A ABADIA DE NORTHANGER- JANE AUSTEN

   Para um homem que como eu, gosta de Jane Austen, a esperança é sempre a de se encontrar em seus livros um personagem tão bom quanto Mr.Darcy. Não é o caso aqui. Este romance, em que pese seu bom humor e a precisão dos sentimentos expressos, falha em seu lado masculino. Todos os homens aqui são superficiais. É um livro desequilibrado. Não conseguimos crer no amor de Catherine.
   Ela ama e a vida faz com que esse amor seja adiado. Ela é uma leitora de livros góticos, e assim, ela vê a vida como romance. As dificuldades aumentam seu afeto. Austen não lançou este romance. Deixou o manuscrito guardado, foi lançado póstumamente. Tenho a certeza de que Austen planejava aumentá-lo.
   O romance nos recorda que em seu nascimento romances eram coisa de mulher. Apesar de menos alfabetizadas, eram elas que tinham tempo livre para ler. Livros eram escritos, em sua maioria, para elas. Para cada Robinson Crusoe, centenas de romances para moças eram lançados. Homens iam ao teatro e, vejam só, liam poesia. Moças liam romances.
   Ler Jane Austen é sempre um prazer. Passeio em jardim acompanhado de gente interessante. Claro que este é um bom livro. Chega a ser ridículo ter de dizer isso. Mas é um passeio onde a quantidade de gente interessante é menor e nenhum deles usa calças. Falta alguém com quem me identificar.
   Irei reler Orgulho e Preconceito.

THE WHO - QUICK ONE - MONTEREY 1967



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The Blues Project - A Flute Thing - 06-18-1967 - Monterey Pop Festival -...



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OS EXTRAS DE MONTEREY

   Assistindo o DVD com as cenas que D.A.Pennebaker deixou de fora na montagem de Monterey Pop. Várias porcarias. Country Joe and The Fish por exemplo. E The Byrds, que fazem uma apresentação sem vida. O grupo nunca funcionou ao vivo e dá vontade de ver Chris Hillman se juntar logo a Gram Parsons e fundar os Flying Burrito Brothers. Acho David Crosby uma das figuras mais antipáticas do rock.
   Jefferson Airplane também é bem nada. E ter de assistir aos Mammas and Pappas...Quem merece? Tudo bem, podemos ver Michelle Phillips aos 16 anos, linda de doer e já na estrada, musa hippie para quem Paul MacCartney dedicou Michelle.
   Pennebaker foi esperto. Focou montes de meninas bonitas. E crianças brincando. O filme é de junho de 67, auge e começo do fim do sonho hippie. Pra voce ter uma ideia nesse mês voce podia comprar nas lojas os novos lançamentos: Sgt. Peppers e os primeiros discos de Hendrix, Doors, Velvet Underground, Love, Traffic, Pink Floyd, além de Cream e Small Faces com grandes discos. Vamos logo ao lado bom dos extras.
   Al Kooper, Electric Flag e Paul Butterfield. Bom pacas! Mas a coisa pega mesmo é com a apresentação do Buffalo Springfield, já sem Neil Young. Excelente e emocionante. Assim como emociona a bela ousadia do Blues Project, uma viagem de ácido.
   O Quicksilver Messenger é um arraso. Rock que me lembrou o the best do rock de Seattle em 89/91. Banda ícone da Califa 1967. E os extras trazem The Who. Bem, ainda tento entender Keith Moon. Com eles explode o luxo mod com o furacão rocker. Estão milhas à frente de tudo aquilo de então.
   Postei alguma coisa. Aproveite baby.

TELMO MARTINO E O LUXO DO HUMOR

   Telmo Martino foi o cara que me ensinou que humor e inteligência andam sempre juntos. Suas colunas no Jornal da Tarde mudaram minha vida ( e pelo visto, a de muita gente ). Ele era o cara que todo mundo se espelhava para ser "top". Informado e fino, no auge da "bicho-grilice" paulistana, da "intelectualice rabugenta", Telmo fustigava com chicote de ouro os chatos, os bobos e os sem jeito. Ler Telmo fazia com que nos sentíssemos cosmopolitas. Eu lia, nas terças, quintas e sábados, e me sentia em London Town.
   Telmo cresceu amigo de Paulo Francis e de Ivan Lessa. Em comum, a inteligência, o humor feroz e a consciência de que New York e Londres eram o centro do mundo. Eles sacudiam a pasmaceira.
   Fagner, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Maluf, Antonio Fagundes, Vera Fisher, autores de teatro em geral dentre um imenso etc eram suas vítimas. Dos poucos que mereciam elogios estavam Suplicy e Beatriz Segall. Telmo era elitista? Muito. Mas não era uma elitização apenas financeira, era a elitização do gosto, do costume, dos bons modos. Telmo fazia, sem saber, a sobrevida do mundo antes-da-democracia-geral-de-tudo. Nos anos 80 a vitória foi do hiper-pop e o mundo de Telmo se desfez e se escondeu nas caves secretas do gosto. Telmo sumiu. Ou quase isso. Quem o leria hoje?
   Adoraria ler Telmo falar do funk, de Tiririca, dos BBB, da TV Record...Olha só o que eu disse! Telmo jamais escreveria sobre essas coisas. Iria tirar uma do mensalão, da moda das ruas, dos atores globais e dos sobreviventes da velha MPB. Não escreveu... sua coluna se foi assim como se foi o JT. O que lemos hoje são as colunas banais de Calligaris ( a de ontem sobre a prostituição foi de doer de tão ruim ), as colunas iradinhas de Pondé, e algumas boas tiradas de Da Matta e de Coutinho, mas nada com "finésse", com "chic", com luxo, inteligência e prazer.
   Acho que esses valores estão em baixa. Me parece que conforto, esnobismo chic e luxo esnobe irritam e não inspiram mais.
   O mundo ficou mais pobre. Mais óbvio e muito medroso.
   Telmo se foi.

SEAMUS HEANEY E O NOBEL

   Fico sabendo só hoje que Seamus Heaney morreu no fim de agosto. Irlandês, o terrorismo irlandês dos anos 60/70 marcou toda sua obra. Li Heaney em 1998, e como ainda vou reler não falarei dele agora. Seria tolo. O que recordo é sua escrita surpreendente. Onde voce espera mistério surge o cotidiano, onde o dia-a-dia nasce o inefável. A Irlanda tem os nobéis de Shaw, Yeats, Beckett e Heaney. Não tem Joyce e muito menos Wilde.
   Estou aqui com a lista de todos os ganhadores do Nobel. Se voce desconhece Heaney, saiba que há muita gente não só esquecida como não relevante. Seamus é relevante. Quem lembra de Sully Prudhomme, o primeiro vencedor? Em 1901 o autor mais famoso do mundo era Tolstoi. Ou talvez Mark Twain. Escolheram Sully. Os primeiros dez anos são assustadores. Apenas Selma Lagerlof permanece relevante. Não vou delirar e dizer que poderiam ter premiado Machado de Assis. Ninguém o conhecia fora do Brasil. Como seria um absurdo querer que Lorca ou Pessoa tivessem ganho. Só se tornaram conhecidos pós-morte. Mas em 1910 podiam ter premiado Thomas Hardy. Daria tempo em 1902 de premiar Tchekov. Preferiram escolher Heyse e Kipling.
   Nos anos de 1910-1920 a coisa melhora um pouco. Temos Tagore e Maeterlinck, mas foi o tempo de Proust! Rilke! Kafka! Tudo bem, seria impossível ter conhecimento de Kafka então, mas Proust em lugar de Heidenstan e Rilke tomando o prêmio de Gjellup, que beleza!
   Os anos 20 foram os melhores. Na lista dos vencedores temos Knut Hamsun, Anatole France, Yeats, Shaw, Henri Bergson, Thomas Mann e Sinclair Lewis. Lewis é o primeiro americano a vencer. Deveria ter sido Twain. Fitzgerald nunca venceu. Yeats foi o primeiro irlandês. E Bergson o primeiro e um dos poucos filósofos.
   Nos anos 30 o nível cai de novo e sobe no pós-guerra. É quando premiam Gide, Hesse, Mann, Faulkner e Eliot. Raras vezes o nível do prêmio foi tão alto. Russel é o segundo filósofo a vencer, em 1950 e Heminguay vence após Faulkner, em 54, assim como Sartre vence depois de Camus, Camus ganha em 57 e Sartre em 64.
   Nesse tempo a lista dos injustiçados cresce. Laxness em 55 no lugar de Borges. Ivo Andric em 61 e não Nabokov. John Steinbeck vence em 62, mas não Tennessee Willians. Patrick White e nada de Graham Greene. Harry Martinson e não Philip Roth ou John Updike. A lista é imensa! Premiam Jelinek e esquecem Iris Murdoch. Ignoram Wallace Stevens, Auden, Kaváfis...
   Mas têm grandes acertos. Kawabatta em 68, Bellow em 76, I.B. Singer em 78. As vitórias de Paz, Szymborska, Naipaul...A tardia premiação de Pinter e de Golding.
   Claro que há uma má vontade com os americanos. Basta dizer que nos últimos 40 anos apenas Saul Bellow e Toni Morrison venceram. Talvez possamos considerar Singer um americano, então são três. Justo? Penso que sim. Edward Albee ou Gore Vidal ficariam mal nessa lista? Odysseus Elytis venceu em 1979. Quem é Elytis? E Wole Soyinka? Mesmo Claude Simon, vencedor de 1985, quem o estuda hoje?
   A lista completa voce acha em Nobel Prize. com.
   Nela voce não encontrará Calvino, Lawrence, Waugh, Pound, Dylan Thomas, Vallejo...

A VIDA E O AMOR NA VIDA E PARA A VIDA

   Então voce anda pelas ruas com aquela música de George Gerswin na cabeça. Na verdade voce canta ela baixinho e até arrisca uns passos de dança numa rua mais vazia. Seus sentidos estão afiados e voce repara num jardim que nunca notara antes. As pessoas parecem menos feias e a tarde tem uma cor insuspeita. É estranho notar que seus amigos nunca te pareceram tão "bacanas". São grandes caras! Afinal, sua vida tem um objetivo, e ele está diante, atrás e ao seu lado. Falar sobre esse objetivo seria um pecado. Então voce anda e canta. Voce ama.
   E amando voce não está mais aqui. E todo mundo percebe isso. Voce é outro. E só voce sabe que esse outro é o verdadeiro voce. Porque amar é o que nos liberta, nos define e nos faz viver. Todo o resto é morte em vida. Ou na melhor das hipóteses, distração fútil do ato de esperar.
   Mas existem armadilhas. Pois o mundo nega o amor. De várias formas. As mais sutis: o tempo que se encurta e voce não consegue a ver como gostaria. A dúvida do ciúme: voce não confia no amor e acha que ele é fraco. O egoísmo: voce exige que o amor dela seja sempre maior que o seu. Voce pensa ser digno de mais amor que aquele que voce tem para dar. As pessoas ao redor: alguém diz que voce é ingênuo, outro fala que o amor não existe....Eis a grande batalha!
   O MUNDO grita desde sempre nos ouvidos de todo aquele que ama: O amor é uma ilusão! Uma armadilha! Uma tola invenção!
    E contrariado tudo em voce responde: Mas ele está em mim! E é mais verdadeiro que minha própria existência! Ele é a própria existência!
    E seu amor, que precisa e deve ser defendido, se vê em luta. É esse o Dragão. É isso que os cristãos chamam de a Tentação. Acuado, quase desiludido, vem a hora de lutar a única luta que vale a pena. A luta pela salvação do Amor. Isso define tudo, ou voce desiste ou voce persevera. E vence.
    Porque amar nunca foi TER quem voce ama. Amar é conseguir fazer sobreviver em voce O AMOR. Permanecer amante mesmo na ausência. Jamais desacreditar da força, da verdade e da eternidade do amor. A vida é isso. A alegria é assim. Viver só vale se for desse modo. Sim, é uma lei.
    Mas O MUNDO... antes eram familias que lutavam contra o amor. Guerras que desuniam, costumes que o impediam, tabús ou pecados. Heresias. Agora é a dúvida. Gente irá te dizer que Amor é Sexo, modo bonito de nomear um ato animal. Gente vai te dizer que Amor é interesse. Outros vão falar que ele não existe, é um conto da carochinha como é Deus ou a alma. Todos esses esqueceram o que o amor é, ou pior, nunca o conheceram. Mas eles te enfrentam, te tentam, te confundem.
    Persevere. Se voce perder o amor tudo será perdido. Lute.
    A gostosa que dança nuna diante de voce não é o amor. É um desejo. E o desejo vem e morre. É temporal, é falível e promete muito pouco. Quem amou sabe que o sexo NÂO é amor. É brinquedo, prazer delicioso, jogo de aparências, disputa por posse. Sedução. O amor nunca é jogo e jamais uma sedução. Ele sempre se mostra como verdade e acontece sem plano ou trabalho. Destino. Confirmação.
   Leio um texto de Pondé, não é de hoje, em que ele analisa o filme de Malick. Aquele com Ben Affleck. É disso que ele trata. Os críticos, incrível como os críticos de hoje têm baixa cultura, nada entenderam. O filme fala da descoberta do amor, da luta entre a matéria e o amor, da grande batalha.
   Porque tudo conspira, ao contrário do que dizem os new age, CONTRA o amor. O mundo abomina os amantes. Abomina sua passividade, a negação que eles demonstram da ambição mundana, sua indolência preguiçosa, sua ingenuidade perigosa. E cabe a todo amante SALVAR o amor. Lutar por ele.
   A vida é isso. Tão somente isso. É a verdade de Rumi, de São Francisco, de Buda, de Juan de La Cruz, dos poetas e dos músicos, de Chagall, é a verdade daqueles dois deitados na praia as quatro da manhã na chuva...

GREAT GATSBY~Robert Redford~MIa Farrow~ What'll I Do ~ Frank Sinatra



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O DIÁRIO DE H.L. MENCKEN. EDITADO POR CHARLES A. FECHER

   Para quem não sabe, Mencken foi na América dos anos 20 aquilo que todo jornalista gostaria de ser, o guia cultural de uma nação poderosa em seu apogeu. Paulo Francis gostava de se imaginar Mencken, principalmente na fase final de sua vida. Falando, com humor e malicia, sobre politica, história e artes em geral, Mencken foi o mais amado e odiado americano de seu tempo. A partir dos anos 30, quando a recessão toma o planeta, Mencken perde parte de seu imenso público. Em tempos de dureza seus ataques começaram a parecer excessivos. Ele odiava Roosevelt. Chamava o presidente de mentiroso, e dizia que Roosevelt inaugurava o começo do fim da América. Mencken não queria que os EUA ajudassem a Europa, que jamais se metessem em guerra nenhuma.
   Algumas de suas previsões foram certeiras. Outras não. Ele subestima Faulkner. Ignora Heminguay. Para ele Faulkner é apenas um sulista mal educado e muito bêbado. Fitzgerald é visto como um chato. Um escritor muito bom, mas que desperdiçava seu talento com uma esposa louca, e com bebida em excesso. E quando bêbado Fitzgerald ficava chato, muito chato. Mencken tinha intimidade com Sinclair Lewis, o autor de Babbit, o primeiro americano a ganhar o Nobel. Mencken o aconselhou a não aceitar o prêmio. Lewis aceitou. Dreiser também foi íntimo de Mencken, assim como Willa Cather e uma multidão de escritores hoje esquecidos.
   Mencken frequentava as mais poderosas familias do país. Os juízes do Supremo, ministros, candidatos a presidente. Amigo dos grandes editores, ao contrário do que se diz normalmente, nas brigas entre editor e autor, Mencken ficava sempre ao lado da editora. Ele dizia que os escritores eram mal agradecidos e traidores. Vale lembrar que o próprio Mencken era um autor. Lançou vários livros, 3 dos quais de muito sucesso.
   Um de seus acertos, e que até hoje acho válido, é quando ele aconselha aos editores de jornal como enfrentar a queda das vendas face a emergência do rádio e do cinema. Ele diz que o jornal jamais poderá ser tão imediato, simples e fácil como o rádio. A solução seria elitizar os jornais. Dar me jornal aquilo que o rádio não pode dar, profundidade. Em 2013, face a internet, o jornal continua errando. Está condenado a correr sempre atrás. A cortejar o jeca.
   Vale dizer que o diário começa nos 50 anos de idade de Mencken. Viúvo, ele sente essa necessidade de ter um diário a partir de seu luto. Hipocondríaco, seus melhores amigos eram os grandes cirurgiões de seu tempo. Quanto mais velho mais ele se queixa de dores. São longas páginas sobre doenças e amigos que se vão.
   De qualquer modo é grande prazer poder se sentir íntimo do dia a dia de tal figura. Jantares, viagens e conferências. Ódios e afetos. Nada de sexo ( ele é a imagem da elegância discreta ). Mencken não  gostava do cinema, pouco se importava com o teatro e música quase nada. Seu mundo era o da escrita, das conversas, dos contatos.
   Faz falta alguém como ele escrevendo sobre o agora.

O GRANDE GATSBY/ POWELL/ STEVE CARELL/ MISS POTTER/ CHARLES LAUGHTON

   I KNOW WHERE I'M GOING de Michael Powell com Wendy Hiller, Roger Livesey e Vanessa Brown
Quando em 1980 começou a acontecer a justa revalorização de Powell, todos seus filmes foram revistos e reavaliados. Este foi um dos últimos a ser redescoberto. Pois é um filme bastante discreto. E muito encantador. Uma moça impulsiva fica noiva. O noivo combina de a encontrar numa ilha da Escócia, onde se casarão. Ela, que sempre sabe o que deseja e onde deve ir, viaja só. Mas as péssimas condições do clima fazem com que ela fique muito tempo parada numa vila de porto. E então ela começa a se "perder". A vida do porto a seduz, e um homem começa a tentar seus planos, seu coração. O filme tem dois aspectos muito particulares: a conjunção de clima e estado emocional e a forma como são feitos os cortes. As cenas são cortadas no meio do diálogo, de forma abrupta. E o mar, o céu, belíssimos, espelham aquilo que se passa em terra. No mais, Wendy é sublime e a trilha sonora fantástica. Frases em gaélico, danças sem folclorismos baratos, uma absoluta falta de pretensão. Delicioso. Nota 9.
   O GRANDE GATSBY de Baz Luhrman com Tobey Maguire, Leonardo di Caprio e Carey Mulligan
Escrevi num post que Baz, assim como Anderson, tem o preciosismo estético de Ophuls ou de Powell, mas sem a substância dos dois gênios. Pegaram a superfície e a usam de forma fria, no caso de Wes, ou histérica, no caso de Baz. O esteta que chega mais perto de Ophuls, por ter verdadeiro dom, é Joe Wright, um belo diretor que entendeu a coisa. Vejam este filme. É cinema, mas não é um filme. Nada mais é que um trailer de duas horas. O filme nunca começa. O que vemos é uma promessa de um filme que será feito um dia. Nisso ele recorda Michel Gondry e Spike Jonze, diretores também "estetizados" que fazem trailers que nunca se realizam. Mas Baz é pior. O filme irrita. São tantos cortes, somos tão jogados de cena para cena, situação para situação que nada apreendemos. O que fica? Leo di Caprio imitando Robert Redford e Tobey fazendo um Peter Parker adulto. Carey Mulligan não tem o glamour do personagem, está no filme errado. Um adendo: O texto de Fitzgerald é tão bom, tão sublime, que nas cenas em que Tobey se atém a recitar trechos do livro todo o filme cresce. Isso ocorre nas cenas finais, que são ótimas. Porque finalmente Baz parece se cansar de "fazer trailer" e deixa o texto sobressair. Só então percebemos do que trata o filme: o drama de um homem sem lugar e ao mesmo tempo a saga do Homem Americano, o sekf made man, que vence mas jamais "ganha". Mas aí já é tarde. Nota 2.
   A ILHA DO TOPO DO MUNDO de Robert Stevenson
Filme da Disney dos anos 70, ou seja, em crise de identidade. Expedição acha civilização perdida no Pólo Norte. Interessante é o fato de que o tema de filme B em 1974 seria hoje tema de filme A. Nota 2.
   DE CANIÇO E SAMBURÁ de George Marshall com Jerry Lewis e Anne Francis
Um homem acha que vai morrer e resolve aproveitar a vida. No caso, pescando. Jerry em um de seus muitos fracassos. Não é ruim, apenas sem graça. Nota 5.
   DESFOLHANDO A MARGARIDA de Marc Allégret com Brigitte Bardot
O cinema teve vários mitos femininos. Gloria Swanson, Greta Garbo, Dietrich, Rita Hayworth, Ava, Audrey, Sofia Loren, Marilyn...Nenhuma delas tem tantos filmes péssimos como Bardot. É muito dificil achar um bom filme de BB. Este é um dos piores. Nota ZERO.
   LES MISERÁBLES de Richard Boleslawski com Fredric March e Charles Laughton
A versão dos anos 30 não tem as músicas da boa versão da peça. Aqui temos o romance de Hugo. Laughton dá um show como o policial que obsessivamente persegue a Jean, uma atuação perfeita de March. O filme se sustenta belamente e nós o assistimos admirados por seu extremo profissionalismo. Eis o eficiente cinema da grande Hollywood, a fábrica de mitos. Ótimo filme! Nota 8.
   O CASAMENTO DO ANO de Justin Zackham com Robert de Niro, Diane Keaton, Susan Sarandon,, Katherine Heigl, Robin Willians, Topher Grace
Não faz sentido. Um casal de divorciados tem de se fingir de casados. Isso porque a mãe da noiva do filho é "católica" e católicos não admitem o divórcio!!! Até onde pode chegar a idiotice de um roteirista? Este filme joga no lixo um elenco soberbo em situações grosseiras, tolas, burras, bizarras e abismais. Tudo é tão fake, as falas são tão óbvias que ficamos feito uns patetas olhando aquilo tudo. Nota ZERO!
   MISS POTTER de Chris Noonan com René Zellweger e Ewan McGregor
A vida de Beatrix Potter, filha solteirona de uma familia inglesa que no começo do século XX cria a mais bem sucedida série de livros infantis da história, a série de Peter Rabbit. O filme, dirigido pelo sensível diretor que fez o belíssimo Babe, tem tudo no lugar certo. Ele nos leva ao mesmo mundo de James Barrie no lindo filme com Johnny Depp.  Fim da era vitoriana, berço da grande literatura infantil. René está excelente e Ewan, sem exageros, tem um de seus melhores papéis. O editor novato e tímido é um grande personagem e Ewan o pratica com sucesso. O filme é bonito e triste, divertido e inspirador. Nota 7.
   O VIRGEM DE 40 ANOS de Judd Apatow com Steve Carell, Catherine Keener e Paul Rudd
E não é que este filme não é ruim? Apesar de toda idiotice e do humor óbvio, o personagem de Carell é "real". Há algo de profundo e de muito sério nele, o que nos faz lembrar das grandes e verdadeiras comédias. A mistura de bobice palhaceira e seriedade secreta. Catherine está adorável, as cenas com ela redimem tudo de ruim que pode ter havido antes. No panorama péssimo da comédia atual, esta talvez seja a melhor. Nota 7.
   DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS dos irmãos Russo com Owen Wilson, Matt Dillon, Kate Hudson e Michael Douglas
Vixi! Nada tem sentido e nada tem graça. Owen é um amigo chato pacas que vai morar com seu grande amigo recém casado. Owen destrói a casa. Daí ele vira um cara legal e salva o casamento do amigo. Douglas é o pai e patrão, uma variação do vilão de Wall Street. Um ator de verdade no meio de atores perdidos. Onde a graça? Não passa de mais um "Owen Wilson ego trip". Ele anda de skate, mostra a bunda, chora, pula, se queima, cozinha e canta. Só não faz rir. Nota 1.

THAT'S AMORE, A MÚSICA DOS ADULTOS E A MÚSICA DAS CRIANÇAS

   Eu e um amigo andamos pela rua ouvindo Richard Cheese e os Red Elvises. Muito bom, principalmente Richard Cheese. Então entra Dean Martin cantando That's Amore e o clima muda. Um adulto está a cantar!
   Impressionante como o amor quando cantado por brancos do rock SEMPRE parece adolescente. Por mais belo e criativo que seja, e eu sei as alturas que Ferry, Bowie, Morrison ou Dylan chegaram, o sentimento tem sempre um jeitão de imaturidade, de insegurança. Varia entre o idealismo platônico e o sexo como descoberta.  No máximo o cara canta como se tivesse 18 anos recém completados. Ás vezes um teen inteligente ( Dylan ), ás vezes ingênuo ( Beatles ) ou taradinho ( Stones ).
   A música dos negros nada tem a ver com isso. O cantor pode ser pobre, alienado, do mal ou um fanático batista, a impressão passada é a de que em termos de amor ele sabe tudo. Aos 18 anos ele já foi casado e é pai. Não vê divisão entre sexo e amor, sabe que o sexo é sagrado por ser amor e que o amor é alma, soul, heaven.
   Chegamos então a Dean Martin. Toda essa geração, Sinatra, Mel Tormé, Bennet, Joe Willians, sabem daquilo que falam. São Homens. Conhecem as mulheres, conhecem o amor em suas variadas nuances. São mestres. Adultos.
   Interessante observar como os caras jovens que os imitam parecem garotos usando o terno do papai. Gente como Bublé ou Connick. O que eles fazem é baile de 15 anos.
   Meu amigo lembra de uma exceção branca: Johnny Cash.
   Ora amigo, Cash não é rock. É country e ele, como também Jennings, Daniels, Willie Nelson, Hank Willians, já nasceram velhos.
    That's Amore!