MINOTAURO - BENJAMIN TAMMUZ...MESTRE!

   Vixi que livro bom da porra!
   Eis uma expressão que adoro e a uso para exaltar este livro. É uma expressão direta, clara, que fala tudo aquilo que tem de ser dito. E para isso, usa o número exato de palavras, nem a mais, nem a menos. Como faz o autor deste livro. Uma escrita seca, nem uma palavra sobra. Se um editor cortar uma só expressão, uma vírgula for retirada, pronto!, o sentido se perde. É uma escrita quase telegráfica. E nessa secura, bela. Atinge o alvo sempre e conta uma história bela. E amarga.
  São quatro capítulos, e cada um fala de uma personagem. Temos um homem de mais de quarenta anos, uma moça de 21, um grego de 35 e um velho patriarca russo. Estamos em Israel, em Londres e na Suíça. Estamos entre 1900-1970. O livro, de apenas cento e poucas páginas, da série da Rádio Londres, é um enigma. E é claro ao mesmo tempo.
  Cartas que se trocam durante anos. Cartas de amor. Espiões de Israel. O mundo árabe. Escolas de Londres. E mais: almas destinadas a se encontrar, corpos que não têm dono, a alegria que houve na cultura do Mediterrâneo, a perda dessa cultura.
  Tammuz foi escultor, pintor, adido cultural, jornalista. Morreu em 1989. A se julgar por este livro, foi grande. Leia. É uma beleza.

MINHA COZINHA EM PARIS - DAVID LEIBOVITZ

   David é um dos mais agradáveis escritores sobre comida de hoje. Este é o terceiro livro dele que leio e é o mais delicioso. Morando a mais de dez anos em Paris, ele nos dá receitas enquanto fala de como é viver e comer na cidade. Com fotos, capa dura, é um livro bacana da Zahar. Lemos e aprendemos sobre entradas, queijos, sobremesas, pratos principais e também sobre os hábitos verdadeiramente parisienses.
  Dei este livro de presente e é uma bela sugestão. Mas, ops, o Natal já se foi! Então o oferte para voce mesmo. Acho que seria merecido.

SOBRE GATOS - DORIS LESSING

   Se não me engano Lessing ganhou o Nobel em 2007. Não é meu estilo. Ela é feminista demais para meu gosto. Mas aqui lhe dou uma chance. Porque ela fala de gatos. Dos gatos que teve, ou que a tiveram. E leio com muito gosto. Ela tem um estilo simples, sintético, exato. Ela nunca embeleza e nem se estende. Conta as histórias. E elas não são extraordinárias. São ótimas.
  É melhor que o livro sobre gatos de Virginia Woolf? Não dá pra comparar. Difícil ver duas escritoras tão diferentes. Este livro começa na Africa, na infância de Doris, e lá sua família, numa fazenda, tem dezenas de gatos. Ela descreve cenas cruéis. Só quem já viveu em meio aos bichos sabe: a vida próxima à natureza é vida junto à morte. Depois ela vai para Londres e lá tem mais alguns gatos.
  Que maravilha o modo como ela descreve a pobreza da Londres do pós-guerra! Que lindo o modo como ela fala do movimento de um gato, do olhar, da comunicação que se faz entre bicho e humano.
  Não, ela não os humaniza. O foco é no humano em relação ao gato. O humano pensa aquilo que o gato poderia estar sentindo ou tentando dizer. O centro não é o animal porque ele não tem voz. Mas isso não nos impede de amar esses gatos. Gatos filhotes, gatos da rua, gatos estropiados.
  Para o dono de gatos é uma festa. Para quem não os tem é um convite.

CINEMA

Vejo alguns filmes...e sinto saudades do tempo em que formava minha coleção e via pelo menos uma obra-prima por semana...
   O GOLEM DE LIMEHOUSE de Juan Carlos Medina com Bill Nighy, Olivia Cooke e Douglas Booth.
Nada mal. Fala de uma série de crimes em Londres, 1880. Bom clima vitoriano, um bom ator e um final interessante.
   CORPO E ALMA de Ildiko Enyeki
Da Hungria, um filme que fala do flerte de um casal que trabalha num matadouro. Cenas de vacas sendo mortas e personagens zumbis. Pretensioso, glacial, chato, bobo.
   OS BELOS DIAS DE ARANJUEZ de Wim Wenders
E a carreira de todos os grandes revolucionários dos anos 60-70 tem terminado assim: filmes muito baratos, assuntos de auto reflexão, chatice onanística. Um casal conversa à mesa em um belo jardim. Falam de sexo. E é só isso.
   O GERENTE NOTURNO de esqueci de quem com Hugh Laurie, Tom Hiddleston, Tom Hollander
Thriller tolíssimo, veloz, rápido, cheio de bossas, sobre um ex soldado que toma conta de gente num hotel. Deus! Eu sei que o cinema acabou, mas suas cinzas não precisam ser tão opacas!
   PIRATAS DO CARIBE, A VINGANÇA DE SALAZAR
Esta série começou bem. Trazia Erroll Flynn para o século XXI. Para isso, dividia Flynn em duas partes: seu lado canastrão-carismático era de Depp, ótimo, e o lado heroico era feito pelo outro ator ( quem? ). Mas este filme dá vergonha. Depp passa do ponto e faz um tipo de imitação barata de um Bozo drunk. O roteiro é de uma pobreza infantil e a produção parece barata, vulgar. Chega!
   PARIS PODE ESPERAR de Eleanor Copolla com Diane Lane, Arnaud Viard e Alec Baldwin.
Que filme simples e que filme bom! Mais uma Copolla em um filme ótimo de olhar e delicado de observar. Não podia ser mais simples. Diane Lane, ainda bonita, é a esposa de Alec. Ele não tem tempo livre e deixa seu sócio, Viard, levar sua esposa a Paris. Eles vão de carro, e ele alonga a viagem parando em toda cidade do caminho. E é só isso. Lindas paisagens, flerte sutil, comida e vinho e leveza plena. É um grande filme? Claro que não! Mas a gente vê e crê naquilo tudo. Pode assistir.
   CLUBE DOS CINCO de John Hughes com Molly Ringwald, Ally Sheedy e Judd Nelson.
Que boa surpresa! O filme ainda é relevante! Teens tratados como gente em um filme que os ama e os compreende. Os atores estão excelentes, Ally apaixonante e as falas se tornaram icônicas. Não se faz mais um filme assim porque o cinema não é mais assim. Mas os jovens ainda são. Eu sempre gostei deste filme, mas nesta terceira vez eu o adorei.
   UM MILHÃO DE ANOS ANTES DE CRISTO de Hal Wallis
Uma raridade. Um filme de 1940 com um tema caro aos dias de hoje: monstros e trogloditas em ação sem falas. E é só isso. Incrível é que os efeitos são bons ( para a época ).
   A BRIGADA DO MAL de Andrew V. McLaglan com William Holden.
Nos anos 60 era moda fazer filmes assim. Sobre grupos de homens em uma missão arriscada. Todos esses filmes são filhos dos Samurais de Kurosawa. Este é bem banal. Um grupo de rebeldes deve criar disciplina para lutar contra os nazis. Hoje eles seriam um grupo de heróis de HQ.
   JARDIM DO PECADO de Henry Hathaway com Gary Cooper, Richard Widmark e Susan Hayward.
Produção classe A em um western standard. Cooper e Widmark vão ao México salvar o marido de Hayward, que está preso numa mina  de ouro. Tem índios, tem romance e tem Cooper. Mas há pouco Widmark e falta um bom vilão.
   O HOMEM COM A MORTE NOS OLHOS de Burt Kennedy com Henry Fonda.
As séries de TV de western mataram os faroestes de cinema. E saturaram os fãs. Houve um tempo em que 23 séries estavam no ar semanalmente nos EUA!!! Mas filmes ruins como este também ajudaram. Um filme dos anos 70 que imita a violência dos spaguetti western. É triste, chato, sem porque.
  

APRENDIZ DE COZINHEIRO - BOB SPITZ

   Que façam logo o filme. Este é um dos muitos livros escritos tendo em vista uma futura filmagem. Pode dar um bom filme, ótimo até, mas está longe de ser um bom livro.
  Quem me conhece sabe que graças a Peter Mayle, adoro livros sobre a arte de viver. Livros que unem viagens e comida, ou bebidas com construção. Li vários que são aulas de escrita e de bom humor. São livros de luxo, para ter e reler. Dei três de Peter Mayle de presente este Natal, e sei que serão apreciados com o mesmo espírito que nos faz apreciar um bom espumante. Ou queijo.
  Muita gente escreve livros nesse estilo. Vendem bem, são ideais para férias. Passados sempre na Toscana ou na Provence, levam aos americanos e japoneses a exoticidade domesticada do que é latino e antigo. Livros yuppie.
  Este mostra a saga de um escritor que perde a esposa e vai estudar culinária ( gastronomia soa mais in ), na França e na Itália. Bob Spitz escreveu uma bio sobre os Beatles e este livro é autobiográfico. E meio chato. Spitz é verborrágico e ao contrário de Mayle e de Mayes, não tem humor. Pouco observa das pessoas ao seu redor.
 O segredo do bom livro de viagens ou de joie de vivre, é o entorno. Não a paisagem ou a casa em ruínas, são as pessoas. Destacar bons personagens. Spitz nunca faz isso. O livro, além dele, tem apenas sombras.
 

NATAL

   Nada revela melhor o rancor dos inteligentinhos que o Natal. Eles assumem o papel do ex-namorado que foi ao casamento de sua antiga amada. Ele está lá, bebe, come e ri, mas fica o tempo todo cortando o barato de quem estiver por perto. E "sabe", em seu rancor pobre e ácido, que o casamento nunca dará certo. Incapaz de aceitar o amor dos noivos, ele nega esse amor usando sua "inteligência".
  Recebi ontem, dia 24, um texto de um amigo ateu. Ateu do tipo que prega e que tem fé na não-fé. O texto diz que Elon Musk descobriu que somos programados por ETs. Que eles dirigem nossas vidas. Que vivemos em um mundo ilusório. Virtual. Weeelll....
  Crer nisso é tão absurdo quanto crer na concepção virginal. Com uma diferença que para o ateu faz todo sentido: parece ciência. Mas não é. Trata-se apenas de fé religiosa sem ética. Nessa crença de Elon há muito de budismo, muito de cristianismo e até judaísmo. É uma forma pretensamente nova de contar o que é tão antigo quanto o homem.
  O Natal significa natalidade. É o dia em que se comemora o dom da vida. A capacidade de nascer todo ano. Sobreviver. É a vida nascendo da virgindade. Da pureza. É a realeza se curvando diante da simplicidade. É a benção dos animais na manjedoura. 
  Na verdade o Natal simboliza o sentido que existe na própria vida. Nascer, dar, crer, abraçar, olhar o céu, esperar, unir, seguir, ser humilde, permanecer.
  Elon e meu amigo são apenas crianças.
  Criam fés pretensamente novas.
  Prefiro as antigas. Séculos e multidões podem estar mais próximas da verdade.

The Breakfast Club (1985) - Modern Trailer



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O CLUBE DOS CINCO ( THE BREAKFAST CLUB ), O QUE MUDOU EM 32 ANOS ?

   Assistir este filme depois de 7 anos de estudos em educação e 9 anos de prática...é doloroso. Se em 1984 a coisa era dura, hoje piorou muito. Vamos ao filme.
   Cinco alunos que não se conhecem são obrigados a passar o sábado na escola. Eles não se conhecem e cada um representa um dos chavões da adolescência. A primeira sacada do filme, ótima, e que vem na citação de Bowie, é a de que adolescência é uma invenção de adultos. Uma criação feita para reduzir adolescentes a tipos catalogáveis. Temos então o rebelde, o esportista, o nerd, a patricinha e a esquisita. Não há  nenhum tipo em 2017 para se encaixar aí. Fora da adolescência, olhando de longe, esses são os tipos. Digamos apenas que a esquisita hoje engloba um espectro maior de esquisitices. E que o rebelde diminuiu muito.
  Judd Nelson faz o rebelde e no começo ele é tão cliché que ameaça afundar o filme. Mas é proposital. Nos anos 80 o rebelde já era um cliché criado por conformistas. Bem escrito por John Hughes, esse personagem consegue se humanizar sem mudar ou suavizar, o que é bem difícil de fazer. Anthony Michael Hall quase rouba o filme como o nerd. Temos pena dele. E rimos com ele. Fico pensando qual deles eu fui. Não, nunca fui um nerd. Eu teria sido o esquisito?
  Ally Sheedy tem menos falas, mas rouba o filme. Ela faz com que a gente se apaixone por ela. Com sua timidez mórbida, ela se esconde detrás de cabelo e capuz. Quando fica mais normal rola uma decepção, ela se enfeia na verdade. É um papel maravilhoso para uma atriz brilhante.
  Molly Ringwald faz uma mágica. A patricinha não é odiável. Aliás, o elenco está tão bem afinado que nenhum é adorável fofo e nem detestável símbolo. O filme faz o que propõe: eles são muito mais que cinco tipos.
  Molly é uma patricinha. Mas é acima de tudo uma menina. Assim como Emilio Estevez, que está ok, mas é de longe o menos bom.
  Eu fui os cinco. E a mensagem do filme é que todo adolescente é os cinco. Uma mistura de tudo aquilo, e de ainda mais. Uma pessoa cheia de medo, de raiva, de amor e de vontade de viver. Nós judiamos deles. Muito. Damos a eles uma vida indesejada. Mas o pior é que os vemos como personagens, tipos muito bem definidos.
  Hoje ainda é assim. Todas as salas que olhos tem a popular, os esquisitos, os rebeldes, os nerds e os caras do esporte. Não consigo ver mais nada além disso. Minto, vejo sim, quando me dou ao trabalho de olhar um pouco mais. Percebo então que a popular é esquisita. Que o esportista é nerd. Ou que eles não são nada disso. São mais, muito mais.
  Tive a sorte de ver este filme em 1985. E me identifiquei muito com o rebelde. Revi nos anos 90 e achei que a esquisita era linda. E agora eu amo todos os cinco.
  Falar a real: John Hughes fez aqui um grande filme. Muito maior do que percebemos então. Ele atingiu um tipo de perfeição.

Blur - Parklife



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UM GRANDE DISCO: PARKLIFE - BLUR

   Lançado em 1994, no auge do britpop, este terceiro disco do Blur é melhor que o mais famoso What's The Story dos rivais plebeus do Oasis. Não que o disco do irmãos desunidos seja fraco, ele é histórico. Mas Parklife é muito mais aventuroso.
  Muito se disse na época que a crítica inglesa, sempre sensacionalista, queria forçar um embate tipo Stones x Beatles, entre as bandas de Londres e de Manchester. Mas, assim como nunca houve uma rivalidade entre Jagger e Lennon, os rivais dos Beatles eram todos americanos, a rivalidade entre Blur e Oasis sempre soou artificial. Os rivais dos Gallagher eram eles mesmos. E a referência do Blur nunca foram os Stones, eram os Kinks, o Yardbirds na fase Jeff Beck e Bowie.
  Parklife começa com dance music muito boa e termina com colagens à la Lodger de David Bowie. Suas melhores faixas são comentários sociais carinhosos ao modo Ray Davies, e a obra-prima Village Green sempre paira no horizonte de Damon Albarn.
  Albarn é o mais esperto dos caras de sua geração, e seu gosto é sempre exemplar. Blur transpira informação, e em que pese sua voz ruim, a gente se acostuma até com ela e acaba aceitando. O disco, caleidoscópio vermelho e azul, jamais poderia ser aceito nos EUA. É inglês, tão chá com leite como The Fall ou Pulp. E os Kinks pós 1966.
  O britpop nunca existiu. Era apenas um rótulo feito para vender como novo algo que era continuação tradicionalista. Oasis, Pulp, Verve e que tais eram apenas a manutenção do bom e velho rock inglês guitarreiro. Um bando de garotos nascidos no auge do pop que, como eu, souberam endeusar a música feita durante sua estadia no berço. Depois, aos 14-16 anos, viram o segundo auge inglês entre 77-83, com Bowie, Clash e The Jam e o resto é o resto.
  Se voce quiser ter em sua coleção só cinco discos desse tal brit, Parklife deve ser o primeiro a ser comprado. Depois pegue o Oasis de praxe, um Pulp e complete com o primeiro do Elastica. Tá feito.
  PS: Não, Primal Scream não é britpop. Mas são os Stones da coisa.

O VINHO E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS - SERGIO DE PAULA SANTOS

  Lançado pela editora do Senac, compro este livro, que tem uma bela capa de Ettore Bottini, um capista que faz sempre belas capas. Mas o texto, este não é grande coisa. Sergio conhece vinho, mas escreve um tipo de viagem sentimental por suas lembranças de provas e apreciações de vinhos. Com a mente solta, fala ainda de livros, amigos, festas e críticos de enologia. Eu o leio com parco prazer, mas leio fácil. Parece uma coletânea de artigos de jornal, mas não é.
  Na verdade é quase uma enganação.

Al Stewart - Time Passages - 11/12/1978 - Capitol Theatre (Official)



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gary glitter - papa oom mow mow : supersonic



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Neil Diamond - Holly Holy live 1971



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A VIDA NUNCA FOI UMA LUTA ENTRE HEAVY METAL E PROG ROCK.

   Sem a intenção, ouvi esta semana um bando de discos nada cool que exemplificam o que foi realmente o rock predominante dos anos 70. Vou botar um por um como faço com os filmes que vejo na semana:
OFF THE WALL - MICHAEL JACKSON
Produzido com genialidade por Quincy Jones, este disco, uma obra-prima, melhor disco de MJ, anunciou em 1979 a chegada de uma nova década. Vendeu 12 milhões de lps e o escuto com muito, muito prazer. Quincy cria uma cama rebolante de guitarras, teclados e metais, e coloca em destaque uma bateria e um contrabaixo que são guias de um paraíso. Em cada faixa há uma multidão de sons, de pequenas harmonias, de timbres metálicos. É esse o tipo de som que Bowie, Ferry, Gabriel e um imenso etc passariam os próximos dez anos tentando reproduzir.
12 GREATEST HITS - NEIL DIAMOND
Nos anos 70 este era o Neil famoso e não o Young. Compositor de vários hits nos anos 60, nos 70 ele canta e compõe em seus próprios discos. Ele nada tem a ver com rock. Ele é pop, no sentido popular do Elvis final, de BJ Thomas, de Lobo, dos Bee Gees, do ABBA.. Tem uma voz linda, a banda é o tipo de top de estúdio e suas canções são hinos, feitas para erguer a alma. Brega, bonito, muito bem feito. Esta é o tipo de música que mais vendia na época.
GG - GARY GLITTER
Gary foi um acidente. Gorducho, feio e já meio velho, ele estourou na Inglaterra em 1971, no meio do Glam. Vendeu muito por dois anos e então decaiu. Nunca foi aceito nos EUA. Este disco de 1975 tenta renovar seu apelo. Na época o glam já era e Gary faz o mesmo que Bowie e Ferry faziam então, canta soul music. O único problema é que sou exige boa voz e Gary não sabe cantar. Talvez seja o mais tolo disco já gravado. Mas eu me divirto pacas quando o escuto.
BORN TO BE ALIVE - PATRICK HERNANDEZ
A minha geração não nasceu para ser wild. Nasceu para ficar viva. Este disco é uma obra-prima. Disco atemporal, as linhas de ritmo são usadas até hoje, quase 40 anos depois !!!!! Um hino gay, um hino hedonista, uma grande festa. Uma das minhas canções de todos os tempos.
GOES TO HELL - ALICE COOPER
Em 1976 se acreditava que o rock pesado era coisa do passado. Então Alice lança este disco esquisito. Acompanhado por uma banda diabólica, a mesma de Lou Reed, ele canta cabaret, funk, valsa, rock e até balada. Foi um fiasco na época, eu gosto muito.
YEAR OF THE CAT - AL STEWART
Doce menestrel escocês, rei de FMs, o cara do bom gosto. Esse tal de bom gosto foi uma praga do rock dos anos 70. Era música rock feita com bons instrumentistas, cantando letras adultas, em gravações com som apurado. Tudo empacotado com acordes de piano, solos de sax, violões estradeiros e clima de fim de noite. Era o som do Steely Dan, Chicago, Fleetwood Mac, Paul Simon, James Taylor...soft rock, o som contra o qual o punk americano se rebelou. Ouvir este disco hoje é pura nostalgia. Bonitinho.
CITY TO CITY - GERRY RAFFERTY
O mesmo dito acima vale para este disco. Que vendeu ainda mais em 1977. E que hoje soa pior, chato, banal e bem pretensioso.
QUO LIVE - STATUS QUO
Adoro esta banda! Eles são mitos na Inglaterra e nunca venderam bem nos EUA. Fazem um rock de pub, um tipo de honk tonk sem fim. Todas as músicas são basicamente a mesma, todas são legais. Sobreviveram ao furacão do punk inglês com galhardia.
Well...rock dos anos 70 era predominantemente isto. Discos bem gravados e bem cantados, mas sempre meio apáticos, às vezes sem estilo, feitos em série. Foi o auge da ditadura das gravadoras, auge do LP e do aparelho de som.

 

TELEVISÃO E SMART PHONE, UMA DEFESA DO VÍCIO.

   Nasci a tempo de conhecer o mundo sem TV. Melhor dizendo, claro que em 1969 já havia TV, eu vi Neil Armstrong descer na Lua ao vivo. Lembro disso. Mas eu vi ainda o mundo em que ter uma TV em casa era sinal de burrice e de falta de classe. Gente rica não tinha TV. No máximo botava uma no quarto da empregada. As pessoas jantavam tarde e antes do jantar bebiam, fumavam e conversavam. Comiam e depois se dividiam, umas iam ler revistas, outras ouviam música e algumas faziam tricot. As crianças brincavam no tapete. Era isso. Com a TV continuou a se beber, fumar e falar. E a brincar no chão. Mas as revistas e a música foi deixada de lado. O som ambiente deixou de ser o disco do Ray Conniff e passou a ser o zumbido do JN.
  Minha geração é a primeira a ter saudade da TV como ela era. Anos Incríveis mostra isso muito bem. Criamos uma mitologia afetiva ao redor de lixo como Ultraman ou Speed Racer. A TV para nós era a janela para a imaginação. Ela era colorida, barulhenta, alegre, livre, era tudo aquilo que nossa casa não era. Mas, que praga, psicólogos e sociólogos diziam que a TV deixaria minha geração cretina. Que nós não conseguiríamos ler, prestar atenção, pensar. Pois é...
  Com o Smart Phone acontece o mesmo hoje. E agora que me viciei em um, posso dizer que olhando de dentro é tudo papo pra boi dormir. Porque vejo a coisa de dentro e não de fora. Não me ponho na sala com um cigarro lendo o NYT. Estou de frente pra tela todo o dia. E que Deus salve a tecnologia digital.
  Olho a triste e entediante verdade que me cerca e entro em outra verdade. Vivo ao lado de amigos que continuam conversas que nunca terminam. E para uma pessoa, que como eu, ama a narrativa, isso é apaixonante. Explico pra vocês: Conheço M. Ela me conta hoje que brigou com A. Depois de duas horas me manda fotos da sua cara de briga. A noite ela me diz que fez amor com A. Mas que continua com raiva. E agora ela me manda fotos de uma loja onde procura uma saia nova. Quer minha ajuda para escolher. Digo mais, amanhã ela me dirá onde está, o que está comendo e se o namoro sobreviveu. Esse é um tipo de compartilhamento de solidões que só existiu no tempo das tribos. E isso nos afasta do aqui e agora? Claro que não. É apenas mais um aqui e agora. Que compartilha o ali e depois.
  Assim como M, tenho contato constante com V, R e Z. E sinto que estamos todos juntos, todo o dia, inclusive nas madrugadas de insônia. Ando pela cidade com elas, durmo com elas e acordo com elas. E quando me canso, desligo o botão. Mas o que assumo aqui é que gosto disso. E acho que devíamos levar isso mais a sério, como um bem que nos livra das paredes frias da sala onde a TV ficou velha.
  Há uma foto "inteligentinha" na NET que mostra um bando de crianças ao lado de um quadro de Rembrandt. Elas olham seus phones e ignoram a pintura. Sinto dizer que antes da internet elas estariam olhando as paredes, as caras umas das outras, o chão, e nunca a pintura. Eu não amo pinturas por causa dos museus. Amo por causa de programas de arte que vi na TV. Irônico né...
  Só mais uma coisa: O smart phone me salvou de conversas com gente chata. Elas acham que abro a tela por ser apenas um viciado. Não sabem que a abro para me salvar delas. Para pessoas tão legais quanto M, V ou R, estou sempre aberto, no phone e na sala de casa.