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PRIMAL SCREAM E THE MOODY BLUES, O PROBLEMA DA CRÍTICA INGLESA

GIVE OUT BUT DON'T GIVE UP, disco do Primal Scream lançado após Screamadelica, comete o maior dos pecados, na visão de um crítico inglês: ele lembra os Rolling Stones. Talvez, para esses ditadores do gosto, só o Led Zeppelin pode ser mais pecaminoso que os Stones. Todo e qualquer disco que tiver um cheiro de Jagger e Richards será escutado com imensa má vontade. Na verdade eu imagino que eles nem escutam. Dão uma opinião a priori após dois minutos de riffs. ------------------ Screamadelica foi produzido por Jimmy Miller, produtor dos Stones entre 68-73. Só uma besta não percebia que Bobby Gillespie ama Jagger e etc. Tudo em Screamadelica recorda Beggars Banquet. Só que um bando de mixers deu um banho de beats e bytes na coisa e os críticos, tolinhos, amaram essa homenagem rave aos associados de Jimmy Miller. ----------------- Se voce quiser os favores da crítica inglesa, imite Kinks e Small Faces. Ou então mergulhe numa deprê pós Joy Division. Tudo que escapar desse canone será atacado. -------------- Give Out foi feito nos EUA, pior, no sul dos EUA e Bobby não é o primeiro inglês que ao ir aos EUA fica maluco com o que vê. U2 e Stones Roses são outro exemplo. A não ser que voce seja muito tapado, a América vai mudar sua vida. Até os Kinks sentiram a coisa e os Small Faces, após os EUA, viraram The Faces e Humble Pie. Bobby se juntou ao povo de Memphis-Tennessee, e fez um disco de rock que só não é ótimo porque ele não tem voz. Esse som, uma mistura de rock-gospel e soul exige grande voz. Van Morrison vem à cabeça ( Van é mais um que mudou nos EUA. Them era uma banda british, nos EUA ele virou quase um folk american singer ). ------------------- Se voce cresceu amando a música dos USA não tem como não desbundar ao ver Chicago, New Orleans e a casa do Elvis. Se o cara alugar um Cadillac e pegar a highway 61, bem, Cream era bem inglesa, Layla era puro USA. John Lennon foi morar em NY. Do you know what i mean? -------------------- DAYS OF FUTURE PASSED dos Moody Blues fez o caminho inverso. A banda até 1967 era um tipo de cover dos EUA, em 67 virou o molde do som made in England. É um poço de pretensão. Dizem que é o disco que inventou o prog rock. Observe, bandas prog, por mais que viagem aos EUA, nunca sofrem influência da América. Isso porque eles se acham artistas. Nesse sentido os Moody são avôs do prog. --------------------- Eles se trancaram no estúdio da Decca, e com uma orquestra gravaram esta coisa. É música erudita com banda de pop rock. Mas entenda, não é erudito tipo vanguarda, é orquestra tocando algo tipo trilha sonora de Spielberg ou desenho Disney. Xarope. Dá um choque porque é muito bobo. Em 1967 parecia estranho, hoje parece tolo. Então, depois da orquestra e até de um narrador, sotaque mega BBC, vem o melotorm. Um melotrom!!!!! O melotrom é o avô do synth. Uma coisa que usava fita para armazenar sons. Sempre que eu ouço um melotrom imagino um cara de gola rulê e óculos roxo. É um timbre doentio. ADORO!!!! Space Oddity tem melotrom. O album Satanic dos Stones é todo melotrom. Parece som de inferno em technicolor. --------------- As faixas POP sem orquestra são boas. Ótimas até. Mas pra chegar nelas voce tem de aguentar 15 minutos de xaropada. Ah sim, a crítica inglesa falou na época: Oh!!!!! Influência dos Beatles!!!! Nada disso! O disco é filho do Pet Sounds. Mais um.

Waterloo Sunset - Bowie, Geldof, Weller etc on Ray Davies' British maste...

Yes Sir, No Sir (Mono Mix)

ARTHUR BY THE KINKS, POR QUE TANTO ELOGIO?

A partir dos anos de 1980, os Kinks passaram a ser considerados a maior banda da história do rock inglês. Opinião essa, que entre os cults e cools, nunca mais foi contestada. Entre ingleses bacanas e americanos fashion, amar a banda de Ray Davies é lei inconteste. Dentre os motivos de tanta idolatria podemos contar desde as falta de sucesso nos EUA até o estilo extra britânico de compor. Assim como The Band seria inimaginável na Europa, os Kinks só poderiam ser ingleses. Eles abandonaram os blues já em 1964, country foi usado apenas como humor e temas como estradas, mulheres faceis e carros velozes não existem. Do The Jam à Blur, de James à Pulp, todo mundo bebeu na fonte de Ray Davies. E essa fonte moldou letras, cortes de cabelo, ironia e melodias. Ao lado dos Beatles, não há banda mais onipresente na ilha. -------------------- Arthur é uma opera rock. Lançada alguns meses antes de Tommy, do The Who, ela é hoje considerada bem superior a obra de Pete Townshend. Ela é? Wellll..... não é preciso tanto assim. Tommy não é grande coisa. Entenda, eu adoro The Who, mas Tommy tem um monte de momentos muito fracos. See Me Feel Me é dose pra elefante. E as letras são bobas, nada significam de fato. Tommy tem alguns momentos maravilhosos, Sally Simpson, Amazing Journey, Sparks, mas no geral é aborrecido. Já o disco dos Kinks, se nunca atinge a altura da abertura de Tommy, não tem um só momento chato. Usando o estilo "canção de vaudeville", especialidade de Davies, Arthur é uma homenagem a era da rainha Vitoria. What????? ------------- Sim meus queridos, no auge do hippie, da anarquia em rock, Ray Davies escreve sobre os bons velhos tempos. Chá, jardins, coletes de veludo, cricket, famílias jantando, de leste à oeste, tudo era Inglaterra. E para falar disso, ele compôe músicas que são o contrário da moda de 1969, ano do disco, ou seja, sem peso, sem solos, sem viagens espaciais. É uma coleção de canções ultra inglesas que falam de coisas inglesas para ingleses recordarem. Entendeu o porque de tanto amor pelo disco? ----------------- Se está parecendo que não gosto de Arthur voce se enganou. O disco é sublime. E eu amo os Kinks. São uma das 5 maiores bandas da história inglesa. Apenas penso que Village Green e Something Else são discos ainda melhores. Arthur é grande, mas não o maior. ----------------- Elegantes, cínicos, classudos, inteligentes, POP, os Kinks são tudo aquilo que todo rock star inglês quer e quis ser. Ray Davies é como um molde onde eles se medem. Não à toa foi ele quem abriu o show de encerramento das Olimpíadas de Londres. Ray criou aquilo que entendemos como "rock inglês". Ouça o que postei.

UMA CÂMERA PARADA E UM CARA DE PALETÓ

   Desde 1968 os londrinos seguem a letra desta canção. Podem não mais lutarem na rua, mas continuam morrendo de tédio e fazendo bandas ( ou sendo DJs ) por não ter opção. Pois no mundo seguro do primeiro mundo, onde se marcha na onda do consumo e gastar dinheiro é tão vital como respirar, Street Fighting Man perdeu a atualidade porque não mais se luta, mas continua um lembrete válido, sinal de nossa prisão.
   Eu nunca havia visto o clip original, e acho que voce também não. Uma câmera no tripé, parada, e Mick Jagger com um paletó largo indo e vindo no meio da escuridão. Não é o Mick dos trejeitos. É o cantor ainda lindamente sem jeito. E ele marcha, anda, volta a marchar, dá um chute, gira como o relógio do tempo, como autômato do século XVIII, não dança e não finge cantar. Aos 24 anos ( !!!!!! ) ele alardeia sua relevância central no momento mais perigoso do século mais fatal.
   Ingleses gostam de dizer que Waterloo Sunset é o hino não-oficial de Londres. Musicalmente ela é mais presente neste século. Centenas de bandas imitam essa sonoridade. E Ray Davies, sempre um conservador, faz uma elegia à velha cidade de Vitória e de Disraeli. Mas Street Fighting Man é o hino do subterrâneo, a memória daquilo que deu errado.
   Esse clip, postado abaixo, é um assombro.

PÔR DO SOL DE WATERLOO NO CAXINGUI EM 2014

   Ora velho amigo, que música pode ser mais bonita que Waterloo Sunset ? I AM IN PARADISE...
 Vejo o mundo pela minha janela enquanto olho o pôr do sol em Waterloo... 
 Sabe, em um dos comentários no Tube um cara comenta que não amar os Kinks é detestar Londres. Matou a coisa cara. Nada é mais londrino que eles. E Waterloo é uma de suas jóias.
 A canção é um tipo de hino extra-oficial de Londres, é como Aquarela do Brasil pra gente. E não a toa abriu o final dos jogos de Londres em 2012. 
 Um outro comenta: O que se passava na cabeça de Ray quando compôs algo tão simples e tão tocante?
 Ora meu velho amigo, se passava aquilo que se passa em quem a escuta, Gratidão. 
 Waterloo Sunset ficou. Como ficou o LP Something Else by The Kinks. E ficou The Village Green. E também ficou Arthur. E mais alguns muitos.
 Em setembro haverá mais um show de talentos na escola. Um menino e uma menina de 13 anos me chamaram para ajudar eles em sua banda. Querem que eu faça backing vocals e toque pandeiro. Daí me disseram o que vão tocar: Vamos tocar Waterloo Sunset...voce conhece tio? 
 Juro que eu quase cai. 
 Sem mais my old champ, cha la la...

Ray Davies(Kinks) Waterloo Sunset Glastonbury 2010



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SEM SEXO, SEM DROGAS E SEM ROCK`N`ROLL....PETE TOWNSHEND, UMA BIOGRAFIA PARA QUEM NÃO GOSTA DE ROCK

   Ando lendo a Bio de Pete Townshend. É a menos rock`n`roll de todas, muitas, que li. O oposto de Keith Richards, pois ao contrário de Keith, Pete viu tudo com clareza, e viu de fora, viu muito. E em oposto a Rod Stewart, Pete não tem humor, não ama verdadeiramente os blues e sua atração por mulheres equivale a paixão por roupas e por moda. Pete chega a falar que desejou ir para a cama com Mick Jagger. ( well.... quem em 1967 não quis? ).
   O centro da vida de Pete é a arte, mas a Arte. Enquanto todos pensam em sex. drugs e rocknroll, ele pensa em neurose, jazz e pintura. Quando ele fala de música, Pete fala de técnicas de gravação, novos amplificadores, novos tapes. Sua abordagem é científica. Ele inventava coisas, feedback, volume, fitas, loops. E era parte do Who, uma banda que ele sentia como performance e não como música. O Who era um campo de provocação, um ato de arte desafiadora. Não ato de amor, ato de arte. De certo modo eles fazem aquilo que o Velvet fazia em NY e que Bowie faria mais tarde, Rock usado para um fim, rock feito de fora e não de dentro. Uma linguagem aprendida e não a coisa tipo "rock é minha vida".
  Ele cresceu em meio a pais artistas. O pai era músico de jazz, a mãe cantora. Boa situação material, desleixo em carinho. Os pais brigam e ele é dado aos 6 anos a uma avó. Promiscua e doida. Sádica. Ela dava para todo caminhoneiro de Londres. O menino via. Tímido, ele volta após dois anos para os pais. Que continuam a trair um ao outro. Entra numa escola de arte, estuda pintura, adora Charlie Parker, Ella e Billie. Aos 15 anos conheceu o movimento mod. Jovens estilosos, vaidosos, com ternos, gravatas, lambretas, sapatos italianos, écharpes de seda. Esses caras ouvem R and B: Sam Cooke, Marvin Gaye, Pickett. Pete toca guitarra, mas sua paixão é o design moderno, arte performática, as provocações de galeria. Perto de Pete, Keith, Lennon ou Eric são analfabetos. Mick não. Pete é fã dos Stones. Os Stones têm visual, androginia, são provocativos e sexys. Mas sua banda favorita são os Kinks. Pete considera Ray Davies um igual. Perversos, estilosos, afeminados, agressivos. Novo modo de ser: delicados desafiadores.
  Pete entra para o Who convidado por Roger Daltrey. Ele não conhecia ninguém da banda. Eles precisavam de um guitarrista e ele conseguiu o lugar. Simples assim. Nada de amizades de infância. Os 4 mal se conhecem. Roger é briguento e anda com marginais. Tende a resolver tudo na briga. Quer uma banda de rock. Pete é delicado e complicado. Quer fazer arte. John Entwistle bebe muito e faz piadas. Muda o modo como se toca baixo no mundo do rock. E há Keith Moon, que é louco. Ele é o foco de tensão na banda. Fã de surf music, Keith só quer festejar. E beber. Falta ensaios, leva soco na cara de Roger ( que mal o suporta ), ameaça sempre sair da banda, um chato escroto....só que adorável na bateria. O melhor, o mais original, descontrolado e o maior carisma do grupo.
  Eles se tornam mito entre o público undergound da Inglaterra. E logo estouram com seu primeiro single, I Cant Explain. A vida de Pete muda ao ser procurado por um bando de desajustados que lhe diz que "ele fala aquilo que eles não conseguem falar". Pete Townshend será o porta voz dos desajustados.
  E chega a era da psicodelia. Townshend toma ácido, mas não perde o poder de observar. Descreve a coisa melhor que qualquer outro. Sua apreciação de Pet Sounds e de Sgt Peppers é ferina: São grandes discos, mas sem nenhum legado. Nada comentam sobre o mundo real, nada falam de relevante socialmente, e não apontam nenhum futuro. São belos, porém estéreis.
  Estou lendo essa época. 1967. Página 100.  Lançando Sell Out, o disco com anúncios. Pete cheio de grana, com namorada, andando pela noite com Clapton, vendo Hendrix no palco, escutando música erudita e jazz, pensando em pintura. Roupas. Cenários. Design. Infeliz.
   Um livro fascinante.

Kinks - Waterloo Sunset [Excellent quality]



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ENCERRAMENTO: OLIMPÍADAS 2012, A FESTA

   Prefiro ignorar o fato de que George Michael parece hoje um cover de si-mesmo. Ou da assustadoramente ruim coisa pomposa chamada Muse. A forçada de barra com cantores pseudo-novos e com uma cantora ( quem? ) deixando Brian May constrangido com sua interpretação fake e vergonhosa de We Will Rock You. Os novos ingleses têm cara de almofadas.
   Prefiro dizer que o cara que escolheu os artistas acertou na mosca ao abrir com Ray Davies. O inventor do mais inglês dos estilos de rock abre a festa com Waterloo Sunset. Velho e desafinado. Mas andando pelo palco e sendo lembrado por bilhão de pessoas. Ah que justiça! Viva! The Kinks.
   E tudo termina com a mais amada e heróica das bandas inglesas: The Who. faz-se a ponte. De Kinks a Who, passando por Oasis, Queen, Lennon e Fatboy Slim. A entrada de Pete Townshend e Roger Daltrey com Baba O"Riley é sempre um êxtase. Assisti a festa com casal de amigos. Vibraram como eu. Ficamos horas falando do Who. É o teste do rock: Gostar deles é gostar de rock.
   O Brasil entrou simplesinho, simpatiquinho. Tom Jobim dizia que o Brasil tinha de se fazer digno da Bossa Nova. Se tivesse entrado com harmonias de Jobim seria lindo. Mas ficou uma coisa meio de samba e indio pra turista. O Brasil quer ser moderno e não toca em Jobim e Carmem Miranda. Tasca samba e indio. Estranho.
   Me falaram que teria Bowie. Ele foi homenageado. Mas não veio. Onde está Bowie?
   A cerimônia pedia o Queen e clamava por Bowie. Que pena....Mas vieram as Spice e os Pet Shop...triste consolo....
   O melhor? Ver Eric Idle. Aplaudido e com todo o povo cantando a canção da Vida de Brian. Caramba! Eles amam os Monty Python !!!! Só isso valeu  o show.
   Repito tudo o que disse antes. A festa deixa a sensação de que a Inglaterra virou um mero estado dos USA. Mas pelo menos souberam escolher. Ray Davies e Who.
  
  

A QUICK ONE- THE WHO, CONVERSANDO COM UM AMIGO, PERGUNTO A ELE.....

   Estava conversando com esse amigo. Falávamos sobre bandas recém descobertas. Ele me contava de uma banda que fazia um tipo de "música de puteiro francês", e eu lhe dizia que andava ouvindo country de raiz. Mas então veio uma questão: porque ao escutar The Who ( que tocava agora no carro ), eu sentia sempre, e repito, sempre, uma emoção "esquisita". Uma quase vontade de chorar misturada com um desejo de viajar. Why?
  Esse meu amigo disse que é porque eles são a banda mais Sincera. Há algo de puro neles, de honesto. Concordo, e é estranho. Porque lembro que eles jamais foram uma de minhas 20 bandas favoritas. E mesmo em meus tempos de rocknroll, quando eu e meus brothers só pensávamos em rock, nunca The Who esteve entre esses 20. Mas sempre, desde aqueles tempos, quando eu me lembrava deles e os colocava pra rodar, era sempre essa emoção, esse aperto no peito, essa "elevação". ( E não posso deixar de falar da emoção de assistir o festival de Monterey pela primeira vez, aos 13 anos, e pirar com a detonação que foi My Generation ).
  Who's Next é o disco mais emocionante. Mas acabei de ouvir Quick One de novo e quero falar é dele.
  Dá pra dizer que é o primeiro LP de verdade deles. My Generation saiu antes, mas é um Lp mais para coletânea de singles. Este não, as músicas foram pensadas em sequência, e até os ecos de Tommy se encontram aqui.
  Abre com Run Run Run. Urgência no ar. Uma canção adrenalina. O que logo se percebe: são apenas 3 instrumentos, mas a banda soa como se fossem dez. Os sons ocupam espaço, vibram, eles fazem barulho. Há um zumbido de fundo, uma zoeira, é a banda mais barulhenta da época. Mais que isso, são eles que criam o conceito de noise. A bateria animalesca de Keith Moon ocupa todas as brechas, os sons dos pratos enchem cada milimetro de vazio.
  Boris the Spider vem então. Muda o registro. O baixo como centro do som. John Entwistle foi o melhor baixo branco do mundo. Os efeitos de estúdio dominam. Estúdio da Track Records, estúdio ridiculo de pequeno, e a magia de usar um equipamento tão básico para produzir tanto som.
  I Need You. É uma balada histérica. A bateria passa de todos os limites. É muito barulhenta. Keith Moon não é meu batera favorito ( Bonham ), mas ele foi o melhor. O que ele faz com os pratos é absurdo.
  Whiskey Man. Tem um arranjo de trompa que é a perfeição. Segredo de Pete Townshend: o som tem sua guitarra como fundo. O som é dominado por baixo e bateria. Esse é o estilo Who.
  Heatwave. Cover das Vandellas. Roger Daltrey é um principe. Canta forte, canta como os cantores brancos de rocknroll deveriam sempre cantar ( Jagger é preto ). Aqui está tudo aquilo que The Jam fez depois. O som a beira do colapso, com elegancia.
  Cobwebs and Strange. Uma escalafobética bizarrice. Kaos. Metais e bateria. A velocidade com que Moon toca é aterradora. Ele inventa a destruição da bateria.
  Dont Look Away. O som mais Mod do disco. Mods eram os jovens almofadinhas de Londres. Seus ídolos eram os negros americanos e Who/ Kinks. Aqui se nota a diferença maior entre Ray Davies ( Kinks ) e Pete. Os Kinks são cínicos, frios, satíricos. O Who é sempre do "bem". São ingênuos. Davies já nasceu dividido entre o bem e o mal.
  See My Way. Uma aula de baixo. Entwistle faz linhas que surpreendem. Ouvi-lo é sempre um prazer.
  So Sad About Us. Uma balada dominada por uma bateria ensandecida.
  E para finalizar: A Quick One, uma mini-opera rock em vários movimentos. Uma espécie de Beach Boys regado a gim barato. Canções com vocais sublimes ( e ácidos ) que mudam de andamento e de tom sem parar. É uma obra-prima.
  Termina o disco. Emocionante. Eles continuam a Não Estar entre meus top 20. E continuam a emocionar sempre. Why????

PARA ENTENDER A INGLATERRA ( E ELA NÃO É A IRLANDA OU A ESCÓCIA ), THE KINKS

   Nada há de lamuriento na Inglaterra. Se voce acha os ingleses melancólicos, voce nada entendeu do país. Ingleses desde John Locke e Henry Fielding são "superiores", se é que voce me entende. Eles não se permitem chorar em público ou gargalhar. E se voce notar, mesmo esses cockneys em filmes de crimes, em meio a palavrões e sangue, jamais perdem o distanciamento. Portanto, nunca procure em ingleses a emoção lacrimosa que existe nos latinos, a febre revolucionária que há nos franceses, ou o idealismo romântico de um alemão. Eles gostam de fantasmas, e tudo acaba em wit, humor, se é que voce me entende.
   Desse modo, eles jamais poderiam ter um bardo emocional como Van Morrison, um carola como Bono Vox, ou um herói politico como Bob Dylan. Seus punks eram distanciados, os Ramones nunca seriam possíveis na Inglaterra. Coisa da educação? Um clima de Noel Coward e Evelyn Waugh? Ou excesso de fog e de chá?
   Por mais que eles amem a música negra americana, em seu sangue flui o music-hall, aquelas canções de rádio tipo anos 20, canções que estão presentes em MacCartney, Lennon, Jagger e todo o resto. Canções que são a alma de Ray Davies, esse arquiteto da canção-rock-made in England. E os Kinks são Davies. E TODO o rock da ilha é KINKS.
   Eles deixaram de vender muito nos EUA quando os hippies tomaram conta. E creia, até 1966 eles vendiam em todo o mundo. Mas nada menos Kinks que solos de meia hora e odes à marijuana. O mundo deles era bem outro. Eles eram vitorianos. Mas nunca vitorianos que amam Vitória, mas sim aquele tipo de vitoriano crítico, tipo Wells, Huxley ou Hardy. Em seu rock não há estrada, carro veloz ou loura peituda; eles falam de chá, seguidores de modas, decadência do Império, costumes arcaicos, tradição e familias congeladas; tudo isso em tom de humor, de esperteza, dúbios, sempre dúbios; pois voce nunca sabe se eles lamentam a morte do Império ou se gozam seu final.
   Nenhuma banda até hoje é mais inglesa que eles. De Jam a Oasis, de Blur a Elvis Costello, tudo de mais tipicamente inglês é cem por cento Kinks. Suas canções devem ser escutadas na sala, à janela, num fim de tarde. Raramente irão falar de amor, de desejo ou de depressão. Eles se interessam pela sociedade, falam do mundo da rua, do jornal, da história. E quando são tristes, o que choram é o fim de uma era, seja a era do cinema de Hollywood, seja a era dos jogos de cricket aos domingos.
   Quem quiser começar a ouvir os Kinks ( é impossível passar pelo rock inglês sem conhecer Ray Davies ) comece pelo disco The Village Green Society, disco de 1968. Não sei se é o melhor, mas é o mais típico. Se voce ama rock ouça. Mais que isso, se voce ama música, escute.

The Kinks - Victoria (1969)



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SOMETHING ELSE- THE KINKS ( OS INVENTORES DO BRITISH ROCK )

Existem algumas bandas inglesas que venderam muito nas Ilhas, que são lá tão pop quanto Beatles ou Stones, mas que por diversos motivos não estouraram nos EUA e consequentemente não tiveram jamais uma popularidade mundial. Penso em T.Rex, penso em Faces e Gary Glitter. Mas a principal banda, que teve uma carreira mundial abortada nos EUA e que apesar disso é um mito em London Town, são os Kinks, a banda do mito Ray Davies.
Mas no inico não foi assim. Em 1964 You Really Got Me estourou na América. E também mais duas outras canções, no mesmo ano. A partir de 1966 eles desaparecem das paradas Billboard, mas continuam sendo reis na GB e criam a partir daí aquilo que conhecemos até hoje como O ROCK TIPICAMENTE INGLÊS, o rock tea party, o rock labour party, o rock umbrella.
Something Else sai em 1966 ( o melhor ano do pop? ). Lidera paradas em Londres, mas em NY chega apenas ao 111 lugar. Porque?
Primeiro por uma mudança de gravadora. Eles vão para uma companhia de fraca representação mundial, mas o principal fato é que em 66 nasce o rock psicodélico, o folk hippie e a banda "solo de guitarra". Os Kinks não são nada disso. Jamais são muito loucos, nunca foram hippies e tocam de forma muito simples. São banda de roupas elegantes, comentários irônicos e nenhuma ingenuidade, e principalmente, de imensa nostalgia. Os Kinks fazem rock, mas ficariam bem na época do rei Eduardo.
Várias pessoas ou bandas desde então, revelam sua paixão por Ray Davies. The Jam, XTC, Squeeze, Elvis Costello, Chrissie Hynde, David Bowie e mais tarde, Blur, The Verve, Supergrass, Oasis e Pulp. E hoje, todo rock britânico que não tenta se parecer com um garoto irado da California.
Eles inventaram esse rock com sotaque british, que tem algo de sonolento, de gramados em fim de tarde. Que falam dos bons tempos ( que sempre se parecem com tempos ruins ), que ironizam a política e que jamais perdem o estilo. São safados, mas é uma safadeza pouco sexy, é uma coisa mais intelectual. São dandys. E ficam todo o tempo satirizando os dandys.
Coloco o disco.
David Watts foi regravada por todo o mundo. É como um double decker bus sem freios. Tudo o que é o tal de rock inglês está aqui. Pa pa pa pa pa pa pa pa!!!! Os Small Faces nessa mesma época os seguiram. Mas foram Ray Davies e seu irmão Dave quem criaram isto.
Death of a Clown cantada por Dave, é um triste balada british. Nada tem de Dylanesca. Há quem a considere obra-prima. É de um sabor ácido e nostálgico. Chega ao patetismo.
Two Sisters. É um som de rádio ecoando na cozinha daquelas tristes casas de tijolos londrinas, todas iguais. Nessa cozinha, Prunella passa roupa enquanto o bebê dorme no berço. Chove frio. A canção, melancólica e linda como só ingleses ERAM, tem cravo dedilhado e bateria marcial. O que MacCartney começaria a fazer em 67, Ray Davies faz aqui.
No Return. Sol em gramado verde. Ray toma seu chá. Nada é mais chá com leite que Davies e os Kinks. Paz absoluta.
Harry Rag. Aí está, o rock fish and chips. Mais Monty Python impossível.
Situation Vacant. Festa, festa, festa!!!!!!!
Love Me Till The Sunshine. Dave canta. Som de mods. Som de jovens com paletós e lenços no pescoço ( foulard ). De piteiras. De Mini-Cooper. Os caras tinham estilo!
Lazy Old Sun. Sim, pode ser psicodélica. Mas à moda Kink. Anuncia os Stones de Satanic. O psicodelismo londrino é urbano. Nada tem de volta à natureza. É um chá do chapeleiro louco.
Afternoon Tea. Ouçam isto junto com David Watts. Voces entenderão exatamente o que eles inventaram. ( Quem falar em Paul e George estará errado. Ray veio antes com este estilo de som e este tipo de comentário irônico ).
Funny Face. O piano dá todo o clima do disco inteiro. Não é disco de guitarras. É de vocais e de arranjos. Mas não a riqueza de Brian Wilson ou dos Beatles pós-67. É um tipo de arranjo nú, mínimo, simples. O que importa é o tal estilo. O andar de guarda-chuva em rua úmida.
End of The Season. Uma obra-prima insuperável. ISTO É ROCKNROLL???? Não. Isto é rock-inglês. Percebe a diferença? Kinks sendo completamente Kinks. Os Hippies os chamavam de caretas gozadores. Depois, a partir de Bowie foram justiçados: célula original de todo o pop britânico.
Waterloo Sunset. A música que fecha os shows deles até hoje. Ao vivo, era cantada pelos Oasis, Blur e Charlatans. È uma ode ao fim do "império". Termina sendo um lindo comentário sobre todo e qualquer final.
Não ouça Kinks em dias de sol. No lusco-fusco de uma tarde sem luz, numa manhã com neblina, sim. Mas não pense serem eles trágicos! Nunca! Embora caiam muito numa "doce melancolia", eles jamais perdem o humor, o dom da sátira, essa coisa de verem sempre os dois lados de tudo.
Se eles lamentam o fim da era eduardiana, eles riem do ridículo dos eduardianos. E se eles são uma banda de rock, que criou um dos riffs mais básicos e geniais do rock, são também a mais anti-rock das bandas, com seus comentários "maduros" e seu modo sob-controle de compor.
Se voce começar a ouvi-los hoje ( triste voce ) pensará que já ouviu som como o deles milhares de vezes. Sim, já ouviu. Mas lembre-se de uma coisa: ELES FORAM OS PRIMEIROS. Tiveram o genial insight de misturar aquela coisa de caipiras americanos com o chá e a erudição afetada de Londres. Deu no que deu. Esse som, enquanto foi temperado com o humor decadentista e a ira do partido trabalhista foi brilhante. Depois, sem a cultura européia e sem a ira, fez-se essa modorrenta coisa sem espinha e sem verdade. Os Kinks repetidos ao infinito e sem razão de ser....
Mas isso não é culpa de Ray Davies, Dave Davies, Mick Avory e Peter Quaife. Ladies and Gentlemen....Something Else by The Kinks !