Phase IV Trailer (1974) Saul Bass Director Feature Film - HD Classic Tra...



leia e escreva já!

FILMES

   GAUGUIN, VIAGEM AO TAHITI de Edouard Deluc com Vincent Cassel
Adivinha só...acertou! Uma bio de Paul Gauguin que o transforma num tipo de Cristo sofredor. Argh! O romantismo nunca vai morrer, continuamos a ver artistas como mártires sofredores. Neste filme medíocre, Gauguin sofre mais que Van Gogh. Tudo pela arte! Na verdade Gauguin era um pedófilo perdulário aproveitador e bem mentiroso. No filme até as taitianas estão vestidas e têm mais de 25 anos de idade. ( Elas andavam nuas e tinham 13 ). Vivemos um tempo hipócrita.
   TERMINAL de Vaughn Stein com Margot Robbie, Mike Myers e Simon Pegg.
Talvez seja o pior filme da história do cinema. É um mix do pior de Tarantino com o pior de Guy Ritchie e doses de sobras de Rodriguez. É nojento. É burro. É imbecil.
   MATADOURO CINCO de George Roy Hill com Michael Sacks e Ron Leibman
Escrevi por aí sobre este filme. Filmagem de uma história de Kurt Vonnegut Jr, ele é absolutamente moderno e completamente instigante. Fala das idas e vindas no tempo de um derrotado, um loser total. O filme é lindo e tem um retrato da segunda guerra duro e sem firulas. O filme nos pega e não o esquecemos. Por ele, volto a dar notas. 9.
   NO MUNDO DE 2020 de Richard Fleischer com Charlton Heston.
No mundo do futuro vemos um policial mudar de lado e começar a questionar o mundo onde vive. Não é um grande filme, mas é interessante. O final é triste pacas. Nota 5.
   REPO MAN de Alex Cox com Emilio Estevez e Harry Dean Stanton.
Caramba! Difícil falar deste filme. Ele tem o pior dos filmes cult e o melhor dos filmes jovens. De ruim: falas horrendas, críticas à sociedade banais e óbvias, atores mal dirigidos. De bom: algumas cenas acidentais que funcionam de modo original e livre. São dois caras que recuperam carros que não são pagos pelos donos. O filme começa mal e melhora quando enlouquece de vez. Nota 6.
   COLOSSUS de Joseph Sargent com Gordon Pinsent e Susan Clark.
No futuro, 1980, o filme é de 1970; um super computador passa a tomar conta da politica militar de EUA e URSS. Eu achei o filme frio e os cenários bobos. Mas hoje ele tem fama de cult. Sargent é o diretor de Sequestro do Metrô, ele está sendo reavaliado nos dias de hoje. Nota 4.
   PHASE IV de Saul Bass com Nigel Davenport e Michael Murphy.
Saul Bass dirigiu só este filme. Ele, em 1974, ano desta produção, já era famoso como o desenhista de produção e de títulos mais genial de Hollywood. Fizera esse trabalho em Psicose, Vertigo, Dr Fantástico, e mais uma montanha de clássicos feitos entre 1955-1972 . E então lança este pequeno clássico. Há uma explosão estelar e as formigas na Terra passam a se comportar de modo estranho. O filme, frio, lento, seco, simples, ainda provoca medo. E faz algo de muito perturbador: nos deixa olhar o planeta como se nós não fossemos a espécie mais importante. É um filme muito, muito original. Nota 7.
   IMPÉRIO DO CRIME de Joseph Lewis com Cornel Wilde e Richard Conte.
Policial contra mafioso. Entre os dois, uma mulher. Não envelheceu um dia este filme escuro e muito, muito sexy. Na verdade tudo gira ao redor do desejo pela mulher. A fotografia é uma das mais inventivas da história do cinema. É um desses filmes obrigatórios. Nota 9.
   MOEDA FALSA de Anthony Mann com Dennis O'Keefe.
Por falar em fotografia, John Alton fez deste filme uma aula de como criar grandes cenas com poucos recursos. Um belo filme noir! Nota 7.
   NAS GARRAS DE FATALIDADE de Alberto Cavalcanti com Sally Gray e Trevor Howard.
Cavalcanti, brasileiro do Rio, de família tradicional, é ainda o diretor de cinema com melhor carreira fora do Brasil. Nos anos 40 fez filmes na Inglaterra, antes estivera na França e depois filmaria na Alemanha. Que bom filme este!!!! Mostra uma rede de bandidos em Londres. A cidade parece de pesadelo e o filme tem suspense de sobra. ( Só as cenas de briga são muito ruins ). Nota 7.
 
  

ROCK VELHO, ROCK NOVO

Primeira coisa: Neste texto quando falo "velho" ou "infantil" isso não é um valor, um adjetivo. É apenas um rótulo independente de julgamento. OK?
Rock Velho não é show dos Stones ou do Who. Um show dos Stones aos 75 anos pode ser saudosismo, experiência pra botar no currículo ou Peter Panzice way. Um show do Who pode ser testemunhar uma coisa quase religiosa. Mas não é esse "velho" que vou explicar. É outro muito mais discreto e simbólico.
Tenho 55 anos. Sou velho. Ou adulto maduro. Não importa o nome, passei da metade de minha vida faz tempo. Continuo ouvindo rock, embora ele não tenha mais a importância vital de quando eu tinha 20 anos. 90% das bandas, de ontem ou de hoje, não me dizem mais nada. Falam de coisas infantis, irrelevantes para quem tem mais de 40. ( A não ser que o cara continue vivendo como um cara de 18, o que seria beeeem estranho ). A gente, depois dos cabelos brancos, simplesmente não consegue mais se conectar 100% com um cara falando de futuro, amor ingênuo, fugir da casa do pais, saltar fora da escola ou ter ataques de deprê adolescente. A poesia pobre com rimas fracas também incomoda. Assim como a rebeldia de bandidinho da rua. Isso tem a ver com o som também. Riffs falam desses temas também. E a gente, velho, se sente fora disso. Vendo pela janela, não lá dentro da sala.
Os Stones em novos discos continuam fazendo esse tipo de som. Não só eles, mas velhotes vários insistem em fazer rock infantil. Eis porque digo que tudo isso independe de idade.
Mas existe um rock velho. Que pode ser gravado hoje e pode ser feito por um cara de 20 anos. Mas é velho no sentido de que ele passa a sensação de alguém que já viu demais, viveu demais, sabe muito mais do que ousa dizer. É um rock discreto, nada espetacular, cansado até, que cheira a charuto, tem gosto de whisky e rima com solidão aceita e até amada. Chris Isaak aos 25 anos já fazia isso. Era natural. Assim como é natural desde sempre a The Band ou JJ Cale. A turma da soul music nasce madura. O country gosta de ser velho. Mas o rock, esse luta como Neverland para ser sempre um teenager.
Acho que é só isso que vou falar. Rock velho não é verborrágico. Nunca. E   nem histérico.

Um Tributo à Dener



leia e escreva já!

DENER - DENER PAMPLONA ABREU. O CHIC DE UM TEMPO REAL.

   Eu vi meus caros, eu estava lá. Quando voce olha uma foto, hoje, de 1970, talvez voce veja apenas costeletas longas, calças justas demais ou camisas com estampas exageradas. Mas por detrás de tudo isso, perceba, havia um genuíno desejo por elegância. Crianças, mesmo as de escola pública, não podiam estudar sem o uniforme. E uniforme era uma roupa que se ocupava de camisa, calça, meia e sapato; não era apenas uma camiseta com símbolo da escola. ( As meninas mais ainda, a saia tinha de ser com pregas ).
  Recordo que os empregados de meu pai, simples balconistas de bar, recém chegados do Paraná e da Paraíba, ficavam horas no vestiário antes de ir embora do trabalho. Banho, calça passada, camisa de manga comprida e uma montanha de perfume. Só então eles iam pra rua. A vaidade se exibia em roupa, hoje ela se exibe em carne e pelo. ( Nossa vaidade atual é a vaidade do corpo malhado e do cabelo em corte diferente. Uma vaidade pelada. Sem arte, a vaidade do guerreiro ou do prostituto. )
  A costureira ia em casa quatro vezes por mês. As roupas da minha mãe, mesmo as compradas feitas ( pret a porter ), era ajustadas por uma profissional. E tudo tinha forro. Engraçado, a arte do forro é uma arte perdida. O forro era o luxo que ninguém via, apenas sentia na pele. Neste mundo todo pra fora, exposto, morreu o forro. Mas vamos ao Dener...
  Antes de Dener gente muito rica comprava tudo na Europa. Com Dener eles passaram a comprar Dener. Nascido rico, no Pará, Dener vendeu sua moda vendendo sua frescura. Ele mesmo fala isso. Seu jeito fresco de ser vendeu a ideia de moda ultra chique no Brasil. E como ele era fresco!!! Coisa que ele não fala, o livro foi escrito em 1972, minha edição é a da Cosac de 2005, é que ele foi o primeiro gay brasileiro querido por donas de casa e crianças. Graças a Flavio Cavalcanti, que tinha um programa de TV, na Tupi, domingo a noite, audiência gigante, Dener era jurado, e lá ele se tornou mega estrela. Fãs esperando na rua, no aeroporto. Eu era criança e lembro. Muito antes de Ney Matogrosso, Dener foi o primeiro gay a entrar nos lares tupis. Eu o via e não sabia o que achar. Aquele moço tão frágil, magro demais, tão romanticamente vestido, sedas e lenços, babados, tão vaidoso, tão ferino, e bonito, sim bonito. Mas eu sabia que havia algo de secreto nele, Criança sabe. E fica encafifada.
  O ateliê de Dener era na Paulista. Uma esquina onde depois foi um McDonalds. Quem tem menos de 50 anos não sabe o que foi o chique paulista. No Mackenzie ainda peguei o fim desse tempo. Gente que nunca havia pego um ônibus. Que não sabia entrar em um banco. Que jamais havia pago uma conta. Sim porque a principal característica do chique é viver no mundo da Lua. São distraídos, pouco práticos, o tipo que não percebe um incêndio no vizinho. O tipo que não sabe apertar botão de elevador. Os outros fazem tudo por ele. Meu amigo Leandro Cunha Bastos, minha amiga Claudia Lindolfo Daher, amigos do Mackenzie, nunca pensaram nem em aprender a dirigir. O chauffeur os conduzia. E como todo chique, não tinham nome, tinham nomes e um apelido gracinha: Lelê e Clau.
   Dener diz que a utilidade do chique é ensinar as classes pobres o que significa ser civilizado. Exemplo. Acredito que sim. Essa é a única utilidade da realeza inglesa desde 1688. Hoje nossos modelos são algum cantor sertanejo e alguma cantora da Bahia. Em 1970 os modelos não eram os Mayrinck ou os Campos, mas Pelé e Roberto Carlos, os modelos de então, pegavam como moldes esses chiques de verdade e os passavam para nós, simples aspirantes. Veja uma foto de Pelé em 1967 ou de RC em 1968. Há informação naquele visual. À partir de 1978 a coisa se degringola.
  Último toque: não leia este livro se voce tem menos de 40 anos. Dener elogia o regime militar. Se voce não tem alguma lembrança da época não vai aceitar isso. De jeito nenhum.

A VIDA DOS ELFOS - MURIEL BARBERY

   Lançado em 2015, este é o terceiro livro de Barbery que leio. Hm...confesso que não consegui chegar ao final...e é duro para mim não terminar um livro! Parei na página 110, marquei bem essa página e espero um dia o retomar. Enfim...
   ( O fato é que tenho tantos livros para ler e me dá nervoso perder tempo com algo que não seja um belo prazer ).
   A intenção de Muriel é louvável, ela tenta escrever um livro mágico. Para isso, ela usa a linguagem romântica. É o mesmo tipo de texto de Alain Fournier ou de algum poeta esquecido de 1840. Mas não funciona. Infelizmente. As imagens parecem forçadas e a linguagem acaba soando falsa. A sensação que temos ao ler é de ironia. E ao mesmo tempo sabemos que essa ironia é involuntária. Ela vem de nossa leitura e não da escrita dela.
   São duas meninas, uma na Itália e outra na França, que conseguem sentir a linguagem da natureza. E assim, o texto é repleto de árvores emanando luz ou de insetos e sua lingua secreta. Barbery usa imagens "lindas", o livro é tão "belo" que perde o tom. As frases são musicais, isso ela consegue, mas é melodia de Franz Léar, não de Schumann.
   Uma pena.
   ( Ou talvez seja apenas um livro romântico para meninas de 13 anos...sei lá ).

The Police - Voices Inside My Head



leia e escreva já!

Roxy Music - Avalon



leia e escreva já!

Poet



leia e escreva já!

Giorgio Moroder-First Hand Experience In Second Hand Love



leia e escreva já!

Association - Never My Love (1967)



leia e escreva já!

ENO DISSE: AMBIENTE-SE!

   Ambientação é timbre e timbre é o que diferencia música pop-elétrica  de música antiga, acústica. Melodia e harmonia independem de novas sonoridades. Música pós 1950 tem como diferencial-original o timbre. O ato de gravar e de mixar passa a ser parte da criação. E isso será levado aos extremos nos anos 80 via eletrônicos e RAP ( que são os estilos que salvam a década e a glorificam ).
  Posto e aqui e em posts mais adiante as músicas que me fizeram despertar para essa riqueza de tons, ecos, efeitos, detalhes. Tempere seus ouvidos.
  First Hand in Experience - Giorgio Moroder.
Era agosto de 1977, e o fato de lembrarmos datas e lugares onde estávamos prova a importância do evento. Na rádio Bandeirantes FM, novidade na época, som estéreo, eu escutei numa tarde fria, cinzenta, este som. E senti pela primeira vez na vida a frieza ambiental da música feita só por synths. O engraçado é que eu não sabia como aquele som era feito. Achei que havia algo acústico ali. Lembro de estranhar o timbre da "bateria", não entender como ela podia soar tão contida, plástica, exata. O futuro nascia neste quatro minutos de charme sexy gelado. A melhor biografia de música que li, a dos Kraftwerk, fala da importância central deste LP. Giorgio era o italiano louco que misturava Kraftwerk com disco. Depois os próprios alemães copiariam o italiano. Se voce quer saber o que se criou de revolucionário em gravações após a era de Phil Spector, esta é a faixa.
   A Poet - Sly and The Family Stone
E depois, em 1985, eu descobri que o pop negro sempre foi a ponta de lança do negócio. Sempre foram eles que inventaram troços novos. Basta observar que esse povo que NÃO ESCUTA música negra nunca sai da mesma lenga lenga, não mudam. Foi a black music que fez Bowie, Mick e tantos outros evoluírem. E em 1985 descobri que em 1970 havia um LP que fazia TUDO o que havia sido gravado em 1970 parecer muito, muito velho. Esta faixa em especial é uma porrada na cara de sonados e emparedados. Sly levou uma ano em estúdio para conseguir esses efeitos sonoros. Teclados que zumbem como abelhas, guitarras que ricocheteiam e o baixo de Larry Graham que é uma arma. Mata tudo. Os vocais ecoam como trovões nos céus. Tem eco e tem peso, tem swing e tem presença. Isto é o máximo de ambição que um produtor pode ter. E ele se chama Sylvester Stewart: um gênio.
  Avalon - Roxy Music
No último disco do Roxy, de 1982, encontrei a sonoridade de cristal que me seduziria forever. Tudo aqui decola e voa, numa leveza que te leva junto. Ferry desenvolveria pelo resto da vida este tipo de som: Um pop imaterial, diáfano, o máximo de romantismo com o mínimo de peso. Avalon é o pop mais perfeito possível, tão sublime que a gente sente que a música pode se desmanchar em um sopro mais forte. Há milhares de toques de percussão, uma guitarra quase silenciosa, um sax que hipnotiza e a voz de Mr Ferry no grau máximo de cetim e veludo. De Madonna à George Michael, de D'Angelo à Timberlake, todos tentariam essa sonoridade ultra mega chique.
   Never My Love - The Association
É este o disco. Em 1967 nasce o pop chique. Never My Love é tão bonita que dá pra ouvir pra sempre. O Wrecking Crew acompanha. As vozes antecipam I'm Not in Love e o instrumental anuncia Avalon. O teclado é tocado com a ponta das unhas. A canção parece vir das nuvens de um paraíso grego. É Platão inventando pop music. Achei a chave: esta música é platônica! É o molde-ideal de todas as canções com timbres e ambientação sublime. Nunca mais se faria nada tão etéreo.
   Voices Inside My Head - The Police.
Ninguém fala, mas Stewart Copeland é o maior baterista da história do rock. A gente esquece disso porque sua carreira durou apenas 5 anos. Depois sei lá...sumiu. Esta faixa, obra do estúdio de Chris Blackwell, é uma sinfonia de ecos, sons do deserto, miragens de harmonias e muito beat. Potencialmente o Police foi uma das dez maiores bandas da história. Eles tinham tudo. Mas se odiavam. Andy Summers tocava as partes da bateria e Copeland fazia na bateria os riffs da guitarra: esse o segredo do som. Sting tinha mãos de negro= swing de jazz. Esta faixa, de 1980, é uma duna.
   E Mais:
Eu poderia falar do som pelado de Big Pink, de The Band; do timbre de guitarra único de J J Cale. Poderia comentar a sonoridade "ruim", de asilo, do Satanic dos Stones. Ou o som limpo, clean, de quarto de dormir de Chris Isaak. O timbre do synth em The Law, dos Human League ( nunca ouvi timbre tão bonito, tão perfeito ). E compor, eu poderia, uma enciclopédia exaltando os timbres nunca repetidos dos solos de Jimmy Page e de Jeff Beck, os guitarristas mais irrequietos do rock. Ou fazer odes ao timbre sempre igual, e sempre perfeito, da guitarra de Robbie Robertson, de Peter Green, de Steve Cropper. Ah e tem o timbre fácil de reconhecer, por ser uma assinatura, dos couros de Ginger Baker. Mas paro por aqui. Caso voce não saiba, menos é mais, e deu né.