My Bloody Valentine - Soon



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FESTAS, DROGAS E ROCK`N`ROLL, A SAGA DA CREATION E O FIM DO ROCK INDIE

   No começo dos anos 80 o mundo pedia por gravadoras indies. As grandes ( Sony, RCA, Polygram, EMI ) estavam fazendo a festa com MJ, Queen, Bowie, Police, Dire Straits e Bruce, dentre dezenas de outros. E o povo antenado consumia euforicamente os selos indies. Lembro que eu adorava o catálogo da Sire, mas havia a IRS, a Virgin, a Rough Trade, a Factory...e na Escócia um doido ruivo chamado Alan McGhee fundou uma das menores, a Creation.  Logo em seu segundo ano eles chamaram a atenção, Jesus and Mary Chain eram a ressurreição do Velvet Underground ( mais uma ), microfonia e doçura. Paralelamente veio o Primal Scream, que ainda não era o PS que voces conhecem.  O grupo de Bobby Gillespie era bem mais melódico.
  Conforme o fim da década foi chegando mais as indies se afirmavam. A Creation tinha meia dúzia de funcionários e todos eram completamente loucos. Sempre no vermelho, gastavam por conta dos lançamentos futuros. My Bloody Valentine era a bola da vez e Kevin Shields se tornou um ídolo na Inglaterra. Lembro que aqui no BR a revista BIZZ tinha um fanatismo pela Creation que me irritava. Na época eu adorava os californianos tipo Jane`s Addiction e Red Hot Chili Peppers, e nada menos "sol, esporte e go for it"que as melancólicas bandas de Glasgow. House of Love foi a primeira banda deles a chegar ao number one das ilhas...e então tudo mudou, para a Creation, para a GB e para mim.
  Se pensarmos friamente todo movimento dentro do rock se originou da droga da hora. Os Beatles se soltaram ao conhecer a maconha e o rock ficou viajandão com o LSD. A heroína deu o gas e o tema para Lou Reed e todos os que daí vieram. Álcool e anfetaminas criaram o rock de garagem e a cocaína deu aos anos 70 seu aspecto de ego inflado e "tudo é lindo".  Well...por volta de 1988 começou a cultura do ecstasy e a Creation é apresentada a nova droga em 89.  Alan McGhee mergulha fundo e leva as bandas do selo com ele. O estúdio, que sempre fora zona livre para gente junk, se transforma numa rave que nunca termina. Um disco muda tudo e para os ingleses se torna a coisa mais influente da época: Screamadelica do Primal Scream. Gillespie leva meses para terminar o disco, ele é todo gravado sob efeito de ecstasy. A mistura se faz: Creation plus dance= anos 90. Primal Scream é a primeira banda do selo a ir ao Top Of The Pops. Chapados. 
  Foi um dos melhores momentos da história do Pop inglês. Stone Roses, Happy Mondays, Blur, Charlatans. Nenhum deles era da Creation. Alan tinha o Super Furry Animals e lançaria em 94 o Oasis, a banda que segundo Alan, mataria o rock indie.
  Primeiro um adendo que muita gente aqui no BR ignora ( colonizado que somos por criticos pró-ingleses ), é muito, muito dificil um inglês fazer sucesso nos EUA. Todas essas bandas inglesas que citei aqui NUNCA estouraram nos EUA. O Oasis será a única. A coisa lá é muito dura. Quando em 64 os Beatles pegaram os EUA trouxeram com eles o Dave Clark Five, o Animals e os Hermann Hermits. Os Stones só estourariam em 65, os Kinks, que venderiam pacas na GB por toda a vida, só tiveram de hits nos EUA, You Really Got Me e Lola bem mais tarde. Yardbirds, Spencer Davies ou Hollies, necas. Em 68, com a segunda invasão britânica, Bee Gees e Cream seriam os únicos. Bandas que causavam histeria nas ilhas, como Small Faces ou Traffic, nada conseguiam nos EUA. Lendo a parada de 72 da Inglaterra vejo os nomes de T.Rex, Roxy Music, Slade, Sweet, Gary Glitter e Status Quo nos 6 primeiros lugares, uma parada maravilhosa, mas TODOS jamais fizeram sucesso nos EUA. O rock inglês dos anos 70 que era hit na América se resume a Elton John, Rod Stewart e Led Zeppelin. Bandas como Smiths, Jam, Ultravox, passaram em branco e mesmo David Bowie só estourou muito depois de Ziggy Stardust, em 75 com Fame.  O Queen fez sucesso nos EUA, assim como o Police, mas muuuuuito menos que na Inglaterra ( e que aqui, onde até o Clash sempre foi muito mais popular que nos EUA ). 
   Em 83 houve uma terceira invasão: Culture Club, Duran Duran, Human League pegaram os primeiros lugares... até surgir Prince e Madonna e levarem tudo de roldão. O U2 reinaria sózinho, única banda britânica a estourar na América pelos anos 80 inteiros. Até o Oasis. Alan McGhee foi ver os caras num bar e assinou na hora ( ele fala hoje que se soubesse que Noel era fã do U2 jamais teria aceitado ). O resto todo mundo recorda. Mas porque eles fizeram tão mal as indies? Por 3 motivos: Primeiro a Sony comprou a Creation, deixando Alan como mera peça de decoração, Segundo, todas as indies passaram a sofrer assédio das grandes gravadoras, e todas foram obrigadas a procurar e trabalhar "novos Oasis", Terceiro, o espaço para bandas como Primal Scream acabou. Seus discos começaram a ser muito mal trabalhados, e o Jesus and Mary Chain chegou a ser demitido. E chegamos então a situação de hoje, a pulverização da cena e a transformação do público em nichos que mal se tocam. 
   É um final melancólico e desde o Oasis ( que não tem culpa e sofreu com o processo ), apenas o Coldplay conseguiu entrar no mercado da América. A Inglaterra jogou fora N bandas que poderiam ter tido uma longa carreira e em troca ganhou o Coldplay.
   Chato né?

 

MATISSE, UMA VIDA- HILARY SPURLING

   A vida de Henri Matisse foi uma luta sem trégua entre aquilo que ele era e aquilo que ele fora educado a ser. Mas não só isso. Há um mistério em sua tenacidade, em sua força e nesse sentimento de missão que o guiou. Missão longe de qualquer sentido mistico, Matisse é o mais materialista dos pintores, mas missão em relação a cor, a linha.
   Nascido no norte francês, familia de trabalhadores bem situados, o jovem Matisse recebeu do pai o sentimento de que na vida tudo se ganha no rigor do trabalho duro. Apesar de romper com o pai, Matisse ficará sempre em cima do muro. Ele será pintor, algo que o pai não quer, mas jamais deixará de ser um trabalhador aplicado, a pintura lhe dará dor, exigirá esforço, luta. Em sua cidade ele será motivo de vergonha. O povo do lugar o irá ver como um idiota, um fracassado. Vai para Paris, estuda pintura e só consegue se encontrar após os 30 anos. O sucesso, depois dos 35.
   Eu ainda sou da geração que cresceu considerando Matisse o pintor da burguesia e Picasso o gênio radical. Os dois sempre foram rivais e colegas que se respeitavam. Foram os seguidores de Picasso que pregaram no francês o rótulo de conservador. Hoje não se pensa mais assim e esta biografia mostra porque. O fato é que Matisse foi sempre tão ansioso e individualista como o espanhol, a diferença é que Henri Matisse sempre foi um grande colorista, talvez o maior da história, e isso fazia com que sua pintura pudesse ser aceita mesmo por aqueles que não suportavam a pintura moderna. Eles nada entendiam de Matisse, mas gostavam daquele azul ou daquele rosa. O que os seguidores de Picasso não sabiam, ou não queriam saber, é que Matisse passava fome para não ter de ceder, jamais pintou algo que não brotasse de seu sentimento e entre 1910/1920, foi o mais odiado dos modernistas.
   Pessoa estranha era Henri. Desde sempre dado a dores psicossomáticas, a terríveis crises de ansiedade, insônia e depressão, hoje ele seria medicado com facilidade e talvez sua arte se fizesse menos sensacional e mais bem dirigida. O que seria uma pena. Ele pintava para aliviar seus nervos, cada obra era um parto. O prazer passava longe de sua atividade. 
   O que o marcou foi ter dito que desejava que seus quadros fossem como poltronas confortáveis para o homem cansado. Essa frase causou a ira dos modernos que queriam que quadros fosse desafios e bombas destruidoras. O que Matisse queria dizer é que PARA ELE os quadros eram confortos nascidos depois de luta e dor atroz.
   Ele se casou com uma filha de familia admirável. Talvez a melhor história do livro, a familia da esposa era muito ligada a uma familia riquissima da França. Essa familia entrou num longo processo em que pedia a justiça o ganho num caso contra familia americana que reinvidicava a herança de um milionário de lá que deixara tudo para os franceses. Após anos de disputa, o tal cofre do milionário, depositado em banco de Lyon, é aberto, e nele há um charuto e um lenço. Apenas isso. Se descobre que nunca havia existido o tal americano rico, nem um rival disputando o cofre. O pseudo rival era filho da familia francesa. Tudo fora um golpe. Com a publicidade da disputa a matriarca conseguira emprestimos gigantescos e fugira para a Espanha! Matisse, casado com a melhor amiga da pilantra, precisou botar panos quentes em tudo...
   Felizes no casamento, com filhos, Margueritte, a filha mais velha, vai ser uma figura heroica. Doente por toda a vida, conseguira' ser feliz, conhecida, e vai lutar na resistencia contra Hitler, sendo inclusive torturada pela Gestapo. E resistindo.
   Matisse era duro. Sua vida era a pintura. E sua familia vivia ao redor disso. Viajou pela Espanha, Argelia, EUA, Tahiti. Morou em Nice. E aos 70 anos renasceu. Os ultimos oito anos de Matisse correm em facilidade. Ele consegue pintar sem luta, consegue relaxar, enfim.
   O livro, detalhado, imenso, nos faz viver ao lado desse homem que passou por 3 guerras contra a Alemanha. E sobreviveu a todas. Foi abandonado pela esposa aos 65 anos. E continuou. Pintou belas modelos nuas. E nunca as tocava. Nunca bebeu. Se parecia com um banqueiro. 
   E pintou algumas das mais radicais imagens do seu tempo.
   Depois de 600 paginas a pergunta continua: Quem foi Henri Matisse?

BLUE JASMINE/ WOLVERINE/ UM DIA EM NY/ CANTANDO NA CHUVA/ JOSH

   BLUE JASMINE de Woody Allen com Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin
Dizer que todo o elenco está ótimo é chover no molhado, todo filme de Woody tem grandes atuações. Cate Blanchett chega ao milagroso, sua Jasmine tem uma tensão bergmaniana. Penso ser o melhor desempenho feminino desde Helen Mirren fazendo a rainha Elizabeth. A história é uma adaptação de Um Bonde Chamado Desejo para os dias de hoje, ou seja, Blanche seria mais consumista e Stanley menos viril. ( Aliás o filme me deu uma vontade doida de rever o filme de Kazan com Brando e Vivien Leigh fazendo misérias ). Para quem não viu e não aguenta mais as repetições de Woody um toque: o filme nada se parece com um tipico Woody Allen. É drama duro, forte, trágico, Allen não tem pena da pobre Jasmine. Esqueça o humor, esqueça a doce vida dos ricos neuróticos, é um drama pungente. Pobre Jasmine!!! Não há lugar para ela num mundo que ela sempre ignorou. Nota 7.
   LIGADOS PELO AMOR de Josh Boone com Greg Kinnear, Jennifer Connely, Lily Collins
Como um dia foi Jack ou Ted, Josh é hoje o nome da moda nos EUA. Cool... Então o diretor, Josh, ganha o troféu de Josh de uma ano cheio de Joshs. O filme, uma bobeirinha delicada sobre uma aluninho de escola cool tãaaaaao sensível e apaixonado!, é de uma imbecilidade joshiana. Nota ZERO.
   UM DIA EM NOVA YORK de Stanley Donen e Gene Kelly com Gene Kelly, Frank Sinatra e Ann Miller
Exuberante! A primeira direção da dupla é baseada num show histórico de Leonard Bernstein e Jerome Robbins. Filmado nas ruas de NY, com uma energia viril contagiante, mostra 24 horas na vida de 3 marujos em licença. Uma obra-prima. Nota DEZ!
  CANTANDO NA CHUVA de Stanley Donen e Gene Kelly com Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O`Connor, Jean Hagen
Dizer o que? Tem alguns dos melhores e mais famosos momentos de toda a história do cinema. Impressionante ele não ter ganho o Oscar de melhor tudo. NOTA MIL !!!!!!!
   SR E SRA SMITH de Alfred Hitchcock com Robert Montgomery e Carole Lombard
Hitch estava na companhia de Selznick e resolveu fazer um filme com sua amiga, a grande Carole Lombard. Um veículo para essa brilahnte comediante ( que morreria em desastre de avião na sequencia ), é o menos tipico dos filmes americanos de Hitch. Marido e esposa descobrem que na verdade seu casamento foi ilegal, estão solteiros de novo...Nada de especial. Alguns movimentos de câmera são puro Hitch. Nota 5.
   WOLVERINE IMORTAL de James Mangold com Hugh Jackman
Mangold é o bom diretor de N filmes dos mais variados estilos. Ou seja, é um profissional a moda antiga, se exercitando em tudo quanto é gênero. Fez um bom western, uma ótima bio, bons policiais...e esta filme cartoon. Sério, sério até demais. É um bom filme, mas falta um bocado de ação. Nota 6.

HONRA A HISTÓRIA ( HISTORY CHANNEL )

   Se Atenas e Esparta não houvessem se unido, e vencido os persas que tinham 4 vezes mais homens, eu não estaria aqui. Porque então não teria havido Roma e nem latim e nem Portugal, ou este Brasil. A ideia de democracia, o teatro, e o cristianismo. Eu não seria eu porque os valores deste mundo seriam orientais, zoroatristas, animicos e alquimicos. Tudo seria outra coisa. 
 Se a história da cristandade não tivesse sobrevivido, se Paulo não sobrevivesse para carregar os textos, eu não estaria aqui. Pois não teria acontecido o milagre de um exército tomar o poder sem uma arma. Uma filosofia ter se afirmado entre analfabetos e miseráveis. Ainda teríamos a coragem e a bravura como bens maiores. E mal saberíamos o que é amor, perdão e caridade. Sacrificaríamos inimigos, não teríamos a dualidade entre alma e corpo, e nosso pensamento seria bem mais simples. E eu não seria eu, porque mesmo tendo crescido ateu meus valores eram E SÃO cristãos sem que eu o soubesse.
 E se em Veneza não tivesse sido criado o capitalismo eu também não seria eu. Pela primeira vez se criou uma casta de banqueiros e especuladores. Gente que era rica por ter capital e não pelas armas ou o trabalho. E esse ócio cheio de ouro financiou a arte, a ciência, e principalmente as navegações e os livros. A América seria um dia descoberta, mas não explorada. E os livros continuaram presos aos padres e aos eruditos. Eu não seria eu.
 Essa série do History Channel, Humanidade, a história de todos nós, ela dá muito o que pensar.
 E eu não estaria aqui, se a maldita peste negra tivesse durado só mais dois meses. Dois meses e o mundo ficaria restrito a América e a Oceania. E eu, com certeza, não estaria aqui.
 Por isso presto homenagem aos gregos democratas, que votando resolveram não se render, e lutar. E vencer.
 Homenageio os venezianos que usaram seu dinheiro em arte e conhecimento e não em mais guerra.
 E procuro ser digno daqueles cristãos que morriam sorrindo, espalhavam uma nova fé e trouxeram a ideia de uma vida justa onde todos são filhos do mesmo pai.
 E presto graças a sorte, que deixou a história prosseguir e não fez com que fôssemos vencidos por uma bactéria, uma pulga e um rato.

ROD STEWART / RONNIE WOOD - EVERY PICTURE TELLS A STORY - LIVE



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EVERY PICTURE TELLS A "CAXINGUI"STORY ( DARLING )

   Uma prima me conta que tem em casa 4 fotos minhas. De quando eu tinha 3 e 4 anos de idade. O mais importante, essas fotos são as únicas existentes onde estou no meio da "minha paisagem", meu bairro, o Caxingui mitológico e idílico de mais de quarenta anos atrás. Surpresa! Pego as fotos e tenho um tipo de pancada-trans-abismal na cabeça: Deus! Era tudo verdade!
   Lá está o imenso campo sem fim, sem uma árvore, um campo plano, verde e alto, um tipo de platô de onde se podia ver a avenida Paulista lá longe e a névoa vinha envolver tudo em cores esmaecidas. A foto mostra a linha da Paulista ao longe e uma paisagem sem fim. Então é verdade, esse é o ambiente que me formou. Espaço, espaço sem fim. Solto, livre, um céu que nunca acaba, nuvens, aviões que parecem passar tão baixo, mato, cobras, vento. E na foto, pequeno eu ( sim, este é um texto masturbatório ), uso, aos 3 anos, uma maravilhosa camiseta de listras horizontais!!!!
  A gente é isso.

UMA VIDA QUE NÃO PODE MAIS SER VIVIDA...

    Tenho um amigo, não, não é Fernando Tucori, que me escreve dizendo que a vida que foi vivida por Iggy Pop ( ele me diz que queria renascer como Iggy, e eu lhe digo que então ele é um cara de coragem ), é uma vida hoje impossível. Não há a minima possibilidade de se ter uma vida como a dele e como a de toda a fauna a seu redor.
   Penso, temo que, ele esteja pensando o óbvio, a AIDS. Mas não. O que acontece é que perdemos o direito de sermos ofensivos. A ofensa se tornou uma coisa inofensiva ou burra. ( E me desculpe o inofensivo com ofensivo ).
   A turma de Andy Warhol viveu em absoluta liberdade e escândalo num tempo em que nobody vivia assim. Eles rearrumaram aquela coisa anos 20 para os anos 60 ( e os anos 60/70 são uma reedição dos anos 20 em chave POP, ou voce nunca notou que Cocteau, Picasso e Joyce vivem nas aventuras de Andy, Lou e David? ). Mas a turma de Andy foi a primeira a reviver os anos 20 em chave POP, usando video, TV, rock e moda. Como refazer isso hoje?
   Bowie foi o primeiro cara a nada ter a ver com o estereótipo do rock a conseguir ser um rock star. Ele não rezava a cartilha que segue os passos do rebelde da estrada, do caipira country, do blues, dos ingleses sonhando com Elvis. Ele é um ator que interpreta um rock star. Como repetir isso se hoje mesmo sem saber TODOS são atores, bons ou canastrões, brincando de ser Bowie, Dylan, Iggy ou Bolan. E como chocar alguém com androginia, drogas ou frases libertárias se nada mais há para se derrubar? A não ser que voce seja um idiota e choque pela via da ignorância, tipo falar bem de Hitler ou ser a favor de Bin Laden. Mas aí não é arte, é propaganda apelativa ou um caso psiquiátrico.
   Entre 60 e 80 o mundo viveu 20 anos de sexo sem medo. A sifilis se tornou curável, a gravidez podia ser evitada e a AIDS não existia. Pela primeira vez o sexo não se parecia com risco ou com causa de morte. Não mais baby. A doença mudou tudo e não a toa os bobinhos assexuados do rock higiênico surgem nesta época de covardia. Um Iggy pra valer, agora, seria falso. Tudo o que ele fizesse seria sombra de um saudosismo oco. Iggy apanhando no Texas de um bando de caipiras ( isso aconteceu em 76 ), seria hoje um fato de internet, seria visto por milhões e as vendas iriam disparar. O perigo rimando com lucro não é mais perigo, é Jackass. É um business.
   Candy, Cherry, Joe, Edie, Amanda, Wayne e Jim? Como? Never more...
   Quando voce sai hoje, voce sai para encontrar o perigo que inspira? Ou voce sai só pra detonar? Voce sai para ser livre? Ou só para dar uma trepada?
   Por isso nunca mais meu amigo. Entendo então sua frase. A geração de Andy ainda podia sonhar e com Lou ainda podia ter magnificos pesadelos. Música ainda era uma alucinação ( e eu alucinei muito com Low ). Agora música é apenas música. Boa, ruim, ótima, genial, mas existe apenas em seus 4 minutos de execução. Depois a gente deixa pra lá.
   15 minutos de fama para todos. Andy, voce foi genial ao intuir isso!
   Iggy existirá por 15 séculos.
   Ou mais.
     Ch ch ch ch Changes!
MÚSICA, VOCE SABE, NÃO É APENAS UM SOM, É ALGO COMO UM TIPO DE ALUCINAÇÃO.....

iggy pop, 1977.

IGGY POP - LUST FOR LIFE - LIVE 1977 (Manchester)



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fun time, iggy pop & david bowie



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OH YOU PRETTY THINGS...

   Magistral, maravilhosamente bem escrito, viciante, obrigatório para todos que gostam de rock, e muito, muito melancólico... 
  Falo mais do livro abaixo, mas agora ( acabo de terminar sua leitura ), fica um gosto azedo na boca. Porque o livro é um belo romance acima de tudo, uma história real e romantica, uma história que traz a nossa cabeça, a nós romanticos-roxy-incuráveis, uma sensação de que Bowie, Lou, Iggy, Cale, Patti Smith, Marc Bolan, Nico, não realizaram nem metade daquilo que podiam ter feito. E não porque eles se drogaram demais. O livro deixa claro que se Lou não tivesse caído de boca na vida sua arte seria outra. Idem para Iggy. O excesso e a droga era parte de seu ser. Não é isso. O amargo vem da certeza que o livro passa de que a vida é limitada, de que não se pode, ninguém, realizar todo seu potencial. E lemos então o monte de planos que Bowie não conseguiu realizar. Seus fracassos gigantescos, sua falência financeira ( tudo em 1974 ), a colaboração com Marc Bolan que nunca rolou, a briga terrível com Lou Reed, a partida de Mick Ronson...
   Mas também existem os sucessos. A mágica ida a Berlim, Iggy, David e Eno descobrindo a cidade, o submundo, as boates de dragqueens, o clima do filme Cabaret. O disco com o Kraftwerk que quase rolou, as gravações de Idiot e de Low, os discos que mudaram o mundo da música para sempre. Ambos gravados por Iggy e David juntos.
   Os excessos de Iggy. Os Stooges prontos para estourar e Iggy destruindo tudo com cenas de sangue, mutilação, ofensas dirigidas a platéia, apanhando do público, se fazendo de a banda mais odiada do mundo. E Bowie o salvando, Iggy que chegou a roubar comida para poder viver ( em 1975... ) As orgias com meninas de 15 anos...
   E Lou...o cara que mostrou ser possível ter uma carreira sendo aquilo que voce é. Mergulhado em perversões, drogas, brigas, falando sempre o que não devia ser dito... e sempre indo em frente...
   O livro acaba em 1980. Que é quando a carreira dos 3 se congela. Lou Reed está por baixo, e Bowie o chama para conversar. Ele quer fazer, mais uma vez, um disco de renascimento, como foi Transformer, para aquele que é afinal seu mentor. Alguns jornalistas vão ao encontro, num restaurante, os dois estavam brigados a anos. Conversam amigavelmente, parece que o disco vai sair...Mas de repente Lou espanca Bowie e grita com ele...E o encontro vira uma briga onde várias pessoas os separam. Porque? Porque Bowie tocou no único assunto que Lou não admitia: pediu para ele parar de detonar antes de começarem as gravações. Lou se foi...Bowie partiu para Lets Dance...
  Dave Thompson escreve então a última frase do livro, e aí vemos como ele escreve bem:
  "David Bowie foi atrás de Lou Reed, e de Iggy também, exatamente porque os dois tinham a ira, a coragem e a audácia que o jovem Bowie tanto admirava. E as drogas faziam parte de todo esse pacote. Pedir para deixar isso de lado era como uma traição aquilo que Lou era. Hipocrisia.
  Voce tem de ler este livro. Ele vai grudar em voce. Apaixonante...