AMOR BANDIDO/ BANG BANG/ AVA GARDNER/ WOODY/ KIRK DOUGLAS

   BANG BANG de Andrea Tonacci com Paulo César Pereio
Cinema marginal. Feito em 68, mostra de forma muito livre a saga de um homem só. Mas não. Cenas aparentemente desconexas. Godard mais Bellochio. A cena no táxi é antológica! Pereio mata a pau. Cinema novo o escambau, o lance é o cinema marginal! Tem uma cena em que eles fazem um zapp pelo rádio am. Toca Beatles, Stones, Byrds e Simonal. Bons tempos. Nota sem nota talvez não quem sabe?
   O GRANDE PECADOR de Robert Siodmak com Gregory Peck, Ava Gardner, Melvyn Douglas e Walter Huston
Asfixiante e desagradável drama sobre o vicio do jogo. Tudo gira ao redor da roleta. Peck, que está bem, se vicia por causa do amor por Ava, que o ama porque o faz jogar. Huston é o pai de Ava, outro viciado. Douglas, excelente, não é viciado, é dono do cassino. Ava nunca esteve tão bonita! Nota 6.
   SUA ÚLTIMA FAÇANHA de David Miller com Kirk Douglas, Gena Rowlands e Walter Mathau
A capa do dvd o anuncia como o filme favorito da carreira de Kirk. Apesar de passado em 1962, Kirk insiste no filme em ser um cowboy. É um simplório, nada tem de heróico. Vai para a prisão de propósito para salvar um amigo que lá se encontra. Mas o amigo não aceita fugir com ele. Então ele foge sózinho. Todo o resto do filme trata de sua fuga da policia. Helicópteros e rádios atrás de um homem e seu cavalo montanha acima. O fim é dos mais tristes e dolorosos que já vi. O filme é estranho. Enquanto voce o vê parece apenas ok, quando acaba voce está muito tocado... Nota 7.
   AMOR BANDIDO-MUD de Jeff Nichols com Mathew McConaughey, Reese Witherspoon, Sam Shepard e Tye Sheridan
Estreou esta semana e eu pensei que não passaria por aqui. Se passa na zona caipira dos EUA. Dois garotos encontram um vagabundo numa ilha. Ajudam o cara a sobreviver e vão descobrindo que ele é um foragido da lei. Ao mesmo tempo vemos a vida, dura e solitária, do adolescente. Mathew, ótimo, é o foragido. Ele sempre foi ótimo como galã, se torna cada vez mais um bom ator. Reese está sexy. E Tye, o teen, convence muito. O filme não é ótimo, mas está longe de ser vulgar. Uma mistura interessante de Houve Uma Vez Um Verão com O Mensageiro. Bacana. Nota 6.
   UM ASSALTANTE BEM TRAPALHÃO de Woody Allen com Janet Margolin
O primeiro filme de Woody como diretor. Mal feito. Tem erros de edição e um roteiro caótico. Cenas muito sem graça. E duas ou três muito boas. Aquela dos fugitivos amarrados é soberba. Ele é um ladrão. Rouba, casa, é pego, foge... Como ator Woody era bem mais simpático. Nota 5.
   A MÚSICA NUNCA PAROU de Jim Kohlberg
Esse acho que não vai passar por aqui. É uma história real. Um cara tem tumor na cabeça. Opera e perde toda a memória. Ficamos sabendo que ele é um ex-hippie que fugiu de casa a mais de 30 anos. Os pais cuidam dele e uma médica observa que ele volta a ser ele-mesmo ao ouvir o hino francês. Mas não é o hino que o toca, é All You Need is Love... O que acontece? Ao ouvir músicas dos anos 60 ele volta a ser ele-mesmo em 1970. Pensa ser um hippie e a achar que tudo está em 66/70. Isso faz com que feridas vividas com o pai sejam reexaminadas e os dois acabam por ir a um show do Grateful Dead...o livro em que o filme se baseia é de Oliver Sacks. A direção é quadrada, parece ser um telemovie. Mas o tema é fascinante! Nota 5.
   O VERMELHO E O NEGRO de Claude Autant-Lara com Gerard Philipe, Danielle Darrieux e Antonella Lualdi
Um autor morre uma vez em vida e milhares quando assassinam sua obra. Que filme ruim!!! Nada lembra a obra maravilhosa de Stendhal. Os personagens falam e falam e falam...Quando crítico de cinema, Truffaut destruiu este filme a até levou ao pessoal seu ataque a Lara. Com razão. O filme é uma coisa pesada, chata, velha, morta. Mais um erro dessa coleção de dvds da Folha. Nota ZERO!
   MÚSICA DA ALMA de Wayne Blair
Interessante saber que até 1967 os aborígenes eram considerados na Austrália não-gente. Eram fauna. Este sucesso da filmografia aussie fala de uma girl group formada por aborígenes que vai cantar soul music para os soldados americanos no front do Vietnã. Atenção, é uma história real. Mas, sinto dizer, o filme é sem emoção, frio, chato até. Nota 3.

DIEGO COSTA E O QUE É SER UM PATRIOTA

   Com toda essa coisa do jogador que escolheu a Espanha vem a tona a questão do que é ser brasileiro hoje. Mais que isso, o porque de ninguém estar mais disposto a morrer e matar por um país. ( Mata-se por uma religião ou por vingança pessoal- Iraque, Palestina, Afeganistão...)
   Eu amo o que restou do meu bairro. E amo os valores e o estilo de vida que nele existiam. Não amo a cidade que hoje existe e muito menos o way of life paulistano. Jamais seria voluntário numa guerra por SP, muito menos pelo Brasil. Mas eu mataria e morreria para defender a Serra do Mar de fazendeiros e o mesmo faria por Butantã e Caxingui- de eles ainda existissem- e grifo essa questão.
   Estou lendo a bio de Robert Capa, e já adianto que é a melhor bio que li na vida. De todas as páginas eletrizantes, as melhores são aquelas sobre a guerra civil da Espanha. Morrer alegremente por um estilo de vida. Os homens morriam e matavam na absoluta certeza da missão cumprida, a defesa de seus antepassados e todo um sistema de valores. De seu chão. Hoje isso não mais existe. Vou defender uma cidade que não reconheço como minha? Um lugar que em nada lembra as ruas e lugares que eu amava? Eu já perdi essa guerra para o progresso. Gente estranha vive onde viviam meus amigos. A cidade esqueceu de minha passsagem, morreu para meus passos. Vou morrer pelo que não mais conheço?
   Eu seria voluntário para defender valores que me são vitais. Mas eles já foram perdidos. O que me resta é lutar pelo pouco que sinto ser meu. um animal, meu bairro, a Serra, uma praia.
   Ser brasileiro ou ser francês se torna assim um problema. Como vou lutar por Alphaville que nada tem a ver comigo? Me sinto em casa na Torre de Dona Chama, norte de Portugal, fronteira espanhola, mas me sinto um estrangeiro no Tatuapé. E antes que pensem em esnobismo, me sinto muito estrangeiro em Lisboa.
   Não me venham então falar em patriotismo. O jogador escolheu o lugar onde lhe deram valor. Ele defenderá seus amigos e sua familia, familia que hoje tem vida melhor graças a seu trabalho na Espanha. O que sua Sergipe natal lhe oferecu? Nada.
   Sou estrangeiro em Manaus, tanto como em Belgrado. Não gosto da comida, não gosto do clima e mal entendo a lingua. Mas conheço Miami mesmo sem ter ido lá. Gente como eu sente que New York e Londres são nossas. Mas essa New York e essa Londres deixou de existir lá por 1960. Paris faleceu, mas Roma é pra sempre. Eu lutaria pela Londres da Segunda-Guerra, lutaria contra Hitler, seria voluntário contra a escravidão. Daria tiros em navios que pescam baleias. Mas jamais mataria um argentino que lutasse contra o Brasil por uma questão de fronteira. Jamais.
   Minha pátria é onde se registra minha história. É onde vive quem eu amo. Lugares que me formaram. Cantos seguros. Onde eles estão?

COMENTANDO ARNALDO JABOR

   Arnaldo Jabor foi a Veneza e escreveu um texto ótimo. Ele fala de sua visita a museus por lá e depois a Bienal que acontece agora. Tintoretto, Picasso e os Zés de 2013. Jabor conclui que a arte perdeu o porque. Ela continua querendo chocar a tal classe média e conscientizar as massas. Mas, bem diz Jabor, expor um cavalo morto choca alguém? Diante de 10 minutos de qualquer telejornal, a arte consegue ainda mexer com as sensações e despertar indignação? Claro que não. Se a Primeira Guerra assassinou nosso otimismo e se Hitler destruiu nosso conforto, as Torres Gêmeas detonaram tudo aquilo que pode ser pensado em termos de "performance". O grande horror ao vivo em cores. Mas os artistas continuam nessa, tentando produzir horror, perturbação, choque. Pra que? Já estamos horrorizados. A Grande arte seria conseguir sair desse horror sem ser irônico ou criançola. Como? Cabe aos senhores artistas fazer. Se conseguirem.
   Jabor fala da profunda coragem e alegria que havia em Picasso ou em Pollock. Que mesmo ao retratar pesadelos e dor percebíamos a fé na arte, uma esperança no futuro, a certeza em si-mesmo. Estranho esse texto me lembrar disso. A alegria misturada a dor. Tesão puro pelo ato criativo. Exatamente o oposto da depressão. Um desespero por fazer, excesso de energia. Urgência, isso era a arte até a Pop Art. E agora?
   Fácil levar esse pensamento ao cinema. Bergman é a dor bruta e a falta de sentido. Mas ele ainda crê na beleza, na mulher, e em si-mesmo. Assim como Dreyer ou Tarkovski, na aridez e no desespero se encontra a poesia ou a chance de transformação. Mas o que temos agora? Dor que virou maneirismo, dor pela dor, cenas para chocar, a verdade da violência, sangue, taras, neuras e sexo mecânico...Bullshit! Tudo uma grande brochada de artistinhas que nada têm a dizer. Filmes que são lixo mas que todo crítico faz força para gostar, pois atacar esse cinema "consciente e real"seria confessar seu direitismo ou sua falta de consciência. Pois eu repito, tudo Bullshit! Arte antes de tudo é habilidade em fazer, coisa que está muito em falta nas telas, seja em galerias seja em salas de cinema. Tudo tem de ser dark, pesado e doente, para assim poder ser relevante. Relevantinho seria melhor dizer. Na verdade é um modo de disfarçar uma terrível falta de assunto.
   Nessa vontade burra de chocar, a arte perde cada vez mais relevância. Pois diante da noticia de uma criança assassinada ou das cenas de uma explosão terrorista, nada pode parecer mais dark, soturno ou cruel que a tela da TV. Todos sabemos da realidade, a arte deve nos exibir algo mais, algo diferente, vivo, original, transformador. Como fez um dia Michelangelo. Ou Picasso.
   Onde?

UMA RESPOSTA A QUEM NÃO GOSTOU DE MEU TEXTO SOBRE LOU REED ( E SIM, SOU UMA CONTRADIÇÃO )

   Escrevem dizendo da influência nefasta do Velvet e de Lou Reed sobre o rock. De que assim como Dylan, eles estragaram o rock ao deixá-lo pretensioso. OK. Vou deixar as coisas claras.
   Adoro todos os discos do Velvet Underground, menos a faixa All Tomorrow Parties. E de Lou penso que Transformer é imbatível. E gosto pacas de New York, Songs for Drella e bastante de Coney Island Baby e de algumas músicas de álbuns diversos. E concordo, a influência deles é nefasta. A primeira leva de influenciados ( Bowie, Roxy, Iggy ) é genial, mas a partir do Television a coisa começa a ficar hiper deprê. Basta dizer que na década de 80 os Velvets eram considerados maiores que Stones ou Who e tão fundamentais como Beatles. Não por acaso é a década da depressão. 99% das bandas influenciadas por Lou que citei estão longe de minha preferência. Como acontece com o Led Zeppelin, outro ícone que deixou nefasta herança, Lou não tem culpa por seus filhotes. A turma dos desesperados soturnos que vá se curar.
   Mudei nesses anos. Após passar meu desbunde pelo Velvet revalorizei a black music e lembrei de dançar. E prefiro hoje ser um hippie utópico que um niilista inutil. Conheci bandas como Love, Flying Burrito, Soft Machine, The Band, que são tão boas e tão influentes ( o The Band mais ) que os Velvet. Claro que sem o chique citadino glam dos Velvet...
   Meu amor e minha tristeza é pelo cara que esteve no Velvet e fez Transformer ( que é tão de Bowie e Mick Ronson e Tony Visconti quanto de Lou ). Quanto ao  fato de Lou Reed ser um sacana ruim invejoso e mau...So what?
   Falei.

UMA CARTA PARA LOU

   Eu nunca consegui ser Mick Jagger. Nem mesmo Rod Stewart ou Iggy Pop. Mas voce Lou Reed me revelou que eu podia ser o que eu era. Uma fauna havia pelas ruas. E o lance era saber ver/ saber olhar. E todo mundo nascia, todo mundo um dia ia morrer, mas muito pouca gente vivia. Naquele tempo o Paulinho Boca de Cantor cantava "Quando eu pirar pra lá de Lou Reed". Mas voce nunca pirou! Sua esquisitice, que era muita, estava sempre sob controle. Sua estirpe era a de gente como Bogey. Frio debaixo de uma enorme pressão. Aliás na real voce não tem canções confessionais. Escreve como autor de livro policial. Conta um conto, voce estava nas entrelinhas.
   Diziam que voce era um chato. Marrento, vaidoso. E daí? Quem não é? Uma riqueza interior imensa dá de troco uma dificuldade em ser e estar. Caramba Cara! Gente como voce devia viver pra sempre! Mas talvez a coisa já estivesse concluída. Como diz o Bardo "Devemos uma Morte para a Vida." Voce pagou sua dívida ontem.
   A Factory....o sonho/pesadelo de todo artista destes tempos frios. Usina de produtos que eram arte-empacotada como ironia ao mundo. E a trilha sonora era sua. Viva, Dalessandro, Andy, Jim, John, Nico, Mary, Stirling, Maureen, Paul.... Moda, imagem, parecer ser, ser ao parecer, a imagem como fim...Voces inventaram o mundo das virtualidades, Parecer sendo mais importante que Ser. POP.
   Como alguém como voce morre? A serenidade terá vindo? A nova sensação? O anjo secreto do fim? Ou foi a escuridão suprema e vencedora? Andy está aí? Quando Bowie irá?
   Eu larguei as ruas Lou. Elas se fizeram cinzas. Não têm mais o compromisso do preto. É um tempo de ocres, de pastéis. Tudo o que Rauschemberg não queria. Por falar nisso, já achou Keith e Basquiat por aí? O céu é grafitado? Ele tem um Wild Side?
   Sinto sua falta.
   PS. Agora para nós que ficamos faz mais sentido cantar Satellite of Love.
   Amor, Tony Roxy.

A Walk On The Wild Side



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LOU REED, MEU HERÓI

   Todo mundo morre baby, alguns não vivem. Oh God, Lou Reed também morreu!
   A história de Lou em minha vida está toda viva em minha memória. Isso porque eu o conheci já aos 18 anos. Até então, naquele mundo sem internet, eu vira fotos de Lou e sabia do Velvet, mas não tivera a chance de ouvir. Então, em 1981, eu e meu irmão compramos no Museu do Disco, sábado de noite, no Iguatemi, White Light/White Heat. Eu era então um fã de Hendrix, Stones, Traffic, meu irmão, mais antenado, era de Clash, Police e B`52`s. Nossos gostos não batiam. Mas o Velvet nos uniu. Porque aquilo era arte, mas também era punk. Era muito simples, e também muito sofisticado. E tinha a arrogância corajosa do verdadeiro talento. Minha vida mudou naquela noite. Lembro de ter criado em minha cabeça a ideia de que ser um maldito podia ser bom. Comecei a me vestir de preto, e o principal, nada mais me parecia louco o bastante. Perto do lado 2 deste disco, tudo parecia pop. Tive viagens memoráveis ouvindo o disco inteiro, noite após noite. E o melhor de tudo, nada era menos hippie que Lou. E súbito eu me fiz um anti-hippie. Um mundo de arte avant-garde se abriu para mim. O Velvet ia do dadaísmo a arte-pop, de John Cage a Stockhausen. Perto deles os Stones eram castos, os Beatles hiper-conservadores e Zappa um chato.
   Esse meu desabrochar ingênuo me levou a bad trips e a um tipo de niilismo insuportável. Mas logo passou. E então descobri Transformer e o que era bom ficou melhor.
   Nestes anos de Trombone com Vara devo ter falado duas vezes de "melhor disco da história". Dei esse título a Low de Bowie e me contradisse ao lembrar de Exile on Main Street dos Stones. O mais constante em meu coração é Transformer, porque ele mistura os dois, Low e Exile, e ainda oferece algo mais. A ironia glitter. O disco tem rocknroll como Exile, guitarras rascantes e razantes como Keith, mas também tem aquela coisa fria e sob controle de Bowie e o som chique, limpo, sexy e noturno que Lou desenvolveu na época. De Vicious até Good Night Ladies, tudo lá é arte, é rock, é glam e é ironia. A capa de Mick Rock, a guitarra de Mick Ronson, os backing vocals de Bowie, tudo é superlativo. Como diria Ezequiel Neves, "descaralhante"!
   Foi o disco que abriu o caminho para o nascimento de minha persona TONY ROXY. As noites no Satã, vodka e lixo, eram Transformer.
   Falar dos filhos do Velvet e de Lou? Quantas laudas? De Television a Joy Division, de Cars a Roxy Music, de Smashing Pumpkins a Talking Heads, Cowboy Junkies e Echo, Jesus and Mary Chain, Ultravox, Suede...Bandas de preto, moços contidos e cool, baladas com sons desafinados, barulho, confusão, escuro, niilismo e poesia, muito noise...Sonic Youth, Pixies....
   Meus amigos sempre piravam quando eu lhes tocava The Gift ou Waiting from my Man...ou viravam fãs ou abominavam. Mas nunca a indiferença. Mal eu sabia que a reação era a mesma em todo o mundo. E que, como disse um repórter da Rolling Stone em 1981, pareceu sempre que os poucos caras que ouviam Velvet Underground montavam sempre uma banda. Porque Lou nos liberava, fazia com que a gente botasse tudo pra fora, pirasse a caísse na estrada.
   Lou agora foi pro céu de Rimbaud, de Poe e de Leadbelly. 
   E a gente fica aqui. Waiting From My Man... 
  



Velvet Underground - I´m Waiting For The Man



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BEATLES

   Chapante esse doc sobre os Beatles que postei abaixo.
Veja!

Beatles Stories (Doc)-parte 1



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PETER JACKSON/ A BELA ADORMECIDA/ ISABELLE HUPPERT/ WC FIELDS/ JOHNNY DEPP

   INFERNO NO FAROESTE de Roel Reiné com Mickey Rourke, Danny Trejo e Anthony Michael Hall
Talvez seja o pior filme deste século. Uma gororoba que mistura western, inferno, muitos palavrões e aquela coisa de macho que só Peckimpah e Tarantino conseguem fazer. Rourke joga sua carreira no lixo pela segunda vez. Faz o papel do Demo. O filme tem acordes de guitarra mexicana, milhôes de cortes por minuto e mulheres bonitas com cara de 2013 em pleno século XIX. ZEEEEEEROOOOOOO!
  UMA AMOR TÃO FRÁGIL de Claude Goretta com Isabelle Huppert
Uma menina tímida vai passar férias na Normandia com uma amiga. Lá ela conhece um estudante. Namoram. Mas tudo dá errado. Isabelle Huppert, muito jovem, aparentando ter 15 anos, está em casa, faz aquele tipo triste e isolado que se tornaria sua especialidade. Gordinha, ela tem cenas de nú simples e naturais. Foi aqui que ela se revelou. O filme é bonitinho e pode dar tédio. O suiço Goretta desapareceu nos anos 80. Nota 5.
   MADRE JOANA DOS ANJOS de Jerzy Kawalerowicz
É considerado um clássico do cinema polonês. Na época medieval, um jovem padre vai exorcizar um grupo de freiras que foram possuídas por Satã. Ele deve se mudar para o convento e as salvar. O diretor usa a técnica de Dreyer, crê no que mostra, as imagens se tornam quase documentais, belas de tão austeras. Voce não tem escolha, ou fica bocejando ou embarca fundo naquele mundo de horror. Nota 6.
   THE LONE RANGER de Gore Verbinski com Johnny Depp, Armie Hammer e Tom Wilkinson
Gore Verbinski fez O Ratinho Encrenqueiro. E apesar de seus sucessos com O Pirata do Caribe e que tais, O Ratinho é seu melhor filme. Porque Gore nasceu para fazer cartoon e isso fica provado aqui. Massacrado pelos críticos, injustamente, este é um bom filme se for visto como um cartoon. E cartoon, quando bom, é uma maravilha. Este não é um bom cartoon, é um cartoon ok. Mas nunca é chato. Diverte e até faz rir. Porque fracassou? Por ser um western. E também por ter um herói fraco. Indeciso. Cheio de boas piadas, luminoso e simpático, pode ver numa tarde de verão que vale a pena. Críticos? Estão cada vez mais rancorosos e distantes do público. Precisam voltar a ver Hawks e Sturges. Nota 6.
   A FROTA DE PRATA de Vernon Sewell e Gordon Wellesley com Ralph Richardson
Feito durante s segunda-guerra e produzido por Michael Powell, tem o grande Richardson como dono de um estaleiro holandês que fabrica submarinos para os nazistas. Na verdade ele os sabota. Eletrizante, cheio de suspense, o filme é simples, patriótico no ponto exato. Pouco conhecido, devemos so dvd o seu resgate. Eis o bom lado da tecnologia, sem o dvd como alguém descobriria esta pequena jóia? Para quem não sabe, Ralph Richardson foi o primeiro ator inglês a receber o título de Sir. Era um tempo em que esse título valia ainda muita coisa. Hoje até cozinheiros viram Sir. Nota 7.
   IT'S A GIFT de Norman Z. McLeod com W.C.Fields
O grande Fields! O humorista que a América adorava odiar... O gorducho ranzinza que odeia crianças, mulheres e cães...Aqui ele recebe uma herança e compra uma plantação de laranjas. O filme, anárquico, mostra seu cotidiano infernal e depois a ida à Califórnia. As cenas na estrada e uma outra onde ele tenta dormir na varanda são geniais. Junto a Buster Keaton e aos Irmãos Marx, Fields reina. Nota 7.
   FÉRIAS FRUSTRADAS de Harold Ramis com Chevy Chase, Beverly D'Angelo e John Candy
Acho que todos já viram...aquele filme da família babaca que viaja de carro para um parque de diversões e tudo dá errado. Feito em 1983, tem piadas que hoje seriam censuradas ( a do cachorro e a da velha que morre ). Não é mais tão engraçado, mas tem seus momentos. Principalmente a inesquecível corrida aos brinquedos ao som de Chariots of Fire. Nota 5.
   O SENHOR DOS ANÉIS de Peter Jackson
É um grande filme, uma grande diversão e uma maravilha para se olhar. O elenco tem pontos muito altos ( Viggo Mortensen, Ian McKellen, Andy Serkis ) e alguns falhos ( Orlando Bloom ). Mas no geral ele merece todo seu sucesso. Tocou em algo muito querido e necessário do público, a necessidade de heroísmo. Peter Jackson conseguiu orquestrar a história complexa e jamais deixa nada solto ou sem direção precisa. É um trabalho digno de David Lean ( mas não de Kurosawa, que fazia épicos mais crispados ). Jackson consegue fazer um épico possível para o público de hoje, tem a beleza e a calma de Lean com a ação e a produção fantasiosa de agora. Ele jamais corre demais e nunca apela. Nada de câmera rodopiante, cortes demais ou vísceras sanguinolentas. Jackson narra o livro e vence sempre. O principal é: mergulhamos naquele universo. Quando a saga termina queremos mais. Nota DEZ.
   A BELA ADORMECIDA  de Walt Disney
Nos extras ouvimos comentários de John Lasseter. É o longa que modificou a Disney. E até hoje é exemplo de animação e de cenários. Cada fotograma é uma pintura medieval. Há muito para se olhar, cores deslumbrantes e detalhes que nunca terminam. Levou 6 anos para ficar pronto e toda criança que o viu em tela grande nunca esqueceu. Talvez seja o último dos grandes desenhos da Disney pré-O Rei Leão. Um absurdo em detalhismo e cuidado. Nota DEZ.

SOBRE BIOGRAFIAS CENSURADAS, BEAGLES E BLOCS PRETOS

   Deve ser dificil ter 70 anos.Principalmente quando voce foi símbolo da juventude. Mais dificil ainda deve ser passar mais de 50 anos tomando whisky e jogando bola no sol. Cercado de puxa-sacos. A cabeça do Chico deve estar uma zona. Todo mundo sabe que gosto de Gil e que alguns discos do Caetano acho muito jóia rara. Mas a cabeça deles, por culpa de outros produtos, tipo azeite de dendê, também está pra lá de Marrakesh. E então eles, numa típica confusão que mistura preguiça, medo e amizade, resolvem ouvir o que Roberto Carlos tem a dizer...Qualquer um sabe que Roberto bota Elvis Presley e Michael Jackson no chinelo. Vive em Zanzibar faz tempo. Fique claro, eu adoro Roberto Carlos. Adoro sua voz e algumas múiscas que ele fez lá por 1970 são obras-primas do pop alto nível. Mas ele é um zumbi hoje. E vive num mundo de puxa-sacos e esotéricos freaks também. Eles querem censurar suas biografias? Não sejam tão duros com eles! Ignorem os vovôs. A verdadeira vilã se chama Paula...
   Quanto aos beagles...Isso é a marcha da história baby. Não venham me chamar de racista pelo que vou falar. Uso o exemplo dos escravos e esses escravos podem ser brancos e amarelos também. Todos temos antepassados escravos, escravos dos gregos, dos celtas, dos romanos, dos chineses...O que digo é que daqui a cem anos nossos descendentes acharão tão revoltante o modo como tratamos os bichos como achamos a escravidão hoje. É o caminho natural. Irão olhar nossos matadouros com horror e pensarão "Como a gente de 2013 podia aceitar isso?" O cômico, e esperado, é que assim como os escravocatas usavam o motivo econômico como fato que devia manter a escravidão, falavam que libertar os negros deixaria o país falido, os anti-beagles falam que prescindir de bichos atrasaria a ciência. Ora! Pura preguiça! O Brasil, como foi no caso da escravidão, está ainda um século atrasado. Os animais terão direitos reconhecidos. Esse é o futuro, nossos netos irão ver e nos criticarão por nossa demora.
   Quanto aos black-blocs, eles são a torcida organizada das ruas. Sujam a moral onde botam as patas.
   E é só.