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BERLIN, LOU REED, A SEDUÇÃO DO QUE TE DÁ MEDO.

Berlin não termina nunca...Porque ele diz as coisas mais horríveis da forma mais bela possível. Suicídio, genocidio, infanticidio, Lou fala horrores com sua voz fria, sem nenhuma emoção. Lou recorda suas sessões de eletrochoque, tardes de pesadelo ordenadas por seu pai. Lou consegue fazer do pesadelo, arte e dessa arte beleza.
Alguma coisa pode ser mais bela que The Kids? Alguma coisa pode ser pior? How Do You Think It Feels? O disco é um pesadelo sedutor. É escuro é úmido e é gelado.
Luxuriante. Caroline se mata e agora não mais sentirá amor por quem a surrava. Oh Lou...Oh Jim...
O disco começa em dissonancias jazzistas e termina em orquestrações de amor nas nuvens. Bob Ezrin produziu daquele modo apocalíptico no qual ele era mestre. Jack Bruce, Steve Hunter, Dick Wagner estão aqui. E Lou canta o refrão de Frankenstein: Sad Song...
Após o sucesso de Transformer ele quis assassinar sua carreira e fez Berlin. E conseguiu. Os criticos de então o arrasaram. Os mesmos que destruíram Led II e discos de Eno. Os críticos dos anos 80 botaram tudo em seu devido lugar, para sempre. Berlin é uma obra-prima da mais pura arte moderna. E é um lixo.
Berlin nunca termina. Lou era um vampiro que está por aí sugando sangue de meninos.
Como se pode criar tanta vida falando de morte? Berlin nunca termina...O reencontro agora, trinta anos depois da última vez em que o escutara. Tinha medo dele. E o medo sai e sinto o que eu não pensava querer sentir. A sedução. Berlin.
Merda. Porque tudo que é melhor custa tanto?

OH YOU PRETTY THINGS...

   Magistral, maravilhosamente bem escrito, viciante, obrigatório para todos que gostam de rock, e muito, muito melancólico... 
  Falo mais do livro abaixo, mas agora ( acabo de terminar sua leitura ), fica um gosto azedo na boca. Porque o livro é um belo romance acima de tudo, uma história real e romantica, uma história que traz a nossa cabeça, a nós romanticos-roxy-incuráveis, uma sensação de que Bowie, Lou, Iggy, Cale, Patti Smith, Marc Bolan, Nico, não realizaram nem metade daquilo que podiam ter feito. E não porque eles se drogaram demais. O livro deixa claro que se Lou não tivesse caído de boca na vida sua arte seria outra. Idem para Iggy. O excesso e a droga era parte de seu ser. Não é isso. O amargo vem da certeza que o livro passa de que a vida é limitada, de que não se pode, ninguém, realizar todo seu potencial. E lemos então o monte de planos que Bowie não conseguiu realizar. Seus fracassos gigantescos, sua falência financeira ( tudo em 1974 ), a colaboração com Marc Bolan que nunca rolou, a briga terrível com Lou Reed, a partida de Mick Ronson...
   Mas também existem os sucessos. A mágica ida a Berlim, Iggy, David e Eno descobrindo a cidade, o submundo, as boates de dragqueens, o clima do filme Cabaret. O disco com o Kraftwerk que quase rolou, as gravações de Idiot e de Low, os discos que mudaram o mundo da música para sempre. Ambos gravados por Iggy e David juntos.
   Os excessos de Iggy. Os Stooges prontos para estourar e Iggy destruindo tudo com cenas de sangue, mutilação, ofensas dirigidas a platéia, apanhando do público, se fazendo de a banda mais odiada do mundo. E Bowie o salvando, Iggy que chegou a roubar comida para poder viver ( em 1975... ) As orgias com meninas de 15 anos...
   E Lou...o cara que mostrou ser possível ter uma carreira sendo aquilo que voce é. Mergulhado em perversões, drogas, brigas, falando sempre o que não devia ser dito... e sempre indo em frente...
   O livro acaba em 1980. Que é quando a carreira dos 3 se congela. Lou Reed está por baixo, e Bowie o chama para conversar. Ele quer fazer, mais uma vez, um disco de renascimento, como foi Transformer, para aquele que é afinal seu mentor. Alguns jornalistas vão ao encontro, num restaurante, os dois estavam brigados a anos. Conversam amigavelmente, parece que o disco vai sair...Mas de repente Lou espanca Bowie e grita com ele...E o encontro vira uma briga onde várias pessoas os separam. Porque? Porque Bowie tocou no único assunto que Lou não admitia: pediu para ele parar de detonar antes de começarem as gravações. Lou se foi...Bowie partiu para Lets Dance...
  Dave Thompson escreve então a última frase do livro, e aí vemos como ele escreve bem:
  "David Bowie foi atrás de Lou Reed, e de Iggy também, exatamente porque os dois tinham a ira, a coragem e a audácia que o jovem Bowie tanto admirava. E as drogas faziam parte de todo esse pacote. Pedir para deixar isso de lado era como uma traição aquilo que Lou era. Hipocrisia.
  Voce tem de ler este livro. Ele vai grudar em voce. Apaixonante...

UM RAPAZ TIMIDO QUE PARECIA SER GAY

   Tony deFries era um advogado júnior que resolveu virar empresário de rock. Tomou nas mãos um tal de David Bowie.
   Em Londres foi levado um espetáculo de Andy Warhol. Uma peça com um bando de travestis e algumas mulheres. Tinha sexo real, sujeira, ofensas e frases sem sentido. Todos se falam e ninguém escuta. Num tempo em que ainda se criava polêmica real, as pessoas ainda tinham tabús para serem desafiados, a peça foi atacada por jornais e TV. O público ia em massa. Bowie foi com Tony. A ideia foi pega: levar aquilo para o rock.
   Bowie sempre disse: "Sou uma máquina Xerox! Nada crio, absorvo e misturo aquilo que vejo. Se sou triste é porque o mundo o é. Se sou glamouroso é porque o mundo é. Me amar é amar ao mundo e se voce me detesta é porque o mundo agora é detestável." David Bowie falava coisas como essas nas revistas. Frases assim, perto daquilo que Dylan ou Lennon diziam, são mais que inteligentes, são distanciadas, espertas, terrivelmente espertas.
   E em meio a isso tudo Bowie diz ser bissexual. E para o autor, Dave Thompson, essa foi sua jogada de mestre! Porque Bowie nunca foi gay ou bissexual. Se fosse teríamos montes de relatos de ex-amantes. Mas não. Nada. Bowie tem uma vida sexual fria, timida, distante. Mas ele "parece"gay e sempre fez questão disso. Com essa frase ele pegou a diferença, ele foi o primeiro cara a escancarar a sexualidade reprimida inglesa. Isso não era pouca coisa. Perto dele Jagger e Rod Stewart passaram a parecer conservadores. E Led, Beatles ou Who, terrivelmente machos. Bowie pegou o bando de teens reprimidos e os colocou nas mãos. 
  Tony deFries tem muito a ver com isso. Ele inventou um conceito que seria regra para sempre. Ser uma estrela antes de ser uma estrela. Viver como um superstar mesmo sem nada ter feito. Bowie andava com guarda-costas quando ninguém ainda o conhecia. Bowie andava de limousine ainda sem grana. E guiava a juventude mesmo sendo ignorado pela midia. Tudo isso na verdade coisa de Andy Warhol, mas Tony foi o primeiro a usar isso no rock. E Bowie foi o mais dócil dos artistas.
   E compunha! 3 discos em um ano!!!!
   Fato: Iggy Pop não gostava dos discos de Bowie. Mas Bowie não ligava, Pra ele, Iggy era o melhor cantor do mundo. E ele o tirou do buraco. Levou-o pra Londres. 
   Fato: Bowie ajudava todo mundo. Antes da fama, ele tirou o Mott the Hoople do desemprego. E lhes deu um hit de presente.
   Fato: Lou Reed usou Bowie para ganhar uma grana. E Bowie o tratava como um rei.
   Rapaz timido. Que tremia na frente de Lou, Iggy, e ficava mudo com Andy Warhol.
   PS: Se Bowie reflete o mundo, o que seria seu silêncio?

DANGEROUS GLITTER- DAVE THOMPSON, E O MUNDO NUNCA MAIS FOI COMO ANTES

   Tudo começa com Andy Warhol. Ele queria uma banda "assim tipo essa coisa, hum....rock" e um dos caras da Factory achou a tal banda. Era a banda de um tal de Lewis Reed, um cara que tomara eletrochoques aos 17 anos, por ordem do pai milionário, pra ver se "ele deixa de ser viado".  Reed gostava de Bob Dylan e compunha folks. E o melhor, era vaiado sempre.
   Nico era alemã e foi topar na Factory. Era o molde do que viria a ser uma descolada hoje. Namorada de Bob Dylan, atriz, modelo, cantora, atuara com Fellini. Andy resolveu botar Nico pra cantar as músicas "....uh....do Lou Reed, nada de Lewis..."
   Na Factory morava todo mundo: bichas, travestis, bandidos, cineastas, drogados, poetas, e os bobos também. Um cara de Gales apareceu por lá...John Cale era músico erudito, tão louco quanto Reed, com uma diferença, Cale detestava Bob Dylan. Andy botou ele na banda com sua viola torta e uns teclados ""tipo uh....Cage... John Cage. John e Lou se gostaram. Ambos liam as mesmas coisas.
   O primeiro show foi num congresso de psiquiatras. Foram vaiados. Nico ensinou Reed a ser cínico. a ter raiva, a ser cool. Vestidos de preto, eles queriam matar os hippies. Odiavam a costa oeste.
   Nico passou a namorar Brian Jones. E um dia levou a um show um outro namorado, um cara meio tosco de Detroit, um tal de James Osterberg. Ele tinha uma casa chamada Fun House, no mato, vivia lá com uns amigos. Nico foi pra lá e mudou o cabelo de James, lhe deu uns toques sobre atitude, e foi embora sem olhar pra trás. Foi dormir com Jim Morrison.
   O cara virou Iggy Pop e John Cale produziu seu primeiro disco. Iggy era uma besta. Um idiota. Genial.
   Lou Reed se achava o máximo. E por causa disso John Cale se foi. E com Cale se foi todo o ruído. E depois se foi Andy Warhol, e com ele se foi o fascínio chic. Lou ficou mais Dylan. E então, cansado de ser vaiado, de ser agredido, cansado do fracasso, foi pra casa.
   Na Inglaterra um cara metido a ator não sabia se queria ser Brando ou Elvis. Foi levado a New York para conhecer Andy Warhol. Estava doido para encontrar Lou Reed. Reed não lhe deu bola, foi snob com ele. Voltou pra Londres e continuou sendo um fracasso. Ele compunha canções lindas, mas era um tempo em que todo cara novo tinha de seguir o estilo progressivo ou hard rock. E ele, David Bowie, era apenas pop. Mas um pop esquisito, pop feito por quem tinha pretensão, cultura, gosto. E era poeta. David Bowie tentava fazer sucesso sem fazer concessão. E nada.
   Well....Marc Bolan era amigo de Bowie, e Marc abriu um caminho psicodélico. Violão e voz. Até que Tony Visconti insistiu para que ele usasse uma guitarra elétrica e Marc botou o glam nas paradas. Nascia o auge do rock inglês. A ilha nunca mais seria a mesma.
   Mas nesse momento, 1971, em que T.Rex estoura, Bowie ainda era um nada, Lou voltara a morar com os pais e Iggy estava morto para as gravadoras.
   E  então Bowie encontra Tony Visconti. E conhece o novo Jeff Beck, um tal de Mick Ronson...E então Bowie tem a ideia, fazer uma Factory inglesa!!!!!
   E o resto conto depois....

The Velvet Underground - White Light White Heat - [LIVE 1969]



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Femme Fatale -The Velvet Underground (Edie Sedgwick )



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UMA RESPOSTA A QUEM NÃO GOSTOU DE MEU TEXTO SOBRE LOU REED ( E SIM, SOU UMA CONTRADIÇÃO )

   Escrevem dizendo da influência nefasta do Velvet e de Lou Reed sobre o rock. De que assim como Dylan, eles estragaram o rock ao deixá-lo pretensioso. OK. Vou deixar as coisas claras.
   Adoro todos os discos do Velvet Underground, menos a faixa All Tomorrow Parties. E de Lou penso que Transformer é imbatível. E gosto pacas de New York, Songs for Drella e bastante de Coney Island Baby e de algumas músicas de álbuns diversos. E concordo, a influência deles é nefasta. A primeira leva de influenciados ( Bowie, Roxy, Iggy ) é genial, mas a partir do Television a coisa começa a ficar hiper deprê. Basta dizer que na década de 80 os Velvets eram considerados maiores que Stones ou Who e tão fundamentais como Beatles. Não por acaso é a década da depressão. 99% das bandas influenciadas por Lou que citei estão longe de minha preferência. Como acontece com o Led Zeppelin, outro ícone que deixou nefasta herança, Lou não tem culpa por seus filhotes. A turma dos desesperados soturnos que vá se curar.
   Mudei nesses anos. Após passar meu desbunde pelo Velvet revalorizei a black music e lembrei de dançar. E prefiro hoje ser um hippie utópico que um niilista inutil. Conheci bandas como Love, Flying Burrito, Soft Machine, The Band, que são tão boas e tão influentes ( o The Band mais ) que os Velvet. Claro que sem o chique citadino glam dos Velvet...
   Meu amor e minha tristeza é pelo cara que esteve no Velvet e fez Transformer ( que é tão de Bowie e Mick Ronson e Tony Visconti quanto de Lou ). Quanto ao  fato de Lou Reed ser um sacana ruim invejoso e mau...So what?
   Falei.

UMA CARTA PARA LOU

   Eu nunca consegui ser Mick Jagger. Nem mesmo Rod Stewart ou Iggy Pop. Mas voce Lou Reed me revelou que eu podia ser o que eu era. Uma fauna havia pelas ruas. E o lance era saber ver/ saber olhar. E todo mundo nascia, todo mundo um dia ia morrer, mas muito pouca gente vivia. Naquele tempo o Paulinho Boca de Cantor cantava "Quando eu pirar pra lá de Lou Reed". Mas voce nunca pirou! Sua esquisitice, que era muita, estava sempre sob controle. Sua estirpe era a de gente como Bogey. Frio debaixo de uma enorme pressão. Aliás na real voce não tem canções confessionais. Escreve como autor de livro policial. Conta um conto, voce estava nas entrelinhas.
   Diziam que voce era um chato. Marrento, vaidoso. E daí? Quem não é? Uma riqueza interior imensa dá de troco uma dificuldade em ser e estar. Caramba Cara! Gente como voce devia viver pra sempre! Mas talvez a coisa já estivesse concluída. Como diz o Bardo "Devemos uma Morte para a Vida." Voce pagou sua dívida ontem.
   A Factory....o sonho/pesadelo de todo artista destes tempos frios. Usina de produtos que eram arte-empacotada como ironia ao mundo. E a trilha sonora era sua. Viva, Dalessandro, Andy, Jim, John, Nico, Mary, Stirling, Maureen, Paul.... Moda, imagem, parecer ser, ser ao parecer, a imagem como fim...Voces inventaram o mundo das virtualidades, Parecer sendo mais importante que Ser. POP.
   Como alguém como voce morre? A serenidade terá vindo? A nova sensação? O anjo secreto do fim? Ou foi a escuridão suprema e vencedora? Andy está aí? Quando Bowie irá?
   Eu larguei as ruas Lou. Elas se fizeram cinzas. Não têm mais o compromisso do preto. É um tempo de ocres, de pastéis. Tudo o que Rauschemberg não queria. Por falar nisso, já achou Keith e Basquiat por aí? O céu é grafitado? Ele tem um Wild Side?
   Sinto sua falta.
   PS. Agora para nós que ficamos faz mais sentido cantar Satellite of Love.
   Amor, Tony Roxy.

A Walk On The Wild Side



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LOU REED, MEU HERÓI

   Todo mundo morre baby, alguns não vivem. Oh God, Lou Reed também morreu!
   A história de Lou em minha vida está toda viva em minha memória. Isso porque eu o conheci já aos 18 anos. Até então, naquele mundo sem internet, eu vira fotos de Lou e sabia do Velvet, mas não tivera a chance de ouvir. Então, em 1981, eu e meu irmão compramos no Museu do Disco, sábado de noite, no Iguatemi, White Light/White Heat. Eu era então um fã de Hendrix, Stones, Traffic, meu irmão, mais antenado, era de Clash, Police e B`52`s. Nossos gostos não batiam. Mas o Velvet nos uniu. Porque aquilo era arte, mas também era punk. Era muito simples, e também muito sofisticado. E tinha a arrogância corajosa do verdadeiro talento. Minha vida mudou naquela noite. Lembro de ter criado em minha cabeça a ideia de que ser um maldito podia ser bom. Comecei a me vestir de preto, e o principal, nada mais me parecia louco o bastante. Perto do lado 2 deste disco, tudo parecia pop. Tive viagens memoráveis ouvindo o disco inteiro, noite após noite. E o melhor de tudo, nada era menos hippie que Lou. E súbito eu me fiz um anti-hippie. Um mundo de arte avant-garde se abriu para mim. O Velvet ia do dadaísmo a arte-pop, de John Cage a Stockhausen. Perto deles os Stones eram castos, os Beatles hiper-conservadores e Zappa um chato.
   Esse meu desabrochar ingênuo me levou a bad trips e a um tipo de niilismo insuportável. Mas logo passou. E então descobri Transformer e o que era bom ficou melhor.
   Nestes anos de Trombone com Vara devo ter falado duas vezes de "melhor disco da história". Dei esse título a Low de Bowie e me contradisse ao lembrar de Exile on Main Street dos Stones. O mais constante em meu coração é Transformer, porque ele mistura os dois, Low e Exile, e ainda oferece algo mais. A ironia glitter. O disco tem rocknroll como Exile, guitarras rascantes e razantes como Keith, mas também tem aquela coisa fria e sob controle de Bowie e o som chique, limpo, sexy e noturno que Lou desenvolveu na época. De Vicious até Good Night Ladies, tudo lá é arte, é rock, é glam e é ironia. A capa de Mick Rock, a guitarra de Mick Ronson, os backing vocals de Bowie, tudo é superlativo. Como diria Ezequiel Neves, "descaralhante"!
   Foi o disco que abriu o caminho para o nascimento de minha persona TONY ROXY. As noites no Satã, vodka e lixo, eram Transformer.
   Falar dos filhos do Velvet e de Lou? Quantas laudas? De Television a Joy Division, de Cars a Roxy Music, de Smashing Pumpkins a Talking Heads, Cowboy Junkies e Echo, Jesus and Mary Chain, Ultravox, Suede...Bandas de preto, moços contidos e cool, baladas com sons desafinados, barulho, confusão, escuro, niilismo e poesia, muito noise...Sonic Youth, Pixies....
   Meus amigos sempre piravam quando eu lhes tocava The Gift ou Waiting from my Man...ou viravam fãs ou abominavam. Mas nunca a indiferença. Mal eu sabia que a reação era a mesma em todo o mundo. E que, como disse um repórter da Rolling Stone em 1981, pareceu sempre que os poucos caras que ouviam Velvet Underground montavam sempre uma banda. Porque Lou nos liberava, fazia com que a gente botasse tudo pra fora, pirasse a caísse na estrada.
   Lou agora foi pro céu de Rimbaud, de Poe e de Leadbelly. 
   E a gente fica aqui. Waiting From My Man... 
  



Velvet Underground - I´m Waiting For The Man



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BERLINER ENSEMBLE, NEYMAR, BERGMAN, SHOPPING CENTER E CSN

   A BERLINER ENSEMBLE é uma das melhores instituições da Alemanha. Ela vem ao Brasil e é muito muito muito primordial que voce a veja. Com Bob Wilson na direção, eles irão apresentar A ÓPERA DOS 3 VINTÉNS e LULU. Mesmo que voce não entenda alemão, veja. E ouça também. Em A Ópera a música é de Kurt Weill. Música de Weill significa beleza e humor no mais alto grau de perfeição possível. Lulu, o texto enigmático-expressionista de Frank Wedekind, tem trilha de Lou Reed. Lulu fala de sexo como morte e de noite como sexo. Seria bom rever o filme de Pabst antes do espetáculo. Voce sabe, o filme com a feiticeira das telas, a felina Louise Brooks. A experiência deverá ser vitalmente arquetipica.
   Cee Lo Green esteve no Sónar. Se aquilo é uma amostra da atual música negra estamos muito mal. Ele canta pobremente, não tem sex-appeal e tem repertório sem sal. Um mundo negro que nos deu Al Green e Jackie Wilson viver agora de Cee Lo é mais frustrante que a literatura francesa depender de Houllebecq.
   Mais um monstrengo nasce em SP. O Shopping JK está pronto. No futuro haverá uma via elevada que unirá todos os shoppings de "gente bonita". Voce entrará num tubo de cristal e será levado por esteiras à todos eles, Iguatemi, Higienópolis e etc. Arquitetonicamente o tal complexo é aquilo de sempre, um caixotão com vidrinhos. Nossos arquitetos não pensam mais. Usam um programa que repete soluções.
   CARAVAGGIO virá ao Masp. Entre de joelhos no caixotão mediocre que não enfeita a Paulista. Caravaggio não é o melhor pintor da história. Esse posto é disputado por Rembrandt, Velazquez e Cézanne. Mas é o mais "instigante". Seus quadros são como flagrantes de feitiçaria. Ele foi um homem "do mal". Do submundo. Mas sua obra é elevada, explosiva em luz e sombra. Ninguém pintou sombras como ele. A obra-prima "São Francisco Meditando" virá ao caixotão. Como disse, se ajoelhe diante dela. Mas não ore. Olhe. Caravaggio em SP é honra que não sei se merecemos.
   Crosby, Stills and Nash passaram por aqui. O tempo é ironico. Em 1982 nada era mais passado e esquecido que os três menestréis. Seu som acústico, suave, gracinha, era a coisa menos Roxy e Bowie possível. Em 2012 eles são hiper-cult. O som que eles faziam em 1970 é o que 90% dos moços sensiveis sonha em fazer agora. A diferença é que Crosby tomava umas coisinhas que esses moços nem sabem o que é. E Stephen Stills é genial. Roxy e Bowie caem, James Taylor e Cat Stevens sobem. C'est la vie...
   Quem mora em SP deve estar vendo os filmes de Douglas Sirk no CCBB. Sirk é o idolo de Almodovar e Todd Haynes. Dramas deslavados, exagerados, quase ridiculos e maravilhosamente deliciosos. Ele nunca tem medo. Vai lá na ferida e a cutuca com vidro. Ou melhor, com cristal. Seus filmes são arrumados, engomados, bonitos como geladeiras brancas. Com postas de carne podre dentro.
   Mas quem mora no Rio pode soltar fogos. Ingmar Bergman tem 46 filmes sendo exibidos. E mais 5 documentários sobre o gênio da Suécia. Deram um jeito de trazer até mesmo os cinco comerciais de sabonetes que ele fez nos anos 50. Vai ser hilário ver Bergmaníacos como eu tentando achar nos comerciais um sinal do gênio do gênio. O mundo de hoje não merece Bergman. Ele ia ao fundo das coisas e hoje nós conseguimos ir só até onde os dogmas permitem. Mas eles estarão lá, 46 chances de crescimento espiritual.
   Dou a dica. Se voce já viu Morangos Silvestres e O Sétimo Selo, espero que sim, voce não é um analfabeto, não vá perder O ROSTO, NOITES DE CIRCO, FANNY E ALEXANDER e JUVENTUDE. Esses são imperdíveis. PERSONA, MONIKA E O DESEJO e A FONTE DA DONZELA vêm a seguir. Depois chegam em SP. Já estou no aguardo. Se voces perceberem algum careca histérico na sessão, esse sou eu.
   Neymar dá a toda uma geração, ou duas, acostumadas a ver futebol de verdade só pela TV, a chance de entender porque os quarentões falam com saudade de Zico, Sócrates e Falcão. Um jogador de gênio jogando em seu apogeu no Brasil é fato que não ocorria desde os tempos de Junior e Zico. Vimos os 4 erres brilharem na Europa, aqui, só um brilhareco. Ver Neymar no estádio é perceber o talento em ebulição plena, a mente pronta para o não-óbvio e a ambição sem limite nenhum. O ridiculo ou o sublime no fio de um cabelo. Coragem em jogar e em tentar. Um ego do tamanho do mundo. Aproveitem que logo acaba...

UMA PROMESSA ( WALK ON THE WILDE SIDE )

Eu tinha fugido da escola e estava ouvindo um disco. E naquela tarde de agosto, sol de bosta, prometi que nada em minha vida seria nunca jamais "nos conformes". Devo a Lou a primeira vez que tive orgulho de ser um merda.
Eu era jovem pra caramba então. E passei a gostar de pensar que havia a porra de uma maldição sobre mim. Bobagem eu sei, mas devo a Lou a primeira vez em que ser um pseudo-maldito não me pareceu ser um loser.
Nada mudou. Passou um monte de anos e não passou nada. O que me seduz ainda é aquilo que ninguém quer. Se voce gosta de azul eu vou amar o amarelo. Continuo sendo um espirito de porco.
Lou Reed pegou minha orelha com essa linha de baixo que é a melhor da história do universo ( Herbie Flowers ) essa voz que é a voz do cara merdinha das ruas e esse som límpido, safado, sexy. Tinha de haver um coro de black girls, tinha de ter um sax de bêbado. Há um clima aqui que é como cheiro de gim com sêmem jogado no azulejo. Mas a voz de Lou, o merdinha, jamais perde a elegãncia.
Naquela noite eu perdi minha virgindade. Ela tinha cabelo de fogo e peitos de porcelana. E cheirava a walk on the wilde side. Era elegante, mas era todo o pecado do mundo.
All right.