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DEPOIS QUE FIQUEI ADULTO ( E FOI UMA LONGA ESTRADA ), ESTA É MINHA BANDA

Roxy Music aos 30 anos.
Stones aos 20.
Mas depois dos 40 e até o dia em que me for, The Band.
Porque?
O som. É como andar um longo caminho e de repente chegar em casa. Rock feito de esperança, de verdade e de um estranho dom de amizade. Banda amiga.
Foram grupo de apoio de Dylan. Canadenses. Eram eles que estavam com Dylan na excursão à Inglaterra em 65, que mostrou a Lennon e Jagger o quanto eles eram bobos. Em 69, quando Bob deu um tempo, eles foram pro rancho dele e gravaram uma obra-prima: The Big Pink. Eric Clapton diz que esse disco salvou a vida de muito maluco perdido. Inclusive a dele. Desde de então, Clapton tenta soar como The Band.
Robbie Robertson era o guitar. Suave, delicado, sutil. É meu guitarrista favorito de todos os tempos.
Rick Danko tinha um baixo suingante.
Richard Manuel tocava teclado. E tinha voz de dor pura. Se enforcou nos anos 80. Heroína.
Garth Hudson parecia um lenhador. Tocava tudo: tuba, piano, acordeon, sax.
E havia Levon Helm, na batera e vocal. Mestre de ritmo e uma voz maravilhosa. Morreu ontem, aos 71. Este texto é pra ele.
De 2000 pra cá, eles são de longe a coisa que mais escutei. São perfeitos para quem está Middle of Road. Poesia de volta pra casa, de achar algo pra se amar, de virilidade discreta.
Em 1976 Scorsese fez o melhor filme de rock com eles. The Last Waltz. É o paradigma das gravações de show. Martin pegou os cinco melhores diretores de fotografia, deu uma câmera pra cada um e mandou bala. O show durou cinco horas! Editado, são duas horas de encanto. The best. A série de acústicos da MTV bebeu aqui.
Levon foi ator em alguns filmes muito bons. Filmes de Scorsese, Tommy Lee Jones e Kauffman. Dentre outros. Um cara que voce simpatiza de primeira vista.
Ficam os discos, tesouros, preciosidades.
É tudo.

NO LIMITE DO CAOS: SHOWS DE ROCK SÃO BONS QUANDO PERFEITOS, MAS SÃO INESQUECÍVEIS QUANDO ANDAM NA BEIRA DO ABSURDO

   O último concerto.
  Os 3 sobre o palco. E a sensação de que tudo pode dar errado. E dá. O baixista está viajando, ele ri, ele sai de tom, ele se acha. O ego vai crescendo, mas o que ele pensa todo o tempo é: shit....
  A platéia é cheia de perigo. Uma nuvem de coisa roxa flutua sobre as muito jovens mentes. Todos estão pairando entre a histeria suicida e a indiferença mortal. Os rostos transmitem cores nada agradáveis. Há algo de muito satânico na sala de concertos, e esse satanismo rima estranhamente com inocência. O teto pode vir abaixo, uma faca pode ser usada, ou nada acontecerá então. E enquanto isso algumas mentes se partem em fagulhas.
  Na bateria há um ruivo completamente canibal. Ele sabe ter saído de um galeão espanhol onde era trancafiado como animal selvagem. O modo como ele usa a bateria é soberbo, ele a ataca, a espanca, os bumbos são currados e os tambores estão sendo descabaçados. No rosto, feio, um sorriso de dentes podres.
  O jovem guitarrista erra todo o tempo, se perde, se enrola em notas que não deveriam estar lá. Um principe que foi raptado por dupla de diabos. Ele tenta manter uma certa elegância, algo de ereto, de racional... mas entrega os pontos, só lhe resta deixar ir.
  Eu juro que vi o teto desabar naquela noite. E juro que todos nós morremos debaixo daquele concreto e gesso.
  Shows de rock podem ser como Eric ontem no Morumbi. Britânicamente perfeitos. Elegante, sublime, professoral, poético e sincero. Mas deveriam ser como Eric aos 23 anos, errado, perigoso, perdido, egocêntrico, satânico, dionisíaco, meio ridiculo até. No Farewell Tour de 1968 houve tudo aquilo que define o rock. Em 2011, tudo o que define o pop.
  Mas Eric merece reverência. Aplauso. E ter começado com Key to the Highway e emendado com Tell the Thruth foi excelente decisão.
  Só que faltou alguém como Ginger nos tambores, faltou cheiro de enxofre, faltou gente com a mente em pedaços, faltou perigo, o ácido aroma do perigo.

Cream - Sunshine Of Your Love (Farewell Concert - Extended Edition) (1 o...



leia e escreva já!

CLAPTON IS GOD, HOJE

   Em 1964, cool era gostar dos Yardbirds, e grafitar nos muros de Londres "Clapton is God" era ato "in". Groovy baby, yeah! Os Beatles já eram, a onda era o blues inglês.
   Pra voce ter uma ideia, o que Clapton (e Mayall, Jeff Beck, Peter Green e Van Morrison ) fez é mais ou menos como se hoje aparecesse um portuga cantando música caipira de raiz ( ou samba tipo Elton Medeiros ) nos mostrando o quanto estávamos perdendo em não os valorizar. Porque a América em 1964 só queria saber de caras branquelos e bonitinhos, tipo Pat Boone ou Ricky Nelson. E de ingleses, tipo Beatles, que eram branquelos e arrumadinhos. O povo sexy preferia Stones, Animals, Them, e os Yardbirds. Eric Clapton, que hoje estará ao lado da minha casa, no Brasil-Morumbi, 2011, estava lá.
   Mas ele sempre foi um "puro". E a prova disso é que ele saiu dos Yardbirds quando a banda estourou. Na época ainda havia esse idealismo. Eric saiu porque a banda se vendeu. Jeff Beck assumiu seu posto e psicodelizou o som. Eric se juntou ao "puro" John Mayall e gravou os Bluesbreakers.
   Em 1966 ele começou a pirar. Heroina e ácido na cabeça, busca por sentido, e o sentido era uma nova sociedade. Sim meu povo, se acreditava ser possível mudar o mundo, derrotar o capitalismo, um mundo onde todo mundo fosse "doidão e irmão, man!" Surgiu o Cream.
   Um novo conceito: o supergrupo. O melhor baixista, com o melhor baterista e o melhor guitarrista. E ainda um poeta de vanguarda como letrista ( Peter Brown ). Esqueceram de chamar um cantor. Mas ok. Se o Cream é responsável pela egotrip que invadiu o rock forever, nos singles eles foram uma banda excelente. E o lp Wheels of Fire é nota dez. Em estúdio eles se continham, faziam músicas de 3 ou 4 minutos. Pop psicodélico. Ginger Baker era um baterista muito original, tocava como se sua batera fosse um tambor africano, Bruce era um baixista muito jazzy e havia Clapton. Que estará aqui ao lado, hoje. E desde sempre seu toque sempre foi fino, suave, cool. Os dedos de Eric são leves, femininos.
   Eric compôs então os dois riffs que mais grudaram em minha mente desde sempre. Me pego faz trinta anos andando pela rua e sem perceber cantarolando "Sunshine of your Love" e "Badge". O riff de Sunshine é avô de todo riff de hard-rock e o solo de Badge é plagiado por N grupos desde então. Mas, sempre um "puro", Clapton sai do Cream quando vê que não tem nada a fazer lá. Num daqueles solos free, num palco dos USA, ele pára de tocar e percebe que Jack e Ginger nem percebem. Its all over now.
   Toca então com Beatles, com Stones, com Steve Winwood e muuuuito doidão, vai ao sul dos USA para se afastar dos malucos de Londres. Que erro! Toca com os estradeiros Delaney e Bonnie, um grupo de hippies radicais, do tipo que vê Jesus Cristo em cactus do deserto. Grava Layla com Duanne Allman, pra mim, um lp que é o melhor e mais desesperado retrato do amor terminal. E estradeiro até as botas sem sola. Isso porque Eric estava amando a esposa de seu best friend: George Harrison, e ela optou por George ( e depois iria para Eric... ). Então Layla sai ao mundo e Eric quase morre. Em 1971 ele era considerado mais junk que Keith Richards.
   Volta em 1974, falando que Steve Wonder é Deus e que a heroina já era. É o Eric que conhecemos até hoje, relax, bom astral, pop adulto, meio The Band meio Steely Dan. O que a gente não sabia é que ele adorava um bourbon, na verdade litros e litros.
   Amigão. Sempre um "puro", torna-se cumpadi de Dylan, Ron Wood, The Band, e volta às boas com Harrison ( espiritos superiores, sem dúvida ). Grava com todos eles e ajuda a popularizar gente como Bob Marley e J J Cale. Pára com a bebida e perde um filho. Mas quem o viu na belíssima homenagem à George Harrison sabe que Eric é a imagem da paz. É dos poucos caras do rock que dá vontade de conversar sobre amor e dor.
   Daqui a pouco esse cara puro vai estar aqui ao lado. Um senhor que conviveu com Lennon, Brian Jones, Hendrix e Harrison. Talvez o único gigante do rock sobre quem ninguém nunca falou mal. Clapton não é God, claro. Mas ele ficaria muito bem como o arcanjo Gabriel da guitarra.

DEREK AND THE DOMINOS- sol, desespero e amor

ATENÇÃO:
ESTE TEXTO NÃO DEVE SER LIDO POR MENINOS ( MENINA PODE ). ELE FALA SOBRE SENTIMENTOS VIRIS. PODE CAUSAR DOR, MEDO E INSEGURANÇA.

A Rolling Stone disse uma vez que existe um certo tipo de disco que consegue passar aquilo que seria um ato de sucídio por amor. Música que é um abismo de dor, mas não de neurose. Ao contrário da neura, é dor verdadeira, inteira, assumida, é a completa e abismal paixão. O autor do texto cita "Darkness on the edge of town" de Bruce e "Tonight is the night" de Neil Young como exemplos desse momento de dor e de inspiração, e cita " Derek and the dominos" como o momento maior, onde o autor se mata de amor em nossa frente, e ao ouvir o disco, se estivermos apaixonados, nos sentimos morrer com ele.
Mas o que é Derek ?
Você sabe, é o Eric Clapton da heroína, o cara que em 1970 todos diziam ser o próximo morto. O que não sabiam é que ele já estava no inferno. ( E è sintomático de sua situação o fato de Keith Richards ter dito numa entrevista que trabalhar com Clapton era barra-pesada demais !!!! ).
Eric acabou com o Cream ( no auge da fama ) por dois motivos : por ter escutado a The Band e querer fazer aquele som, e por estar entupido de heroína. Mas, como tudo que é ruim pode ficar pior, ele se apaixona pela esposa do melhor amigo : Patty Boyd Harrison, esposa de George, aquele George...
Clapton vai, cheio de culpa ( não foi platônico e George perdoou os dois ) para a América e se mistura com uma gang de muito talento e de muita droga, os tais Dominos. Disfarçado então, ele lança um disco onde canta ( grita ) seu amor por Patty. Ouvindo o disco ( que nada mais é que uma carta de amor ), ela escolhe continuar com George, mas dois anos depois opta por Eric ( com quem ficaria mais de dez anos ). Clapton lança o disco, pira de vez e desaparece por quatro anos. Quando retorna, limpo de heroína, bebedor compulsivo, ele se apresenta como o cara que conhecemos desde então : acomodado, calmo, pop. Com a morte, por sucídio amoroso, daquele poeta do blues, nasce o guitarrista pouco ousado, clean e elegante, boa praça. Quem assistiu o show em homenagem a George ( excelente ) sabe do que falo : Clapton é um gentleman. Mas quem ouviu e sentiu os Dominos sabe mais : o disco é um berro de desespero amoroso.
Como devo deixar bem claro, o disco é de dor e desespero, mas nada tem de neurótico. O amor que ele passa é a paixão visceral de um homem de coragem por uma mulher especial. Apesar de ter sido gravado por um bando de junkies, nada em seu som trai qualquer tipo de viagem ou de pesadelo drogado. É um disco de blues. Para ser entendido por quem se perdeu numa estrada, para quem sabe o que é estar onde não se queria estar, para quem acordou e se viu no blues.
Nunca duas guitarras soaram tão fortes e tão cheias de sangue. Clapton chamou Duane Allman para tocar com ele. Duane, na época não muito conhecido, morreria em acidente de moto dois anos mais tarde, no estouro da Allman Brothers Band. Eric, com a modéstia que nele parece ser verdadeira, deu para Allman os melhores solos e passa boa parte do disco fazendo base para os solos de slide do americano. E que solos ! Tudo o que uma guitarra pode fazer em termos de emoção é feito pelo slide de Duane e pelo dedilhar de Eric. Os solos não são colocados nas músicas, eles explodem, sempre em desespero, sempre em lamentações dobradas, numa espécie de hiper saturação do blues. O efeito sobre aquele que já se apaixonou pela mulher errada e pagou por isso, é devastador. As duas guitarras, faixa após faixa, trazem uivos e gemidos que revivem toda a dor de uma emoção destruída e destruidora. Após estas faixas não há como outro guitarrista os superar, a linguagem do instrumento é esgotada.
As faixas falam de toda a história dessa paixão. Começando com " I Looked Away ", com solo soberbo de Eric, caminhando por "Bell Botton Blues", faixa que já estraçalha seu pobre coração aniquilado, tudo no disco conta a história da sua/ da minha/ da paixão de todos. Mas veja bem, paixão com P gigante, paixão louca de total entrega e total desfalecimento. Clapton se suicida nestes sulcos, dá sua alma à musa e renasce outro ser, anos depois. O cara que gravou isto, o louco deus da guitarra do Cream e do Yardbirds desaparece neste album. Album que continua com a festa de Keep on Growing, prossegue pela soberba Anyday- que tem vocais de morrer de dor, e deságua na música das músicas de estrada, Key to Highway, que tem os melhores solos já gravados. Quando Have you ever loved a woman surge, só resta entregar tudo à música, o que foi gravado alí é algo precioso demais para ser explicado. É música pura, superior; explicá-la é tão dificil quanto explicar uma paixão.
Dos músicos que tocaram neste disco, dois se mataram, um enlouqueceu e Duane morreu no acidente. Eric Clapton sobreviveu. E acima de Hendrix, Cobain, Morrison ou Curtis, eu valorizo o sobrevivente, o que viu a besta e voltou para continuar. Clapton viu. O demonio que ele viu tem o tamanho deste emocional disco. Era um demonio feito de amor, de desejo e de aventura. Ele soube domá-los. Não fez pouca coisa.
Ao final ele sobreviveu a Patty e a George. E melhor, manteve a amizade dos dois. O que fica disso tudo ? Este disco... e penso que ao final tudo se resume ao blues........