NUNCA TREZA À MESA - ORIETTA DEL SOLE

   Adultos ainda pegam um livro para ter prazer...Pergunto: Você lê um livro sem nenhum outro interesse a não ser sentir satisfação no ato da leitura...
  Vejo gente lendo livros "leves" que na verdade são livros "de aprender". Aprender a ser feliz, a ser otimista, a encontrar o amor, a ganhar dinheiro. Os best-sellers atuais trazem quase sempre algo de " útil " encartado. É como se um livro fosse obrigado a ensinar ou a provar algo.
  A literatura policial era a última a ser entretenimento sem culpa, mas agora até eles trazem na rabeira o dever de "denunciar" ou de "esclarecer". E a literatura infantil, que já foi terra da repressão educativa, e que depois, graças a gente como Lewis Carroll e James Barrie, se tornou o mundo do prazer sem razão; volta a ser lugar de educar e de ensinar. Um livro para crianças tem de ser um livro que agregue valor a vida da tal criança.
  Então eu digo vivas à Harry e à Frodo!
  Este livro, de Orietta, é apenas um belo livro de uma italiana rica que morou no Uruguai, na Argentina e em SP. Ela fazia arte e recebia gente para comer. Era fútil portanto. E o livro é fútil. E por isso eu gosto. Ele é bonito.
  Cairei em contradição ao dizer que ela nos dá dezenas de receitas de massa. Mas há um adendo: são receitas caseiras, chiques, mas démodé. O foco não é ensinar a cozinhar. É agradar o leitor.
  Livros são caros. Eu exijo que me tragam prazer. O prazer pode ser filosófico, o prazer de saber, de entender e de descobrir. Mas há também o mais nobre prazer " prazeroso", o gosto em ser agradado.
  Que mais livros bobos sejam editados então.

A ARTE DE FAZER UM GRANDE VINHO- EDWARD STEINBERG

   Este livro é uma droga! Muito mal escrito. O autor leva todo o texto em um estilo de jornal que nos deixa enjoados em 30 páginas. É como se o livro começasse a cada capítulo, o texto não flui, ele tranca e se enrola.
  Algumas coisas são interessantes: saber que foram os ingleses, lá no século XVII que criaram a mística do vinho. Saber que então, e até os anos 70 do século XX, vinho fino era só o vinho francês. Principalmente os de Bordeaux e da Borgonha. Ingleses ricos idolatravam esses vinhos e o vinho do Porto. Só eles eram levados a sério em todos esses séculos. Todos os outros, e nisso se incluem todos os italianos, eram vinhos baratos.
  Angelo Gaja começou a mudar isso nos anos de 1960. Aprendeu com os franceses os segredos do grande vinho e começou a aperfeiçoar o Barbaresco. A partir dos anos 80 acontece a revolução. Vinhos da Itália passam a ser objetos de culto.
  Interessante notar que o primeiro vinho a ser considerado fino, fora da França e do Porto, foi o vinho do Reno, os alemães brancos, vinhos deliciosos que foram destruídos nos anos de 1990. Nessa década o mundo se abriu à Califórnia, Espanha, Chile, Austrália...e neste século à Africa, Nova Zelândia...
  O autor descreve o plantio, o trabalho das bactérias, o tempo de vida do vinho, o mercado. E com um tema tão rico ele consegue nos dar um livro chato.
  Uma pena...

The Droids - The Force



leia e escreva já!

Space - Magic Fly (Discomare 1977) video kurtigghiu



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Kas Product - Never Come Back



leia e escreva já!

Liaisons dangereuses - Los niños del parque



leia e escreva já!

Brian Eno featuring Snatch "R.A.F"(Red Army Faction)



leia e escreva já!

Cowboys International - Thrash (1979)



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KRAFTWERK PUBLIKATION, A BIOGRAFIA, uma história sociocultural da música eletrônica feita para as massas. - DAVID BUCKLEY

   Primeira coisa: Causa espanto para um brasileiro ver o modo como os ingleses vêm os alemães. Pontuais, metódicos, frios, bem educados, corretos.
  Segunda coisa: Que eu nunca havia percebido: a assumida habilidade inglesa em vender. O modo como eles pegaram a música dos negros americanos e a empacotaram pra venda. O mesmo aconteceu com o eletrônico. Os ingleses, a partir de 1978, pegam o Kraftwerk e o tornam vendável. Ou melhor, pegam o som dos alemães e com vocais convencionais o tornam inglês. Surge o synth pop, o techno pop. O som da Londres de 1978-1984.
  Este é o melhor livro sobre rock que já li. Porque não é um livro de rock. É sobre o mundo de hoje. Fala sobre sociologia, moda, ciência, dinheiro, comportamento, casas noturnas e o futuro possível. Começa na segunda-guerra, fala do preconceito contra os alemães, sobre a música eletrônica erudita dos anos 40-50, sobre hippies, sobre a Europa e sua música pop, sobre a cena alternativa de Dusseldorf nos anos 70, sobre Bowie, sobre Iggy, cinema, baladas noturnas, hip hop, acid house, industrial, jungle, a imprensa musical, visual de capas de disco, a Factory, Andy Warhol, ciclismo...São 260 páginas de bela diagramação e de muita, muita informação.
  Florian e Ralf são o Kraftwerk. Formaram a banda em 1970. Nasceram em famílias ricas, muito ricas. E tiveram a grande sacada: a Alemanha não tem blues, country, soul, nada. O equivalente alemão à isso é a arte dos anos 20. O cinema de Murnau e de Lang. O expressionismo. A escola da Bauhaus. Brecht. Stefan George. E a música de Stockhausen, Pierre Schaffer. Então, primeiro ainda com bateria e flauta, e depois só com synths, eles criaram a maior revolução da história do pop. Música pop que nada tinha em comum com o rock, o blues, o soul. Sem introdução, sem refrão, sem solo, sem emoção, sem "amor", sem solos, sem suor e em princípio, sem empatia. A coragem foi imensa e os ataques impiedosos. Karl e Wolfgang vieram com a percussão. Todos com formação clássica.
  Ainda hoje há quem chame música synth de "não música". Imagine então em 1972! Os alemães eram odiados ou recebidos com risos. Sua música era coisa de crianças. Uma piadinha. Estariam esquecidos em dois anos. Isso não aconteceu, claro, e em 1974 Autobahn começou a construir seu público. ( Autobahn é seu quarto disco ). Algumas pessoas, muito à frente de seu tempo, perceberam a beleza daquela austeridade, o encanto da simplicidade. Mas não, não vou ficar aqui descrevendo a saga. É uma saga. Saga sem drogas, sem dramas, sem historinhas bobas. Eles evitaram a imprensa, evitaram as fotos, jamais desejaram virar "estrela". Até nisso eram contra o rock normal. Foram mais radicais que o punk. Porque o punk ainda é rock.
   Na extrema lógica do grupo, o robot pode os substituir no palco. o Kraftwerk será eterno, porque quando eles se forem os robots ainda estarão no palco.
   Uma das mais belas coisas do livro é o set do DJ Rusty Egan, de uma casa de Manchester em 1980. São 100 músicas fantásticas que exemplificam o pop de hoje, 2016. Temos ainda o depoimento de Madonna, que os viu ao vivo em 1978 e criou ali todo seu conceito de palco e de som. Buckley nos mostra alguns dos vários "roubos" feitos em cima de faixas do Kraftwerk, e exibe a decadência do pop, a partir do momento em que os sintetizadores se tornam digitais.
   Os momentos epifânicos são vários e acho que a gravação do clip de Trans Europe Express seja o mais lindo.
   Encerro aqui e digo que voce tem de ler este livro.

Peter Gabriel and Laurie Anderson - Excellent Birds.avi



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Laurie Anderson - O Superman [Official Music Video]



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A MÚSICA CIRCULAR

   O livro de David Buckley sobre o Kraftwerk é uma das coisas mais ricas que já li. Há tanta cultura, tanta informação, tantos insights sobre a vida de hoje que não temo dizer ser obrigatória sua leitura. Estou tomado pelo livro.
   Buckley e seus entrevistados, e são muitos, confirmam algo que sempre comento: a música pop como invenção acabou em 1983. Nunca mais surgiram movimentos que nos fizessem dizer: " Nossa! Isso é completamente novo! Não tem nada que lembre algo do passado!"
   E olhe que em 1983 surgiram 3 movimentos completamente novos...
   Eu já era adulto em 83 e portanto lembro bem do clima daquele tempo. Mais que isso, em 83 estive na Europa e recordo claramente do clima de novidade absoluta que havia lá. Nas roupas, filmes, música, hábitos, havia uma busca ansiosa por ser ORIGINAL. A Europa estava tão pobre, bagunçada, perdida, que todos se voltaram para dentro do EU e daí tentavam inventar um mundo alternativo. ( Hoje quando o mundo parece mal a tendência é se voltar para dentro da NET ).
   Buckley diz que o mundo analógico tem começo e fim, antes e depois. Era portanto um mundo onde a história andava para a frente. No mundo digital tudo é circular e então a música se torna uma repetição eterna. As coisas são retomadas e revisitadas e o passado e o agora se tornam iguais.
   Eu sempre defendi o círculo, mas o livro me faz pensar em como esse círculo pode ser perverso. Meu saudosismo, vencedor neste mundo em que ver o novo filme dos Vingadores é tão fácil como ver o mais raro filme de 1920, traz em sua sombra a repetição ao infinito do filme de 1920 e dos Vingadores.
   O que me leva a dizer que em 1983 eu estava do lado errado da briga. Eu defendia as guitarras, o rock dos anos 60, a tradição. Por isso sei o quanto a NEW MUSIK era perigosa, irritante, odiosa, NOVA. Ela ameaçava transformar bandas de 5 anos de idade em dinossauros, e clássicos com 12 anos de gravação em peças de vovô.
  Em 1984 mudei, descobri a excitação da novidade e me entreguei ao mundo do futuro. Vendi meus discos de 1968, 1969 e acompanhava revistas, programas de rádio, festas que anunciassem o futuro. Nunca me senti tão vivo.
  David Buckley diz que tudo acabou em 1985, que esse sopro modernista durou apenas de 1979 à 1985. E como bem me lembro, e comigo aconteceu exatamente assim, REM, Smiths, Lloyd Cole, Church e U2 traziam em si a nostalgia do rock de sempre, o arroz com feijão das bandas sensíveis, os temas repisados, a atitude de 1965, o passado.
  E desde então o rock passa a ser saudade, e a música moderna se torna uma repetição sem fim daquilo que fora um dia novo...ou seja, a música moderna se torna repetição.
  Toda essa informação está apenas em UM capítulo desse livro admirável.