A TRÉGUA - MARIO BENEDETTI

   No Uruguai de 1960, um homem de 50 anos, prestes a se aposentar, sim, a aposentadoria era aos 50, pois se vivia até os 60, se enamora de uma colega de trabalho. Ele tem 3 filhos adultos e é viúvo. Ela tem apenas 25 anos. Claro que eu me interesso por esse tema ( quem me conhece sabe o porquê ), mas o livro é bem chato.
  O autor usa a forma diário, então lemos esse namoro dia a dia. Mas não é esse o problema. A linguagem é pobre e os pensamentos do homem são banais. Não senti a menor afinidade com nada no livro. Suas inseguranças não me fizeram simpatizar com ele e seus pensamentos profundos são xucros.
  Este livro, 120 páginas, é considerado o melhor produto de um autor importante. O que posso registrar ainda é que o li sem nenhum prazer. Terminei ontem e já começo a o esquecer.
  E é só.

CARTAS PERSAS - MONTESQUIEU

   Em 1725 Montesquieu nobre francês, lança este best seller ( sim, foi um imenso sucesso então ). Cartas Persas é uma obra em que o autor cria uma correspondência entre príncipes persas que viajam à França. Eles comentam aquilo que observam e ao mesmo tempo recebem notícias de seu reino. Na Pérsia tudo se resume as intrigas entre eunucos e escravas, na Europa tudo é hipocrisia e vaidade.
  Montesquieu aproveita para demonstrar os erros do catolicismo, da moda, dos poetas e dos intelectuais. Várias são as cartas memoráveis. O retrato que ele faz de Espanhóis e portugueses é perfeito: Homens que se acham superiores só por terem a pele clara, e que por isso passam a vida sentados, sem trabalhar, pois o trabalho é indigno de brancos.
  Ele aponta ainda um fato pouco reparado: o colonialismo empobreceu os países colonialistas. Portugal e Espanha se arruinaram na América, pois a despesa sempre foi maior que o lucro. Holanda e Inglaterra enriqueceram por comerciar e não colonizar.
  Mas há bem mais! O autor explica o porque do apogeu de Roma e a pobreza da Italia e adverte que o primeiro sintoma da decadência é a diminuição da população.
  Montesquieu defende o protestantismo, o divorcio, a liberdade, a união em torno de um líder. Seu raio X da Inglaterra é sublime: País de gente impaciente, ativa, trono forte com reis sempre fracos, o que garante a força da instituição e não da pessoa´.
  Livro central do grande século da luz.

MAIS UM NABOKOV: O DOM.

   Este é dos anos 30 e é bastante ambicioso. Uma auto biografia fake, o livro mistura xadrez com borboletas ( dois amores de Nabokov ), com o início da vida de um emigrado russo na Alemanha pré nazista. O estilo é elaborado ao ponto da quase saturação. Elitista. Saboroso.
  Longo, tem no capítulo 2 o seu maior momento: o autor descreve e narra a vida de seu pai. Um homem que explorava o mundo atrás de espécies raras de borboletas. Um tipo de nobre muito em moda no fim do século XIX, o "homem de ciências". ( Penso em nosso Dom Pedro II ). Apaixonado por conhecer este mundo pela via científica, esse homem não mede esforço para ir onde seu desejo de saber o manda. O filho, o autor, ama esse pai sem nenhum pudor. O pai de Nabokov, sabemos, foi bastante assim.
  Os demais capítulos, são poucos e são imensos, nos seduzem com a exposição de um universo que não existe mais. Sinto pena por Nabokov não ter visto a morte da URSS. Ele amaria ver Leningrado retornar a São Petersburgo. E seus livros serem finalmente lá editados. Mas não houve tempo, ele morreu em 1977, aos 78. Teria de ter chegado aos 90.
  Um escritor tem de ser muito bom para conseguir me fazer sentir prazer em ler páginas e páginas sobre borboletas. Ele consegue. Jamais leia um autor deste tipo, mestre na arte da escrita, esperando a fascinação de um enredo. O fascínio aqui nunca está no que se conta, está no como se conta. Pouco importa o motivo, o que queremos é ler palavras. Palavras que se transformam em sentenças, que harmonizam como música e metamorfoseiam-se em borboletas ou peças de xadrez. Ou um quarto barato em Berlin.
  Ah! As personagens, muitas, são maravilhosas!

SOMOS TODOS ARLEQUINS - VLADIMIR NABOKOV

   Escrito em 1974, já em sua velhice, este livro, meio auto biográfico, mostra mais um tipo de Nabokov.
 Fascinante autor, ainda não li dois livros dele que fossem parecidos. Li dois bastante ruins, li três geniais, e ainda mais dois "apenas" ótimos. Este é um dos ótimos.
 Aqui ele conta as memórias de um refugiado russo. Vadim é escritor de sucesso, professor universitário nos USA e se casou várias vezes. O que ele mais lembra aqui são seus casamentos. O primeiro termina em tragédia, outro vira pesadelo, mais um que se torna uma piada e um novo casamento que promete ser bom. Há ainda a relação com uma filha. ( Estranho mundo o nosso. O personagem, não há como evitar, parece ter uma relação carinhosa demais com essa filha...incesto? Ou estamos educados e amestrados a ver doença em ato sem conotação sexual? ).
 Vadim é esnobe, hedonista, vaidoso, preconceituoso e brilhante. E terrivelmente sexista. Não é simpático, é interessante. E tem queda, outro problema neste século, por ninfetas. Penso em como um rapaz médio ou uma garota mediana, irá reagir ao fato dele "adorar" quando Dolly, uma sua vizinha, senta-se em seu colo insinuando uma nascente sensualidade. Detalhe: Dolly tem 10 anos...Quando ela chega aos 22 ele é seduzido pela antiga criança.
 Disse que Nabokov cria livros diferentes. Mas eu menti. Nabokov nos faz bons mentirosos. Seus livros são sempre o mesmo. Sexo é o centro e há sempre um homem muito vaidoso perdido em seus pensamentos. Esse homem tem uma cultura clássica, vasta, e é russo. Anti bolchevique, ele tenta sobreviver em meio às delícias do ocidente. Não tem lar. Não tem raiz. E é seduzido pela jovem ninfa: a América. Linda, tola, alegre, saudável e limpa.
 Acho que voce não vai encontrar este livro para venda. Mas vale à pena. Nabokov escreve como se letras fosse notas musicais. É um estilo grande, exibicionista, faminto.
 Ele corre o risco de ser enterrado e banido de nosso mundo diverso e igualitário. Nabokov lembra um tipo de homem que as pessoas querem fingir nunca ter existido. Eu adoro ele. E não tenho problema algum quanto à isso.
 

GÊNIO?

   No último dia do Rock in Rio tem King Crimson. E a banda é massacrada pelos ditos críticos por ser elitista. Oh God!
   Neste tempo de "democracia do gosto" se instaura o "pecado do elitismo". O King é chato. Ok. Mas criticar elitismo? Seria hoje o Velvet Underground chamado de metido à besta? É pecado exigir do público cultura e discernimento?
   Postei video do Glenn Gould. Pianista canadense, morto precocemente em 1982. Ele tocava para si mesmo. Pegava Bach e o explorava ao vivo. Reduzia a velocidade, empacava numa nota, mudava timbres. Ia fundo em cada aspecto do compositor. Para ele o público deveria se esforçar para o acompanhar. E essa é a palavra: esforço. Me parece que qualquer pedido de esforço hoje seria elitismo. Parte-se da ideia de que o público é idiota e assim deve ser respeitado em sua folgada idiotia.
   Genialidade é sempre desconforto. Há gênios felizes, mas não existe genialidade democrática. O gênio exige aperfeiçoamento. É para poucos. É aristocrático.
   Claro que King Crimson não é genial. Mas ele exige um mínimo de concentração. De senso musical. E isso irrita os inconcentráveis sem senso.
   A burrice é a fé do século.

Django Reinhardt CLIP performing live (1945)



leia e escreva já!

Glenn Gould-J.S. Bach-The Art of Fugue (HD)



leia e escreva já!

Mozart conoce música de Johann Sebastian Bach



leia e escreva já!

CÂMERA OBSCURA - VLADIMIR NABOKOV

   Odiei. Abominei. Detestei.
   Escrito quando Nabokov vivia em Berlin, quero crer que este livro foi escrito apenas com o desejo de conseguir algum dinheiro. É um tipo de Anjo Azul em versão russa. Homem rico e casado se envolve com menina ( 16 anos ), pobre, bonita e desinibida. Ele afunda em solidão e claro, é humilhado. Há o mérito de nuançar a menina, ela não é apenas má. Tem seus motivos. Mas não há nada do inventivo Nabokov aqui. É um livro terrivelmente pop. Prevemos tudo o que irá ocorrer, a história corre em seu caminho comum e banal. Odiei ver o mago Nabokov, mago da linguagem, dos climas mágicos, da sensibilidade, percorrer esse circuito best seller vulgar. Não há jogo de escrita, não há refinamento, não há surpresa nenhuma.
  Curto e bobo, joguei ao lixo o livro assim que terminei de o ler. Raras vezes fiz isso na vida. Minha reação irada revela o amor que tenho pelo autor.

FOGO PÁLIDO - VLADIMIR NABOKOV

   Como vou falar deste livro, esplêndido, sem revelar seus muitos segredos? Seria terrível contar para você tudo aquilo que será descoberto conforme você avança em suas duzentas e poucas páginas.
   A questão que Nabokov propões é certeira: Existe alguma coisa que seja verdadeira? Nosso cérebro tem o poder de absorver e compreender a realidade? Ou tudo que conseguimos é criar mentiras para nosso tolo consumo? Pior, só percebemos aquilo que desejamos perceber e queremos viver o que nosso passado e nosso meio nos faz querer viver. Mesmo sem o perceber.
  Lemos um livro, ou vemos um filme, e o que assistimos ou lemos é aquilo que podemos e ansiamos por encontrar. Não há leitura isenta. Não há vida imersa na verdade. Criamos nossa crisálida de ilusão segundo a segundo. Se você é apenas um bobalhão, voce cria uma realidade curta e simplória, feita de desinteresse e funções corporais. Se voce tem uma mente mais sofisticada, voce cria um universo de visões e crenças complicadas. Nunca verdadeiras.
  Este livro é uma maravilhosa peça de ilusão. É divertido e trágico. Venha comigo...
  Voce abre o livro e trava conhecimento com um professor universitário. Ele vai comentar e lhe apresentar o último poema de um amigo morto. Nessa introdução, ele te aconselha a ler primeiro as notas que ele compilou.
  E lá vou eu ler essas notas. O poema tem cerca de 15 páginas, as notas são duzentas páginas. Eis um livro em que as notas são mais importantes que a obra em si. Eis um livro em que o editor é mais importante que o autor.
  Então leio as notas. Ou melhor, começo pela bibliografia. Depois leio o índice. E então as notas.
  Falo do que elas tratam? Ok, só uma pista: O editor se vê na obra. Assim como voce se vê em seus filmes e livros favoritos. E por ter sido "amigo" do autor, ele vê sua biografia no poema.
  Nabokov escreve como quem cozinha e sabe cozinhar. Tempera e aquece, bate e mistura, serve e exige paladares treinados. O livro é de 1962, e em 1962 ele era o autor mais importante a escrever em inglês. O Nobel não veio. Ele não era simpático a duas coisas que os juízes do Nobel amam. Política e vitimismo.
  Não é um livro fácil. Mas é um prazer.

AS DUAS GRETAS

   Vivemos o tempo do faz de conta. Cada um acredita naquilo que seu coraçãozinho puro quer aceitar como verdade. A ciência virou um filme em 3D e a filosofia um tipo de eco daquilo que voce já sabe e adora reouvir.
  Espertalhões usam isso pra se promover. Eles revivem algo feito já montes de vezes e vendem como novo, ideia original. Ou pior ainda, um tipo de "resistência contra a mediocridade". Falo das duas Gretas. Aquela do rock e aquela da ONU.
  A do rock tem milhares de seguidores fanáticos, incapazes de perceber que ela é apenas um karaokê não assumido. A banda dá aos seus seguidores aquilo que eles sempre quiseram: a repetição ao infinito de um discurso vazio. Tudo que eles fazem é obedecer. Obedecem fãs, empresários e alguns divulgadores. Cumprem um acordo. Mais do eterno mesmo. Fake.
  A menina autista nascida em país rico e filha de pais bem de vida é caso bem mais doentio. Europeus ricos amam parecer conscientes. Faz parte de sua formação vir ao Brasil ou à Africa defender pobres ou baleias. Pra eles é tudo a mesma coisa. Ficam dois anos e depois voltam para Estocolmo, viver um estilo de vida imutável. Ricos e loiros, puros como bebês em berçário social, se livram assim de sua culpa e podem passar os próximos 60 anos felizes. Eles podem pensar: Fiz minha parte.
  Greta diz que perdeu seus sonhos. Protegida pelo mais sofisticado capitalismo, vivendo num país que dizimou florestas e lobos, ela, comendo e morando nas benesses desse sistema, se torna a porta voz dos bem nutridos e dos seres de consciência pesada. Usada por seus pais e pela ONU, ela repete ao infinito as bobagens simplórias que John Lennon ou Taiguara falavam em....1970. Lennon ao menos compunha boas melodias.
  Há um bando de Yokos por detrás da pobre Greta. A pobre menina raivosa alimentada por salmão e arenque.
  Na minha escola tenho 550 alunos que não tiveram seus sonhos roubados.
  Eles não tiveram sonhos, então nada foi roubado.

UMA QUESTÃO PARA QUEM QUISER SER QUESTIONADO

   A questão que faço é: No amor erótico, entre homem e mulher ( ou não ), há realmente o interesse pelo outro, o sentimento é aquilo que parecemos sentir, ou tudo seria uma fantasia?
   Falo de amor, do amor que diz 'Te amo", "Preciso de você", daquele que se dedica completamente. Ou seja, não falo da amizade ou do mero acordo de companheiros. Falo do amor que escreve romances e dita poemas. E pergunto outra vez: Nós o sentimos, todos sabemos do que falo, mas ele é de fato aquilo que imaginamos ele ser?
  Já me traí ao usar a palavra imaginação. Seria então um amor ao ego travestido em amor ao outro? Amaríamos na verdade aquele que sente o amor e na verdade o que nos seduz é estar dentro de uma narrativa?
  Ou o amor seria apenas um ajuste de contas, um modo de reviver e tentar purgar coisas vividas na infância? Sexo hoje é coisa simples, e dizer que o amor é um modo mais bonito de falar de sexo não me parece mais apropriado. O mundo mudou muito e o sexo é aceito como biologia, política ou direito, chama-lo de amor não é mais preciso.
  Acho.
  Mas o que ele, o amor que mata e faz viver, o que ele seria?