 12 e aos 15 do segundo tempo da prorrogação faz o milagre : 3x3.
Quando Six chuta fora o último pênalti... eu choro. Porquê chorei neste jogo e não em Brasil e Itália ? Porquê a Itália jogou melhor aquele jogo. Os dois jogaram bem na verdade, mas os italianos tiveram mais raça. Mereceram. ( e, típico daquela nobre geração brasileira, de Sócrates e Zico, de Falcão e Júnior, de Telê e Leandro; jamais se contestou a vitória italiana. Choraram, mas nunca criaram teorias conspiratórias, como fez a vergonhosa geração de 98, dos amarelões Ronaldo e Júnior Baiano. )
Chorei naquela tarde/noite porque assistí a derrota da beleza frente a eficiência, da arte frente a guerra, do melhor frente ao aplicado. Ver Platini chorar ao final me engasga até hoje, e fez com que nascesse minha francofilia ( sim. Não foi Sartre ou Godard. Foi Platini e Ghenghini. )
A geração do cérebro Zidane, o maior jogador dos últimos 15 anos, lhes faria justiça. Seriam duas euros, uma olimpíada, duas copas das confederações e uma das mais belas vitórias em copa. ( Contestada só no Brasil, que é parte interessada. Um time com Vieira, Deschamps, Desailly, Zidane, Pires, Henry e Trezeguet não mereceu ? Na verdade a França foi prejudicada naquela copa em casa : Zidane foi expulso na primeira fase e suspenso, injustamente, por três jogos, só retornou na final. )
O que me levou a escrever este texto foi exatamente o São Paulo e Flamengo de ontem. Um lançamento banal de um jogador paulista e uma exibição normal de um velhinho europeu bastaram para mostrar a carência de cérebros que há no futebol. De alguém que pense o jogo, que encontre soluções, que faça o inesperado. Como faziam em superlativo grau os 4 mosqueteiros, como Zidane sempre fez, com frieza Descatiana, e como tantos brasileiros sempre souberam fazer ( Gerson e Rivelino eram mestres nisso. ) Aqui, Raí foi um dos últimos. O estilista, o mago, o simplificador. Naquela tarde maldita isso começou a morrer. Faríamos melhor se, como Telê fez com Crujff, aplaudìssemos Zidane e Platini, e não culpássemos os deuses, a Nike, a bola ou o acaso. Pet mostrou a elegância que o futebol deve ter. Ou então, é o tédio de super-atletas correndo e berrando até morrer. A Alemanha venceu naquele dia. Mas o mundo chorou por Platini. Justiça, enfim.

HOLANDA, 1974, SONHO E DECEPÇÃO

Como dizia Nelson Rodrigues, "meninos, eu ví ! " Holanda 3x0 Uruguai. Não era o uruguaizinho de hoje, era o Uruguai de Forlan e Pedro Rocha. Após o jogo, Rocha disse que durante todo o primeiro tempo ele não vira a bola. A celeste não passara uma só vez de seu meio campo.
Era a copa da Alemanha, 1974, e a equipe sul-americana fora pega de surpresa porque era um tempo em que ainda poderiam ocorrer surpresas no futebol. ( Não falo de zebras. Zebra é quando o fraco vence o forte. Surpresa é quando algo totalmente surpreendente acontece. Independe de sorte, é puro talento. ) A surpresa era possível porque a tv não podia exibir TUDO o que acontecia no futebol. Conhecia-se um ou dois jogadores europeus durante o ano, e era só na copa do mundo que se podia ver quem era quem. Assim, um técnico tinha a chance de montar um time realmente surpreendente, e pegar o adversário com as calças na mão. Foi o que aconteceu com o Uruguai. Apesar do Ajax ser tri-campeão do mundo ( vencendo os sul-americanos na casa deles. O formato antigo era muito dramático : o campeão europeu tinha de jogar a final na Bombonera ou no Centenário, e o latino tinha de ir a Milão ou Madrid. ) O Feyenord também fora campeão em 1970, mas ninguém espionava nada. Brasileiros, argentinos e uruguaios se achavam os melhores. A Holanda trucidou os três.
Holanda 4x0 Argentina. Foi, junto com a França jogando contra a Alemanha em 1982 e o Brasil contra a Argentina também em 82, a maior exibição de um time que já vi. Com uma diferença : aquilo era realmente novo. Foi a última vez que o futebol evoluiu. Telê Santana e Claudio Coutinho caíram estarrecidos na época. Os tempos mudavam, mas os conservadores acabariam por vencer. O que era esse time ?
Simples. O gênio chamado Rinus Mitchel, maior técnico do esporte, pegou a molecada da perifa de Amsterdã e montou um time : o futuro Ajax imbatível. Moldou uma tática à eles : a pelada organizada, o tal do "futebol total ", todos jogando em todas as posições, todos marcando gols e marcando o adversário, todos tendo a habilidade de jogar como centro-avante e líbero. Deu certo. Deu certo porque aquela geração tinha muito talento, muita técnica e três gênios de elevadíssimo QI : Neeskens, Van Hannigan e Johnan Crujff, este, o mais talentoso jogador que vi jogar. Quando o Uruguai, e depois a Argentina, viram a bola rolar, cinco ( cinco !!!!! ) jogadores se atiravam sobre quem estivesse com a bola, a roubavam, e em vez de lançar a bola ao atacante, tocavam ao "zagueiro" que avançava com ela e tocava ao "volante" que fazia o gol. Tudo de primeira. Mas quem era zagueiro ? Rudi Krol ? ( Após tanto tempo eu lembro todos os nomes ), Suurvier ? Van der Kerkoff ? Quem era volante ? Neeskens ? E atacantes ? Johnny Rep ? Resenbrinck ? Não foi Crujff que marcou Rivelino ? Mas principalmente, porque esse time se tornou a estrela no céu dos fãs de Bowie, Che e Kubrick ?
Simples saber. Eles tinham uma atitude de "não estou nem aí ". Passavam a impressão de jogar brincando, rindo, e de que, de uma hora para outra, poderiam abandonar a partida se ela não lhes desse prazer. Mas havia mais. Eles transavam na véspera do jogo. Na concentração, esposas e namoradas podiam dormir com seus amores. Eles podiam fumar, podiam sair quando quisessem, podiam falar. Eram livres, e seu futebol era espelho disso. Era Dionísio no futebol.
Então entravam em campo. Cabelos longos e desgrenhados, camisas fora do calção, conversando, falando piadas, rindo. E jogavam. Corriam muito, tocavam rápido, e driblavam. Tudo feito com simplicidade, com prazer, com leveza. Foi a última evolução técnica no esporte.
Os técnicos do resto do planeta logo os copiaram. O Barcelona, com Mitchels e Crujff foi quase igual. Mas o Barcelona não tinha o QI dos jovens holandeses. Pois para jogar daquele modo era preciso inteligência, amizade, alegria, ter crescido junto, criado junto. Os outros times adotaram a superfície do estilo : a linha de impedimento, o atacante que também deve marcar, o toque rápido, o carrinho na bola e zagueiros que atacam. Mas era diferente, não era natural, era uma obrigação. O futebol que hoje você assiste, menino, é neto dessa Holanda. O melhor Manchester, o Barça e o Real que vocês viram eram rascunhos pobres dessa equipe e o São Paulo do Telê ( que exibia jogos de Crujff para seus talentos ) foi uma bela tentativa. ( Assim como o Flamengo de Claudio Coutinho e de Carpeggiani ).
O futebol evolui sempre, claro. A ciência do esporte evolui. Correr mais e ser mais forte. As táticas e o modo de jogar é o mesmo desde 1974. A Holanda era um 3/5/2, que se tornava 6/3/1 e metamorfoseava-se em 1/3/6. A Alemanha, que venceu, jogava como jogam os times de Muricy e de 90 % dos times. Jogava defendendo bem e contra-atacando com força. Venceram e não foi injusto, se mataram em campo na final, tinham de vencer, e a Holanda foi vítima de seu único ponto vulnerável : a vaidade. Amoleceram ao fazer 1x0 com três minutos de jogo, perderam gols e interesse e quando acordaram já era tarde. Um time que tinha Beckenbauer, Breitner, Gerd Muller e Sepp Maier não pode ser zebra. Foi a vitória de Apolo. A Alemanha jogava com clareza, objetividade, eficiencia. Com o talento de Franz e Paul, e os gols de Gerd.
Falta falar de Holanda 2x0 Brasil. Foi um jogo feio. O Brasil bateu muito. Poderia ter sido 5x0 para os holandeses. Poderia ter sido 1x0 para o Brasil. ( O Brasil jogou melhor os dez minutos iniciais. A Holanda observou o Brasil de Rivelino, Luis Pereira, Carpegiani, Marinho Peres e Jairzinho no início. Então começou a jogar. ) Para o Brasil foi uma vergonha : jogamos feio e sujo. Telê lutaria contra essa lembrança.
Em 1988 a Holanda ganhou a eurocopa com Rinus Mitchel novamente no banco. O convenceram a sair da aposentadoria. Aquele time de Gullit, Rijkaard, Van Basten deu show, mas nada tinha da "Laranja Mecânica" de 74. Nunca mais aquele estilo, nunca mais aquele sonho. A mais poética das equipes, a mais amada pelos adversários, a mais copiada e a mais frustrante, nunca mais.
Você, jovem que tem como referência Christiano Ronaldo e Kaká, talvez entenda agora o porque de em todas as copas, os caras de cerca de 40 anos, sempre torcerem pela Holanda, e a olharem com carinho e respeito. É que em meio àqueles Davids, Bogardes, Seedorfs e que tais, jogadores tão comuns, tão como todos o são, nós temos a esperança de rever, nem que seja por cinco minutos, a festa laranja, a orgia de pernas que se confundem, o prazer da pelada. É como se fantasmas pairassem sobre o campo verde onde joga a Holanda. E nos frustramos.
Meninos eu ví. E não me esquecí.