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MAcCARTNEY, O PRIMEIRO DISCO DE PAUL.

Quando a crise se instala voce tem opções. Ou voce parte para o grito e começa a destruir, ou voce se recolhe e tenta recomeçar do nada. Paul escolheu a segunda opção. Foi sábio. John levou cinco anos para conseguir se recolher e colar os pedaços. Este disco, o primeiro disco solo do Beatle ingênuo, foi sua volta ao lar. Um lar estranho, porque não ficava em Liverpool, ficava no campo, longe de tudo, longe de quase todos. Ele se cercou de Linda, da filha, de bichos e de Martha. E meio sem querer gravou este álbum. Em casa. Nele Paul toca todos os instrumentos. Se revela bom nos teclados e na guitarra. Excelente baixista. E um baterista muito ruim. Mas é o disco de um homem perto dos 30 anos, dizendo adeus a sua adolescência e falando do que restou. Pouca coisa. O bastante.
Na época a crítica malhou muito esse disco. Era 1970, tempo de radicalismo. E de discos maravilhosamente complexos. De barulho. E de violões amargos. E vem Paul com um disco quase sem letras e falando de guarda-chuvas, óculos e garotos bons. Houve apressadinhos que falaram que a verdade se revelava, os Beatles eram John e George, Paul se escorava nos dois. A resposta de Paul foi o silêncio. Ele nunca atacou. Esperou.
Ouvindo hoje o disco é de uma pureza angélica. Poderia ter sido a ótima continuação ao genial Abbey Road. Com uma pitada de John, a guitarra de George e uma produção mais ambiciosa seria grande. Mas não é. Ele é apenas sincero. Paul vai para o campo. E se cura olhando a chuva. Cuidando dos bichos. E criando a filha. 
Se voce nunca ouviu este disco vai estranhar. Ele é pobre, pobre, pobre. Escute a segunda vez. Vai achar calmo, simples, limpo. E com mais uma semana voce vai sentir que ele é especial. Um cara fala com voce. Um cara exibe sua rotina para voce. E isso é um presente. Seu. O melhor dos Beatles era isso: eles pareciam estar com voce. A seu lado. E te fazendo sempre bem. Paul manteve isso. Os outros não.
As faixas são quase vinhetas. Algumas instrumentais. As letras têm quatro ou cinco frases, apenas. E todas as músicas parecem rascunhos. E são. As agressões de John devem ter doído muito. Sua resposta foi cantar. E nunca sobre John.
That Would Be Something é delicada. Junk é maravilhosa.Man We Was Lonely é bacana. Teddy Boy é bonitinha. Maybe I`M Amazed é famosa. O conjunto é o segredo. 
Lembro que a MTV tinha um programa estupendo chamado Acústico MTV. Vi coisas inesquecíveis. RAP acústico, Rod Stewart renascendo, Chris Isaak me conquistando e muito mais. E Paul acústico. Lá ele tocou 4 faixas deste disco. Foi lindo. Foi simples. E foi perfeito. Isso é Paul. O cara que podia ter pirado como John, virado um bicho como Michael Jackson ou se destruído como Elvis. Mas não. Ele escolheu a familia. E quando Linda se foi, escolheu o palco. Um iluminado.

George Harrison - Smothers Brothers TV Appearance 1968



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No No Song - Ringo Star



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RINGO, UM DISCO DE RINGO STARR

   Houve um breve período, entre 1972-1974, em que Ringo gravou a sério e em que ele quase conseguiu ser levado em conta. Seus 3 discos dessa época são memoráveis, e este, o segundo do período, é o melhor. Sucesso em vendas, com singles que estouraram, RINGO é um grande disco pop. Para fazê-lo Ringo recebeu uma ajudazinha de alguns amigos.
   I Am The Greatest abre o LP, e é ótima! Composta por Lennon, tem uma maravilhosa guitarra de George Harrison. Na verdade George tem aqui um de seus melhores solos de toda a vida. É um terço dos Beatles nesta faixa. E Klaus Voorman, que fez a capa de Revolver comparece no baixo. Have You Seen My Baby foi composta por Randy Newman. Randy hoje é o cara que faz as ótimas trilhas de desenhos como Monstros, Up! e Wall E. Melhor, a guitarra é tocada pelo grande amigo de Ringo na época, Marc Bolan, do T.Rex. O riff é cem por cento Bolan.
   George Harrison compôs Photograph e ela é uma das melhores coisas que ele fez na vida. Os vocais unem os dois e a melodia é lindíssima. O sax fica com Bobby Keys, dos Stones. Sunshine também é de George e mantém o alto nível. Além de George temos Robbie Robertson na outra guitarra, Rick Danko no violino e Garth Hudson no teclado...Todos os 3 são da The Band. Talvez seja a melhor faixa do álbum. Clima de J J Cale. O lado A fecha com You`re Sixteen, mais ou menos.
  Oh My My foi um big hit como single. Saltitante, dançante, traz Billy Preston no orgão. Uma linha de baixo excelente de Klaus. Step Lightley tem o mito Steve Cropper na guitarra. Steve foi o cara que acompanhou Aretha, Otis e Wilson Pickett na Stax. A faixa, sutil, puro Cropper, é viciante. Six O`Clock é uma composição de Paul MacCartney e tem Linda e seu esposo nos teclados e vocais de apoio. Puro Paul anos 70, grudenta, bem arranjada, ela pede vocais melhores. Paul, ao contrário de John e de George, não compunha para cantores ruins. Ringo faz a canção se perder. Devil Woman é o ponto baixo e o disco se encerra com a terceira faixa de George, a bonita You and Me.
  Tudo super produzido por Richard Perry, no vinyl ele trazia um livreto de 12 páginas e uma capa que, cheia de detalhes, se perde completamente em cd. 
  Sim, Ringo caiu de paraquedas no maior fenômeno pop da história. Surfou na fama por 3 anos, logo após o fim do grupo. E a partir de 74 se dedicou a beber, viajar e namorar. Algum talento ele tinha. E aqui, com a mão de amigos muito talentosos, ele comete um belo disco.
  Jamais pensei que escreveria sobre este LP. Mas eu adorei este disco por vários anos e ele, reescutado agora, sobreviveu.
  Valeu.

FLEETWOOD MAC- RUMOURS, O ROCK DE L.A. MORREU.

   Vou começar falando algo que pouca gente se toca: disco que vende muito pode ser bom. Mais que isso, até mais ou menos 1974, disco bom vendia muito e se não vendia era considerado ruim. Os Beatles eram o melhor exemplo. Mas não só eles. Tudo o que era amado por críticos e fãs vendia bem. OK, essa crença fez com que Velvet Underground e Stooges fossem considerados ruins. Mas eram excessão. Ser relevante significava vender.
   A coisa desandou no meio da década de 70 quando lixo começou a vender muito. Apesar que o lixo de então pode ser o cult de 2014. Nomes? Rush, Kiss, Boston, Peter Frampton.
   O auge do poder das gravadoras se deu entre 1973 e 1985. Como ganharam dinheiro! As bandas ganhavam em um ano o que os Beatles levaram cinco anos para ter. Qualquer rock star de segunda ( Ted Nugent, America, Boz Scaggs ) tinha seu Rolls. E toneladas de pó. E centenas de tietes. Discos icônicos saíram nesse tempo ( aqueles que parece que todo mundo tem: Dark Side, Led IV, Saturday Night Fever, Thriller, Like a Virgin, Grease... )
   Agora mudo de foco. Nos anos 60 Londres tinha seu som. Liverpool e Manchester tinham seu som. New York tinha, Boston tinha. San Francisco tinha. Memphis, Miami, Detroit e até o Texas tinha seu som. Mas Los Angeles não. Havia um monte de bandas de SanFran e alguma da Califórnia, mas LA era um vazio. Pois bem, com a popularização da rádio FM, stereo, nasceu o som de LA. Qual ?
   Acima de tudo muito bem gravado. Uma porrada de feras de estúdio. Backing Vocals, clima de vida noturna. Um teclado delicado, baixo esperto e sacolejante, bateria mixada bem alto e tudo bastante clean. É um som chamado então de adulto, culto, de bom gosto. E posso dizer pra voces que na época eu achava esse som made in LA a coisa mais chata do mundo! E vendia aos milhões. 
   Voces lembram de alguém? Gerry Rafferty, Jackson Browne, Joni Mitchell, Poco, Eagles, Steve Miller, Randy Newman, Carly Simon, Linda Ronstadt, Billy Joel...e o que mais vendeu, Fleetwood Mac. 
  Hoje devo dizer que sei separar o joio do trigo. Joni Mitchell é genial. E os Fleetwood Mac? 
  Acabei de reouvir Rumours, 20 milhões de cópias, um dos dez discos mais vendidos da história do mundo. E continua sendo um mistério, o que ele tem de tão bom? Mais impressionante, ele é triste. Mais ainda, ele é muito bom. 
   Entrega o grande segredo do rock de LA- Beach Boys. A banda de Brian Wilson é a inventora do rock de LA. Vocais maravilhosos, som rico e cheio, o tal do bom gosto. E a loucura disfarçada. Assim como sabemos hoje que o cara que fez California Girls e Fun Fun Fun era um triste lunático, sabemos que todos os caras do som "numa nice, numa boa"de LA eram deprimidos e auto destrutivos. Cocaína, álcool e solidão, esse o mundo de LA. Mas a música é sempre pop bem feito. Pura esquizo.
   O Fleetwood Mac é a mais esquizofrênica das bandas. Nasce em Londres em 1966 como banda de blues. Mick Fleetwood na batera, John McVie no baixo e Peter Green na guitarra. Green vira um ícone, mas pira de ácido e foge pra Índia. Some por lá. 
   Os dois ingleses aceitam uma tecladista chamada Christine Perfect e o som vira pop tipo Paul MacCartney. Nada acontece, Perdem o público blues e não conquistam o povo do pop. Anos depois os três ingleses reaparecem na Califórnia. Desbundados, trazem agora um guitarrista bem californiano, Lindsey Buckingham, e uma cantora com a cara de LA, Stevie Nicks. O som? É puro Wings ( aliás, grande referência ao som de LA ) com grandes doses de Beach Boys e Buddy Holly. Começam a fazer sucesso e em 1976 acontece o milagre, lançam Rumours que se torna o LP mais vendido da história até então. ( Só seria batido por Thriller ). 
   Nesse interim, John McVie tinha se casado com Christine Perfect e Lindsey Buckingham com Stevie Nicks. Mas, durante a gravação do disco, os dois casais se divorciaram! Com brigas. O que é Rumours? O diário explícito dessa separação. Daí o clima de dor e de esquisitice do disco. Mas, é LA meu camarada, tudo bem feito, tudo bem pop. 
  Cada um traz sua parte: Christine é Paul MacCartney. Pop perfeito. Lindsey é Brian Wilson. Muito californiano, com um talento incrível para arranjos e harmonias vocais. E Stevie é a garota da Califa 1976: astrologia, magia e viagens mentais. 
  Venice Beach era o lugar. Aquele povo saúde e rebeldia, de cabelos descoloridos, tattoos clássicas e skates fininhos curtiu de montão esse disco. Foi a trilha dos anos Jimmy Carter, dos filmes pornô e da revista Hustler. Este disco e o do Eagles. E o Steely Dan. E eu já esquecia dos Doobie Brothers! 
  Sobreviveu esse mundo? Claro que não! É pura nostalgia e só quarentões vão gostar! 
   Mas voltar ao mundo O`Neill e Lightining Bolt é tão bom!

LORD BYRON E AS NUANCES DO ROCK INGLÊS

   A primeira vez que li sobre isso foi no núveo ano de 1984 por Pepe Escobar, e em todos esses 30 anos ocasionalmente continuei lendo outras pessoas tocarem no tema. Agora tomo conhecimento de que até Harold Bloom escreveu sobre o tema, então o desenvolvo aqui.
  Primeiro devo dizer que o sistema educacional de todo o mundo está em decadência. Não há tempo para se desenvolver potenciais e portanto mesmo os poucos países que ainda vêem a cultura como prioridade se voltam para um tipo de educação prática, objetiva, e não ligam mais para a corrente enciclopédica que dava o aluno a chance de saber e escolher. 
  A educação inglesa até os anos 60 era do velho estilo. Muita história, muita arte, línguas e tempo de sobra. Ainda é hoje uma boa educação, se comparada a nossa, inexistente mesmo em escolas de elite onde pouco se lê. Nesse contexto, dar a um aluno de 14 anos a chance de conhecer Lord Byron é dar a ele a chance de encontrar um canal de desafogo de seus sonhos e pesadelos adolescentes. O que Pepe e Bloom falam é que 95% do rock inglês que vale a pena, por ser uma arte que precisa estar sempre em contato com as dores da adolescência, está desde 1965 em forte flerte e dominio do byronismo. O que é o byronismo?
  Byron foi um nobre maldito. Primeiro sentimento: Todo byronista tem a sensação visceral de ser um nobre maldito. Fantasias de se ter sangue especial, de ter sensibilidade exaltada, de ter uma antiga origem artística. Ao mesmo tempo se é um maldito por se odiar o tempo atual. Todo o passado, seja medieval, celta ou os anos 60/70 é visto como tempo de heroísmo. Daí, o byronista passa a ser um crítico, um satirista, um dandy azedo.
  Byron amava mulheres aos montes, talvez homens também. Isso não preciso comentar. Mas atente, é sexo regado a ópio, sedas, incenso, música esquisita, taras e sadomasoquismo. 
  Byron não se aquietava. Viajava pela Europa e seu nome logo se tornou uma lenda. Num tempo em que mal existiam jornais no Brasil, todo poeta mineiro ou paulista amava Lord Byron ( 1800/1850 ).
  Byron morreu jovem lutando numa guerra fadada ao fracasso. Idealista, Byron morreu nas trincheiras da guerra dos gregos contra os turcos. Virou mito. Todo byronista pensa que vai morrer cedo e tem com o tempo uma relação de horror, medo de morrer e medo de sobreviver e ficar velho.
  Byron ia aos limites. Drogas que aumentavam sua sensibilidade, sexo como forma de desafiar a moral, flertes com satanismo e doses grandes de pura maldade ( em São Paulo na época, os amigos byronistas de Alvares de Azevedo chegaram a transar com um cadáver no cemitério da Consolação ). Missas negras se misturam a amor por Jesus.
  Byron era manco e se vestia de modo refinado mas não convencional. Muita seda, veludo, pérolas, diamantes, penas e plumas. 
  Preciso dizer mais? Sim preciso, talvez o mais importante, Byron só escrevia sobre si-mesmo. Quando criava personagens como Don Juan, eram retratos do próprio Byron. Se falava da revolução. era uma revolução de Lord Byron. Tudo era um espelho, um eu gigante.
  O rock americano nada tem a ver com isso. Mesmo a relação com as drogas é diferente. Na América a imagem mítica que marca o rock ( menos na vertente Lou Reed Iggy Pop, apesar de em alguns discos eles tocarem esse mundo ), é a do pioneiro. Walt Whitman comparece em inspiração, ideias, imagens e até no visual ( o hippie é Walt Whitman e Thoreau ). Na Inglaterra ( e não na Irlanda ), Byron e depois Shelley se intrometem em tudo. E, em acordo com Bloom, isso é facilmente comprovável, o primeiro a perceber isso consciente e espertamente foi Mick Jagger ( não Keith que sempre sonho/sonha em ser Muddy Waters ). Mick pegou a batida do rock e o clima do pop e vestiu tudo com a luz diáfana do romantismo ofensivo e sexualizado de Lord Byron. Homem/mulher, anjo/diabo, irriquieto/esnobe. Ele criou aidentidade do rock inglês que se manterá na segunda fase dos Kinks e irá adiante com 95% do que vale a pena conhecer. De Stevie Winwood a Morrissey. De Bowie a Paul Weller. 
  Interessante é até mesmo Bloom perceber que os Beatles nunca se sentiram confortáveis nesse modelo. A partir de 1967 eles seguem essa tendência, mas neles isso nunca foi convincente. Eles não conseguiam ser "do mal" e seu visual nunca pareceu andrógino. A teoria é que suas origens seriam tão "Liverpool-classe trabalhadora", que eles simplesmente não conseguiam se sentir um grupo de nobres perversos. O mesmo aconteceu com The Clash e Oasis, para citar os mais relevantes. 
  Claro que ao tomar consciência de que os 40 anos chegavam, Jagger jogou fora todo o mundo de jovem-bandido-glamuroso e assumiu o papel de velho entertainer esperto. Como ele é uma esfinge que jamais revela seu mundo interior, corremos o risco de nunca saber se um dia ele acreditou no mito de Lord Byron ou se o interpretou apenas em público. O que importa é que todos os outros jovens ingleses desde então acreditaram. Acreditaram no romantismo de Morrissey, no dandysmo revolucionário de Paul Weller, na androginia prometeica de Bowie, no esteticismo de Bryan Ferry e no romance dramático de Thom Yorke. Assim como em Nick Drake, Kevin Ayers, Damon Albarn, David Sylvian e num vasto etc.
  Fecho contando que se fosse vivo Lord Byron estaria na Criméia, pronto para morrer pelos rebeldes e com todo um aparato de midia sobre sua ação. 
  Ou, falando num modo John Keats, poeta que era o calcanhar de aquiles de Byron, ele pode estar presente no corpo daquele pássaro que pia sem cansar...

AS MELHORES ENTREVISTAS DA ROLLING STONE ( BONO, JOHNNY CASH, COPPOLLA, OZZY, BRUCE...)

   As entrevistas são editadas para caber num livro médio. Isso tira todo o sabor delas. Ler este livro é como ver uma série de trailers de filmes que voce gostaria de assistir. Nada acrescentam. Portanto é um livro ruim e eu não costumo citar os livros ruins que leio ( creia, são muitos ). Mas vale a pena dizer que umas 3 ou 4 entrevistas valem a pena. 
 O livro começa com Pete Townshend, que em 1968 foi o primeiro entrevistado da revista. O repórter foi num show do Who e Pete não quebrou a guitarra. Intrigado, o jornalista perguntou a ele o porque. Veio desse papo a primeira entrevista da RS. ( Bons tempos em que uma estrela se deixava entrevistar de improviso ).
 John Lennon é very ugly. A cabeça dele estava um lixo em 1970. Ele se auto-glorifica. Sou um gênio, desde criança eu sabia disso e por aí vai. Pobre Paul que precisou conviver com esse pseudo-Goethe de Liverpool. É a figura mais ridicula de toda a história do rock. Mas, como ele fez meia dúzia de canções realmente boas, vou crer que aquele foi um momento de doença mental ou o que for. 
  Jim Morrison fala de álcool. Phil Spector é hilário. E tem ainda Bill Clinton, o Dalai Lama, Bill Murray, Tina Turner, Eric Clapton, Ray Charles, Brian Wilson, Keith Richards, Neil Young, Joni Mitchell, Kurt Cobain, Axl, Eminem e um vasto etc. Todas chatíssimas! Mas...
  Jack Nicholson fala de quando descobriu que sua irmã era na verdade sua mãe. George Lucas conta da sua expectativa para o lançamento de seu novo filme, Star Wars, e conta que seu objetivo é fazer com que o cinema americano saia da depressão dos filmes descrentes dos anos 60/70 e volte a acreditar em cowboys, heróis, que os jovens de 1977 tenham de volta a fé que ele viveu nos filmes de Erroll Flynn e John Wayne. Mais que isso, seu sonho é ter lojas onde tudo isso se conjugue: filmes, quadrinhos, bonecos e jogos sobre esse mundo de heróis. George sem perceber, tem nessa entrevista o insight sobre 2014.
  Leonard Bernstein é sempre cool. Fala de seu amor pela música. Há uma hilária conversa entre Truman Capote e Andy Warhol. Truman foi encarregado de escrever sobre o tour de 1972 dos Stones, mas não escreveu, então a revista manda Andy para saber o que houve. Truman gostou dos shows, mas não sentiu inspiração. Os dois se derramam em elogios a Jagger, mas o charme da coisa está em sua conversa sobre tudo e sobre nada. Os dois conversam passeando por NY, gravador ligado e sentimos a presença de Capote e Andy. Uma delicia!
  Mick Jagger impressiona. Ele conta que odeia se expor. Simples assim. As pessoas que façam o que quiserem, mas ele não gosta de falar de si-mesmo. Acho incrível e ao mesmo tempo noto que isso é verdade. Não há grandes fatos sobre a intimidade de Mick nesses 40 anos. Ele parece se expor no palco mas é teatro, máscara. Mick é um típico inglês vitoriano, reservado e familiar.
  Falei de entrevistas divertidas, mas agora falo das únicas entrevistas que revelam alma, vida, dor e poesia.
  Patti Smith é linda. Sei, ela parecia um garoto magro e agora parece uma bruxa. Leia o que ela fala e voce vai se apaixonar por ela. Patti conta sua história com Fred, seu marido, o que eles faziam nos anos 80, seu começo nos anos 70, sua vida com Mapplethorpe, a morte desse amigo genial, lentamente, de AIDS. O que ela pensa das novas bandas, sua poesia. São apenas cinco páginas que te tocam. Eis uma Dama. Eis algo que pode se aproximar da verdadeira genialidade.
  E lemos a entrevista de Bob Dylan feita em 2002. Raios caem do céu. Dylan fala como um velho que viu tudo. E não dá pra não dizer: é como escutar Walt Whitman em 2002. 
  Mas então? Falei tão bem de algumas entrevistas...então o livro é bom! Não. São 40 entrevistas. Destaquei 5. OK?

A NOITE EM QUE VI JOHN LENNON REBOLAR

   As boas e más linguas diziam que Mick Jagger vetara a exibição deste show de TV por perceber que o Who, só pra variar, roubara o palco. Quem mandou chamar os maiores ladrões de show da história do rock?
   Mas não é verdade. Acho que o que o fez vetar é que como espetáculo de TV ele é bem fraco. Senão veja. O Jethro Tull até que manda bem ( e com Tony Iommi na guitarra!!! ), mas quando vem o Taj Mahal a coisa começa a ficar very boring. John Lennon tá por lá, assim como Eric Clapton, e eles cantam, razoavelmente, Yer Blues, mas depois uma coisa, talvez uma cabra, começa a gemer e compromete a música seguinte. É instrutivo. Vendo Yoko Ono nesse show a gente percebe o que Lennon viu nela. O rapaz de Liverpool que queria ser aceito como High Art pelos High Brow se deslumbrou com as High Ideias da artista Yoko. Só não percebeu que ela era uma artista de terceira. Ela era do mundo de Beuys e de Christos, tinha desprezo pelo rock e pelos Beatles. O que ela faz/fez? Avacalhou. Lennon, um perturbado rapaz caipira da caipiríssima Liverpool entrou de gaiato. Well...Os Beatles iam acabar de qualquer jeito, mas a vida de Lennon seria diferente sem ela. Melhor talvez. Os discos solo seriam mais soltos, com certeza.
   The Who faz o seu normal. O seu normal é sempre anormal. Keith Moon maníaco e sendo Moon, o mais original dos bateristas ( e o mais show-man ), Pete estupra a guitarra e Roger canta como sempre, muito bem. Ponto educativo: Percebemos mais uma vez que o Who NADA tem a ver com a cultura hippie radical de 68. A viagem deles era bem outra.
   Marianne Faithfull, provavelmente a pessoa mais drunk da noite canta a mais pop das canções. Drogas nunca foram sinonimo de música ousada. Zappa e James Taylor provam isso.
   E vem os Stones. Bem, Mick tenta por fogo na banda o tempo todo, mas não rola. A coisa não decola. Brian Jones está em estado de catatonia. Keith parece preocupado. Bill está tipo Bill, ou seja, não está. E Charlie gostaria de estar na cama com a esposa. Dormindo. Que amanhã é dia de trabalho.
  É claro que NO EXPECTATIONS vale o dvd! A canção é tão genial, tão blue, fala tão dentro de quem já se fodeu, que é impossível ser estragada. Pois é....Dá pra ver John Lennon dançando em Sympathy for the Devil, e ver Lennon dançando...tirem as crianças da sala!
   No fim, uma patética versão de Salt of the Earth. Pete e Keith Moon roubam o show de novo, estão na platéia e começam a zoar. Legal, algum bom humor nesta noite baixo astral.
   Os anos 60 foi quando os loucos tomaram conta da zona. Alguns desses loucos enganam até hoje ( Timothy Leary, Che Guevara, filósofos pop star franceses ), os Stones sempre ficaram fora dessa. Aqui a gente vê o pior lado da década, ou seja, coisas sendo feitas na doideira, na curtição, bem louco, deixa fluir, numa nice. Claro que o perfeccionista Jagger ia vetar.
   O rock era um circo, hoje é um bordel, e Jagger sabe/soube sempre isso.

The Beatles - Mother Nature's Son - Lyrics



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The Beatles - Martha My Dear



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THE BEATLES, O ÁLBUM BRANCO

   Charles Mason ouviu Helter Skelter e leu nela uma mensagem cifrada. Ele tinha de matar alguém do show biz. Ia matar o produtor dos Byrds e errou o endereço. Matou a linda Sharon Tate, esposa de Polanski. Helter Skelter é uma das grandes sinfonias da confusão do confuso 1968. Helter Skelter é de Paul.
   Jung sempre dizia que nossa vida é um processo de individuação. Nascemos como um membro anônimo de várias comunidades. E desde cedo lutamos para ser si-mesmo. Quando um cantor tem desde sempre uma carreira solo esse processo acontece numa briga consigo-mesmo. Dylan é um exemplo radical disso. Quando numa banda esse processo se faz entre seus membros. Nenhum disco na história do rock exibe isso de forma mais cruel que The Beatles. O que ouvimos é uma discussão. Os 4 se descobrem como indivíduos e passam a odiar tudo aquilo que a banda foi. Cada um a seu modo.
   George chama Eric Clapton para o ajudar. Ringo se acabrunha e Lennon sabota todo o trabalho. Paul se faz mais Paul que nunca antes. Eu disse que Lennon sabota o disco? Ele estava ocupado em ser artista. Em se dopar. Em ser Yokoano. Os Beatles eram a infância. A Ono Band seria ser artista-adulto. É o primeiro disco onde Lennon exibe suas qualidades e fraquezas como artista solo. Suas faixas têm a indulgência e a urgência da Ono Band. Ele exibe sua víscera. Fede. E sabota a banda, que para ele era cada vez mais a banda do outro cara.
   Sou fã de Paul. Afinal, eu cantava Hey Jude em 1968. Cantava como Hey Tchu. Tinha cinco anos. Tenho testemunhas disso. Será que Lennon não se sentia mal ao ver o sucesso das faixas de Paul? Será que ele se consolava pensando, :Ora, são lixo pop!
   Há uma faixa em que Paul pede para que a banda volte a estrada. Uma das coisas mais tristes dos anos 60 é que não vimos eles no palco em boas condições. A partir de 67 os shows ficaram muito melhores e nada temos deles. Ob-la-di-ob-la-da é para crianças. Eu a cantava também. Mas Revolution number 9 é imperdoável. Pedante. Avant-garde Godardiana.
   Back in The USSR é mais um hit de Paul. Em 68 os Beatles começavam a ser deixados de lado pelo povo chique. E ao mesmo tempo eles nunca tiveram hits tão fortes e grudentos. Back tenta ser Beatles de volta a 1966. E saibam, naquele tempo um ano era um milênio, 1966 parecia outro planeta.
   Nunca gostei de Dear Prudence. Glass Onion é melhor. Bungallow Bill, Honey Pie...e então While My Guitar. O disco antecipa as carreiras futuras de Paul e John, e de George também. Eis aqui o George futuro.
   Martha My Dear foi feita para a cadela de Paul. Harmonia, beleza orquestral, acabamento refinado. Que culpa Paul pode ter de ser feliz? So Tired é o comentário de John sobre tudo isso.
   Blackbird é uma obra prima. Impossível cantar junto sem chorar. Linda, linda e linda. Gosto de Piggies. Ela me lembra Kinks. E também os Monty Python.
   Alguns bons momentos passam e tudo cresce em Mothers Nature Son, feita para Donovan Leitch.  É uma canção campestre. Maravilhosamente bem arranjada. Sexy Sadie é adorável. Savoy Truffle...
   Se existem tantas grandes músicas porque este não é um grande album?
   Porque ele transmite algo de ruim. Uma faixa nega a seguinte que briga com a próxima. Ele parece esquizo.
   Como foi escutar em 1968?

DE ROBERTO CARLOS A YEATS; DE BEATLES A PROUST

   Aquelas canções que são como velhos amigos, conhecem sua história e reencontrá-las é como olhar para sua casa ( a casa de verdade, não esse acampamento de trabalho a que hoje chamamos de casa ). Sons que vão direto pra alma e que por mais que as escutemos, e escutamos muito, parecem sempre com uma nova descoberta. Essas músicas se renovam, como o amor é uma renovação diária.
   São as canções que meus amigos deveriam cantar no dia em que eles jogarem minhas cinzas na Serra do Mar ( e isso nada tem de triste pois farei poesia mesmo após ir embora daqui ).
   No nascimento desta jornada recordo de minha mãe ouvindo rádio pela casa cheia de sol e de meu pai escutando discos nas manhãs de domingo. O que eles ouviam? If, da banda melosa Bread é possívelmente a coisa sobre o amor mais antiga em minha alma. Mas não é uma boa canção. Só uma criança de 5 anos poderia gostar de tal coisa. Mas também posso recordar de Roberto Carlos e essa lembrança é muito mais agradável. "Quando/ voce se separou/ de mim/ Quase/ que a minha vida teve/ um fim"; ou então: "As folhas caem/ Nascem outras no lugar"; nessas faixas nascia em mim um tipo de sentimento que iria desaguar em Yeats e em Proust.
   Beatles....Ah os Beatles...Cantei Help aos 6 anos, mas o que me deixava tonto era In My Life. Belo tempo em que In My Life tocava na Tupi AM. Bem mais tarde, aos 17 anos, eu descobriria que For No One era ainda melhor, e mais que isso, que For No One pode ser a melhor das melhores ( Neste texto, incorreto como o amor, muita coisa será the best of the best ). Mas em 1970, a voz de Paul já marcava presença em mim, mas era via Another Day, uma canção que me recorda a cama de meu quarto.
   O amor em canções. Daydream Believer na voz de David Jones, dos Monkees, e também Look Out, um amor muito feliz. Eu adorava ainda Rocknroll Lullaby com B.J.Thomas e Killing me Softly com Roberta Flack. E súbito tudo mudou quando um piano me fez comprar meu primeiro disco.
   Elton John cantando Your Song mudou minha vida. E ainda hoje vejo Elton como um dos reis da canção de amor. Se voce está in love e deseja ouvir alguém cantar só pra voce, Elton é o cara. Ele tem tantas grandes canções de amor que é impossível citar as melhores. São melodias simples, que grudam, mas ao mesmo tempo vão ao fundo da coisa e são cristalinas. Elton foi hiper-pop, mas jamais deixou de parecer sincero. E uma frase como : " A vida é maravilhosa porque voce faz parte do mundo", será sempre a tradução exata do que seja a alegria do amor. Ele é um longo capítulo em meu coração.
   Muito perto de Elton vem uma voz que em sua juventude foi mágica. Capaz de emocionar com apenas um "Oh!", Rod Stewart cantou Still Love You em 1976 e acabou com meu coração. Se Elton parecia sempre sincero, Rod Stewart conseguia personalizar nossa epopéia interna. Esqueça o Rod playboy que surgiu após 1977, ele foi antes disso o jovem faminto, o cara da estrada suja, o celebrador do amor eterno,e esse cara é do cacete! Sua regravação de The First Cut is The Deepest de Cat Stevens, fez com que eu me apaixonasse várias vezes. Já adulto descobri seus primeiros discos. Os 3 primeiros discos solo de sua carreira são crônicas sobre o amor simples, o amor de gente comum, o amor de jovens ingênuos e cheios de fé. São dos poucos discos do rock que nos fazem ter esperança. Isso não é pouca coisa. Rod é o menestrel do amor.
    Voltando a minha casa de criança ia esquecendo de dizer que hoje, aos 50 anos, quando leio poesia romântica, ou quando vejo imagens de jovens dandys morrendo de amor e de tuberculose, logo recordo de 3 canções de amor que entraram em meu DNA. Eu as ouvia naquele rádio antigo, em mono e AM, aos 5 anos...ou antes. Eram os hits de então: As Tears Go By, Lady Jane e She's a Rainbow. As 3 nada têm a ver, na verdade, com aquilo que os Stones eram. Ou talvez simbolizem o lado sombrio da banda, aquilo que eles escondem ou perderam. Mas a voz infantil de Mick em Tears, o arranjo de cravo de Lady Jane e o refrão de Rainbow são das mais poderosas sombras amorosas da minha mente.
   Pena que a banda tenha jogado fora esse tipo de romantismo flamboyant.
   Aqui então estão expostos os nomes e as canções de meu começo.  Acho que foi um bom inicio. E como em todo amor antigo, elas mexem comigo de uma forma muito visceral. Não admito que falem mal delas. As amo forever. Porque, meus amigos, amor quando é de verdade, é sempre para sempre.
   E a vida é maravilhosa porque essas canções estão nela.

JULIA/ DAVID LEAN/ WELLMAN/ LUMET/ RINGO STARR/ RENOIR/ TATI

   JULIA de Fred Zinemann com Jane Fonda, Vanessa Redgrave, Jason Robards, Meryl Streep
Com uma belíssima fotografia de Douglas Slocombe, Julia foi o primeiro filme por que torci numa entrega de Oscar. Perdeu filme e direção para o Annie Hall de Woody Allen. Mas ganhou atriz coadj ( Vanessa Redgrave ) e ator coadj ( Jason Robards ). Revisto agora o filme parece ainda melhor. Baseado nas memórias de Lilian Hellman, o filme acompanha sua amizade com Julia, uma milionária judia que se envolve com a luta na Europa contra o nazismo. Jane faz Lilian. Jason é seu companheiro Dashiell Hammet. As cenas entre os dois são as melhores do filme. Eles discutem, brigam, ela tenta escrever, erra. Hammet já em sua fase impotente. Em sua segunda parte Lilian atravessa a Europa de trem para levar dinheiro a Julia em Berlim. As cenas no trem exibem suspense perfeito. Ficamos eletrizados. E o final, como no começo, Lilian só, num barco, num lago. Zinemann foi um dos maiores. Basta dizer que são dele Matar ou Morrer e A Um Passo da Eternidade. Julia é o fecho de ouro de sua carreira sem erros. Um filme que demonstra tudo aquilo que desejo ver no cinema. Nota 9.
   REDENÇÃO de Steven Knight com Jason Statham
A produção é de Joe Wright e a fotografia de Chris Menges, ou seja, é classe A. E demonstra pretensões artísticas. Mas é ralo, bobo e desagradável. Melhora no final, quando se torna uma simples aventura de ação. Nota 3.
   O VEREDITO de Sidney Lumet com Paul Newman, Charlotte Rampling, James Mason, Jack Warden
Escrevi sobre este filme abaixo em outro post. É um filme perfeito. Com roteiro de David Mamet, mostra a decadência de um advogado. Bebida, decisões erradas, mentiras, falsidades. Nota DEZ.
   UM BEATLE NO PARAÍSO de Joseph MacGrath com Peter Sellers e Ringo Starr.
Que coisa é essa??? Feito em 1968, com um roteiro caótico, esta comédia fala de um milionário que adota um mendigo. O milionário é Sellers, que está excelente, o mendigo é Ringo, que está Ringo. A trilha é de Paul MacCartney e é boa. As cenas são muito mal dirigidas, o filme é como um circo ruim. Ou um programa do Monty Python feito com mais LSD. Aliás, no roteiro vemos o nome de John Cleese. O incrível é que quando ele acaba pensamos: Não foi tão ruim! Nota 4.
   CARROSSEL DA ESPERANÇA de Jacques Tati
Primeiro filme dirigido pelo genial cômico da França. Suas caracterísitcas estão todas aqui. A vida como coisa simples, leve, comunal. ( Ao fim da carreira ele mudaria essa opinião com o filme Traffic ). Numa cidadezinha francesa chega uma quermesse. Vemos a vida dessa cidade. Um dia, uma noite, uma manhã. Quase sem falas, ver esse filme é como passear pela cidade. Galinhas, crianças, a praça, a fonte, o bar. Tati faz um carteiro que larga sua vida pacata e tenta ser um carteiro "à americana". Um filme adorável. Nota 7.
   SHE de Irving Pichel com Randolph Scott, Helen Mack
O filme, feito pela equipe de King Kong, mostra grupo de exploradores em busca da fonte da juventude. Encontram um reino onde a rainha vive a séculos. Não é ruim. Podia ter mais ação. Nota 5.
   GELERIAS DO INFERNO de William Wellman com John Wayne
O avião de Wayne cai numa região do Canadá que ninguém conhece. Ele e seus companheiros esperam pelo socorro. Que bela aventura!!! Wellman, que foi aviador e lutou na Primeira Guerra adora filmar aviões. Eles passam a procura dos sobreviventes e os vemos lá embaixo, em meio a gelo e fome. Wayne tem uma grande atuação. Seu desespero é palpável. Belo filme. Nota 8.
   QUANDO SETEMBRO VIER de Robert Mulligan com Rock Hudson, Gina Lollobrigida e Walter Slezack
Hudson é um milionário que passa seus agostos na sua villa italiana. Mas resolve aparecer em julho e encontra seu mordomo usando a casa como hotel. Gina é sua namorada de agosto. Filme ao estilo Sessão da Tarde dos anos 70. Belas paisagens, Rock muito bem, Slezack dando um show como o mordomo. Este é o filme familia de então. Levemente apimentado, bobo e muito agradável. Nota 6.
   RENOIR de Gilles Bourdos
O filme fala de 3 grandes artistas. O pintor e seus filhos, Jean, diretor de cinema, e Claude, diretor de fotografia. E mesmo assim consegue ser um filme desinteressante. Nota ZERO
   GRANDES EXPECTATIVAS de David Lean com John Mills, Jean Simmons e Alec Guiness
Este filme feito pelo então jovem David Lean, é considerado com justiça a mais perfeita adaptação literária levada ao cinema. O tempo fez crescer sua beleza. Guy Green fotografou num preto e branco cheio de escuros e de brumas esta soberba história passada nos pântanos ingleses. Os primeiros trinta minutos são das coisas mais perfeitas já filmadas. É um filme que consegue nos levar ao mundo de Dickens com perfeição. Vi recentemente duas versões desse livro em cinema, um de 1998 e outra de 2012...Não servem nem como curiosidade. Este é o filme. Nota DEZ.



 
  

O MAIS HUMANO DOS ROCK STARS. ERIC CLAPTON, A AUTOBIOGRAFIA.

   Ler a bio de Clapton não é ler a bio de um rock star. Muito menos a de um guitarrista. É a biografia, muito sincera, de um homem. Desde o começo de sua vida Eric teve apenas uma coisa em mente: construir uma vida. Jamais ele desejou ser uma estrela. Nesse processo, doloroso, ele se desconstruiu sempre. Fugiu do estrelato, fugiu do virtuosismo instrumental e na pior das batalhas, fugiu de sua própria vida. Chegou a uma situação de absoluta destruição. E sobreviveu. O foco é na luta interior, o rock é a segunda, às vezes terceira linha.
   Clapton nasceu pobre no subúrbio. Mato e espaço. Sua timidez vem do sentimento de se estar sobrando. Quem ele pensava ser sua mãe era na verdade sua avó. A verdadeira mãe lhe foi apresentada como irmã. O jogo só foi revelado na puberdade. A verdadeira mãe, fria, nunca baixou a guarda. Mas por sorte os avós eram ótimos.
   Na escola Eric evitava brigas e fugia do centro das atenções. Péssimo aluno, melhorou quando foi estudar design. Bom desenhista, um dos assuntos favoritos de Clapton em todo o livro é a moda, as artes visuais. Ele descreve roupas, móveis, tapetes e quadros. Bom gosto, dom que se reflete nos acordes que ele sempre produziu em suas guitarras.
   O blues ele descobriu no rádio. Sentiu-se no paraíso. Com violões ruins aprendeu a tocar sózinho, copiando discos. Além do blues, Buddy Holly. Bandas de bar, de pub e então vêm os Yardbirds, uma banda de blues. Purista, caiu fora quando a banda estourou fazendo um tipo de versão de blues- pop. Eric não queria ser como os Beatles, queria ser Muddy Waters. Com 19 anos as ruas já apareciam grafitadas: Clapton is God.
   Grava com John Mayall. Os Bluesbreakers são puro blues. Mas ele adorava Jack Bruce e quando ele o convida para tocar se forma o Cream. Ginger Baker vem pra batera e Ginger e Jack se odeiam. Tocar é bom, e eles criam a jam session no rock. Por ter pouco repertório tocam versões de dez minutos de cada faixa. Os shows são hiper concorridos, sucesso em palcos, o Cream é a banda mais fashion em 67. Clapton começa a circular com Jimi Hendrix. Os dois vão a bares onde tocam juntos, de surpresa. Ao mesmo tempo Clapton circula com a nova invenção inglesa, os hippies de sangue azul. São os filhos de barões e duques que caem na estrada e se tornam um tipo de ciganos chiques. Para essa galera, Eric Clapton é a coisa mais "In" que existe. Ele se envolve com Alice Ormsby-Gore, uma das mais ricas herdeiras (há uma foto dela, fascinante ), mas já nesse tempo, o coração dele tem dona: Pattie, a esposa de George Harrison.
   O primeiro disco da The Band faz Clapton sair do Cream. Ele quer fazer aquele som. Simples, não uma ego-trip como o Cream se tornou. Forma com seu amigo Steve Winwood o Blind Faith, uma tentativa errada de ser The Band. Ao mesmo tempo toca com Lennon, Harrison, Stones e quem mais vier. Pattie o rejeita e ele vai pros EUA. Faz papel de músico de apoio na banda de Bonnie Bramlet e conhece muito pó, muita heroina e grandes músicos de lá. Namora a irmã de Pattie, traça várias fãs on the road. Vem Layla com uma nova banda: Derek and The Dominos, uma tentativa de zerar tudo. Afunda. Layla, dedicado desesperadamente a Pattie não faz com que ela largue George.
   Fica 3 anos em casa, entre álcool e drogas, casos vazios. Pete Townshend o obriga a sair e faz em 74 o show da sua volta. Grava o disco do retorno, o muito bom 461 Ocean Boulevard, onde descobre o reggae. Mas desde então ( 1974 ) até o fim dos anos 80 a vida de Clapton se resume a garrafas e mais garrafas.
   Nesse torpor de bebida se casa com Pattie. O que foi o desejo de sua vida se torna um inferno. Eric Clapton exibe coragem, conta tudo. A patetice, a idiotice. Ao contrário de Keith Richards ele nunca glamuriza: é o inferno. E se diverte. Eis a dificuldade: beber é divertido. E pior que isso, parar de beber significa abrir mão do que dá sentido a vida, beber.
   Começa a tocar mal, grava discos ruins, bate o carro, escala edificios, ofende amigos, perde tempo. Tenta um tratamento, falha. Tentará novamente bem mais tarde. Numa cena comovente, se ajoelha e se entrega. Desiste de lutar. Se salva nesse momento. A partir daí o livro é a reconstrução da vida de um doente. Eric diz, minha prioridade não é minha música ou meus filhos, é me manter sóbrio. ( Ele não bebe a mais de 25 anos ).  Tem um filho com uma italiana, esse garoto morre ao cair de uma janela. Tears in Heaven. Seus amigos do AA agradecem por ele não voltar a beber mesmo com essa dor. Eric passa a trabalhar pelos AA do mundo todo.
   Uma bela vida? Uma sábia vida.
   Guardo dois momentos de Eric Clapton comigo. O show para George, no aniversário de um ano de sua morte. E aqui no Brasil, recentemente. Olhar para ele é ver um homem são. Um cara que esteve lá e voltou. E que não se faz de "louco profissional". Sério. E agora, calmo, muito calmo.
   Nas amenidades, Carla Bruni foi namorada de Eric nos anos 90. E foi roubada dele por Mick Jagger. Desde então Eric passou a sentir aversão por Jagger ( Jagger é famoso por roubar namoradas de amigos ). Bob Dylan, que é descrito por Eric como um cara impossível de se conhecer. E que chegou a morar numa tenda num jardim, nos anos 70. Fala do quanto Paul e John esnobavam George. Sua praia sempre foi o blues, blues de Buddy Guy, John Lee Hooker, Muddy e BB King. Duane Allman e Stevie Ray. Há também belos elogios a Hendrix, e a JJ Cale, um cara que mudou seu som.
   Ao contrário do que acontece com a bio de Keith, esta dá vontade de conhecer o cara, de conversar com ele. Ele fala dos outros, não só de si, fala das artes ebulientes de 1960, de bandas como Small Faces, Who e Traffic, de pintura, de Ferraris, de muitas mulheres. E fala pouco de sua técnica, de como toca ou canta.
   Disse que em 1967, filhos de nobres, belos e ricos, começaram a se vestir como ciganos, a se entupir de ideias zen e cair na estrada. Disse que Eric era o rei entre eles. Foram sábios esses nobres. Eric Clapton é o mais nobre dos ciganos e o mais humano dos rock stars.

ABBEY ROAD, 1969

   John vai á frente. E em sua postura se percebe a vontade de ir sózinho. Branca é a cor do luto no oriente. Os outros são crianças pra ele. Ringo está pensando em seus filmes. E no alivio que seria não mais ter de tocar bateria. George olha para o nada. Azul cor de céu, a longa perna esticada. O caminho lhe parece reto e certo. Tudo é promessa.
   Mas Paul... vai descalço e olha fixamente para a nuca de John que se afasta. Ele parece pequeno, solto, estranhamente só. Ao fundo a rua não acaba. Há um fusca e um senhor que olha. Um grupo a esquerda e as árvores. George Best jogava bola. Muhammad Ali soltava golpes. E Pelé socava o ar. Os 4 cruzam a rua. Que bela história eles fizeram! E na foto podemos ver: o terrível peso que oprimia essas quase crianças. Foram apenas seis anos! De 63 a 69. Uma era em seis verões. ( Que privilégio ser de uma geração cantada pelos quatro...e por Dylan e por Jagger...Não, a minha não é essa, a minha foi lamentada por Morrissey, Michael Stipe e Prince ).
   O primeiro acorde desse que é meu disco favorito dos Beatles já mostra o estilo: Clássico. Estou falando em termos de "arte", pintura e literatura. Os Beatles vivem numa época romântica, mas nunca deixam de ser clássicos. Como Mozart e Velazquez, eles são perfeitos, geniais, completos e ao contrário dos românticos, nunca se deixam levar pela emoção. Por mais que suas canções nos emocionem, elas não são "emocionais". Tudo neles é "bem feito". O acaso, o desleixo, o rascunho lhes é estranho. Cada som é puro, é definido, o prato da bateria soa disciplinado, e até quando Paul grita é um grito bem acabado. Polido, clássico.
   Outra definição do classicismo é o de jamais ser confessional. Mozart compunha coisas alegres mesmo desesperado. O clássico fala através de personagens. Repare como eles criam personagens, como quem fala é sempre alguém, nunca são os Beatles. Claro, isso mudará quando a romântica Yoko faz com que John comece a se revelar. John se torna confessional, centrado no Eu, se torna um romântico. O grupo, clássico em forma e em atitude não poderia o segurar. Quando John diz que cresceu e que eles eram infantis a coisa é mais complicada. John descobriu a alegria de ser Beethoven, Goethe ou Hugo.
   Mas Paul... Paul vai morrer sendo clássico. Ele é educado. Ele não se revela. Tem pudor. Música não é confessionário. Não fica bem. E a arte deve ser polida, acabada, o objetivo é o EQUILÍBRIO. Há um belíssimo equilíbrio nos Beatles. Mesmo um disco "doido" como o Album Branco é equilibrado. Os sons, os efeitos, os ruídos têm definição, as faixas se completam, o todo é coeso em sua variedade. Nada, nem mesmo John, parece acidental. Nunca nada é feito "nas coxas". Comparar os Beatles com românticos narcisistas extremados como os Stones ou The Who é uma experiência muito rica. Tudo em Keith ou Townshend parece improvisado, mal feito, parece jorro de inspiração. ( Só parece ). Os Beatles trabalhavam duro. Nunca pareceram boêmios. Por isso pararam de fazer shows. Palco não é lugar de perfeccionismo. Principalmente em 1967.
   Something é perfeita. Os acordes claptonianos da guitarra são claros como água e a bateria soa como percussão de peça erudita. E os violinos de fundo, o famoso dom de Paul para fazer tudo se harmonizar. Deus às vezes parece gostar de música.
   Sim, eu tenho algumas restrições aos Beatles. São espirituais demais, bonzinhos demais, neles não existe sexo, carne ou diabo. Mas o que falar diante daquilo que eles fazem no lado B do vinil? Alguém pode reclamar de Pascal ou de Montaigne por eles não serem sexy? Quando Carry that Weight está terminando tudo clama: eis a perfeição no rock. Nada nunca mais será tão "belo".
   Dizem que os Beatles temiam se soltar por suas origens plebéias. Havia neles o desejo de agradar típico das classes mais pobres. Músicos de origens privilegiadas tendem a ser mais românticos, a ter uma atitude mais "foda-se". Jagger perto de Paul era rico. Além do que eles eram de fora de Londres. Caipiras. OK. Pode ser verdade. Mas isso não poderia ser visto como uma dádiva a mais? Proletários que se firmam costumam ter muita fibra.
   Mas Paul... Muita gente desde 1970 ficaria cobrando dele "o grande disco". Sua obra-prima final. Queriam que ele fosse o Cole Porter de sua geração, que ele deixasse uma coleção de radiografias ferinas e bem-humoradas sobre uma época. Hoje sabemos, sua grande obra é o conjunto de tudo o que ele fez. Ele não deixa um grande disco genial. Ele deixa um monte de momentos de gênio.
   Olho a capa. Eles têm entre 28 e 26 anos na foto. Como seria ser um deles? Tenho a certeza que nem eles jamais souberam o que foi ser um Beatle...

O FIM DOS BEATLES É O COMEÇO DO LZ.

   Quando em 1975 meu irmão e eu escutamos pela primeira vez o Led Zeppelin II, pensamos que ele tivesse sido gravado em 1975. Era uma reedição, e no selo do vinil vinha gravado o ano:1975. Quando descobrimos que na verdade era um disco do pré-histórico ano de 1969 ficamos abismados. ( Eu e ele ainda éramos crianças em 75. 1969 parecia a idade-média ).
   Já tinhamso na época discos dos Beatles, Roberto Carlos, Pink Floyd e Monkees. 1969 era para nós sons como Come Together ou ABC com os Jackson Five. Guitarras de 69 deveriam ter o som de John Fogerty no Creedence ou de Jimi Hendrix em Hey Joe. Mas o som do Led em 1969 parecia antecipar o gigantismo de 1975. Ao lado dos hits de 69, coisas ótimas mas datadas como Sugar, Sugar ou Crimson and Clover; a banda de Plant, Page, Jones e Bonham parecia ter muito mais em comum com os tempos de Queen, Aerosmith e Kiss. Bem, na verdade eles pariram a década de 70. E o hard-rock dos 80, infelizmente, também. E ainda o dos 90, 2000, 2010 e um etc sem mais fim.
   Há uma bela teoria que diz que os Beatles terminaram não por brigas de Paul e John ou apuros na Apple. Na verdade eles perceberam, genialmente, que a onda era outra e que aos 27, 28 anos, eles começavam a ser chamados de vovôs. Sly Stone, King Crimson, James Brown, MC5, faziam com que os 4 de Liverpool parecessem antigos como Elvis. E as vendas caíam sem parar. Os Jackson Five, o Blood Sweat and Tears e principalmente os Creedence Clearwater vendiam mais. Assim como Pelé, eles souberam quando encerrar o sonho.
   Se antes a bateria de Ringo podia ser comparada a de Charlie Watts ou de Keith Moon ( a mesma sonoridade, o mesmo timbre ), se os solos de George ainda tinham tudo a ver com a escola Chuck Berry de Keith Richards ou Dave Davies, agora, com o Led, tudo isso parecia muito velho. A`^enfase das bandas dos 60 era criatividade e beleza, agora o parâmetro era potência e técnica.
   Assistir essa apresentação dos Led em 1969 é ver o futuro em ação. Apesar do choque que é ver Plant ainda belo e com excelente voz, ou Bonham ainda com a energia pré-alcoolismo, o choque verdadeiro é perceber que de Jack White a Red Hot Chili Peppers, passando por Jeff Buckley e Stone Temple Pilots, toda banda com alguma virilidade dos últimos 40 anos bebeu na fonte Zeppeliniana. ( Excessão, óbvia, ao punk, a antítese da tese ledzeppeliniana. Para o punk, o rock cessa em Yardbirds e Kinks ).