Chet Baker "Almost Blue" (complete video)



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Pet Shop Boys - Being Boring (1990) HD



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DECADÊNCIA E ELEGÂNCIA

   Haverá um grande evento na USP. Convidados irão palestrar sobre seu "livro de cabeceira". Minha jovem professora de semiótica tem como livro favorito NO CAMINHO DE SWANN de Proust. Porque ela "tem fascinação pelo momento de virada do século XIX para o XX. A decadência..." Bem, ela sintetizou maravilhosamente o porque do meu amor pelos autores daquele momento. A decadência, a paixão pela decadência, a exuberãncia triste, a beleza maculada, a saudade do que ainda é. Henry James, Tolstoi, Tchekov, Thomas Mann, Yeats, Eliot, Joyce, Wolff, esse sentimento que vem desde 1880 e repercute até 1920... Os quarenta anos decisivos de Oscar Wilde, de Rilke, de Eça, de Machado, de Mansfield...
   Penso se nossa virada foi digna dessas viradas ( 1780/ 1820... )...1980/ 2020....O que ficará e como nos irão ver?
   Mudando de assunto. Ou não. Nessa minha revisitação a década de 80, a mais odiada, revisitação motivada por Ruskin, Pater e Wilde, topo com os videos de Bruce Weber. Bruce foi um super fotógrafo de moda. E que fez um doc sobre Chet Baker sublime. Além disso fez um video très chic com os Pet Shop Boys e um outro que todos conhecem com Chris Isaak ( onde Bruce transforma Chris em Chet Baker ). Jovens deselegantes, vejam esses videos e tentem entender o que desejo de volta para a culturinha pop. Coisas bonitas.
   Eu realmente creio que o convivio com a beleza faz de nós seres melhores. Ou pelo menos seremos infelizes cercados de beleza. Uma cidade de arquitetura fria nos faz frios e lugares agressivos aumentam nossa raiva. Essa ração de arte mesquinha, pobre, tosca e rasa faz de nós um bando de boçais sem gosto e sem senso. A arte antecipa o que virá. Essa burrice feia afundará o mundo ocidental numa pasmaceira idiota. E pior, feia. Sim, estou repetindo as teorias de John Ruskin. Não conheço melhores.
   Aproveitem a beleza que sobreviveu. E a que ainda nasce. São Heróicas.

PORQUE AS BANDAS DE HOJE SÃO TÃO FEIAS?

   A minha é uma geração que em música deu tanto valor à roupa como a destreza. Afinal, John Taylor dizia que no palco se preocupava muito mais com o caimento do tecido de suas calças do que com sua performance ao contra-baixo. Não à toa, é minha a geração do nascimento do video-clip.
   Interessante observar hoje, que mesmo bandas "de esquerda", como The Clash ou Gang Of Four, tinham um cuidado com o visual que ninguém antes ou depois teria. Uma das coisas que mais me decepciona no rock atual é a falta de ambição visual. Não falo de gosto, falo de arrojo; o rock de agora é absolutamente convencional em visual. David Bowie dizia em 1972 que o público deveria ser tão "star" quanto o artista sobre o palco. O que se vê desde os anos 90 é o palco imitar o público. O artista sobre o palco tem um visual tão pouco interessante como o do garoto suburbano da última fila.
   Os Sex Pistols tinham um visual maravilhoso, assim como Jimi Hendrix, Sly Stone ou Mick Jagger em 1974. Quando minha geração surgiu, por volta de 1982, viemos elegendo Bowie como nosso Oscar Wilde e Bryan Ferry no papel de Walter Pater. Pouco importava a música, o que importava era ser artista. Esse o credo de Wilde, a arte era a vida, a obra era apenas um detalhe. Então procurávamos viver em "estade de arte". Isso se revelava numa atitude diante da vida, o "tentar algo novo". Recordo do modo como eu pintava e repintava minhas paredes, meus móveis e refazia os objetos que eu tinha. O estado era de constante criação, e mesmo que essa invenção fosse tola ou banal, não importava, o objetivo era a atitude criativa, fazer sem pensar no quê.
   As informações eram preciosas: Pollock. Cocteau, Matisse, Man Ray, Gaudi. Soul Music, Jazz, rock de garagem e "as novidades". Como dizia Wilde, a beleza atemporal. A turma que havia surgido imediatamente antes, Blondie, The Cars, Talking Heads, Ultravox, Japan, eram usinas de ideias visuais, tanto quanto musicais. Por um breve período, as artes plásticas eram o centro do mundo outra vez. Basquiat, Keith Harring e Beuys eram nomes de star. Não a toa é esta a era de filmes como Fome de Viver, Blade Runner ou Oito Semanas e Meia de Amor. O visual sobre o roteiro nasce neste tempo.
   Recordo das loucuras em video-clip de Goude, dos elegantes videos de Bruce Weber ( 1991 é o último ano dessa atitude ), e das estréias de Julien Temple.
   Há quem vá dizer que por detrás desse endeusamento do visual se esconde a absoluta falta de inspiração. Não sei. O que posso dizer é que os jazzmen já tinham essa ligação com a imagem ( como afirmação de negritude ) e que nos anos 60 todas as bandas davam um grande show de informação novidadeira. Eram momentos musicais que se ligavam a fotografia, a pintura e a um certo clima boêmio chic. Víamos o Velvet Underground no centro do mundo hiper-excitante de Andy Warhol e os Stones sendo ícones do mundo fashion de David Bailey. Quando o Blondie veio com suas poses à la New York anos 50 o recado foi prontamente entendido. O visual era o centro da coisa.
   Penso, e vejo, que os grupos de agora, ou pelo menos 90% deles, não dão uma foto de Helmut Newton ou um tratamento de Gaultier. Há excessões...quais?
   Posto abaixo um video de Miles Davis, o mais elegante dos ícones do jazz e que em 1986 lançou Tutu. Vi esse video na época e pirei. Lembro de passar a pintar meu quarto com cartas de tarot e de sair na noite imitando o jeito frio e brilhante do clip. Se ele te parecer "muito anos 80" é porque ele conseguiu exatamente o que queria, ser um manifesto daquele momento. Há nele a ambição de ser "interessante". E claro, chic.
   Coldplay, Dandy Warhols, Franz Ferdinand... nunca um deles me deu vontade de fotografar, de pintar ou de me vestir "como eles". Acho que essa geração perdeu muito com essa pobreza.

SOBRE OS SONHOS E OUTROS DIÁLOGOS, CONVERSAS ENTRE BORGES E OSVALDO FERRARI

   Em 1985, um ano antes de sua morte, Jorge Luis Borges teve veiculadas por rádio, uma série de conversas com o jornalista e escritor Osvaldo Ferrari. O gênio argentino fala sobre sonhos, religião, filosofia, tempo, Europa, liberdade... e sobre seus autores favoritos, Melville, Conrad, Henry James, Cervantes, Stevenson, Kafka, e sobretudo Dante. Borges se mostra bem-humorado, modesto, prolixo e sempre interessante. O que eu posso destacar dessas duzentas e poucas páginas tão prazerosas?
   Um fato que salta a nossa mente: a América como terra de europeus exilados. Seríamos mais europeus que os europeus, pois estando longe da Europa, podemos ser toda a Europa e ver sua verdade inteira. Um alemão na Alemanha é um alemão. Um francês é um francês, mas um americano pode ser alemão e francês, grego, italiano e romeno. Mais ainda, a América pode ser Europa e Oriente, temos aqui a chance de unir toda a história, Homero e Velho Testamento.
   O livro é todo feito desses pensamentos. Outro? Quando sonhamos criamos. Somos autor e ator, cenógrafo e diretor, e público também. Sonhando todo homem é um artista.
   Mais sobre o sonho: Yeats dizia que quando sonhamos rememoramos todo nosso passado. E nosso passado é o passado de nossos pais. E de nossos avôs. E dos bisavôs. Sonhando estamos revendo toda a história de nosso mundo. O poeta é o homem que cava esse passado.
    Mas o passado é livre. Nós criamos um passado. Podemos aumentar, encolher, esticar, embelezar, esquecer. Assim como o futuro, o passado pode ser moldado por nós. O presente existe? Se existe ele nos escapa.
    Fato notório: Todo povo primitivo fala em forma de poesia. E toda literatura nasce como poema. A prosa é mais dificil, mais sofisticada. Existem civilizações que nada produziram em prosa. Nosso passado fala em forma poética. Nossos sonhos são poemas. Nosso espirito é uma fala de um poeta.
    Clássico é todo livro que não necessita mais de materialidade para existir. Se todos os livros de Dom Quixote fossem queimados, mesmo assim os homens continuariam a falar em Quixote e Sancho e criariam um novo livro de memória. O mesmo com Hamlet, Dante ou Homero. Eles já existem no mundo, não vivem apenas nas páginas.  Se tornaram habitantes da história.
   Duas palavras se perderam no mundo moderno: amor e beleza. Escrever por amor? Quem ainda? O amor foi esmigalhado, vulgarizado, estudado, vilipendiado. O mesmo com a beleza. A pergunta estúpida: Para que serve a poesia? O que é o amor? Qual a função da beleza? A resposta de Borges: Para que serve uma montanha? O que é a vida? Qual a função de uma galáxia? A mania moderna dos porques e paraques remete a perguntas de crianças que acabaram de aprender a falar.
   Criar é lembrar. O artista recorda.
   A felicidade é um fim em si-mesma. Ela nada cria. É a tristeza que cria beleza. Ela é um caminho, uma incompletude. Deus criou a infelicidade para nos dar o que narrar.
   ....aí estão amostras do que o livro/conversa diz. O papo vai fluindo, em gotas, em xícaras. E voce vai sorvendo com prazer, com gosto.
   Borges é um autor que conheci tarde, com mais de 35 anos. O Aleph foi o primeiro. E que alegria!!! A criatividade nos dá uma felicidade imensa, a alegria de testemunhar uma vitória, a conquista da vida sobre a dor, da luz sobre o tédio, do espirito sobre o nada. A criação é o dom soberano. Borges é um de seus apóstolos.

O MENSAGEIRO- L.P. HARTLEY

   Harold Pinter fez deste romance, de Hartley, o brilhante roteiro que Joseph Losey dirigiria em 1971 e com o qual ganharia a Palma de Ouro em Cannes. Pinter fez um trabalho exemplar, o roteiro, como às vezes acontece, melhora o livro. As opções de Pinter são acertadas. Ele eliminou toda a parte zodiacal da história e conseguiu fazer do Mensageiro uma personagem mais interessante.
   Em 1950, um sessentão encontra objetos que lhe recordam uma história sua vivida em 1900, aos treze anos de idade. Uma estada na casa de campo de um seu amigo, membro da elite vitoriana. Lá, ele se apaixona pela irmã do amigo, noiva de um nobre ferido na guerra dos boêres, e que mantém um caso com um fazendeiro grosseiro. O narrador é usado como mensageiro entre os amantes. Acaba por perceber que é usado, e sofre com isso.
   Crítica ao sistema de classes, retrato do despertar da vida adulta, fotografia da repressão sexual, o livro é tudo isso. Há um começo delicioso com a descrição da vida escolar, das tragédias e glórias do menino. Depois vem sua vergonha nas férias, vergonha por ser mais pobre que seu amigo, sua glorificação da nobreza e sua relação de ódio e admiração com o fazendeiro vizinho, um homem do tipo "natural" à DH Lawrence. Ele, o amante, caça, ama, briga, esbraveja, tem força fisica, tem vontades; já o nobre visconde, noivo de Marian, a irmã do amigo, é educado, comedido, discreto e convencional.
  Hartley tem bela maneira de mostrar a cegueria do mensageiro. Consegue nos fazer lembrar de nossas tolices, do modo como tudo nos parece confuso, misterioso e assustador na pré-adolescência. Ele não percebe o código dos adultos, e pior, percebe que não percebe. Afirmo que é um belo livro desse escritor do século XX, morto na década de 70 e que foi um tipo de Thomas Hardy menor.
   Mas o filme é uma obra-prima....Faz falta a música de Michel Legrand e as imagens do menino correndo...O filme é mais duro, mais cruel, cortante. Pinter dá asas a confusão do menino, cria suspense, mergulha na tolice de uma visão cega.
  Faça então o contrário do que fiz, leia primeiro e veja o filme depois. Assim como acontece com  Wonder Boys ou Desejo e Reparação, o filme supera o livro, o que demonstra que o livro está longe de ser genial.
  Mas que ele, o livro, fica na cabeça, ah...ele fica sim... 

JUANITA AND JUAN, VERY CLEVER WITH MARACAS....

NEEDLES IN THE CAMEL'S EYES. Não pense coisas, o camelo é o do maço de cigarros. Urgentemente ele canta com voz exaltada. Formato canção com acordes graves de guitarra, Manzanera. Massa de sons ao fundo. Stop. Volta. Interessante toda a percussão. Ela não acompanha apenas, ela tece.
THE PAW-PAW NEGRO BLOWTORCH. Originalidade. 3 anos antes do tempo nasce a new-wave. Sintética, insuspeita, esperta, sexy, viva. Que bateria esperta! E tem os teclados tortos que Eno tanto usou no Roxy. Obra-prima da maluquice pop bem humorada. Busta Jones no baixo. Vixe! Ouve só essa guitarra helicopteral....
BABY'S ON FIRE. Tem toda uma geração que a conhece só do filme Velvet Goldmine. Pelo menos Thom Yorke teve a sabedoria de gravá-la idêntica a original. É uma das grandes músicas da década das melhores músicas. Ela é ao mesmo tempo pop, arte, cinica, pesada... Eno e Ferry estudaram pintura em 1969/1971 com Richard Hamilton, o papa do Pop-Art. Tudo neles remete ao visual, a riqueza de imagens, de foto-colagens. Rica complexidade de timbres. Robert Fripp tem aqui o solo de guitarra de sua vida. "Juanita and Juan, very clever with maracas"... isso é pop-art.
CINDY TELLS ME. Canção tradicional. Não vamos esquecer que este é o cara que estufou o som do U2 e fez deles o que são. Clima, ambientação. Manzanera e seu solo lindo de guitarra roxyana. Esta canção nasceu para a voz de Bryan Ferry....
DRIVING ME BACKWARDS. Eis a influência modernista sobre Eno. De quem é essa voz? David Byrne? Adrian Bellew? Não, é Brian Eno. O clima paranóico de New York circa 1980. Vários efeitos de teclados. Deus meu! Este disco é de 1973!!!!
ON SOME FARAWAY BEACH. Beleza. Se este disco tivesse sido gravado dez anos depois ( em 1983 ), teria vendido tanto! A melodia permanece simples até o fim. O segredo está no modo como ela vai se rearranjando. O som de Eno pede por nova tecnologia.
BLANK FRANK. Pop-Art again. Genialidade em estado absoluto. Percussão, vocal. Na internet um cara escreve que é um "Bo Diddley com rock alemão". Sim!!!!! Dá-lhe Fripp!!!! Bowie e Eno em Berlim iriam por essa estrada. Uma música que dá pra escutar pra sempre.....
DEAD FINKS DON'T TALK. Aaaaah....Madame Satã em 1984....Bauhaus, Dead Can Dance, Cocteau Twins...Uma triste canção que faz voce crer na beleza da tristeza. Eno arrisca um vocal à Bowie. Oh No!Oh No!.... Melancolia elétrica, porão com gente suada, sombras de álcool...e uma ironiazinha de Eno George de LaSalle.... pianinho Roxy...
SOME OF THEM ARE OLD. Esta tinha de ter sido do Roxy Music! "Remember me, remember me..." Existe elogio maior que dizer que uma canção deveria ter sido do Roxy? Existe, dizer que ela alcança a altura desta música. Ouça o arranjo feito para essas guitarras. ( Que não são guitarras ).
HERE COMES THE WARM JETS. Esses jets são os jatos do ato de urinar... O apoteótico final. Uma coda a um dos mais belos dos discos. Massa sonora que voa. Som que procura não transmitir emoção alguma. Harmonia que é sutilmente quebrada. Bateria que não se combina. Porém, tudo dá certo.
   Recém saído do Roxy, Eno lança este disco e nada acontece. É seu LP mais Pop, mais vendável. Depois dele, passo a passo, ele se tornaria cada vez mais "dificil". E se faria o melhor dos produtores. Na capa deste disco, cigarros, plumas, maquiagem, espelho, cartas de tarot, flores secas, panos....Informações, images. Um mundo. O belo mundo irônico de Brian Eno.

Devo - Mongoloid - 1978 - France



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Talking Heads - Crosseyed and Painless - Rome, Italy - 12/18/80



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Design for Living: Opening Scene ( Prazer para poucos... )



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GOD SAVE NOEL COWARD!!! ( PARA ROMA COM AMOR E DESIGN FOR LIVING, UMA COMPARAÇÃO )

   Uma moça conhece dois homens num trem. Os dois homens são amigos. Um é pintor, o outro, autor de teatro. Ambos pobres. Ela passa a amar aos dois. Dorme com um, dorme com outro. Casa-se com um, volta ao outro. Os amigos se tornam famosos e ricos. Ela realmente ama aos dois. E os dois amigos são realmente amigos. Jules e Jim? Longe disso! Isto é muito melhor! É Noel Coward. Design for Living, peça desse deslumbrante e muito chique autor inglês, aqui em adaptação de Ben Hecht e direção de Ernst Lubitsch. Filme de 1933, ou seja, antes do código de censura. É um filme malicioso, apimentado e que fica todo o tempo discutindo sexo, inclusive com referências ao orgasmo.
   A primeira cena é um primor. Sem um só diálogo somos apresentados ao trio. Conhecemos sua personalidade, vemos sua individualidade. Em cinco minutos, mudos, já os conhecemos. Mais que isso, são "pessoas", parecem de verdade, embora nunca deixem de ser especiais, interessantes. Há aqui a conjugação mágica: um grande texto, um diretor de gênio e atores de estrela. Assistir este filme após a babaquice de Woody Allen é um alivio.
   Woody Allen é um grande diretor. Que erra muito. E acerta também muitas vezes. Hannah e Manhattan são obras-primas ( entre outras ) e O Dorminhoco é hilário.( entre outros ). Mas o que ele faz em Roma? Nos engana. Não existe um só diálogo interessante e pior, os personagens são mortos. São arremedos de um rascunho mal feito. Temos então a história com Penelope Cruz que não diz ao que veio. A história de Roberto Benigni que poderia ser boa, mas que não é desenvolvida e se faz uma tolice atroz. Pior de todas, a imbecilíssima historieta do cara que se apaixona pela amiga da esposa. Woody já contou isso um milhão de vezes. Aqui temos um roteiro tosco e um grupo de atores que me deixa irritado de tanto tédio.  A única boa piada é a do cantor de banheiro. Que não leva ou vai a lugar algum.
   O filme, em seus primeiros minutos, ameaça ser um novo TODOS DIZEM EU TE AMO ( que é um muito prazeroso filme ), mas logo desaba. Onde TODOS DIZEM tinha prazer, refinamento e personagens adoráveis, aqui temos um vazio absoluto. Mas apesar de tudo, algo sobrevive a este desastre, a beleza esfuziante de ROMA. Deus! Que cidade linda!!! As cores das fachadas, as vielas, as igrejas da renascença que parecem sorrir para nós. Roma realmente é única, é quente, é a cidade da beleza.
   Noel Coward foi o primeiro superstar. O que entendemos de estrela da midia foi criação dele. Cantava, compunha, fazia cinema e teatro, era critico e era "famoso". E muito, muito chique. Nos anos 90 se fez um disco em homenagem a Noel. Procure. Tem de Kd Lang à Pet Shop Boys.
   Ernst Lubitsch foi uma estrela do cinema mudo alemão. Fugiu para os EUA e se tornou o rei da Paramount. Dizem que foi ele que inventou o que conhecemos como "cinema de classe". Billy Wilder o idolatrava. Como também William Wyler, Preston Sturges e até Hitchcock. Lubitsch era malicioso. Seus filmes têm um toque de "doce vienense", de cabaret de Berlim, de cultura popular do Império Austro-Húngaro. São fábulas sexy com humor adulto.
  Design for Living tem Gary Cooper, Fredric March e Miriam Hopkins. Nenhum deles é inglês. E nem tenta ser. Cooper é belo e elegante. March é bom ator e intenso. Miriam é maliciosa. Precisamos do que mais?
  Quem quiser conhecer o soberbo cinema dos anos 30 tem aqui uma chance. É um filme que pode ganhar aficionados. Uma jóia.
  Quanto a Woody...evite ROMA.
  PS: Woody Allen faz a personagem da "amiga" citar Yeats. Nem meu poeta favorito salva a coisa. Além de me parecer uma forma tola de se tentar dar substãncia a personagens rasos. Alec Baldwin cita a "Sindrome de Ozymandias". Ozymandias é um poema, lindo, de Shelley. Alec é ótimo ( e está desperdiçado ) e Shelley é gênio.... e daí?
  PS2: Tenho um amigo que tem uma tese: a de que sou um gay enrustido. Afinal, diz ele, como um fã de Oscar Wilde, Noel Coward, Evelyn Waugh, Henry James, Roxy Music e Bowie pode não o ser? Bem, ele esqueceu Secos e Molhados e My Fair Lady. Meu amigo, isso revela preconceito de sua parte. Então é proibido a um hetero amar Fred Astaire e entender de pintura pré-Rafaelista? De qualquer modo me pego pensando às vezes nisso, o porque de eu gostar tanto de escritores, musicos, ícones de um certo verniz gay. E chego ao humor. Essa coisa "witt", essa atitude cinica, essa elegãncia anos 30, isso me agrada muito. Se são valores gay ou não, que importãncia isso tem?
   PS3: ah sim, eu adoro Cazuza! E Cole Porter.