Mostrando postagens com marcador clint eastwood. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador clint eastwood. Mostrar todas as postagens

ONDE VIVEM OS MONSTROS/BULLIT/DIRTY HARRY/RENE CLAIR

ANASTASIA de Anatole Litvak com Ingrid Bergman e Yul Brynner

Chatíssimo sucesso do cinema que décadas depois teve mais sucesso ainda, como desenho Disney. Ingrid ganhou seu segundo Oscar e Yul está especialmente canastrão. Um filme para mocinhas românticas, apenas isso. Nota 2.

ONDE VIVEM OS MONSTROS de Spike Jonze

Descubra a criança que há em você.... Não seria melhor descobrir o adulto que procura nascer ? Pois tudo hoje nos ajuda a "descobrir a criança" ! Somos geração do talco e das fraldas. Não nos cansamos de revisitar o mundo idealizado da meninice. Haja !!!!! O filme nada me surpreendeu, eu já adivinhava que haveria um início cheio de fôlego e uma gradual perda de pique até o final mais ou menos. Sina de diretores formados por clips, uma incapacidade total de contar histórias longas. O visual remete às séries infantis inglesas dos anos 60/70, tipo A FLAUTA MÁGICA...Spike andou as assistindo. Adorei os dez minutos iniciais, depois deu muuuuuito sono.... Nota 4.

NA TRILHA DOS ASSASSINOS de John Frankenheimer com Don Johnson e Penelope Ann Miller

Policial estilo anos 80. Detetive fracassado investiga crimes. A ação é ok. Frankenheimer foi um dos grandes entre 62/72, de repente desandou. Mas isto é bem divertido. E bastante imbecil. 5.
O ÚLTIMO BOY SCOUT de Tony Scott com Bruce Willis
O irmão mais jovem de Ridley fez na sequencia dois bons filmes, este e AMOR A QUEIMA ROUPA. O estilo é cheio de luz, cores, brilho e reflexos, ou seja, publicitário. Mas Bruce nunca esteve tão bem ( lí que Tarantino acha Willis grande ator ) fazendo seu tipo azarado cornudo. O filme diverte muito, tem cenas de ação centradas nos stunt e não em efeitos. Enjoy, é um dos melhores filmes pra homem dos anos 90. Nota 8.
THE LAST WALTZ de Martin Scorsese com The Band
Na história do cinema dois filmes disputam o prêmio de melhor show já gravado, este e STOP MAKING SENSE de Johnathan Demme com os Talking Heads. São completamente diferentes. Demme fez um filme modernista, minimalista e esquizo; Martin nos dá um filme que reflete aquilo que é The Band, o filme é direto, simples, objetivo. Fala todo o tempo sobre a amizade. Como música é nota dez, como cinema é 7.
BULLIT de Peter Yates com Steve McQueen, Robert Vaughn e Jacqueline Bisset
O moderno filme policial nasceu com Dirty Harry, mas dois anos antes Bullit abriu o caminho e fez melhor. Nada é mais cool que este filme. Tudo aquilo que ligamos ao que é ser cool está aqui. Em sua trilha sonora ( jazz de Lalo Schifrin, pra mim a melhor trilha de policial da história ), nos carros ( muscle cars, o de Steve é um clássico ) roupas, cenários, silêncios, ressacas. Basta assistir os primeiros cinco minutos de Steve em cena para se entender tudo o que era cool em 1968 e é ainda hoje. Aliás hoje o estilo Bullit é mais cool ainda !
O filme, cheio de ação e com muito poucos diálogos, segue um policial rebelde ( Steve ) investigando coisas da máfia e de política. Tudo com as ruas de SanFran de fundo e Miss Bisset, dona de beleza surreal, enfeitando o apto de Bullit. Yates, diretor inglês muito bacaninha da época, nunca deixa a câmera parada. Ela corre, voa, treme e ginga. Há uma perseguição de carrões pelas ladeiras que dá até frio na barriga. O filme foi hiper sucesso de bilheteria e é um clássico. O tipo de filme que Soderbergh adoraria assinar. Esperto, frio, elegante, viril, ritmado, enfim, cool. Steve McQueen merece seu título, o rei do cool. Nota DEZ !!!!!!!!!
DIRTY HARRY de Don Siegel com ELE.
...é seu dia de sorte ? Depois que Clint disse isso nunca mais o cinema foi o mesmo. Se voce é um dos infelizes que nunca o assistiu e resolver conhecer este lixo delicioso, saiba que para entender a importancia disto é preciso saber que tudo o que voce assistir aqui foi feito pela primeira vez por Harry, o sujo. O sangue, o som do Magnum 44, um policial metendo bala nos meliantes sem dó, a frieza, o politicamente incorreto. Harry mata e mata sem nenhum problema de consciencia, e isso na época causou indignação. Observe como o filme tem poucos tiros. Espertamente eles notaram que um único tiro causa mais impacto que duzentos. E que tiros ! Nós vibramos com eles ! É um filme podre, sujo, muito feio, de humor pesado, cheio de furos no roteiro. Mas é inesquecível, empolgante, viciante. Clint cria um mito moderno e deixa como cria uma penca de heróis ( de Rambo até Matrix, todos têm algo de Harry ). Nota 9.
MAGNUM 44 de Ted Post com Clint Eastwood e Hal Holbrook
Harry em seu segundo filme ( ele é também responsável pela praga das continuações ) enfrenta gangue de policiais justiceiros. O inicio do filme é hilário, um close gigantesco na arma de Harry. O filme é mais ambicioso que o primeiro, mas tem menos suspense. A violência é maior, o impacto menor. Nota 6.
MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS de Alain Resnais com Pierre Arditi, Andre Dussolier, Laura Morante, Lambert Wilson
Resnais melhorou com a idade. Aos quase noventa anos ele domina uma leveza sem igual. Este filme fala do grande tema deste tempo : solidão. Consegue não ser piegas, não ser triste e não ser tolo. Adultos tentando fugir desse fantasma. Não conseguem. O filme é belíssimo. Nota 9.
POR AMOR de Sam Raimi com Kevin Costner, John C Reilly e Kelly Preston
Muita gente não entendeu o porque de Raimi amarrar os melhores anos de sua carreira ao Homem-Aranha. Porque ? Este filme ajuda a responder. Porque Raimi é banal. Este filme tem duas horas de cenas sem qualquer sinal de criação. Tudo é óbvio, previsivel, novelesco. E o tema é bom : jogador veterano recorda sua história de amor enquanto joga sua última partida. ( Baseball ). Costner até não está tão mal, mas o filme é idiota. Começo a pensar que todo diretor de série sabe o que faz ( ou o que não faz ). Talvez Raimi, Bryan Singer, Chris Columbus e agora Christopher Nolan e Gore Verbinski sejam apenas isso mesmo, diretores de séries. Nota 2.
O TEMPO É UMA ILUSÃO de Rene Clair com Dick Powell e Linda Darnell
Clair fugiu dos nazistas e foi filmar nos EUA. Se deu bem. Seus filmes lá são ótimos. Este fala de jornalista que recebe jornal do dia seguinte, ou seja, ele sabe tudo o que vai acontecer antes que aconteça ! Típico tema de Clair : fantasioso e feliz. O filme pede por atores melhores. Um Cary Grant o transformaria em ouro puro, Powell é apenas um tipo de Adam Sandler elegante. Mesmo assim é boa diversão. Nota 7.
FESTIVAL EXPRESS de Al Eamon
Inacreditável !!!! Em 1970 botaram num trem um bando de músicos e os soltaram on the road no Canada para fazerem shows. A idéia era um Woodstock itinerante. É lógico que tudo deu errado. Os hippies enfrentavam a policia, queriam ver os shows de graça. O produtor faliu e os músicos continuaram fazendo a excursão for fun. Muita bebida, muita droga, muito som. O Grateful Dead até que está bem. Era sua fase mais country, mais pop. Buddy Guy é um desastre. Tem ainda o Flying Burrito Brothers sem Gram Parsons, tocando Lazy Day. Nota mil pra eles. Mas tem também a chatérrima Janis Joplin dando seus gritos de sempre. The Band salva tudo : 3 canções de arrasar. Mas o melhor são os bastidores. Músicos totalmente junkies. Um retrato da proto-história do pop. Nota 5.
PS: Meirelles fazendo um filme sobre Janis com a filha do grande Caleb Deschanel ? Tô fora !!!!!

BONS COSTUMES/ PETER SELLERS/ DAVID LEAN/ SEMPRE AO SEU LADO

BONS COSTUMES de Stephan Elliott com Colin Firth, Kristin Scott Thomas e Jessica Biel
Texto de Noel Coward e música de Cole Porter. Comentei este filme algum tempo atrás e só agora ele entra em cartaz. Como os nomes de Noel e Porter deixam perceber, é o tipo de diversão chic e civilizada que está totalmente fora de moda. Este filme requer bom gosto e leveza de humor. Adorei ! Então eu tenho bom gosto e humor ? Sei lá... o filme é uma delícia fútil. Existe algum filme ruim feito por Colin Firth ? Ele é ótimo. Nota 7.
AEROPORTO de George Seaton com Burt Lancaster, Dean Martin, Jean Seberg e Jacqueline Bisset
Foi contra este tipo de filme que a nova-Hollywood se ergueu por entre carreiras de pó, barbas e filmes de Antonioni. Eles bateram forte neste mastodonte. Seu sucesso os irritava. Alguém tem coragem de agredir Peter Jackson e James Cameron ? Aeroporto é mais velho que novela das seis. Mas prende a atenção, afinal, todos gostamos de desastres e de ver gente ter medo. Nota 5.
NOITE SEM FIM de Sidney Gilliat com Hayley Mills, Hywell Bennet e Britt Ekland
Uma coisa horrenda ! Baseado em Agatha Christie, o filme não tem nada da dama inglesa. Desprovido de suspense, de estilo e de humor. O elenco é horrendo, a direção banal. Curiosidade : Britt Ekland, atriz sueca que acabou com o pouco equilíbrio que havia em Peter Sellers e que depois transformou Rod Stewart num babaca. Nota 1.
ASSASSINATO NUM DIA DE SOL de Guy Hamilton com Peter Ustinov, Jane Birkin, Maggie Smith e Colin Blakely
Outro baseado em Agatha. Mas este é ok. Bem produzido, bem fotografado, bons atores e toques de humor e crueldade. Um filme indicado para madrugadas de vinho e queijo. Nota 7.
A FILHA DE RYAN de David Lean com Sarah Miles, Robert Mitchum, Trevor Howard
Se Spielberg pudesse nascer de novo ele gostaria de nascer David Lean. O rei do bom gosto, o diretor que melhor sabia usar a tela grande, o perfeccionista. Lean tem todas as qualidades de Spielberg e nenhum de seus defeitos : David Lean nunca é piegas. Ryan é seu maior fracasso e quase destruiu sua carreira. Mas é um belo filme ! A Irlanda nunca foi melhor fotografada e o filme é vasto painel de um mundo desaparecido. Nota 7.
A PANTERA COR DE ROSA de Blake Edwards com David Niven, Peter Sellers, Claudia Cardinale e Robert Wagner
O filme que originou Clouseau. Mas ele não é o centro do filme. Há romance demais e Peter Sellers de menos. Ficamos torcendo para que ele surja logo na tela. Acaba sendo um filme xoxo com alguns bons momentos. Sellers foi um gênio. E que ano estupendo foi esse para Claudia !!! Em 1963 ela esteve neste filme, em OITO E MEIO de Fellini e em O LEOPARDO de Visconti !! Nota 5.
UM TIRO NO ESCURO de Blake Edwards com Peter Sellers, Elke Sommers, George Sanders e Herbert Lom
O segundo da série. Há milênios atrás, este foi o filme que me fez começar a gostar de filmes "velhos". É minha comédia favorita de todos os tempos, mas isso não quer dizer que eu a ache a melhor. Tenho uma relação afetiva com todas as falas e cenas deste filme. Ele é como meu paraíso pessoal. Encontramos Sellers em seu auge. Clouseau é criação de gênio. Mas é aqui também que nasce seu ajudante sempre sério ( Dudu ), o criado Kato e principalmente o comissário Dreyfuss, impagável na pele de Lom ( ele só não rouba o filme porque tem de disputar com Sellers ). É uma comédia que cresce cada vez mais, vai se tornando mais e mais veloz e termina já dando saudade. Aconselho a que os muito jovens não o assistam. Nota DEZ.
RAN de Akira Kurosawa
Quando o cego larga sua flauta e se aproxima do abismo percebemos que a arte do cinema pode ser tão nobre quanto a melhor literatura. Jamais vi filme com fotografia tão linda e raras vezes assisti obra com tal alcance. Um dos segredos de Kurosawa ( são vários ) é sua modéstia. Ele filma épicos gigantescos como quem faz um filme B. Tudo parece direto, sem complicações. RAN é inesquecível. Pretender conhecer cinema e não penetrar em RAN é nada saber. Nota .........
KAGEMUSHA de Akira Kurosawa
Aqui o mestre se perde. A trilha sonora lembra John Willians, o roteiro tem sérios problemas e o filme desmorona todo o tempo. Em que pese a maestria de Kurosawa em filmar batalhas, o filme é o pior de sua grande carreira. Nota 4.
COWBOYS DO ESPAÇO de Clint Eastwood com Ele, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e James Garner
Clint sempre fez dois tipos de filmes : Hawks e Hustons. Este é Hawks. Amizade masculina é o tema central. Quem tem amigos antigos vai adorar o filme. É um RIGHT STUFF ( OS ELEITOS ) caipira. Uma delícia, sem a menor pretensão, com um elenco cheio de carisma e muito bem levado pelo impagável Clint. Humor e aventura, quem quer mais ? Nota 7.
UM CASAMENTO PERFEITO de Eric Rhomer
Rhomer diz fazer documentários sobre o rosto humano. Note : seus filmes são sempre felizes. É por isso que gosto deles ( apesar do desleixo e do fato de que ele não sabe dirigir atores. ) são leves, esvoaçantes, simples, banais. As pessoas falam e falam e falam. E tudo o que fazem é... falar mais. Como todos nós. Para esse tipo de filme funcionar é vital que nos apaixonemos pelos personagens. Isso não acontece desta vez. Nota 4.
SEMPRE AO SEU LADO de Lasse Hallstrom com Richard Gere e Joan Allen
Hallstrom... em 1985 ele chamou atenção mundial com VIDA DE CACHORRO, um dos mais bonitos retratos da infância já filmados. Depois veio a América e GILBERT GRAPE, CHOCOLATE.... virou um bom fazedor de filmes para mocinhas. A poesia de seu primeiro sucesso se perdeu. Filmes de cachorro.... espero que um dia façam a obra-prima dos filmes de cachorro. Não foi este. Sua primeira metade é banal. Mas a segunda, bem... é um dos filmes mais tristes que já assisti ! Não deixem as crianças assistirem. Ao contrário de outros filmes de pets, este tem lágrimas mas não tem final feliz. Eu chorei pra caramba !!!!!! Mas é pura manipulação, minhas lágrimas são pelo cão sofredor, não pelo filme. Que apelação !!!!!!!!! Nota 4.
PAULO FRANCIS
Assistam de joelhos ou joguem tomates na tela, mas assistam. Um mundo sem Francis não tem tempero e a geração que não o conheceu nem imagina o que significa ser provocado por Paulo Francis. Ele era um provocador, mas com conhecimento de causa, com história, com argumentos. Foi o cara que me fez procurar livros de Waugh, Greene e Huxley; foi o cara que me abriu os olhos para Gielgud, Olivier e Rex Harrison e que me fez desconfiar para sempre de modas e opiniões moderninhas. Ele era sincero. Faz uma falta do caramba !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

FINZI-CONTINI/ TATI/ SALLY FIELD/ JORDAN/ WOODSTOCK/ EASTWOOD

NORMA RAE de Martin Ritt com Sally Fields
Sally ganhou seu primeiro Oscar com este filme sobre sindicalismo americano. Ela faz uma caipira, meia saidinha, que vai se conscientizando politicamente, ao conhecer um radical sindicalista "de esquerda". Além da muito carismática atuação de Sally, há um belo roteiro de Ratchett, que não romantiza nada ( não há romance entre os dois ) e nem cria nada de violento ou policial na história. O que vemos é uma tecelagem desumana, e a rotina deplorável de seus empregados. Ritt sempre gostou de fazer filmes com mensagem e este é de seus melhores. Não há panfletagem crua, o que há é bom cinema. Nota 7.
O PEQUENO GRANDE HOMEM de Arthur Penn com Dustin Hoffamn e Faye Dunaway
Dustin, no auge da fama, fez esta sátira ao western. Ele é um velho de 120 anos de idade, que em 1970, recorda sua vida a um jornalista. Este é um "Dança com Lobos" da era hippie. O herói é criado com os índios e se perde entre duas culturas : a branca é vista como hiper violenta e materialista; mas os índios também são bastante tolos. Há uma cena em que o velho chefe se deita para morrer que é hilária ! O filme começa meio sem sal, mas após 30 minutos ele se torna uma divertida comédia ( com algumas cenas cruéis ). Dustin era grande amigo de Penn, recusou convite de Bergman para fazer este filme.... Nota 6.
CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO de Neil Jordan com Cillian Murphy, Stephen Rea e Bryan Ferry !!!!!!!!!!
Desconcertante ! Acompanhamos a vida de um adotado menino, menino que se torna menina, que de Patrick se faz Kitten. Tudo para ele/ela é fantasia : ele tenta fazer do mundo uma festa. O acompanhamos na escola, já assumido e depois em sua adolescência/ juventude. Ele se envolve com cantor glitter ( feito por Gavin Friday. O filme vale por sua redescoberta. Procure no youtube clips de sua banda dos 80 : Virgin Prunes. São do cacete ! Glitter/ Punk genial. ) Continuando : vem uma tentativa de assassinato por um velho tarado ( Ferry, breve cena e muito bem ) e envolvimento com a guerra na Irlanda. Com tamanho assunto, o filme é bom ? Não. Irrita a voz do ruim Cillian. Não nos interessamos pelo personagem, não nos convence, e como o filme é com e sobre ele... A trilha sonora é um primor ! Nota 3.
ACONTECEU EM WOODSTOCK de Ang Lee
Fuja !!!!! Fuja correndo ! Um imenso fiasco ! Um anti-Woodstock, um caretésimo filme sobre um jovem tentando sair do armário. Quem se importa ? Com um dos momentos chave do século XX acontecendo ao lado, quem se interessa pela história daquele mala ? O filme chega a ser ofensivo de tão errado. Nota 1.
BLOOD WORK de Clint Eastwood com Clint Eastwood e Jeff Daniels
A história do ex-policial que volta a ativa para tentar descobrir quem matou sua doadora de coração transplantado. Clint sempre fez dois tipos de filme : ambiciosos filmes para novos fãs, e entretenimentos descompromissados para velhos fãs. Sou velho fã, adoro seus filmes mais pop, mais simples. Que belo policial é este !!!! Meio triste, lento, bastante envolvente, delicioso. Clint Eastwood é nosso Hawks e nosso Ford. Viva !!!! Nota 8
TRAFIC de Jacques Tati
Último filme de um muito grande diretor. Tati era cinema puro. Não há closes em seus filmes. Todas as cenas são vistas de longe, ângulo aberto ( em todos seus filmes ). Mal vemos os rostos dos atores, pois o que interessa a Tati são os corpos, as paisagens e principalmente as coisas em movimento. Seus filmes são fenômenos do olhar, suas tomadas lembram fotos de Doisneau ou Bresson. Vemos que cada movimento de cada figurante é milimetricamente ensaiado. Não há um só passo de um só figurante que seja casual. Todo movimento é parte de um mecanismo, e sempre existem vários movimentos coordenados acontecendo. Este filme, inferior ao perfeito "As férias de Mr. Hulot ", é fascinante em suas imagens e tem duas cenas de humor irresistível : a do guarda-chuva e a genial dos limpadores de para-brisa. O filme é crítico em relação ao amor dos homens por seus carros, mas nada tem de amargo. Tati adora as coisas. O que mais me agrada nele é sua falta de respeito pelas palavras. Seus filmes são dialogados, mas o que é dito não tem nenhuma importância. Gestos e atos, eis a vida para ele. Na parte final do filme, passada na Holanda, repare num dos mais belos cenários que já ví. Preservar um lugar como aquele é imperativo ! Já disse Roger Ebbert, assistir Tati não é como ver um "filme"; é como visitar um lugar muito querido. Trafic é lugar de férias agradáveis. Nota 8.
O JARDIM DOS FINZI-CONTINI de Vittorio de Sica com Lino Capolichio, Dominique Sanda, Fabio Testi e Helmut Berger
A profanação do que é nobre... Foi com a primeira guerra mundial que toda a nobreza viveu seu golpe final. E com a segunda ruiu toda a ilusão que o homem ainda podia ter sobre bondade ou dignidade. Este filme mostra acima de tudo a profanação da beleza. A destruição da nobre linhagem dos judeus de Ferrara. ( Uma das idéias mais tolas sobre a guerra é a de que os italianos eram um tipo de fascista-cômico. Há quem pense que judeus italianos não foram executados. Tanto foram que toda uma comunidade de judeus foi exterminada. ) O filme, auto-biográfico, centra-se na família Finzi-Contini, uma família tão rica que se dá ao luxo de jamais sair de casa. Eles nunca se misturam. Seu palácio e seus jardins recebem amigos e dentre eles Giorgio, que se enamorará por Micol, amiga de infância. Ela o repele, mas além dessa dolorida história de amor frustrado, há a história de um cerco que se fecha sobre todos, e mais cenas proustianas sobre tempo e memória e a tolice de judeus otimistas, pensando serem italianos e portanto salvos. Mas a beleza ( o filme é esteticamente primoroso ) do filme está nessa terrível sensação de "extinção" que nos assalta. Vemos o final de algo que nossa geração jamais conheceu : nobreza. Pois o fascismo ( de direita ou esquerda, tanto faz ) traz ao mundo algo novo : a cultura do feio, do estridente, do mínimo denominador comum, do vulgar, do grito e da delação. Nosso mundo afinal... E beleza fria, radiantemente fria nasce em cena após cena, seja pelo belo roteiro baseado em Giorgio Bassani, seja na foto de Ennio Guarnieri ou na bela trilha de Manuel de Sica. Vittorio foi um gentleman. Seus filmes têm o toque leve, porém contundente, de um verdadeiro poeta. Este filme, monumento discreto e simples às coisas belas, é um poema a tudo que termina, coisas que são abandonadas, à profanação. O jardim é pisado por não-convidados, o estrago é para sempre....
Eu tinha 14 anos quando assisti a este filme numa Sessão de Gala de um sábado muito frio. Foi um de meus primeiros contatos com aquilo que o cinema poderia ser. Lembro que chorei. Tanto tempo depois, hoje, tantos filmes mais tarde, o reencontro. Mal recordava sua história, mas percebo, como madalenas proustianas, que certas imagens não foram esquecidas : o sol entre as árvores do jardim, o rosto de Micol e principalmente uma frase, a única, da qual nunca me esquecí : "Eu nunca mais verei este jardim..." Síntese de tragédia sem remédio e símbolo de toda beleza, beleza que é sempre um fim e nunca um começo.
Naquele tempo, Finzi-Contini, assim como HOUVE UMA VEZ UM VERÃO, O MENSAGEIRO, A NOITE AMERICANA e OITO E MEIO, foram os filmes que me fizeram perceber que havia alguma coisa maior na vida, mais brilhante, sem tempo e sem mácula. Um jardim.
Ele continua vivo.

SODERBERGH/FELLINI/JAMES STEWART/CLINT/OZ

A ÚLTIMA CARROÇA de Delmer Daves com Richard Widmark e Felicia Farr
Um assassino condenado lidera grupo de religiosos através de terras de índios. Ele próprio é um índio. Simples, como todo western deve ser. Belas paisagens, bons personagens. Widmark agrada sempre, com seu ar de psicopata. Daves foi um dos bons diretores de ação dos anos 50. Diversão sem compromisso. nota 6.
A TRAPAÇA de Federico Fellini com Broderick Crawford e Richard Basehart
Se Bogart não houvesse tido seu câncer fatal, teríamos aqui um momento de antologia. Pois era Bogey quem iria fazer o papel do pequeno malandro, explorador de pobres diabos que nada têm. Com Crawford, este filme, feito entre La Strada e Cabíria, perde seu sentido. Um Fellini que não parece Fellini, pois é realista, documental, quase um Rosselini. nota 5.
IRRESISTÍVEL PAIXÃO de Steven Soderbergh com George Clooney e Jennifer Lopez
Reassistí este muito agradável filme. Do tempo em que Soderbergh era bom. Do tempo em que Clooney parecia querer ser um novo Cary Grant ( hoje é um novo Gregory Peck ). Do tempo em que Jennifer prometia ser uma futura comediante... O filme, sobre malandragens e trapaceiros, é delicioso. Junto com The Limey, é meu Soderbergh favorito. nota 7.
O GATO PRETO de Edgard G. Ulmer com Bela Lugosi e Boris Karloff
Inacreditávelmente picareta!!!! Um absurdo de diálogos ridículos, imagens de fru-fru, atores sem direção e roteiro amador. Bela tem o pior desempenho da história do cinema. Um tipo de ator pretensioso recitando má poesia colegial. Mas por tudo isso...nota 6.
SUBLIME DEVOÇÃO de Henry Hathaway com James Stewart e Richard Conte
Existem certos atores que nos fazem vibrar quando os vemos e ouvimos suas vozes. São como gente da família. Gente que visitamos por toda a vida e não nos cansamos de rever. Atores que fizeram muitos filmes bons e que portanto nos dão muitos motivos para visitar. James Stewart é um dos mais amados. Ele é simpático. ele parece confiável, ele jamais dá uma interpretação ruim, ele é um ícone. Aqui ele é um repórter que investiga um caso de assassinato. Ele não crê na inocência do condenado, mas acaba, lentamente, mudando de opinião. Este filme, sem trilha sonora, seco, duro e ágil, quase um documentário; é maravilhosamente bem dirigido pelo muito competente Hathaway, diretor de quase cem filmes e um dos gigantes que fizeram a glória da Fox. Um filme que te deixará muito tenso, ligado, interessado e torcendo muito. Roteiro e fotografia de gênio. nota 8.
COMEÇOU EM NÁPOLES de Melville Shavelson com Clarck Gable e Sophia Loren
Apesar do nome o filme se passa quase todo em Capri. Isso dito... que linda ilha!!!!! E como Sophia era bonita de se ver! Tão bela que chega a parecer irreal, um milagre da natureza. Ela hipnotiza nosso olhar, vulcaniza a tela e explode em vida e alegria. Genuinamente. O filme, uma comédia romântica, trata do contraste entre a América, fria, rica, eficiente; e a Itália, quente, pobre, preguiçosa. Felizmente toma o partido da Itália. Um dos primeiros filmes que ví em minha vida, numa velha Sessão da Tarde, no tempo em que filmes de Loren, Elvis, Jerry Lewis e Lucille Ball abundavam na tv. nota 6.
ALWAYS de Steven Spielberg com Richard Dreyfuss, Holly Hunter e John Goodman
Muito estranho o ano de 89. Enquanto Stephen Frears filmava uma obra-prima chamada Ligações Perigosas, Milos Forman fazia Valmont, baseado no mesmo livro. E enquanto se filmava Ghost, Spielberg fazia Always- o mesmo filme, porém, passado entre aviadores e sem metade do interesse do filme com Swayze e Demi. Um diretor do tamanho de Steven não tem o direito de fazer algo tão primário, tão mal construído, tão inútil. Cheio de romance que não emociona, ação que nada move, diálogos que nada dizem. Um desastre! nota zero.
COMO AGARRAR UM MARIDO de Frank Oz com Steve Martin e Goldie Hawn
Eu adoro Steve Martin. Como Jim Carrey, Will Smith, Kevin Kline, Clint Eastwood; adoro ver seu rosto na tela. Ele não precisa fazer muito para agradar. Basta estar lá. Este roteiro, bobíssimo, trata do velho tema de opostos que se descobrem apaixonados. Não faz rir. Mas se deixa ver sem problema algum. nota 5.
BRONCO BILLY de Clint Eastwood com Clint e Sondra Locke
Um tipo de Beto Carrero dos pobres. Essa é a história de Billy, um cowboy que com sua trupe de ex-detentos faz shows pelo interiror dos EUA. Um filme on the road, uma comédia amarga. O filme, bastante feito nas coxas, é barato, quase amador. E mal escrito. Clint, no tempo em que parecia sem grande talento, não se dá ao trabalho de dirigir os atores. Erros se acumulam. Faltam cortes, faltam segundas tomadas. Um filme muito estranho... nota 3.
O SOL É PARA TODOS de Robert Mulligan. com Gregory Peck, Mary Badham. roteiro de Horton Foote e música de Elmer Bernstein
Não é uma obra-prima. Não tem essa pretensão. Mas é um dos mais lindos filmes que já assistí. Comovente em profundidade, tudo funciona à sublime perfeição. Leia meu comentário logo abaixo. Coloco aqui um adendo : o filme tem a estréia de Robert Duvall no cinema. Entra mudo e sai calado. Seu personagem fica 3 minutos em cena. Veja o milagre que ele faz. Um discurso com os olhos... Quanto a Gregory e Mary... se houvesse nota maior que dez eu a daria.

GRAN TORINO/RHOMER/WC FIELDS/HOMEM DE FERRO

Gran Torino de Clint Eastwood
ele entendia de morte e não de viver. ao final, oferece sua morte por uma vida. um filme lindo e que dá vontade de rever. é também um anti- benjamin button, um anti-slumdog millionaire : não é bonitinho e empetecado. nota dez, mil, um milhão.
Che de Steven Soderbergh
de todas as pragas que os hippies nos deixaram ( herman hesse, aldous huxley, castaneda, drogas glamurizadas, músicas com flauta, camisetas podres, insenso, jung e reich...) nada é pior que a canonização de che. o que ele fez de bom pelo mundo ? vendeu posters na california e criou a imagem do guerrilheiro do bem. na real, tudo que ele tocou foi um desastre. não foi lider da revolução cubana e como dirigente do governo de fidel... bem, foi expulso da ilha à pontapés. matava qualquer um que não pensasse como ele e tinha a vaidade dos egocentricos. mas... a propaganda hippie o transformou num tipo de são francisco de assis com zorro. um robin hood latino. o filme é maniqueísta, profundamente tolo e o pior : uma chatice. nota 1.
O Joelho de Claire de Eric Rhomer com jean-claude brialy
adoro os chatos filmes de rhomer. eles são como prozacs : mostram um mundo de gente problemática mas que sempre encontra uma saída. são filmes muito otimistas, onde todos são bons e a vida é sempre uma tese. delicioso..... e chato. mas eu adoro seus contos de fada para intelectuais. nota 7.
O Jovem Lincoln de John Ford com henry fonda.
henry fonda é um tipo de ator que desapareceu após a segunda guerra : nobre. tudo nele transparece calma e sabedoria. seu lincoln é um milagre de verossimilhança. o filme é divertido e nada sério. john ford era o cara ! nota 7.
Tarantula de jack arnold
ficção barata dos anos 50- ou voce relaxa e adora, ou odeia. eu gostei. mas podia ter menos bla bla bla... nota 5.
O Inseto do Amor de fauzi mansur
eis uma pornochanchada dos 70. constrangedoramente amadora. um desfile de diálogos ridiculos, machismo inocente e mulheres nuas. é estranho, mas suas cenas de sexo são de uma infantilidade que dá o que pensar... nota 1.
Festival WC Fields
ele é o humorista que todos adoram odiar. pois seu tipo era beberrão, odiava crianças e cães, e falava com voz sulista cheia de erros e preconceitos. mas que delícia !!!!! esta é uma coletanea de curtas. pule o primeiro e delire com os outros quatro. no de golfe, há um personagem que é pura hilariedade ( o caddy ), e tem " o último gole de bebida ", para mim, a mais louca- surreal- hilária e inspiradora comédia que já tive a honra de assistir. WC não tinha a poesia de chaplin, não tinha a leveza de keaton ou o cinismo de groucho, mas ele era o mais engraçado. nota dez !!!!!!!!!
Os 1000 Olhos do Dr Mabuse de fritz lang
lang voltou a alemanha para encerrar sua genial carreira. e errou. este filme é um tipo de james bond com ressaca, um samba com tango desafinado. acontece tanta coisa que voce se perde. a direção é frouxa. nota 2.
Até o Ùltimo Homem de lewis milestone com richard widmark, richard boone, karl malden.
milestone era um grande diretor. este filme de guerra assusta por sua modernidade. os cortes e os movimentos de camera são ousados, inesperados, arrojados. filme quase genial, tem uma estranha poesia viril. mas incomoda a demonização dos japoneses... nota 7.
Juiz Priest do Grande John Ford com o Grande Will Rogers.
Estamos no mundo de Mark Twain. de Whitman. de Faulkner. O sul... repare nas pessoas... todas são profundamente interessantes, todas são inesquecíveis. repare : nada parece real, mas voce acredita no que vê- e isso se chama genialidade. Note agora : não existe arte ostensiva neste filme. o diretor- modesto- conta sua história. Mas é arte. a arte da fábula, a mais difícil de se fazer sem parecer ridículo. Olhe para Will Rogers... existe ator mais simpático ? voce quer ser seu amigo e o abraçar. e olhe sua casa : tudo nela é paz- eis um lar ! que filme fantástico ! voce ama esse filme e se entristece quando ele termina... dá saudades... após a segunda-guerra, este tipo de filme, profundamente crente na bondade humana, se tornou impossível. Perdeu-se a inocencia, ganhou-se o cinismo. Aqui não existe cinismo ou ironia. Assistir este filme é como ver uma velha foto do paraíso. nota dez.
As Damas do Bois de Boulogne de robert bresson com maria casares
jean cocteau fez o roteiro. e nada combina. bresson é árido, cocteau é barroco. o filme é muito cocteau e pouco bresson. nota 4.
Homem de Ferro de jon favreau com downey jr, gwyneth patrow e o grande lebowski ( jeff bridges )
um cara faz uma armadura vigiado por cameras e ninguém nota... e temos de engolir isso. quantas vezes voce já viu uma explosão às costas do herói enquanto ele anda para a câmera super cool ( o primeiro a fazer isso foi sam peckimpah )... quantos heróis já sairam voando de uma explosão ( duro de matar 2 fez isso pela primeira vez )... caraca ! quanto clichê ! mas é simpático downey jr. e pelo menos o filme não tem aquela seriedade babaca do batman. nota 5.
A Duquesa de saul bibbs com keira knightley e ralph fiennes
primeiro: keira está com anorexia. chega a dar medo ver seu cadavérico rosto. segundo : fiennes poderia ter feito deste filme algo muito melhor. bastaria que lhe dessem mais cenas. pois este, em seu incio, belo filme, é transformado numa tola história de feminismo óbvio. de toda forma, para quem aprecia o que é bonito, é um prazer ver a magnifica elegancia do mais refinado dos tempos. no crucial século XVIII, os nobres tinham um nivel de fausto, luxo e chic que faria com que todos os poderosos de hoje parecessem lacaios. nota 4.
Starsky e Hutch de todd phillips com ben stiller, owen wilson e vince vaughn
esquisito esse ben stiller. seus filmes o divertem mais do que a quem os assiste. aqui ele tem o prazer de dirigir um ford gran torino, dançar numa discoteque, correr atrás de bandidos e imitar marcel marceau. owen, péssimo dos péssimos, nem isso. é uma homenagem a uma das melhores séries da tv, mas é um filme bobo. parece uma peça de faculdade : tudo é improviso, as músicas são óbvias e os amigos se divertem. vale para que a gente veja como os 70 foram originais. nota 3.

gran torino- um simples conto moral

Muhammad Ali, Babe Ruth, James Stewart, Abraham Lincoln, Chuck Yeager, Johnny Cash, Dashiel Hammet, John Ford, John Huston, Henry Fonda, Muddy Waters, Thelonious Monk, Leonard Bernstein, Bob Fosse, Fred Astaire, Joe Louis... a América mudou, a América muda radicalmente desde o final da guerra do Vietnã, a América termina, todo império termina se modificando, decaindo em sua educação, esquecendo sua filosofia, perdendo sua inocência, se acovardando, e afinal, sendo invadida pelos bárbaros que um dia dominou.
Clint Eastwood diz ser este seu último filme como ator. Peço aos deuses que esteja longe de ser sua última direção. Como ator, aqui, ele mistura Dirty Harry/ Bronco Billy e o cowboy do espaço. Se despede da atuação de forma elegante, altiva, digna, como sempre fez.
Mas o mundo ainda tem lugar para Clint Eastwood ? A resposta, e creio que ele sabe disso, é não. Sua imagem é de uma outra era. Mas o mundo precisa de Clint Eastwood. Sim, pois ele nos recorda valores arcaicos, broncos, conservadores e muito necessários. Clint, em seus filmes, filmes que têm por assunto básico a moralidade, sempre bate nessa tecla : a ética e a moral nascem da luta. O homem não nasce moralmente limpo, ele precisa ser refinado.
Gran Torino é um filme pequeno. Simples. Pobre. E qual de seus filmes não o é ? Ele não teme parecer antipático, esquemático e pouco " artístico ". Clint sabe que seus filmes irão parecer antipáticos para os alegrinhos fofinhos, serão esquemáticos para os filósofos da cervejaria e terão a tarja de não-arte para os meninos artistas. Gran Torino, sem afetação, sem discurso, sem fogos de artifício, diz muito em muito pouco. Mostra a morte da América. Da América que insistimos em acreditar ainda viva.
Lá está o branco fantasiado de mano, as ridículas gangues, os blacks sem razão para viver e educados por rap e droga, a neta alienada por celulares e aparelhinhos, os filhos frios e cansados. Um mundo irreconhecível. Uma América morta e enterrada.
Clint sempre se disse fã de Kurosawa e vejo muito do mestre neste filme : a relação dos filhos ( Viver ), o choque entre mundos, a vingança. O filme flui fácil, as cenas são simples e nenhuma parece estar sobrando. E termina como deveria terminar. Sem outra alternativa.
A ironia é que Walt é um imigrante ( polaco ), o barbeiro é italiano e seu amigo Kennedy é irlandês. E na relação de Walt e o garoto fica essa tênue esperança : a de que os novos americanos verdadeiros sejam novos imigrantes. Imigrantes de olhos puxados e pele amarela, mas tão estrangeiros quanto ele foi um dia.
Gran Torino é um grande filme. Gran Torino é emocionante em sua pureza e Clint, o mais moralista dos diretores ( no sentido Ford e Hawks do termo ) nos deixa um filme que será cultuado em 30, 40 anos ou enquanto durar a humanidade digna de tal nome.
E macacos me mordam... ele se interessa por tudo que me interessa !!!!!!! A decadencia do mundo ocidental e o triste fim de uma era. Meninos se preparem : a idade média bate às portas...

LEONE/COEN/FRANK CAPRA

THE GOOD THE BAD AND THE UGLY de sergio leone com clint eastwood, elli wallach e lee van cleef. Foi Pauline Kael quem disse que assistir à um western italiano é tão estranho à um americano quanto assistir um filme sobre aborígenes da austrália. Cowboys com caras de napolitanos... Este é um divetidíssimo filme que marcou toda a geração de Tarantinos e Ritchies. Não é um western, é uma aventura passada num western made in europe. Fotografia maravilhosa de tonino delli colli e trilha famosa e excessiva de morricone. nota 9.
HIGH PLAINS DRIFTER de clint eastwood com o pro´prio. Dizer o que ? Belo, ágil, cheio de imperfeições, intrigante, quase ridículo, inesquecível e saboroso. nota 9.
THREE MULES FOR SISTER SARAH de don siegel com shirley maclaine e clint eastwood. juntar a adorável shirley ao taciturno clint é como colocar açucar em gim fizz. nota 2.
BUGSY MALONE de alan parker com jodie foster e scott baio. Um musical sobre gangsters dos anos 30. porém o filme é interpretado por crianças, em cenários diminuídos e as armas atiram chantilly. é o primeiro filme de parker e jodie está com 12 anos de idade. há um clima de pedofilia que hoje incomoda. mas é divertido. nota 5.
ARIZONA NUNCA MAIS de joel e ethan coen com nicolas cage, holly hunter, john goodman, frances mcdormand. os irmãos coen nunca foram tão bugs bunny como neste filme. um casal caipira rapta um filho de um figurão. mas, como acontece com os coen, tudo se complica. muito. cage está hilário, holly dá um show e a fotografia ( do futuro diretor sonnenfeld ) parece cartoon. um sucesso dos anos 80 e que é uma aula de edição e roteiro. nota 9.
LOUCURA AMERICANA de frank capra com walter huston. que diretor mágico capra foi !!!! um filme curto e simples, todo passado dentro de um banco. mas quanta fluidez, como os personagens são bem definidos, quanta graça e drama em tão poucas linhas. slumdog millionaire- alguém notou que ele é um capra de segunda ? - cheio de brilharecos e balangandãs ?.... fique com o otimista/ moralista original, o poeta frank capra. nota 7.
A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO de curtis hanson com rebecca de mornay e annabella sciorra.
a fotografia, com sua cara de filme feito para a tv, estraga muito deste suspense com péssimos atores e roteiro banal. hanson faria depois o ótimo la confidencial e um dos meus mais adorados filmes : garotos incriveis. este leva nota 1.
CRY BABY de john waters com johnny depp, iggy pop, traci lords. rebeldes gays brigam com almofadinhas gays. garotas machudas participam. este filme, chato- flácido- tolo, é colorido como um clip das go go's e tão esquecível como seus discos. nota 1.
MULHERES E LUZES de fellini e lattuada com carla del poggio, giulieta masina e peppino de filippo. as cenas iniciais com o show mambembe são das melhores coisas que fellini já filmou. mas o filme todo, o primeiro do gênio, é de uma beleza estúpida. cenas de estrada e de trem inesquecíveis e uma visita ao circo para se guardar. nota 7.
CAMINHO DO DIABO de budd boeticher com randolph scott e maureen o'sullivan. um cowboy solitário se envolve em sequestro. de todos os diretores classe b que os críticos franceses salvaram do esquecimento, budd é o melhor. este filme, curto, barato, simples, tem tudo aquilo que o western precisa : ação, poesia e honra. a prova de que o talento pode transformar a banalidade em ouro puro. nota 8.
CASINO ROYALE de huston, mcgrath, annakin, parrish e guest com peter sellers, david niven, ursula andress, woody allen, orson welles. a trilha de burt bacharach é uma delicia! sexy e cafona, alegre e fofissima. o filme, que foi um desastre de critica e de bilheteria, precisou de cinco diretores para ser acabado. a história, cheia de furos, tem até woody allen ( hilário e já sendo woody allen ). mas eu me diverti muito! adorei seu ar de malicia ingenua, suas cores psicodélicas e seu desfile de garotas bonitas e atores admiráveis. é aquilo que onze homens e um segredo sempre quis ser. nota 6.

3 momentos de um herói

The good, the bad and the ugly. Aqui nasce o moderno filme de aventuras. Eis o filme favorito de 9 entre 10 diretores moderninhos, este é o western que até aqueles que não gostem de western adoram. O revejo então. E me emociono com suas faces gigantescas, com seu enquadramento absolutamente magistral, com seu roteiro cheio de humor e com uma violencia exata. Reconheço o personagem Tuco, feito com rara genialidade por Eli Wallach e vejo o nascimento do moderno herói cool - o Blonde- de Clint Eastwood- modelo de todos os heróis atuais. Note bem o que disse : todos!
Sergio Leone, fã confesso de Kurosawa, dirigiu este filme que mudou a história do cinema. Dirigiu sem medo de demonstrar seu amor ao mestre japonês: o inicio do filme é puro Kurosawa, o roteiro é ao estilo Kurosawa e Clint faz um Toshiro Mifune americano. Suas cenas de ação são lutas de samurais sem espadas e os longos silencios recordam Rashomon ou Os 7 Samurais.
Mas há um outro lado: todo europeu tem uma necessidade visceral de colocar algo de superior, de pseudo-aristocrático em tudo que faz. Um europeu não consegue- jamais- ser puro. Por mais que Leone ame o cinema de Ford e Hawks ( outras duas referencias do filme ) ele, Leone, jamais terá sua pureza, sua simplicidade, seu imediatismo americano.
Então, mesmo Leone tentando, ele cai na tentação de encher o filme com imagens pictóricas artística, de exagerar nas doses de música operística( a tão famosa trilha de Morricone funciona genialmente como música em sí- mas as boas trilhas de cinema devem fazer o filme avançar, comentar a ação e não, como aqui, chamar a atenção sobre ela própria e distraírem o expectador ).
É como rock inglês : por melhor que o cara seja ( e olhe que sou fã dos hiper-ingleses Roxy Music e Kevin Ayers ) eles nunca conseguem parecer tão crús/ diretos/ não afetados/ descomplicados- como os americanos. Sempre colocam arte no bolo. Pitadas de erudição, quilos de pretensão, temperos de simbolismo.`É o que diferencia Clash e Ramones/ Bowie e Iggy/ Beatles e Dylan.
Leone então, por mais que tente, acaba empetecando seu filme, dando uma profundidade ao que não necessita ostentar tal profundidade. E quase perde o rumo, nos ofetando um excesso de cenas bonitas, de música magnífica, de rostos arquetípicos.
Mas Sergio Leone é um mestre e consegue superar tudo isso. Se despe desse excesso e termina por nos dar um maravilhoso filme: divertido- apaixonante e inspirador.
Clint Eastwood, já famoso, dirige seu segundo filme : HIGH PLAINS DRIFTER ( O estranho sem Nome ). Um cowboy chega à uma cidade e se vinga de toda a população. Como ? Não direi para não estragar seu prazer. O que posso falar é que a vingança é tão terrível quanto é original.
Este filme, que tem uma fotografia belíssima de Bruce Surtees, é muito, muito estranho. Ele flutua entre o humor grosseiro e um tipo de horror sanguinário. Acaba sendo um filme meio indefinido, meio vago e absolutamente fascinante.
Voce começa a ter um imenso prazer em olhar aquela paisagem ( que não é "bela" ), voce passa a torcer intensamente pelo dito "herói" ( que é muito amoral ) e se pega envolvido.
Em seu tempo -1973- o filme foi intensamente massacrado pela critica, hoje é um quase clássico do western.
Eu sei que o filme de Leone é muito maior e melhor, mas este filme me deu um prazer bem maior.
Por fim, 3 Mules for Sister Sarah, filme de Don Siegel que é bacaninha mas que nunca dá certo totalmente. Simplesmente porque Eastwood não combina com Shirley MacLaine. Ela precisa de um ator mais falante, mais bonzinho a seu lado e na verdade, Clint Eastwood nunca funcionou ao lado de uma mulher ( nem com Meryl Streep ).
Neste filme ela é uma freira perdida no México e Clint é mais uma vez Toshiro Mifune nascido na América. Mas não se faz a fagulha. Esqueça.