Robert Plant & Jimmy Page 'Gallows Pole' - Jools Holland Show 1994 BBC



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NO QUARTER - PAGE E PLANT OU A CULPA É DO KEITH RICHARDS.

   Só uma mentalidade muito preconceituosa faria com que alguém em 1993 não amasse o disco de Plant e Page. E em 1993 eu era preconceituoso. Foi uma de minhas fases moderninhas, estava deslumbrado pelos sons coloridos das raves e tudo que não queria ouvir era som de hippies velhos. ( Ironia, hoje sou mais velho que eles eram então ). Uma pena. Eu adoraria o disco naquele tempo e o adoro hoje.
   Robert Plant é o único cara da história do rock que virou estrela sem jamais deixar de ser quem ele sempre foi. Pode ser visto andando de bike em Londres. Podia ser visto em shows de punk rock em 1978. Envelheceu sem disfarçar uma só ruga. E fiel aos preceitos hippies, nunca usou o nome do Led Zeppelin para fazer dinheiro. A banda poderia bater todos os recordes de bilheteria hoje. Ele não liga. Conseguiriam juntar um milhão de pessoas nas areias do Rio. Pra que?
   Neste disco eles fazem uma coisa mágica. Pegam canções do Led e conseguem torna-las novas sem deixar de serem as mesmas. Cavam fundo naquilo que elas sempre foram e expõe ao mundo suas origens celtas e árabes. Medievais. É música da idade média. E é música de sempre. Os arranjos, ciganos, druidas, junguianos, trazem a atemporalidade e o sonho ao universo do agora. Tolkien, ídolo de Plant casado com Muddy Waters. Funciona. O disco escutado hoje continua de amanhã.
  Keith Richards continua para sempre congelado nos acordes de 1968. A única ousadia é misturar reggae ou James Brown à Brown Sugar. Não há e nem jamais haverá a menor chance de que ele modifique suas músicas. Elas são pedras. Ainda rolam, mas estão mortas. Seria lindo ver Satanic refeito no palco. Com indianismo, marroquismo e xamanismo. Ou o Banquete dos Mendigos com doses de punk e de eletro. Mas não. Keith não deixa. Ele é um negro do blues e vai morrer sendo isso e só isso. Ok.
  Mas este No Quarter...

ETHAN FROME, UM LIVRO CRUEL DE EDITH WHARTON.

   A turma de Heminguay achava Edith Wharton a melhor escritora americana viva. Ela morreu em 1937 e deixou o posto para Dorothy Parker, que nada tem a ver com ela. Este é o segundo romance dela que leio. A Era da Inocência, que virou filme de Scorsese, é leitura prazerosa e profunda. O tema de Wharton é o destino, sempre ele. O modo como somos obrigados a fazer coisas que não queremos. A maneira como temos a vida que nunca desejamos ter.
  Ethan Frome é um dos livros mais amados pelos americanos. Curto, tem o estilo simples e perfeito de Wharton. Ethan vive numa fazenda no norte dos EUA por volta de 1890. Casado com uma mulher doente e apaixonado pela prima da esposa, que também o ama, ele não tem como fugir e viver seu amor. Lemos e sentimos a asfixia da vida de Ethan. E tomamos consciência de que a maioria das pessoas é Ethan Frome. Ele não pode mudar.
  A escrita é uma coisa mágica. Lendo este livro me senti no mundo que ele retrata. Frio, vento, gelo e a escuridão de noites sem fim. Ele tem o ambiente gótico da Nova Inglaterra. E o caráter protestante do povo americano. Eles trabalham. Acreditam na missão.
  Edith Wharton, de origem rica, era amiga de Henry James. Começou imitando o estilo complexo de James, mas logo descobriu sua voz. Ler suas palavras é lembrar tudo aquilo que um bom livro pode ser.

CRÍTICA DE ROCK, ESSA COISA SEM SENTIDO.

   Crítica de rock não faz sentido. Opinião de rock seria melhor. Escrever sobre música já é quase impossível, e sobre o gênero rock é ainda pior. Isso porque a tendência é acabar por tratar o rock como aquilo que ele não é. E dar à ele um verniz de erudição e de intelectualidade que ele nunca teve. E nem pode ter, pois isso significa sua morte como gênero original. Críticos de rock, mesmo os que pregam a simplicidade do som, acabam por fazer crítica. Educados em faculdades de letras ou de jornalismo, revelam em suas linhas os vícios da crítica literária. Acabam por dar à uma banda de iluminados iletrados de Newcastle a honra duvidosa de serem colocados no mesmo saco de Baudrillard ou de Chomsky. É o momento em que matam o rock.
  Desse modo, gente do meio que se presta a ser comparado a gente das letras acaba sendo incensado pelos críticos. E aqueles que não podem ser enfiados em uma comparação com Keats, Whitman ou Baudelaire, ficam a ver navios. São ignorados.
  Ainda é assim, mas já foi muito pior. A pulverização da imprensa em milhões de vozes na internet acabou com as patotas. Nos anos 70 só gente da esquerda era levada em conta. Desse modo, Dylan era rei e Lennon vice rei. E alienados como Black Sabbath ou Queen eram completamente deixados à margem. Ouvir Ozzy ou Mercury era coisa de analfabeto. O povo inteligente tinha de preferir Joni Mitchell. Ou The Clash.
  Na virada da década, entre 78-82, o Clash era chamado de maior banda da história do rock. Os destruidores marxistas do passado. Os caras que iam reorganizar o rock em bases igualitárias. Com eles vinha o Gang Of Four, Elvis Costello, The Jam e mais uma multidão de camaradas. Nesse mundo, The Police, The Cars ou Kraftwerk não eram muito comentados. Eles não cabiam nesse universo letrado. ( E os Ramones eram a sombra, um tipo de vício secreto culposo e culpado ).
  Nos anos 80 o niilismo imperou e a patota da crítica amava aqueles que lembravam Nietzsche. Nunca a crítica de rock foi tão poderosa e nunca esteve tão distante das massas. Eram textos gigantescos e nesse universo Iggy Pop era rei. O cinismo de Bowie era elevado à arte absoluta. Oscar Wilde mandava nas cabecinhas jornaleiras.
  Hoje nada disso faz sentido. Um crítico é um homem no gueto. Suas opiniões são levadas a sério apenas por seus amigos. Seus seguidores. Então podemos notar neste mundo muito mais aberto, que o Rush não era tão ruim e o Clash não era tão bom. Que o Grand Funk Railroad tinha seu valor e que talvez Neil Young não fosse um gênio. Leio sites de rock e é isso que vejo, o resgate de coisas que eram chamadas de lixo ( Cheap Trick e Thin Lizzy ).
  Ray Davies era tão bom quanto Dylan. Sempre foi. Mas sua patota não era A Patota.

O VENDEDOR DE ARMAS, UM LIVRO DE HUGH LAURIE.

   Sim, Laurie além de ser um bom ator e uma figura muito interessante, é escritor. Este é seu primeiro livro, de 2006, e desde então ele lançou mais três. Ele é da escola do genial Wodehouse, o cara que nos anos 30 lançou a maravilhosa série de Jeeves. Claro, não podemos esperar de Laurie tamanho senso de humor, mas sua escrita é bem feita. Tem ritmo, tem humor, tem agilidade.
  Um ex soldado inglês é envolvido, sem querer, numa complicadíssima trama que envolve venda de armas, drogas e mulheres bonitas. Laurie herdou de Wodehouse o amor à palavra, e assim dá atenção aos diálogos e aos duplos sentidos. O herói leva toda frase em seu sentido exato, que acaba sendo o sentido errado. Leia que voce vai entender o que falo.
  Este livro foi indicação de uma amiga que é mestre em conversar desse modo. Ela nunca leu os livros de Jeeves, mas por instinto ela pensa e fala como o personagem de Wodehouse. Conversar com ela é um belo exercício mental.
  Termino dizendo que este livro seria um filme muito bom.
  Quem se habilita?

Beach Boys - Help Me Rhonda (The Andy Williams Show 1965)



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HELP ME RHONDA!

A canção começa com acordes doces de guitarra ( deve ser Glenn Campbell no estúdio com seus Wrecking Crew ). Esses acordes logo são sobrepostos pela voz pensativa e bem adolescente. Voce pensa então em cozinhas de fórmica e quartos com fotos de astros de Hollywood. Mas então, sem avisar, entra o refrão, e a mágica se faz.
São as vozes dos Beach Boys e elas não estão doces. A melodia vem num ascendente quase atonal, ela vacila, e ela é, ora que coisa, profundamente angustiada. O adolescente pede socorro, insiste no pedido, chama e implora, socorro Rhonda, socorro...Nessas vozes, nessa melodia torta, há desejo frustrado, impaciência, dúvida e desespero. Há beleza superlativa.
É um dos cinco maiores singles da história do rock e do pop. Apenas dois minutos e meio, mas é um romance completo. Voce é capturado para o resto da vida. A massa instrumental aumenta, o que era doce vira quase fúria e o solo é esquálido, o pobre desejo virgem contra a contingência da vida.
Há quem ache, até hoje, que música pop é simples. Brian Wilson era simples como uma chuva de verão. Este single é pra eternidade.

TOM CRUISE - JERRY LEWIS - GLENN FORD - JEREMY RENNER

FEITO NA AMÉRICA de Doug Liman com Tom Cruise.
O traficante como um cara legal. Ok, o filme é amoral. Mas é bom pra caramba. É uma história real daquelas que só poderiam ter acontecido na América. Cruise, ótimo, é um piloto comercial em 1976. Contrabandista leve, ele é cooptado pela CIA para levar armas para os "contras" na Nicarágua. Mas logo o vemos enganando a CIA e fazendo contato com o cartel de Medellin. Ele leva armas à Colombia e drogas para os EUA. O dinheiro flui e o filme é uma comédia excelente. Sim, a moral do filme é "seja esperto e se divirta" .Mas com tantos filmes tendo por moral um tipo de culpa pós-cristã tipo " Deus não existe, a vida é um lixo", é uma alegria achar um filme que é seu oposto exato. A vida é uma festa, aproveite enquanto o tiro na cara não vem. A história desse otário-esperto adentra os anos 80 e ele se vê trabalhando para Reagan!!! Creia, os anos 80 não fizeram o menor sentido...Grande filme!
A MÚMIA de Alex Kurtzman com Tom Cruise e Russell Crowe.
Muito ruim. O roteiro não faz sentido, a ação é óbvia, as falas são ridículas. Para quem conhece A Múmia de 1936, filme cheio de erotismo e de mistério, esta balbúrdia é uma ofensa. Lixo.
ALMAS SELVAGENS de Jacques Tourneur com Glenn Ford e Ann Sheridan.
O filme se passa em 1900 na América Central. Um americano amotina um navio com a ajuda de alguns bandidos. Adentram Honduras, os bandidos achando que é por tesouro, o americano sabendo que tudo é feito para derrubar o ditador de plantão. O velho Tourneur de guerra em mais um de seus filme simples e bons.
O DIA EM QUE A TERRA SE INCENDIOU de Val Guest
Este filme inglês, de 1960, é talvez o primeiro filme a falar do fim do mundo do modo como entendemos isso hoje. Explosões nucleares desestabilizam o eixo da Terra e o clima entra em colapso. Mesmo para os padrões da época, os efeitos são ruins e o personagem principal, um jornalista beberrão, é um chato engraçadinho. O filme não é bom.
TERRA SELVAGEM de Taylor Sheridan com Jeremy Renner
Dão milhões na mão de diretores novatos e depois reclama do lixo que se produz. Hollywood tirou o poder dos individualistas e o negócio, a longo prazo, não é bom. Vemos uma manada de diretores com estilo idêntico e ideias feitas por molde de cera. Frio, caçadas, busca implacável, clima de niilismo, chatice atroz. Este é mais um.
O HERÓI de Brett Haley com Sam Elliott e Katharine Ross.
O projeto de vida do bom ator Sam Elliott. Ele é um ator esquecido que descobre ter câncer ( sim, mais um filme sobre doença ). Resolve tentar fazer um último filme enquanto reencontra a ex esposa, filho etc etc etc. Voce já viu isso milhares de vezes. Pena Sam.
ARTISTAS E MODELOS de Frank Tashlin com Jerry Lewis, Dean Martin, Shirley MacLaine
Um dos 3 melhores filmes com a dupla. Jerry é um desenhista que sonha com quadrinhos de sua heroína favorita. Dean aproveita para usar isso como modo de ganhar dinheiro. A muito jovem MacLaine é a heroína. Tashlin foi da equipe de cartoons da Warner. Ele transforma seus filmes em desenhos do Bugs Bunny. O filme começa como uma obra prima, depois cai...tem canções demais...
DETETIVE MIXURUCA de Frank Tashlin com Jerry Lewis.
Um dos filmes menos lembrados de Jerry. Ele é um detetive que procura um herdeiro que é ele mesmo na verdade. Não é bom.

The Champs "Tequila"



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Dick Dale - Surfin' Swingin'/Misirlou/Wedge Live 1963



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Duane Eddy "Forty Miles of Bad Road"



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Link Wray "Rawhide"



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HERANÇA HAVAIANA

   Recebo de herança uma das coisas mais fantásticas já feitas na face da Terra: Duas coletâneas, completas e brilhantes, de surf music. E a surf music, voce sabe, é a mais feliz das ondas musicais do século XX.
  Em forma de livro, com um texto longo e leve e fotos raras e variadas ( tem desde anúncios de produtos surf até instrumentos e carros ), são sete cds e mais de seis horas de sons excitantes. Uma mistura de sol, estradas e garotas que te leva ao coração da coisa.
  Surf music mistura country, mariachi, trilha de James Bond, sons de faroeste e r and b num coquetel de alegria e ousadia. Voce pensa em camisas havaianas, cenas de filmes, guitarristas solitários, acampamentos no mato e pranchas da Lightning Bolt. Link Wray foi um gênio, mas tem muito mais, de Ventures à Shadows, de Santo and Johnny até Jet Harris. Algumas faixas atingem o cume do rock n roll e nenhuma é chata. Faz voce pensar no quanto Dylan e Lennon estragaram o rock ( sem querer ) e no quanto Chris Isaak, Cramps e Pixies beberam aqui. O timbre das guitarras é sublime, a bateria é sempre o centro do som e eles enfiam algum som surpreendente no meio da receita certeira. Voce ouve e celebra. Dá vontade de sair. De rir e de amar. É fun. Super mega fun.
  Dentre as joias raras da herança de meu brother, só os LPs de garage podem chegar perto, e sobre eles escrevo depois.

DICAS ÚTEIS PARA UMA VIDA FÚTIL - MARK TWAIN, UM MANUAL PARA A MALDITA RAÇA HUMANA.

   Houve um tempo em que Twain era tão conhecido no Brasil como é JK Rowling hoje. Tanto era que ele foi, em 1971, o segundo autor que lembro ter lido. O primeiro foi Robert Louis Stevenson com A Ilha do Tesouro. Comecei bem, eu sei, e o livro de Twain era Tom Sawyer. Li e virei Tom Sawyer. Nele eu descobri que podia viver dentro de um livro.
   Mark Twain criou a América. Mais que Whitman ou Emerson, foi ele quem deu ao povo do país uma identidade. E foi amado, famoso, rico. Mas não foi feliz. Suas filhas morreram antes dele, e quando Twain se foi, em 1910, era um homem amargo.
  Cabelão branco e terno largo também branco. Ele dizia que vestia branco porque usar preto era perigoso. Podiam achar que ele já havia morrido. Este belo livro reúne texto que Twain escreveu entre 1870-1906. São 36 anos de artigos de jornal, romances, contos, peças e discursos. Viajava  mundo como astro de rock, dando palestras. E seu estilo era aquilo que se tornou o "estilo americano". Um jeito direto e grosso, engraçado e amargo, polido e cru, empolado e ousado. Seu texto tem sabor e tem humor. É a fala do sul, do Mississipi.
  Ele fala um pouco de tudo. Como educar filhos, como viver feliz, como ser amigo, o que se deve comer, beber, vestir. Como viajar. Ele critica as manias da Europa. Sua voz é aquela do Dude Lebowski. E é também a voz de Faulkner, de Updike, de Mailer e de Dylan. Mark Twain captura uma nação jovem e dubla seu sonho em voz. Exibe aquilo que a América quer ser.

trombone com vara: CRENÇA NO IMPROVÁVEL, O AMOR.

trombone com vara: CRENÇA NO IMPROVÁVEL, O AMOR.:    É lógico que o amor não existe. O que chamamos de amor é uma invenção artificial, mera fantasia criada por poetas. O que existe e pode s...

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