Beastie Boys - Shake Your Rump



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Beastie Boys - Hey Ladies



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A BUTIQUE DO PAULO, BEASTIE BOYS E O SOM DO SÉCULO XXI.

   Claro que estou só provocando, o som deste século foi criado em 1988, um ano antes da Butique do Paulo, pelo Public Enemy. Os Beastie Boys admitiram beber na fonte contaminada dos caras e levou a coisa para os playboys brancos que em 1989 não ouviam som de preto. ( Em 1999 tinha playboy que ouvia Beastie Boys, House of Pain e Eminem, mas não ouvia os pretos nunca ).
  Que som é este? Vale tudo. Eles entram num estúdio e pode tudo: Tudo o que voce ouviu a vida toda pode ser enfiado na coisa. Roubo? Não. Homenagem e bom gosto. É preciso ter ouvido, ter swingue. ( Conheço comunidades de roqueiros, que bosta de nome, que dizem escutar "de tudo", mas quando falo de rap e de punk correm e gritam: Isso não é música! ).
  Este é o melhor disco dos Beastie Boys porque é o primeiro em que eles fazem Public Enemy: misturam tudo, Tem Beatles, Isley Brothers, Santana, Rufus, Led Zeppelin, Sweet, Commodores, Jimmy Cliff, George Clinton, Stevie Wonder, isso tudo só em 3 faixas!!!! Muito foda!
  Depois deste disco, que vendeu pouco, eles passaram a revisitar o que pulsa aqui forever. Todos os seus discos dos anos 90 nascem nesta matriz. Um caleidoscópio em preto e branco. E que pulsa todo o tempo, tem manha e tem beat. O som e a vida do século XXI é essa mistura doida e tonta de coisas que pareciam não ter nexo mas que se unem porque são sexo: polaridades afim.
  Bobagem chamar este disco de obra-prima, porque falar obra-prima é coisa de roqueiro que baba nos discos do Genesis. ( Que não são ruins, os roqueiros é que são chatos ).
   Este disco tem quase 30 anos, putaquepariu, e ainda aponta para a frente. Então ele é amazing. Cool. Do grande caralho.

LONGE DESTE INSENSATO MUNDO - THOMAS HARDY

Nas 3 primeira décadas do século XX, foi Hardy o autor favorito para um Nobel inglês. Não venceu, e viu até mesmo um autor hoje esquecido como Galsworthy vencer. Este livro, lançado agora, mal traduzido, é uma maravilha. Melhor que o filme de 1967, que é muito, muito bom.
Na época nada era mais badalada que a produção de Longe Deste Insensato Mundo para o cinema. Um grande livro, com a melhor produção possível. John Schlesinger era o melhor diretor inglês jovem, Julie Christie a mais sensacional jovem estrela, Alan Bates e Terence Stamp eram dois novos atores com filmes sensacionais recém lançados, e Peter Finch era um veterano ousado. Na fotografia o grande Nicolas Roeg. O filme, vejo agora, segue o livro passo a passo, mas, que incrível, mesmo assim vemos que não é Bethsheba, a personagem de Julie Christie, a figura central. É o pastor de ovelhas, Oak, o insistente pretendente dela, quem domina o romance. Personagem adorável, simples, real e muito nobre, sem nunca parecer vaidoso, Oak exibe de modo absoluto toda a verdade do trabalho duro.
Hardy ainda era um naturalista quando escreveu este livro. Mas um naturalista à inglesa, suave. Depois seu estilo se tornaria mais sutil e no século XX ele se faria um poeta. Mesmo com a miséria de uma tradução estúpida, o romance se mantém por ter um belíssimo enredo e personagens inesquecíveis.
Foi refilmado este ano, e ao contrário da versão de 1967, passou em branco pelas telas.

CINEMA JAPONÊS NA LIBERDADE- ALEXANDRE KISHIMOTO. O JAPÃO FOI AQUI.

   Dois dados: entre 1955 e 1965, o Japão era o país que mais fazia filmes no mundo. Foram 600 só em 1960. Outro fato: fora do Japão, São Paulo tinha a maior concentração de japoneses do mundo.
   É hora do almoço em 2017. Ando pelas ruas de meu bairro e cruzo com oito japoneses. E na fila do Carrefour reparo em cinco senhoras idosas. Esses imigrantes irão sumir um dia. Seus descendentes perderão suas raízes a cada nova geração. Mas ficaram marcas. Somos o país que primeiro descobriu as séries japonesas. National Kid explodiu aqui em 1962. E Naruto é de agora e será de sempre.
  O livro é bem ruim. Ele é escrito no estilo "tese da USP". Um monte de parênteses com as fontes usadas, milhares de citações e aquela mania de dar valor ao que se fala citando filósofos e sociólogos que dão peso ao texto. Além de se dar um jeito de sempre falar da velha luta de classes....aff....
  O cinema japonês foi descoberto pelo mundo em 1951 com Rashomon de Kurosawa. Mas aqui, e só aqui, ele já era xodó dos críticos desde 1936. Se conhecia Mizoguchi, Ozu, Naruse, Gosha, desde sempre. Isso porque calhambeques itinerantes exibiam filmes em Bastos, Piracicaba, São Carlos, em fazendas onde imigrantes viviam. E depois, a partir do fim da guerra, na Liberdade.
  A Liberdade não era um bairro japonês. Se tornou isso com as salas de cinema. Cada uma tinha mais de mil lugares. E viviam lotadas. No começo eram filmes sem legenda. E mesmo assim, alguns brasileiros iam ver. Piravam nas imagens. No ritmo lento. E viraram cinéfilos.
  ( Filme japonês é lento porque a vida é vista no Japão em pequenos detalhes. A ação não importa, o que vale é a preparação para a ação. Daí um filme como Céu e Inferno. Duas horas de lentidão para uma luta final que dura meio segundo. E te mata de surpresa e prazer ).
  Lendo fico sabendo que na guerra os japoneses ficaram proibidos de falar japonês na rua. E tiveram casas e terrenos confiscados. Que chegou a haver 20 jornais. E todos foram fechados. E 600 escolas de japonês. Destruídas. Como tudo que é japonês, foi um drama silencioso. Nunca se recuperaram desse atraso getulista.
  Em 1988 fechou o último cinema da Liberdade. Eu lembro que em 1977 sempre estreava um filme de lá. Toda semana tinha um novo filme nipônico pra se ver. Quando não, dois ou três. Isso acabou. Agora são dois ou três...por ano...
  Mas ficou a marca. Brasileiro ama arte marcial. Comida japonesa. Mangá. E série de tv japonesa. E as meninas mais bonitas têm cara e jeitinho de nisseis. Mesmo sendo da Bahia.
 

O RITO

   Voce sai do sol. Entra num lugar onde a luz é sempre a mesma. Não há mais o burburinho da rua. Fala-se baixo, silêncio. Sem calor e sem frio. Depois se entra na escuridão. Uma luz vermelha, como um inseto, vem em sua direção e te conduz. O cheiro é de tapete, cortina e curvin. Senta-se e espera-se. Pensa-se. Música neutra toca nos alto falantes. A passagem continua a se fazer. A transição de lá para aqui. Voce se concentra mesmo sem perceber.
  Toca-se um sino. Como em um templo, uma, duas, três vezes. Silêncio absoluto. Uma tosse. Um papel de drops. Explode a cor. A imagem, imensa, surge. A concentração se torna Experiência. O ritual.
  Leio um livro que fala da experiência de ver um filme, nos cinemas dos anos 40-60, como um ritual. Ia-se sempre, como numa Missa, se ia sem se saber que filme ia ser exibido. Ia-se no dia e na hora habitual, sempre.
  Se preparava a ida. Roupa, perfume, caminho, fila e espera. Toda a família ia junta. Depois, quando se virava adulto, se podia ir sozinho. Lá, na fila, se via e se era visto, se exibia e se apreciava. E então vinha a transição: ante sala, sala, escuridão, silêncio, a experiência.
  Vivi o final desse tempo. Em 1975-1980 ainda se usava lanterninha, cortina, gongo...as salas ainda eram para 1000, 1500 pessoas. Mas tudo se banalizou. Como até a igreja se banalizou.
  Ouvir música em casa também trazia algo de ritualístico. Procurar um cômodo vazio, tirar o disco da capa, ler o encarte, colocar a agulha com cuidado, escutar o LP inteiro. Suportar as faixas menos boas e entrar em êxtase com as melhores.
  NÃO HÁ EXPERIÊNCIA VÁLIDA SEM ALGUM RITUAL.

NONA SINFONIA, A OBRA PRIMA DE BEETHOVEN E O MUNDO NA ÉPOCA DE SUA CRIAÇÃO - HARVEY SACHS.

   Este admirável livro começa pela biografia de Beethoven. Por ser conhecida por todos, é a parte menos fascinante. Muito melhor é quando o autor, Harvey Sachs, discorre sobre o ano de 1824, tema central deste pequeno livro de apenas 220 páginas.
  Para o autor, o romantismo é uma reação para a decepção. O fim das guerras napoleônicas podem ter sido um alivio, mas trouxeram como consequência imediata, o começo de uma época de censura e de repressão. A alma artística, ansiando por liberdade, se refugia dentro de si mesma e cria o mundo romântico, mundo que dura até hoje.
  1824 é o ano da estreia da Nona Sinfonia de Beethoven, em Viena, maio. Sachs analisa os grandes artistas em atividade plena durante esse ano: Stendhal, Byron, Delacroix, Schubert, Pushkin, Heinrich Heine. Claro que havia muito mais, Shelley, Balzac, Goethe, Leopardi eram dessa época, mas os artistas destacados são aqueles que em espírito têm mais afinidade com a Nona Sinfonia. Sachs mostra como e porquê.
  Na terceira parte ele descreve em palavras, momento a momento da imensa sinfonia. Sachs sabe música, mas escreve para leigos, e assim, luta para descrever música em palavras e não em notas e harmonias. É fascinante e também insatisfatório.
  Depois ele nos mostra as opiniões de Berlioz, Wagner, Verdi, Schumann e Donizetti sobre a Nona. E então vem a coda, o final do livro. Eu o recomendo como leitura ótima para quem começa a ouvir música séria.
  Beethoven foi o primeiro artista, seja na música ou na literatura, a se ver como um homem que trabalha para o futuro. Nem Bach e nem Mozart escreviam para a posteridade. Bach dialogava com Deus, e pensava fazer música funcional, para a glória dos céus. Mozart sabia de seu valor, mas achava que sua arte seria descartada, esquecida. Nenhum deles sequer sonhava em ser lembrado vinte anos após sua morte, quanto mais dois séculos. Beethoven não. Ele ousou se considerar mais memorável que os reis de seu tempo. Foi o modelo e o inventor do que chamamos de gênio. ( Michelangelo sabia ser genial, mas o modo como ele se via era totalmente diferente do que hoje entendemos ser um gênio. O italiano estaria mais próximo do herói. Beethoven é o artista genial como hoje o entendemos ).
  Vivemos agora, em 2017, um repúdio ao grande homem. A classe midiática luta contra aquele que se destaca. Ela defende a massa, o movimento de grupo, o modesto participante de um todo, o anônimo. Tudo tolice! O mundo sem grandes homens e grandes mulheres e grandes gays é um mundo a mercê do medíocre.

Beethoven Symphony No 9 Herbert von Karajan



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Robert Plant - Robert Plant: Ramble On ft. Robert Plant, Patty Griffin, ...



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Robert Plant & Jimmy Page 'Gallows Pole' - Jools Holland Show 1994 BBC



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NO QUARTER - PAGE E PLANT OU A CULPA É DO KEITH RICHARDS.

   Só uma mentalidade muito preconceituosa faria com que alguém em 1993 não amasse o disco de Plant e Page. E em 1993 eu era preconceituoso. Foi uma de minhas fases moderninhas, estava deslumbrado pelos sons coloridos das raves e tudo que não queria ouvir era som de hippies velhos. ( Ironia, hoje sou mais velho que eles eram então ). Uma pena. Eu adoraria o disco naquele tempo e o adoro hoje.
   Robert Plant é o único cara da história do rock que virou estrela sem jamais deixar de ser quem ele sempre foi. Pode ser visto andando de bike em Londres. Podia ser visto em shows de punk rock em 1978. Envelheceu sem disfarçar uma só ruga. E fiel aos preceitos hippies, nunca usou o nome do Led Zeppelin para fazer dinheiro. A banda poderia bater todos os recordes de bilheteria hoje. Ele não liga. Conseguiriam juntar um milhão de pessoas nas areias do Rio. Pra que?
   Neste disco eles fazem uma coisa mágica. Pegam canções do Led e conseguem torna-las novas sem deixar de serem as mesmas. Cavam fundo naquilo que elas sempre foram e expõe ao mundo suas origens celtas e árabes. Medievais. É música da idade média. E é música de sempre. Os arranjos, ciganos, druidas, junguianos, trazem a atemporalidade e o sonho ao universo do agora. Tolkien, ídolo de Plant casado com Muddy Waters. Funciona. O disco escutado hoje continua de amanhã.
  Keith Richards continua para sempre congelado nos acordes de 1968. A única ousadia é misturar reggae ou James Brown à Brown Sugar. Não há e nem jamais haverá a menor chance de que ele modifique suas músicas. Elas são pedras. Ainda rolam, mas estão mortas. Seria lindo ver Satanic refeito no palco. Com indianismo, marroquismo e xamanismo. Ou o Banquete dos Mendigos com doses de punk e de eletro. Mas não. Keith não deixa. Ele é um negro do blues e vai morrer sendo isso e só isso. Ok.
  Mas este No Quarter...

ETHAN FROME, UM LIVRO CRUEL DE EDITH WHARTON.

   A turma de Heminguay achava Edith Wharton a melhor escritora americana viva. Ela morreu em 1937 e deixou o posto para Dorothy Parker, que nada tem a ver com ela. Este é o segundo romance dela que leio. A Era da Inocência, que virou filme de Scorsese, é leitura prazerosa e profunda. O tema de Wharton é o destino, sempre ele. O modo como somos obrigados a fazer coisas que não queremos. A maneira como temos a vida que nunca desejamos ter.
  Ethan Frome é um dos livros mais amados pelos americanos. Curto, tem o estilo simples e perfeito de Wharton. Ethan vive numa fazenda no norte dos EUA por volta de 1890. Casado com uma mulher doente e apaixonado pela prima da esposa, que também o ama, ele não tem como fugir e viver seu amor. Lemos e sentimos a asfixia da vida de Ethan. E tomamos consciência de que a maioria das pessoas é Ethan Frome. Ele não pode mudar.
  A escrita é uma coisa mágica. Lendo este livro me senti no mundo que ele retrata. Frio, vento, gelo e a escuridão de noites sem fim. Ele tem o ambiente gótico da Nova Inglaterra. E o caráter protestante do povo americano. Eles trabalham. Acreditam na missão.
  Edith Wharton, de origem rica, era amiga de Henry James. Começou imitando o estilo complexo de James, mas logo descobriu sua voz. Ler suas palavras é lembrar tudo aquilo que um bom livro pode ser.

CRÍTICA DE ROCK, ESSA COISA SEM SENTIDO.

   Crítica de rock não faz sentido. Opinião de rock seria melhor. Escrever sobre música já é quase impossível, e sobre o gênero rock é ainda pior. Isso porque a tendência é acabar por tratar o rock como aquilo que ele não é. E dar à ele um verniz de erudição e de intelectualidade que ele nunca teve. E nem pode ter, pois isso significa sua morte como gênero original. Críticos de rock, mesmo os que pregam a simplicidade do som, acabam por fazer crítica. Educados em faculdades de letras ou de jornalismo, revelam em suas linhas os vícios da crítica literária. Acabam por dar à uma banda de iluminados iletrados de Newcastle a honra duvidosa de serem colocados no mesmo saco de Baudrillard ou de Chomsky. É o momento em que matam o rock.
  Desse modo, gente do meio que se presta a ser comparado a gente das letras acaba sendo incensado pelos críticos. E aqueles que não podem ser enfiados em uma comparação com Keats, Whitman ou Baudelaire, ficam a ver navios. São ignorados.
  Ainda é assim, mas já foi muito pior. A pulverização da imprensa em milhões de vozes na internet acabou com as patotas. Nos anos 70 só gente da esquerda era levada em conta. Desse modo, Dylan era rei e Lennon vice rei. E alienados como Black Sabbath ou Queen eram completamente deixados à margem. Ouvir Ozzy ou Mercury era coisa de analfabeto. O povo inteligente tinha de preferir Joni Mitchell. Ou The Clash.
  Na virada da década, entre 78-82, o Clash era chamado de maior banda da história do rock. Os destruidores marxistas do passado. Os caras que iam reorganizar o rock em bases igualitárias. Com eles vinha o Gang Of Four, Elvis Costello, The Jam e mais uma multidão de camaradas. Nesse mundo, The Police, The Cars ou Kraftwerk não eram muito comentados. Eles não cabiam nesse universo letrado. ( E os Ramones eram a sombra, um tipo de vício secreto culposo e culpado ).
  Nos anos 80 o niilismo imperou e a patota da crítica amava aqueles que lembravam Nietzsche. Nunca a crítica de rock foi tão poderosa e nunca esteve tão distante das massas. Eram textos gigantescos e nesse universo Iggy Pop era rei. O cinismo de Bowie era elevado à arte absoluta. Oscar Wilde mandava nas cabecinhas jornaleiras.
  Hoje nada disso faz sentido. Um crítico é um homem no gueto. Suas opiniões são levadas a sério apenas por seus amigos. Seus seguidores. Então podemos notar neste mundo muito mais aberto, que o Rush não era tão ruim e o Clash não era tão bom. Que o Grand Funk Railroad tinha seu valor e que talvez Neil Young não fosse um gênio. Leio sites de rock e é isso que vejo, o resgate de coisas que eram chamadas de lixo ( Cheap Trick e Thin Lizzy ).
  Ray Davies era tão bom quanto Dylan. Sempre foi. Mas sua patota não era A Patota.

O VENDEDOR DE ARMAS, UM LIVRO DE HUGH LAURIE.

   Sim, Laurie além de ser um bom ator e uma figura muito interessante, é escritor. Este é seu primeiro livro, de 2006, e desde então ele lançou mais três. Ele é da escola do genial Wodehouse, o cara que nos anos 30 lançou a maravilhosa série de Jeeves. Claro, não podemos esperar de Laurie tamanho senso de humor, mas sua escrita é bem feita. Tem ritmo, tem humor, tem agilidade.
  Um ex soldado inglês é envolvido, sem querer, numa complicadíssima trama que envolve venda de armas, drogas e mulheres bonitas. Laurie herdou de Wodehouse o amor à palavra, e assim dá atenção aos diálogos e aos duplos sentidos. O herói leva toda frase em seu sentido exato, que acaba sendo o sentido errado. Leia que voce vai entender o que falo.
  Este livro foi indicação de uma amiga que é mestre em conversar desse modo. Ela nunca leu os livros de Jeeves, mas por instinto ela pensa e fala como o personagem de Wodehouse. Conversar com ela é um belo exercício mental.
  Termino dizendo que este livro seria um filme muito bom.
  Quem se habilita?

Beach Boys - Help Me Rhonda (The Andy Williams Show 1965)



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HELP ME RHONDA!

A canção começa com acordes doces de guitarra ( deve ser Glenn Campbell no estúdio com seus Wrecking Crew ). Esses acordes logo são sobrepostos pela voz pensativa e bem adolescente. Voce pensa então em cozinhas de fórmica e quartos com fotos de astros de Hollywood. Mas então, sem avisar, entra o refrão, e a mágica se faz.
São as vozes dos Beach Boys e elas não estão doces. A melodia vem num ascendente quase atonal, ela vacila, e ela é, ora que coisa, profundamente angustiada. O adolescente pede socorro, insiste no pedido, chama e implora, socorro Rhonda, socorro...Nessas vozes, nessa melodia torta, há desejo frustrado, impaciência, dúvida e desespero. Há beleza superlativa.
É um dos cinco maiores singles da história do rock e do pop. Apenas dois minutos e meio, mas é um romance completo. Voce é capturado para o resto da vida. A massa instrumental aumenta, o que era doce vira quase fúria e o solo é esquálido, o pobre desejo virgem contra a contingência da vida.
Há quem ache, até hoje, que música pop é simples. Brian Wilson era simples como uma chuva de verão. Este single é pra eternidade.

TOM CRUISE - JERRY LEWIS - GLENN FORD - JEREMY RENNER

FEITO NA AMÉRICA de Doug Liman com Tom Cruise.
O traficante como um cara legal. Ok, o filme é amoral. Mas é bom pra caramba. É uma história real daquelas que só poderiam ter acontecido na América. Cruise, ótimo, é um piloto comercial em 1976. Contrabandista leve, ele é cooptado pela CIA para levar armas para os "contras" na Nicarágua. Mas logo o vemos enganando a CIA e fazendo contato com o cartel de Medellin. Ele leva armas à Colombia e drogas para os EUA. O dinheiro flui e o filme é uma comédia excelente. Sim, a moral do filme é "seja esperto e se divirta" .Mas com tantos filmes tendo por moral um tipo de culpa pós-cristã tipo " Deus não existe, a vida é um lixo", é uma alegria achar um filme que é seu oposto exato. A vida é uma festa, aproveite enquanto o tiro na cara não vem. A história desse otário-esperto adentra os anos 80 e ele se vê trabalhando para Reagan!!! Creia, os anos 80 não fizeram o menor sentido...Grande filme!
A MÚMIA de Alex Kurtzman com Tom Cruise e Russell Crowe.
Muito ruim. O roteiro não faz sentido, a ação é óbvia, as falas são ridículas. Para quem conhece A Múmia de 1936, filme cheio de erotismo e de mistério, esta balbúrdia é uma ofensa. Lixo.
ALMAS SELVAGENS de Jacques Tourneur com Glenn Ford e Ann Sheridan.
O filme se passa em 1900 na América Central. Um americano amotina um navio com a ajuda de alguns bandidos. Adentram Honduras, os bandidos achando que é por tesouro, o americano sabendo que tudo é feito para derrubar o ditador de plantão. O velho Tourneur de guerra em mais um de seus filme simples e bons.
O DIA EM QUE A TERRA SE INCENDIOU de Val Guest
Este filme inglês, de 1960, é talvez o primeiro filme a falar do fim do mundo do modo como entendemos isso hoje. Explosões nucleares desestabilizam o eixo da Terra e o clima entra em colapso. Mesmo para os padrões da época, os efeitos são ruins e o personagem principal, um jornalista beberrão, é um chato engraçadinho. O filme não é bom.
TERRA SELVAGEM de Taylor Sheridan com Jeremy Renner
Dão milhões na mão de diretores novatos e depois reclama do lixo que se produz. Hollywood tirou o poder dos individualistas e o negócio, a longo prazo, não é bom. Vemos uma manada de diretores com estilo idêntico e ideias feitas por molde de cera. Frio, caçadas, busca implacável, clima de niilismo, chatice atroz. Este é mais um.
O HERÓI de Brett Haley com Sam Elliott e Katharine Ross.
O projeto de vida do bom ator Sam Elliott. Ele é um ator esquecido que descobre ter câncer ( sim, mais um filme sobre doença ). Resolve tentar fazer um último filme enquanto reencontra a ex esposa, filho etc etc etc. Voce já viu isso milhares de vezes. Pena Sam.
ARTISTAS E MODELOS de Frank Tashlin com Jerry Lewis, Dean Martin, Shirley MacLaine
Um dos 3 melhores filmes com a dupla. Jerry é um desenhista que sonha com quadrinhos de sua heroína favorita. Dean aproveita para usar isso como modo de ganhar dinheiro. A muito jovem MacLaine é a heroína. Tashlin foi da equipe de cartoons da Warner. Ele transforma seus filmes em desenhos do Bugs Bunny. O filme começa como uma obra prima, depois cai...tem canções demais...
DETETIVE MIXURUCA de Frank Tashlin com Jerry Lewis.
Um dos filmes menos lembrados de Jerry. Ele é um detetive que procura um herdeiro que é ele mesmo na verdade. Não é bom.