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A LOJA DA ESQUINA - ERNST LUBITSCH, TALVEZ O MELHOR FILME DE HOLLYWOOD

Pauline Kael o chamava de um filme perfeito. Eu o revi pela segunda vez após mais de 15 anos e fiquei impressionado. O filme nada tem de sensacional, de fantástico, de mágico, mas é completamente real, envolvente, convincente, atemporal ( sim, este é um Lubitsch nada velho ), sublime. ------------ Na primeira cena vemos funcionários chegando para trabalhar numa loja. A peça em que o filme se baseia é húngara e Samson Raphaelson, o roteirista, mantém o local e os nomes dos personagens: estamos em Budapeste. Cenário e iluminação perfeitos, é uma linda manhã numa rua cheia de vida. Conhecemos então os personagens através de um caso: o patrão deverá comprar cigarreiras ou não? Eis como se faz uma cena perfeita: somos apresentados à todos os atores de modo natural, simples, sem forçar nada. James Stewart é o empregado mais próximo do patrão, o chefe é um tipo simpático, hesitante, inseguro, nervoso. Feito de modo esplêndido por Frank Morgan. Joseph Schildkraut é o vendedor mais velho, inseguro, coração mole, casado, conformado. Há ainda duas vendedoras e o garoto das entregas. Em poucos minutos voce conhece todos, e conhece-os bem. A loja se torna uma ambiente acolhedor, voce está em casa. --------------- Surge então o primeiro tema do filme. Através de anuncios de jornal, prática comum antes da internet, James Stewart conhece uma moça. Se identificam sem nunca terem se visto. Ele, tímido, teme o primeiro encontro. Uma mulher, Margaret Sullavan, vem pedir emprego na loja, e não há problema algum em adivinharmos que é ela a moça do jornal. Stewart não sabe, ela não sabe, nós sabemos. Contratada, os dois passarão o filme todo antipatizando um com o outro. Ela o vê como um tipo de frio e banal funcionário, ele a vê como vaidosa e distante. --------------- Surge o segundo tema, o patrão começa a ter comportamento estranho. Saberemos o motivo mais tarde. De certo modo Frank Morgan é o centro do filme, é ele quem move o destino. E sofre por ele. Não se trata de uma comédia e nem de um drama, este filme é uma história, humana e real. Simples e encantadora. ---------------- Há uma cena, já perto do final, em que todo o grupo e funcionários está ao redor da caixa registradora. O patrão, de volta do hospital onde fora internado, distribui bonus aos empregados. Todos sorriem, falam, estão prontos para ir comemorar a ceia da Natal. Nesse momento tive um desses raros momentos em filmes: vi o conjunto dos atores e percebi o quanto aquilo parecia real, verdadeiro, humano. Mas quero dizer que era mais que isso, aquele momento era a humanidade em seu melhor, um momento de perfeição, uma daquelas cenas que parecem dizer algo do tipo: Eis a humanidade, voces são nobres, creiam nisso. ------------------ O modo como James Stewart e Margaret Sullivan se reconhecem não poderia ser melhor. Não é " de cinema", não é cômico, não é choroso. Ela simplesmente percebe, ele deixa que ela saiba. Uma cena feita com tão grande habilidade que me comoveu profundamente. Diretor e atores em sintonia perfeita. Sentido de timing exato. E dois atores em seu melhor. É uma das maiores cenas da história e das menos sensacionais. ------------ Não há como elogiar o bastante um ator como James Stewart. Pense em tudo que ele fez e se ajoelhe. Ele estava lá, nos melhores Hitchcock. Nos melhores westerns. Nas melhores comédias. Nos Frank Capra históricos. E está aqui. Não houve e não haverá ator mais icônico. Já Margaret Sullavan é uma atriz mais esquecida hoje. Mas foi grande e foi das melhores. Morreu tragicamente cedo, e isso explica seu quase esquecimento. Não era glamurosa. Como Stewart, era real. -------------------- Este não é um filme velho como LADRÃO DE ALCOVA porque o mundo que ele retrata ainda existe, embora quase extinto. Um filme deste tipo poderia hoje ainda ser feito no Japão ou na China, mas seria impossível no mundo cínico da Europa ou dos EUA. Lubitsch crê na bondade, crê nos bons sentimentos, crê nas pessoas. O filme dignifica o ser humano. É lindo.

WINCHESTER 73, UM FILME DO GRANDE ANTHONY MANN

Reassisto este western em preto e branco de 1950. Primeira coisa que relembro: a fotografia maravilhosa de William Daniels. Mas não dá pra pensar muito nisso, a ação não para. Começa com a disputa pelo grande prêmio, uma espingarda Winchester 1873, a mais preciosa, cara e moderna arma de então. Faz-se um tiro ao alvo. Stewart vence. Mas não leva. Raivoso, ele persegue o ladrão de sua arma. Perde a pista, reencontra. Mas o filme não é só isso. Não é um simples gato e rato. Personagens entram, saem, pequenas histórias, caracteres grandes, bem definidos e naturais. Borden Chase, um dos melhores escritores de westerns, desenvolve a aventura com finesse, com maestria. Tudo conduz ao grande final, sem forçar nada, sem artificialidade alguma. É uma das melhores aventuras do cinema. -------------- James Stewart e Anthony Mann formaram, quase por acaso, uma parceria nos anos 50. Todos os filmes foram faroestes e todos exibiram um lado de Stewart desconhecido até então. James Stewart se tornara uma estrela fazendo o americano batalhador dos filmes de Frank Capra e depois em comédias e filmes de fantasia. Seu tipo era sempre o do homem bom, simples, de fé. Nos westerns com Mann não foi assim. Stewart continua sendo um tipo de heroi, mas ele mostra ódio, desejo de vingança, dor e um lado sombrio imenso. ------------ Recentemente James Stewart foi considerado o ator que mais fez clássicos e grandes filmes em toda a história. Se voce pensar que enquanto filmava com Anthony Mann ele se preparava para um Hitchcock, um John Ford ou um Billy Wilder, voce entenderá o porque dessa glória toda. -------------- Anthony Mann não fez em toda vida um só filme ruim. Começou com policiais noir nos anos 40, passou aos westerns nos anos 50, ainda produzindo incursões em biografias e romance. Nos anos 60 se tornou autor de grandes épicos. A crítica economizava em elogios. Eu não entendia porque. Bem... ele era apolítico. Morreu cedo no meio de uma filmagem em 1966. Possuía um estilo visual perfeito. Contava a história em imagens. Há diálogos bons, mas voce entenderia a história mesmo com o som desligado. Em seus filmes, em nossa memória, o que lembramos são ações, movimentos, imagens. Ele jamais exagera. E nunca perde o ritmo. Não são filmes corridos e nem lentos, são exatos. ----------------- Winchester 73 é um filme perfeito.

ROGUE ONE...CAPRA...CHARLES BRONSON...WOODY...WARNER EM GRANDE ESTILO

   ROGUE ONE, UMA HISTÓRIA STAR WARS de Gareth Edwards com Felicity Jones
Nada a ver com a saga de Lucas. É um chatérrimo filme escuro e bem nojentinho endereçado para aqueles teens que acham Star Wars "muito infantil". Para lhes agradar, deram um banho de sujeira no visual da saga, filmaram tudo à noite e aumentaram o niilismo. Isso, faz de conta, é ser mais adulto. Bullshit. Star Wars, e o último episódio mostrava isso, é solar, alegre, leve, e bem anos 30. Este é apenas mais um produto dos anos 2000. Pior, a história, boba, não interessa. Os personagens são esquecíveis e o humor partiu para bem, bem longe. Um lixo.
   ANTHONY ADVERSE de Mervyn LeRoy com Frederic March, Olivia de Havilland, Claude Rains, Edmund Gwenn, Anita Louise.
Warner anos 30. Era assim que se fazia um filme de Oscar: um best seller é comprado. Se faz um roteiro. Se escolhe um elenco e se constroem os cenários. Só então se escolhe um diretor. A história tem de ser longa e rocambolesca. O filme deve agradar o universitário de NY, mas também o caipira de Nebraska. Era um trabalho árduo. O produtor era o cara que unia tudo isso. O filme seguia seu instinto. ( Nada de pesquisas baby ). Aqui temos um ótimo exemplo. O livro, a saga, vai da Itália à Africa, passa por Cuba e Paris e acaba no mar. Se passa entre 1780-1795, época romântica. Os atores são excelentes e todos têm o tipo físico perfeito. O time de coadjuvantes têm carisma e são velhas caras conhecidas. A trilha sonora, de Korngold, é fantástica. Temos romance, tragédia, muita ação, vingança, fugas, golpes, crueldade, dor. As cenas na África são geniais, o filme cresce em seu miolo. Cresce muito. March, um dos grandes atores da época cheia de grandes atores, leva o personagem à perfeição. Consegue fazer crível. Dura quase 3 horas e é um prazer. Seu único defeito é seu final, um pouco corrido demais.
  O SÉTIMO CÉU de Frank Borzage e Henry King com Janet Gaynor e Charles Farrell ou James Stewart e Simone Simon.
Saiu em um DVD a versão original, de 1927, muda, e a refilmagem, de 1936. Fazia tempo que eu não via um filme mudo. Havia esquecido da riqueza das imagens. Os sets neste filme são deslumbrantes. A pobreza de um bairro parisiense made in Fox. Muito clima, muito gótico, muito belo. A versão de 36 ainda conserva a beleza do set, mas a ênfase vai para a ação e não ao clima. O plot fala de um limpador de esgotos que se envolve com uma menina suicida. Há diferenças imensas entre os dois. É uma refilmagem como deve ser, totalmente original. Vale ver. Mas o de 27 é bem melhor. Ambos foram grandes cineastas do começo do cinema.
   PERSEGUIÇÃO MORTAL de Peter Hunt com Charles Bronson e Lee Marvin.
Caramba, ele é bom! Bronson, no Alasca de 1930, salva um cão de uma briga de cachorros. Mas com isso, passa a ser perseguido pelos amigos do dono do cão. Não é um filme de cachorro, o bicho logo morre. É sobre matar para poder viver. Sobre neve. Sobre virilidade. O filme parece ser ruim, mas engrena, e após 20 minutos vemos que é um bom filme para homens. Simples. Bem simples.
  CAFÉ SOCIETY de Woody Allen com Jesse Einsenberg e Kristen Stewart.
Um cara tem de ser muito narcisista para passar toda a velhice refazendo o mesmo filme. Voce já viu cenas de casais andando no parque, voce já viu declarações de amor junto a uma ponte. Voce já escutou as falas pseudo chiques. Voce já viu esses personagens em filmes menos ruins. Mal acredito na cara de pau do sr. Allen. Ele muda o elenco, mistura cenas e refaz um filme de Woody Allen. É óbvio, é bobo, é brega, é chato.
   MIL SÉCULOS ANTES DE CRISTO de Don Chaffey com Raquel Welch
É isso. Humanos e dinossauros vivem na mesma terra e lutam entre si. Sim, em 1966 todo mundo sabia a mais de século que eles não conviveram...mas e daí!!! Em 2017 a gente assiste gente que lança teias e voa em armaduras e não liga! O filme é um desfile de Welch, a sex symbol da época, em bikini de peles. Lindona.
   FARSA TRÁGICA de Jacques Tourneur com Vincent Price e Peter Lorre.
Horror barato em chave de humor. Price mata pessoas para fazer sua funerária crescer. Sua atuação é o máximo do camp. Falsa, cínica, vaidosa, afetada, deliciosa. Voce vê o filme para o amar. E é só.

UMA DAS JÓIAS DE FRANK CAPRA: DO MUNDO NADA SE LEVA.

   Um grande empresário precisa derrubar um quarteirão de casas a fim de construir uma nova fábrica. Mas, um dos proprietários não quer sair de lá. Enquanto isso, o filho do tal magnata, se enamora de sua secretária. Mais tarde iremos saber que ela é filha do dono do tal imóvel, e que a família snob do rapaz irá pensar que tudo é um golpe do baú.
   Mas todo esse plot é secundário, o tema central é a família que vive na casa. Lá, cada um faz aquilo que deseja fazer. Desse modo, uma filha dança porque ama dançar, a esposa escreve porque gosta de usar a máquina de escrever. O marido da dançarina toca xilofone, há dois agregados que fabricam fogos de artifício. Todos são péssimos no que fabricam ou fazem, e nenhum busca reconhecimento algum. O que eles desejam é poder fazer, não ser alguma coisa. Para todos eles, ser é fazer.
  Capra faz um filme, vencedor do Oscar de 1938, que hoje seria considerado esquerdista. Ele ataca os industriais gananciosos, os politicos ladrões, a ambição e a fama. E defende, ardorosamente, a constituição, a justiça e os pequenos trabalhadores. Mas não se iluda, os valores de Capra sãos os dos bons imigrantes americanos: trabalho honesto, propriedade como um tipo de reino particular e o respeito à tradição. Chestertoniano até o osso.
  O elenco faz magia. Lionel Barrymore é o pai. Coleciona selos, foi rico, largou tudo para viver nessa casa maluca. James Stewart é o filho do magnata. Não poderia ser mais cativante, sua inocência é crível. Jean Arthur é a filha-secretária-namorada. O tipo do personagem que emancipou as mulheres nos anos 30. E temos ainda uma troupe de grandes atores, todos, de Ann Miller à Mischa Auer brilhantes! O filme nos faz felizes.
  Frank Capra foi o grande diretor popular dos anos 30. Seus filmes, feitos entre 1932-1939, afirmaram a politica de Roosevelt. Eram lições de civismo e de otimismo. Com William Wyler e John Ford, eles formavam a trinca mais poderosa do cinema de então. Após a guerra, onde serviu, Capra mudou, e seus filmes adquiram um amargor que antes era muito bem disfarçado. É dele o mais amado filme de natal de todos os tempos, IT'S A WONDERFUL LIFE, feito já com a acidez de 1946.
  Este filme é uma de suas jóias.

MAX OPHULS/ JASON REITMAN/ GEORGE CUKOR/ JAMES BROWN/ LUC BESSON/ MYRNA LOY/ JEAN RENOIR

   HOMENS, MULHERES E FILHOS de Jason Reitman
É um daqueles dramas que eu chamo de "drama do abat-jour pastel". Tudo filmado no escurinho, em tons pastéis, com as pessoas falando baixinho, com suas caras sem expressão. Tenho uma colega que é mormon. Incrível como a América é marcada por essas religiões da limpeza, do comedimento, da ordem. Tudo se parece com ela, as roupas, as caras, o modo de viver e de reagir. O filme tem cenas de sexo, claro que vestidas, o filme fala de um mundo interligado, claro que superficialmente. E ainda termina com cenas bastante apelativas, digna do pior de Party of Five. Aliás, eu tenho uma teoria de que Party of Five, com seus teens falando baixinho e seus climas pastéis ( e aqui as pessoas chegam a ler no escuro ), é a realização cultural americana mais influente dos últimos 30 anos. Mais que Sopranos, Pulp Fiction ou X Men. A trilha sonora é sonâmbula. Por outro lado, o filme não me cansou, não me entediou e me fez sentir pena daquilo que fazemos com os pobres adolescentes...pobrezinhos. Só que o buraco é bem mais embaixo. Nota 4.
   JAMES BROWN de Tate Taylor
Das biografias que não param de produzir, esta é das menos óbvias. Isso porque se evita a odisséia das drogas e álcool, que estragou a bio de tanta gente. O filme tem uma excelente recriação do Alabama negro da década de 30 e sabe usar as músicas sem exagero. Uma coisa ótima:: as cenas musicais sabem passar a energia do som de James Brown, o cara que mais mudou aquilo que se entende por pop music. Brown trouxe o ritmo para o centro do som e desse modo criou o som de nosso tempo. O filme não é triste, é bem editado e diverte. Legal. Nota 6.
   UM AMOR DE VIZINHA de Rob Reiner com Michael Douglas, Diane Keaton
Deus meu que filme vazio! O planeta está envelhecendo e é isto que oferecem a esse público? A batida história do cara viúvo, ranzinza, que conhece uma maluquinha divorciada e após muitas brigas ficam juntos. God! Isso já era velho em 1970! Tudo bem, nada impede mais um plot batido, desde que bem feito, fresh, vitalizado. Jack Nicholson e a mesma Diane fizeram isso muito bem em 2000. Aqui não! Nota 1.
   AS DUAS FACES DE JANEIRO de Houssein Amini com Viggo Mortensen e Kirsten Dunst.
Em 1960 René Clement fez o filme mais elegante da história do mundo. Com roteiro de Patricia Highsmith, O Sol Por Testemunha, um suspense digno de Hitch, teve a sorte de capturar a Europa em seu momento mais classudo. Era aquele classudo esportivo, leve, fresco, que foi destruído pela onda hippie a partir de 1966. Este filme, também baseado em Highsmith, tenta esse clima classudo todo o tempo. Se passa em 1962, a beira do Mediterrâneo, e os atores se vestem naquele estilo despojado com finésse da época. Mas assim como o suspense vira brutalidade, a elegância vira afetação. Fake ao extremo, mesmo o ótimo Viggo e uma Dunst linda de doer não salvam a gororoba. Fuja! Nota 1.
   3 DIAS PARA MATAR de Luc Besson com Kevin Costner, Amber Head e Connie Nielsen
Quer saber? Bom pacas! Muito bem dirigido em suas cenas de ação, que são poucas, o filme tem trama, tem suspense, surpresas e um Costner na ponta dos cascos. Vale muito a pena! É melhor que um monte de besteiras tratadas como arte só por sua lentidão e pretensão. Nota 7.
  NÚPCIAS DE ESCÂNDALO de George Cukor com Katharine Hepburn, Cary Grant, James Stewart.
A peça de Philip Barry deu dois filmes clássicos, este, o melhor, de 1940, e Alta Sociedade, de 1956. Kate fez a peça em NY e a comprou. O filme salvou sua carreira. Ela faz a mimada socialite prestes a se casar pela segunda vez. Cary, no auge do relax, é seu ex-marido e James Stewart ganhou um Oscar fazendo um repórter que vai cobrir a festa. Sinal dos tempos, um repórter num casamento rico é considerada coisa de extremo mal gosto! O filme é um souflé perfeitamente realizado: leve, gostoso, chic e inesquecível. Os diálogos voam como tiros de açucar e os atores parecem brilhar com papéis que pedem esse brilho. É um filme obrigatório para quem ama a palavra no cinema. A edição do dvd traz um doc sobre Kate que vale muito ser apreciado. Ela foi única! Nota DEZ.
  TOO HOT TO HANDLE de Jack Conway com Clark Gable, Myrna Loy e Walter Pigeon
Hummm....este filme choca um pouco por seu machismo, racismo, e sua defesa do mau caráter "legal". Se voce conseguir relativizar tudo isso terá um agitado filme de sucesso típico do mais pop dos anos 30. Clark é um fotógrafo de jornal que vive usando mentiras para vender suas fotos. Pigeon é seu rival. Myrna Loy é uma milionária que vai a Guiana para procurar o irmão perdido na selva. Clark era na época o modelo do macho sexy. Gary Cooper era mais bonzinho, Cary Grant mais chic, Charles Boyer o romantico, e Clark o homenzão. Dos 4 é hoje o mais ultrapassado. Mas o filme diverte, diverte como um tipo de cartoon absurdo, um pastelão onde tanta coisa acontece que a gente fica até tonto de ver. Nota 6.
   OS SETE SUSPEITOS de Johnathan Lynn com Tim Curry, Madeline Kahn, Christopher Lloyd
Um bando de tipos estranhos são convidados a uma casa. Lá, um por um começam a ser mortos. Vi o filme por causa de Tim Curry, ator que é sempre um show. Ele quase consegue salvar o filme, mas o roteiro, de John Landis, é um desastre! Mesmo o clima soturno é mal realizado. Nota 3.
   BOUDU SALVO DAS ÁGUAS de Jean Renoir com Michel Simon
Ah o sacrifício que a gente fazia pelo cinema....Eu tinha visto este filme numa cópia horrível nos anos 80, na TV. Era um borrão truncado. Aqui está a cópia nova! O filme brilha! É um dos clássicos de Renoir, e como todo filme de Renoir, ele nos desconcerta! Boudu é um vagabundo que cai no Senna. Recolhido por um senhor burguês, ele se mostra um homem irritante. Boudu seria um tipo de homem "foda-se", o cara que não tá nem aí, que não liga para educação ou bons modos. O filme fica assim duro de ver, porque Boudu nos irrita. Ele  mal agradecido, egoísta, sujo, mentiroso, um chato. Mas não sei porque, quando ele termina, e só quando termina, sentimos ter gostado do filme. Estranhamente, parece que pressentimos que havia algo ali. Bom, as cenas de rua são lindas! Renoir mostra a França de 1933, coisa rara então, e essas tomadas nos encantam. É um filme que preciso rever.
   LA RONDE de Max Ophuls com Simone Signoret, Gerard Philipe, Daniel Gelin, Danielle Darrieux, Simone Simon, Fernand Gravey e Jean-Louis Barrault
Lindo, alegre, mágico, encantador. Ophuls dá uma aula de cinema. Como diz PT Anderson no post abaixo, os personagens dão aos atores a possibilidade de atuar, Anderson mostra uma tomada, sem cortes, onde a câmera roda pelo set e deixa a atriz, Darrieux, atuar. Todd Haynes em outro post abaixo fala da beleza dos filmes de Ophuls. Este filme é uma dádiva, um presente, um prazer. Nota DEZ!

HITCHCOCK/ POWELL/ CAROL REED/ JACK CARDIFF/

   GESTAPO de Carol Reed com Margaret Lockwood, Rex Harrison e Paul Henreid
Ando revendo filmes ingleses. Carol Reed forma, ao lado de Powell, Lean e Hitchcock, o quarteto soberbo do cinema clássico da ilha. Cada um com seu estilo definido, eles são mestres consumados e sábios em sua forma de narrar e de seduzir. Reed é o mais realista. Aqui ele narra um jogo de gato e rato entre dois inimigos, um nazista e um inglês, ambos em busca de um cientista. Rex já tem aqui desenvolvida sua forma de atuação, leve, sorridente e elegante. O filme é pura diversão e demonstra magnificamente o modo como os ingleses se percebiam a si-mesmos. Nota 7.
   E UM DE NOSSOS AVIÕES NÃO REGRESSOU de Michael Powell
Revejo os filmes menos famosos de Powell. O modo como ele e Pressburger viam a guerra tem muito a nos ensinar. Ele nunca deixa de ser patriota, afinal, este filme foi feito durante a guerra, mas o modo como ele vê os alemães é não só humano como também corajoso. Eles são gente também, diferentes dos ingleses, lutam pelo lado errado, mas não são monstros, têm alma. Aqui é narrada a missão de um grupo de aviadores que ao voltar de um bombardeio em Stuttgart são alvejados e caem na Holanda. A população holandesa os ajudará a voltar a sua terra. É um belo filme e tem retrato carinhoso do homem comum, não dos heróis. Nota 7.
   PARALELO 49 de Michael Powell com Laurence Olivier, Leslie Howard e Eric Portman
Um grupo de marujos alemães é atacado nas costas do Canadá. Seu submarino afunda e eles devem em terra conseguir voltar a Alemanha. Este é o filme que deu fama a Powell. Sucesso nos EUA, é uma linda aventura filmada no Canadá. Os alemães são individualizados, sim, há um vilão, mas também há um alemão bom. Ver este filme durante a guerra deve ter sido muito estimulante. Nota 7.
   A BATALHA DO RIO DA PRATA de Michael Powell com Peter Finch e Anthony Quayle
Aqui já estamos na fase dificil da carreira de Powell. Feito nos anos 50, o filme fala de um navio alemão famoso por afundar navios mercantes aliados nas águas do Atlântico Sul. O que se narra é sua caçada e sua agonia. Powell mostra o capitão do navio alemão como um homem honrado, quase um herói trágico. O estilo de Powell está todo aqui, ele exibe com calma e cuidado a civilidade dos homens, a camaradagem e o respeito entre os iguais. O filme emociona, mas em seu inicio pode irritar, não estamos acostumados a tanta educação! Revisto, este filme cresceu muito em meu conceito e hoje é dos meus filmes de Powell mais queridos. Estranha a sina desse diretor, a de ser querido só em revisões...todos os seus filmes me decepcionaram na primeira vista ( inclusive Red Shoes ) e se tornaram gigantes na segunda olhada. Nota 9.
   FESTIM DIABÓLICO de Alfred Hitchcock com James Stewart, John Dall e Farley Granger
Que delicia!!! É o famoso filme de Hitch sem cortes. Eu o adoro, mas Hitch não gostava dele. Um casal gay mata um amigo só pelo prazer de cometer uma obra de arte. Convidam os pais da vitima para jantar, e o corpo está dentro de um baú que é usado como mesa de jantar. Dá pra ser mais macabro? O pai come carne sobre o corpo do filho. O humor de Hitch raras vezes foi tão afiado. James Stewart entra em cena como o professor dos assassinos. E nós nos alegramos ao rever esses ator-amigo. O filme é absolutamente perfeito. Nota DEZ.
   CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO de Alfred Hitchcock com Joel McCrea, Larraine Day e George Sanders
O excesso de ação atrapalha a narrativa desta aventura de Hitch. Joel é um repórter americano que vai a Holanda cobrir a guerra. Se envolve em jogo de espionagem. Sanders é excelente, mas Joel e Day são muito peso leve, estão no filme errado. Nota 6.
   OS PÁSSAROS de Alfred Hitchcock com Rod Taylor, Tippi Hedren e Jessica Tandy
Uma mulher destrói a harmonia masculina de uma comunidade. Sim, esse é o sentido do filme. Desde a cena na loja de pássaros, até o final inesquecível, todo lugar em que ela pisa surge uma ameaça. Pássaros se juntam e passam a atacar. É um dos filmes aparentemente mais simples de Hitch e o mais absurdo ( em superficie ). Mas seus medos estão todos aqui.  O maior de todos seu pavor das mulheres. Falar de suas cenas é chover no molhado, o filme é muito conhecido. As melhores são aquela que mostra os pássaro se reunindo atrás de Tippi, e o final, eles andando em meio as pássaros que se aquietam, talvez porque ela foi vencida... Vi esta obra-prima pela primeira vez em 1973, na velha TV Tupi. Eu era criança e confesso que tremi todo o tempo. Era uma época bacana pra se assistir filmes de suspense, basta dizer que o silêncio na rua ainda existia e a iluminação lá fora era precária. Nota DEZ.
   FILHOS E AMANTES de Jack Cardiff com Dean Stockwell, Wendy Hiller e Trevor Howard
O mundo de D.H.Lawrence levado ao cinema. Numa comunidade pobre da Inglaterra, vemos uma familia de mineiros. Uma familia infeliz, onde o pai violento tem rancor pelo filho que o renega e a mãe, hiper protetora, mima esse filho que quer ser pintor. A vida desse filho é destruída pelo meio em que vive. Parece bom, mas não é. O primeiro erro é Stockwell. O outro é a falta de criatividade de Cardiff. Ele foi o grande diretor de fotografia de Red Shoes, mas como diretor nunca funcionou.  O filme é chato. Nota 3.

MASAYUKI SUO/ KATE WINSLET/ MICHAEL DOUGLAS/ LANG/ KEVIN KLINE

   ATRÁS DO CANDELABRO de Steven Soderbergh com Michael Douglas, Matt Damon, Debbie Reynolds e Rob Lowe
Soderbergh consegue algo muito dificil, pegar um tema "brega", exagerado, over, e fazer com que ele jamais caia na ironia, na comédia. Nem drama, nem comédia, jamais frio ou boring. Escrevi sobre o filme abaixo, Liberace foi um superstar queridinho da direita americana. O fato de seu público jamais suspeitar de sua homossexualidade é um mistério. Michael Douglas consegue ser Liberace sem parecer fake. Liberace já era uma caricatura natural, Douglas faz um milagre, consegue deixar Liberace humano sem deixar de ser "Liberace". Damon está ótimo. Natural, não forçado. Na verdade até Lowe está ótimo. Debbie Reynolds está de volta, a mítica estrela adorável de Cantando na Chuva, é a mãe de Liberace. Soderbergh diz que cansou de mendingar dinheiro a produtores idiotas. Será? Vale aqui um adendo: Produtores sempre brigaram com diretores. Ninguém gosta de perder dinheiro. A diferença é que Jack Warner ou Irving Thalberg adoravam filmes. Só sabiam viver de cinema, amavam salas de exibição, atrizes, roteiros, sets. Hoje os produtores mal viram um filme de Hitchcock. É gente que entra no ramo como forma de fazer dois bilhões. Pouco se importam com os filmes, têem outros investimentos, cinema é um entre muitos. Isso faz toda a diferença. São inacessíveis para quem não fala de capital e de dividendos. Mataram o filme médio. Investem em produções caras e jogam esmolas para filminhos minúsculos. O filme médio, aquele tipo de filme que era feito por Hitchcock ou Ford, esse morreu.... Quanto a Liberace, eis um bom filme médio. Nota 7.
   CASAMENTO PROIBIDO de Fritz Lang com Sylvia Sidney e George Raft
Raras vezes vi um filme tão esquisito. Lang diz numa entrevista que tentou fazer um filme educativo, como as peças de Brecht. Usou Kurt Weill neste filme. Fala de uma loja onde trabalham ex-presidiários. O filme fala de segunda chance. Daí vemos um casal que se ama e se casa. Mas ela esconde dele seu passado, foi uma detenta. O marido volta às más companhias e tenta assaltar a loja. Ela demonstra aos bandidos como roubar não dá lucros. Numa lousa ela mostra por a mais b que o lucro de um assalto é muito baixo. E o filme é isso: comédia? drama? lição? O que é? Nenhum diretor icônico errou tanto como o grande Fritz Lang. Morreu correndo riscos, sempre. Este é um de seus maiores erros. Nota 3.
   PARKER de Taylor Hackford com Jason Statham, Jennifer Lopez e Nick Nolte
Será que o veterano diretor de "Ray" consegue fazer um filme de ação? Este começa mal. Sangue demais e nenhum humor. Statham é um ladrão. Traído pelos comparsas ele parte para a vingança. O filme encontra seu tom quando Jennifer entra em cena. Aí ele cresce e se torna mais leve e mais esperto. Ela é uma corretora de imóveis que é envolvida sem querer. Bonita, Jennifer Lopez sofre a maldição das cantoras que querem ser atrizes, é subestimada. Não é pior que René Zellweger ou que Sandra Bullock, mas Sandra e René não cantam, são atrizes "de verdade". Ela traz humor ao filme. A ação melhora, Jason se humaniza. O filme, que era ruim, fica bom. Hackford é competente. Nota 5.
   OS CHACAIS DO OESTE de Burt Kennedy com John Wayne, Ann Margret, Rod Taylor
Wayne em fim de carreira e mais um de seus westerns humorísticos. Bom passatempo numa história que conta a busca por dinheiro roubado. Boa fotografia e quase nada de trama. Nota 5.
   RAÇA BRAVA de Andrew V. McLaglen com James Stewart, Maureen O'Hara, Brian Keith e Juliet Mills
Keith dá um show como um escocês criador de gado no Texas. O filme fala de um boi de raça inglesa, que uma viúva tenta implantar nos EUA. Parece um tema bobo, ele é. Mas levado com bom-humor se torna um gostoso e divertido filme. Stewart se diverte fazendo seu tipo padrão. O caipira bom de cintura. Nota 6.
   LIFE AS A HOUSE de Irwin Winkler com Kevin Kline, Kristin Scott Thomas, Jena Malone
Um homem a morte resolve antes de se ir construir a casa de seus sonhos. Sim, lembra "Viver!" a obra-prima de Kurosawa sobre a morte. E é claro que não chega perto. Mas não é ruim. Kline é sempre um bom ator e aqui ele faz uma bela composição. Seu personagem é um desajeitado, um perdedor, mas nunca chorão. O filme é meio frio. Winkler é um grande produtor veterano que às vezes resolve brincar de ser diretor. Nunca acertou um grande filme, mas também não comete asneiras. Nota 6.
   IRIS de Richard Eyre com Judi Dench, Jim Broadbent e Kate Winslet
Sim, ela é a grande Iris Murdoch, uma das melhores autoras inglesas. A vemos aqui em dois momentos: na velhice, com parkinson, e na faculdade, descobrindo a filosofia de sua vida. Nos dois estágios ela é sempre confiante, radiante e corajosa. Judi Dench brilha intensamente. Nunca sentimos pena de Iris. Ela tem tanta vida que vive a doença. Kate Winslet está muito bem. Sua Iris é uma egocêntrica sonhadora. Jim Broadbent está a altura de Judi. O filme na verdade é todo dele. Emocionante. Nota 7.
   HOLY SMOKE de Jane Campion com Kate Winslet e Harvey Keitel
O pior filme de Kate ( e ela tem muitos ruins ) e o pior de Harvey ( que tem toneladas de lixos ). Ela é uma doidona que é tratada pelo esquisito Keitel. Jane Campion dirige mais doida que os dois, o filme não faz sentido. Se voce quer ver Kate Winslet urinar de pé, este é seu filme. Nota ZERO.
   O SEGREDO DE ROAN INISH de John Sayles
Filmado na costa oeste da Irlanda, em meio aos pescadores, este filme lento fala de uma menina que visita seus avôs. Irá conhecer as lendas do lugar. Quase nada acontece. Mas é bom de ver. E tem uma linda trilha sonora. Nota 6.
   VEM DANÇAR COMIGO de Masayuki Suo
É considerado um dos melhores filmes japoneses dos anos 90. Eu o considero uma obra-prima. Simples, triste, leve, fala de um funcionário de escritório, casado e timido, que resolve ter aulas de dança de salão. Ele e a professora têm um flerte, mas que dá em nada. Ele continua com a esposa. Tudo isso contado de forma velada, secreta, emocionante. É uma obra sobre os amores reprimidos, sobre vidas não vividas, ou então sobre o espírito da beleza e a delicadeza dos sentimentos. No final, há um concurso de danças, momento hilário que casa com a delicadeza do resto. Voce vai se apaixonar pelo filme e pelos personagens. É um filme inesquecível !!!! Nota DEZ!!!!!!!!

SOPHIA LOREN/ BILL MURRAY/ DASSIN/ BORZAGE/ ZINNEMANN/ HENRY KING

   UM FIM DE SEMANA NO HYDE PARK de Roger Michell com Bill Murray, Laura Linney, Samuel West e Olivia Colman
Que filme esquisito!!! Fala de um final de semana em que o rei da Inglaterra vem aos EUA com a rainha a fim de visitar o presidente Roosevelt. O rei deseja convencer os EUA a entrar na guerra. Adendo histórico: até então a politica americana era toda isolacionista. O país pouco ligava para a Europa. É aqui que o mundo muda e a América passa a se envolver com o planeta. O encontro é cômico. Roosevelt os recebe na casa de sua mãe, no campo. A realeza é abrigada em quarto comum e vão a pic nic. Esperteza de Roosevelt, assim a opinião pública americana, que odiava reis e Europeus, passa a ver o rei como "gente". O filme é esquisito por ser um  misto de drama e comédia, poesia e arte. É bonito de ver e tem ótimas atuações. Murray tem aqui seu melhor papel. Faz um presidente humano, simpático e mulherengo. Ele mantém um harém ao seu redor. O ator Samuel West faz o mesmo rei que Firth fez no ótimo Discurso do Rei. West está excelente. Hesitante, assustado, reprimido. Uma das amantes de Roosevelt morreu aos 100 anos e foi só então que encontraram esta história com ela. O filme é contado por seu ponto de vista. Aviso que ele começa meio chato e de repente te pega. Nota 6.
   O ÍDOLO DE CRISTAL de Henry King com Gregory Peck e Deborah Kerr
Uma chatice sobre Scott Fitzgerald e sua namorada Sheila Graham. Peck, que não está mal, bebe e bebe e bebe. Kerr é a amante que tenta o salvar. O filme é flácido, embolado, tolo. Nota 1.
   O CASTELO SINISTRO de George Marshall com Bob Hope e Paulette Goddard
Sátira aos filmes de horror. Tem um belo clima e é agradável. O humor de Hope envelheceu mal, o filme é alegre mas não nos faz rir. Dá pra ver. Nota 5.
   UMA AVENTURA EM PARIS de Jules Dassin com Joan Crawford, John Wayne e Philip Dorn
Assisti a caixa com seis filmes sobre a segunda-guerra. Dois deles são tão ruins que não consegui ver. Portanto não falo deles aqui. Este é bom. Mostra a Paris ocupada. Wayne é um piloto que tenta sair da cidade. Crawford ama um 'traidor". Dassin se tornaria depois um diretor maravilhoso. Aqui ele entrega um filme que se deixa ver. Há um belo suspense ao final. Nota 6.
   TEMPESTADES D'ALMA de Frank Borzage com James Stewart e Margaret Sullavan
Este é quase uma obra-prima. Na Alemanha, no começo do nazismo, vemos uma familia ser destruída. Filhos se tornam nazistas, crêem em Hitler e passam a perseguir amigos e vizinhos. Há um pai que é expulso da faculdade onde dava aula e acaba morto em campo de concentração. Stewart, sempre ótimo, é um vizinho que foge do país. Ele volta para salvar sua namorada. O final é bem triste. É um lindo filme. Borzage foi um dos grandes diretores do começo do cinema falado e do fim do silencioso. Nota 8.
   HORAS DE TORMENTA de Herman Shumlin com Bette Davis e Paul Lukas
Roteiro de Dashiell Hammet baseado em peça de Lillian Hellman. Paul Lukas ganhou um absurdo Oscar de melhor ator, batendo Bogey em Casablanca. O filme se passa na América e fala de refugiados. Lukas é um guerrilheiro anti-fascismo que é chantageado por canalha. O filme tem cena forte em que o canalha é morto a sangue-frio. Mas está longe de ser um grande filme. Nota 5.
   A SÉTIMA CRUZ de Fred Zinnemann com Spencer Tracy
Zinnemann sabia do que falava. Ele acabara de fugir do nazismo quando fez este filme. O futuro de Fred seria brilahnte: Julia, Um Passo Para a Eternidade, Matar ou Morrer... Tracy foge de campo de concentração com companheiros e tenta sobreviver. Todos são pegos e executados, ele não. Um achado do filme é mostrar sua reumanização. Algumas pessoas lhe ajudam e ele vai recuperando a fé nos homens. É um belo filme. Nota 6.
   A CIDADE DOS DESILUDIDOS de Vincente Minelli com Kirk Douglas, Edward G.Robinson, Cyd Charisse e Dahlia Lavi
Kirk é um ex-astro que está em clínica psiquiátrica. Tem alta e volta a ativa, Vai a Roma fazer filme com diretor americano decadente. O filme é tétrico. Todos são fracassados, destrutivos, amargos e vazios. Minelli via que seu tempo passara e faz um tipo de auto-retrato cruel. Estranho porque ele sempre foi um diretor amado pelo sistema que ele cospe em cima. Nota 3.
   JOÃO E MARIA CAÇADORES DE VAMPIROS de Tommy Wirkola com Jeremy Renner
Já esqueci deste filme. É um samba do crioulo doido. Se passa na idade média mas tem metralhadoras e roupas à Matrix. Eles NÂO caçam vampiros, são bruxas! Nota 2.
   SUAVE É A NOITE de Henry King com Jennifer Jones, Jason Robards e Joan Fontaine
Henry King novamente no mundo de Fitzgerald. É o último trabalho deste grande diretor. Robards faz o Dr. Diver que se destrói ao salvar Nicole da loucura. O filme se passa entre os muito ricos, hedonistas, futeis. A tragédia de Diver é lutar contra esse mundo, não aceitar o dinherio de sua esposa muito rica. O filme passa longe do romantismo de Scott, mas tem alguns momentos belos, fortes. Bons atores. Nota 7.
   PENA QUE SEJA UMA CANALHA de Alessandro Blasetti com Sophia Loren, Marcello Mastroianni e Vittorio de Sica
Marcello é um taxista. Sophia uma ladra e Vittorio o pai que rouba malas na estação de trens. Apesar de ser sempre feito de trouxa por Sophia, Marcello não consegue a odiar e cai irremediávelmente em suas artimanhas, sempre. O filme é alegre, leve, bom de ver. Atinge magnificência no trabalho dos atores. Sophia, muito jovem, está linda e atua de modo tão fácil, tão prazeroso que faz com que sua arte pareça a coisa mais simples do mundo. O esforço é o que diferencia o talento do gênio. O talento demonstra esforço, o gênio faz o grande com facilidade, como a brincar. Sophia é genial. Assim como Marcello. Que estupendo bobo é esse taxista! Ele passa todo o filme resmungando contra Sophia, tentando se livrar dela, mas sempre volta, vencido, ingenuo, absurdo. Amamos Mastroianni. E há De Sica, o malandro veterano, playboy, fino e mentiroso. O filme mostra uma Itália onde todos são ladrões e todos são feitos de bobos por uma bela mulher. Verdade? Nota 7.

MASTROIANNI/ SOPHIA/ 1941/ JOSH BROLIN/ ANTHONY QUINN/ DEANNA DURBIN

   GI JOE, RETALIAÇÃO de Jon M Chu com Channing Tatum e Dwayne Johnson
A equipe é traída pelo governo. Aquelas coisas, voce disfarça a patriotada com alguns politicos "do mal". O enredo é primário, mas a ação é bem ok. Dá pra ver sem se irritar. Depois de dois minutos terminado voce não lembra de mais nada. Não é exatamente isso que o povo quer? Nota 3.
   O PREÇO DE UM COVARDE de Andrew V. McLaglen com James Stewart, Dean Martin, Raquel Welch e George Kennedy
Martin é um ladrão. Pego pelo xerife é salvo da forca pelo irmão, Stewart. O xerife, que é um puritano, os persegue pelo deserto. Os bandidos levam Welch com eles, como refém. Stewart e Martin formam um boa dupla. Um já velho e bom moço, o outro amargo e rebelde. Concordo com Tarantino, Dean Martin foi um ator subestimado. O filme é legal e de todos os westerns de McLaglen que vi, diretor que erra muito, é o melhor. Bela diversão! Nota 7.
   1941 de Steven Spielberg com Dan Akroyd, John Belushi, Toshiro Mifune
É o filme que quase destruiu a carreira de Spielberg. Caríssimo, foi um hiper fracasso de bilheteria e de crítica. É um comédia histérica e muito sem graça. O humor parece aquele de meninos de 11 anos. Mais que grosseiro, ele é bobo. Bons atores são desperdiçados e atores ruins ganham papéis grandes. Após os sucesso de Jaws e de Close Encounters, Spielberg se dava mal. ET seria sua salvação na sequência. Fuja!
   UM RAIO DE SOL de Henry Koster com Deanna Durbin, Charles Laughton e Robert Cummings
O maravilhoso ator inglês Charles Laughton faz um milionário que está morrendo. Seu filho apresenta uma desconhecida como sua noiva ( ele não encontra a noiva verdadeira que está fazendo compras ). O velho se apaixona pela falsa noiva. O filho precisa manter a farsa. Henry Koster, o diretor do sublime Harvey, faz aqui aquilo que fazia melhor, filmes para se sentir bem. Tudo é artificial, falso, ingênuo? Que bom! Porque não podemos crer em nossa própria ingenuidade? Durbin foi a atriz que salvou a Universal da falência nos anos 30. Aqui, adulta, ela exibe sua leveza etérea de sempre. O filme é uma delicia. Nota 7.
   A 25# HORA de Henri Verneuil com Anthony Quinn e Virna Lisi
Quinn faz mais uma vez Zorba. Impressionante! Não conheço caso de ator que ficou mais preso a um grande papel. Após 1964, quando fez Zorba, Quinn passou trinta anos fazendo variações sobre Zorba. Aqui ele é um romeno que na segunda guerra é confundido com um judeu. Vai preso. Depois o confundirão com várias "raças" até que ao final vai a julgamento como um nazista!!! O filme é tão improvável, tão absurdo que se torna até cômico. Uma bobagem gigantesca. Ah! No começo Quinn dança! Como Zorba, claro! Nota 4.
   SOLARIS de Andrei Tarkovski
Poucos filmes mexeram tanto comigo. Ele me deixou muito introspectivo, triste, me sentindo isolado. A verdade é que me identifiquei com o personagem central. O filme fala das coisas que mais me absorvem: tempo, memória, amor e imaginação. É um filme chato, preciso dizer isso. Mas que consegue nos dar alguns momentos de beleza sublime. Romântico então, verdadeiramente romântico. Nota 9.
   CAÇA AOS GANGSTERS de Ruben Fleischer com Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn e Nick Nolte
Pessoas que nada entendem de filmes falaram que este era um film noir. Onde? É um filme de gangster! O filme noir tem um homem sózinho, confuso, tentando desvendar um mistério. O filme de gangster, que foi criado em 1930 com Scarface e Public Enemy, fala de grupo de tiras lutando contra uma organização criminosa. É este o caso. E devo falar que é um bom filme. O roteiro é bastante fraco mas ele é salvo pela direção cheia de ritmo e sem frescuras de Ruben. Josh Brolin é perfeito. Tem voz e rosto de homem, passa a sensação de verdade. Já Ryan está no filme errado. Parece um menino vestido com o terno do pai e fumando escondido. Sean Penn imita De Niro em seus piores dias. Parece Dustin Hoffman em Dick Tracy. Mesmo assim este filme, de visual lindo, diverte e nunca cansa. Um adendo: Que época é esta em que vivemos? Cenas de violência são mostradas em detalhes pornô e cenas de sexo são feitas com lingerie e puritanismo. Why? Porque sexo só pode existir em filme "doentio"? Sempre vindo em embalagem de mal, de distúrbio e de doença? Porque seios, bundas e pênis nunca surgem em filmes alegres, leves e pop? Mas corpos dilacerados e sangue jorrando podem? Welll....Dito isto, este filme vale um 6.
   UM DIA MUITO ESPECIAL de Ettore Scola com Sophia Loren e Marcello Mastroianni
Quase um milagre. Scola consegue fazer um filme tristíssimo que não entristece. Um filme hiper dificil que nunca aborrece. Um filme tipo teatro que não parece sufocar. Ele se passa em dois apartamentos e a trilha sonora é feita pelos sons do dia em que Hitler veio visitar a Itália de Mussolini. Sophia é mãe de filhos fascistas e tem um marido do partido. Marcello é um homossexual que foi expulso do trabalho por não ser " marido, pai e soldado". Os dois se conhecem e uma mudança acontece nela. Ou não? Scola dirige com uma delicadeza exuberante. Toda cena é suave, dolorida, desbotada. Nos assustamos com um fato: Como pode aquilo ocorrer? Todos, alegremente fascistas, comentando a beleza de Hitler, a sabedoria do Duce. Bem, falo agora dos dois atores. Sophia é uma grande atriz. Nas cenas finais ela comove em sua derrota. Ela está vencida, presa, humilhada. Mas é Marcello que atinge o sublime. Nunca assisti um retrato tão perfeito de um homossexual. Em cada movimento de suas mãos, de seus olhos, percebemos sua homossexualidade, sem caricatura, sem exagero, sem nada de ofensivo, natural. Quanta melancolia naquele homem, quanta raiva muda. Lembro que em 1977 ele concorreu ao Oscar e o perdeu para Richard Dreyfuss em The Goodbye Girl. Dreyfuss estava ótimo, mas isso aqui é histórico! Um belo filme. Nota 8.

PARA MEU AMIGO FABIO PAGOTTO- HARVEY E COLIN DAVIS

   Meu amigo Fabio Pagotto escreve no Facebook um texto lindo sobre o filme HARVEY. E para minha surpresa, uma galera enorme responde ao seu texto, entoando homenagens a esse soberbo e sublime filme de Henry Koster. Do que trata? James Stewart faz um frequentador de botecos. Sempre sorridente e otimista, ele tem a companhia de um coelho gigante, Harvey. Claro que o filme jamais mostra o coelho, o cinema em 1950 ainda tentava ser adulto. A familia, repressora, acaba por internar Stewart. É quando acontece a sua maravilhosa fala ( o roteiro, genial, é de Mary Chase ). Fabio transcreveu a fala inteira. Harvey é um pookah, espirito mítico da Irlanda que acompanha os bêbados e os ingênuos. Nessa fala o personagem de Stewart fala do coelho, da alegria da vida, dos amigos que ele e Harvey sempre encontravam. Impossível não se emocionar.
   HARVEY é um cult, foi o filme favorito de James Stewart ( um cara que fez mais de 20 graaaaandes filmes ), e percebo que manteve todo o poder de emocionar. Isso após 63 anos!!!
   Falando em Grande Arte, Colin Davis morreu. Se depender da Folha, isso é menos importante que a inauguração de uma loja. O Estadão deu meia página bem cheia. Falou quem ele era e o que fez. Davis foi parte da última grande geração de maestros. A geração de Abbado, Masur e Maazel. Últimos nomes de uma turma que estudou com os maestros ícones, aqueles que regeram no tempo de Strauss, Ravel e Mahler. Colin Davis teve a honra de redescobrir Berlioz e deixar obras primas em Mozart. Sua geração foi a primeira a saber usar os estúdios de gravação. Davis deixa mais de 300 albuns. Sabemos que o sublime se foi. 
   A vulgaridade manda no mundo como nunca antes. Blá!
   

PAYNE/ KEN RUSSELL/ JAMES STEWART/ JOHN WAYNE/ CORMAN/ LAURENCE OLIVIER/ MARILYN

   SIDEWAYS de Alexander Payne com Paul Giamamtti e Thomas Haden Church
Podem me xingar á vontade: não gosto de Paul Giamatti. Ele tem cara de quem está prestes a vomitar e esse enjôo passa pra mim. E quando não me faz sentir náuseas ele me faz dormir. O filme poderia ser bem melhor sem ele. Em compensação, gosto de Church. Merecia melhor carreira. Desde a tv que o acompanho. O filme é o mais fraco de Payne, dos poucos diretores atuais que não confunde arte com nojeira. Seu melhor filme ainda é ELEIÇÃO. Aqui é a história de amigos que partem para uma viagem atrás de vinhos. Encontram amor ( claro, é Hollywood ). Nota 5
   DELÍRIO DE AMOR de Ken Russell com Richard Chamberlain e Glenda Jackson
Eu estava meio sem pique com cinema e a revisão deste filme me fez voltar a sentir a paixão pela tela. Ken Russell nunca fez ou tentou fazer "bom cinema". Seu interesse era o carnaval. Temos aqui Tchaikovski como um gay que insiste em tentar ser hetero. E ele sofre como um São Sebastião  do pau oco. O filme, com uma foto espetacular de Douglas Slocombe, tem aquele exagero de cor e de movimento que é o estilo sem pudor de Russell. Glenda Jackson, estrela de gênio, se expõe numa patética cena de sexo. Nós não sabemos se é pra rir ou pra chorar...adoramos e nos divertimos à farta. Russell sacrifica verossimilhança ou sobriedade por cenas de furor e frenesi. O filme é um tipo de "Russia em Nilópolis by Joãozinho Trinta". Nada tem de real ou de simbólico, é somente imagem e som. Odiado em seu tempo, fracasso de público, hoje, em tempos menos exigentes, está reabilitado. Quando o assisti na tv em 1978 mudou minha vida. Lembro que pensei: "Cinema pode ser assim? " Falseando a vida e o cinema Ken Russell nos dá prazer. Escrevi critica sobre este filme abaixo, procure. Nota 8.
   O VÔO DO FÊNIX de Robert Aldrich com James Stewart, Richard Attenborough, Peter Finch, Ernest Borgnine e George Kennedy
Um grupo de soldados de várias partes do mundo, viajando de avião sobre o Sahara, se vê preso no deserto quando o avião sofre pane. O que vemos é o conflito entre esses homens em desespero. Stewart faz um muito antipático piloto americano, que tem preconceito contra um engenheiro alemão. Finch é um rigido comandante inglês. Aldrich, como disse Inácio Araújo esta semana, é um excelente diretor. Um cineasta que sabia criar conflito, drama, tensão e que era dono de um estilo nada afetado, viril. É dele o genial THE DIRTY DOZEN. Precisa dizer mais o que? Este filme foi refeito a dois anos com Dennis Quaid no lugar de Stewart. James Stewart rouba o filme, ele é ao mesmo tempo ruim, covarde, turrão e determinado. Belo filme. Nota 7.
   O CASTELO ASSOMBRADO de Roger Corman com Vincent Price e Debra Paget
Todos sabem que Corman foi o diretor classe B que sabia fazer filmes decentes com um nada de recursos. Mas o que lhe garantiu a memória é o fato de ter sido ele quem ajudou Coppolla, Bogdanovich e De Palma em seus começos. Aqui temos um filme que usa contos de Poe e de Lovecraft. É sobre um herdeiro que ao visitar o castelo abandonado da familia se vê possuído pelo fantasma de seu tataravô, um feiticeiro que foi queimado. Filmes de terror são os que envelhecem mais rápido. O que pode mantê-los vivos é seu clima e seu engenho, o medo logo se vai. Este tem algum clima de "nevoeiro com túmulos".... Price nasceu pra fazer esse tipo de canastrão do mal. Nota 4
   O CÉU MANDOU ALGUÉM de John Ford com John Wayne, Pedro Armendariz e Harry Carey Jr.
Ford ia pro deserto do Arizona. Ia com seus amigos acampar. E por acaso esses amigos eram atores e técnicos de cinema. Então ele aproveitava e fazia filmes por lá. Simples assim. Afetação zero. Este fala de 3 ladrões de banco que ao fugir pelo deserto encontram um bebê em caravana que foi dizimada. Se tornam os padrinhos desse bebê. Wayne é um dos ladrões e aqui ele mostra mais uma vez o grande ator que foi. Passa da maldade para a falta de jeito, do humor ao drama sem qualquer esforço aparente. O filme, cheio de areia, vento e muito sol faz com que nos sintamos parte do ambiente. Simples, puro, é exemplo do dominio absoluto de Ford sobre sua arte. Nota 7
   UM HOMEM CHAMADO CAVALO de Ellot Silverstein com Richard Harris
Um inglês que está caçando nos EUA de 1830 é capturado pelos sioux. Tratado com imensa crueldade, ele vai sobrevivendo e se impondo na ordem social da tribo. O filme, que é hoje um cult e que em seu tempo foi tratado como lixo, tem dois méritos: mostra a cultura do sioux sem romantizar e é ao mesmo tempo uma simples e ritmada diversão. O indio é mostrado aqui como ele era. Nada de nobre, nada de bandido. Eles possuem uma regra geral: só o que provém da dor tem valor. A vida só nasce pela dor, voce só cresce pela dor. Então o que vemos são várias cenas de auto-mutilação, sangue e a impressionante cerimônia do sol. Silverstein não está a altura de seu roteiro, dirige de forma conservadora. Mas é um filme invulgar, feito em momento ( 1971 ) de plena coragem no cinema popular. Nota 7
   SETE DIAS COM MARILYN de Simon Curtis com Michelle Williams, Kenneth Branagh e Judi Dench
Em 1955 Monroe foi a Londres filmar com o maior ator do século, Laurence Olivier. Olivier estava otimista com o filme que ele dirigiria e interpretaria, mas a experiência foi um desastre. Ele fazia parte da velha tradição inglesa de atuar, a tradição do "Vá lá e faça"; já Marilyn seguia o estilo novo, de New York, o estilo em que o ator deve se sentir o personagem, compreendê-lo, entender sua motivação. O choque se fez. A estrela falta a filmagens, se atrasa, se droga, esquece as falas. Mas ao final, em bela cena, Olivier diz que ela é uma grande estrela, nasceu para a tela, faz com que ele pareça pequeno. O filme concorreu a Oscars em 2012, perdeu todos. Michelle está ok. Frágil, confusa, cercada por bando de puxa-sacos e de pseudo intelectuais. O filme condena Arthur Miller. Já Branagh dá um show. Sua voz lembra muito a de Olivier e seus trejeitos são homenagem ao gênio de Laurence. Único senão: Olivier era bonito, Ken não. O filme cresce com sua presença. Judi Dench faz Sybil Thorndike, grande atriz que estava na filme e que entendeu Monroe. Aliás, para cinéfilos há a emoção de ver a recriação dos estúdios Pinewood e até colocaram um ator para fazer o grande Jack Cardiff, diretor de fotografia soberbo. Na vida real o filme que resultou foi responsável pelo fim das ilusões de Olivier com o cinema. Após esse fracasso ele se atiraria de vez ao teatro. Assisti esse filme algumas vezes quando criança, ele era exibido na Sessão da Tarde. Me apaixonava por Marilyn ao ver o filme e me irritava com Olivier. Eu devia ter no máximo 12 anos. Preciso o rever. Deixo de propósito de dizer que este filme é centrado no amor de um jovem diretor de terceira unidade pela estrela solitária. É uma história que dá tédio. Chatinha. O pouco dos bastidores do filme é tudo que importa. Nota 4.

HENRY FONDA- TONY THOMAS ( UM AMERICANO TRANQUILO )

   Existem atores que conseguem, ninguém sabe como, simbolizar toda uma época, ou, mais que isso, têm em si tudo aquilo que um povo gostaria de poder ser. Gary Cooper é tudo aquilo que os americanos sempre desejaram ser: belo, elegante sem ser dandy, frio, corajoso e de poucas palavras. Fred Astaire é a imagem de uma época. Será sempre o retrato perfeito de uma era de cartolas, jazz, bengalas e chiffon. Henry Fonda, assim como James Stewart, não é aquilo que todos querem ser e nem representa época alguma. Ele é o homem que os americanos ( e eu ), gostaríamos de ter como médico, como chefe, como amigo, como presidente. No rosto de Fonda há integridade, inteligência, verdade. Nasceu para ser um herói, mas não herói de fantasia como Erroll Flynn ou John Wayne, Fonda é o herói anônimo, comum, o herói não-aristocrático, é o herói da democracia.
  Leio sua bio e vejo que até a idade adulta não há grande drama em sua vida. Pais de classe média ( a mãe conheceu a mãe de Brando ! ), escola, irmãos. Alguns trabalhos comuns e o sonho de ser ator. Ator de teatro. O grande diferencial de Henry Fonda é esse: o cinema sempre foi secundário pra ele. Nunca pensou em ser rico ( mas sim em viver bem ) e cinema era para ele um modo de sobreviver e de levar gente às suas peças. Ele odiava o ambiente de festas e namoricos de Hollywood e suas peças eram daquele tipo que fica anos em cartaz.
   Mas no inicio ele passou dificuldades financeiras no teatro e aceitou um convite para Hollywood com a intenção de sobreviver. Acabou preso a um contrato de sete anos com a Fox, mas sempre que podia escapava para New York. Fez muitos filmes ruins, mas ele pessoalmente jamais teve uma atuação fraca. Da maioria de seus filmes ele preferia não falar, mas de alguns ele sentia orgulho. "AS VINHAS DA IRA" de Ford, "CONSCIÊNCIAS MORTAS" de Wellman, "LADY EVE" de Preston Sturges, "THE 12 ANGRY MEN" de Lumet, "YOUNG LINCOLN" de Ford, esses seus filmes favoritos, mas ele ainda fez outros grandes papéis como em "THE WRONG MAN" de Hitchcock, além de outros com Fritz Lang, Otto Preminger, Anthony Mann e Sergio Leone. Em todos esses filmes ele sempre soube ser o personagem, jamais uma estrela. Os olhos eram seu segredo, quem o viu em qualquer um desses filmes sabe do que falo. O olhar de Henry Fonda era uma aula de atuação.
   Casou-se cinco vezes, os quatro primeiros casamentos duraram cada um menos de 5 anos. Casou-se com uma atriz ( Margaret Sullavan, durou um ano ), uma ricaça da Europa ( que se matou logo após o divórcio cortando a garganta ), e outras menos badaladas. Pai de Peter Fonda e de Jane, jamais se deu bem com ela, ele não entendia uma mulher que namorava alguém como Roger Vadim e que posava em fotos com os vietcongs.
   Foi indicado ao Oscar apenas 3 vezes e venceu na última. Dizem que não ganhava exatamente por ser sério demais, por ter desprezo pela política do cinema. Quando perdeu pelo papel de Tom Joad em VINHAS DA IRA, o mundo do cinema entrou em parafuso. É um dos maiores desempenhos da história. E é um filme que não envelheceu um dia.
   Em 1981 teve a justa homenagem. NUM LAGO DOURADO lhe deu a chance de contracenar com a filha Jane Fonda, e com Kate Hepburn, com quem nunca havia trabalhado. E no filme, ele fazia um pai que se reconciliava com a filha neurótica. Um pai frio, distante, ranzinza, chato. O filme fez sucesso ( tempos em que um filme com dois velhos ainda tinha chance ) e deu a Henry seu muito merecido Oscar, ( vencendo Warren Beaty, Burt Lancaster e Paul Newman. Kate também venceu, e suas concorrentes eram "apenas" Diane Keaton, Meryl Streep e Susan Sarandon ). Foi um justo final, dias depois Henry Fonda morria.
   Tenho alguns amigos que sempre souberam amar o cinema clássico, o velho veículo em seu apogeu. Para esses nada preciso falar. Eles sempre souberam o que significa ver hoje numa tela alguém como John Wayne ou Robert Mitchum. Mas são a meus amigos, que começam agora a sentir a força dessas personalidades, que escrevo. Ver na tela, em mais um papel, um ator como James Stewart ou Henry Fonda é mais que observar o trabalho de um grande ator. É reencontrar um amigo, um guia, um consolo. Não importa se na vida pessoal eles fossem como eu ou como voce, o que importa é que a máquina da produção e a arte de escritores e de diretores, criava uma imagem mítica, um símbolo para mundo carente de transcendência, uma luz que emanava da tela e entrava na vida.
   Voce aprendia a ser homem com Bogart, a ser sexy com Gary Cooper, a ser engraçado com Cary Grant. E a ser elegante com todos eles. E com Henry Fonda voce aprendia/aprende a ser um homem bom, digno, um verdadeiro herói.

WOODY ALLEN/ GORE VERBINSKI/ ANTHONY MANN/ JAMES STEWART/ FELLINI/ BERGMAN

O DORMINHOCO de Woody Allen com Diane Keaton
Em termos de humor puro, nenhum filme de Allen é melhor ( entendam, este é o mais pastelão,e eu adoro pastelão ). Na saga do nerd que é adormecido em 1973 e acorda em meio a revolução séculos mais tarde, encontramos defeitos de diretor iniciante ( irregularidade ) e qualidades dessa mesma juventude ( irresponsabilidade ). Uma delicia!!! E que humorista genial Diane sempre foi ! São dela as melhores cenas. Nota 7.
RANGO de Gore Verbinski
Cheio de altos e baixos, esta homenagem ao western melhora muito ao final. Seu defeito é ter um personagem central fraco. A homenagem a Clint Eastwood é excelente! Aliás, a trilha sonora paga tributo a Morricone. Nota 5.
WINCHESTER 73 de Anthony Mann com James Stewart
Primeiro dos clássicos de Mann/Stewart. Um rifle é o que move bando de homens no oeste. Na verdade há mais que isso, há o ódio entre irmãos. O western de Mann em nada se parece com aquele de Ford, onde Ford canta a vastidão e a camaradagem, Mann destaca a solidão e a desconfiança. Stewart exibe uma então nova faceta de seu talento: o dom de mostrar a fúria contida. Um filme maravilhoso. Nota DEZ.
DESTRY RIDES AGAIN de George Marshall com James Stewart e Marlene Dietrich
Stewart é um muito calmo filho de antigo justiceiro que vai a cidade dominada por chefão. Ele, com seu jeito calmo e cheio de "causos" acaba por vencer, claro. Esta comédia-western é uma graaande diversão. Há humor genuíno neste excelente personagem. Nota 8.
...E O SANGUE SEMEOU A TERRA de Anthony Mann com James Stewart, Arthur Kennedy e Rock Hudson
Aqui Stewart cria amizade com tipo suspeito e ficamos sem saber por quase todo o filme o que os une. A fotografia é espetacular. Mas a ação carece da eletricidade de Winchester 73. De qualquer modo é um bom exemplar do filme de bangue-bangue. Nota 7.
A DOCE VIDA de Federico Fellini com Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Anita Ekberg, Yvonne Furneaux, Alain Cuny e Magali Noel
Crítica abaixo ( no texto sobre a avendia Sumaré ). Numa estranha coincidência, revi este filme antes de saber que ele seria vendido em banca de jornal. A figura do paparazzo é criada e batizada neste filme. Que marca a segunda fase da carreira de Fellini. Ele deixa de ser realista e passa a se aprofundar dentro de si-mesmo. Acompanhamos Marcello ( um soberbo Mastroianni ) em sua jornada por Roma. Ele caminha para o esvaziamento, o que vemos são mortes, de mitos, de sonhos e de intenções. Roma nunca esteve tão bela, escura, misteriosa, sexy. Não é uma obra-prima, tem muitas cenas falhas, mas suas grandes cenas ( o final é histórico ) são de antologia. Nosso mundo nasce neste filme. Nota 9.
UM ESPÍRITO BAIXOU EM MIM de Carl Reiner com Steve Martin e Lily Tomlin
A excelente história da ricaça que morre e encarna no corpo de Steve é ótima. Mas Reiner perde o ritmo várias vezes. Steve Martin, o melhor humorista americano dos últimos trinta anos, brilha. Seu papel é não só engraçado, é uma peça de arte. Nota 6.
MORANGOS SILVESTRES de Ingmar Bergman com Victor Sjostrom, Ingrid Thulin e Bibi Andersson
Em coincidencia, além de ver A Doce Vida, ainda tive minha quarta apreciação de Morangos Silvestres. Que também sai em banca de jornais. Vou passar o resto de minha vida vendo este filme uma vez por ano. Já o comentei longamente neste blog. Suas imagens são de sonho. Mostram a busca de resgate/remissão de um velho médico em viagem. Nesse caminho ele descobre ter errado sempre. É genial a forma como Bergman mistura o velho homem alquebrado com suas lembranças sempre jovens. A famosa cena do sonho ainda é rica em material e em sentidos. E tem um final inigualável, o velho homem olha seus jovens pais a pescar em lago, o velho sorri para eles e todo o sentido do filme se revela. Ele está conciliado com seu inferno. Em que pese duas cenas ruins, o filme é tão superior ao meio "cinema" que só pode ser comparado a Mozart ou Tolstoi.
SORRISOS DE UMA NOITE DE AMOR de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Ulla Jacobson, Eva Dahlbeck, Margit Carlvist
Uma constatação: onde Bergman acha tantas atrizes bonitas? Esta é uma comédia de Bergman, ou seja, é um filme estranho. Fez imenso sucesso de público ( o que testemunha a favor do público de 1955 ). Conta, com ironia, a história de casais que se traem, mentem, falam bobagens e seduzem uns aos outros. E se vingam também. É dos mais imitados filmes da história. Woody Allen já o refilmou e Paul Mazurski também. Mais Altman, o próprio Allen e uma infinidade de nomes têm se inspirado nele. Há ainda uma aula de sensualidade sem culpa da vulcânica Harriet Andersson. Leve, bonito, mas com um amargor que permanece. Nota 7.
A VIDA DURANTE A GUERRA de Todd Solondz
Adorei o que Cássio Starling Carlos escreveu na Folha. Ele denuncia esses filmes "chantagistas". Filmes como Rio Congelado, Preciosa e Inverno da Alma, todos milimetricamente formatados para ganhar festivais indie e serem endeusados por pessoas "com bom coração". Quem não gosta desses filmes é rotulado de insensível. Necas!!!! São filmes ruins feitos para enganar. Fáceis de fazer, fáceis de inscrever em festivais, fáceis de esquecer. Este é um deles. ZERO!!!!!!!!!!!!!

ORSON/ RESNAIS/ WC FIELDS/ JAMES STEWART/ CLINT/ DON SIEGEL

CIDADÃO KANE de Orson Welles com Joseph Cotten e Agnes Moorehead
Em termos estritamente racionais este é o melhor filme do cinema americano. Porque? Porque jamais outro filme usou tanto em tão pouco tempo. Todas as linguagens são usadas sem nunca ter aspecto de citação. É cume soberbo de cultura e jamais parece pedante. Tudo é usado em termos superlativos: roteiro, fotografia, estilo de atuação, música. Há uma exuberancia infinita, exuberancia que só pode ser comparada a certas obras de Goethe e de Shakespeare. Mas veja bem, emocionalmente ele é frio como Thomas Mann ou Góngora. Kane se coloca em Olimpo gélido. Nós o admiramos mas não o amamos. Nota DEZ.
GENGHIS KAHN de Henry Levin com Omar Shariff, James Mason, Stephen Boyd
Grande produção que nunca tenta contar a história de Genghis Khan. O que se conta é uma fábula bastante tola sobre um mongol que aspira unir todas as tribos sob sua liderança. James Mason faz um chinês hilário. O filme é de uma babaquice absoluta. Nota 1.
O ANO PASSADO EM MARIENBAD de Alain Resnais com Delphine Seyrig e Giorgio Albertazzi
Certos críticos dizem que hoje não existem mais filmes dificeis. O que existe é filme desagradável. Explico: os filmes ditos dificeis de hoje, não são dificeis por sua forma ou por sua impenetrabilidade. São dificeis de ver por sua desagradibilidade. Este filme deixa essa questão mais clara. Fora os filmes de Tarkovski, é este o mais dificil filme já feito. Do que trata? O que é? Resnais disse uma vez que se trata de cinema puro. Mas o que é cinema puro? O que vemos é um casal num hotel imenso. Pessoas ao redor. Não há interpretações, os atores posam e declamam ( de um modo chic que seria muito imitado pela publicidade ). O texto, de Alain Robbe-Grillet, fala algo sobre memória. Mas será isso mesmo? Talvez seja o único filme feito em que os protagonistas são os objetos: espelhos, móveis e tapetes. Um filme intransponível. Nota enigmática.
O CAMINHO DE SANTIAGO de Emilio Estevez com Martin Sheen
Emilio poderia ter sido uma estrela nos anos 80. Sheen, que é seu pai, poderia ter sido uma super estrela nos anos 70. Aqui eles se encontram e o filho dirige o pai num filme que fala de filho que morre no caminho de Santiago. O pai vai buscar suas cinzas e resolve fazer o caminho pelo filho. Parece choroso e bobo? Não é. Trata-se de um simples e despretensioso filme de estrada. No caminho o pai faz amizade com holandês doido, irlandês chato e americana neurótica. Nada de muito original, mas o filme se deixa assistir. O final é muito bom. E pasmem! Um filme americano recente que fala sobre a morte!!!! Nota 5.
SE EU TIVESSE UM MILHÃO de vários diretores com estrelas da Paramount
Filme em episódios. O que os une é um milionário que resolve dar um milhão para uma série de estranhos. Vemos o que acontece então. Os melhores episódios são aquele do empregado da casa de porcelana, que de oprimido passa a agressor; do bandido que não tem como gastar o cheque e principalmente o episódio do gênio do humor, WC Fields, em história de um casal que ao ter seu carro abalroado no trânsito compra vários carros para poder bater à vontade em motoristas irresponsáveis. Fields é hilário. Lógico que o filme é desigual, mas esses 3 episódios valem sua restauração. Nota 5.
SORTILÉGIO DE AMOR de Richard Quine com James Stewart, Kim Novak e Jack Lemmon
É sobre uma feiticeira que resolve namorar um mortal. O filme tem um erro terrível: James Stewart. Um ator brilhante, mas que está totalmente deslocado como objeto do desejo de Novak. Sua figura é a de um velho professor de latim, Kim parece louca em amar figura tão pouco sexy. O filme tem aquele visual chic-meio-louquinho de sua época ( 1960 ) e Kim é linda de doer, mas o romance soa falso todo o tempo. Nota 5.
MEU NOME É COOGAN de Don Siegel com Clint Eastwood e Lee J. Cobb
Um ensaio para Dirty Harry. Clint, aos 38 anos, volta da Itália e estrela este policial. Fala de um xerife caipira que vai à New York de 1968 capturar um bandido doidão. A graça do filme está no contraste entre um cowboy violento e a geração de drugs-sex e rocknroll. A melhor cena é a da festa hippie: mulheres nuas, beijos gay, drogas e psicodelismo, e Clint, andando em meio aquilo tudo com chapéu de cowboy e botas. O rosto de Eastwood diz tudo o que ele pensava dos loucos anos 60: lixo. Pauline Kael sempre disse que ele era um fascista, um republicano. Se era ou não isso não importa, mas que o cara tem caráter, tem uma crença, isso ele sempre teve. Nota 6.
VELOZES E FURIOSOS 5 de Justin Lin com Vin Diesel e Paul Walker
O primeiro era divertido. Boas corridas, boa trilha sonora, mulheres legais. Os outros já não eram grande coisa. Este é o fim da picada! O que se passa? Eu não sonho com a volta de filmes como O Poderoso Chefão ou Taxi Driver. Isso seria pedir demais. Mas uma simples aventura como aquelas com Charlton Heston ou James Coburn, seria pedir demais??? Ninguém consegue mais escrever meia dúzia de bons diálogos e criar um herói gostável? Um Duro de Matar, um novo Mel Gibson, um Charles Bronson ! Nada disso aqui. Apenas burrice, podridão e tédio. Nota ZERO.

BILLY WILDER/ GAINSBOURG/ FORD/ OSHIMA/ SIRK/ HELEN MIRREN

CUPIDO NÃO TEM BANDEIRA de Billy Wilder com James Cagney
De todos os clássicos diretores de Hollywood ( Ford, Hawks, Wyler, Stevens, MacCarey ) ninguém tem tantos filmes decepcionantes como Billy. Sim, ele é um cara genial, quando acerta, mas seus filmes fracos são mais irritantes que os filmes menos bons da turma citada acima. Este fala de executivo da Coca-Cola que trabalha em Berlin nos dias da construção do muro. É uma comédia boba. As piadas vêm e erram o alvo. O resultado é histérico. Nota 3.
A ÁRVORE de Julie Bertuccelli com Charlotte Gainsbourg
Fujam! Na Austrália morre um jovem pai em ataque cardíaco junto a árvore. Essa enorme e belíssima árvore é o centro e interesse único do filme. Pena que nada de interessante ocorra depois dessa tragédia. Quem quiser que encontre um sentido nesta coisa chata e lenta, se encontrar, esse sentido será acidental, o filme é tão cheio de "arte" que tudo pode ter um significado. Inclusive o significado da picaretagem. Nota 1 ( um ponto pela bela árvore ).
DONOVAN'S REEF de John Ford com John Wayne e Lee Marvin
A vida de um dono de boteco em ilha do Taiti. Acontece a visita de uma herdeira e mais nada. Ford, após cinquenta anos filmando. mostra sinais de cansaço. O filme é flácido, solto demais. Uma bela paisagem, atores gostáveis, mas nada mais que isso. Nota 3.
O MERCADOR DE ALMAS de Martin Ritt com Paul Newman, Joanne Woodward, Orson Welles, Anthony Franciosa
Belo exemplo de cinema adulto dos anos 50. Newman faz seu tipo mais habitual: o cara malandro, egoísta e carismático. Esse cara penetra em família do sul e acaba por se tornar herdeiro do "dono" de toda a cidade: Welles. Filhos que odeiam o pai, sensualidade reprimida, poder do dinheiro, homossexualismo, há de tudo um pouco. É uma diversão completa, um prato rico e gorduroso. Joanne está muito bem como uma solteirona. Nota 8.
O TÚMULO DO SOL de Nagisa Oshima
Em Osaka, anos 60, gente das ruas vende sangue para comer. Mais prostituição, drogas e Oshima, um diretor sempre violento. O filme é representante da Nouvelle Vague japonesa. Cores berrantes, câmera nervosa e cortes abruptos, incisivos. Oshima seria o centro desse movimento. O filme, um dos primeiros dele, é irregular, mas supreende sua modernidade. Nota 5.
TUDO QUE O CÉU PERMITE de Douglas Sirk com Jane Wyman e Rock Hudson
Muito melhor do que eu esperava. Sirk, dinamarquês rei do melodrama em Hollywood, faz aqui um dilacerante retrato da classe média da época ( terá mudado tanto assim desde 1955 ? ). Jane Wyman é uma viúva com dois filhos, cheia de amigos porém solitária. Ela se envolve com seu jardineiro, um jovem livre, que tenta seguir a filosofia de Thoreau. Ninguém aceita isso e os filhos ( quase adultos ) impedem o casamento. Só, ( e é chocante se observar como na época ver tv era considerado ato de perdedores, de gente sem vida social ), ela vê que caiu numa armadilha, os dois filhos seguem sua vida e ela fica à parte de tudo. Todo esse drama é conduzido de uma forma tão leve, fina, vibrante que é impossível resistir. Voce embarca na novelona. Fassbinder o refilmou na Alemanha e Almodovar sempre o cita ( além de Todd Haynes ). Rock Hudson era um canastrão, mas ninguém sabe ser mais tão galã. Nota 8.
MANON de Henri-Georges Clouzot com Cecile Aubry e Serge Reggianni
Clouzot é um dos maiores diretores que a França já teve. Fez pelo menos quatro obras-primas, mas este não é uma delas. Conta a história de mocinha muito "livre" que trai seu amor com vários homens de poder. O namorado sempre descobre, e sempre a perdoa. O final, hiper-romantico, é em deserto. O filme se vê com interesse, mas está muito abaixo do melhor Clouzot. Nota 5.
A RAINHA de Stephen Frears com Helen Mirren e Michael Sheen
Pra que ver este filme? Qual o interesse em se rever os dias da morte e do enterro de Lady Di? Tudo visto pelo ponto de vista de Tony Blair e da Rainha...pra que? Bem...o filme é estupendo, uma aula de direção e de interpretação. Stephen Frears, diretor da geração de Ridley Scott, mas que ao contrário de Scott, optou sempre pelo risco ( é dele a obra-prima Ligações Perigosas e ainda Minha Adorável Lavanderia, Alta Fidelidade, e mais uma infinidade de pequenos filmes instigantes ), dirige com uma eficiência que beira o milagre. Penetramos na mente de Elizabeth, conseguimos sentir o absurdo daquilo tudo, e melhor, não sabemos o que pensar. Ficamos desorientados. Mas há Mirren. Talvez seja este o desempenho feminino da década. Em personagem dificílimo, contido, frio, distante ( e tão cotidiano ) Helen cria uma alma, não imita. A rainha que ela nos mostra vai lentamente tomando consciência de sua derrota, do fim de uma ilusão. ( " Eu me recolho e nada declaro, sou sincera, enquanto isso essas pessoas que jamais a conheceram estão morrendo de dor, e eu é que sou a doida" ). Pois o filme é sobre isso: os súditos passam a querer lágrimas, frases pomposas, a exibição pornográfica de luto. Quando Di morre e a rainha se esconde, pois essa é a tradição, luto não é show, sentimentos devem ser contidos e discretos; o povo passa a odiá-la. O filme tem duas cenas de antologia: a hora em que ela lê as mensagens nas flores colocadas nos portões do palácio ( todas ofensivas a ela ) e a maravilhosa cena com o cervo, quando ela percebe a beleza que mora nele e o risco de ser caçado. Esse animal, que será morto lentamente e decapitado ( decapitação é o fim de todo rei deposto ) representa a bela elegância de uma época que morrera muito tempo antes, época que Elizabeth só então percebe ter chegado ao fim. De certa forma, Blair a salva dessa decapitação e ele acaba tomando seu partido. O filme então, feito pelo esquerdista Frears, tem a sabedoria de reconhecer que perante os novos tempos de midia e falta de respeito, ( são magnificas as cenas de telejornais da época, que mostram Lady Di tão falsa em sua "dor" e o povo deseperado com sua morte; e ainda vemos no enterro o absurdo de Elton John, Tom Cruise e Spielberg serem mais "gostados" que a familia de Di e de Charles ) a rainha ainda representa algo de decente, correto e de verdadeiramente real. O filme torna-se então imenso. Que admirável surpresa! Nota 9.
TERRA BRUTA de John Ford com James Stewart e Richard Widmark
Ford chamava este seu filme de "bela porcaria". Longe disso. Apesar de ele quase não ter história ( fala algo sobre brancos resgatados de Comanches ), o filme tem um ar de improviso, de alegre camaradagem, que acaba por encantar. Há quem o chame de obra-prima. Não é. Mas ele sem dúvida é invulgar. Nota 6.

ALTMAN/ LEONE/ FORD/ STEVE MCQUEEN/ MAX VON SYDOW

ERA UMA VEZ NO OESTE de Sergio Leone com Henry Fonda, Jason Robards, Claudia Cardinale e Charles Bronson
Impressiona e muito. Raros filmes são tão bonitos de se olhar. Cada gesto e cada ângulo de tomada é um primor. Apesar de por vezes cansar ( é longo e lento ) não conseguimos desistir de o acompanhar. Seus primeiros trinta minutos são das melhores coisas ( em termos de diversão ) da história da arte. O final deixa saudades. Após ver este filme, o Bastardos de Tarantino lhe parecerá bem menos atraente. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS de Robert Altman com Warren Beatty e Julie Christie
Foi Pauline Kael quem disse que este filme é como viagem de ópio. Revendo-o agora percebo isso. As vozes vêm não se sabe de onde, todos os diálogos parecem distantes, murmurosos. As imagens são embaçadas, desfocadas, estrábicas. Tudo no filme se parece com sonho, é um tipo de longo devaneio sobre o fracasso e sobre a melancolia de se viver sem ninguém. Beatty ( excelente ) é um pseudo-malandro, que chega a vila do Alasca ( o filme tem muita neve ) e monta um bordel. Interesses capitalistas irão lhe destruir. Warren está comovente, seu tipo é de uma doçura/malandrice cativante. Julie faz uma puta pretensiosa e esperta. Sem coração. A trilha sonora é feita por canções de Leonard Cohen. São amargas baladas sobre a solidão e a estrada. Cortam nosso coração, são de uma beleza absurda. Todo o filme é como a música de Cohen: bela preparação para o fracasso. E o filme, feito no auge do sucesso pop de Altman, foi um proposital fiasco. Altman desejou destruir sua chance de ser mainstream. Conseguiu. O filme é das coisas mais originais já feitas. Nota 8.
O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA de John Ford com James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin e Edmond O'Brien
Este, que é o último grande filme de Ford, trata de dois tipos de herói. O individualista e o comunitário. Stewart é o senador que vai a enterro de velho amigo. Conta-se sua história. De como ele foi um jovem advogado e de como foi ajudado por Wayne, que faz o solitário e duro herói cowboy. O filme chora o fim desse tipo de homem, o homem que fez os EUA. Stewart é o homem politico, o homem da lei, do futuro. Há muito de elegia neste filme e tem a famosa frase: Se a lenda é melhor, que se publique a lenda! Mas não é um tipo de western que empolgue. Ele é muito mais uma revisão de todo o Ford que uma obra vital e criativa. De qualquer modo, é adorado por todos os fãs de western. John Wayne está soberbo e o filme peca por usá-lo menos do que queríamos. A cena do incendio é o ponto alto. Nota 7.
FUGINDO DO INFERNO de John Sturges com Steve McQueen, James Garner, Charles Bronson, Richard Attenborough, James Coburn
O rei do cool se tornou rei neste filme. Steve McQueen faz um prisioneiro de campo nazista que é conhecido por ser o rei do cooler ( solitária ). O filme é isso, prisioneiros que tentam fugir e alemães que tentam impedir. Dirigido com profissionalismo, o filme vai crescendo conforme avança e sua hora final é extremamente empolgante. É mais um dos top 20 de Tarantino. É este tipo de filme que faz falta hoje: muito popular, simples, sem nenhum tipo de enfeite, mas de produção cara, divertido, sem grandes tolices, que vale cada centavo gasto. É dos filmes mais queridos dos anos 60 e foi grande sucesso. Nota 8.
O MENINO E O SEU CACHORRO de LQ Jones com Don Johnson e Jason Robards
Como lançam este dvd? É um muito obscuro filme doido dos anos 70 que exemplifica o ponto de piração que a época chegou. Em mundo do futuro, destruído pela radiação, um garoto anda pelo deserto com seu cão. O cão fala, e fala como um muito prático e ranzinza conselheiro. O garoto o usa para conseguir mulheres, que são estupradas e descartadas. O cão quer comida, e no fim o garoto lhe dá uma moça para comer. Um pesadelo mal feito e muito doentio. Nota 1.
ANUSKA de Francisco Ramalho Jr. com Francisco Cuoco e Jairo Arco e Flexa
Um jornalista se divide entre o mundo politizado do jornal e o mundo da moda de sua paixão, Anuska. O tema é bom, o filme é inacreditávelmente amador. Simplesmente o diretor não sabe como contar uma história. E ainda tem patética homenagem a Jules et Jim!!!!! ZERO!!!!!
O LOBO DA ESTEPE de Fred Haines com Max Von Sydow e Dominique Sanda
Baseado em Hesse e tendo o bergmaniano Sydow no elenco. O ator é o certo, o filme é errado. Não li o livro, mas dá pra notar que tudo se torna confusão neste filme que não tem uma só cena criativa. Um blá blá blá sem fim. Andam por bares e cabarets, mulher oferece sexo e por aí vai. Incompreensível. Nota ZERO
THE HIT de Stephen Frears com Terence Stamp, Tim Roth e John Hurt
Grande Frears!!!! O talentoso diretor de Ligações Perigosas, fez em 1984 este muito bom policial. É sobre dedo-duro que é caçado na Espanha por enviados do dedurado. O filme é a viagem pela Espanha dos dois assassinos e do capturado. Conseguirão executá-lo em Paris? Os três atores estão excelentes. Stamp, ex-sex symbol inglês que optou pela boemia, faz um blasé dedo-duro. Nas mãos dos executores, ele jamais demonstra medo. Hurt faz o calado matador. Frio. E Roth, bem jovem, é o bandidinho novato, bobo e afobado. O filme é diversão de primeira linha ( apesar de barato ). Frears sabe tudo. Nota 7.
DUPLO SUICIDIO EM AMIJIMA de Masahiro Shinoda
A nouvelle vague de Godard fez com que brotassem nouvelles vagues mundo afora ( foi o último movimento em cinema a fazer isso ). Tivemos uma nouvelle alemã, uma brasileira, australiana e até a japonesa. Na Alemanha ela se caracterizava pelo seu esquerdismo radical, e no Japão por sua fascinação por morte e sexo. A nouvelle vague made in Japan é toda calcada nisso: sexo e morte. Este filme fascinante e original trata disso. Uma paixão sexual que leva a morte. As imagens são belíssimas e desde seu incio vemos que o filme é especial. Nota 7.
FILHOS DE HIROSHIMA de Kaneto Shindo
Moça volta a Hiroshima. Estamos em 1951. A cidade é ainda uma cicatriz. Ruínas e gente abandonada. O filme é quase um documentário. Fortemente influenciado pelo neo-realismo italiano. Nota 5.
O VINGADOR de F.Gary Gray com Vin Diesel
Continuo tentando. Este trata de policial que tem a esposa morta por traficante e parte pra vingança. As cenas de ação são tão rápidas que mal se vê o que acontece. Mas o filme não é ruim. A gente assiste sem sentir tédio ou sono. O único problema é que depois que ele termina nada resta para ser recordado. Será que ninguém sabe mais escrever diálogos bons em filmes de ação??? Nota 5.
RAW DEAL de Anthony Mann com Claire Trevor e Dennis O'Keefe
Um dos primeiros filmes de Mann, é um noir barato que funciona bem. Um cara foge da prisão com duas mulheres: sua garota e a outra. Uma é do mal, a outra é do bem. Com trama tão frágil, é construído um sólido filme sem uma cena fraca. Rápido e viril. Cinema noir com suas sombras, suas noites quietas e seus tipos perdidos. Muito cigarro e carrões. Uma tremenda diversão! John Alton fez a foto contrastada. Nota 7.

ANTHONY MANN/ RESNAIS/ DEMY/ TOURNEUR/ ALEC GUINESS

ERVAS DANINHAS de Alain Resnais com André Dussolier e Sabine Azema
Surpreende a jovialidade de Resnais. Da turma dos pra lá de 80 é ele o que mais ousa. Plasticamente este é bastante nouvelle-vague. Mas está longe do ótimo Medos Privados ou do excelente Amores Parisienses. De qualquer modo, eis um cineasta! Nota 6.
MÚSICA E LÁGRIMAS de Anthony Mann com James Stewart e June Allyson
Na história do cinema americano, dois diretores foram terrivelmente subestimados: Dassin e este Anthony Mann. O homem fez policiais, montes de westerns, épicos e esta bio de Glenn Miller. Uma bio exemplar. Cheia de liberdades com a história, mas jamais traindo o espírito da arte do biografado. De modo leve e colorido, acompanhamos o incio de Miller, seu casamento feliz e o hiper-sucesso. Há uma cena com Louis Armstrong e Gene Krupa em boteco de jazz que é sensacional. Stewart em mais uma aula de simpatia e atuação relax. Nunca perde o tom. Nota 8.
LOLA de Jacques Demy com Anouk Aimée
É bela a França de 1960 com seus carros pequenos, os ternos e vestidos com chapéu e suas meninas bailarinas. Mas há algo de muito flácido neste exercicio de otimismo de diretor "delicado". Na história de prostituta que espera o retorno de seu grande amor, Demy homenageia Ophuls sem jamais chegar perto da leveza do mestre austríaco. Destaque aqui para bela trilha sonora de Michel Legrand e a fotografia brilhante e livre de Raoul Coutard. O filme embaralha finais felizes, mas falta sinceridade e força. Nota 5.
REDE DE INTRIGAS de Sidney Lumet com Peter Finch, William Holden, Faye Dunaway
Forte. Um roteiro irado de Paddy Chayefski joga na tv todo o fel possível. A mensagem é simples: violencia vende. O filme ganhou Oscars para Finch ( póstumo ) que está soberbo como o âncora que enlouquece, e para Faye, hilária como a ambiciosa diretora de programação. É uma excelente diversão e um filme soberbo. 120 minutos de pura raiva e de nenhum mal humor. Nota 9.
AS OITO VÍTIMAS de Robert Hamer com Alec Guiness, Dennis Price e Joan Greenwood
O British Film Institute elegeu esta comédia negra um dos dez maiores filmes ingleses da história. Não é pra tanto. Tem atuação inspirada de Guiness ( fazendo oito papéis diferentes. Foi ele quem inventou essa coisa que Eddie Murphy adora fazer ) e tem bons diálogos. Mas o assistindo reparamos no porque do pessoal do Cahiers ( Truffaut, Chabrol, Godard ) desbancar tanto o cinema inglês da época. Não há o menor sinal de criatividade na direção, não há um take arrojado, uma tentativa nova, nada. Hamer posta a câmera e deixa os atores recitarem suas falas. Felizmente eles são excelentes. Mas falta vida a este filme "chá das cinco". Nota 6.
MEU CACHORRO SKIP de Jay Russel com Freddie Muniz, Kevin Bacon, Diane Lane e Luke Wilson
Diane é linda que dói. Cada close em seu rosto é uma declaração de amor. E temos aqui um filme "de cachorro" muito acima da média desse tipo de filme. Nada de cães que falam. O filme é lacrimoso e engraçado e quem adora cães deve assistir. Como cinema é novela bem fotografada. O cachorro é rei de simpatia. Nota 6 para o filme e 10 para o cão.
A MORTA VIVA de Jacques Tourneur
No inicio dos anos 40 Val Lewton, produtor da RKO, lançou uma série de filmes baratos de horror. Na verdade não são de horror. São peças de estilo, filmes de clima, soturnos. Este fala de Voodoo em ilha tropical. Tem até macumba. Tourneur sabia dirigir de tudo. Este é divertido exemplo de cinema hiper-popular que guardava momentos de invenção. Nota 6.

MAX OPHULS/ RIVETTE/ HOMENS QUE ENCARAVAM CABRAS/ MARGARET SULLAVAN

AMEMOS OUTRA VEZ de Edward H. Griffith com Margaret Sullavan, James Stewart e Ray Milland
Acabou de sair em dvd e já se esgotou. Vários milagres ocorrem neste filme. É um melodrama que nunca se torna piegas. Tem uma atuação de Margaret Sullavan que é pura feitiçaria : ela atua sem jamais parecer atuar. Ficamos comovidos com a naturalidade de suas falas e de seu gestual. Toda a vulnerabilidade exposta. Antológica. Stewart e Milland estão muito bem, mas são ofuscados pela atuação histórica de Sullavan. O filme trata de um casal. Ele é jornalista, ela é atriz. O amor os une, mas o que os une é apenas o amor. O filme mostra que isso é pouco para fazer deles um casal feliz. Eles se casam, mas a vida os separa. Raramente o cinema foi tão adulto e muito mais raro é mostrar os desencontros da rotina destruindo o amor. Apesar do final precipitado ( o filme tinha de ser mais longo ) é uma obra-prima. Ao final voce carrega o filme dentro de seu peito. Atenção : ele jamais ameaça fazer chorar. Mas nos toca de forma mais profunda. A cena do reencontro ( mais um ) é de antologia. Sullavan foi uma gigante. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!
HOMENS QUE ENCARAVAM CABRAS de Grant Hesley com George Clooney, Jeff Bridges, Ewan McGregor, Kevin Spacey
Filme de doidão. É uma tentativa de se fazer um filme dos anos 70 em 2010. Claro que foi um fracasso. Os atores estão excelentes, mas essa sátira à guerra, sobre batalhão de soldados psíquicos naufraga na falta de estilo e de ritmo. Algumas boas idéias não salvam o filme da chatice geral. Nota 2.
A BELA INTRIGANTE de Jacques Rivette com Michel Piccoli, Emmanuelle Beart e Jane Birkin
De todos os diretores da nouvelle vague Rivette é o mais chato. Este premiado filme leva tres horas e meia para mostrar um pintor pintando uma menina nua. Claro que o filme fala sobre o processo de criação, sobre as relações de homem/mulher, sobre a inspiração. Mas pra mim, é um pretesto para se exibir Beart nua. Emmanuelle Beart é a atriz mais bela dos anos 90 e o filme exibe isso sem nenhum pudor. É o que ele tem de melhor. No mais, pincéis, taças de vinho, belas casas de campo, e conversas desinteressantes. Emmanuelle é linda. Nota 3.
ÓDIO NO CORAÇÃO de John Cronmwell com Tyrone Power, Gene Tierney e George Sanders
Se Beart é a mais linda atriz dos anos 90, talvez Gene Tierney seja a mais linda de sempre. Cada close dado em seu rosto exótico ( ela tinha sangue chinês e americano ) provoca a certeza de que a beleza é mesmo para sempre. O filme, em seu estilo perfeito, fala sobre garoto injustiçado, sua fuga da Inglaterra e a fortuna conseguida nos mares do sul. Termina com julgamento e vingança. É o filme popular com história, o filme povão que nunca apela, o filme que satisfaz o cara que procura só um passatempo e diverte o cinéfilo. Tipo de cinema industrial do qual sinto falta. O filme que tem ação e romance, bom roteiro, produção cara e atores de carisma imorredouro. Foi isto que fez de Hollywood mito. Relaxe e goze. Nota 8.
CORAÇÃO PRISIONEIRO de Max Ophuls com Barbara Bel Geddes, Robert Ryan e James Mason
De vez em quando um diretor do passado se torna moda. Junta-se ao panteão dos intocáveis ( Bergman, Kurosawa, Welles, Wilder... ) algum diretor mais ou menos esquecido e se começa a divulgar sua genialidade. Nos anos 70 foi Ozu, nos 80 Michael Powell, nos 90 Melville e agora é Ophuls. Interessante notar que é sempre um ou mais diretores que chamam a atenção para o diretor quase esquecido. Ozu por Wenders, Powell por Scorsese e Coppolla, Melville por Tarantino. Max Ophuls, alemão que fugiu do nazismo e fez uma série de filmes na América, depois retornando a Europa, é amado por Todd Haynes e Baz Lhurmann. O estilo Ophuls está presente explicitamente nos dois. Os filmes de Max são femininos. Há um cuidado com vestuário e cenário, um modo de movimentar a cãmera em ritmo de melodia, uma atenção a sentimentos não ditos, uma delicadeza encantadora. É um cineasta que expressa frustração, raiva engolida, tudo aquilo que deveria ter sido e nunca foi. Estranho observar que a vida de Ophuls foi exatamente como seus filmes, frustrante. A história fez com que seu talento se perdesse. Pois ao contrário de Billy Wilder ou de Fritz Lang, Max jamais se adaptou aos EUA. Este filme fala de um milionário louco que se casa com moça vulgar e carreirista, apenas para contrariar seu analista freudiano. Sabemos que Ophuls tentou trabalhar com Howard Hughes. Sabemos que Hughes o humilhou. E vemos Robert Ryan em 80 minutos fazer um Howard Hughes com a complexidade que as 3 horas de Scorsese e Di Caprio não atingiram. Ryan mostra um homem cruel e sádico, torturado e muito isolado. O filme também fala do amor ao dinheiro ( ela quer crer que o ama, mas ama apenas seu poder ) e não a toa, a primeira imagem deste brilhante drama é a de Barbara, em apartamento pobre, vendo os anúncios da Harpers Bazaar. A câmera de Ophuls se mexe todo o tempo, atravessando paredes, subindo ao teto, dando closes e planos gerais. E nunca nos sentimos incomodados por isso, mal o percebemos. Este filme foi fracasso na época, hoje está justiçado. É um belo drama. Nota 9.
SANGUE NA LUA de Robert Wise com Robert Mitchum e Barbara Bel Geddes
Western de sombras escuras que fala de disputa por gado e terra. Mitchum é o pistoleiro que muda de lado. Wise dirigiu de tudo : musicais, comédias, sci-fi, terror, guerra, filme de espiões, romances. É dele A Noviça Rebelde, Jornada nas Estrelas e West Side Story. Fez tudo muito bem, mas nunca com genialidade. Este é um western impessoal. Dá pra ver, nunca aborrece, mas se esquece em seguida. Nota 6.

MY FAIR LADY/ FRED E GINGER/WALLACE E GROMITT/A FELICIDADE NÃO SE COMPRA

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO de Max Rheinhardt e William Dieterle com Mickey Rooney, James Cagney, Olivia de Havillande, Joe E Brown, Dick Powell
Devo ter assistido num Natal aos 5 anos de idade. Suas imagens entraram em mim e passei minha vida pensando que fossem um sonho que tive. Ao assistir o DVD recordo tudo e vejo que não foi sonho, foi cinema. O visual é fantástico : fadas descem do céu, bosques que brilham, casacatas e lagos. Rooney aos 10 anos dá uma interpretação de gênio : seu Puck é aterrador. Um leprechaun de riso maldoso, um diabinho pulando e aprontando sem parar. O filme é desigual, tem momentos ruins. Mas tem outros ( Joe é humorista completo, James Cagney tem carisma para o papel ) que redimem tudo. Nota 7.
DANÇA COMIGO de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Fred é psiquiatra que se apaixona por paciente. Todo fim de ano revejo musicais. São presentes que me dou. Este é delicioso, mas não é uma das obras-primas da dupla. Ginger era de uma sensualidade espertíssima ! Ela dá calor ao muito etéreo Astaire. Nota 8.
A HISTÓRIA DE VERNON E IRENE CASTLE de HC Potter com Fred Astaire e Ginger Rogers
É a bio de uma dupla de dançarinos que realmente existiu. Portanto, os dois têm de dançar no estilo 1910 dos Castle... é frustrante. Considerado o mais fraco da dupla, tem falta do humor que sempre abundou em seus outros trabalhos. Nota 6.
A ALEGRE DIVORCIADA de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger faz um tipo um pouco mais retraído, quase tímida. O filme é típico do estilo da dupla : ela o detesta, ele a ama, depois ela começa a amá-lo, vem um mal entendido e então o final feliz. Quando Fred canta NIGHT AND DAY para ela, a conquista. Vemos um orgasmo musical na tela ( que termina inclusive com um cigarro ). Essa cena é histórica : uma canção transforma indiferença em amor... e cremos no que vemos ! O filme é perfeito : os dois dançam e nos fazem rir, nos fazem rir e dançam. Os coadjuvantes brilham, os diálogos ricocheteiam, o filme é um iate de luxo. DEZ!
BROADWAY MELODY de Norman Taurog com Fred Astaire e Eleanor Powell
Dois amigos dançarinos disputam o amor de dançarina famosa. Powell, muito famosa na época, dança pesado. Seus pés têm chumbo. Fred dança poucas vezes, mas rouba o filme. Nota 6.
O MÁSKARA de Chuck Russell com Jim Carrey e Cameron Diaz
Porque este filme fez sucesso ? É tremendamente amador, mal dirigido, muito mal escrito e pior interpretado. A trilha sonora é de karaokê e os cenários de filminho pornô. Vai entender... Cameron, um pouco mais cheinha, nunca mais foi tão bonita. Nota 1.
WALLACE E GROMITT NA BATALHA DOS VEGETAIS de Nick Park
O cão, Gromitt, é criação de grande talento. Com poucos movimentos de sobrancelha ele transmite milhares de expressões. O roteiro mistura suspense e horror, cheio de humor. Uma delícia !!!!!! Nota 7.
MY FAIR LADY de George Cukor com Rex Harrison, Audrey Hepburn, Stanley Holloway, Gladys Cooper e Mona Washbourne
O mundo se divide em dois : os que desprezam esta obra-prima de Alan Jay Lerner, e os que a adoram. Não há meio termo : ou voce vê este filme como enfadonha frescura pseudo artística, ou voce a adora como exemplo perfeito de artesanato imortal. Eu fico com a segunda opinião, e ainda acrescento que é lembrete daquilo que perdemos nos últimos 40 anos : bom-gosto. O filme é aula de diversão adulta e elevada, suas músicas exemplo de genialidade. Rex e Audrey estão em pleno vigor : apaixonantes ! É um de meus cinco filmes favoritos. Nota... Ora ! Que nota dar ? Um mero número desmerece tanta perfeição.
A FELICIDADE NÃO SE COMPRA de Frank Capra com James Stewart, Lionel Barrymore, Donna Reed, Ward Bond
Capra, cineasta de imenso sucesso, voltou da segunda-guerra mudado. Seus filmes que eram odes à democracia, plenos de otimismo, adquiriram um travo amargo. Este foi fracasso de público e crítica na época, mas na década de 70, ao ser reprisado na TV no Natal, , foi descoberto e se tornou desde então um clássico desta época de festas. Não há filme atual sobre fim de ano que não o cite. O filme é pura fantasia, começa com estrelas conversando no céu. Stewart abre mão de seus sonhos para ajudar sua cidadezinha, o filme é a história de sua vida. James Stewart prova mais uma vez o que ele foi : o mais simpático dos astros. Seu George Bailey é complexo, mostra doçura e amargor. A cena em que ele grita com a filha no Natal é das coisas mais dolorosas já filmadas, choramos, não há como evitar. É um filme que nada teme : ele é piegas, tolo e infantil; e ao mesmo tempo é profundamente humano, verdadeiro e atemporal. Filme favorito de meu amigo Tucori ( que foi quem me convenceu a o assistir ) é uma aula de bons sentimentos e de bom, grande cinema. Nota DEZ.

CHER/WONDER BOYS/JULIE ANDREWS/JAMES STEWART/O REI E EU

Filmes que assisti nesses dias de frio e de ócio...
TURNER E HOOCH de Roger Spottiswood com Tom Hanks e Hooch
Total sessão da tarde anos 90. É o filme do jovem Hanks, policial, que tem de morar com o cão mais babão do planeta. Uma bobagem que sempre me diverte. Mas sei que sou suspeito para comentar filmes com cães.....o animal é 10, o filme vale nota 4.
AO RUFAR DOS TAMBORES de John Ford com Claudette Colbert e Henry Fonda
Um muito colorido Ford, contando os apuros de jovem casal na América de 1780. Todos os temas de Ford estão presentes : a fé, a família, a união da comunidade, as festas e os enterros. Não é um dos grandes, falta a poesia estratosférica de seus momentos culminantes. nota 6.
FEITIÇO DA LUA de Norman Jewison com Cher, Nicolas Cage, Danny Aielo
Em suas listas os americanos colocam este filme entre as maiores "comédias" da história. Waaaal.... sua primeira hora é chata pacas, mas depois fica legal. Deu o Oscar para Cher e Cage faz as caras e bocas de sempre. Não é uma comédia, é mais uma crônica sobre a solidão. nota 5.
MERMAIDS de Richard Benjamin com Cher, Winona Ryder, Christina Ricci e Bob Hoskins
Vem no mesmo DVD de Feitiço, mas é muito melhor. A história de uma mãe muito moderna e doida ( em 1963 ) e suas duas filhas, uma criança com mania por água ( uma Christina Ricci maravilhosamente natural ) e outra com mania católica ( o melhor papel da vida de Winona ). Hoskins está encantador como o alegre e descomplicado namorado da mãe. Um filme muito bonito e que não teme resvalar no melô. nota 7.
WONDER BOYS de Curtis Hanson com Michael Douglas, Robert Downey Jr, Frances McDormand, Tobey Maguire.
Existem filmes que nos pegam. São obras maravilhosas, mas não são "o melhor" filme. Mas os revemos sempre e passam a nos acompanhar pela vida como amigos queridos. É assim, em minha vida com All That Jazz, Os Eleitos, My Fair Lady e Hatari. São todos filmes excelentes, atingindo às vezes o nivel mais alto imaginável; mas não são tão "arte" como são Cabaret, Oito e Meio ou Persona. Creio que tem algo a ver com ambiente. Esses filmes mostram um local onde eu gostaria de viver, pessoas com as quais eu adoraria conviver e têm um personagem com o qual me identifico cem por cento ( o que não significa que o veja como herói ). Wonder Boys, que reví pela quarta vez em cinco anos, é isso. Mostra um fim de semana desastroso de um desastrado professor de redação. Tudo no filme me seduz : a trilha sonora, os atores ( até o chatinho Tobey ), os sets, e o maravilhoso roteiro. Vemos um cão ser assassinado, uma festa de escritores chatos, vários baseados e um livro voando numa tarde fria. Hanson dirige com rara felicidade. As cenas se encadeiam sem pressa e sem morosidade, duram o tempo certo. Douglas está frágil, cativante, e muito engraçado e Downey dá uma aula de finesse em comédia. Uma festa em forma de filme, uma inspiração, uma delicia. nota Dez!!!!!!!!!!!!
APERTEM OS CINTOS O PILOTO SUMIU de Zucker, Abrahams e Abrahams
A tal enquete americana colocou este filme no top 10. Inaugura o estilo de humor muito idiota e grosseiro que se mantém até hoje. Tem poucas risadas, mas a gente se entretém, esperando até onde a doideira pode chegar. nota 4.
THE STAR! de Robert Wise com Julie Andrews e Daniel Massey
O grande Wise começou a desandar com este caro e imenso fracasso. Esta biografia de Gertrude Lawrence tem um grave problema : a vida de Lawrence tem pouco drama. A primeira parte deste filme é fascinante. É um prazer ver como era o music-hall londrino nos anos 20, ver Massey interpretar um delicioso Noel Coward e ouvir as canções de Coward, espertas e maliciosas, que revolucionaram o show-bizz da época, criando a imagem do super-star. Mas depois, nas duas horas restantes, o que vemos são suntuosos shows, cenários caríssimos e uma diva sofrendo de solidão glamurosa. É pouco para segurar o filme. Mas, pelo inicio...nota 5.
PEEPING TOM de Michael Powell
Por falar em desastre... Este é clássico. Powell, um dos mais talentosos e famosos dos diretores ingleses, após uma dúzia de clássicos maravilhosos, resolve lançar este filme. E este filme destrói sua carreira e recebe uma das reações mais iradas que um filme já recebeu. Tudo em Powell era belo. Seus filmes, pretensiosos, eruditos, muito bem escritos, agradavam ao público comum e ao público metido. Mas este filme desagradou e ofendeu a todos. Porque ? Bem... ele é ruim. Talvez o mais neurótico filme que já vi. Fala de um fotógrafo em Londres que precisa filmar assassinatos. Crimes que ele próprio comete. O filme mostra essa compulsão voyerística- a de gravar o medo. As falas são atrozes, as cenas têm cores avermelhadas e tudo no filme se parece com um pesadelo eternamente repetido. Após esta obra, Powell passou a fazer filmes classe b e perdeu toda a atenção de público e crítica. Em 1968 fez inclusive "A Idade da Reflexão", que considero o filme mais feliz já feito. Bem... em 1980 Martin Scorsese, com a ajuda de Lucas e Coppolla, fez um festival Powell em Nova York. A justiça ao brilhante diretor de Sapatinhos Vermelhos e de Coronel Blimp foi feita. Mas este filme ( que tem um clima identico ao de Taxi Driver ), não merece ser descoberto. Um clamoroso erro e um filme detestável. nota zero!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
TERRÍVEL SUSPEITA de Robert Wise com Valentina Cortese e Richard Baseheart
Filme do começo da carreira de Wise. Uma mulher dá um golpe do baú. Mas nada é o que parece ser... Falar o que? O roteiro engenhoso, convence e nos deixa totalmente ligados, o cenário é perfeito, os atores não poderiam ser mais apropriados. Repare : nenhuma cena sobra. Nada parece durar mais do que devia. Tudo é exato, enxuto, lógico, correto, bem feito. Não há um único exagero, um só take mal costurado. Isto é cinema em seu maior grau de perfeição, de diversão, de entretenimento. Pop, muito pop, mas cheio de respeito ao público. nota 8.
ANATOMIA DE UM CRIME de Otto Preminger com James Stewart, Lee Remick, Ben Gazarra, George C.Scott e Arthur O'Connel.
Filme de tribunal. Longo e sério. E impecável. Stewart é um advogado banal. O crime em que ele se envolve é banal. A corte da cidade interiorana é banal. Mas voce se entrega ao espetáculo. Torce. Tem dúvidas. Dá vereditos. Se envolve completamente. É a magia irresitível do cinema. A música é de Duke Ellington ( ele aparece numa cena ), a foto de Sam Leavitt, e James Stewart está como sempre : perfeito, nobre, um imã em nosso olhar. nota 9.
O REI E EU de Walter Lang com Deborah Kerr e Yul Brynner
Talvez o maior sucesso da história da Broadway. As músicas de Richard Rodgers são um tipo de opereta à Bizet. Mágicas. Nos deixam otimistas e em estado de encantamento. Kerr está competente, daquela forma muito inglesa, como é de se esperar nessa atriz tão agradável; mas o filme é de Brynner. Muito mal ator, mal cantor, o canastrão maior. Mas então um milagre acontece : mesmo vendo o quanto ele é ruim, nos sentimos exatamente como a professora inglesa : caímos em seu encanto, rimos com suas frases, perdoamos sua falta de talento, e sabemos que jamais nos esqueceremos desse rei. Um dos maiores mistérios e um dos mais inescrutáveis milagres do cinema : é esta atuação de sorte e de voodoo de Yul Brynner. O resto do filme é desfrutável, um pouco meloso demais... a não ser uma cena de genialidade soberba : a apresentação de A Cabana do Pai Tomás em versão tailandesa. São minutos de coreografia de Jerome Robbins superlativa. Vemos alí, cenários, roupas, música de uma modernidade, de um gosto, de uma beleza arrojada ainda insuperável. Por essa cena e pelo trabalho de Yul. nota 9.
VAN GOGH de Robert Altman com Tim Roth e Paul Rhys
Não dá. Nunca saberemos como Vincent era. Nunca saberemos como Gauguin era. Este filme tem a lenga-lenga das loucuras de Van Gogh e da empáfia de Paul. Muito chato, muito metido, muito louco, muito sujo. Uma pena, pois Roth nasceu para este papel. nota zero.