Gilberto Gil - "Babá Alapalá"



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REFAVELA- GILBERTO GIL ( O MUNDO NOVO É UM MUNDO NEGRO )

   A gente não percebe porque se acostumou, mas se um homem do século XIX ( ou mesmo de 1910 ), viesse cair em Paris hoje, ou New York ou Londres ou Sidney ou meu bairro em São Paulo; o que esse homem do passado mais estranharia? Os prédios? Os carros, as telas acesas?  Não meus caros, seriam os negros. E mesmo em cidades desde sempre negras, como Rio ou New Orleans, esses homens estranhariam negros vivendo e tendo o poder de brancos. A grande revolução do século XX foi a cultura negra se fazer dominante, o homem negro ser, e será cada vez mais, a cara do planeta. Este disco, uma obra-prima irretocável, é uma espécie de biblia desse momento histórico.
   Gilberto Gil foi à Africa e voltou mudado. Não se ia muito a Africa em 1975 e a miséria lá, se hoje revolta, imagine então. Ele voltou ainda mais negro do que sempre fora e aqui ele faz uma coisa que antecipa a moda de dez anos depois: um disco world music. Em 1976 não existia nem o termo. Os criticos não sabiam como classificar este disco, foi mal falado. É genial. World Music com muita testosterona. É reggae, é batuque africano, é funk, é musica de terreiro, é filhos de Gandhi. Gil sempre foi um duende, sua alma é dionisíaca ( Caetano é Apolo ), aqui ele está em casa, feliz, solto, explosivo.
   Refavela a música, começa com lindos acordes e vai num rápido crescendo de percussão. Um monte de instrumentos, uma festa, e um refrão harmônico que é um êxtase. Uma alegria colorida que canta a favela paradoxal. Lugar feliz de miséria e dor. Toda a criatividade de um talento imenso está aqui em pleno poder. Este aliás é seu último grande disco.
   Aqui e Agora. Uma divagação mistica, daquelas que ele tão bem sabia fazer. Gil não é exatamente religioso porque ele não fala de religião. Para ele a religião é coisa resolvida, ele vive nela e pronto. Aqui ele fala do espaço e do tempo, com calma, com tranquilidade. Uma canção suave, soft, de belíssima harmonia.
   Norte da Saudade é reggae primitivo. De sertão, tosco e com um baixo ( Rubão ) absurdamente bom. A banda que o acompanha suinga, ginga e cria sem parar. Jogo de cintura, muito suór e sangue na veia.
   Ilê Ayê fala exatamente da negritude. Rápida, quase agressiva, tem uma levada que não é funk, não é samba, não é reggae, é o que? Um momento de criação solar.
   Babá Alapalá. Uma obra-prima. Isto é uma obra-prima. Ela desliza pelo ar, primitiva e sofisticada. É como um tesouro. O baixo e a percussão mandam, a voz inspiradíssima. Seu corpo vai junto. O disco anuncia: não mais melodia, ritmo e dança, música é milagre, uma coisa que é um nada invisível e que faz a cabeça pensar e o corpo pirar. Como diria o grande Ezequiel Neves: Descaralhante!
   Sandra é linda. Uma canção com letra que é poesia literária, múltipla de sentidos e uma melodia que se parece a hino de harmonização. Ela hipnotiza. Me recordo de aos 18 anos ficar tardes e tardes, ao pôr-do-sol,  cantando essa melodia.
   Era Nova é quase psicodélica. Bastante "mutante", ela tem três andamentos e uma letra complexa, e ao mesmo tempo, festiva. Aliás o disco inteiro é feliz, alegre, otimista.
   Samba do Avião. E ele transforma uma bossa de Tom Jobim em música de Cameroon. Fica bom pra caramba!
   Balafon é mais uma obra-prima. Um primor de ritmo africano, de alegria esfuziante. Impossível voce não sair rebolando pelo quarto, pela sala ou pelo carro. Uma música tão maravilhosa que ela deveria ser vendida nas farmácias, para doentes e perdidos. Voce a escuta e vê trilhas africanas diante de seus pés. E sorrisos bonitos.
   Patuscada de Gandhi. A mais simples das músicas. Uma batucada, meio terreiro, dos Filhos de Gandhi. É preciosa e muito rebolativa. Em 1981, eu, Mauro e Dió destruímos a sala de casa ouvindo isso. Acho que a escutamos dez vezes e ainda ligamos pros amigos pra mostrar nosso novo arranjo. Foi uma das mais brilhantes noites da minha vida.
   Nos anos 80, como aconteceu com todo mundo, de MacCartney a Lou Reed, passando por Bowie e Neil Young; Gilberto Gil se tornou fã de si-mesmo e isso o levou a ser uma caricatura. Seus discos se tornaram hiper-produzidos, preguiçosos e bobos. Mas é impressionante o nível de genialidade que ele demonstrava nos anos 70. Assim como Caetano, Jorge Ben, Tim Maia, Ney Matogrosso, Novos Baianos e tantos outros, Gil cria sem parar, mistura tudo, absorve o ambiente e nos dá uma salada que nunca desanda. Essa linha de evolução seria rompida pelos próprios criadores a partir de 82/83 e nunca mais seria retomada. A música feita no Brasil passaria a ser de segunda categoria, cópia de cópias ou saudosas tentativas de revivier o já ido. Chico Science tentou retomar e até conseguiu. Seu primeiro disco é filho direto de REFAVELA. Mas Chico morreu e o mangue beat se perdeu na nascente.
   De qualquer modo, aqui está o material. O futuro preto e gingado. E genial. Maravilhosa refavela!

Firenze



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FLORENÇA, UM CASO DELICADO- DAVID LEAVITT ( A CIDADE E SUA SÍNDROME )

   Florença é uma cidade pequena. Ela pode ser toda percorrida a pé. E nesse espaço pequeno ela comporta um quinto de toda a arte do mundo. Um quinto! Isso provoca uma síndrome conhecida como "Síndrome de Stendhal", o autor francês teria sido o primeiro a descrevê-la. Ela ocorre quando após horas vendo tantas maravilhas, achatado e asfixiado pelo tamanho do que há de genial naquilo tudo, o pobre visitante perde a noção de onde está, quem é e o que faz ali. Uma sensação de que não se é nada, de que a própria vida nada é, de que as obras são maiores que tudo, faz com que a consciência se esfarele. Vem a palpitação, as vertigens e o desmaio.  Eis a tal síndrome. E creia, ela não ocorreu só com um romancista francês de mente criativa, ela aconteceu inúmeras vezes. Inclusive neste ano. Vivi uma coisa parecida em Chartres. Um maravilhamento tão intenso que é como se não pudéssemos mais existir. A completa perda do senso do eu-presente.
   David Leavitt é um atual bom autor americano. E ele sabe que essa sensação era cotidiana na Renascença. O mundo moderno, não tendo a coragem de vivenciá-la, a nega. De que modo? Vulgarizando a arte. Michelangelo em canecas, bonés e chaveiros. Michelangelo como um artista pop.
   O livro não é uma descrição da cidade. Volume da Cia das Letras, da mesma coleção do Flanêur, Florença não é cidade de flanêur. Nela os passeios têm objetivo, é uma cidade pequena, e onde cada rua é uma história. David Leavitt se prende então a história recente da cidade, de 1850 para cá, e eu não sabia: ela é uma cidade "inglesa" e é um tipo de consulado gay.
   Inglesa porque desde 1850 todo inglês perseguido por ser excêntrico acabou indo viver em Florença. Em 1920 eram 50.000 numa cidade de 450.000 habitantes. Eram escritores, pintores, poetas e simples vagabundos. A tragédia deles, é que quase todos perderam o que tinham de talento na cidade. Vivendo em lugar onde tudo podia ser feito ( e esse tudo ia desde se casar com sua tia a ter amantes de 12 anos ), eles perdiam a garra e acabavam se tornando um tipo de playboys ultra-esnobes, fofocando uns dos outros todo dia, e escrevendo livros enfadonhos sobre seus casos. E.M. Forster foi o único que não perdeu seu dom, simplesmente por não ter se misturado a colônia inglesa. Os ingleses eram capazes de ficar trinta anos na cidade e continuar tomando chá e comendo sanduíches de pepino. Vinho, café e feijão, jamais! Foster se misturou, provou a cidade, conheceu a vida. David Leavitt dá breves relatos de vários desses autores. Muitos foram amigos de Oscar Wilde, e nem todos eram gays. Huxley esteve por lá, assim como Berenson, que viveu meia vida na cidade.
   Florença é considerada a mais esnobe cidade da Itália. A lingua italiana nasceu na cidade e o visitante fica impressionado com a quantidade de nomes famosos que são relembrados em cada esquina. O rio Arno, que corta a cidade em duas, é hoje um pardacento rio imundo, mas mesmo assim as pessoas se encantam com sua cor de café com leite. Se o visitante não se cercar das amarras de sua fraqueza, a cidade o deixará enfeitiçado. Ela coloca todos de joelhos.
   Em 1966 uma terrível inundação pegou a cidade inteira. Na TV da Itália, tudo o que se falava era do número de carros levados pelas águas do Arno. Mas, sem internet e sem ninguém planejar, uma quantidade enorme de jovens estudantes da Inglaterra, da Alemanha e até dos EUA se dirigiu para a cidade. O que eles foram fazer? Salvar o tesouro artístico da cidade. Eram filas de jovens, água suja até a barriga, passando de mão em mão, livros, quadros, estatuetas para lugar seguro. Há uma outra história tão bela quanto essa que se passou em 1945. Uma tropa de americanos veio libertar a cidade. Tudo pacificado, eles entram numa granja na periferia de Florença. Três oficiais entram num quarto e acendem a luz. Um deles diz: - Major! Giotto!, o outro fala: - Aqui!!! Botticelli!!! , ao que o major diz: -"E aqui um....Leonardo!!!!...
   As obras eram escondidas em casas humildes durante a guerra para não serem levadas pelos alemães. Naquele quarto simples, 45 milhões de dólares, em valores de 1945, estavam nas paredes.
   Florença é isso. Uma cidade agarrada a seu passado. Consciente do que foi e que estranhamente sabe que desde 1850 tem como moradores famosos, estrangeiros. A cidade parou de produzir nativos de brilho. Mas, orgulhosa, assoberbada, ela exibe a maior abundância de arte por metro quadrado em todo o globo.
   É um belo livrinho!

OSCAR 2012

   Leio que todos os concorrentes são fracos de bilheteria. Alguns são mais que isso, fracassos. O filme francês tem sido vítima de um fenômeno que atesta a ignorãncia do público atual do cinema. As pessoas saem no meio do filme "por não suportarem assistir um filme em preto e branco". Nos EUA inclusive vaiam as legendas. Não entendem legendas em filme. Mas não só ele. Os filmes de Scorsese, de Alexander Payne ( diretor que adoro ) e etc.... Todos fracassos. Mas há mais um sinal: em 1972 a média de idade dos concorrentes a melhor diretor era 35 anos. Este ano é de 61. E não é um fenômeno isolado, a média é maior de 50 desde a década de 80.
   O filme de Meryl Streep também é um pavoroso fiasco de bilheteria. Assim como no ano passado o ótimo filme sobre o rei George não interessou ninguém ( provávelmente por ninguém saber quem era o tal George e o tal Edward ), agora parece que já não sabem quem foi Thatcher. Chegaremos a um tempo em que dez anos atrás será "antiguidade". O DISCURSO DO REI merecia ser visto por todos. Não o viram. Era elegante demais para um público que só compreende emoções violentas.
   George Clooney x Brad Pitt. Belo enfrentamento. Vai dar Pitt. O filme é um lixo.
   Gostaria que Max Von Sydow fosse o melhor coadjuvante. Há quem o chame de "o maior ator vivo". Basta dizer que é ele o herói do SÉTIMO SELO de Bergman. Depois do gênio sueco, esteve em filmes de Woody Allen, Scorsese e que tais. É o único gênio indicado.
   Uma banda brasileira que faz covers de músicas de filmes disse algo que nunca notei: desde os anos 80 tem diminuído a quantidade de hits vindos do cinema. As superproduções têm usado temas antigos, tipo Ac/Dc no Homem de Ferro. Se a gente parar percebe, de Footloose à Eye of Tiger, passando por todos James Bond e Rocky, Dama de Vermelho e De Volta para o Futuro, há uma imensa quantidade de músicas famosas dos 80's.
   O que notei é que filmes que unam sucesso popular e qualidade artistica não existem mais. Falo de grande sucesso popular, não de filmes que apenas se pagam. Os concorrentes deste ano deram prejuízo.
   Um dia veremos um Oscar só de blockbusters. Ou ele se tornará um saudosista prêmio festivo.

Pop Will Eat Itself - Def Con One (Including the Twilight Zone)



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THIS IS THE DAY...THIS IS THE HOUR...THIS IS THIS! - POP WILL EAT ITSELF ( O FUTURO DEVERIA TER SIDO ASSIM )

   Era 1988. Auge dos HQ. Alan Moore e Frank Miller, Lobo Solitário e Ranxerox. E tinha umas revistas que misturavam tudo: politica com sexo, surf com beatnicks. Mais... séries de TV antigas com alta tecnologia e desenhos do Coelho Pernalonga com NWA. Skate, muito skate e bicicross, e ainda John Lee Hooker com Jon Spencer. Jerry Lee Lewis misturado com Cabaret Voltaire e Sonic Youth com Elvis. Nietzsche e Wolverine mais Poe com Agente 86. O anúncio do anos 90 era a mistura desenfreada de tudo o que tivesse adrenalina. Este disco representa muito esse tempo. Ouvi pra caramba por todo o ano de 1989. E se acertei antes, ao dizer em 84 que o REM ia estourar, e em 85 que os RED HOT estavam adiante da década, errei com esta banda. Eu tinha certeza de que o futuro seria assim. Jamais poderia prever que o futuro seria uma bando de grupos de frescos deprimidos.
   Eles nunca são tristes, eles são confusos. Colocam percussão eletrônica de fundo e jogam em cima um monte de ruídos e de guitarras hard. Vão falando: Dirty Harry e Bruce Lee, Watchmen e Big Mac. O disco tem de ser escutado inteiro. Ainda hoje o que procuro no rock é a evolução disto. Quando encontro ( Gorillaz é um exemplo, Prodigy foi outro ) a coisa me interessa. Quando é aquela coisinha flácida de inglês dodói ( Coldplay e que tais ) tou fora. Este disco é poderoso.
   Tem palavras de ordem, influências de Beastie Boys, de Public Enemy e de tudo o que se fazia em Manchester então. É contemporâneo aos Happy Mondays. Muitos bons tempos aqueles. O que define esse som, uma palavra: detonação. Eles todos detonavam.
   Na época eu tinha um puta amigo chamado Mauricio Nazário. Ele ouvia hardcore, Jerry Lee Lewis e Rap. Lia muita HQ e livros dos beats mais Whitman e Poe. Andava de skate e bike ( vinha até Sp desde o ABC de bike ), e tinha um sonho: ser um skatista nos EUA. Se mandou em 1993. Ano passado na Sportv ouvi falar dele. Mauricio Nazário é um brasileiro que é árbitro de snowboard no Colorado. É cartola da federação americana de Snow.... Este disco era um dos que ele gostava. E fui eu quem apresentou a ele ( ele me apresentou o Sonic Youth ). Toda essa salada que foi/é a vida do Mauricio é o som deste disco. Muita coisa, muita informação, muitas possibilidades. Deixa detonar.
   Os PWEI fizeram algum sucesso na Inglaterra. Mas logo naufragaram. Em 91 ninguém lembrava mais dos caras. Ficou este disco. Tem de ser conhecido.

Golpe de Mestre



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KUBRICK/ ROBERT REDFORD/ EASTWOOD/ KING VIDOR/ HUSTON/ GEORGE C. SCOTT

   O GRANDE GOLPE de Stanley Kubrick com Sterling Hayden
Segundo filme de Kubrick. Dá pra perceber que é um filme de um novato, ele se exibe demais. Várias cenas lembram a técnica de "KANE" de Welles. Sterling Hayden era um ator admirável. Aqui ele repete seu tipo de bandido "marcado" exibido em "THE ASPHALT JUNGLE" obra-prima de Huston feita cinco anos antes. Este é um bom filme de assalto, um pouco exagerado, mas forte. Nota 7.
   GOLPE DE MESTRE de George Roy Hill com Robert Redford e Paul Newman
Grande vencedor dos Oscars de 73, grande sucesso de bilheteria. Passado nos anos 30, temos aqui Redford em seu auge, como um malandro do baixo mundo. Logo na primeira cena vemos um belo golpe aplicado por ele e comparsa. Tudo na malandragem pura. Mas ele dá o azar de mexer com chefe poderoso ( um impagável Robert Shaw ). Descoberto, foge e começa a "trabalhar" com famoso golpista veterano ( Paul Newman, explêndido em seu carisma de picareta desencanado ). Num trem há um dos mais emocionantes jogos de poker do cinema e depois eles armam um golpe milaborante em cima do tal chefe poderoso. Redford, com o mesmo diretor de BUTCH CASSIDY, tem todo o filme para sí. Está ótimo, mas Newman e Shaw estão ainda melhores. Shaw faz um chefão ofendido que é pura jóia. A trilha sonora, velhos números de Scott Joplin foi hit em 73. Sublime. Uma diversão citada por Soderbergh entre seus filmes favoritos de sempre. É matéria obrigatória nos cursos de cinema da UCLA. Nota 9.
   O PLANETA DOS MACACOS de Franklyn J. Schaffner com Charlton Heston, Kim Hunter e Roddy MacDowell
Adoro Heston. Um ator que consegue misturar dois mundos: sério e bonitão, ágil para aventuras e sisudo para dramas. Este filme é drama e aventura juntos. E funciona. Enervante, nos confunde em seu final inesquecível. A estátua caída no chão, o silêncio, as ondas do mar... a perfeição em termos de finais de filmes. Mas ele é muito mais que isso. Ecológico, crítico, contundente. Nota 9.
   MENINA DE OURO de Clint Eastwood com Clint Eastwood, Hilary Swank e Morgan Freeman
Clint faz filmes tristes. BRONCO BILLY é das coisas mais melancólicas já feitas e BIRD não fica atrás. Ele fez comédias também, mas tem óbvias preferências pelo drama. E este tem um terço final muito dramático! Que no meu ver desequilibra todo o filme. Se em seus dois terços iniciais é um maravilhoso conto sobre um velho amargo e uma adorável perdedora, no fim faz-se um mero "filme pra chorar", tipo "ESCAFANDRO E BORBOLETAS" e que tais. Mesmo assim o elenco está de arrasar. Morgan faz um velho derrotado pela vida de um modo suave, todo em tons menores, e Clint mostra-se grande ator. O dono do ginásio é criação de quem aprendeu tudo sobre interpretação. Hilary, dizem, tem uma bio parecida com a da lutadora. Foi pra LA com 75 dólares e tinha de dividir um hamburger por três refeições. O modo como ela se empolga, como sorri é das melhores coisas que uma atriz fez na década. Apesar de suas falhas, é dos poucos vencedores do Oscar dos últimos vinte anos a não ser contestado. Lindo. Nota 9.
   GRAND PRIX de John Frankenheimer com James Garner, Yves Montand e Toshiro Mifune
Acompanhamos a temporada de 1966 da fórmula Um. Monaco, Monza, Spa, Nurburgring, Watkins Glen... Circuitos dos tempos heróicos, não eram feitos para a TV, eram feitos para assustar. O filme é visualmente deslumbrante. As corridas são muito bem filmadas ( são corridas reais com os pilotos da época, Jack Brabham, Jackie Stewart, Jochen Rindt, Jacky Ickx, Bruce Surtees, Ken Tyrrell... ), vemos os F1 mais belos, sem propaganda, longos e elegantes, Lotus, Ferrari, BRM, Honda, March. A trilha sonora de Maurice Jarre se tornou tema da F1 por vinte anos. Pra quem gosta de carros é obrigatório. Frankenheimer foi um dos grandes diretores dos anos 60. Seus filmes eram sempre inquietos. Este é brilhante em sua técnica. A falha: os dramas da vida pessoal dos pilotos são óbvios e tolos. Nota 7.
   MEU VIZINHO MAFIOSO 2 de Howard Deutch com Bruce Willis, Mathew Perry e Amanda Peet
Atores de Tv raramente dão certo no cinema. Será??? Clint Eastwood foi ator de Tv por dez anos. Steve McQueen fez Tv por dois anos. E George Clooney, que não começou na Tv, só brilhou após passar por ela. Mas a turma de Friends não vingou na tela grande. Mesmo Jennifer Aniston se tornou apenas uma boa atriz classe B. Perry neste filme é patético. Passa duas horas fazendo as mesmas caras e tropeções de Friends. Mas o filme é todo pavoroso. Uma mixórdia sem pé nem cabeça que não consegue provocar um sorriso. Comédias são filmes muito perigosos. Um drama ruim é apenas chato. Uma comédia ruim é irritante. Bruce Willis faz seu tipo cool-brega e se perde junto com o filme. Não há nada pra se fazer aqui. Zero.
   GUERRA E PAZ de King Vidor com Henry Fonda, Audrey Hepburn, Mel Ferrer e Vittorio Gassman
Vidor, um dos pioneiros do cinema, já era um veterano quando aceitou fazer este filme. É uma super-produção de Laurentiis. As cenas de batalha são grandiosas e belas. Conseguiram vinte mil homens para espalhar no campo, todos com uniformes napoleônicos e cavalos. Hoje os custos seriam impossíveis. Mas é bacana ver a diferença de multidões digitais e estas, de carne e osso. Nos envolvemos mais, nos assustamos menos. Mas fora isso, este filme é chatésimo! Não há como filmar Tolstoi. É impossível, mesmo nestas quatro longas horas. Audrey faz uma Natasha que se parece com uma americana mimada. Fonda luta para dar vida à Pierre, não consegue. Tolstoi faz livros sobre almas, são anti-cinema. O que temos aqui acaba por ser apenas mais um épico sobre Napoleão ( e o Napoleão de Herbert Lom está idêntico o Dreyfuss da PANTERA COR DE ROSA ). Nota 4.
   A LISTA DE ADRIAN MESSENGER de John Huston com George C. Scott e Kirk Douglas
Até hoje só dois atores recusaram os Oscars que ganharam: Brando em 72 pelo Chefão, e George C.Scott, por Patton em 1970. Foi um grande ator totalmente avesso a estrelismos. Quando vemos alguém como Sean Penn, que se faz de rebelde, mas que agradece seu prêmio como caipira emocionado, entendemos a seriedade que se deve ter para ser um verdadeiro outsider. Aqui Scott é o detetive que desvenda, na Inglaterra rural, um caso de assassinatos em série. Douglas é o vilão, que se esconde em máscaras e tipos soturnos. Com belas mansões, caçadas à raposa e atores excelentes, Huston nos oferece uma gostosa diversão. Um passatempo de classe. Nota 7.

MEU MAIOR TIME

   Sobre os videos aí de baixo.
   Não tenho idade para ter visto o Botafogo de Didi ou o de Gerson. Como não vi o grande Santos ou o Brasil de 70. Mas vi a Holanda de 74, o Palmeiras da Parmalat, o São Paulo de Telê, o Napoli de Maradona, Milan de Gullit, Rejkaard e VanBasten. Vi o Bayern de Beckembauer, França de Platini e Giresse, e vejo o Barça de Messi.
   Mas devo dizer, não vi time como o Flamengo que exsitiu de 78 até 83. Era uma tal gana de vencer que dava medo nos adversários. Não era toque ou paciência, era uma coisa de matar ou morrer.

Flamengo 3x0 Botafogo - 1979



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Botafogo 4 x 1 Flamengo - Decisão Taça Guanabara - 1968



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