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FORD/ BOND/ HAWKS/ FRITZ LANG/ PAUL NEWMAN/ WOLVERINE

RASTROS DE ÓDIO de John Ford com John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles e Ward Bond
Após assistir e me apaixonar por tantos filmes ( filmes esses que vão desde Buster Keaton e Carl Dreyer até Clint Eastwood e Joe Wright ) se torna impossível imaginar qual meu filme favorito. A última vez que arrisquei essa opinião votei em O Atalante de Jean Vigo, para logo em seguida me arrepender ao lembrar de mais 100 filmes que poderiam ocupar esse lugar. Dito isso, afirmo que Rastros de Ódio, se não é meu filme favorito, é aquele que mais me emociona, mais me ensina e mais importancia tem no desenvolvimento de meu gosto estético. Se voce quer ler sobre ele, há uma critica por aí.... Nota INFINITAMENTE ALTA.
O SATÂNICO DR NO de Terence Young com Sean Connery e Ursula Andress
O primeiro filme de Bond já possui algumas das marcas que o acompanhariam até Daniel Craig. Matar sem pensar e transar com todas as mulheres possíveis sendo as principais. Atualmente a violencia é maior e o sexo é ínfimo. Mas este 007 ainda é feito num estilo que tenta ser Hitchcock. A ênfase é para o suspense e não para a ação pura. Sean Connery nasceu para ser James Bond. Ele é seco e elegante. Como um dry martini. Longe de ser o melhor da série, tem belas imagens de uma Jamaica que não mais existe. Ursula surge aqui como o molde de todas as futuras Bond-girls. Nota 6.
RIO VERMELHO de Howard Hawks com John Wayne e Montgomery Clift
Faroeste lendário de Hawks, que é bom, mas não me toca tanto quanto outros filmes desse diretor imenso. O que se percebe é a esquizo do elenco: John Wayne com seu estilo "antigo" de interpretar e Clift criando o estilo Actors Studio, que é predominante até hoje ( o filme é de 1948 ). Sabe-se que Wayne transformou a vida de Clift num inferno durante as filmagens. Ele não perdia uma chance de zombar de seu jeito efeminado. O que vemos é o estilo antigo de Wayne, estilo em que o ator interpreta o personagem como um ideal, uma visão simbólica do personagem; e o novo estilo de Clift ( que é o precursor de Brando e Dean ) onde o ator procura ser "real", onde se espirra no meio de uma fala, se coça o nariz antes de se montar no cavalo ou se tropeça ao caminhar. Todos até hoje devem a popularização desse estilo a Monty Clift. O filme é o embate entre esses dois mundos e sobre a rivalidade entre cowboy veterano e garoto novato. Hawks conduz com sua leveza habitual. Há quem o considere ( Tarantino e Inácio Araújo entre eles ) um dos três melhores filmes já feitos. Eu não. Nota 7.
O ÚLTIMO PISTOLEIRO de Don Siegel com John Wayne e Lauren Bacall
Em 1976 John Wayne, já tendo apenas um pulmão, lutava contra seu câncer. Este acabou sendo seu último filme, e há quem o considere a mais bela despedida do cinema já vivida por qualquer ator. Quem dirige é o homem que criou Dirty Harry e no elenco vemos Ron Howard, o futuro diretor de Appolo 13, Cocoon e Ed Tv. O roteiro fala de um velho cowboy que se hospeda em hotel para morrer em paz ( tem câncer ). Seu médico é feito por James Stewart. Mas seu passado de vingador não o larga e ele terá de lutar mais uma vez. O filme corria um risco imenso de ser piegas, apelativo, desagradável. Não é fácil, mas acaba superando seus imensos obstáculos. John Wayne não nos dá pena, dá saudade. Nota 6.
SCARFACE de Howard Hawks com Paul Muni e George Raft
O filme original, de 1932. E que filme!!!!! A violência é absurda para a época. Tanta gente é metralhada e o som dos tiros é tão alto que o efeito é de histerismo total. Muni faz o persoangem como uma espécie de simio deslumbrado pela violência ( ele ama o que faz ) e que guarda um amor incestuoso pela irmã. E o que vemos é a escalada desse gangster ao topo, matando, rindo, traindo, ousando. Sua queda é rápida e sem drama nenhum. Hawks dirige em seu modo simples, rápido, sem frescura. Dá uma aula de estilo. Este filme criou Scorsese, Coppola, Tarantino, De Palma, Melville e Walsh. É pouco ? Nota DEZ.
FORTY GUNS de Samuel Fuller
Os criticos de tendencia francesa adoram Fuller. Chegam a chamá-lo de gênio. Eu me irrito muito com ele. Veja este filme: é um western. Mas há uma cena em que seis cowboys tomam banho em tinas e cantam. E não é para ser uma comédia!!!! Em outra cena um cara aponta a arma para outro, e a câmera mostra o outro focando por dentro do cano da pistola!!! Todo o filme é assim, Fuller sempre mostrando o quanto é genial. Me irrita.... Nota 1.
O RETORNO DE FRANK JAMES de Fritz Lang com Henry Fonda
Excelente. O melhor diretor da Alemanha, após fugir do nazismo, triunfa maravilhosamente em Hollywood. Lang tem carreira longa e exemplar. Poucos de seus muitos filmes são menos que ótimos. Aqui vemos o irmão de Jesse James, que tenta ter vida pacata, partindo para matar os assassinos de seu irmão ( eles foram absolvidos pela justiça ). Henry Fonda foi talvez o melhor ator americano. Agora que a América começa a terminar, sentimos a forma como ele encarna o grande americano. Seu olhar e sua voz são tudo aquilo que todo cidadão queria ter sido e ter possuido. A imagem ideal do americano como herói pacifico. Só ele conseguiu fazer isso. O filme é, como são os melhores filmes de Lang na América, sem erros. Se lhe falta o brilho de seus primeiros filmes de denuncia social ( também feitos com Fonda e absolutamente geniais ), ele tem o bastante para despertar um desejo de quero mais. Nota 8.
UM DE NÓS MORRERÁ de Arthur Penn com Paul Newman
Paul Newman entre 1958/1975 dominou completamente o cinema americano. Não teve pra ninguém. Seus concorrentes eram Warren Beatty, Steve McQueen e Robert Redford, mas ele batia todos com facilidade. Depois, a partir de 1970, também bateu em Dustin Hoffman, Jack Nicholson e Gene Hackman. Neste western, do futuro diretor de Bonnie e Clyde, ele tem uma atuação estupenda. Faz o jovem Billy The Kid como um adolescente burro, hiper-ativo, meio desastrado e cheio de tiques. Vemos um bandidinho real em nossa frente, reles, pé de chinelo. Precisaríamos esperar 15 anos para ver outro bandido vagabundo tão bem interpretado ( por De Niro em Mean Streets ). Acompanhamos com emoção a vida tola e vazia desse moleque perdido. O filme, de 1958, foi um fracasso na época. Estava anos adiante de seu tempo. Billy é visto como Clyde em Bonnie e Clyde, um bronco charmoso sem noção do que faz. Nota 8.
WOLVERINE de Gavin Hood com Hugh Jackman
Na falta de atores machos hoje ( Clint Eastwood aos 35 anos seria um Wolverine perfeito ), Jackman se vira como pode. Mas seu Wolverine é pouco duro e nada sujo. Ás vezes se parece com um garoto brincando de ser Charles Bronson ( e Lee Marvin ou James Coburn também nasceram para ser Wolverine ). O filme, que começa bacaninha, depois cai bastante e chega a enjoar. Mas é melhor que o X Men 3, porque ele não tem aquela pretensão anti-racista do X Men. Nunca tenta ser o que não é. Nota 5.
BABYLON AD de Mathieu Kassovitz com Vin Diesel, Gerard Depardieu e Charlotte Rampling
Diesel em papel sob medida para Jason Statham. Não funciona. O filme, que ainda tem Michelle Yeou, é daqueles que mostra o futuro "russificado". Gangues dominam tudo. Kassovitz é o tipo de francês que pensa que ser moderno é ser chocante ( uma das primeiras cenas mostra o herói cortando e comendo um gato frito ) e que fazer arte é ser o mais complicado possível ( que é uma visão jeca. Aquela crença em que tudo que é arte é dificil ). O filme é uma mixórdia que mistura ação com filosofices, misticismos e que tais. Não tem nenhum sentido. Nota 3. ( pelo visual ).
OS REIS DE DOGTOWN de Catherine Hardwicke com Emile Hirsch, Heath Ledger, James Robinson, Nikki Reed, Johnny Knoxville e Victor Rasuk
Maravilhoso. De total simplicidade, retrata a adolescencia como ela é. Um filme para se guardar ao lado de Quase Famosos como retratos perfeitos de uma época de imperfeição. Lindo, lindo, lindo...assista e creia. Voce vai se apaixonar. Nota DEZ, com suavidade....

SELTON MELLO/ HAWKS/ JODIE FOSTER/ MIZOGUCHI/ REDFORD

NÃO TE MOVAS de Sergio Castellito com Penelope Cruz
Picaretagem braba! Uma coleção de clichés significando tédio e chatice inglória. nota zero.
IBÉRIA de Carlos Saura
É uma coleção de cenas com música e dança espanhola. A maestria de Saura em mover a câmera é aqui muito bem-vinda. O filme é aula de gosto e de melodia. Para quem gosta de som e dança é obrigatório. Nota 6.
O BANDIDO DA LUZ VERMELHA de Rogerio Sganzerla
Um filme barato, pobre, mal feito, mas que talvez seja o melhor já produzido por estes lados do mundo. Rogerio erra todo o tempo mas jamais baixa a guarda: o filme é uma explosão de som e de imagens toscas. Paulo Villaça imita o Belmondo de Godard e Helena Ignez é fatal. Welles e nouvelle vague made na boca do lixo. Nota Dez.
A BEIRA DO ABISMO de Howard Hawks com Humphrey Bogart e Lauren Bacall
Uma ode ao bom-humor. Neste roteiro de Faulkner, baseado em Chandler, nada faz o menor sentido. Os assassinatos rolam sem razão, o detetive investiga por investigar e nós, pobres expectadores, nada entendemos. Mas neste clássico do noir, nada disso importa. O que interessa é assistir ao filme como coleção de sketches, cenas independentes maravilhosamente bem feitas. Dá pra notar a alegria de Bogart em contracenar com sua nova mulher, Bacall; e notamos que tudo ali parece brilhar. Lendo livros sobre o filme ficamos sabendo que na verdade Bogart sofria pelo fim de seu segundo casamento com a violenta Mayo, mas há paixão nos olhares e isso ficou na película para sempre. A irmã ninfomaníaca feita por Martha Vickers é excelente. Nota 8.
O CHEIRO DO RALO de Heitor Dhalia com Selton Mello e Paula Braun
É uma sátira ao capitalismo? Ou trata-se de uma homenagem ao Monty Python? Este filme tem um grave problema que atinge a maioria dos filmes "esquisitos": seria um excelente curta-metragem. Mas falta história para um longa e depois de seus trinta minutos iniciais, tudo se perde. O que era um bom filme de humor torna-se uma chatice pretensiosa. Selton dá um show de humorismo, seu tipo é antológico. Nota 4.
O HOMEM DO ANO de J H Fonseca com Murilo Benicio e Claudia Abreu
A fotografia é interessante, mas tudo o que acontece é muuuuuito previsível. Do porquinho até a pirralha que vira crente, tudo é chavão e banal. Filminho que parece TV. Nota 3.
SE EU FOSSE MINHA MÃE de Gary Nelson com Barbara Harris e Jodie Foster
Antes de ser atriz adulta, Jodie foi atriz infantil da Disney. Aqui, aos 14 anos, ela faz o papel da filha que troca de corpo com a mãe. Serve como nostalgia do visual 1976: carrões, skates fininhos, bocas de sino e mobília vermelha. Fora isso..... nota 4.
O PRÍNCIPE VALENTE de Henry Hathaway com Robert Wagner, James Mason e Janet Leigh
Aventura baseada nos HQ de Hal Foster. É sobre vikings e rei Arthur, sir Gawain e o amadurecimento de jovem herói. Robert Wagner, muito jovem, está perfeito no papel, e Mason sempre faz um bom vilão. A trilha sonora de Miklos Rosza é das melhores de todos os tempos. Um velho clássico da Sessão da Tarde do tempo em que se passavam clássicos à tarde. Bem legal. Tem torneios de heróis, fugas à cavalo, traições e muita briga. Nota 7.
UM HOMEM FORA DE SÉRIE de Barry Levinson com Robert Redford, Robert Duvall, Glenn Close, Kim Basinger
Baseado em livro de Bernard Malamud, o filme, que fala de promissor astro do beisebol que desaparece após crime e recomeça já maduro, é uma parábola sobre a saga de um herói. É incrível como o beisebol é algo mágico para os americanos. Eles sentem o esporte como raiz, como nascimento, a relação deles com o jogo é como a relação de um filho com sua mãe. Eles vêem naquele diamante relvado o berço, o paraíso, o Eden. Este filme é então, meloso, nostálgico, mas mantém seu interesse graças ao bom elenco e a trilha de Randy Newman. Nota 6.
MOONFLEET de Fritz Lang com Stewart Granger, Viveca Lindfors, Joan Greenwood
Outro clássico Sessão da Tarde. É sobre contrabandistas na Inglaterra de 1750. Um menino vai morar com nobre e descobre que ele é o tal contrabandista. Lang sabia tudo. Tem lindas cenas com caveiras e tempestades. Um filme delicioso! Nota 7.
A RUA DA VERGONHA de Kenji Mizoguchi
Mizoguchi nasceu em família arruinada e viu sua irmã ser vendida como gueixa. Toda sua carreira versa sobre a condição da mulher num Japão em transição. Este é seu último filme. E é fascinante. Mostra, na Tokyo pós-guerra, a vida num bordel ocidentalizado. Não existe mais a figura da gueixa, que devia saber caligrafia, ikebama e tocar okotô. Aqui elas são simples "putas", prostitutas que se afundam em dívidas e pensam em sair "da vida". Impressiona a forma como Mizoguchi sabe enquadrar. Cada tomada é um show de imagem. Ele toma o lado das meninas, mas jamais as exibe como vítimas, elas escolheram aquela vida e pagam por sua escolha. Um filme que tem trilha sonora estranhamente de terror e que hipnotiza em sua verdade simples. As atrizes estão perfeitas: há desde a imitadora de estrelas americanas até a mãe abandonada. Um final digno para um dos três gênios do cinema japonês. Nota 9
SONATA DE AMOR de Clarence Brown com Kate Hepburn, Paul Henreid e Robert Walker
Neste hiper-novelão que trata da vida conjugal de Clara e Robert Schumann nada é muito real e tudo é exagerado e doce. Há ainda a figura de Brahms, feito sem jeito por Walker e de Liszt, feito bem por Henry Daniels. Mas, como Brown sabia dirigir, cenas como a da galinha na cozinha e o final com o concerto de despedida de Clara, se sustentam muito bem. O filme consegue ser bem-humorado mesmo tratando de compositor que morreu louco e de amor travado. Kate está magnética como sempre e Henreid faz um Schumann interessante. Tipo de filme papai/mamãe que Hollywood fazia às dúzias. Nota 6.

SINDICATO DE LADRÕES/ PASOLINI/ ALDRICH/ VERHOEVEN/ SCOLA

O ÚLTIMO PÔR-DO-SOL de Robert Aldrich com Kirk Douglas, Rock Hudson, Dorothy Malone

Western perfeito. Kirk é o bandido, Rock o herói. Os dois conduzem gado do México à América. Com eles vai família. O filme com roteiro de Dalton Trumbo não pára. Surpreende a todo instante. Você pensa que tal coisa irá suceder, mas não, vem a virada. Uma diversão de nível superior em que todo o elenco brilha. Divirta-se ! Tem um duelo final que é coisa de gênio. Nota 9.

RIO BRAVO de Howard Hawks com John Wayne, Dean Martin, Angie Dickinson, Rick Nelson e Walter Brennan

Voce ama ou detesta. Apaixona-se pelo elenco ou o ignora. Se o ignorar, bem, azar o seu ! O filme é profunda lição de vida. Para quem souber ver. Como toda obra superior, não esfrega em nossa cara seu brilho. Convida-nos a observar, nada impõe. Nota DEZ.

O OUTRO HOMEM de Carol Reed com James Mason, Claire Bloom e Hildegarde Neff

A Inglaterra produziu 3 grandes diretores clássicos : David Lean, Carol Reed e Michael Powell. Hitchcock não conta, é do universo. Powell é meu favorito. Lean é o melhor sucedido e Reed fica no meio termo. Este filme de espiões foi feito nas ruínas de Berlin antes do muro. As imagens são belíssimas ( existe terrível beleza nas ruínas ). É um filme de fotografia linda e de atuações perfeitas. Mas algo no roteiro falha : há um romance dispensável. Nota 6.

A BATALHA DO RIO DA PRATA de Michael Powell

E aqui está um de meus diretores favoritos em filme fraco. Odeio toda forma de patriotismo. Mesmo se justificado, como aqui. E mesmo quando Powell, em plena segunda-guerra, dá um retrato humano dos alemães. O capitão alemão tem honra, caráter e até joga limpo. O filme conta a primeira batalha naval da guerra, no Uruguai, em 1939. Mas tem jeito de propaganda, o que o faz hiper-datado. Nota 4.

LEVADA DA BRECA de Howard Hawks com Cary Grant e Kate Hepburn

A melhor comédia da história do cinema. Tem roteiro perfeito, atores de gênio, ritmo constante e alegria sem culpa. Um milagre de época de grandes comédias ( os anos 30 foram tempo dos Irmãos Marx, Chaplin, W C Fields, Myrna Loy, William Powell, Clair, Joe E. Brown, Harold Lloyd, Rosalind Russell e etc vasto e risonho ). Nota MIL.

UM BOM ANO de Ridley Scott com Russell Crowe, Albert Finney e Marion Cotillard
Belas paisagens. Engraçado... eu lí o livro de Peter Mayle e ele não tinha esse clima tão vulgar ! Faltou comida e vinho neste filme ! Sobraram bobagens. O personagem de Crowe é muito antipático. Nota 3.

SIDEWAYS de Alexander Payne com Paul Giamati, Thomas Haden Church e Virginia Madsen
Payne é muito bom diretor. O filme é gostosa diversão. Mas é estranho... esperávamos mais de Payne, de Giamati, de Church e de Madsen... cadê eles ? Problema central do cinema atual : faltam carreiras consistentes. Talvez faltem oportunidades. Filma-se pouco e quando o cara erra é o fim. Aqui todos acertaram, mas, cadê eles ???? Nota 6.

SINDICATO DE LADRÕES de Elia Kazan com Marlon Brando, Karl Malden, Eva Marie Saint, Lee J Cobb e Rod Steiger
No Oscar deste ano se citou Karl Malden e Budd Schulberg como mortos de 2009. Malden brilha ( como sempre ) neste filme que tem um dos melhores elencos da história. Budd fez o roteiro, que é básicamente uma defesa da deduragem. A trilha sonora de Leonard Bernstein enfatiza com genialidade a aridez deste filme áspero. Raros são tão pouco simpáticos. Ele é todo cinza ( foto do soberbo Boris Kauffman ), frio, macho, sem um mínimo sinal de alegria. Kazan defende a sí-mesmo, ele que havia dedurado os "comunas" no MacCarthismo. Marlon Brando tem atuação de gênio. Faz um bronco que se humaniza pelo amor. É convincente todo o tempo. Nas mãos de Sean Penn ou de De Niro este personagem seria apenas um bandidinho. Com Brando ele nos comove. A cena no táxi é considerada por todo ator americano ( principalmente os mais rebeldes ) o momento máximo da arte de interpretar. É usada como prova de admissão no Actors Studio. Dá pra ver a sombra de Pacino, Cage e etc nela. Eles construíram toda sua carreira estudando estes 4 minutos. O filme é dos maiores. Mas não dá o menor prazer. Você o admira, jamais ama-o. Nota 8.

LOUCA PAIXÃO de Paul Verhoeven com Rutger Hauer e Monique VandeVen
Os Holandeses consideram este o melhor filme já feito por lá. Não é. CHUVA, de Ivens, com apenas 20 minutos bate-o de longe. Mas é um filme invulgar. Mostra, na Holanda dos anos 70, ou seja, num lugar onde a liberdade vai ao limite, a paixão de um casal. Paixão que começa como sexo casual, evolui para a paixão dela por ele, e depois, dele por ela. Há o rompimento e um tipo de retorno dolorido. O filme é cheio de nudez, sexo, escatologia e paixão. Tudo vai sempre fundo e Hauer tem uma atuação corajosa. Monique comove. Ela é linda e ousadíssima. Como sempre falo, o mundo pirou nos anos 70 e este filme mostra isso. Verhoeven emigraria para a América, onde faria Robocop e Tropas Estelares. Nota 7.

NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO de Ettore Scola com Vittório Gassman, Nino Manfredi e Stefania Sandrelli
Os barbudinhos da Vila Madalena que me desculpem, mas este filme ( que tem uma das piores trilhas sonoras da história ) é um pé no saco. O cinema italiano dos anos 70 perde todo o apelo que conquistara nos anos 40/50/60 ao se empobrecer. O que era um belo humanismo se transforma em esquerdismo primário. Dá pena ver aquela geração brilhante mergulhar na lábia malandra dos comunas italianos. O filme é tão simplório que chega ao ridículo de mostrar todo direitista como gordo, velho e beiçudo. Por favor !!!!! Eles querem mudar o mundo, na marra, e nunca percebem que o problema não é o mundo, é o homem. O homem é instintivamente capitalista. Ele quer segurança e segurança se obtém no acúmulo. O homem quer ser superior ao vizinho, superior em alguma coisa, força, dinheiro ou inteligência ( e todos os personagens não percebem que passam todo o filme desejando liderar ). É um filme tão velho quanto uma opereta de Nelson Eddy. Nota 1.

O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS de Pier Paolo Pasolini
Existem diretores que reconheço serem excelentes, mas dos quais não consigo gostar. Buñuel é um deles. Sei que ele é genial. Mas não consigo me animar com seus filmes. Pasolini é outro. Vejo nele tudo que admiro : coragem, sinceridade, força. Mas ele nunca me enfeitiça. Aqui ele despe Cristo de emoção e o que temos são momentos secos de atos de fé. O evangelho sem poesia, objetivo. Nada há de ofensivo, Pasolini respeita Jesus como revolucionário, mas o filme torna-se frio, distante, sem porquê. De soberbo ele tem sua trilha sonora. Gospel e blues de raiz, isso sim, um emocionante milagre. Nota 5.

LEVADA DA BRECA - HOWARD HAWKS e CARY GRANT/ KATE HEPBURN

Existem filmes que criam todo um novo mundo. Desenham um modo de se fazer um filme e passam a ser massivamente copiados. Existem pessoas que fertilizam.
Hawks criou dois tipos de comédia. Em 1934, com a ajuda de John Barrymore, criou a comédia de diálogos loucos. Aquele tipo de texto em que os atores metralham milhares de palavras por minuto, normalmente se agredindo. Para esse tipo de humor é necessário um ator que saiba falar, e que possa ser agressivo sem se tornar ofensivo. Tudo deve ser leve e ácido. O filme era chamado TWENTIETH CENTURY.
Em 1938 Hawks cria mais um tipo de comédia. A comédia baseada no encontro de um cara muito careta com uma moça muito doida. Eis LEVADA DA BRECA. Mas para criar esta, que é a mais genial das comédias, Howard precisou de dois atores de imenso talento : Cary e Kate. E creia, ver os dois juntos é um prazer insuperável.
Se voce é um tenro menino, acostumado ao humor pós-SATURDAY NIGHT LIVE, acostumado então a humor baseado em imitações e citações, bem, voce não irá gostar nada de LEVADA DA BRECA. Pois aqui temos humor baseado em gente engraçada e não em agressivas sátiras. Nada há neste filme que possa ser chamado de agressivo. O filme é feliz. Ficamos felizes enquanto o assistimos. Adoramos Cary e Kate. Nos apaixonamos pelos dois. E assistimos estupefatos ao nascimento de todos os clichês da comédia romântica. Porém, feitos antes, feitos com mais inteligência, mais talento e com dois atores de puro gênio.
Cary Grant criou dois tipos de humorista. Este, que é o tipo "cientista-nerd" e em JEJUM DE AMOR, também de Hawks, o espertalhão-safado. Depois dessas duas criações, hordas de atores passaram a imitar esses dois tipos. Mas foi Cary quem os inventou. Kate, melhor e maior atriz da história do cinema, diverte-se à larga, nesta que é sua primeira comédia pastelão. A gente se apaixona por ela. Sua maluquice anárquica, seu risinho de "sininhos", suas quedas e correrias. Escrevo isto e já sinto vontade de assistir o filme mais uma vez....
A história é fantástica, inverossímil, pura bobagem, como toda comédia deve ser. Trata de um cientista que num jogo de golfe se envolve sem querer com herdeira maluquinha que é dona de um leopardo. O resto é bola de neve. O filme nunca se interrompe, é doideira atrás de doideira, palhaçada sobre palhaçada, voce pensa que nada mais há para acontecer e lá vem mais uma volta de carrossel. Mas nada é forçado : em sua excentricidade, tudo acontece de forma natural. O roteiro de Dudley Nichols ( autor de vários westerns ) e de Hagar Wilde é de ouro. Arquétipo de comédias futuras.
Repare no modo como Kate interage com Cary na festa onde ela rasga o vestido. Repare em como voce reage ao filme. Voce não irá gargalhar ou mesmo rir. Hoje nossa reação a este filme é o sorriso. Um sorriso que fica por duas horas grudado no rosto e uma alegre leveza que se tatua no peito ao ver os dois juntos. Brigando, discutindo, ele fugindo dela, caindo e finalmente a rendição ( dele ). Comédia que nos dá um presente raro : felicidade.
Críticos já disseram que o filme tem um lado sério. Em meio a toda aquela palhaçada existe a representação do modo como toda história de amor se revela. Perda de certezas, perda de controle, resistências, entrega. Atração de opostos que se destroem para renascer depois.
Howard Hawks, Cary Grant e minha amada Kate Hepburn. Como agradecer à eles ? Os agradecimentos já foram feitos. Tanta gente, em 2010, tempo que nada tem a ver com LEVADA DA BRECA, ainda amar este pedaço de paraíso. Essa é a maior homenagem que um artista pode querer.
E ser tantas vezes imitado!!!!
Adendo :
Quem já escreveu ( ou tentou) comédia, sabe como é fácil fazer o humor tipo "Todo mundo em Pânico", "Borat" ou "American Pie". É um humor todo baseado em imitações, exageros ( voce pega qualquer situação e leva até o limite físico ) e preconceitos ( fazer rir do diferente é sempre fácil ). É um humor formatado na piada de bar e na raiva adolescente.
Quem já tentou escrever comédia sabe como é duro criar um tipo engraçado cem por cento original. Não baseado em ninguém, e cômico pelo que é, não pelo que faz. Humor verbal e de situação, nunca de gozação ou desconstrução.
LEVADA DA BRECA, minha mais querida comédia do meu mais amado diretor e de meu mais admirado ator e de minha mais adorada atriz, é monumento exemplar. Ficará viva enquanto o homem existir.

RIO BRAVO-ONDE COMEÇA O INFERNO- HOWARD HAWKS

Filme favorito de Inácio Araújo e um dos top ten de Tarantino.
Hawks amava as pessoas. Sua câmera observa-as, deixa-as respirar. O tema central do filme é trapaceado : esse tema é apenas uma desculpa para se mostrar pessoas interagindo. E de tudo que apaixona Hawks, nada o interessa mais que a amizade masculina. É o mestre da amizade.
O tema deste western é : bandido está preso. Um xerife é ajudado por velho aleijado e alcoólatra. A missão : manter o bandido preso. A dificuldade : o irmão do bandido manda dúzias de pistoleiros para o libertar.
Mas o filme não é sobre essa aventura. É sobre a relação entre o xerife e o alcoólatra. Uma velha amizade em crise. Esse é o coração do filme. E é isso que interessa Hawks.
A câmera nunca tem pressa. Muita gente reclama que um dos maiores problemas dos filmes de hoje é que eles têm um só objetivo e ignoram todo o resto. Empobrecem a vida. Explico :
O excelente filme de Kathryn Bigelow fala de um grupo que desarma bombas no Iraque. E mesmo sendo um filme acima da média, ele trata sómente disso. A linha de narração jamais se desvia. Ele promete falar disso, e apenas disso ele fala. 99 por cento dos filmes hoje, mesmo os ditos de arte, são assim. Não existe dispersão, divagação, mudança de tom.
Hawks divaga. Súbito o filme é sobre alcoolismo. Sobre o flerte de Wayne e Angie Dickinson. Sobre um jovem cowboy. Comédia tola sobre velhote esquentado. E ainda envereda por diálogos relaxados sobre coisa nenhuma. ( Não é a toa que Tarantino o adora ). E o mais importante é : o filme nunca tem pressa, se demora, observa, deixa os atores atuarem.
John Wayne faz o seu melhor. Símbolo de virilidade. Feio, corajoso, nada vaidoso. Parece que todo lugar é seu lugar, mas ao mesmo tempo ele é profundamente individualista. Um pai. Dean Martin, que rouba o filme, está soberbo como o alcoólatra. Tudo nele é patético. A relação entre os dois é seca, cheia de nuances, absorvente. O filme é todo dos atores. Nada de paisagens, nada de truques de câmera ( é incrível como Hawks nunca faz questão de se exibir ).
E há o eterno romance de Howard Hawks. Seus filmes sempre trazem o encontro de um solteiro-durão e de uma mulher-aventureira. É ela quem seduz. É ela quem tem a coragem de tentar. E ele se deixa seduzir. Hawks não tem pudor nenhum em se auto-plagiar. ´Vários de seus filmes repetem cenas de sedução. Inclusive no nome da mulher : Feathers.
Howard Hawks foi piloto de automobilismo e um apaixonado por aventuras. Se tornou cineasta por acidente ( todos os grandes que fundaram o cinema americano se fizeram cineastas sem querer. Arrumaram algum emprego no meio e foram construindo uma carreira sem levar o cinema muito à sério. Isso se traduz em filmes leves, nada duros, easy going.... ) Ele dirigia sem pressão, falava baixo no set, jamais brigava, fazia piadas.
É o diretor que irá menos impressionar àqueles que começam agora a conhecer o bom cinema. Ele é discreto e nada "artístico". Mas depois de anos de falsos profetas, novidades antigas e fazedores de arte tediosa, voce começa a perceber o brilho de Howard. Começa a perceber como seu estilo é estranho, um estilo tão natural que parece ser fácil, mas que é terrivelmente individual. Voce percebe que Howard Hawks é o diretor dos diretores, o que mais tem a ensinar a todos que fazem filmes, e aquele que traduz o sentido de se fazer cinema : observar a vida.
Clint Eastwood é um dos que mais tem procurado ser Hawks. Ás vezes ele quase chega lá.
Ser Howard Hawks deve ter sido uma delícia. Mas não é para amadores. O homem foi um gigante. Nos ensina em seus filmes a como ser honesto, viril, como suportar a pressão estóicamente, a ficar frio, a saber viver.
Hawks foi o mais adulto e o mais sábio dos diretores. Perto dele, todos os outros se parecem com adolescentes histéricos.

rápidinho-, comentários e notas

.QUEIME DEPOIS DE LER dos Coen. Em ano muito ruim, se destaca fácil. nota 8.
VICKY CRISTINA BARCELONA de Woody Allen. Um tipo de Eric Rhomer pop. Woody acerta na leveza, Scarlet naufraga, Bardem brinca e Penelope estraçalha. nota 8.
AGENTE 86 de alguém que não importa. Uma lástima. nota zero.
THE READER de Daldry. Com Winslet. Kate está caricatural. Sua alemã parece uma alemã feita por uma inglesa. O filme aborrece e agita sempre um cartaz onde se lê : arte! - pois não o é. Trata-se de presunção do pior tipo. Risquem o nome de Daldry do meu caderno. nota 1.
CLUBE DOS PILANTRAS de John Landis com Belushi. Nunca foi dos meus favoritos. Penso que John Belushi nunca fez um filme a altura de seu potencial. nota 3.
YOUNG MAN WITH A HORN de Michael Curtiz com Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Filme sobre jazz. É baseado na vida de Bix Beiderbecke. Kirk se esforça, mas voce percebe que o diretor não entende de jazz. E nem se interessa. nota 2.
O MAIOR AMANTE DO MUNDO de Gene Wilder. Um tímido americano caipira se torna o novo Valentino. Gene dirige sem inspiração. Parece Mel Brooks de segunda mão. 3.
O IRMÃO MAIS ESPERTO DE SHERLOCK HOLMES de Gene Wilder. nota zero.
EXPRESSO DE CHICAGO de Arthur Hiller com Gene Wilder, Jill Clayburgh e Richard Pryor. Funciona. Muito agradável, é o que chamo de pop honesto. Assume o que pretende e o atinge. nota 6.
CENAS EM UM SHOPPING de Paul Mazursky com Woody Allen e Bette Midler. Um casal discute a relação num shopping. Só isso. O filme é um tipo de análise pop para trintões. Mazursky surgiu em 1970 como enorme promessa. Ficou pelo caminho. Nota 3.
OURO É O QUE OURO VALE de Walter Graham com James Coburn. Faroeste de humor. Mas o pastelão passa do ponto. fuja!!!!!! zero.
SARGENTO YORK de Howard Hawks com Gary Cooper.
York fez enorme sucesso na época da segunda guerra e deu a Cooper seu oscar. Conta a saga de um caipira que se torna herói. Sem querer e sem ter noção do que faz. Ele é um tipo de Garrincha da guerra. Todos que me acompanham sabem do meu amor pelo cinema falsamente simples de Hawks. Quem já tentou fazer qualquer tipo de arte sabe que o mais dificil é transformar o grande trabalho em prazer. Parecer fácil o que é dificil. Hawks sempre consegue isso. Relaxar e deixar rolar. Mas York não me agrada. Há algo de muito carola, de muito falso aqui. Provavelmente Hawks se sentiu pressionado pelo clima de guerra e fez um filme travado. Um anti-Hawks. Gary Cooper está muito bem. nota 3.
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph l. Mankiewicz com Bogart e Ava Gardner. Bem... Mankiewicz é o maravilhoso diretor de clássicos como A Malvada e O Fantasma Apaixonado. É considerado um mestre do diálogo, da interpretação. Mas este muito pretensioso filme erra em sua análise do que seria Hollywood. Conta a história de uma espanhola que via publicidade se torna grande estrela. Mas ela é ninfomaníaca e se casa com principe italiano impotente. Bogey está sobrando neste filme. Ava está bonita. Mas o filme não evolui. 3.
A IDADE DA REFLEXÃO de Michael Powell com James Mason e Helen Mirren. Escrevi um comentário mais longo sobre este delicioso filme abaixo. Procure. Se voce achou que o pintor feito por Bardem no filme de Woody é muito chavão, veja James Mason neste filme. Aqui vemos aquilo que um pintor realmente é. Helen resplandece. Sua sensualidade é uma aula para JessicasBiels e NataliesPotmans. Ela é de carne e osso. E brilha como o sol deste filme feliz. Mais uma dentre a dúzia de obras-primas de Powell. Nota DEZ.
O FIO DA NAVALHA de Edmund Goulding com Tyrone Power, Gene Tierney e vasto etc. O livro de Someset Maugham é uma deliciosa novela pop que fala da falta de sentido da vida. O personagem, Larry, volta da guerra traumatizado e roda o mundo atrás do nirvana. Lí o livro já 3 vezes e se trata de um best-seller com suprema habilidade e vasta ambição. O filme pega tudo isso e transforma numa pecinha escolar sobre ciúmes e dor de cabeça. Chato e ofensivo. Um detalhe: Power interpretou dois de meus mais amados personagens : larry aqui e o narrador de O sol também se Levanta. O fato de ele afundar os dois filmes diz muito sobre o que Hollywood é. nota 1.
A FACA NA ÁGUA de Roman Polanski. Trata-se do primeiro longa de Polanski, feito ainda na Polonia num maravilhoso preto e branco. 3 personagens e aquele clima claustrofóbico do qual ele é mestre. ( aliás, Roman já nasce mestre aqui. o filme tem a segurança de um veterano ). Casal dá carona a jovem e o leva para velejar. Nasce o suspense. Todas as enquadrações de cameras são belíssimas, os atores estão muito bem orientados, e a história nunca se trona monótona e nos hipnotiza. Um filme muito barato, muito simples, muito original e totalmente acessível de um diretor que nos daria a obra-prima Chinatown. nota 8.
QUEM MATOU LEDA? de Claude Chabrol com Bernadette Lafont e Jean Paul Belmondo. Crítica escrita abaixo. Leia que vale a pena. O filme é direto, vibrante, profundo e inesquecível. Fotografia de Decae genial e um Belmondo divetidissimo. nota 8.
AS DIABÓLICAS de Clouzot com Simone Signoret. Foi refilmado com Sharon Stone e Isabelle Adjani. Um desastre essa refilmagem. Este é asfixiante, paranóico, muito habilidoso e um prazer absoluto. nota 7.

GINGER ROGERS/ROGER RABBIT/WANDA/RIO LOBO/ STEVE MARTIN

En cas de Mal-heur de Autant-Lara com Jean Gabin e B.B.
Que bomba insuportável ! De todas as grandes musas do cinema ( Marlene, Garbo, Rita, Ava, Marilyn, Deneuve, Loren ) ninguém fez piores filmes que Bardot. Foi contra este tipo de lixo que Godard e Truffaut se ergueram. Nota zeroooooooooooooooooooooo!
Vivacious Lady de George Stevens com Ginger Rogers e James Stewart
Agradabilíssima comédia. O tipo de roteiro que Clooney, Reese, Spacey, Hanks, Os Coen, dariam a alma para ter. Passatempo que não te chama de idiota. 7.
The Rocky Horror Show com Tim Curry e Susan Sarandon.
Finalmente assisto o mitico Rocky Horror. Curry tem uma das maiores atuações do cinema. Sua entrada em cena, como o vampiro ultra-glitter-marc bolan-gay é antológica! Se Velvet Goldmine tivesse algum senso de humor ele seria assim. No mais, espero que voces saibam a história deste musical: um fracasso na estréia que se tornou cult, ficando vinte anos em cartaz na mesma sala, onde os fãs assistiam interagindo com a história. Há quem o tenha visto mais de cem vezes. Nota 6.
Um Rei Em NY de John Landis com Eddie Murphy e Arsenio Hall.
No período 73/93 se fizeram toneladas de grandes/excelentes comédias. Esta é uma das melhores. Todos já a viram, todos já gargalharam. Puro prazer e uma atuação histórica de Eddie lembrando o melhor de Alec Guiness. As cenas na barbearia e na igrja são antológicas.
Inesquecível. Nota 9.
Uma cilada para Roger Rabbit de Robert Zemeckis com Bob Hoskins e Christopher Lloyd.
Todos conhecem este filme. Resistiu ao tempo? Sim, resistiu, e é essa o único julgamento válido a qualquer obra de qualquer arte : resistiu ao tempo? nota 7.
Um Peixe Chamado Wanda de Alexander MacKendrick com John Cleese, Kevin Kline, Jamie Lee Curtis e Michael Palin.
Ele começa devagar. E vai crescendo, ficando cada vez mais doido, mais exagerado, atingindo ao final um frenesí de loucura e humor irresponsável. O trabalho de Kline beira a perfeição e todo o elenco brilha estupidamente. nota 8.
Alien de Ridley Scott com Sigourney Weaver, Tom Skerrit e John Hurt.
Segundo filme de Scott. Bela carreira tem esse inglês. No teste do tempo, Alien sobreviveu? Mais ou menos. Não provoca medo ou nojo, pois nos acostumamos a pornografia de visceras e sangue aos borbotões. Mas mantém seu clima claustrofóbico e a elegancia de uma direção enxuta e matemática. nota 7.
Rio Lobo de Howard Hawks com John Wayne.
Último filme de Hawks. É seu pior. Um western comum em que só se destaca a simpatia de Wayne. nota 5.
Longa Jornada Noite Adentro de Sidney Lumet com Kate Hepburn, Ralph Richardson, Jason Robards e Dean Stockwell.
A terrível peça de Eugene O'Neill levada inteira por Lumet. O filme é muito desagradável, árduo´,cruel, sem concessões. Mas há Kate. Mágica. Em minutos ela passa da estrema fragilidade para pura maldade egoísta; de jeito de criança para uma velha anciã. Tudo feito sem qualquer esforço. por ela o filme vale ouro. ( robards também dá seu show de sempre, como o filho alcoólatra ) nota 6.
Star Wars de George Lucas com os dois robots e mais alguns robots de carne e osso.
O filme que inaugurou a total simplificação do cinema ( com Tubarão ). Os atores estão interpretando como se fossem robots, os robots são os astros. O texto chega a ser ridículo e algumas falas com sua pseudo filosofia oriental, beiram o ridiculo. Tudo é infantil, jogado na tela sem qualquer senso de elegancia, ritmo ou psicologia de personagem. Lucas ( péssimo diretor) mal sabe cortar as cenas. Então o porque do sucesso?
Star Wars surge no auge do cinema deprê, intelectualizado, paranóico. Dá ao público a estética infantil da publicidade, o clima de tv e a profundidade das hq. A música de Willians, a foto de Gil Taylor e a batalha final ( uma obra-prima de montagem ) resgatam suas gritantes falhas. Para o bem ou para o mal, este filme antecipa tudo que se fez nos últimos 30 anos. 5.
O Panaca de Carl Reiner com Steve Martin.
A melhor comédia de Martin ( o que não é pouca coisa ). nota 9.
Oliver! de Carol Reed.
Reed é o genial diretor de vários filmes ingleses sobre o sub-mundo londrino, sobre a vida dos pequenos malandros derrotados. O chamaram para dirigir este imenso ( longo, caríssimo ) musical. Venceu quilos de oscars em 68, derrotando o 2001 de Kubrick. Mais uma das papagaiadas do prêmio. Este musical é tudo aquilo que um musical não pode ser : pesado, arrastado, sem simpatia. Mas faz cair o queixo sua cenografia: john Box ganhou o único oscar justo com seus imensos cenários. Uma maravilhosa Londres vitoriana, cheia de córregos, pontes, vielas, barracos e centenas de figurantes. O tipo de cenário que hoje seria inviável. Fariam tudo digitalmente, barateando os custos e frustrando sensibilidades mais afinadas. É o cenário que Tim Burton não pode fazer em seu último filme. nota 4.
A Roda da Fortuna de Joel e Ethan Coen com Tim Robbins, Paul Newman e Jennifer Jason Leigh.
Chatíssimo filme. Os Coen quando tentem fazer algo profundo sempre se tornam chatos. Perdem a leveza e o humor se torna óbvio. nota 2.
A Culpa é dos Pais de Vittorio de Sica.
Vittorio entendeu o que os homens são. Ninguém no cinema conseguiu como ele, mostrar a dor sem culpados, a injustiça sem vilões, como fazemos o mal sem perceber e como sofremos sem poder evitar a dor. Seus filmes são peças de música, poemas de água e fogo, encadeamentos lógicos e simples daquilo que a vida sempre é e sempre será.
Este é seu primeiro grande filme. Uma criança perdida entre seus pais. A total incomunicabilidade que existe entre o adulto e a criança ( mesmo que o adulto a ame, ela sempre será INACESSÍVEL). O filme dói, o filme exalta, faz recordar e é absolutamente delicioso. Mostra como ser criança é dificil, como ser pai é errar sempre, como amar é em vão, como a solidão é constante. Um filme de hoje e de amanhã, o sonho de Salles, Meirelles, Almodovar iranianos e chineses. Só não leva dez por ser modesto, um ensaio para as quatro obras-primas absolutas que Vittorio faria em seguida. nota 9.



howard

howard hawks, diretor dos diretores

Ao citar meus diretores favoritos, deixei de fora 3 nomes que são dos mais perfeitos artistas que já filmaram.
Howard Hawks é considerado o diretor mais admirado por outros diretores.
Qual a razão ?
Pelo fato de que ele tira filosofia ( simples e prática ) de um nada de história.
Seus roteiros são sempre simples, falam sempre da luta do homem contra seu destino; mas suas obras não têm nenhum enfeite, nada de supérfluo.
Hawks conta uma história.
E numa era de complicações gratuitas, efeitos bolo-de-noiva e pseudo-filosofices para pseudo-intelectuais, a arte de Hawks se tornou rara e necessária.
Em tempo:
Apesar de sempre fazer parte do time classe A e de fazer muito sucesso popular, ele só foi indicado ao Oscar uma vez. E perdeu.
Em 1974 recebeu um prêmio especial, sendo ovacionado de pé ( num tempo em que isso era muito raro ).

Quero falar também de VITTÓRIO DE SICA.
Ele criou o verdadeiro neo-realismo.
Voce sabe o que é neo-realismo?
É aquele cinema que mostra a miséria, a dor e a coragem verdadeira da vida.
Entre 1944 e 1952, ele ganhou dois Oscars de filme estrangeiro ( uma histórinha pra voce: o prêmio de filme estrangeiro foi criado para de Sica. Seu impacto foi tão grande, ele mudou o cinema de uma forma tão devastadora, que os americanos precisavam premiar tal revolução. Para tanto, criaram o Oscar de filme com língua não-inglesa, e deram o prêmio para Ladrões de Bicicletas ).
VÍTIMAS DA TORMENTA conta a história de dois meninos de rua. Eles são recolhidos para uma espécie de Febem.
LADRÕES DE BICICLETAS. Um desempregado anda por Roma com seu filho. Ele consegue um emprego de afixador de cartazes. Para tanto, precisa de uma bicicleta. Ele a consegue. Ela é roubada. Ele tenta roubar outra. È pego no flagra. Leva uma surra dos populares na frente do filho.
MILAGRE EM MILÃO. Um órfão ingênuo. Ele cresce e se torna um tipo de bobo-alegre. Mas ele faz milagres. Transforma favelados em donos de casacos de peles e de limusines. Os favelados se voltam uns contra os outros.
UMBERTO D. Um velho professor é despejado. Não tem onde morar. È um velho desagradável e antipático. Tenta se matar. Resolve continuar vivo.
Pois é isso.
Todos esses filmes não têm nenhum ator profissional. Não usam qualquer tipo de cenário. E jamais apelam ao melodrama.
Todos fazem chorar. Todos despertam a fé no poder da arte.
De Sica era um nobre. Um poeta. Alguém para se reverenciar.
Para encerrar, uma historinha:
Pauline Kael ( a maior escritora-crítica de cinema da história. Foi ela quem abriu os olhos dos americanos para Coppolla, Scorsese etc ), disse que saía de uma sessão onde foi exibido VÍTIMAS DA TORMENTA.
Ela estava devastada. Chorava sem poder parar.
Ao lado, no lobby, ela ouviu uma mocinha comentar:
-Não ví nada de especial nesse filme!
Kael diz que sua raiva atingiu níveis estratosféricos!
Se um ser-humano pode ser indiferente a tal obra de tal poder, é sinal de que muitas pessoas começam a se tornar algo de muito insignificante. Alguma coisa muito pobre, vulgar, previsível.
Já passei por experiência como a de Miss Kael.
Minha reação foi virulenta.
Não amar De Sica é não saber o que significa ser humano. É ignorar a coisa gigantesca que um homem pode ser. È se tornar um idiota-imbecil. Um boneco de vento e de ruído. Uma besta quadrada.

JEAN COCTEAU
Jean foi poeta, pintor, costureiro, cenógrafo de teatro, ator, músico e diretor de cinema.
Em todos esses campos, fez parte do time A.
Seus filmes são uma homenagem a quem os assiste.
Mágicos, maravilhosamente simbólicos, belíssimos.
Eles são uma festa para pessoas com alguma cultura.
Um delírio visual e um discurso de poesia musical.
Afetados e metidos, sim.
Mas são bonitos pra caramba!!!!

ESQUECÍ DE CITAR
a belíssima ( chega doer a vista de tão bela ) VIVEN LEIGH ( que foi casada com Olivier. os dois foram terrivelmente infelizes juntos. ela era louca por sexo, ele era totalmente indiferente.) a terrível BETTE DAVIS ( a mulher que enfrentou o poder dos chefões. ela era melhor que Kate, mais atriz, mais concentrada ), GENE TIERNEY (provavelmente a mulher mais bonita que já surgiu numa tela. era esquizo ), CATE BLANCHETT ( a melhor da geração pós-Jodie Foster ).

E DIRTY HARRY ERA UM HOMEM VINHO.
QUEM DIRIA?

O MELHOR CLIP DA HISTÓRIA ?
Preto e branco precário.
Um galpão.
Ike Turner ( sim, ele, o odioso Ike ), toca violão sentado num banquinho.
A câmera não pára de se mover. Vai de Ike para as paredes, para o teto, para o chão, e para a jovem Tina Turner.
Ela entra de mini. Está com 25 anos. Ela se chacoalha inteira. Ela é uma mulata do Salgueiro, uma escrava da Geórgia, uma Lady de Orleans.
As Ikettes, 3 doidas de perucas imensas, entram no foco se sacudindo, berrando, suando, sexualizando tudo.
Ike está extra-cool. Indiferente a tudo.
Tina grita RIVER DEEP MOUNTAIN HIGH
E eu, 42 anos mais tarde, me emociono muito.
ENTENDEU O QUE SIGNIFICA ARTE, MENINO?

PARAÍSO É UM DISCO COM OS SIGLES PRODUZIDOS POR SPECTOR
River Deep é dele.
Phil Spector.
O garoto-produtor-gênio.
O cara que mandou no pop entre 62/66.
O cara que colocava 80 instrumentos no estúdio e gravava tudo junto.
Em River Deep, posso identificar violinois, castanholas, xilofone, sax, bumbo. acordeon. marimbas, bongôs, guitarra, violão, piano, órgão de igreja, trompete, flautas, apitos, chocalhos, pandeiros, violas.
Phil pirou em 67.
Tinha apenas 24 anos.