A MORTE DO AMERICANO...SAM SHEPARD IS DEAD NOT.

"Querida, eu vou lá fora quebrar a barreira do som e já volto...eu quero bacon and eggs hoje".
Foi gente assim que fez o maior país do mundo. Essa frase de cima exemplifica Chuck Yeager. E CY foi feito por Sam Shepard no cinema. E tinha de ser Sam.
Não nascerão mais americanos como ele. Porque hoje o modelo de homem que mistura intelectualismo com virilidade cowboy se perdeu.
Mas foi esse tipo de cara que fez o país. Emerson, Lincoln, Whitman, Melville.
Não vou dizer nada sobre ele.
Vou falar que Patti Smith está rezando agora. E com velas acesas.
Vou falar que Jessica Lange está chorando agora. E se veste de preto.
Ele foi Chuck Yeager mas foi também o fazendeiro impotente no melhor filme de Malick.
E escreveu roteiros.
"Querida vai dar comida as galinhas hoje que eu tou acabando um conto fodido de bom aqui".
Isso é América.

Patti Smith and Sam Shepard live at the Abbey Theatre, Dublin



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THE RIGHT STUFF Chuck Yeager (Sam Shepard) breaks The Sound Barrier



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Z, A CIDADE PERDIDA de James Gray com Tom Holland e Robert Pattinson.
O coronel Fawcett, soldado aventureiro inglês que se perdeu nas terras do Mato Grosso ganha um filme que não foi bem de bilheteria. A crítica gostou, eu achei este filme apenas morno. Li o livro e sei que Fawcett tinha uma personalidade muito mais rica do que o filme mostra. Falta mistério, falta o senso de desconhecido da loucura dele. Andar por onde ele andou quando andou é muito mais do que aparece aqui.
LOUCOS E PERIGOSOS de Mark Cullen com Bruce Willis e John Goodman.
Nas primeiras cenas Bruce Willis anda de skate pelado na rua. O filme é isso. Willis é um cara legal, mas sem nenhuma ambição como ator. Nunca teve. Penso que isso depõe a seu favor. Penso que ele viu a muito a futilidade de uma carreira. Ele ganha uma grana, paga as contas e tudo ok. Eu me diverti vendo o filme porque gosto do Bruce. Mas sei que o filme é uma zona.
UMA SUAVE MANHÃ de Neil LaBute com Stanley Tucci e Alice Eve.
Um cara e uma moça discutem. E falam. E se agridem. E enquanto isso voce morre de tédio. Não entendo pra que um filme desses!
MARIA ANTONIETA de Sofia Coppolla com Kirsten Dunst, Jason Schwartzmann e Steve Coogan.
Ótimo filme. A rainha fútil vira uma menina inocente dos anos 2000. E nossa identificação com ela aumenta muito. O filme tem uma trilha anos 80 muito boa. É melancólico, é belo e é um ato de coragem. Escrevi mais sobre ele abaixo. Procurem.
AS CRÔNICAS DE NARNIA de Andrew Adamson e Michael Apted
Janeiro de 2014 foi um tempo delicioso em que li os livros de CS Lewis. Os filme vejo agora. São como eu pensava, uma aventura Disney bem infantil. Aumentam o papel do Rato, dão alguns toques teens e jogam fora parte imensa do simbolismo cristão. Pois é.

Sumer is icumen in



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"Death Be Not Proud" Tenth Holy Sonnet by John Donne in the movie "WIT" ...



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ELEGIAS AMOROSAS - JOHN DONNE. SEXO, ESCRITA E MADRIGAIS.

   Temos a ilusão de que 2017 é tempo de sexo. Que nunca se transou tanto. Bem, no mundo da NET provavelmente sim. No mundo real...
   John Donne é um poeta e padre inglês do mesmo tempo que Shakespeare. Na primeira metade de sua vida ele foi um poeta que escrevia basicamente sobre sexo e sobre a beleza. Sua pena era ferina, satírica e sempre feliz. Na segunda metade de sua vida ele se fez padre católico. Não por culpa ou por revelação espiritual. Sua decisão foi apenas um modo de ganhar a vida. John Donne sempre foi crente e nessa segunda fase ele se torna um escritor de sermões. Os melhores de sua língua. Este livro que acabo de reler tem sua obra profana. E devo dizer que poucas vezes li algo tão feliz, exultante, risonho, satírico e bonito. Donne escreve com profusão de imagens. Ele pinta com palavras e todas essas pinturas são enfeitiçantes. Lemos cantando. Rindo e rangendo os dentes. Seu tema é a mulher. O amor que ele tem por elas. Amor que é sempre carnal. Ele pode começar falando da Lua, da floresta ou das flores, mas logo percebemos que é tudo introdução, pois logo ele fala dos seios, do sexo e das pernas. Ao mesmo tempo ele escarnece das mulheres feias, das ciumentas, das fofoqueiras, dos maridos cornos, das fétidas, das que possuem doenças venéreas. É o mesmo mundo de Chaucer, a Inglaterra alegre e impulsiva de antes da revolução industrial.
  Para onde foi esse mundo cantante...Sobrevive claro. Está presente em estádios de futebol, em ruas cheias de cockneys, na região norte do país. Mas é reprimido. Desde mais ou menos 1800, quando a nova riqueza inglesa trouxe de sopetão a obrigação de ser "inglês". E esse novo rico inglês impôs ao mundo a imagem de um povo frio, indiferente, algo snob. Para onde foi esse mundo cantante...Ele surgia em bandas de rock sujas ( Keith Richards e Joe Strummer estariam em casa no mundo de Donne e de Ben Jonson ). Ele surgia em astros do esporte como Paul Gascoigne e George Best.
  Ler os poemas de John Donne é uma alegria. E o que define a Inglaterra de 1600 é uma encantadora alegria de viver. Terra de piratas, ela vive solta em estradas ruins e tabernas escuras. E como se faz sexo!!! 99% do tempo os homens pensam em fornicar e no resto do tempo fogem de maridos cornudos. Estamos longe, muito longe do mundo romântico. Em Shelley, Keats e Wordsworth há a dor de se ter perdido o mundo de Donne. Em Donne há a alegria por ser o que se é. 200 anos que parecem 2000.
  Antes de Donne andei dando mais uma olhada em Wittgenstein. Nada pode ser mais estranho. O filósofo decreta o fim da palavra viva. Donne faz partos diários de palavras risonhas e fedidas. Amo os dois, mas Donne é maior.

Bruce Springsteen - "Stayin' Alive" (Brisbane, 02/26/14)



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AS ALTAS MONTANHAS DE PORTUGAL - YANN MARTEL.

   São 3 capítulos longos. Em cada um, uma história com tempo e personagens diferentes. Todas se passam em Portugal.
  A primeira é em 1903. Um rapaz vai de carro de Lisboa até o norte do país. Automóveis são novidades e a viagem é um pesadelo. Esse rapaz quer encontrar uma relíquia numa igreja esquecida. O texto, detalhista às vezes, outra vez apressado, parece árido. Difícil de ler.
  A segunda história é a de um patologista. Na noite de ano novo de 1939 ele vivencia o horror. É dos textos mais perturbadores que já li. Chego a pensar que não deveria ter lido. Não contarei detalhes.
  O terceiro justifica as falhas dos outros dois. É encantador. Fala de um senador do Canadá que adota um chimpanzé. Riquíssimo em sentido e em diversão, é um primor em termos de conto filosófico. A única coisa que posso dizer é que a mensagem é sublime.
  Yann Martel escreveu a Vida de Pi, e este novo livro não faz a metade do sucesso daquele. Penso que seja porque este começa de um modo muito antipático. E também porque Portugal não é tão exótico como a India. Os dois têm paralelos: viagens, busca, sofrimento intenso, algum humor e Deus como uma presença escondida em animais. Penso que este livro daria um filme ainda melhor que PI. Só que bem mais difícil de se fazer.
  Há um momento, sublime, no livro, em que o personagem entende que melhor seria aprender a ser um bicho, que ensinar um bicho a parecer gente. Senti isso, intuitivamente, em 1991, com meu cachorro Nicky. Aprendi com ele a ser um bicho. E ser um bicho não é fazer palhaçadas ou aprender a brigar. É aprender a NÃO FAZER NADA. A ignorar o tempo e ficar simplesmente VIVO.
  Essa descoberta, que parece enganosamente simples, é de uma dificuldade imensa. Nossa razão nos impele a aproveitar o tempo, usar o tempo, a viver a vida. Mas na verdade viver é simplesmente esquecer de viver.
  Não é um livro fácil e não é bem escrito.
  Mas todos vocês deveriam tentar o ler.

MARIA ANTONIETA É UM APURADO RETRATO DE 1999.

Não é um filme feito em 1999. Ele é deste século. Mas Sofia Coppolla faz um dos mais perfeitos retratos da geração que tinha 20 anos em 99. Mas vamos por itens...
Um dos mais exaustivos problemas em estudos literários, e que serve para tudo mais, é o fato de que jamais vamos saber o que significava ler Dante em 1400 ou assistir Wagner em 1860. Nós somos, em nossa parte mais profunda e básica, os mesmos homens de 1400 ou de 1860, mas jamais saberemos o que era SER um homem desses tempos. Sabemos o que um leitor de Dickens queria, temia, pensava, mas não sabemos "como ele se sentia lendo Dickens". Aquilo lhe era engraçado, triste, perturbador, tolo, mero passatempo, inesquecível...não há como saber. Basta dizer que um livro que voce leu aos 15 anos não é o mesmo aos 40 anos. Voce é o mesmo leitor. Mas sua experiência de leitura é outra.
Sofia Coppolla foi esperta. Um dos grandes problemas das adaptações literárias e dos filmes históricos é que os personagens se tornam "limbo". Não são figuras da época retratada porque não sabemos como elas andavam, falavam ou riam. E não são de nosso tempo, pois isso pareceria "tolo". ( Game of Thrones é um exemplo desse limbo ). Sofia teve a sacada de fazer da princesa da Austria uma menina de 1999. Isso faz com que o público de hoje SINTA o que seria ser uma princesa em meio a um ambiente hostil. Ninguém no filme tem atitudes ou gestos de 1780. Eles falam, agem e pensam como nós. O rei Luis é apenas um boa vida velho, o herdeiro real é um nerd virgem e a princesa é uma patricinha gastadora e de bom coração. Eles, os verdadeiros, eram desse jeito...Impossível saber como eles eram. Então, já que tudo na história oficial é uma convenção, que se faça aqui mais uma convenção.
Kirsten Dunst mereceria o Oscar do ano. Ela consegue ser crível em um papel impossível. Seu rosto de maravilhamento e de deslumbramento é sublime. Ela quase não atua, o que sempre, como Cary Grant dizia, é o mais difícil. Atuar, super atuar é simples. Dar um show de atuação, maquiagem e trejeitos, isso é muito mais fácil e óbvio que atuar "quase" como se não se atuasse. Quem subiu em um palco sabe disso. Dunst faz isso. O filme é uma linda oferta para ela. A gift.
Muito se falou da beleza estética do filme e do fiasco que ele foi. Nem isso e nem aquilo. Hoje ele está se tornando cult e a beleza não se compara aquela de Ophuls. Quem já viu um filme histórico de Ophuls sabe que a beleza de Coppolla é simples. Nunca suntuosa.
A crítica atual é tão mal preparada que chega a dar desgosto. Ninguém percebeu que toda vez que a princesa acorda e tem seu ritual da manhã, a música que toca é a mesma de ALL THAT JAZZ. A peça de Vivaldi. Só faltou ela dizer "Showtime!", como faz Joe Giddeon no filme genial de Bob Fosse. Esse é o paralelo genial de Coppolla. Giddeon fuma, bebe, transa muito e se arrebenta. Ele é o cara de 1960-1970, o cara do século XX. Quando no futuro olharem esse século todos os historiadores dirão que foi um século onde todos eram Joe Giddeon: Loucos. O que Maria Antonieta diz, e por isso a mesma música, é que ela aposta que este século será visto no futuro como um tempo parecido com Versalhes 1780. Luxo, futilidade, festas, inocência infantil e consumo. Jogo, drogas e risos em MEIO À RUINA TOTAL. Algum crítico notou isso...Não lembro de ter visto.
A revolução francesa venceu. Nosso tempo é o tempo que ama a liberdade, a fraternidade e a igualdade. Poucos percebem que elas são miragens e que sempre vão ser. Isso porque a liberdade não existe, pois somos limitados pela natureza, a igualdade nunca pode ser completa, pois nascemos diferentes e desejamos diferente, e a fraternidade é uma mentira. Somos naturalmente competitivos. Mas, nunca tanta gente viveu bem. O mundo ocidental tem uma fartura que não foi sonhada em tempo algum. E disso o filme também trata. Pois 200 anos de capitalismo moderno fez dos ricos pessoas menos ricas ( ainda ricas demais, mas muito menos que os ricos de antes ) e fez dos pobres pessoas com um estilo de vida inimaginável em 1780. ( Falo do mundo que contava em 1780 ). Milhões de pessoas vivem hoje a vida de Maria Antonieta. Jogo, droga, festa e sapatos novos. E inocentemente ajudam os pobres lhes dando brioches.
Por fim, o filme começa com Gang of Four. Uma obra prima do rock de esquerda dos anos 80. Isso faz voce esperar um filme sobre a revolução. Mas é um blefe. A trilha sonora, maravilhosa, é sobre melancolia. Pois junto às festas, há todo o tempo a sombra cinza da tristeza que flutua. Muito anos 80. Muito 1999. Muito hoje. Nada 1780. ( Incrível como para a geração nascida nos anos 60 a trilha sonora é tão importante quanto o filme em si. Culpa dos maravilhosos hits feitos entre 1963-1983 ). A trilha tem Sioussie, Cure, New Order, Bow wow wow e até Adam Ant. É um clipão chic dos anos 80. Muita gente disse isso. Mas provo aqui que é mais, muito mais.
Enjoy it!