1975 - Raul Seixas - A Maçã

NOVO AEON - RAUL SEIXAS....SIM, É RAUL E É SEIXAS

Eu nunca ouvi Raul Seixas. Quer dizer, eu ouvi o que era obrigado a ouvir. Ele estava sempre na TV entre 1974-1977 e no rádio. Então eu ouvi muito dez ou doze canções dele que todo mundo ouvia. Mas eu não gostava dele. O achava sujo, feio, de mal gosto. Sim, sempre fui um esteta. Fresco até o umbigo. ------------------- Tenho uma amiga que tem um pai de 65 anos. Nascido no Ceará, pobre de doer, ele veio para São Paulo em 1980 e morou em barraco de tábuas. Passou fome. É do povão. Pois bem. Esse homem adora forró, música brega e Raul Seixas. Sabe tudo de Raul decorado. Canta Raul. ----------------- O rock brasileiro pós anos 80 sempre foi elitista. Salvo poucas excessões, era feito por jovens filhos da elite e escutado por jovens que se viam como elite. Nunca conseguiu atingir o povão. ( Mamonas Assassinas conseguiram e eles sempre me lembravam Raul Seixas em versão idiota ). Mas não é só isso. Cazuza, Renato Russo, os Titãs parecem terrivelmente pobres, em som e em letras, se os compararmos com este disco. Novo Aeon seria um disco perfeito se não fosse uma faixa muito ruim, Caminho II, mas mesmo assim é um disco que humilha Arnaldo Antunes ou Humberto Gessinger. É de uma riqueza de som e de verbo que somente um homem especial poderia atingir. Raul é o único gênio na história de nosso rock. E, esperto, atingiu o povão sem forçar nada. Sua arte era incrivelmente natural, portanto, brasileira. ------------------------ Fico espantado em imaginar que pessoas semi analfabetas escutassem algo tão belo e bem escrito como A Maçã, uma obra prima completa sobre a relação homem e mulher. Ou a anárquica mensagem de Fim de Mês, uma festa de rimas não óbvias em ritmo do nordeste do Brasil. Ele antecipa a mangue beat. Tente Outra Vez é heroico, Rock do Diabo é rock de primeira, Eu Sou Egoísta é grito de independência, e Tú És o MDC da Minha Vida tem uma letra que me deixou muito, muito surpreso: Caramba!!!!! O cara era bom!!!! O cara era muito muito bom!!!! --------------------- Descobrir Raul Seixas na idade em que estou, ver que uma faixa como Sunseed parece o indie dos anos 2000, faz de mim um provilegiado. Chegar aos 60 anos tendo a chance de ouvir a obra de Raul PELA PRIMEIRA VEZ não é pouca coisa. Portanto, TOCA RAUL! digo bem alto agora para quem estiver por aí.

SÍLVIA - GÉRARD DE NERVAL

Nascido no começo do século XIX e morto em 1848, Nerval simboliza como poucos o romantismo francês. E assim, ele viveu e morreu como romântico autêntico, louco e suicida. Sim, pois não há como ser romântico autêntico no mundo prático e real. Puro idealista, o romântico nega a realidade todo o tempo e vê seu Ego em tudo ao seu redor. Movimento que eu particularmente abomino, fui um romântico aos 15 anos, sei do que falo, meu romantismo era completo e exarcebado, esses partidários do Eu criaram tudo de mais abominável que existiu no século XX: o socialismo, o comunismo, o nazismo, o fascismo, o culto a celebridade, a contra cultura, todos movimentos baseados no idealismo, no compromisso com uma ideia mesmo que ela negue toda a prática. É no romantismo, graças a Rousseau, que a criança e o selvagem passa a ser vistos como seres sagrados, uma idiotice que pegou nas massas porque faz de qualquer idiota irracional um Ser Puro. ---------------- Era preciso estudo, trabalho e força para ser um Ser Superior no mundo clássico. Com o romantismo basta ser infantil ou selvagem. Weeeeellll.... voltando a Nerval, este livrinho simples, mal escrito, pobre, e por isso "puro", fala de um jovem que ama duas mulheres, uma atriz e uma moça do povo. No fim, claro, ele fica sem nenhuma e sentimos que ele amava apenas ele mesmo. Como bom romântico, nada existe no livro a não ser o narrador, personagens, paisagens, tudo existe como acessório ao grande narrador, o Ser Superior que sente mais que eu ou voce. Uma bobagem típica de adolescentes mas que em 1830, na França, passava por heroísmo. O narrador é bem bobinho, nada faz de excepcional, nada diz que pareça inteligente, mas sente, deus como ele sente! ---------------- Devo dizer que o romantismo alemão era bem menos tolo pois era místico, mais medieval e na Inglaterra ele tinha enredos melhores, pois era feito para as massas. Na França ele se tornou ARTE com A imensamente grande, esnobe, orgulhoso, sem qualquer compromisso com a realidade. Se imaginarmos que Balzac era contemporaneo de Nerval tomamos um susto. Balzac já antecipa o realismo com suas cifras, contas, lucros e perdas, jornais e fábricas. Nerval é 100% sentimentos, matas e luares. Um narcisista radical.

TODO O TEMPO DO MUNDO

leia e escreva já!

AQUI E AGORA. A TEORIA DO BLOCO.

Nada do que Einstein disse foi desmentido na prática. Tenha isso em mente. ---------------- Trabalho na escola onde estudei. Estive lá entre 1972-1978. A escola está no mesmo local neste planeta. Os anos a modificaram. O pátio era todo de terra, hoje não. As paredes eram brancas e o chão de madeira. As árvores cresceram e eu, bem, sou um velho em 2024. Pois bem, tudo se modificou ao sofrer a ação do tempo senhor da vida. ------------------------ Imaginemos agora que um astronauta foi enviado a uma posição que fica a 50 anos luz da Terra. Ou que exista um ser nessa posição. Digamos que ele aponte uma lente para a escola onde estou em 2024. Digamos que seja o dia 20 de fevereiro de 2024. O que ele verá? --------------- A imagem leva 50 anos para chegar a 50 anos luz daqui e isso voce já sabe. Imagem é luz-energia e isso voce sabe. Então esse ser está vendo uma imagem de 1974 e nessa imagem ele me vê aos 12 anos de idade. Não só isso. Se mover a imagem ele irá ver meu pai vivo. Imagens. -------------- Vamos complicar isso? Vamos afastar nosso ponto de vista e nos posicionar num posto onde podemos ver AO MESMO TEMPO o menino de 1974, o cara de 62 em 2024 e o ser que observa a Terra a 50 anos luz. Esse ponto de vista OBSERVA TODOS OS 3 SERES AO MESMO TEMPO. Ou seja, em um ponto de vista distante, o menino de 12 anos não é apenas uma luz-energia que chega atrasada, é uma realidade que dura ao mesmo tempo que o eu que aqui escreve. ------------------------ Bergson já intuia isso e a palavra era DURAÇÃO. ------------------- O menino não seria uma luz como um dvd antigo, mas ele existiria em 2024, 2024 que aliás nada significa fora da Terra. -------------------- Complicado? Não. Ondas de rádio emitidas aqui viajam pelo cosmo para sempre, isso se sabe desde 1930. O que a Teoria do Bloco diz é que tudo aquilo que existe ou existiu existe para sempre. Presos ao tempo que nos empurra para frente, percebemos seu desaparecimento aparente no tempo, mas, e sei que isso é incrível, o evento continua a reverberar eternamente no local onde ocorreu. É tudo uma questão de ponto de vista. Desse modo, o cosmos seria um bloco onde tudo é um AGORA QUE NÃO PASSA pois passaria para onde? Não há uma lixeira, um ONDE em que tudo evento fosse eliminado do cosmos. O Cosmos é tudo e portanto tudo nele permanece. Cada ação, cada segundo, cada ser, tudo se repete em looping sem fim. ------------------ Podemos dar o próximo passo? Eu disse sem fim? Sim, sem fim. Mas se não pode haver fim, não há começo possível. E então, se o Cosmos é um bloco, o futuro faz parte disso, ou seja, dependendo do ponto de vista, o Futuro já acontece agora e acontece sempre. Eu sei que agora a coisa ficou confusa demais, mas não há como dizer que algo não tem fim sem admitir que não houve início. E se não houve início NADA começa agora, não pode haver começo. Portanto tudo existe desde sempre e cada evento, macro ou micro, acontece desde sempre e acontecerá infinitamente. --------------------- O menino de 12 anos e o homem de 62 existem no mesmo local e ao mesmo tempo ( tempo? que tempo? ). Os dois sentem, pensam, reagem e são contemporâneos. Não se comunicam porque não possuem a FERRAMENTA para tal. Presos na MUDANÇA ETERNA APARENTE, não podem ver nada que seja exterior a aparência. Sua máquina cerebral é Newtoniana. Uma coisa de cada vez, ação e reação, dia e noite, o fim depois do começo, tudo tem seu tempo etc etc etc. ----------------- Nada disso faz sentido quando nos afastamos deste sistema solar.

............. a seguinte história - CEES NOOTEBOOM

Um engenhoso livro de pouco mais de 100 páginas. Um ex professor ( meu Deus, às vezes me sinto cansado desses livros que têm sempre um professor, um escritor ou um psicólogo, livros feitos para a turminha ), como dizia, um ex professor acorda em Lisboa e ele não sabe como apareceu lá se antes estava na Holanda. Então ele também não entende se ele é ele mesmo e notamos que o livro é um tipo de homenagem torta à Fernando Pessoa e a Portugal. ------------------ Ele recorda, ele surge lá e cá e embarca em um navio com umas poucas pessoas. Para onde vai o navio? Quem são esses companheiros de viagem? Não é fácil encontrar este livro e se voce vai o ler não leia daqui para frente. --------------- Ele morreu e Portugal, fim da Europa, é o além. No barco vão os mortos, que contam como morreram. Mortos, eles permanecem aqueles que estavam a morrer e então chegam ao Brasil, ao Pará, inferno? Fim do Mundo. Nesse momento o livro se revela e faz todo sentido, engenhoso, o narrador morreu e é outro pois é morto. Metafísico Nooteboom sempre é. Eis a vida pós morte, memória do pré além, além que é umidade e calor sem fim. Metamorfose física. Cinzas. E fim.------------- Mais não conto.

Rod Stewart & The London Symphony Orchestra - Pinball Wizard - Opera T...

Sally Simpson

The Who - Sally Simpson (Tommy: The Movie) [HD]

TOMMY, NA VERSÃO PARA ORQUESTRA DE 1972

2021, o ano que passei ouvindo música erudita mudou meu modo de escutar os sons. Entenda, eu ouço Liszt ou Mozart desde os 15 anos, mas em 2021, a coisa chegou mais ao fundo. Tanto que após esse ano citado eu tenho imensa dificuldade em escutar música muito simples ou mal tocada. Bem...então vamos à Tommy. --------------- Voce conhece a versão original, de 1969, maravilhosamente semi acústica e com ataques de bateria vibrantes. Talvez conheça a trilha do cinema, no geral bem pior que a original, apesar de Sally Simpson e Sparks estarem melhoradas em 1975. Mas provavelmente voce desconheça a versão luxuosa, lançada em caixa com libreto de 1972. Saiba que ela atingiu o segundo posto nas paradas inglesas e a versão de I'M Free exitente aqui chegou a tocar no rádio do Brasil. ---------------------- Em 1972 o mega produtor Lou Reizner pegou a partitura de Tommy e convenceu Pete Townshend a autorizar a versão sinfônica da obra. LP e CDs são dificeis de achar, mas ontem o comprei e logo escutei. Eu esperava uma coisa divertida e brega e me deparo com uma obra divertida e maravilhosamente linda. ----------------- Primeiro o som. Logo de cara voce tem um choque. O disco foi gravado em quadrifonico e isso lhe deixou um ataque que mesmo em cd se mateve algum vestígio. A orquestra soa límpida, poderosa, imensa. Sim, quem conhece música erudita percebe a extrema simplicidade que a música POP tem. Numa peça clássica, qualquer uma, notamos que a orquestra é usada em sua totalidade, o ilimitado poder de seus sons é explorado. Não aqui. Como acontece com trilhas de cinema, a melodia é simples e a orquestra faz seu trabalho sem qualquer esforço. But....simples sim, porém belíssimo!!!!! Amazing Journey, Sparks, Welcome, têm aqui suas melhores versões. elas crescem e atingem uma riqueza magnífica. O elenco tem Ringo Starr fazendo o jogador, um John Entwistle assustador cantando uma versão de terror assustador de Fiddle About. Stevie Winwood, do Traffic, faz o padastro, e Rod Stewart, no auge da fama, canta Pinball Wizzard. Aliás, era para Rod fazer Tommy, mas Roger Daltrey, que não punha fé no projeto, voltou atrás e pegou Tommy, graças a Deus, Rod é ótimo mas Tommy é de Roger forever. --------------- Qual Wizzard é melhor? Elton no filme ou Rod com sinfônica? Empate. São tão diferentes uma da outra que é impossível comparar. ---------------- Maggie Bell, grande cantora da época faz a mãe e Marry Clayton, a cantora negra que em Let It Bleed cantou Gimme Shelter com Jagger, humilha Tina Turner. Acid Queen com Clayton é uma das coisas mais belas já gravadas. -------------- Eu tinha certeza que o desastre viria com a faixa Sally Simpson, minha música favorita na versão em filme 1975. Cantada por Pete e com guitarra de Clapton, ela é imbatível. Como transpor açgo tão rock para uma sinfônica? Seria ridículo!!!!! Mas...funciona!!!!!! Como? Pete canta a melodia exatamente como no original de 1969, mas o acompanhamento se faz uma outra coisa. A orquestra não tenta imitar uma banda de rock, ela teve um novo arranjo a seu dispor e o que ouvimos é soberbamente lindo. Eu postei a versão de 1975 e a orquestral. As duas são perfeitas. ---------------- Após ouvir este Tommy minha admiração por Pete é ainda maior. Quanto prazer em escutar isto!!!!!

MEUS LIVROS

Leio uma esntrevista onde Tolstoi fala dos livros que mais o marcaram. Para isso, ele os divide em fases de sua vida, livros lidos aos 20 anos, 40 etc. Gostei da ideia, isso facilita muito a escolha. Farei portanto a minha lista. ATÉ MEUS 12 ANOS: Tom Sawyer de Mark Twain, livro primeiro da me marcar, livro ao qual sou grato e que relido mantém sua magia. Me abriu a possibilidade da aventura e mais que isso, me mostrou que ter 10 anos de idade era maravilhoso. O mundo a beira do Mississipi se tornou mágico para mim e a amizade de Tom e Huck, assim como o amor por Becky foi modelo para minha vida. É talvez meu mais amado livro até hoje. Nessa fase destaco apenas mais dois: A Ilha do Tesouro, de Stevenson, primeiro livro que li na vida, e Carlos Magno e Seus Cavaleiros. Li muito mais que isso, lembro de Jules Verne, Dumas, Renard a Raposa, O Zorro, Jack London...mas os três citados foram momentos que lembro para sempre. ------------------------------------------ DOS 12 AOS 24 ANOS. Aí eu já ia atrás dos autores e para meu mal, perdi muito do prazer puro em ler, pois a crítica me guiava e eu me obrigava a ler o que "era bom". Os que cito aqui, claro, foram prazer ( E para escolher basta entender que o livro que te marca é aquele em que lembramos quando, onde e como o lemos ). A Enciclopédia Barsa. Sim, eu a li inteira. Entre os 12 e os 15 anos eu pegava um volume e lia de cabo a rabo. Curioso ao extremo, eu queria saber que coisa estava escrita lá. Acabei por saber de cada autor importante do mundo. Cândido de Voltaire. Poucas vezes li algo com tanto prazer. Numa madrugada só, na cama. Crime e Castigo de Dostoievski. Esse também foi na cama e me deu gosto em ler. Complexo de Portnoy de Philip Roth, aos 16 anos, uma sensação anárquica maravilhosa. O Sol Também Se Levanta de Heminguay, logo me apaixonei por Lady Brett. Eu queria ser o narrador, e fui. Um dos livros mais relidos da minha vida. David Copperfield de Dickens. Outro por quem me apaixonei. Nessa fase da vida um livro só funciona se nos faz apaixonar. Lemos com o coração. O Morro dos Ventos UIvantes de Emilly Bronte, aos 15 anos e depois relido a cada cinco ou seis anos. Não vou comentar. Heathcliff sou eu. ------------------------------- DOS 24 AOS 36 ANOS. Zorba, O Grego de Kazantzakis. Eu queria ser Zorba. Ajudou a aliviar minhas neuroses. Anna Karenina, Tolstoi. A consciência do quanto um romance pode ser grande. Yeats. Li vários livros desse poeta. Todos me marcaram. Era maravilhoso conseguir entrar em seu mundo. Não sei se ainda consigo. Aconteceu comigo o mesmo que com Yeats, com a idade me tornei mais carne e menos alma. O Nascimento da Tragédia, Nietzsche. Não há como não topar com este alemão. Flores da Relva, Whitman. Memórias de Brideshead, Evelyn Waugh. ---------------------- DOS 36 AOS 48 ANOS. Li muita poesia nessa fase e destaco T.S.Eliot, Wallace Stevens, Rilke e John Keats. E os brasileiros, afinal, Murilo Mendes, Cecilia Meireles e Manoel de Barros. Eça de Queiros, a Cidade e a Serra. Machado de Assis, Dom Casmurro. Tempo em que li Saul Bellow, imenso escritor, entendi Marcel Proust, e descobri o Tristam Shandy de Sterne. Os dois maiores romances que li nessa época: O Vermelho e o Negro e A Cartuxa de Parma, ambos de Stendhal. Emocionantes. --------------------------- Dos 40 aos 52 anos. O prazer se tornou objetivo maior da leitura. Sherlock Holmes e livros noir de Chandler e Hammet. E prazer puro também nos Dublinenses de Joyce, em Rumo Ao Farol, de Virginia Wolff, no Leopardo de Lampedusa, na serie de Jeeves de Wodehouse, nos escritos sobre cinema de Kael, em Noteboom, Peter Mayle falando da boa vida e John Updike e seus romances perfeitos. -------------- Por fim a fase atual, dos 52 em diante. Vladimir Nabokov. Aldous Huxley. G.W.Sebald. Chesterton. Scrutton. Wittgeinstein. Houellebecq. Bernhard. ----------------- Devo ter esquecido algumas coisas, mas é isso aí.