Mostrando postagens com marcador beethoven. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador beethoven. Mostrar todas as postagens

BEETHOVEN Symphony No 6 (Pastoral) in F Op 68 LEONARD BERNSTEIN



leia e escreva já!

A TRILHA SONORA DA SUA VIDA.

   Leio no Face e me permito não dizer quem escreveu isto: " Escutar tanto uma obra musical até a decorar. E assim, sem mais perceber, carregar essa obra dentro de si. Fazer com que ela seja então parte de sua alma. "
   Bela frase e bela ideia. E verdade verdadeira.
  Passo pela vida, como vocês, com melodias dos Stones, do Led ou do Elton John nos lábios. JJ Cale é minha trilha das ruas, The Band é o som da amizade e o Roxy Music dá o tom de todos os meus romances. Mas.....Não é disso que ele fala! Ele fala da música que se entranha dentro de voce e passa a ser o som do seu batimento cardíaco, a trilha sonora dos seus sonhos, a música que embala TODA A SUA VIDA. É o som que revela o seu EU mais profundo, secreto. Ele vive latente, pulsante todo o tempo, independente do que voce sente, vive ou pensa naquela momento. Está além da alegria ou da dor. É voce-mesmo. ( Self ).
  O Concerto para piano número 20 de Mozart é minha alma em forma de som. E como creio que a alma é um som, ele é eu. Cada fragmento sonoro sou eu aos 12, 20, 30, 90 anos. E é eu depois de ido desta vida. Decorei todos os seus minutos, cada movimento. O movimento lento é como sinto e sei do amor. Os primeiro acordes, trágicos, são meus traços faciais e minhas rugas mentais. Está além de qualquer palavra. É alma.
 O mesmo pode ser dito da Sinfonia Sexta de Beethoven. Não a carrego nos lábios. Nem mesmo na memória. Ela está em meus genes.
  Termino com o resto da frase citada acima: " Decore sua sinfonia, sua peça musical. Ouça-a até que ela faça parte de voce. Deixe-a ser sua. Esse é um dos maiores tesouros da vida. Ela será sua identidade."

CONSELHO PARA OS JOVENS

   Eu leio filósofos conservadores. Atuais, Leio porque eles escrevem bem e principalmente porque escrevem aquilo que eu creio. Neles vejo a confirmação do que sei. Mas percebo e reconheço que um filósofo é em 2016 algo tão inútil quanto um intelectual que se masturba diante de um espelho. É desperdício de energia. É esteticamente feio. E é risível. Scruton é venerável por ser um grande escritor. E por não ser apenas um filósofo...
   Nada mais triste que a lamentável figura de um professor que conheço. Pobre e revolucionário, acuado, ele só tem um "talento": dar aula de filosofia em escola do ensino médio. Impossível para ele ser vendedor, mecânico, engraxate ou advogado. Ele só fala sobre suas crenças politicas, só sabe dar aula e só pensa nisso. Não há outro assunto. Nada mais.
  Ele está morto. Apesar de jovem, todos sabem que aos 90 anos ele estará fazendo e dizendo exatamente aquilo que pensa e diz agora. Sua alma e sua cabeça morreram. Ele é um zumbi.
  Goethe era grande poeta. Mas era mais que isso. Era grande homem. Sua grandeza se definia pelo fato de que ele poderia ser pintor, químico, músico ou médico. O mesmo pode ser dito de Heminguay que lutava boxe, caçava e toureava. Ou Huxley com seus interesses por viagens, religião, drogas e pintura. Mesmo um homem que só pensava em música como Beethoven, tem a grandeza de um gigante porque sabemos que ele tinha talento para ter sido general ou um Papa. Scruton se interessa por vários assuntos longe da escrita. E quando escreve fala que devemos nos interessar por tudo.
  Esse pobre professor só pensa em um assunto: sua produção de espermas filosóficos.
  No ano de 2016 desconfie sempre de pessoas unilaterais. E de artistas que só pensam em arte. O desafio de nosso tempo, o Graal das grandes mentes se encontra na ciência. Só a ciência produz maravilhamento. A Capela Sistina de hoje não é coisa da igreja e nem da pintura. É da ciência.
  Ao artista, pois ainda há quem o seja com vocação sincera, cabe unir campos. Pintura misturada à química, literatura com teorias do acaso ou do tempo concomitante. Música que beba na física, dança que dialogue com a biologia. Filosofia matemática.
  Arte que seja arte "pura", distante da ciência será sempre saudosismo. Nostalgia de um tempo em que os grandes eram artistas. Hoje não são. Como não são politicos ou generais. Os grandes são cientistas.

GENIALIDADE É UMA ESTRADA QUE SE ABRE

Uma das piores coisas que o mundo- supermercado fez, foi transformar certas palavras em absoluto vazio. Guru é uma. Reinvenção é outra. E "genial" é uma das mais vulgarizadas. Do jogador de dezoito anos ao cozinheiro de restaurante espanhol, gênio é questão de empolgação. Claro que não quero impedir ninguém de chamar seu cabelereiro de genial ou de bradar por aí que o Seu Chico faz um beirute de gênio. Mas em arte são tantos gênios que a coisa se torna até ridicula.
Para os mais rigorosos, gênio só pode ser aquele que abre novos caminhos. Ele é o grande fertilizador, o que surge do nada e faz com que uma multidão de grandes talentos flutue sob sua influência. Em gênio verdadeiro há a história em todo o seu resumo. Ele absorve todo o passado, e o devolve renovado, insuspeito. O gênio faz com que olhemos para trás vendo beleza onde pensávamos nada haver. E principalmente, faz brotar todo um novo universo.
Rigorosamente então, cada arte tem um único gênio. O homem que fez com que aquela arte se tornasse aquilo que até hoje conhecemos. Shakespeare é o caso mais exaltado. O teatro como o pensamos nasce com ele. Shakespeare absorve todo o passado, assombra seu tempo e fertiliza tudo o que o tocou. Trancado em vida de mistérios, alegre como um sátiro e ao mesmo tempo sombrio como um maldito, ele é o centro e o criador, simboliza um sempre-nascer e estranhamente ele é o futuro que sempre nos aguarda.
Na música há uma briga entre Bach e Beethoven. Se Bach é o homem que organiza e harmoniza o que entendemos até hoje por "música ocidental", é Beethoven quem se faz "músico artista". É com Beethoven que nasce o criador comprometido apenas com si-mesmo, o artista livre, ambicioso como um deus, louco e ousado, incansável. Para mim, é ele o gênio da música.
Na poesia Dante é o gênio inevitável. Tudo o que entendemos por "vida poética", por "busca pela inspiração", por musa, simbologia e musicalidade está em Dante. Cada poeta esbarra na imensa presença desse irado cantor de vingança. De sua irradiação brota toda a poesia que conhecemos. Ele eleva o poeta de menestrel a fazedor de mundos.
Na pintura a coisa se complica. Giotto, Leonardo, Velazques e Rembrandt brigam pela honra. Não me meto nessa briga, o próprio hábito de se chamar arte de coisa genial começa na pintura. Adoro todos os quatro e leio críticos que colocam cada um deles no patamar mais alto. Me parece que Giotto foi o criador, Leonardo o insaciável, Velazques o melhor dotado e Rembrandt o inventor do pintor como hoje o conhecemos.
A prosa é caso a parte. Não há na prosa um titã central. Nada que se compare a Shakespeare, Dante ou Beethoven. Porque? Há algo de operário na prosa, de trabalho de formiga, de lento construir. Como todo artista, o autor de prosa é também um egocentrico, mas ele não pode ter a cara dionisíaca do grande músico ou do poeta maldito. Seu trabalho é mais racional, menos tempestuoso. E assim, a história da prosa é feita de monstros que rugem alto, de florestas de talento, mas não de uma explosão criadora. O maior candidato a gênio central seria Cervantes, mas mesmo ele não é universo fertilizador e inventor de novas formas como o são Giotto ou Bach. De qualquer modo, O Quixote é molde e norte de todo romancista de brilho.
Chegamos então as sub-artes, e com elas vem o cinema. Ora, se na prosa já há essa dificuldade de se encontrar o centro criador, imagine uma arte tão fugaz e recente como o cinema. Mas podemos tentar vislumbrar esse gênio.
Todo gênio surge como recomeço. Se pensamos que para se ser gênio é preciso ser "muito antigo", não entendemos nada. Quando Shakespeare surge, o teatro já possuia 2000 anos de história, o mesmo com a poesia, pintura e música. O que eles fazem é criar um tipo de ponto zero. Assim, é como se o teatro começasse com Shakespeare, a música com Bach ( ponto para Bach sobre Beethoven ) e a pintura com Giotto. Quem dá essa sensação de ser o ponto zero do cinema? Murnau? Lang? Ford? Pode ser, mas é necessário ainda que ele seja um fertilizador, alguém que trouxe consigo toda uma leva de novos talentos, de gente refazendo tudo. Godard? Rosselini? Ele precisa ser um deus de potência feliz e um demonio de sombria danação, um individualista. Bunuel? Bergman? Fellini? Mas acima de tudo, ele tem de destruir o passado e fazer nascer um mundo novo. Quem mais chega perto de TODAS essas características é Orson Welles. Se o cinema criou um gênio verdadeiro, esse foi Orson.
Com tudo isso eu explico o porque de ter dito que se o rock possui um gênio esse cara só poderia ser Bob Dylan. Mito, individualista, fertilizador, criador de um novo marco zero. Sem ele o rock teria seguido o destino que se lhe afigurava: yeah yeah yeah. Pop para adolescentes caipiras. Irresistivelmente dançante, maravilhosamente impetuoso. Eternamente alienado. Mas Dylan cria um mundo novo, ele traz RELEVÂNCIA ao rock, ambição, respeito intelectual, raiva e muita inquietação. Pega todo o passado e o engole. O que ele cospe é o que entendemos por "artista do rock", um cara de óculos escuros ligado em cinema, livros e drogas. O rock, como o jazz, não tem gênios. Eles não têm tempo para os criar. Mas se os houvesse, Dylan seria o gênio do rock. Sem ele, todos os caras que voce poderia contrapor ( Lennon, Lou Reed, Leonard Cohen, Bowie, Patti Smith.... ) , não teriam existido.
Afinal, todo gênio tem de saber "como é estar por si-mesmo/ like a rolling stone"...

MUSICA

Até o inicio do século XIX música não era mais do que a TV é hoje. Toda música. De Monteverdi a Bach, passando por Mozart e Haendel, a música era considerada apenas uma arte utilitária, servia para missas, festas, jantares e para o amor. Nada mais que isso. A literatura e a pintura eram as artes nobres, verdadeiras, e a arquitetura vinha em seguida.
Isso começa a mudar em fins do século XVIII, com a criação da sinfonia, por Haydn. A marca da ambição mundana, do não-utilitarismo começa a aparecer. Seria preciso um deus para dar o passo decisivo. Beethoven.
Beethoven vem como titã. Ele brada sua fé em si-mesmo. A partir dali, o artista produz arte não mais para Deus ou para um rei, ele produz para seu próprio deleite. Mais: ele necessita fazer o que faz. Seu ser clama por expressão. Digamos a verdade: Beethoven, sózinho, mudou o mundo.
Ele cobra para ser ouvido, e ao mesmo tempo, ele tem desprezo pelos burgueses que o aclamam. A música passa a significar tudo: alma, ritmo da vida, sentimento abstrato, potência, mistério. Beethoven não conta histórias, não traduz funções, faz música, mais que isso: faz arte. Arte.
Sua revolução foi tão gigantesca, que no final do seu século, toda arte passa a ser considerada um desejo de ser música. Dessa forma, a poesia vira música, a prosa tentativa de fazer música em narrativa, a pintura um ritmo em pinceladas, a escultura harmonia musical em formas sólidas. Os artistas centrais do mundo, que antes de Beethoven eram pintores como Michelangelo ou Velazquez e escritores como Cervantes e Montaigne, passam a ser compositores. Wagner é o artista central do século e os outros se chamam Brahms, Verdi e Mahler. Com Beethoven arte se torna sinônimo de música. E creia, não era assim.
Seria como se hoje, em 2011, surgisse alguém que transformasse a dança ou o teatro em arte central. Mais que isso, fizesse com que a música, a literatura, se tornassem menores perante a dança ou o teatro.
A TV pensou ( e só pensou ) em ocupar esse espaço. As HQs ambicionaram isso. Por toda a década de 60 havia quem pensasse que o cinema era o centro de todas as artes. Mas não. Música, literatura e artes plásticas continuam em suas posições privilegiadas desde 1800. Arte verdadeira é livro, partitura e quadro. A TV, a HQ e o cinema não criaram seu Beethoven.
Porém, falemos a verdade: a música também não conseguiu criar outro Beethoven....
Dar a uma arte modesta estatuto de "A maior das artes", e fazer com que nessa esteira não só o futuro da música, mas a própria história musical fosse reavaliada ( Bach e Mozart só se tornam Bach e Mozart à luz de Beethoven, após a instituição da música como arte central ). Um deus que abriu caminho para seus descendentes, mas que também iluminou seus antepassados. Eis o gênio de Bonn.
Ps: meu compositor favorito é Mozart. E os outros são Debussy e Ravel. Beethoven, que foi o maior, é contrário ao meu temperamento.

A SEXTA SINFONIA - BEETHOVEN

Em tempo de flacidez, em época de artistazinhos bonzinhos, é primordial ouvir e penetrar no titânico universo de Beethoven.
O artista até então, mesmo se possuindo egos colossais como Michelangelo ou Rembrandt, era ou um devedor de favores ou um exótico divertido. Um serviçal, seja pelo nobre ou seja por Deus. E noto que o rock e o cinema de hoje são lacaios do gosto comum. Bom....continuando....
Em tempo napoleônico, Beethoven irrompe berrando aos quatro cantos : SOU TÃO GRANDE QUANTO NAPOLEÃO! FAÇO O QUE QUERO E DO MODO COMO DESEJAR! Ele coloca o desejo no centro do mundo, sua missão tem um só objetivo, o de desenvolver seu espírito.
Porque na Alemanha ? Goethe faz mais ou menos a mesma coisa. Penso que na Alemanha se uniu um tipo de admiração/ódio por Napoleão, uma mistura de racionalismo e misticismo e um surto de desenvolvimento econômico. Beethoven cria sózinho, e isso é muito revolucionário, o público pagante. O artista não mais se rebaixa, se alguém quiser vê-lo, pagará por isso.
Ele era intragável. Um gênio vaidoso, arrogante, vulcânico. Como todo talento genuíno, sua alma o absorvia ( e absolvia ). Um planeta sem Beethoven não vale a pena. Ele fez deste mundo um lugar mais suportável.
Chovia muito quando ouvi a sexta pela primeira vez. Me molhara ( na verdade quase me afogara ) na volta da escola ( Mackenzie ). Havia recém brigado com TODOS os meus amigos. Vivia um mundo beethoviano. Na amarelada sala de casa, coloquei o disco e me deixei ir.
Logo percebi que ao contrário dos clássicos ( Mozart, Haydn, Haendel ), Beethoven não convida-nos a escutar. Ele não seduz, ele se intromete e se afirma. Tudo em sua música é violência. Não há sofrimento em Ludwig, há tragédia. A alegria é desregramento e ele jamais termina com ponto, é sempre uma exclamação. Mas o principal, ele harmoniza a violência, harmoniza o desespero e traduz beleza. Nos dá a chance de vivenciar o sublime em estado bruto. Beethoven é como um mapa que nos leva ao centro de nossa própria sublimidade. Esse monstro de narcisismo se revela um deus de generosidade.
A sinfonia tem lagos, riachos, raios de ira, maremotos e gotas de orvalho. Ele se faz Júpiter. Mergulhar nessa música é saber o quanto de voodoo toda música tem. Você sai do outro lado como se ungido por mel e lava. Outro. Da religião dos renascidos em Beethoven.
Com o tempo o compositor de Bonn, o irascível gênio alemão, se tornou um tipo de continente terráqueo. Ele está lá. Estará enquanto o planeta existir. Sólido, rígido, fértil. Sim, ele é o falo da música ocidental. É o que existe de mais potente em música.
O século XXI precisa de Beethoven. Para recordar o tamanho que podemos atingir. O quanto temos de divino e de satânico. Ele é o homem central de nossa cultura. Ter em sua história alguém como Beethoven dá à Alemanha a inveja do universo. Para o bem e para o mal.