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AMOR À QUEIMA ROUPA É UM DOS MEUS FILMES

   Em 1995, num vhs, assisti este filme seis vezes em 3 meses. E ainda escrevi uma peça baseada no filme. ( Só Brancaleone e A Vida de Brian também mereceram essa duvidosa honra ). Em 1995 cinema era pra mim uma coisa muito secundária. Não havia ainda acesso aos clássicos e após a chatice do cinema feito em 1985/1990 eu havia desistido. Cinema era coisa morta.
   Mas um amigo me deu a dica e vi o filme. Lembro exatamente da hora e do dia. E do que senti: uma enorme alegria. O filme era jovem, pop, esperto, muito inteligente, e o melhor, possuia falas e persoangens inesquecíveis. Tive a certeza de que o cinema americano renascia. E ele renascia como uma mistura de rock, cartoon, western, filme noir e cultura pop; ele renascia com o melhor da América.
   Há uma cena nesse filme que deixou os criticos com a pulga atrás da orelha. Eles diziam como podia um roteirista iniciante escrever um diálogo tão bom. E ter a ousadia de prolongá-lo ao extremo. É a cena com Dennis Hopper e Christopher Walken. Hopper apanha e chama Walken de negro. A conversa se estica, flui, a bola passa de um para o outro, a violência ameaça, o humor surge, e tudo se resolve na hora exata. Aqui nasce o estilo Tarantino, uma mistura de Godard com Hawks com Huston e com Leone. Tudo temperado por um cara que cresceu amando toda a cultura popular dos 70's. Foi maravilhoso encontrar então a voz da MINHA Geração nas telas. Ele amava o que eu amava, tinha visto o que eu vira. E desde então ele nunca me decepcionou.
   Na sequência assisti Assassinos por Natureza, Pulp Fiction ( um dia escrevo sobre ele ), Um Drink no Inferno, Fargo, Ed Wood. E pensei: o cinema renasceu! E ele fala a minha língua ( em 2000 eu perceberia que esse renascimento era marginal. O grosso continuaria dividido entre apelação rimbombante e artistazinhos sem nada pra falar de novo ).
   Tarantino odeia este filme. Claro, Tony Scott destruiu quanto pode do roteiro. Luzes azuis de publicidade de luxo, musiquinha de synth ao fundo, manias de estética chique...mas o roteiro é tão forte que mesmo assim ele sobrevive. Na sequência viriam os Cães de Aluguel.
   Preciso falar da história? Alguém não o viu? Ter mais de 30 anos e não ter visto este filme é não ter entendido nada do que seja o melhor cinema desde então. Uma louca e luxuriante festa pop onde se coloca tudo o que importa no mundo de hoje: violência, sexo, consumo e sonhos tolos. Tudo com a ironia de quem sabe que nada disso tem peso. Tudo é parte da fantasia.
   Já que voce conhece a história prefiro falar dos personagens.
   Samuel L. Jackson morre no começo. E dá pra notar que ele já é o cara.
    Val Kilmer faz Elvis. Virou mania na época imitar a mão que aponta: "Confio em voce Cara!"
   Gary Oldman está inesquecível como o trafica que pensa que é negro. De dreads, calção, sujo, cicatriz e um sotaque ridiculo.
    Brad Pitt faz um super maconheiro. Nunca esteve tão bonito. É um maconheiro muito real. E gosto de pensar que Tarantino o deixou guardado para ser futuramente o cara que domina Bastardos.
    Christopher Walken é um mafioso italiano. Elegante, frio e que tem o diálogo maravilhoso com
     Dennis Hopper. Sublime. É impressionante a quantidade de atores cool.
    Christian Slater faz o herói. Um caipira sonhador que se revela eficiente em sua ação. O óculos a Las Vegas foi item caçado por amigos meus.
    E tem a musa Patricia Arquette. A mais deliciosa das musas de Tarantino. Uma Monroe de rocknroll.
    Slater, que é a voz de Tarantino, fala à um produtor de cinema, que os filmes de 1993 são um lixo. Que o Oscar só premia lixo. Que bom era Rio Bravo, The Good The Bad The Ugly, Amargo Regresso... digo agora que O bom é Tarantino, mas o cinema prefere dar atenção a Batmans, Harrys e Vingadores. Quando não a posudos filósofos da insignificância.
     Não revia o filme a mais de 15 anos. Revi ontem. Adorei. Não envelheceu, claro, mas já é peça estranha no cinema de agora. Ninguém mais faz esse tipo de cinema. Pena.
     PS: Para arrasar, tem 2 Hearts de Chris Isaak nos créditos finais. Lindo.
     Devo dizer ainda que se centenas de filmes são muito melhores que True Romance ou Pulp Fiction ( filmes como Rio Bravo por exemplo ), True Romance é meu, é da minha geração, tem as minhas referências e meus gostos. Assim como Lebowski, Wonder Boys ou Quase Famosos, tenho a sensação de que eles falam por mim. E isso é muito bom.

DJANGO E TARANTINO E OS CINEMAS DE BAIRRO

   Bastardos Inglórios foi um filme italiano barato. Django foi um western italiano barato. E de grande sucesso. A trilha sonora, feita por Luis Bacalov, tem aquela melodia de guitarra e vozes que são a marca registrada desse tipo de fita. A cidade onde tudo se passa é pobre e fake: lama e barracos. O herói carrega um caixão, fala quase nada, e mata trinta bandidos com dois ou três tiros. Nada aqui é real. Os críticos da época ( 1966 ) odiaram o filme porque tudo nele é vazio ( aparentemente ). 1966 era o tempo auge do cinema dito moderno. Bergman, Fellini e Buñuel. Mensagem, desconstrução e simbolismo. Mas 1966 era também o tempo da pop-art, e assim como James Bond, Django era POP. 
    Se numa tela POP, Leonardo da Vinci está colado ao lado de um maço de Marlboro e de uma pin-up da Playboy, aqui temos um western que é feito na Espanha com atores italianos e um jeitão de filme de samurai de Kurosawa. Tudo vale. Tudo se mistura. Os atores têm cara de Giuseppe e não de James ou Joe. A trilha é rock com ópera. Os duelos são de HQ. Os diálogos lembram textos de comerciais de TV.  O herói é um Eastwood mais infantil. O filme é uma obra POP. Tem tudo a ver com Tarantino portanto.
   Não pense que é um grande filme. Seu objetivo era agradar o povão. E o povão amou esse filme. Na época em que não havia vhs, havia o filme-povão, que passava em salas de bairro, mais baratas. Nessas salas passavam os filmes que hoje iriam direto para dvd; filmes de karatê, pornochanchadas, comédias italianas, filmes de terror, e westerns spaguettis. Tarantino e os diretores POP vivem nesse mundo. Fosse brasileiro ele citaria ainda Os Trapalhões e Zé do Caixão. Frequentei muito essas salas. Na Fradique Coutinho eu via filmes eróticos italianos, no Largo de Pinheiros filmes de catástrofe e de terror, na Lacerda Franco vi aventuras espaciais e filmes de rock ( essas 3 salas de rua em Pinheiros ), na Vila Sônia eu via pornochanchadas brasileiras ( delicias com Helena Ramos e Aldine Muller ), no Itaim westerns spaguettis com Giuliano Gemma e Lee Van Cleef, em Santo Amaro os filmes de karatê. Ingessos a preço de ônibus. Uma maravilhosa salada POP. Pois na Paulista tinha Woody Allen, Hal Ashby, Robert Altman, Truffaut, Pasolini e Spielberg. Astor, Bristol, Gemini, Belas Artes e Paramount. EMBALOS DE SÁBADO À NOITE com SÉRPICO.
    Gosto de pensar que Quentin fez o mesmo que eu fazia. Ao mesmo tempo. ( Somos da mesma idade ). Gosto de imaginar que existe uma galerinha hoje que une, em seus dvds, Groucho Marx com Joel Coen, Bresson com Stephen Chow, Howard Hawks com Wall.E. O POP de se ler Peanuts e Kierkegaard. O sublime de Bugs Bunny e Ozu. Com a internet o POP pode ser Trans-POP. Esse é o cinema que vai sobreviver.
    

TARANTINO/ GRACE KELLY/ COEN/ DONEN/ DE MILLE/ CUKOR

   DUAS SEMANAS DE PRAZER de Mark Sandrich com Bing Crosby e Fred Astaire
Dois partners de shows se separam, por causa de uma mulher. Crosby que é o bonachão, vai viver no campo, e lá monta um hotel-teatro, onde apresenta shows só nos feriados. Astaire acaba indo parar lá, e eles disputam outra garota. O filme, muito alto astral, tem White Christmas, o single fenômeno de Irving Berlin. E tem muito mais, tem diversão, boas canções e atores simpaticos. Sandrich dirige tudo com finesse. Exemplo do filme standard da velha Hollywood. Nota 7.
   FUNNY FACE de Stanley Donen com Audrey Hepburn, Fred Astaire e Kay Thompson
Crítica longa postada abaixo. Que mais dizer? É lindo. Audrey convence como a intelectual que se torna modelo e Fred faz o fotógrafo que a descobre. Vão à Paris e a cidade nunca foi tão bonita. A verdadeira cidade sempre sonhou em ser esta Paris da Paramount. O filme tem um visual brilhante, as cores parecem respirar. Em termos visuais é uma obra-prima. Relaxe e aproveite! Nota DEZ.
   KILL BILL VOLUME I  de Quentin Tarantino com Uma Thurman
Um absoluto prazer! Rever este filme agora é tão bom como em seu tempo de lançamento. Tarantino, talento superlativo, um cara que sabe tudo de cinema, esbanja talento. A ação é incessante e nunca cansa. Música e cor, corpos que se lançam no vazio, olhares coreográficos. Com os Shaw Bros, Tarantino aprendeu tudo e uniu essa arte às referências dos anos 70 que ele tanto adora. Uma festa para os olhos, para os nervos, para o coração. Esse diretor dá dignidade ao cinema atual, mostra que a grande tradição da ação, do cinema tipicamente americano, é viva. Bato palmas para todos os seus filmes. DEZ!!!!!
   KING KONG de John Guillermin com Jeff Bridges e Jessica Lange
Quem esperaria que Jessica se tornaria uma atriz com dois Oscars? Ela, modelo de sucesso, estréia aqui, e brilha em sua sensualidade e beleza inebriante. Mas o filme é tolo, sem porque. O Grande Lebowski é um tipo de cientista-explorador meio hippie. O macaco é cômico. Jessica é a melhor vítima do Kong que já houve. Um tipo de nova Grace Kelly em tempos sem realezas. Nota 2.
   MATADORES DE VELHINHAS de Irmãos Coen com Tom Hanks
Pra que refilmar um filme perfeito? O original é inglês, de MacKendrick e tem Peter Sellers. Este é ridiculo. Não tem graça nenhuma, é irritante, mal escrito, sem sentido. Talvez o pior filme dos muito talentosos irmãos. Tom Hanks está constrangedor. Nota ZERO.
  MEIAS DE SEDA de Rouben Mamoulian com Fred Astaire, Cyd Charisse e Peter Lorre
Não gosto muito deste filme. E deveria gostar, afinal todos os seus ingredientes são excelentes. Mas algo desandou, as canções funcionam mal, as danças são comuns e o diálogo não tem graça. Fala de agentes russos que se deixam seduzir por Paris. Cyd é a super-russa que vai até lá, ver o que aconteceu. É refilmagem de Ninotchka. Não deu certo. É dos últimos musicais de Astaire, ele merecia coisa melhor. É um filme "de luxo", há quem o adore, não é meu caso. Nota 3.
   MESTRE DOS MARES de  Peter Weir com Russell Crowe
Foi uma das grandes decepções que tive nos cinemas na época. Revisto agora é ainda mais insuportável. Um monte de cenas escuras, tédio constante, o filme não se decide entre a ação e a tal arte. Acaba por não fazer nem uma coisa e nem outra. Quem procurar aventura ficará frustrado, quem quiser reflexão nada encontrará. Crowe parece com sono. Nota 1.
   LEGIÃO DE HERÓIS de Cecil B. de Mille com Gary Cooper, Madeleine Carroll, Paulette Godard, Robert Preston e Preston Foster
O filme fala da rebelião no Canadá. A população mestiça se rebela contra a coroa inglesa e a policia montada é enviada para cessar a briga. Cooper é um texano que está por lá com uma missão. É um filme exemplar. Após uma apresentação precisa, a ação se desenrola sempre no tempo certo. O diretor dá tempo para que conheçamos os personagens e logo em seguida cria mais uma reviravolta e mais uma cena de movimento preciso. De Mille era um cozinheiro-mestre, sabia sempre o que adiconar, a dose certa, a temperatura exata. Gary Cooper, já foi dito, era o americano perfeito, aquilo que todos eles gostariam de ser. Pouca gente lembra, mas era ele a grande estrela do cinema da época ( ele estava acima de Gable, Grant, Bogart e Fonda ). Já vi vários filmes de Cecil B. de Mille, este é aquele que mais me satisfez. Diversão pop de primeira. Nota 9.
   LES GIRLS de George Cukor com Gene Kelly, Kay Kendall e Mitzi Gaynor
Uma ex-corista lança uma biografia. Ela é processada por difamação. Quando o filme começa já estamos no tribunal. Três depoimentos serão dados, os três conflitantes, qual a verdade? O filme tem um problema sério, a primeira parte tem Taina Elg como centro, e ela não consegue segurar o interesse. O filme melhora muito nas outras duas partes. Kay Kendall, comediante inglesa de primeira, na época esposa de Rex Harriosn, dá um show como uma atriz beberrona; e Gaynor está ótima como uma bailarina americana virgem. Gene Kelly é o sedutor-diretor das três mocinhas. Não há nenhum grande número para ele brilhar, mas o filme é elegante, colorido e dirigido naquele estilo vistoso de George Cukor. Cukor foi um dos grandes de Hollywood, seus filmes sempre brilham. Nota 7.
   HIGH SOCIETY de Charles Walters com Grace Kelly, Bing Crosby e Frank Sinatra
Sempre me lembro de um reveillon em que voltei bêbado pra casa ( e insone ). Lembrei então que ia passar este filme na TV, e que no jornal saíra uma página sobre ele. O chamavam de o "filme mais chic" já feito. Liguei a TV, deitei no tapete e o assisti. Me senti tão chic, que no dia seguinte comprei uma cigarreira de prata. E procurei a trilha sonora em disco até achar. Depois desse dia já o revi por duas vezes. Ontem foi a terceira. Ele é sobre nada. O que vemos é Grace ficar bêbada, dançar, flertar e afinal se casar com seu ex-marido. Crosby é esse marido. Paciente, tranquilo, cool. E Sinatra é um jornalista pobre. Louis Armstrong faz Louis Armstrong, ele toca alguns números no filme, todos ótimos. Os outros números musicais são todos maravilhosos ( Cole Porter ). Destaque para True Love, uma das mais belas canções de amor já feitas, e tem ainda Did You Evah?, em que Crosby e Sinatra se preparam para ir à uma festa. O filme é uma bobagem, uma tolice leve e ebuliente...assim como é também um doce delicioso, um souflé, uma calda de chocolate. Vicia e delicia. Grace Kelly está muito bem. Sua personagem, nada fácil, é frágil, arrogante e sedutora. Falam de Audrey, de Liz Taylor, de Sofia Loren.  Mas para mim ninguém foi mais bonita que Grace Kelly. Ela era perfeita, sexy, tinha uma voz educada e elevada, um olhar de promessa. Mesmo ao lado de dois mitos ( Sinatra e Crosby ), o filme é todo dela. Maravilhosa!!! Nota 9.

CATCH.44 - AARON HARVEY, UMA DAS 3 VERTENTES DO CINEMA ATUAL

   O filme é assim:
   Em cores fortes, verdes, amarelos e azuis berrantes, assistimos a um papo furado entre três garotas "interessantes". Cigarros ( se fuma muito no filme ) e de repente música, Fox On The Run, do Sweet. Tiroteio, sangue e detalhes de perfurações de bala. A história tem vários flash-backs, e uma balconista grita e inicia mais um tiroteio. O filme tem também várias cenas de carros ( todos dos anos 70 ) e a exibição de enormes armas platinadas. David Bowie com Queen Bitch, um clipe de ação dentro do filme, ao som dessa obra-prima do rock glitter. Voce sente em todo o filme um clima de anos 70. De vez em quando a imagem parece se estragar, o filme tem efeitos digitais que o fazem parecer feito de película gasta, estourada. Estranhamente, apesar do filme ser de 2011 e se passar em 2011, nos carros só se usa toca-fitas k7 e nos bares só tem juke-box. Já lá pro final, tem uma cena com armas que apontam para armas e onde ninguém sabe quando ou em quem atirar. Sacou?
   O filme é uma cola, uma homenagem ou um roubo ( depende de seu ponto de vista ), de tudo o que Tarantino fez. Só que sem seu humor, sem sua leveza, sem seu porquê. Por ser fã de Tarantino, eu me diverti, mas se voce não for fã, esqueça. Escrevo isto pra falar de uma coisa diferente. ( Mas vamos admitir, PULP FICTION é o filme mais importante dos últimos vinte anos. Mais importante, não o melhor. )
   O cinema da América tem hoje três vertentes, três turmas dominantes.
   Tem a turma nerd, cujo representante maior é agora Peter Jackson. Filmes de efeitos, dirigidos a bilheteria e com tons de papo científico sério. Seus antecedentes são Spielberg e Cameron. Usam óculos e barba. Sempre conectados.
   A turma sensível bonzinho. Esses adoram filmes baratos, de cores pastéis, geralmente sobre adolescentes tristes ou drogados suicidas. Gus Van Sant é seu guru, mas tem toneladas de gente nessa turma. Costumam ganhar festivais. Vestem camisetas gracinhas e tênis de lona.
  E a turma deste filme. Fumam, bebem e adoram se considerar "on the road". Têm um caso sério com a época do rock de garagem. Tarantino é seu deus e amam cinema lixo, filmes de terror barato, porradaria, kung-fu. Usam camisas havaianas e óculos escuros.
  Salvo maravilhosas excessões, o grosso do cinema de agora é filho legítimo ou bastardo dessas correntes. Espero que um dia surja alguém com o talento para unir as três. A comunicação fácil do cinema de JJ Abrams, o coração de Sofia Coppolla e a virilidade adolescente de Robert Rodriguez.
  Catch.44 não é esse filme. Mas para alguém que como eu,achou Machete do cacete, dá pra tirar uma fácil.

ALL THAT JAZZ/TARANTINO/PAUL NEWMAN/BECKER

A LENDA DOS DESAPARECIDOS de Henry Hathaway com John Wayne e Sophia Loren
Aquele tipo de filme de cara que vai pro Saara descobrir tesouro. A fotografia de Jack Cardiff ajuda, Wayne exibe seu carisma e Loren faz a italiana emotiva. Competente. Nota 6.
BASTARDOS INGLÓRIOS de Tarantino
Os 3 grandes defeitos do cinema atual : 1. péssimos diálogos, 2. roteiros cheios de complicações que existem sem razão nenhuma. Apenas disfarçam banalidades, 3. visual de TV, muitos closes, muitos zooms, imagens estouradas, edição frenética ( tenta se dar ação pela edição ! ). Pois bem. Neste filme Tarantino faz um filme com cara de cinema. A estética é a dos grandes filmes de aventura dos anos 60. O roteiro é certo e direto, nada de pseudo-intelectualismos. E os diálogos são dignos dos anos 30. Ele faz seu filme mais adulto. O cara sabe tudo e ama a arte com sinceridade. Ele me dá esperança. Nem tudo se perdeu ! Nota DEZ.
O INDOMÁVEL de Robert Benton com Paul Newman, Bruce Willis, Jessica Tandy, Melanie Griffith e Philip Seymour Hoffman
O último grande desempenho do mais simpático dos atores americanos ( de 1960 pra cá... ). Paul é um velho quebra-galhos numa cidade pequena. É um perdedor. O filme não é triste, é quase uma comédia lenta. Willis é seu patrão muito mal caráter. E a maior atriz do teatro americano, Tandy, é sua senhoria; Melanie é a esposa do patrão e Philip um guarda fascista. Robert Benton foi um roteirista de gênio ( Bonnie e Clyde ). Como diretor sempre foi apenas OK. Mas o filme é bonitinho. Paul Newman é excelente. Nota 7.
PAIXÃO PROIBIDA de Serge Gainsbourg com Jane Birkin, Joe Dalessandro e Depardieu
Dalessandro foi ator dos filmes de Andy Warhol. Ele se parece com um jovem Iggy Pop mais bonito. Péssimo ator, ele apenas posa fazendo cara de mau. Ele aqui é um caminhoneiro. Gay. Ele viaja com seu namorado. O filme foi feito nos USA. É um filme estradeiro. A trilha sonora, do próprio Serge, é um tipo de som "Bonnie e Clyde". Pois bem... o caminhoneiro conhece num posto de gasolina uma moça que é muito magra. Tão magra que se parece com um garotinho andrógino. Joe se apaixona por ela. Mas por ser gay, ele só faz com ela "sexo gay". Entendeu ? A moça é Jane Birkin, esquisita e com um rosto lindo. O filme é cheio de lixo, poeira e fedor. É ruim pra caramba. Serge põe a câmera sempre em lugares errados e os atores ficam perdidos. Os diálogos são de doer ! Gerard Depardieu faz um gay sempre de branco, longos cabelos e sobre um cavalo também branco. O filme nunca teme o ridículo. Eu achei muito divertido. Mas é um lixo. Lixo que me seduz. Nota invisível. ( ).
ERA NOITE EM ROMA de Roberto Rossellini
3 homens fogem da prisão dos nazistas. Se abrigam na casa de uma romana. O filme mostra o cotidiano da Roma da guerra. Os fugitivos são cada um de uma nação. Roberto dirige daquele modo seco e pobre de sempre, parece televisão educativa. nota 2.
FANTASMA de F.W.Murnau
Ele seria o grande diretor na América dos anos 30/40 se não houvesse morrido em acidente de carro tão cedo. Este é um filme silencioso sobre a perdição da paixão. Há uma cena de baile que usa câmera na mão, efeitos de zoom e fundo psicodélico !!!! Em 1922 !!!!! Murnau sabia ser ousado. Mas este roteiro é bastante piegas.... nota 4.
MULHERES NO FRONT de Valerio Zurlini com Anna Karina, Marie Laforet, Lea Massari
Fala dos grupos de prostitutas que eram usadas no front pelos soldados italianos. Cada moça era objeto de um batalhão inteiro !!!!! Zurlini era um diretor maravilhoso ! Seus filmes são poemas à melancolia que não nos deprimem. Anna está lindíssima como uma prostituta que ainda vê humor na vida, uma bela comediante. O filme é trágico e apesar de ser um dos menos conhecidos de Zurlini, é ainda invulgarmente bom. Nota 7.
LE TROU de Jacques Becker
Um milagre ! Eis um filme de duas horas e quinze minutos, todo passado entre uma cela e uma rede de buracos, que jamais entedia ou irrita. Becker, grande diretor, se deu este desafio, e o venceu. O filme é viril e apaixonante aventura. Tem, inclusive, um dos melhores e mais terríveis finais que já assisti. São cinco prisioneiros, que com engenho e calma, tentam fugir da prisão. O filme evita os chavões : a prisão é limpa e tranquila, não há violência alguma, o diretor é compreensivo e os presos comem bem e são camaradas. Mas eles estão confinados ! E como o homem está condenado à liberdade.... O filme não tem trilha musical nenhuma, e os sons do esforço físico daqueles homens abrindo túneis na rocha pura é aterrorizante ! Fime diferente de tudo que voce já viu, ele permanece na memória. Becker ( pai do também bom diretor, Jean Becker ) era um talento gigantesco ! Esta OBRA-PRIMA o prova. Nota DEZ.
OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR de Jacques Demy com Catherine Deneuve
Ah!!!!!! Jovem Deneuve... tão lindamente perfeita que chega a parecer uma ficção ! Este filme, com trilha musical de gênio de Michel Legrand, é todo cantado. Quando digo todo é todo : quando alguém diz : - Quanto custa ? Isso é falado em música. Ou seja, é uma ópera. Mas em ritmo de jazz pop. O filme é colorido, fantasioso, feliz e hiper-romântico. Se voce gosta das melodias vai amar, se detesta musicais, irá rir dele. Nota 6.
ALL THAT JAZZ DE BOB FOSSE COM ROY SCHEIDER E JESSICA LANGE
FELLINI JAZZ E ANSIA POR VIVER = O FILME DA MINHA VIDA.
Quantas vezes ? Vinte... mais... trinta...talvez. Só no cinema foram quatro. Este não é o filme que penso ser o melhor que já assisti, mas é MEU filme. Tenho de o rever todo ano.
Bob Fosse... ele foi o mais sexy coreógrafo e diretor da Broadway , e é, até hoje, o único cara a ter ganho no mesmo ano os 3 grandes prêmios : Oscar/Tony e Emmy- cinema, teatro e TV, tudo em 72. Se ele escrevesse teria ganho o Pulitzer naquele ano... Bob Fosse era como Joe Giddeon, o personagem deste filme ( ah... se voce não sabe, o Oscar de 1972 foi por Cabaret, vencendo O Poderoso Chefão ). Mas voltando, Fosse era fumante doido ( quatro maços por dia, inclusive no chuveiro e na cama ), mulherengo, egocêntrico, anfetamínico, criativo, cardíaco e genial. Morreu na reestréia de Chicago, Broadway... Como acontece aqui, em ALL THAT JAZZ, morte na estréia. Fosse escreveu o roteiro de sua futura partida.
A verdade é que nunca desejei ser O Homem-Aranha ou Bill Gates. Eu queria ser Joe Giddeon/ Bob Fosse. Brinquei disso por mais de uma década, na faculdade e na vida. Namorei e escrevi como se "fosse" Joe Giddeon. Confesso. Foi muito bom...
Cada década tem um musical que espelha o que ela foi. Não é necessariamente o melhor da época, mas é seu retrato. Os anos 2000 têm o chatíssimo CHICAGO, que desmerece o trabalho no palco de Fosse. É um filme cheio de acontecimentos, truques e baboseiras. É a cara deste cinema. Os anos 90 são representados pela jovialidade colorida de ROMEU + JULIETA, aquele de Baz Luhrman com Di Caprio. Bobinho e bacaninha, como os 90. Nos 80 temos FLASHDANCE, e nem preciso dizer nada... e os 60 têm o muito otimista e cômico POSITIVAMENTE MILLIE. Nos anos 70, os anos de drogas, sexo, loucura e nóia, existe este plásticamente exagerado, histéricamente fascinante ALL THAT JAZZ.
Bob Fosse pega o roteiro de OITO E MEIO de Fellini, diretor pelo qual ele tinha obsessão confessa, e o refilma. No lugar do diretor de cinema em crise, um diretor de teatro. Sai a Itália, entra New York. Continuam as mulheres, as memórias e a doença. Permanece a absoluta e completa genialidade. A memória, sonhos, ideal de beleza, música.
Joe Giddeon, numa impressionante atuação "de macumba" de Roy Scheider, acorda ( esta cena é repetida por todo o filme ) e ao som de Vivaldi, se entope de bolinhas e cigarros ( o Camel que eu fumava...) Pinga colírio no olho vermelho, e em frente ao espelho, ele repete a sí-mesmo : "- SHOWTIME FOLKS!" Todas as manhãs..... Hoje, quando em ansiedade, ainda me pego neste " Showtime folks! " para mim mesmo... Então ele vai ao teatro ensaiar uma peça que não evolui. Ele está em crise.
Ao mesmo tempo ele sofre com a consciencia de ter estragado um bom casamento, mas continua não resistindo às jovens atrizes. E ainda tem de editar seu novo filme, ineditável. E sofre a pressão de um ator perfeccionista e crítico temível ( o filme, na vida real era LENNY e o ator carrasco era Dustin Hoffman, famoso por torturar diretores com sua mania de perfeição ).
Giddeon sofre infarte e o anjo da morte é Jessica Lange, de branco, maravilhosamente linda ( em Fellini foi Claudia Cardinale ). O filme ousa : sua hora final é a descrição da morte do diretor do filme. Giddeon conversa com a morte/mulher, e beleza das belezas : tenta flertar com ela.
Joe/Bob Fosse tem apenas um grande amor real : aquele anjo da morte.
As cenas de ensaio, de bastidores e a atuação dos bailarinos chega a ser comovente. Mas na morte do diretor, longa cena dançada, com enfermeiras, corações de plástico, sangue e seringas, Bob Fosse atinge o mal-gosto e o sublime, o mais feroz pessimismo, mas também uma garra vital dionisíaca. Não há filme que nos dê tão explícita imagem da força da arte dionisíaca. A agonia da criação está toda em exposição. Dor e prazer, vaidade e aniquilamento.
ALL THAT JAZZ mostra a vida que desejei ter. Bela e perigosa, glamurosa e podre. É óbvio que não sou Fosse ou Giddeon. Sempre soube disso, minha viagem não foi tão doida. Mas a graça estava em seguir a miragem. Bob Fosse me deu um presente que iluminou meu caminho. É pouco ?
Perfeição é sempre sinal de má arte. Perfeição é para ciência. Chicago tentou ser perfeito. Moulin Rouge é perfeito. ALL THAT JAZZ é todo errado. E por ser torto, chega lá. Não é feito de luz e música. Ele é semem, tabaco, coxas, traição, sangue, suor, solidão, tosse, doença e inenarrável beleza. Transcende. Ele é eterno. Anjo da morte que seduz Joe Giddeon e nos arrebata.
Continuo fã deste filme. Não precisaria de nenhum outro se tivesse de levar um só para a tal ilha deserta. Me diverte, me inspira e me guia. Joe Giddeon é meu xamã.
ALL THAT JAZZ. Voces queriam saber ? Sempre ( desde 1979 ) foi meu filme favorito. Não o melhor, mas o mais amado.
Fecho o zíper : riiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiipppppppppppppp..... fim.

BASTARDOS INGLÓRIOS - TARANTINO

Em 1995, uma nova amiga, uma delicada menina de 18 anos, me emprestou um CD com a trilha de PULP FICTION. Eu via até então aquele modismo travoltiano com desconfiança; mas foi ouvindo aquele cd, pelo qual me apaixonei, que descobri Quentin Tarantino. Depois aluguei o VHS de PULP e assisti o filme duas vezes seguidas, num fim de semana em que descobri também ASSASSINOS POR NATUREZA.
Hoje, provando que a vida é sim um círculo, entro numa sala de cinema, com a mesma menina, que continua parecendo ter 18 anos, e continua delicada, para assistir um novo Tarantino. E o filme é circular também e é fascinante. Principalmente se voce conhecer um pouquinho das fontes do filme.
O letreiro e a música de abertura é spaguetti-western. Ennio Morricone pontua todo o filme, com sua grandiloquencia genial. Mas vai haver também um clip com David Bowie que será uma beleza.
Então vem uma paisagem bela e a famosa lentidão de Tarantino. Voce consegue perceber como seus filmes são feitos "à moda antiga" ? Não há zoom, não há câmera na mão, nada de chicote. Os cortes são mínimos, sómente quando necessários. A imagem é para ser vista, olhada, apreciada, voce realmente VÊ um filme, não é invadido por ele. E vem o diálogo. Muito já se elogiou o diálogo de Quentin. O que posso dizer é que este é seu primeiro filme maduro. O diálogo do alemão com o francês é um aperitivo, o que virá depois é ainda melhor.
Quanta ação há no filme ? Se voce notar, quase nehuma. O filme é feito de diálogos. Sintomático são os trailers que passaram antes do filme. Um, sobre mais uma produção de fim-do-mundo ( se não me engano, de Emmerich, de novo... ). Outro, totalmente digital, um desenhão travestido de filme para adultos ( o novo de James Cameron ). Nesses filmes só existe o susto, sensações histéricas, a pornografia do gozo imediato. Filmes óbvios. Tarantino, por outro lado, nos faz esperar, ele não nos assusta, ele nos conduz até a emoção final. Jamais uma porrada, sua ação é um arranjo sinfônico, tudo começa num sussurro e cresce até a coda.
O ator que faz o alemão... o que é aquilo ? O prazer que ele demonstra em fazer tal papel é passado para quem o assiste. Sonho de todo ator - troca com a platéia. Mas todos brilham. Veja a cena em que os dois alemães conversam de pé. A câmera foca no rosto da francesa, por vários segundos, mostrando sua reação ao diálgo e não o próprio diálogo. Nessa cena, o filme atinge a perfeição. Na verdade é uma comédia. Sua violência é cômica. Seus personagens são hilários, nazistas de vaudeville e judeus de anedota.
O filme não é sobre a guerra. O filme é sobre o cinema de guerra.
Brad Pitt se chama Aldo Raine. Houve um ator nos anos 50, com sotaque do sul, que se chamava Aldo Ray. Os Bastardos lembram OS DOZE CONDENADOS de Robert Aldrich, e há uma cena típica de STEVE MCQUEEN e seu FUGA DO INFERNO. Vemos cartazes dos filmes dos anos 40, e há uma linda homenagem à Clouzot. Fala-se de Pabst, de Chaplin e até Emmil Jennings aparece ( ator allemão que foi o primeiro da história a ganhar um Oscar. Era nazista. ). David Selznick é citado. Se voce conhecer esses filmes seu prazer será ainda maior. Mas mesmo que não...
A cena ( como Godard, ele divide tudo em capítulos ) do bar no porão, que termina num tiroteio à John Woo é, possivelmente, a melhor coisa que Tarantino já filmou. Vale sózinha pelo filme inteiro. Mas o final, com a tela incendiada voando em meio as chamas, é de magnífica beleza. Um filme sobre filmes termina num cinema e com a explosão de películas cinematográficas. Um círculo perfeito é feito.
A cúpula nazista morre. Mas sabemos que aquele é o Hitler do cinema, como aquele é o exército nazista do cinema. Vemos um filme. Tarantino aprendeu isso com Godard : um filme é sempre um filme, e nunca pode querer ser vida real. Mas Quentin Tarantino é americano. E ama o cinema de ação clássico, o cinema de Aldrich, de Siegel, Sturges e Leone. Une os dois, e dá isto : BASTARDOS INGLÓRIOS, um filme muito acima de tudo que rola pelas telas agora.
Um toque : se voce gostou deste filme, faça um favor a si mesmo e assita OS DOZE CONDENADOS e depois FUGINDO DO INFERNO. Voce vai se divertir demais !!!!!!!
Com BASTARDOS INGLÓRIOS, Quentin Tarantino se afirma como o melhor de sua geração, e se mostra pronto para se juntar a Scorsese, Coppolla, Eastwood como um mestre. Mal posso esperar pelo próximo...