Ultravox - Vienna - Live 1983



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VIENNA=ULTRAVOX. O TEMPO PASSA...

   Estranho. Para onde foi a emoção? Aos 22, 23 anos eu me emocionava profundamente com este disco. Agora eu o acho bonito, mas não arrepiante. Seria porque eu evolui? Mas então porque um disco como Magic, de uma cantora chamada Cheryl Dilcher, um disco pop, comum, que eu amava aos 15 anos, hoje me comove como sempre comoveu? Magic não é melhor que Vienna. Será que encontro uma resposta satisfatória?
   Acho que sim. O garoto que amou o disco de Cheryl aos 15 anos era um garoto que desejava de um disco apenas aquilo que Magic tem, música e diversão. E isso ele sempre vai ter. Músicas de um pop festivo, às vezes tristonhas, sempre simples. O que eu buscava em Magic no ano de 1978 continuo obtendo em 2015. Vienna não. Porque?
   Em 1984, ano em que comprei Vienna ( ele é de 1980 ), os críticos mais interessantes se chamavam Pepe Escobar, Matinas Suzuki e Luis Antonio Giron. Nos textos de Pepe ele citava Keats, Huysmanns, Cocteau e Miró. Matinas falava de brumas londrinas, chá na madrugada e dores suicidas de amor. Já Giron escrevia como quem pinta porcelana, com extremo cuidado. Essa é a chave. Todos eles partiram, à partir de 1989/90 para outros campos. Giron foi escrever sobre música erudita e literatura, Matinas se debruçou sobre tecnologia e futurologia e Pepe foi viver fora, escreve sobre tudo, menos rock. Os três eram apaixonados pelo rock e pelo pop mais britânico dos anos 80, pop do qual Vienna é um belo representante. O que houve?
  Aos 22 anos eu tinha em Vienna a porta de entrada para um mundo novo. O mundo que ia da primeira geração romântica até Andy Warhol. O disco prometia o acesso, fácil e simples, ao mundo da Arte. identifiquei isso na primeira vez em que ouvi, anos depois, uma banda como Radiohead. Ele facilita a entrada na Arte, mas sem ser Arte. O ouvinte sente toda a emoção de coisas como poesia, pintura abstrata, cinema japonês e romances modernistas, SEM PRECISAR TIRAR OS FONES DO OUVIDO. ( Basta dizer que em todo o ano de 1984 eu li apenas 5 livros ). O que acontece então?
   Com o tempo eu conheci a fonte, o artigo genuíno, a tal Arte, e as emoções refinadas que Vienna parecia conter empalideceram. O que eu sentia escutando o disco agora sinto, de uma forma muito mais complexa, lendo, vendo ou ouvindo outras coisas. Vienna ficou lá. Foi trocado.
   Isso não pode acontecer com, por exemplo, o Led Zeppelin. Ou mesmo Bowie. O que eles dão só em música pop ou rock podem dar. O meu amor por eles sempre foi puramente musical e rock`n`roll, no caso do Led, e no caso de Bowie, musical e estilosa. Bowie era um dos artigos autênticos que Vienna anunciava. A emoção de ouvir Beatles ou The band permanece porque amamos ""apenas""suas canções. Em Vienna eu amava a música, mas essa música simbolizava e anunciava mais do que ela era. Essa é a tragédia de tudo que se torna passado sem volta.
  Mas é bonito. 

The English Beat - Get A Job/Stand Down Margaret (Live at US Festival 9/...



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The English Beat - Mirror In The Bathroom (Live at US Festival 9/3/1982)



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I JUST CAN`T STOP IT!- THE ENGLISH BEAT ( politica na ilha )

   No tempo de Clash, Police e Costello o que vendia ( na Inglaterra ) era ska. O movimento, chamado de Two Tone ( branco e preto ) misturava festa com o desejo socialista. Era tempo do começo da era Thatcher, ela batia forte na classe operária e o bando do ska botava fogo nas passeatas diárias. A ilha estava em convulsão. Os brancos da esquerda se uniram aos negros pobres de Brixton e juntaram tudo: deu no Two Tone. Pra mostrar a ideologia, roupas pretas e brancas. ( Me dá banzo do tempo em que visual era uma atitude politica ). A direita mandou os new romantics pra rua. Anti-ideológicos, deslumbrados com o glamour, amantes da nova Inglaterra made in USA, os romantics faziam um som que falava de noite, frio, viagens espaciais e bissexualidade. Sim, filhos de Bowie e de Ferry. Sim, a direita os amava. A esquerda....não. Os romantics venceram a guerra. No som houve um empate.
   Aqui falo de The Beat. Da trinca suprema foi o de menos sucesso. Mas menos sucesso em 1980 ainda é muito sucesso. Se o Madness era o que mais vendia e os Specials os mais radicais, The Beat tinha a pegada mais rock. É ska, mais ska que aquilo que foi feito na retomada do ritmo, nos anos 90 pelos americanos, mas é um ska com velocidade de punk, o que não acontecia com os outros dois. O disco que cito é seu auge. Depois viria o comercialismo maior e as brigas.
   Poucos discos possuem um som de baixo tão poderoso. Ele comanda tudo e ele pipoca nos ouvidos como uma bala ricocheteando em ravina. Seus pés  vão tentar acompanhar esse baixo coriscante, não conseguirão, irão morrer tentando. David Steele é o nome do cara. E tem a bateria. Essa é tipo pulga. Ela pula para onde voce menos espera. A velocidade no chimbal é alucinógena. Nesse contexto a guitarra poderia ser esquecida, mas não. Duas guitarras, uma se dedilha, a outra faz chung chung.... Tá feita a coisa. Mesmo após o arrastão de tantos anos de dance music, este disco ainda é soberba e aliciantemente dançante. E o discurso é punk. Punk estilo The Jam. De partido. Uma festa.
   Eu estive por lá. Em 1982. Vi as meninas de laranja e verde, minis e óculos escuros, no verão, bebendo os últimos goles do ska. Vi os new romantics começarem a dominar tudo, e transformarem a ilha nessa pasmaceira que dura até hoje. Acabaram com todo o fabianismo, toda a tradição de Shaw e Keynes e jogaram tudo ao ar. Londres optou pela festa de luz e droga. Deixou de lado a festa na rua, de ska e tambor.
   Escuta isto. 1978-1983 foi o penúltimo orgasmo da música inglesa. The Beat foi um de seus centros. Enjoy.

O POVO DESAPRENDEU A OUVIR. E AGORA DESAPRENDE A OLHAR.

   Uma conversinha rolou. De atroz burrice. Comparar Cisne Negro com Birdman.
   Qualquer inteligência mediana há de notar que o primeiro é um horror.
   E o segundo uma piada.
   Posto isso, entenda como quiser.

The Tales of Hoffmann (1951) - The Tale of Giulietta



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MARCEL CARNÉ/ POWELL/ TRUFFAUT/ MELHORES FILMES DA FRANÇA

   O BOULEVARD DO CRIME de Marcel Carné com Arletty, Jean Louis Barrault, Pierre Brasseur, Maria Casarés
Foi eleito, a coisa de cinco anos, o melhor filme francês de todos os tempos. Será? Esta foi a minha segunda visita a esse épico de 1945. Com mais de 3 horas, trata das paixões, misérias, ilusões de um trio ligado ao teatro. Arletty faz a atriz que todos amam, Barrault é Pierrot, o ator ingênuo que a adora. Brasseur é um ator-astro, cheio de si. Ao redor deles uma multidão de ladrões, nobres, escroques. Tudo lembra Balzac. É uma painel da França do fim do século XIX. Ruas com multidões, lixo e luxo. Tudo no filme é superlativo. A fotografia, o cenário, a música. E todos os atores. As interpretações são ao estilo francês puro, palavrosas e posadas. Hoje lembram cinema moderno, envelheceram tanto que viraram novidade. O roteiro, do poeta Jacques Prévert é brilhante. O filme varia entre poesia, drama pesado e comédia leve. Crime e vingança. É o maior filme da França? Não sei se é, mas o título não fica mal. Para mim existem 3 grandes filmes que merecem o título: este, Orfeu de Jean Cocteau e O Atalante, de Jean Vigo. Com vantagem para a obra-prima de Vigo. Claro que há ainda Clair, Renoir, Clouzot, Godard, Bresson, Melville, Tati, Truffaut...mas estes 3 são gigantes, amplos, completos. Cada um a seu modo, Vigo é intimista e simples, Cocteau é simbólico e hermético e Carné, belo e imenso.  Um filme que todos devem ver. Nota DEZ.
   CAPITÃO PIRATA de Gordon Douglas com Louis Hayward e Patricia Medina.
Aventura padrão de piratas dos anos 50 da Columbia. Pirata inglês se envolve no resgate de seus companheiros capturados por espanhol mal em ilha do Caribe. Nada de especial, produção pobre, mas para quem como eu adora filmes de piratas, não decepciona. Nota 5.
   ALEXANDRE O GRANDE de Robert Rossen com Richard Burton, Fredric March e Claire Bloom.
Há quem diga que Burton deveria ter sido o maior ator de todos os tempos. Mas ele se vendeu à Hollywood e perdeu tempo e vontade em filmes como este. Uma produção grande sobre Alexandre da Macedônia. O filme...bem, como levar a sério Burton de peruca loura? Rossen era um diretor metido a artista, mas este filme afunda em roteiro sem ação e personagens ralos. Só March se salva. Seu Filipe, pai de Alexandre é complexo, sutil e ao mesmo tempo dramático ao extremo. Nota 2.
   O RIO SAGRADO de Jean Renoir com Esmond Knight e Adrienne Corri
Renoir saiu dos EUA e foi a Inglaterra. De lá à India fazer este que é um dos filmes favoritos de Wes Anderson. E é realmente um filme mágico. E, como tudo de Renoir, de uma simplicidade absoluta. Uma familia inglesa vive na India à beira de um grande rio. Vivem de uma fábrica de juta. São cinco meninas e um garoto. Um americano chega e passa a ser cortejado. Uma tragédia ocorre, mas a vida continua. Renoir consegue nos fazer entender um conceito profundo sem falar quase nada. Imagens belas de Claude Renoir, irmão de Jean, e apesar dos atores ruins, o filme se eleva `grandes altitudes. É seu melhor filme. Disso não duvido. Nota DEZ.
   A NOITE AMERICANA de François Truffaut com Jacqueline Bisset, Jean Pierre Leaud, Valentina Cortese e Jean Pierre Aumont
Me apaixonei por cinema em 1978 vendo este filme na Sessão de Gala da Globo. Eu quis ser Truffaut. Durante uns 3 anos ele se tornou meu diretor fetiche. E 3 anos na adolescência são dez como adulto. Então posso dizer que Truffaut atingiu sua meta, mostrar o amor ao cinema de uma forma simples, ingênua  e pura. É claro que fazer um filme não é isto, mas o que Truffaut quis foi mostrar o amor à coisa, nunca um documentário sobre a feitura de um filme. Godard rompeu com François por causa deste filme. O que mostra a cegueira de Jean Luc. O filme é sublime, encantador, o conto de fadas dos que amam cinema. E tem uma das melhores trilhas da vida de Georges Delerue, o que não significa pouco, pois Georges foi sempre magnífico! Nota DEZ.
   OS CONTOS DE HOFFMAN de Michael Powell
Eis...Powell, o irriquieto, o corajoso, faz um dos mais arriscados filmes da história. Filma os contos de E.T.A.Hoffman em sua forma original, ou seja, como ópera, inteiramente cantado. E com cenários que são extremamente artificiais. O resultado é radical, voce adora ou odeia. Eu não me dou bem com ópera, mas adorei o filme. Porque ele é de uma beleza irreal, artificial, embonecada, brega, surpreendente, mágica. Se voce quer saber o que seja o romantismo eis o filme. Ele nos apresenta todo o universo de Hoffman, mas também de Shelley, Hugo, Lamartine...e chega até Poe. Vejo que George Romero é um de seus fãs e isso não me surpreende, este é um filme de horror. A beleza aqui é morta, espectral, como aquela de um cemitério. Se voce gosta desse mundo, veja. Se voce é um prático pés no chão, fuja correndo. Nota.........?

A BOA VIDA SEGUNDO ERNESTE HEMINGUAY- A.E. HOTCHNER

   Uma amiga querida me deu este livro. Se ela acha que eu tenho tudo à ver com o livro esse é um bom elogio. Ser comparado por uma mulher à Heminguay é sempre ser chamado de viril. E a virilidade, mesmo neste nosso tempo afeminado, é um elogio. ( Virilidade e machismo não são sinônimos ).
   O autor, Hotchner, privou da amizade Heminguay em seus últimos 15 anos de vida. Esteve com ela em Cuba, na África, na Europa. Observou o amor do escritor por Paris, pela pesca, pela caça e pela ação. Coligiu neste livro frases ditas por Hem. O livro, pequeno, é isso, uma coleção de frases ditas pelo autor de O SOL TAMBÉM SE LEVANTA.
   As frases são divididas em temas, o primeiro sendo A Escrita. É o melhor. Os conselhos de Heminguay, as opiniões sobre seu trabalho são todos ótimos, às vezes excelentes. Inspira ler esse trecho. Os demais nem tanto. Heminguay foi o mais influente escritor do século XX, nunca o melhor, ele mudou o modo de se escrever e de se apreciar um livro. Trouxe o jornalismo para dentro da ficção, e desse modo, sem querer, deu aval para um monte de jornalistas ruins se fingirem de escritor.
   Falando sobre seu trabalho ele mostra aquilo que realmente sabe. Falando sobre esportes, mulheres ou a guerra ficamos na dúvida, ele mente? Tem alguma relevância o que ele fala?
   Montes de fotos de Heminguay e de seus cenários e amigos. Todas maravilhosamente históricas. Algumas emocionam.
   Nunca vamos saber quem realmente foi Heminguay. O que era fato, o que era invenção. Pois seus amigos são os primeiros suspeitos. E nunca vamos saber se ele era realmente feliz. Ou um poço de medo e de frustração. Minha opinião é a de que ele era humano. Mentia e confessava, tinha bons e péssimos dias. Mas viveu a vida que desejou viver. Essa minha certeza, ele foi livre, fez e falou o que quis, esteve onde sua vontade o levava e nunca deixou de ser aquele que projetou construir.

Thelonious Monk Cuarteto en Dinamarca-1966



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THELONIOUS MONK, O MAIOR MESTRE MUSICAL DOS ÚLTIMOS 60 ANOS.

   Existem músicos que procuram a perfeição através da tapeçaria. Eles acumulam notas e escrevem um tipo de painel sonoro onde montes de informações se acumulam. Outros fazem o oposto. Pegam apenas uma linha, e com ela procuram o máximo de perfeição. Esticam essa linha, arrebentam o fio, ameaçam um nó, tingem, escondem, fazem mágica com uma simples linha. Monk era o gênio da linha. 
   Vi ontem um doc sobre ele na TV. Estranha figura quase muda. Um baterista diz que foi o visitar. Ficaram oito horas na sala, juntos, sós. E Monk nada disse por sete horas e 59 minutos. Na hora de sair disse, OK, Nos vemos amanhã. 
   O mestre Zen ensina sem o uso de palavras.
   Um outro excursionou com ela por 4 meses. Monk nunca lhe falou uma só palavra. No último show ele disse: Nos vemos na próxima.
   O som de Monk é assim. Apenas o núcleo. Sem enfeite. A linha, pura e simples. O silêncio sempre presente. 
   Durante o documentário lembrei de Keith Richards. Monk faz uns movimentos ao piano que são idênticos aos movimentos absurdos e aparentemente gratuitos que Keith faz à guitarra. Trejeitos de ombros, batidas de pé, mãos que flutuam, dedos duros e lentos que tocam, quase quedas ao chão. Voce acha que eu forcei a comparação? Voce conhece um guitarrista mais simples e cheio de silêncios entre os riffs que Keith?
   Monk nunca mudou. Ao contrário de Miles, Dizzy, Sonny ou Lester, ele nunca tocou bossa-nova. Ou se eletrificou. Ou ficou mais funk. Adicionou violinos. Nada disso. Monk era sempre Monk. E em 1967 parou. Sem anunciar, ele simplesmente saiu de cena. Calou o piano.
   Viveu ainda até 1982. Poderia ter gravado mais uns vinte discos. Ter feito centenas de shows. Sido homenageado. Não.
   Dizem que todo sábio tem a clarividência de saber falar o Não. E eu sei que parece hoje banal dizer isso, mas Thelonious Monk foi um sábio. Um gênio. E um ET. 
   Sábio porque nada do que ele fez foi demais. E isso é muito raro em música. Todo mestre musical tendeu a fazer à mais. A não silenciar na hora exata. 
   Gênio porque ele trouxe algo de onde não se anunciava nada. O estilo de Monk pode ser percebido levemente em Basie e em Duke ao piano. Mas ele foi completamente inédito. E desde então inimitável. 
   E um ET porque ele criou seu mundo e sua lingua. E nesse mundo apenas uma pessoa podia viver. Ele. Todo gênio é um individualista radical. E portanto um solitário abissal. Na vida de Monk só Monk vivia.
   Entre as notas há o silêncio. E esse é seu segredo. O vazio entre as notas. A suspensão do ritmo. Os furos. A linha que deixa de ser vista e retorna outra e a mesma.
   Thelonious é inesgotável.

VERMELHO AMARGO- BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

   Naquela tarde gelada meu pai e minha tia voltaram do hospital onde minha mãe estava. Eu tinha 13 anos e de nada eu sabia. Mas percebi a febre que infectou as paredes da casa. No rosto de minha tia, a sempre sorridente Noémia, o assombro de um brinquedo quebrado antes do Natal. Ela foi para o quarto sem falar comigo, e lá ficou. Meu pai se sentou em sua poltrona de sempre e assistiu o jornal. Mas não era mais meu pai. Era outro. O silêncio absoluto era diferente de seu silêncio balbuciante. O rosto dele estava rígido. Para eles dois, soube muito depois, minha mãe estava morrendo. E a febre eu a sentia na casa.
 O que meu pai faria? Ele foi jovem durante a segunda guerra, sua geração foi a última a admitir que a vida não é um prazer. Como meu pai daria uma familia para dois filhos se ele sabia que ser pai nunca pode ser mãe? Meu pai foi da geração que admitia não ter e deixar então de querer. Meu irmão brincava naquela noite, no tapete. A sorte de se ter apenas 10 anos. 
 Minha mãe foi salva. O desvio que haveria em minha vida nunca se fez.
 Hoje leio este livro. Que nada fala de mim, mas que dialoga com meu pai. Porque ele perdeu a mãe cedo e viu cada um da casa partir. Um de cada vez. Primeiro o pai, que se calou para sempre. Depois os irmãos, ao Brasil, à África, ao mato, à serra. A pedra era o tomate de sua vida. As paredes de pedra, o choro calado de cara à parede, as tardes de neblina sem fim. Pedra não se fatia, se engole inteira. 
 O livro é triste como um fado. Triste como a outra margem do Rosa. A prosa é poesia que se come e amarga a boca. A prosa do centro do Brasil. Do norte pedroso de Portugal. Terra dura e gelada que é pedra, cada enxadada uma dor nas mãos. E o vento que venta sem nunca aquietar. Fome.
 Meu pai....que saudade....