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TOMMY. AQUELE FILME DE KEN RUSSEL BASEADO NA OBRA DO THE WHO

Na primeira vez que o assisti, Tommy me causou repulsa. Raras vezes eu havia visto até então um filme visualmente tão feio. Não era apenas a falta de beleza, era o grotesco. Cenários, roupas, luz, tudo era berrante, exagerado, nervoso, sanguineo. Era o estilo de Ken Russel, estilo que nos anos 80 iria atinger seu zênite. A música do The Who se perdia naquela mixórdia. Pois bem, revisto pela terceira vez, ontem, ele me pareceu aquilo que realmente é: um filme tosco com excelentes músicas. Não mais o mais repulsivo. Hoje tenho muitos anos de filmes horríveis nas costas. Nem parece mais tão mal encenado. Suas grandes falhas são aquelas que eu não notara quando da primeira vez: a história medíocre da opera rock de Pete Townshend, e a voz Broadway de Ann Margret. ------------------------ Ann Margret é uma atriz adorável e sexy. Estrela. Mas sua voz não combina com aquilo que a trilha sonora deveria ser. Ao lado de Roger Daltrey ela parece de outra era, e ao lado de Oliver Reed parece controlada demais. Incomoda. Quando ouvi o disco, aos 13 anos, muito antes de ver o filme, odiei aquela voz de palco, de musical chique, antiga. ------------ Quanto a história de Pete....vamos ver se consigo me explicar....a força do rock, a inteligência do rock, e Pete é um dos mais articulados, não reside em ideias complexas, ela vive no impulso, no irracional, na força do sangue. Sempre que uma pessoa do meio rock tenta produzir algo mais complicado, seja livro ou filme, peça ou album ambicioso, a coisa soa forçada. É assim com Dylan escrevendo livros, Paul MacCartney compondo sinfonias ou Pete em ópera rock. Tommy é pobre como filosofia, pobre como conto religioso, e sem sentido como obra de arte séria. A saga do messias que é negado por seus seguidores não se sustenta. É inconvincente. Mas, e vai aí um grande mais, músicas como Amazing Journey, Sparks ou Sally Simpson são maravilhosas. Obras primas dentro do meio. Arte em seu direito pleno. ------------- Visto hoje é uma coleção de clips que vão do ruim ao ok.

LISZTOMANIA- UM FILME DE KEN RUSSELL

Pra quem não sabe, Franz Liszt foi o primeiro rock star. Claro que ele não tocava rock, mas ele era uma estrela em toda Europa. Fazia excursões onde mulheres se jogavam aos seus pés. Tornou-se envolto em lendas: diziam que ele tinha pacto com o demônio, que ele fazia orgias, que ele se drogava. Ao fim da vida ele largou tudo e se tornou católico radical. Foi amigo do jovem Richard Wagner. Eu adoro sua música. Antes de Mozart, quando eu tinha 18 anos, foi Liszt meu compositor clássico favorito. Seu concerto para piano número dois é uma obra eterna. Mas, como todo rock star, Liszt também se dividia entre o desejo de agradar seu público e suas aspirações à eternidade. Ken Russell é um diretor carnavalesco. Gosto muito de dois de seus filmes: Mulheres Apaixonadas é belíssimo, e o filme sobre Tchaikovski me toca muito. Por outro lado ele fez coisas insuportáveis, muitas. Ken Russell nunca teme a vulgaridade. Se ele tem de mostrar uma orgia ele coloca duzentas mulheres nuas e um pênis gigante de plástico. Essa cena está neste filme. Lisztomania foi um grande fracasso de crítica e de público. Foi censurado aqui no Brasil, em 1977. Feito em seguida à Tommy, tem Roger Daltrey fazendo Liszt. Que diabos, Roger está muito bem! Eu já ouvira falar que Daltrey era bom ator, mas em meio a este desfile de escola de samba, Roger Daltrey brilha fazendo Franz Liszt com seriedade. Suas expressões faciais são perfeitas. Mas há o roteiro! No início a gente não sabe se Liszt vive em 1850 ou em 1977. Ken Russell mistura as duas épocas. Então a gente pega logo o sentido: é um comentário sobre os anos 70 usando Liszt como motivo. OK Ken, ok. Vamos embarcar na sua viagem...Liszt ao piano como um Elton John dividido, fãs de 14 anos como teens amando Marc Bolan, Richard Wagner como um louco nazista revolucionário invejoso, cenas de orgias de camarim de Led Zeppelin. E o tal pênis de 5 metros. Eu gostei. Me diverti. Russell pode irritar por sua falta de freio. Ele ama o mal gosto, o kitsch, o brega. Mas é divertido quando dá certo.

DRACULA # ALAN BATES # ISABELLE ADJAN I# KEN RUSSELL # PAOLO SORRENTINO # MICHAEL CAINE #

   A JUVENTUDE de Paolo Sorrentino com Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz, Jane Fonda, Paul Dano.
Sorrentino terá de conviver com A Grande Beleza para sempre. A gente não quer, mas compara. Este filme é muito bom, mas não tem nunca o alcance da obra-prima anterior. Talvez por ser em inglês e tratar de gente não italiana. Caine, que está brilhante como sempre e humano como quase nunca, é um velho maestro aposentado. Passa férias num hotel de luxo na Suíça. Lá estão seu amigo, um diretor de cinema, sua filha, recém separada, e um jovem ator em crise. O que se discute é a velhice, o tempo e o legado da vida. As imagens são sempre belíssimas, o tempo vai e volta, a memória nunca para de se mover, e as cenas vão do cômico ao trágico e horror. Há uma homenagem linda à Maradona ( sim, creia ), algumas falas brilhantes ( e outras muito piegas ), e um final que é perfeito. Mas mesmo assim sentimos que falta alguma coisa...Talvez seja a comparação ao outro filme...ou talvez a gente não perdoe as 3 ou 4 falas muito ruins...( será o inglês... ). De qualquer modo é um belo filme e Caine raramente esteve tão perfeito.
   AS IRMÃS BRONTE de André Téchiné com Isabelle Adjani, Marie-France Pisier, Isabelle Huppert.
Que tema poderia ser melhor que as irmãs Bronte!!! Filmado na região em que elas viveram, uma imensa planície cheia de vento, frio e verde; o filme consegue ser completamente vazio e sem emoção. Emily Bronte fala como uma feminista cliché, Anne tem o mal humor típico de Huppert e Charlotte parece uma fazendeira da Vogue. O problema básico é ser um filme francês. As Bronte são olhadas de fora, como excêntricas figuras inglesas. O roteiro se distancia e seca toda emoção. Elas se tornam bonecas de cera. As falas viram teses. O filme, sucesso de bilheteria em 1979, nada tem de Bronte. Quer ser tão real que se torna morto. Defeito típico do cinema da França: quando quer ser documental se transforma em tese de laboratório. Quando quer ser fantasia consegue ser real. Os piores filmes do cinema são de lá. Alguns, muitos, dos melhores também. O cinema da França é grande quando quer ser criação livre, é péssimo quando deseja retratar a vida "como ela é".
   GOTHIC de Ken Russell com Gabriel Byrne, Natasha Richardson e Julian Sands.
Ken Russell, o diretor do mal gosto e do gosto ruim, se debruça sobre a noite em que Mary Shelley criou Frankenstein. Então o que temos são: Lord Byron, Shelley, Mary Shelley, Polidori e a amante ocasional de Byron, Claire. Russell junta todos num palácio suíço e sem qualquer medida de gosto ou de equilíbrio, povoa o filme com ópio, sexo, sangue, blasfêmia, péssima música e atuações exageradas. Eu não entendi nada do roteiro, mas penso que não é para se entender nada. É só pra se sentir. E eu senti nojo. O filme é assustador. Começa como uma bobagem tola dos anos 80, com uma trilha sonora mediocre de sintetizador que invade toda credibilidade do filme. Mas depois ele insiste tanto no exagero e na histeria que começamos a nos sentir incomodados. E Russell consegue mais uma vez fazer um filme feio, desagradável, aquilo que ele quis fazer. Esqueça Shelley. Ele não era esse viciado em ópio efeminado e alucinado pelo horror. Ele era bem mais frio. E Byron não era esse diabete dos anos 80, sádico e cheio de frases bobas. O filme me fez pensar uma coisa: em 1820 os românticos eram únicos. Hoje muitos são como eles. Mas sem a novidade. Apenas cópias de seres de dois séculos atrás.
   ESSE MUNDO É DOS LOUCOS ( LE ROI DE COEUR ) de Philippe de Broca com Alan Bates, Genevieve Bujold, Michel Serrault, Jean-Claude Brialy, Micheline Presle.
Uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, de Georges Delerue. Vi o filme em 1979. Na TV, Adorei. O achei livre. Revi em 2010 e detestei. Achei bobo. Vi mais uma vez agora. É bobo e livre. Mágico. Muito mágico. E ingênuo. Ele tem a ingenuidade de quando foi feito, 1966. E a magia de quando foi feito, 1966. A história: na primeira guerra mundial, uma cidadezinha da França é abandonada pelos alemães. Um soldado escocês é mandado para lá a fim de desativar uma bomba que foi deixada. Enquanto isso os loucos da cidade saem do hospício e elegem o soldado o Rei de Copas. Vemos os loucos assumirem a cidade, cada um tomando para si um papel. O padre, o cabelereiro, a prostituta, o prefeito. O soldado, um ótimo Alan Bates, resiste a essa farsa, mas se apaixona e entra no jogo. Até chegarem os dois exércitos...O filme atinge o alvo. No começo achamos os loucos apenas uma irritante troupe de atores mambembes, depois somos seduzidos por sua fantasia. Quando ele voltam os hospício nos sentimos traídos. Broca teve dez anos de grandes filmes. Este é um deles. Diferente, leve e muito profundo.
   O VAMPIRO DA NOITE de Terence Fisher com Peter Cushing e Christopher Lee.
O primeiro filme da Hammer sobre Drácula. Cheio de clima, a história é centrada em Van Helsing. Ele é o personagem principal. Lee foi o melhor Dracula do cinema. O filme não assusta mais, mas diverte.
 

  

MULHERES APAIXONADAS/ REGINALDO FARIAS/ WILLIS/ CLIVE OWEN/ BATMAN/ PIRATAS PIRADOS

   MULHERES APAIXONADAS de Ken Russell com Alan Bates, Glenda Jackson, Oliver Reed
A prosa de DH Lawrence desaparece aqui. E nem poderia ser diferente. Como levar para a tela a profusão de ideias, de imagens e de pensamentos tortuosos que abundam no livro? Lawrence é infilmável. Ken Russell tem aqui o momento mais famoso de sua carreira ( concorreu a Oscar de direção ). Seu estilo se faz presente: exagerado, ácido, desagradável, sem nenhuma noção. E estranhamente fascinante. Não esquecemos de suas imagens. Há uma profusão de cores, de gritos, de cenas fortes, de tentativas apaixonadas. O filme, como o livro, que é o melhor de Lawrence, fala de dois casais: um par de amigos e uma dupla de amigas. Eles se conhecem e se envolvem. Glenda está magnífica. Para quem não sabe ela foi a grande atriz da época ( 1969/1976 ),  no auge da fama abandonou o cinema para fazer politica na Inglaterra. Neste filme ela é Gudrun, a mulher que na década de 20 quer viver plenamente. Alan Bates, um de meus atores ingleses favoritos, é Birkin, um homem insatisfeito, rebelde, livre, que se envolve com a amiga de Gudrun. Oliver Reed faz o ricaço e violento amigo, que se apaixona por Gudrun. Necessário dizer que o filme passa longe do convencional. Nenhum casal chega ao namoro normal. Todos se comportam como loucos, como bichos ou como queria Lawrence, humanos estéreis em alma. O que me fez pensar no seguinte: Como o mundo mudou em dez anos! Um filme como este seria impossível em 1959. Cheio de cenas de nú frontal masculino,´tem a famosa cena dos dois amigos lutando boxe pelados. Lawrence escreveu um livro sobre a sede por um novo mundo. Lawrence queria um novo sexo, novas relações e nova religião. O filme de Russell não passa perto disso. É mais um tipo de histerismo abobado sobre um quarteto doido. Mas é um bom filme. Irritante, inflado, pedante, e forte. Nota 7.
   CRUPIÊ de Mike Hodges com Clive Owen
Em 1971 Mike Hodges fez um dos melhores filmes do cinema inglês: Get Carter, onde Michael Caine fazia um bandido extra-cool. Era uma pelicula que antecipava o cinema de Danny Boyle e de Guy Ritchie em 25 anos. Em 1973 Hodges fez o fascinante Homem Terminal, uma sci-fi cabeça que fracassou. E então sumiu. Já com 65 anos, ele volta em 1998 e faz este filme sobre um observador. O crupiê é um escritor que se coloca à parte da vida. Para ele existem dois tipos de humanos: os jogadores e os crupiês. Os jogadores vivem, jogam, se arriscam. O crupiê observa, vê o que rola. Mas o filme, fascinante, vai além disso. Ele segue regras, não mente, gosta de coisas bem feitas, corretas. Se parece muito com um cavaleiro medieval, e creio que é assim que ele se vê, um tipo de cavaleiro etéreo, com seu código de honra rigido. Hodges mostra aqui seu absoluto dominio de imagem. O filme é soberbo. Tenho absoluta convicção de que Mike Hodges foi um grande diretor. Nota 8.
   POSSESSÃO de Neil LaBoute com Gwyneth Paltrow e Aaron Eckhart
O filme se passa entre ratos de bibliotecas. Vemos livros, manuscritos raros, estantes repletas. É o mundo fechado dos eruditos, dos pesquisadores, dos amantes de letras. E paralelamente se mostra a vida de poetas românticos de 1850. É o ambiente que mais adoro. Mentalmente é onde vivo.  Mas tenho de confessar a verdade: fora isso o filme nada tem a dizer. Fica sendo um tipo de Ghost para ratos de biblioteca. Não tem um porque, não faz sentido, não emociona. É um absoluto fiasco. La Boute sempre foi um enganador. Nota 2.
   CÓDIGO PARA O INFERNO de Harold Becker com Bruce Willis e Alec Baldwin
No cinema em 1998 já era fraco. Em dvd agora é quase um nada. Bruce, de quem gosto, vinha do mega sucesso de Sexto Sentido e fez este policial bobo, filme que tenta criar emoção com as figuras de um policial decadente e uma criança autista. A trama é muito fraca, pior, inverossímil, e Bruce não pode usar o que tem de melhor, seu humor. Becker foi um dia uma promessa...fez pluft...Nota 3.
   PIRATAS PIRADOS de Peter Lord
Animação sobre piratas bem doidos. Divertidíssimo! O filme é uma explosão de bom-humor e de gozação saudável. Leve e colorido, ele cumpre plenamente seu propósito: fazer rir sem jamais parecer grosso. Os tipos são todos bem delineados e as tiradas funcionam em tempo exato. Mais uma grande animação.  7.
   BATMAN de Leslie H. Martinson com Adam West e Burt Ward
Quem em criança viu Batman jamais irá conseguir levar a sério um herói de malha justa e capa negra de morcego. É uma figura ridicula, seja aqui ou seja com Tim Burton/ Chris Nolan. Este é o longa que nasceu com o sucesso da série de TV. Visto hoje ele é chato pacas. Nota 3.
   ASSALTO AO TREM PAGADOR de Roberto Farias com Reginaldo Farias
Um grande sucesso do cinema brasileiro e uma aventura que ainda funciona muito bem. Um trem é assaltado. Acompanhamos o destino dos assaltantes. O ambiente é a favela. O filme faz pensar: o que mudou? Estão lá os barracos e o povo mal vestido. A diferença é que hoje a favela não tem mais o jeitão rural que tem aqui. Vemos árvores e porcos nas vielas e muita criança pelada. Hoje a violência cresceu, os barracos têm TV e geladeira. Uma mudança de atitude: aqui todos querem sair da favela, têm vergonha de viver nela. Hoje há um orgulho, uma "alegria" por ser favelado ( da comunidade ). Isso significa o que? Aumento de auto-estima ou comodismo? Eu não sei. Um fato: em mais de 40 anos elas continuam lá. O povo que lá vivia em 1966 lá continua. O filme tem ação e drama, é bom. Nota 6.
   O MONGE de Dominik Moll com Vincent Cassell
Lixo. Num mosteiro um monge milagreiro se envolve com sexo. O mal invadiu o lugar, em quem esse mal vive? Logo percebemos que o mal está no monge que lá foi criado. Não espere nada de sério. O filme tem um tom pomposo, mas é raso como um pires. Pior de tudo, é chatíssimo! Nota ZERO.

OS VINGADORES/ MAHLER/ KEVIN KLINE/ DIANE KEATON/ PECK/

    OS VINGADORES de Joss Whelan
Nick Fury fuma um enorme charuto. É sexy ao nível Clooney de ser e é  musculoso. Está na meia-idade e tem um humor ácido, desencantado. Isso nas HQ, porque aqui ele é Samuel L. Jackson....eu adoro Nick Fury, o filme me fez odiar Jackson. Tem mais. Me fez pensar nos grandes sucessos de bilheteria da história. Todos são escapistas, e isso nada tem de ruim. Mas depende do tipo de escapismo. Se ...E O vento Levou era a afirmação da saga individualista americana, se A Noviça Rebelde era a propaganda de bons sentimentos em época de más noticias, e Star Wars era nostalgia travestida de saga futurista,  Os Vingadores é puro militarismo triunfante. Oitenta por cento do filme é propaganda de armamanto. Computadores militares, tiros e explosões, aviões, soldados. A história nada mais é que o enquadramento do incontrolável Hulk, a dessacralização de Thor e conscientização do Iron Man como soldado obediente. Não é por acaso que todos têm rancor contra Thor, afinal ele é um semi-deus. E o pobre Hulk é apenas uma besta que deve ser disciplinado. Destruição como fetiche ( após Star Wars todos os big hits têm a destruição como gozo, desde um navio que afunda até a perseguição de uma raça ). Nos extras o diretor desta coisa fala que se trata de um filme "so sexy"....
   MAHLER de Ken Russell
Tchaikovski era tão exagerado, pomposo e falso como este. O problema aqui é que Russell esqueceu daquilo que salvava o seu filme anterior: a beleza. Tchaikovski é um filme lindo, Mahler é ridiculo. Quando surgem as cenas nazistas começamos a achar que Ken tomou a droga errada. Foi este o filme que começou a destruir sua carreira. Se ele surpreendera o mundo com belas adaptações de Lawrence e filme cheios de imagens originais, aqui ele se perde em puro sensacionalismo. Nota 2.
   A CONQUISTA DO ESPAÇO de Byron Haskin
O que é isto? Deveria ser um pop e divertido filme B dos anos 50. Mas o que vemos? Um grupo viaja à Marte e seu lider enlouquece. O filho desse lider acabará por matá-lo. Em Marte há um clima de culpa, de medo e de consciência da inutilidade daquilo tudo. Simples? É um dos filmes mais doentios que já vi. Tudo nele é classe B, os atores ruins, os efeitos mediocres, os cenários pobres. Mas o roteiro é incrivelmente profundo trazendo antecipações de 2001 e até Solaris.
   MATANDO SEM COMPAIXÃO de Ted Kotcheff com Gregory Peck
Western dos anos 70, ou seja, ppouca ação e muito clima de fim de mundo. Peck é um ladrão barato, que foge em deserto de xerife "do mal". Um mestiço é o amigo de Peck e o filme, claro, fala de racismo. Não é um bom filme. Ele jamais emociona e fica sem saber onde ir com seus personagens. Peck, um ator imponente, não tem muito o que fazer. Nota 4.
   MEU QUERIDO COMPANHEIRO de Lawrence Kasdan com Kevin Kline, Diane Keaton, Dianne Wiest e Richard Jenkins
Kasdan foi um dia um dos grandes. Roteirista da turma de Spielberg, despontou a trinta anos com o marcante e icônico O Reencontro. Este é seu novo filme, recém lançado, e se está longe de ser ruim, nada tem de novo. Uma mulher, a sempre ótima Keaton, esposa de um médico, o sempre excelente Kline, acha um vira-lata na rua. O abriga. Depois de dois anos, em viagem ao Colorado, o cão some e isso expõe as dores da familia. Na busca pelo cão o que vemos é uma sessão de terapia dos personagens. O filme mantém o interesse, as pessoas são reais e os cenários deslumbram. Fácil de ver, falta ao filme um momento grande, um centro de catarse. Ele acaba sendo discreto demais, simples demais, comum demais. Mas pelo menos Kasdan não tenta fazer "arte". Ninguém é bem louco ou perigoso, a câmera nunca treme ou alça vôo. Nota 6.
   FANTASIA de Walt Disney
Grande orgulho de Disney, fracasso em seu tempo, reabilitado vinte anos mais tarde com os hippies. Vamos por partes. Porque orgulho de Disney? Porque ele trata de "grande arte". Afinal, é um looooongo desenho que cria clipes para músicas de Beethoven, Tchaikovsky e até Stravinsky. Típica jequice, achar que usar Dukas ou que falar da criação do mundo faz de um desenho "arte". Pinóquio era Arte sem nada de pedante. Os hippies descobriram que assistir Fantasia com LSD dava uma viagem ótima. Visto agora, tem seus bons momentos, mas seu espirito de "grande arte" faz dele o mais antipático dos desenhos. Nota 4.

PAYNE/ KEN RUSSELL/ JAMES STEWART/ JOHN WAYNE/ CORMAN/ LAURENCE OLIVIER/ MARILYN

   SIDEWAYS de Alexander Payne com Paul Giamamtti e Thomas Haden Church
Podem me xingar á vontade: não gosto de Paul Giamatti. Ele tem cara de quem está prestes a vomitar e esse enjôo passa pra mim. E quando não me faz sentir náuseas ele me faz dormir. O filme poderia ser bem melhor sem ele. Em compensação, gosto de Church. Merecia melhor carreira. Desde a tv que o acompanho. O filme é o mais fraco de Payne, dos poucos diretores atuais que não confunde arte com nojeira. Seu melhor filme ainda é ELEIÇÃO. Aqui é a história de amigos que partem para uma viagem atrás de vinhos. Encontram amor ( claro, é Hollywood ). Nota 5
   DELÍRIO DE AMOR de Ken Russell com Richard Chamberlain e Glenda Jackson
Eu estava meio sem pique com cinema e a revisão deste filme me fez voltar a sentir a paixão pela tela. Ken Russell nunca fez ou tentou fazer "bom cinema". Seu interesse era o carnaval. Temos aqui Tchaikovski como um gay que insiste em tentar ser hetero. E ele sofre como um São Sebastião  do pau oco. O filme, com uma foto espetacular de Douglas Slocombe, tem aquele exagero de cor e de movimento que é o estilo sem pudor de Russell. Glenda Jackson, estrela de gênio, se expõe numa patética cena de sexo. Nós não sabemos se é pra rir ou pra chorar...adoramos e nos divertimos à farta. Russell sacrifica verossimilhança ou sobriedade por cenas de furor e frenesi. O filme é um tipo de "Russia em Nilópolis by Joãozinho Trinta". Nada tem de real ou de simbólico, é somente imagem e som. Odiado em seu tempo, fracasso de público, hoje, em tempos menos exigentes, está reabilitado. Quando o assisti na tv em 1978 mudou minha vida. Lembro que pensei: "Cinema pode ser assim? " Falseando a vida e o cinema Ken Russell nos dá prazer. Escrevi critica sobre este filme abaixo, procure. Nota 8.
   O VÔO DO FÊNIX de Robert Aldrich com James Stewart, Richard Attenborough, Peter Finch, Ernest Borgnine e George Kennedy
Um grupo de soldados de várias partes do mundo, viajando de avião sobre o Sahara, se vê preso no deserto quando o avião sofre pane. O que vemos é o conflito entre esses homens em desespero. Stewart faz um muito antipático piloto americano, que tem preconceito contra um engenheiro alemão. Finch é um rigido comandante inglês. Aldrich, como disse Inácio Araújo esta semana, é um excelente diretor. Um cineasta que sabia criar conflito, drama, tensão e que era dono de um estilo nada afetado, viril. É dele o genial THE DIRTY DOZEN. Precisa dizer mais o que? Este filme foi refeito a dois anos com Dennis Quaid no lugar de Stewart. James Stewart rouba o filme, ele é ao mesmo tempo ruim, covarde, turrão e determinado. Belo filme. Nota 7.
   O CASTELO ASSOMBRADO de Roger Corman com Vincent Price e Debra Paget
Todos sabem que Corman foi o diretor classe B que sabia fazer filmes decentes com um nada de recursos. Mas o que lhe garantiu a memória é o fato de ter sido ele quem ajudou Coppolla, Bogdanovich e De Palma em seus começos. Aqui temos um filme que usa contos de Poe e de Lovecraft. É sobre um herdeiro que ao visitar o castelo abandonado da familia se vê possuído pelo fantasma de seu tataravô, um feiticeiro que foi queimado. Filmes de terror são os que envelhecem mais rápido. O que pode mantê-los vivos é seu clima e seu engenho, o medo logo se vai. Este tem algum clima de "nevoeiro com túmulos".... Price nasceu pra fazer esse tipo de canastrão do mal. Nota 4
   O CÉU MANDOU ALGUÉM de John Ford com John Wayne, Pedro Armendariz e Harry Carey Jr.
Ford ia pro deserto do Arizona. Ia com seus amigos acampar. E por acaso esses amigos eram atores e técnicos de cinema. Então ele aproveitava e fazia filmes por lá. Simples assim. Afetação zero. Este fala de 3 ladrões de banco que ao fugir pelo deserto encontram um bebê em caravana que foi dizimada. Se tornam os padrinhos desse bebê. Wayne é um dos ladrões e aqui ele mostra mais uma vez o grande ator que foi. Passa da maldade para a falta de jeito, do humor ao drama sem qualquer esforço aparente. O filme, cheio de areia, vento e muito sol faz com que nos sintamos parte do ambiente. Simples, puro, é exemplo do dominio absoluto de Ford sobre sua arte. Nota 7
   UM HOMEM CHAMADO CAVALO de Ellot Silverstein com Richard Harris
Um inglês que está caçando nos EUA de 1830 é capturado pelos sioux. Tratado com imensa crueldade, ele vai sobrevivendo e se impondo na ordem social da tribo. O filme, que é hoje um cult e que em seu tempo foi tratado como lixo, tem dois méritos: mostra a cultura do sioux sem romantizar e é ao mesmo tempo uma simples e ritmada diversão. O indio é mostrado aqui como ele era. Nada de nobre, nada de bandido. Eles possuem uma regra geral: só o que provém da dor tem valor. A vida só nasce pela dor, voce só cresce pela dor. Então o que vemos são várias cenas de auto-mutilação, sangue e a impressionante cerimônia do sol. Silverstein não está a altura de seu roteiro, dirige de forma conservadora. Mas é um filme invulgar, feito em momento ( 1971 ) de plena coragem no cinema popular. Nota 7
   SETE DIAS COM MARILYN de Simon Curtis com Michelle Williams, Kenneth Branagh e Judi Dench
Em 1955 Monroe foi a Londres filmar com o maior ator do século, Laurence Olivier. Olivier estava otimista com o filme que ele dirigiria e interpretaria, mas a experiência foi um desastre. Ele fazia parte da velha tradição inglesa de atuar, a tradição do "Vá lá e faça"; já Marilyn seguia o estilo novo, de New York, o estilo em que o ator deve se sentir o personagem, compreendê-lo, entender sua motivação. O choque se fez. A estrela falta a filmagens, se atrasa, se droga, esquece as falas. Mas ao final, em bela cena, Olivier diz que ela é uma grande estrela, nasceu para a tela, faz com que ele pareça pequeno. O filme concorreu a Oscars em 2012, perdeu todos. Michelle está ok. Frágil, confusa, cercada por bando de puxa-sacos e de pseudo intelectuais. O filme condena Arthur Miller. Já Branagh dá um show. Sua voz lembra muito a de Olivier e seus trejeitos são homenagem ao gênio de Laurence. Único senão: Olivier era bonito, Ken não. O filme cresce com sua presença. Judi Dench faz Sybil Thorndike, grande atriz que estava na filme e que entendeu Monroe. Aliás, para cinéfilos há a emoção de ver a recriação dos estúdios Pinewood e até colocaram um ator para fazer o grande Jack Cardiff, diretor de fotografia soberbo. Na vida real o filme que resultou foi responsável pelo fim das ilusões de Olivier com o cinema. Após esse fracasso ele se atiraria de vez ao teatro. Assisti esse filme algumas vezes quando criança, ele era exibido na Sessão da Tarde. Me apaixonava por Marilyn ao ver o filme e me irritava com Olivier. Eu devia ter no máximo 12 anos. Preciso o rever. Deixo de propósito de dizer que este filme é centrado no amor de um jovem diretor de terceira unidade pela estrela solitária. É uma história que dá tédio. Chatinha. O pouco dos bastidores do filme é tudo que importa. Nota 4.

TCHAIKOVSKI, DELÍRIO DE AMOR, UM FILME DE KEN RUSSELL ( O REI DO MAL GOSTO )

   Para pessoas sensíveis este é um filme muito perigoso. Não porque ele seja chocante ou cruel, o cinema de agora já se encarregou de nos dar vacinas contra todo tipo de choque. O que ele tem de perigoso é sua sedução, uma sedução exagerada, desbragada, sem censura e sem noção. A vida de Tchaikovski é exibida como um delirio de ópio, de culpa e de medo. O filme, nada realista, é quase um carnaval brega, mas que diabos! Ele é maravilhosamente delicioso.
   Foi massacrado em seu tempo. Russell vinha do sucesso de MULHERES APAIXONADAS e sentiu-se livre aqui para fazer o que desejasse. E fez. O estilo sem limites de Ken Russell está todo aqui. Câmera dançarina, cenas de simbolismo colorido e raso, excessso de vermelhos e azuis, atuações operísticas, zero de realismo. Nada é linear, nada parece plausível, Russell sacrifica tudo pelo exagero, pelo vôo. E devo admitir que funciona. Vemos a reabilitação de Ken Russell no século XXI.
   Ele surgiu em meio aos anos 60 com a leva de brilhantes cineastas britãnicos ( Schlesinger, Boorman, Richardson, Loach, Reisz, Harvey, Lester ). Foi logo considerado o mais superficial, um decorador de cenas, publicitário de filmes vazios. Mas MULHERES APAIXONADAS dobrou seus críticos. DELIRIO DE AMOR fracassou e seus inimigos se sentiram vingados. No resto dos anos 70 ele faria filmes cada vez mais descontrolados ( LIZSTOMANIA, TOMMY ). Na década de 80 ele realizaria o filme mais doentio que já vi, e sumiria em produções de TV. Morto recentemente, há um movimento que procura o reabilitar. Baz Luhrman tem muito de seu estilo.
  Piotr Illytch Tchaikovski é um homossexual culpado. Se casa para tentar ser um "homem comum". Casa-se, que ironia, com uma ninfomaniaca e sua vida se faz um pesadelo. Raros filmes mostraram tão claramente o medo da mulher. Ao lado dela, ele não consegue compor. Se separam e amado por uma nobre russa ( muito platonicamente ) ele se faz feliz ao ser sustentado por ela. Mas seu passado volta. O filme, hiper e desavergonhadamente romântico, não o romântico Julio Iglesias, mas sim o romantico em sua acepção original, Byron e Schiller, é trágico e ao mesmo tempo sedutor. Eu o assisti aos 16 anos na Tv e nunca mais o havia visto. Na época ele teve um efeito poderoso, confirmou meu delirio romantico, casou-se a perfeição com minhas leituras de Poe e de Hugo. Alguém deveria escrever um livro sobre o quanto os filmes vistos nos 16 primeiros anos de vida podem decidir o futuro de um homem. Todo o clima fatalista/estético e exagerado do filme grudou em mim. Fico contente em saber que ao contrário de outros filmes vistos na época, este ainda me emociona.
   Glenda Jackson faz a esposa ninfo de Piotr. Ela era a atriz da moda em 1971. Havia ganho um Oscar por MULHERES APAIXONADAS e ganharia o segundo em 1973 por UM TOQUE DE CLASSE. Vinda do teatro de Peter Brook, assim como Julie Christie e Vanessa Redgrave, Glenda jamais quis ser uma estrela. Largou o cinema no fim dos anos 70 para se dedicar a politica. Foi uma das maiores inimigas de Thatcher. Ela, como tudo no filme, não tem medo. Faz cena de nú grotesco, e tem cena em hospicio de entrega absoluta. É uma mulher feia, quase masculina, mas que tem um estranho sex-appeal. Magnética ao extremo. Richard Chambelain, ator estrela da época na TV, foi esculhambado por sua atuação. Eu o vejo ok. Tem os olhos lânguidos que o personagem pede.
   Há uma tradição inglesa de grandes fotógrafos de cinema. Ela nasce lá nos anos 40 com Jack Cardiff e Guy Green, e segue com Oswald Morris, Freddie Young, Nicholas Roeg, Geoffrey Unsworth,Gerry Fischer, Ernest Day e aqui o barroco Douglas Slocombe. A fotografia deste filme foi aquela que aos 16 anos me fez notar o quanto um filme pode ser bonito de se olhar. Suntuoso. Cada fotograma é uma pintura à Gainsborough. Sim, Gainsborough na Russia.
   O filme é ridiculo. Algumas cenas parecem circo e depois carnaval. Ken Russell joga tudo no lixo, roteiro e dramaticidade em troca de uma cena "barroca". Erra muito. Mas o que sentimos? Nenhum tédio, nenhum momento de irritação e uma sensação de leveza e de breguíssimo sublime.
  Não sei voce, mas eu adoro!