NUM LAGO DOURADO de Mark Rydell com Henry Fonda, Kate Hepburn e Jane Fonda
Kate derrotou Meryl Streep, Susan Sarandon e Diane Keaton em 1982 com este filme, levando seu quarto Oscar. Henry, cinco meses antes de morrer levou o seu. Ele está fabuloso ( nunca o ví menos que fabuloso ) nesta melosa história de casal de velhos que passa férias em casa à beira de lago. Lá eles recebem visita de filha problema ( Jane, bela e aparecendo pouco ) e tomam conta de filho do novo namorado da filha. Henry consegue passar tudo o que significa ser velho : ter medo de morrer. Seu velho nunca se parece com uma piada. O filme nunca pesa demais, tem momentos de muito humor e é representante da reação do cinema-família contra as loucuras dos anos 70. Fez imenso sucesso e recordo de o ter visto sobre o Atlântico, no avião voando rumo à Frankfurt. Reparo também que é um tipo de filme completamente extinto. Ninguém é neurótico, ninguém tem emprego esquisito, nem é muito rico ou miserável. Nada ocorre de sensacional, é apenas gente banal em momento importante e inevitável. O filme se deixa ver, e passa como canção nostálgica. Tudo nele é bonito demais, limpo demais, mas os atores levam a história com brilho e conseguem dar vida ao que dizem e fazem. Nota 6.
FANTASIA de Walt Disney
Após o imenso sucesso de Branca de Neve, Walt gasta tudo o que tem e vai à falência tentando provar ser artista classe A com este muito metido desenho. Fantasia levou anos para ser feito e foi detestado por público e crítica. Walt se salvou com Dumbo e Pinóquio, e nunca mais se arriscou. Este desenho são clips de música erudita. Interessante notar como desde então o mundo inteiro se disneysiou. A forma como este filme vê a arte é absolutamente infantil. A sexta de Beethoven se torna uma fábula de pseudo-mitologia, com cavalinhos alados, centauras ninfas e muita pedofilia. Seios nús e muitas bundas de bebês, mas tudo bem gracinha, bem Disney. A Sagração de Stravinski, que é hino de paganismo, aqui é história sobre a criação da vida. É muito bom, é legal ver mares em erupção, vulcões, fogo e dinossauros. Mas nada tem de Stravinski. O final tem Mussorgski, em cena que cita ( plagia ? ) o Fausto de Murnau. Demônios e assombrações. Deve ter apavorado as crianças... Há ainda Dukas, Tchaikovski, Schubert... velho problema do mundo pseudo-intelectual : pensar que citar autores significa conhece-los. Disney infantiliza, domestica, torna tudo inofensivo. Profeta desta época de parques de diversão e visuais chocantes. Nota 3.
BELEZAS EM REVISTA de Lloyd Bacon com James Cagney, Ruby Keeler e Joan Blondell
Musical anos 30 com coreografia de Berkeley. É incacreditávelmente brega e deliciosamente bobo. Como sempre, tudo gira em torno da montagem de um show. Tem uma coreografia aquática inacreditável : dá pra perceber o medo de miss Keeler. Impressiona a objetividade do cinema de então, não se perde tempo com nada, as coisas são curtas e diretas, se é pra acontecer, que aconteça já. Isto é a TV de 1933 !!!! Nota 7.
A RELIGIOSA de Jacques Rivette com Anna Karina
Baseado em Diderot. Hiper pretensioso, eis aqui tudo de ruim que o cinema francês e a nouvelle-vague em especial, pode ser : chato. Chega a ser inacreditável sua cara de pau. Nota 1.
TERREMOTO de Mark Robson com Charlton Heston, Ava Gardner e George Kennedy
Filme do tempo em que acidentes eram moda no cinema. Sua primeira hora é boa, Robson sabe levar uma história, mas quando começa o terremoto enjoa tanto acidente e tanta tragédia. 4.
A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO de Martin Scorsese com Willem Dafoe, Harvey Keitel e Barbara Hershey
Baseado em Nikos Kazantzakis. Com o mesmo roteirista de Taxi Driver ( Paul Schrader ), Martin vê Jesus como um Trevis Bickle palestino. Jesus começa o filme como Van Gogh, um esquizofrênico, e termina como Cristo, ser que funda nosso mundo. Sua morte é momento de cinema corajoso e de soberbo talento. Scorsese consegue demonstrar que apenas a morte na cruz faz de Jesus, Cristo. Ele não poderia morrer como homem, seu sacrifício ( e o filme é genial como exposição do que seja ser herói ) é o motivo de sua existência. O herói é herói ao morrer, não em vida. Isso é demonstrado de forma engenhosa. Mas o filme tem uma cena muito ruim : a salvação da prostituta. Parece que veremos o Monty Python cantar. Uma cena genial : a ressurreição de Lázaro. Aterradora e crível. O filme nada tem de fácil, Judas ( Keitel, muito bem ) é visto como figura tão importante como Jesus e os outros apóstolos são pouco mais que broncos. Trata-se de filme cheio de ira, de brilho e de muita dor; sentimos que Scorsese se penitencia. O filme mostra toda a revolucionária novidade de Jesus : um Deus de amor. Até então todo deus era baseado em força e poder, Jesus coloca o amor no centro do mundo, o amor como razão para se viver. Ele inaugura-nos. Nota 8.
THE PLEASURE GARDEN de Alfred Hitchcock
É o primeiro filme do mestre. Vale só por isso, pois é um comum filme pop inglês da época. Não se trata de suspense. Nota 4.
SUPLÍCIO DE UMA ALMA de Fritz Lang com Dana Andrews e Joan Fontaine
Último filme americano de Lang. Uma vergonha ! Mal enquadrado, atores sem direção, roteiro cheio de furos. O grande Lang sem nenhum tesão. Nota Zero !
CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO de John Sturges com Spencer Tracy, Robert Ryan, Lee Marvin e Ernest Borgnine
Homem chega a cidadezinha. Todos o recebem com rancor. Todos escondem um terrível segredo. O filme tem fotografia deslumbrante. Ele é seco, árido, másculo. O clima de hostilidade se mantém por todo o filme e o roteiro é redondo, engenhoso, direto. Nada de forçado, nada de inverossímil, nada de pedante. É um belo filme com Spencer dando aula de discrição. Nota 7.
SEU TIPO DE MULHER de John Farrow com Robert Mitchum e Jane Russell
O filme tem uma primeira parte perfeita : um bando de esquisitos num hotel de luxo mexicano. Há um clima Hawks/ Huston e Mitchum carrega o filme com ironia. Mas aí acontece uma loucura : surge Vincent Price, e tudo muda, agora é uma gozação, uma sátira, um carnaval. Entendemos então que o filme mudou de diretor, que o produtor é Howard Hughes e que Farrow brigou com ele. Toda a parte final se parece com bebedeira, o filme cambaleia, fica à deriva. Não deixa de ser fascinante com as cenas dentro do barco tão ousadas, modernas, tortuosas. É um filme invulgar. Nota 6.
OS GÊNIOS DA PELOTA de Norman Z. MacLeod
É com Groucho, Chico e Harpo. Quem não gosta deles ( óh pobre infeliz ) vai detestar este filme. Tudo aqui é anárquico, solto, sem porque. Quem gosta deles ( óh gente feliz ) vai embarcar na viagem rumo ao mundo sem sentido dos geniais Marx. Nota 7.
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ONDE VIVEM OS MONSTROS/BULLIT/DIRTY HARRY/RENE CLAIR
ANASTASIA de Anatole Litvak com Ingrid Bergman e Yul Brynner
Chatíssimo sucesso do cinema que décadas depois teve mais sucesso ainda, como desenho Disney. Ingrid ganhou seu segundo Oscar e Yul está especialmente canastrão. Um filme para mocinhas românticas, apenas isso. Nota 2.
ONDE VIVEM OS MONSTROS de Spike Jonze
Descubra a criança que há em você.... Não seria melhor descobrir o adulto que procura nascer ? Pois tudo hoje nos ajuda a "descobrir a criança" ! Somos geração do talco e das fraldas. Não nos cansamos de revisitar o mundo idealizado da meninice. Haja !!!!! O filme nada me surpreendeu, eu já adivinhava que haveria um início cheio de fôlego e uma gradual perda de pique até o final mais ou menos. Sina de diretores formados por clips, uma incapacidade total de contar histórias longas. O visual remete às séries infantis inglesas dos anos 60/70, tipo A FLAUTA MÁGICA...Spike andou as assistindo. Adorei os dez minutos iniciais, depois deu muuuuuito sono.... Nota 4.
NA TRILHA DOS ASSASSINOS de John Frankenheimer com Don Johnson e Penelope Ann Miller
Policial estilo anos 80. Detetive fracassado investiga crimes. A ação é ok. Frankenheimer foi um dos grandes entre 62/72, de repente desandou. Mas isto é bem divertido. E bastante imbecil. 5.
O ÚLTIMO BOY SCOUT de Tony Scott com Bruce Willis
O irmão mais jovem de Ridley fez na sequencia dois bons filmes, este e AMOR A QUEIMA ROUPA. O estilo é cheio de luz, cores, brilho e reflexos, ou seja, publicitário. Mas Bruce nunca esteve tão bem ( lí que Tarantino acha Willis grande ator ) fazendo seu tipo azarado cornudo. O filme diverte muito, tem cenas de ação centradas nos stunt e não em efeitos. Enjoy, é um dos melhores filmes pra homem dos anos 90. Nota 8.
THE LAST WALTZ de Martin Scorsese com The Band
Na história do cinema dois filmes disputam o prêmio de melhor show já gravado, este e STOP MAKING SENSE de Johnathan Demme com os Talking Heads. São completamente diferentes. Demme fez um filme modernista, minimalista e esquizo; Martin nos dá um filme que reflete aquilo que é The Band, o filme é direto, simples, objetivo. Fala todo o tempo sobre a amizade. Como música é nota dez, como cinema é 7.
BULLIT de Peter Yates com Steve McQueen, Robert Vaughn e Jacqueline Bisset
O moderno filme policial nasceu com Dirty Harry, mas dois anos antes Bullit abriu o caminho e fez melhor. Nada é mais cool que este filme. Tudo aquilo que ligamos ao que é ser cool está aqui. Em sua trilha sonora ( jazz de Lalo Schifrin, pra mim a melhor trilha de policial da história ), nos carros ( muscle cars, o de Steve é um clássico ) roupas, cenários, silêncios, ressacas. Basta assistir os primeiros cinco minutos de Steve em cena para se entender tudo o que era cool em 1968 e é ainda hoje. Aliás hoje o estilo Bullit é mais cool ainda !
O filme, cheio de ação e com muito poucos diálogos, segue um policial rebelde ( Steve ) investigando coisas da máfia e de política. Tudo com as ruas de SanFran de fundo e Miss Bisset, dona de beleza surreal, enfeitando o apto de Bullit. Yates, diretor inglês muito bacaninha da época, nunca deixa a câmera parada. Ela corre, voa, treme e ginga. Há uma perseguição de carrões pelas ladeiras que dá até frio na barriga. O filme foi hiper sucesso de bilheteria e é um clássico. O tipo de filme que Soderbergh adoraria assinar. Esperto, frio, elegante, viril, ritmado, enfim, cool. Steve McQueen merece seu título, o rei do cool. Nota DEZ !!!!!!!!!
DIRTY HARRY de Don Siegel com ELE.
...é seu dia de sorte ? Depois que Clint disse isso nunca mais o cinema foi o mesmo. Se voce é um dos infelizes que nunca o assistiu e resolver conhecer este lixo delicioso, saiba que para entender a importancia disto é preciso saber que tudo o que voce assistir aqui foi feito pela primeira vez por Harry, o sujo. O sangue, o som do Magnum 44, um policial metendo bala nos meliantes sem dó, a frieza, o politicamente incorreto. Harry mata e mata sem nenhum problema de consciencia, e isso na época causou indignação. Observe como o filme tem poucos tiros. Espertamente eles notaram que um único tiro causa mais impacto que duzentos. E que tiros ! Nós vibramos com eles ! É um filme podre, sujo, muito feio, de humor pesado, cheio de furos no roteiro. Mas é inesquecível, empolgante, viciante. Clint cria um mito moderno e deixa como cria uma penca de heróis ( de Rambo até Matrix, todos têm algo de Harry ). Nota 9.
MAGNUM 44 de Ted Post com Clint Eastwood e Hal Holbrook
Harry em seu segundo filme ( ele é também responsável pela praga das continuações ) enfrenta gangue de policiais justiceiros. O inicio do filme é hilário, um close gigantesco na arma de Harry. O filme é mais ambicioso que o primeiro, mas tem menos suspense. A violência é maior, o impacto menor. Nota 6.
MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS de Alain Resnais com Pierre Arditi, Andre Dussolier, Laura Morante, Lambert Wilson
Resnais melhorou com a idade. Aos quase noventa anos ele domina uma leveza sem igual. Este filme fala do grande tema deste tempo : solidão. Consegue não ser piegas, não ser triste e não ser tolo. Adultos tentando fugir desse fantasma. Não conseguem. O filme é belíssimo. Nota 9.
POR AMOR de Sam Raimi com Kevin Costner, John C Reilly e Kelly Preston
Muita gente não entendeu o porque de Raimi amarrar os melhores anos de sua carreira ao Homem-Aranha. Porque ? Este filme ajuda a responder. Porque Raimi é banal. Este filme tem duas horas de cenas sem qualquer sinal de criação. Tudo é óbvio, previsivel, novelesco. E o tema é bom : jogador veterano recorda sua história de amor enquanto joga sua última partida. ( Baseball ). Costner até não está tão mal, mas o filme é idiota. Começo a pensar que todo diretor de série sabe o que faz ( ou o que não faz ). Talvez Raimi, Bryan Singer, Chris Columbus e agora Christopher Nolan e Gore Verbinski sejam apenas isso mesmo, diretores de séries. Nota 2.
O TEMPO É UMA ILUSÃO de Rene Clair com Dick Powell e Linda Darnell
Clair fugiu dos nazistas e foi filmar nos EUA. Se deu bem. Seus filmes lá são ótimos. Este fala de jornalista que recebe jornal do dia seguinte, ou seja, ele sabe tudo o que vai acontecer antes que aconteça ! Típico tema de Clair : fantasioso e feliz. O filme pede por atores melhores. Um Cary Grant o transformaria em ouro puro, Powell é apenas um tipo de Adam Sandler elegante. Mesmo assim é boa diversão. Nota 7.
FESTIVAL EXPRESS de Al Eamon
Inacreditável !!!! Em 1970 botaram num trem um bando de músicos e os soltaram on the road no Canada para fazerem shows. A idéia era um Woodstock itinerante. É lógico que tudo deu errado. Os hippies enfrentavam a policia, queriam ver os shows de graça. O produtor faliu e os músicos continuaram fazendo a excursão for fun. Muita bebida, muita droga, muito som. O Grateful Dead até que está bem. Era sua fase mais country, mais pop. Buddy Guy é um desastre. Tem ainda o Flying Burrito Brothers sem Gram Parsons, tocando Lazy Day. Nota mil pra eles. Mas tem também a chatérrima Janis Joplin dando seus gritos de sempre. The Band salva tudo : 3 canções de arrasar. Mas o melhor são os bastidores. Músicos totalmente junkies. Um retrato da proto-história do pop. Nota 5.
PS: Meirelles fazendo um filme sobre Janis com a filha do grande Caleb Deschanel ? Tô fora !!!!!
Chatíssimo sucesso do cinema que décadas depois teve mais sucesso ainda, como desenho Disney. Ingrid ganhou seu segundo Oscar e Yul está especialmente canastrão. Um filme para mocinhas românticas, apenas isso. Nota 2.
ONDE VIVEM OS MONSTROS de Spike Jonze
Descubra a criança que há em você.... Não seria melhor descobrir o adulto que procura nascer ? Pois tudo hoje nos ajuda a "descobrir a criança" ! Somos geração do talco e das fraldas. Não nos cansamos de revisitar o mundo idealizado da meninice. Haja !!!!! O filme nada me surpreendeu, eu já adivinhava que haveria um início cheio de fôlego e uma gradual perda de pique até o final mais ou menos. Sina de diretores formados por clips, uma incapacidade total de contar histórias longas. O visual remete às séries infantis inglesas dos anos 60/70, tipo A FLAUTA MÁGICA...Spike andou as assistindo. Adorei os dez minutos iniciais, depois deu muuuuuito sono.... Nota 4.
NA TRILHA DOS ASSASSINOS de John Frankenheimer com Don Johnson e Penelope Ann Miller
Policial estilo anos 80. Detetive fracassado investiga crimes. A ação é ok. Frankenheimer foi um dos grandes entre 62/72, de repente desandou. Mas isto é bem divertido. E bastante imbecil. 5.
O ÚLTIMO BOY SCOUT de Tony Scott com Bruce Willis
O irmão mais jovem de Ridley fez na sequencia dois bons filmes, este e AMOR A QUEIMA ROUPA. O estilo é cheio de luz, cores, brilho e reflexos, ou seja, publicitário. Mas Bruce nunca esteve tão bem ( lí que Tarantino acha Willis grande ator ) fazendo seu tipo azarado cornudo. O filme diverte muito, tem cenas de ação centradas nos stunt e não em efeitos. Enjoy, é um dos melhores filmes pra homem dos anos 90. Nota 8.
THE LAST WALTZ de Martin Scorsese com The Band
Na história do cinema dois filmes disputam o prêmio de melhor show já gravado, este e STOP MAKING SENSE de Johnathan Demme com os Talking Heads. São completamente diferentes. Demme fez um filme modernista, minimalista e esquizo; Martin nos dá um filme que reflete aquilo que é The Band, o filme é direto, simples, objetivo. Fala todo o tempo sobre a amizade. Como música é nota dez, como cinema é 7.
BULLIT de Peter Yates com Steve McQueen, Robert Vaughn e Jacqueline Bisset
O moderno filme policial nasceu com Dirty Harry, mas dois anos antes Bullit abriu o caminho e fez melhor. Nada é mais cool que este filme. Tudo aquilo que ligamos ao que é ser cool está aqui. Em sua trilha sonora ( jazz de Lalo Schifrin, pra mim a melhor trilha de policial da história ), nos carros ( muscle cars, o de Steve é um clássico ) roupas, cenários, silêncios, ressacas. Basta assistir os primeiros cinco minutos de Steve em cena para se entender tudo o que era cool em 1968 e é ainda hoje. Aliás hoje o estilo Bullit é mais cool ainda !
O filme, cheio de ação e com muito poucos diálogos, segue um policial rebelde ( Steve ) investigando coisas da máfia e de política. Tudo com as ruas de SanFran de fundo e Miss Bisset, dona de beleza surreal, enfeitando o apto de Bullit. Yates, diretor inglês muito bacaninha da época, nunca deixa a câmera parada. Ela corre, voa, treme e ginga. Há uma perseguição de carrões pelas ladeiras que dá até frio na barriga. O filme foi hiper sucesso de bilheteria e é um clássico. O tipo de filme que Soderbergh adoraria assinar. Esperto, frio, elegante, viril, ritmado, enfim, cool. Steve McQueen merece seu título, o rei do cool. Nota DEZ !!!!!!!!!
DIRTY HARRY de Don Siegel com ELE.
...é seu dia de sorte ? Depois que Clint disse isso nunca mais o cinema foi o mesmo. Se voce é um dos infelizes que nunca o assistiu e resolver conhecer este lixo delicioso, saiba que para entender a importancia disto é preciso saber que tudo o que voce assistir aqui foi feito pela primeira vez por Harry, o sujo. O sangue, o som do Magnum 44, um policial metendo bala nos meliantes sem dó, a frieza, o politicamente incorreto. Harry mata e mata sem nenhum problema de consciencia, e isso na época causou indignação. Observe como o filme tem poucos tiros. Espertamente eles notaram que um único tiro causa mais impacto que duzentos. E que tiros ! Nós vibramos com eles ! É um filme podre, sujo, muito feio, de humor pesado, cheio de furos no roteiro. Mas é inesquecível, empolgante, viciante. Clint cria um mito moderno e deixa como cria uma penca de heróis ( de Rambo até Matrix, todos têm algo de Harry ). Nota 9.
MAGNUM 44 de Ted Post com Clint Eastwood e Hal Holbrook
Harry em seu segundo filme ( ele é também responsável pela praga das continuações ) enfrenta gangue de policiais justiceiros. O inicio do filme é hilário, um close gigantesco na arma de Harry. O filme é mais ambicioso que o primeiro, mas tem menos suspense. A violência é maior, o impacto menor. Nota 6.
MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS de Alain Resnais com Pierre Arditi, Andre Dussolier, Laura Morante, Lambert Wilson
Resnais melhorou com a idade. Aos quase noventa anos ele domina uma leveza sem igual. Este filme fala do grande tema deste tempo : solidão. Consegue não ser piegas, não ser triste e não ser tolo. Adultos tentando fugir desse fantasma. Não conseguem. O filme é belíssimo. Nota 9.
POR AMOR de Sam Raimi com Kevin Costner, John C Reilly e Kelly Preston
Muita gente não entendeu o porque de Raimi amarrar os melhores anos de sua carreira ao Homem-Aranha. Porque ? Este filme ajuda a responder. Porque Raimi é banal. Este filme tem duas horas de cenas sem qualquer sinal de criação. Tudo é óbvio, previsivel, novelesco. E o tema é bom : jogador veterano recorda sua história de amor enquanto joga sua última partida. ( Baseball ). Costner até não está tão mal, mas o filme é idiota. Começo a pensar que todo diretor de série sabe o que faz ( ou o que não faz ). Talvez Raimi, Bryan Singer, Chris Columbus e agora Christopher Nolan e Gore Verbinski sejam apenas isso mesmo, diretores de séries. Nota 2.
O TEMPO É UMA ILUSÃO de Rene Clair com Dick Powell e Linda Darnell
Clair fugiu dos nazistas e foi filmar nos EUA. Se deu bem. Seus filmes lá são ótimos. Este fala de jornalista que recebe jornal do dia seguinte, ou seja, ele sabe tudo o que vai acontecer antes que aconteça ! Típico tema de Clair : fantasioso e feliz. O filme pede por atores melhores. Um Cary Grant o transformaria em ouro puro, Powell é apenas um tipo de Adam Sandler elegante. Mesmo assim é boa diversão. Nota 7.
FESTIVAL EXPRESS de Al Eamon
Inacreditável !!!! Em 1970 botaram num trem um bando de músicos e os soltaram on the road no Canada para fazerem shows. A idéia era um Woodstock itinerante. É lógico que tudo deu errado. Os hippies enfrentavam a policia, queriam ver os shows de graça. O produtor faliu e os músicos continuaram fazendo a excursão for fun. Muita bebida, muita droga, muito som. O Grateful Dead até que está bem. Era sua fase mais country, mais pop. Buddy Guy é um desastre. Tem ainda o Flying Burrito Brothers sem Gram Parsons, tocando Lazy Day. Nota mil pra eles. Mas tem também a chatérrima Janis Joplin dando seus gritos de sempre. The Band salva tudo : 3 canções de arrasar. Mas o melhor são os bastidores. Músicos totalmente junkies. Um retrato da proto-história do pop. Nota 5.
PS: Meirelles fazendo um filme sobre Janis com a filha do grande Caleb Deschanel ? Tô fora !!!!!
THE LAST WALTZ - THE BAND & MARTIN SCORSESE
No tempo em que toda banda tinha de ser a mais louca, The Band surgiu como uma ilha de sanidade. Nesse mesmo tempo em que todo grande guitarrista dava solos de meia hora, The Band tinha o mais influente guitarrista e ele fazia solos de meio minuto. Na enciclopédia do rock, da Rolling Stone, é dito que este grupo salvou a vida de milhares de caras que haviam se perdido e não conseguiam voltar das loucuras psicodélicas. E acredite, ela foi a mais amada das bandas e o primeiro grupo de rock a aparecer na capa da Time ( em 69. Os Beatles só apareceram em 70. ) Foi o grupo que fez com que Clapton largasse o Cream, e com que montes de músicos lembrassem que o importante era uma boa canção.
Eles surgiram no Canadá e tocavam de tudo. Quando Dylan resolveu fazer rocknroll os chamou para excursionar... o resto é lenda. Meu amigo Fabio diz que são considerados musicalmente um exemplo de entrosamento. Todos são cobras, mas ninguém é líder de nada. The Band tem quatro vocalistas e nenhuma estrela. É desde 2000 minha banda favorita. Eles falam fundo para aqueles que tiveram o coração partido, mas que mesmo assim não se tornaram cínicos. Eles são cowboys, eles falam de fé, de amizade, de lendas da estrada, do que é ser homem.
The Band é para homens. Não serve para meninos.
Em 1976, num ato exemplar, resolveram terminar o grupo. Eles não tinham mais nada a dizer, viajar não era mais divertido, não queriam enganar ninguém. Chamaram o amigo Scorsese e fizeram um filme desse final. THE LAST WALTZ. Na época ninguém convidava ninguém para tocar em homenagens, o show foi inovador por trazer convidados especiais. E o cenário de palco foi a base estética dos MTV acústicos.
Martin Scorsese, fã, faz as entrevistas. Os caras esbanjam simpatia. O som que eles fazem é a cara deles : amigáveis sem jamais serem engraçadinhos. São adultos, e são muito rocknroll. É bom demais ver os caras tocando. Eles sorriem todo o tempo. Totalmente anti-afetação.
Os convidados... alguns são banais como Ronnie Hawkins, chamado por ser o cara que os lançou no Canadá. Eric Clapton é engolido por Robbie Robertson. Os solos de Robbie são como Miles Davis em rock. O menos que é muito. Seu timbre é único, a guitarra de Robbie nunca grita ou chora, ela balbucia, ela sussurra, enfeitiça.
Dr. John vem com seu boogie de Orleans e a coisa pega mesmo é com os Staples. A voz daquele negro velho, como um anjo de bondade... é pra chorar de alegria.
Mas tem mais. Tem Joni Mitchell. Joni fez música com Charles Mingus. A música que ela canta é um pop-jazz absurdo : pura delícia, pura genialidade. É tudo aquilo que o Style Council tentou fazer e nunca conseguiu. O tempo foi bom para Neil Diamond. Na época do show ele era a carta fora do baralho. O brega. Ouvindo-o hoje eu o sinto como um baladeiro maravilhoso ! E que voz ! Aliás, este show é uma aula de vocais.
E vem Van Morrison. Um pequeno elfo desajeitado. Soltando aquele vozeirão e dando chutes no ar. E tudo explode quando Muddy Waters traz o voodoo do Mississipi e manda Mannish Boy. Caraca!!!!! Que do cacete ! Que voz, que momento histórico, que tesão inigualável !
E ainda tem Neil Young, que parece realmente comovido por estar lá ( quantos canadenses ! Young, Joni, Hawkins e a Band ).
E no final, ele : Bob Dylan, o cara.
Aqui um adendo :
Em 1966 Dylan ia morrer. Anfetaminas demais. Mas ele sofre um acidente de moto sério que o faz convalescer com seus amigos em Woodstock, numa casa de fazenda, a tal BIG PINK. Nessa casa, eles andam, cavalgam, e cantam no porão. Dylan renasce. Os caras que moravam na BIG PINK eram Robbie Robertson, Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson e Richard Manuel : THE BAND. Dylan sai de lá com o disco THE BASEMENT TAPES e a Band com seu primeiro disco, MUSIC FROM THE BIG PINK, uma das mais belas coisas já gravadas.
Voltando... eis Dylan no palco e eis como é Bob com The Band. Dylan rí !!!!!!! E milagre : até diz thank you após os aplausos ! Ele está totalmente em casa, os caras são os únicos que se casaram com Dylan. Foi com eles que Dylan enfeitiçou a Inglaterra em 1965.
Todos voltam ao palco e vemos Neil Young, Van Morrison, Clapton e agora Ringo Starr com Ron Wood fazendo backing vocals para Bob Dylan. Mas vemos todos homenageando THE BAND. Inclusive Scorsese.
Mas apesar de todos esses convidados, o melhor é a própria banda. Rick toca baixo como se fosse da Motown e canta com imensa paixão. Levon é O baterista. Sua batera é básica, mas que riquesa em pratos e em ritmo, e que voz rascante, rouca, do pântano ( Levon Helm é o único americano ). Há ainda o teclado de Richard, que cantava em falsete e que morreu em 87 de heroína... e Garth, o pacato e sério Garth, que conta a real, que o "lance deles era ficar na BIG PINK, pintando uma porta, arrumando uma janela, pescando...que essa coisa de rocknroll, de celebridade torna a música impossível...." um belo momento pego pelo microfone de Martin.
Se houver um céu para onde os amantes do rock vão, com certeza Garth, Rick, Robbie, Richard e Levon estarão no portão nos esperando. São a coisa mais nobre do pop, a total honestidade de carreira e de filosofia. Fizeram discos que trazem para sempre a luz do fim do túnel, a flor no asfalto, o sorriso no abismo.
Assim como os Stones são o sexo do rock e os Beatles são o cérebro, The Band é o coração. THE LAST WALTZ maravilhosamente filmado por Scorsese com a mesma equipe de TAXI DRIVER é digna homenagem a quem a merece.
Um toque : Faltou Gram Parsons. Não tivesse morrido em 73, o maravilhoso Parsons estaria naquele palco. Mas a musa de Gram, Emmylou Harris cantou com a Band... lindo !
A foto famosa dos Beatles de 68, todos de preto, barbas e chapéus, é uma citação deles ao novo grupo que surgia : The Band....
Apesar de assinar Tony Roxy e de o Roxy Music ser a banda que mais gostei na vida, é na The Band que me vejo. Se eu pudesse voltar a vida e pudesse escolher, eu não queria ser Bergman e nem Fellini, não queria estar na guitarra dos Stones e nem no vocal do Led Zeppelin... eu queria segurar as baquetas de THE BAND e tocar CHEST FEVER....
É isso!
Eles surgiram no Canadá e tocavam de tudo. Quando Dylan resolveu fazer rocknroll os chamou para excursionar... o resto é lenda. Meu amigo Fabio diz que são considerados musicalmente um exemplo de entrosamento. Todos são cobras, mas ninguém é líder de nada. The Band tem quatro vocalistas e nenhuma estrela. É desde 2000 minha banda favorita. Eles falam fundo para aqueles que tiveram o coração partido, mas que mesmo assim não se tornaram cínicos. Eles são cowboys, eles falam de fé, de amizade, de lendas da estrada, do que é ser homem.
The Band é para homens. Não serve para meninos.
Em 1976, num ato exemplar, resolveram terminar o grupo. Eles não tinham mais nada a dizer, viajar não era mais divertido, não queriam enganar ninguém. Chamaram o amigo Scorsese e fizeram um filme desse final. THE LAST WALTZ. Na época ninguém convidava ninguém para tocar em homenagens, o show foi inovador por trazer convidados especiais. E o cenário de palco foi a base estética dos MTV acústicos.
Martin Scorsese, fã, faz as entrevistas. Os caras esbanjam simpatia. O som que eles fazem é a cara deles : amigáveis sem jamais serem engraçadinhos. São adultos, e são muito rocknroll. É bom demais ver os caras tocando. Eles sorriem todo o tempo. Totalmente anti-afetação.
Os convidados... alguns são banais como Ronnie Hawkins, chamado por ser o cara que os lançou no Canadá. Eric Clapton é engolido por Robbie Robertson. Os solos de Robbie são como Miles Davis em rock. O menos que é muito. Seu timbre é único, a guitarra de Robbie nunca grita ou chora, ela balbucia, ela sussurra, enfeitiça.
Dr. John vem com seu boogie de Orleans e a coisa pega mesmo é com os Staples. A voz daquele negro velho, como um anjo de bondade... é pra chorar de alegria.
Mas tem mais. Tem Joni Mitchell. Joni fez música com Charles Mingus. A música que ela canta é um pop-jazz absurdo : pura delícia, pura genialidade. É tudo aquilo que o Style Council tentou fazer e nunca conseguiu. O tempo foi bom para Neil Diamond. Na época do show ele era a carta fora do baralho. O brega. Ouvindo-o hoje eu o sinto como um baladeiro maravilhoso ! E que voz ! Aliás, este show é uma aula de vocais.
E vem Van Morrison. Um pequeno elfo desajeitado. Soltando aquele vozeirão e dando chutes no ar. E tudo explode quando Muddy Waters traz o voodoo do Mississipi e manda Mannish Boy. Caraca!!!!! Que do cacete ! Que voz, que momento histórico, que tesão inigualável !
E ainda tem Neil Young, que parece realmente comovido por estar lá ( quantos canadenses ! Young, Joni, Hawkins e a Band ).
E no final, ele : Bob Dylan, o cara.
Aqui um adendo :
Em 1966 Dylan ia morrer. Anfetaminas demais. Mas ele sofre um acidente de moto sério que o faz convalescer com seus amigos em Woodstock, numa casa de fazenda, a tal BIG PINK. Nessa casa, eles andam, cavalgam, e cantam no porão. Dylan renasce. Os caras que moravam na BIG PINK eram Robbie Robertson, Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson e Richard Manuel : THE BAND. Dylan sai de lá com o disco THE BASEMENT TAPES e a Band com seu primeiro disco, MUSIC FROM THE BIG PINK, uma das mais belas coisas já gravadas.
Voltando... eis Dylan no palco e eis como é Bob com The Band. Dylan rí !!!!!!! E milagre : até diz thank you após os aplausos ! Ele está totalmente em casa, os caras são os únicos que se casaram com Dylan. Foi com eles que Dylan enfeitiçou a Inglaterra em 1965.
Todos voltam ao palco e vemos Neil Young, Van Morrison, Clapton e agora Ringo Starr com Ron Wood fazendo backing vocals para Bob Dylan. Mas vemos todos homenageando THE BAND. Inclusive Scorsese.
Mas apesar de todos esses convidados, o melhor é a própria banda. Rick toca baixo como se fosse da Motown e canta com imensa paixão. Levon é O baterista. Sua batera é básica, mas que riquesa em pratos e em ritmo, e que voz rascante, rouca, do pântano ( Levon Helm é o único americano ). Há ainda o teclado de Richard, que cantava em falsete e que morreu em 87 de heroína... e Garth, o pacato e sério Garth, que conta a real, que o "lance deles era ficar na BIG PINK, pintando uma porta, arrumando uma janela, pescando...que essa coisa de rocknroll, de celebridade torna a música impossível...." um belo momento pego pelo microfone de Martin.
Se houver um céu para onde os amantes do rock vão, com certeza Garth, Rick, Robbie, Richard e Levon estarão no portão nos esperando. São a coisa mais nobre do pop, a total honestidade de carreira e de filosofia. Fizeram discos que trazem para sempre a luz do fim do túnel, a flor no asfalto, o sorriso no abismo.
Assim como os Stones são o sexo do rock e os Beatles são o cérebro, The Band é o coração. THE LAST WALTZ maravilhosamente filmado por Scorsese com a mesma equipe de TAXI DRIVER é digna homenagem a quem a merece.
Um toque : Faltou Gram Parsons. Não tivesse morrido em 73, o maravilhoso Parsons estaria naquele palco. Mas a musa de Gram, Emmylou Harris cantou com a Band... lindo !
A foto famosa dos Beatles de 68, todos de preto, barbas e chapéus, é uma citação deles ao novo grupo que surgia : The Band....
Apesar de assinar Tony Roxy e de o Roxy Music ser a banda que mais gostei na vida, é na The Band que me vejo. Se eu pudesse voltar a vida e pudesse escolher, eu não queria ser Bergman e nem Fellini, não queria estar na guitarra dos Stones e nem no vocal do Led Zeppelin... eu queria segurar as baquetas de THE BAND e tocar CHEST FEVER....
É isso!
ULYSSES/ BRANDO/ LUMET/HENRY FONDA/RESNAIS
ULYSSES de Joseph Strickland com Milo O'Shea e Barabara Jefford
Um filme difícil. Se você não conhece o livro de Joyce nem tente assistir este filme. Strickland levou vinte anos procurando quem o financiasse. O filme, muito bem interpretado, é quase incompreensível. Mas tem alguns momentos que recordam a força demoníaca de Joyce. O monólogo de Molly, ao final, é maravilhoso. Prosa poética erótica extraordinária. Não posso dar nota a este filme. É único.
O ÚLTIMO TANGO EM PARIS de Bernardo Bertolucci com Marlon Brando, Maria Schneider e Jean-Pierre Leaud.
O filme é um poema sobre a coragem. A coragem de Bernardo por fazer um filme tão burguês numa época em que todo cinema italiano era político e furiosamente de esquerda. Coragem de Brando por fazer de Paul sí-mesmo, dando a nós, generosamente, sua alma e suas fraquesas. Coragem de Maria, por se desnudar sem glamour e por jogar no lixo, sem afetação, seu possível estrelato. Coragem do público, por transformar em sucesso um filme tão triste. Ele analisa a loucura do amor e sua destruição. Ele mostra o vazio existencial e a irremediável solidão. E ainda antecipa a falência da política e do próprio amor verdadeiro. Que mais voce pode querer ? E ainda nos dá um milagre : Marlon Brando. Nota DEZ !
INFERNO NA TORRE de John Guillermin com Paul Newman, Steve McQueen, William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire e Jennifer Jones
Que elenco!!!! E que filme ruim!!!! Mas é divertido. Vemos chamas, vemos gente correndo, música de espetáculo, atores que amamos. É o tipo de super-produção da época : a grana era gasta em caras famosas e não nos efeitos. Nota 5.
OS PICARETAS de Frank Oz com Steve Martin, Eddie Murphy, Heather Graham
Adoro este filme. Vivêssemos em tempos de comédia teria sido um grande sucesso. É a história do diretor ruim e fracassado ( Martin, excelente !) que usa ator doido e paranóico ( Eddie, maravilhoso ! ) em filme de ficção à Ed Wood. Engraçado e nunca apelativo, o roteiro, de Martin é criativo e afetivo. Oz é um diretor subestimado, ele não tem um só filme ruim. Nota 7.
A ÉPOCA DA INOCÊNCIA de Martin Scorsese com Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer, Winona Ryder
O livro de Edith Wharton é um dos que mais me deu prazer ao ser lido em dois dias em 2005. É obra-prima de estilo e de elegância. O filme não. É frio, distante, vazio. Scorsese não acredita no que mostra e se perde. Parece desistir. Nota 5.
RETORNO A HOWARDS END de James Ivory com Emma Thompson, Anthony Hopkins e Helena-Bonham Carter
Este sim. Ivory nasceu para fazer este filme. A primeira parte é uma obra-prima. Tudo funciona a perfeição. Você se vê completamente envolvido pelo lugar e pelas personagens. Depois ele perde um pouco de força, mas no geral é um muito grande exemplo do mais alto requinte em visual e escrita. Os atores estão soberbos ! Nota 8.
12 HOMENS E UMA SENTENÇA de Sidney Lumet com Henry Fonda e Lee J. Cobb.
Um juiz chama os jurados a sua sala. Eles irão decidir o destino do réu. O filme, todo passado numa sala, mostra os 12 discutindo a sentença. Nós nada sabemos do réu. E terminamos o filme sem saber se ele é inocente ou não. O que se discute não é isso. Se discute a certeza - como condenar alguém sem ter absoluta certeza de sua culpa ? E como ter certeza de alguma coisa ? O roteiro de Reginald Rose, habilmente nos mostra isso, nada é o que é, tudo pode ser discutido.
Este é o primeiro filme de Lumet e é considerado sua obra-prima. Não sei se é seu melhor, mas é coisa de imenso talento. 90 minutos numa sala com 12 homens desagradáveis. E queremos mais !!! A habilidade de Lumet ( e do câmera, Boris Kaufman, o cara que fez L'Atalante ) é espantosa. Vemos rostos suando, bocas falando, roupas molhadas, mãos. E ouvimos as vozes : e que vozes... há o tímido, o racista, o narciso, o vendedor, o infantil, o velho. E há Fonda, ator único, ator que é a imagem da correção, da inteligência calma, do espírito nobre. O filme empolga, diverte, faz pensar e conquista nossa total adesão.
Sempre votado um dos 100 mais da América, merece sua imorredoura fama. É obrigatório !!!! Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AS NEVES DO KILIMANJARO de Henry King com Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner
Um caçador está morrendo na África. Ele relembra seu grande amor. Passamos pela Espanha, por Paris e pela Riviera. Caçadas, touradas, bebedeiras e guerras. Vários trechos de Heminguay são habilmente misturados. O filme é quadrado mas é boa diversão. Nota 6.
AMORES PARISIENSES de Alain Resnais com Sabine Azema e Agnes Jaoui
Até os anos 80 todo diretor era aposentado aos 60. Minelli, Capra, Wilder, Wyler, Stevens, Ford... todos foram chamados de velhos e ultrapassados aos 60. De repente tudo mudou, e Eastwood, Altman, Manoel de Oliveira, Lumet e Woody Allen ( dentre muitos outros ) conseguem filmar até o fim. E bem ! Resnais tem 85 anos. E se mostra aqui de uma jovialidade e leveza maravilhosas ! Ele, que começou nos anos 50 com filmes muito sérios e graves, faz aqui um divetido filme sobre pessoas que nada fazem de especial. Apenas vivem. Mas gostamos de vê-las, de escutar seus diálogos. O filme, feito quase ao mesmo tempo que o "Todos dizem eu te Amo" de Woody, também usa trechos de canções pop para explicar sentimentos. É um efeito que encanta : funciona muito bem. Os atores exalam simpatia ( Sabine mais que isso ) e é obra de inspiração. Resnais está tendo um belo fim de vida !
E pensar que Bergman desistiu aos 60.......
Um filme difícil. Se você não conhece o livro de Joyce nem tente assistir este filme. Strickland levou vinte anos procurando quem o financiasse. O filme, muito bem interpretado, é quase incompreensível. Mas tem alguns momentos que recordam a força demoníaca de Joyce. O monólogo de Molly, ao final, é maravilhoso. Prosa poética erótica extraordinária. Não posso dar nota a este filme. É único.
O ÚLTIMO TANGO EM PARIS de Bernardo Bertolucci com Marlon Brando, Maria Schneider e Jean-Pierre Leaud.
O filme é um poema sobre a coragem. A coragem de Bernardo por fazer um filme tão burguês numa época em que todo cinema italiano era político e furiosamente de esquerda. Coragem de Brando por fazer de Paul sí-mesmo, dando a nós, generosamente, sua alma e suas fraquesas. Coragem de Maria, por se desnudar sem glamour e por jogar no lixo, sem afetação, seu possível estrelato. Coragem do público, por transformar em sucesso um filme tão triste. Ele analisa a loucura do amor e sua destruição. Ele mostra o vazio existencial e a irremediável solidão. E ainda antecipa a falência da política e do próprio amor verdadeiro. Que mais voce pode querer ? E ainda nos dá um milagre : Marlon Brando. Nota DEZ !
INFERNO NA TORRE de John Guillermin com Paul Newman, Steve McQueen, William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire e Jennifer Jones
Que elenco!!!! E que filme ruim!!!! Mas é divertido. Vemos chamas, vemos gente correndo, música de espetáculo, atores que amamos. É o tipo de super-produção da época : a grana era gasta em caras famosas e não nos efeitos. Nota 5.
OS PICARETAS de Frank Oz com Steve Martin, Eddie Murphy, Heather Graham
Adoro este filme. Vivêssemos em tempos de comédia teria sido um grande sucesso. É a história do diretor ruim e fracassado ( Martin, excelente !) que usa ator doido e paranóico ( Eddie, maravilhoso ! ) em filme de ficção à Ed Wood. Engraçado e nunca apelativo, o roteiro, de Martin é criativo e afetivo. Oz é um diretor subestimado, ele não tem um só filme ruim. Nota 7.
A ÉPOCA DA INOCÊNCIA de Martin Scorsese com Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer, Winona Ryder
O livro de Edith Wharton é um dos que mais me deu prazer ao ser lido em dois dias em 2005. É obra-prima de estilo e de elegância. O filme não. É frio, distante, vazio. Scorsese não acredita no que mostra e se perde. Parece desistir. Nota 5.
RETORNO A HOWARDS END de James Ivory com Emma Thompson, Anthony Hopkins e Helena-Bonham Carter
Este sim. Ivory nasceu para fazer este filme. A primeira parte é uma obra-prima. Tudo funciona a perfeição. Você se vê completamente envolvido pelo lugar e pelas personagens. Depois ele perde um pouco de força, mas no geral é um muito grande exemplo do mais alto requinte em visual e escrita. Os atores estão soberbos ! Nota 8.
12 HOMENS E UMA SENTENÇA de Sidney Lumet com Henry Fonda e Lee J. Cobb.
Um juiz chama os jurados a sua sala. Eles irão decidir o destino do réu. O filme, todo passado numa sala, mostra os 12 discutindo a sentença. Nós nada sabemos do réu. E terminamos o filme sem saber se ele é inocente ou não. O que se discute não é isso. Se discute a certeza - como condenar alguém sem ter absoluta certeza de sua culpa ? E como ter certeza de alguma coisa ? O roteiro de Reginald Rose, habilmente nos mostra isso, nada é o que é, tudo pode ser discutido.
Este é o primeiro filme de Lumet e é considerado sua obra-prima. Não sei se é seu melhor, mas é coisa de imenso talento. 90 minutos numa sala com 12 homens desagradáveis. E queremos mais !!! A habilidade de Lumet ( e do câmera, Boris Kaufman, o cara que fez L'Atalante ) é espantosa. Vemos rostos suando, bocas falando, roupas molhadas, mãos. E ouvimos as vozes : e que vozes... há o tímido, o racista, o narciso, o vendedor, o infantil, o velho. E há Fonda, ator único, ator que é a imagem da correção, da inteligência calma, do espírito nobre. O filme empolga, diverte, faz pensar e conquista nossa total adesão.
Sempre votado um dos 100 mais da América, merece sua imorredoura fama. É obrigatório !!!! Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AS NEVES DO KILIMANJARO de Henry King com Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner
Um caçador está morrendo na África. Ele relembra seu grande amor. Passamos pela Espanha, por Paris e pela Riviera. Caçadas, touradas, bebedeiras e guerras. Vários trechos de Heminguay são habilmente misturados. O filme é quadrado mas é boa diversão. Nota 6.
AMORES PARISIENSES de Alain Resnais com Sabine Azema e Agnes Jaoui
Até os anos 80 todo diretor era aposentado aos 60. Minelli, Capra, Wilder, Wyler, Stevens, Ford... todos foram chamados de velhos e ultrapassados aos 60. De repente tudo mudou, e Eastwood, Altman, Manoel de Oliveira, Lumet e Woody Allen ( dentre muitos outros ) conseguem filmar até o fim. E bem ! Resnais tem 85 anos. E se mostra aqui de uma jovialidade e leveza maravilhosas ! Ele, que começou nos anos 50 com filmes muito sérios e graves, faz aqui um divetido filme sobre pessoas que nada fazem de especial. Apenas vivem. Mas gostamos de vê-las, de escutar seus diálogos. O filme, feito quase ao mesmo tempo que o "Todos dizem eu te Amo" de Woody, também usa trechos de canções pop para explicar sentimentos. É um efeito que encanta : funciona muito bem. Os atores exalam simpatia ( Sabine mais que isso ) e é obra de inspiração. Resnais está tendo um belo fim de vida !
E pensar que Bergman desistiu aos 60.......
NICHOLSON/JAMES DEAN/SCORSESE/ELLEN
CADA UM VIVE COMO QUER de Bob Rafelson com Jack Nicholson, Karen Black e Susan Anspach
Este filme causou profunda impressão em sua época. Mostrava com clareza a crise de toda uma geração. Cenas como a da lanchonete são usadas até hoje como exemplo de atuação ( Jack, aqui em atuação fantástica. ) O filme está longe de ser uma obra-prima. Algumas cenas são ruins. Mas ele tem algo de muito profundo, muito sincero e principalmente : ele inventou o tal "filminho independente tristinho ". Acompanhamos a crise de nosso herói com interesse e assistimos Jack Nicholson criar o perfeito herói existencial. Seu personagem está no limite. É uma figura de Antonioni em filme cem por cento americano. O final, uma longa tomada silenciosa, dolorosa e árida, é sim uma obra-prima. Jack nunca mais foi tão sincero. Ele é o desamparo, e faz isso sem uma careta, um grito, uma esquisitice. É de verdade. Este filme, irregular, fica em sua memória. Nota 8.
A BONECA DO DEMÔNIO de Tod Browning com Lionel Barrymore e Maureen O'Sullivan
Uma decepção. Os primeiros minutos são aquele delicioso terror dos anos 30, mas depois a melosa trama MGM toma conta de tudo. Browning, o gênio dos góticos da Universal, afunda no romantismo Metro. Não é a toa que ele abandonaria o cinema logo em seguida. Nota 3.
A PELE de Steven Shainberg com Nicole Kidman e Robert Downey Jr.
Uma pretensiosa bobagem. O filme tenta mostrar o porque de Diane Arbus fotografar gente esquisita. Inventa, lógico, um motivo romântico, e afunda numa chatice moderninha. Nicole está fria e distante e Downey alheio. O filme é lixo pseudo-sério. Nota Zero.
DOLLS de Takeshi Kitano
O visual é bonito. Frio com cores quentes, bem japonês. Mas em sua tristeza pop-teen, Kitano nada tem a dizer. Filmes deprê só se justificam quando têm grandes atuações ou quando são cheios de significados´poéticos. Aqui os atores não podem atuar ( são pastiches ) e o significado se esgota em dez minutos. É imperdoávelmente chato, vazio, sem vida. Como um belo boneco jogado ao canto, ele não respira, não se move, nada diz. Exemplo supremo da confusão que há entre arte e tédio, profundidade e tristeza. Ser triste não é ser profundo, e ser entediado e entediante não significa "filme de arte". Nota 4 pelo visual bonito.
A VIDA DE LOUIS PASTEUR de William Dieterle com Paul Muni
Muni foi grande ator. Aqui se mostra a luta de Pasteur para ter suas idéias aceitas. Filme biográfico da Warner : curto, objetivo, simples. Se assiste com prazer. Se esquece logo. Nota 6.
VIDAS AMARGAS de Elia Kazan com James Dean, Julie Harris e Raymond Massey
Tem alguma coisa muito irritante aqui. É James Dean. Que ator foi esse ? Ele popularizou essa coisa de que o ator deve ser "artista" e portanto deve criar sua atuação única. Então TUDO o que Dean faz é criativo : se ele pega um copo ele o pega pela borda, criativamente. Quando corre, corre de lado, braços para a esquerda e pernas para a direita. Todas as falas têm gemidos, tosse, pausas e murmúrios incompreensíveis. Ele anda tropeçando, senta-se criativamente e até o olhar é "original" : torto, semi-cerrado, louco. Foi um gênio ou um retardado ? Com James Dean termina a era dos atores "naturais" : Cary Grant, Bogart, James Stewart. Nasce a era do ator "criativo", era que dura até hoje ( Vemos tudo de Sean Penn, Nicholas Cage e principalmente de Johnny Depp em Dean. ) O filme, baseado em Steinbeck, fala do amor de pai e filho. O pai não o aceita e tudo o que ele faz é errado. A fotografia é belíssima, mas, que coisa ! James Dean estraga o filme !!!!!!!! Nota 6.
MOSQUETEIROS DA INDIA de James W. Horne com Laurel e Hardy
Uma das alegrias da vida é saber que O Gordo e o Magro existiram. Seu humor ingênuo é delicioso. Como acontece com Keaton, amamos seus filmes porque amamos a eles mesmos. Laurel foi um gênio e Hardy o complementa com perfeição. A vontade é de vê-los para sempre. Enquanto houver humor "do bem" ( os irmãos Marx são o humor "do mal" ) eles viverão. Not 7.
ALICE NÃO MORA MAIS AQUI de Martin Scorsese com Ellen Burstyn, Kris Kristofferson, Harvey Keitel e Jodie Foster
Ellen exigiu que o desconhecido Scorsese a dirigisse aqui. Ele fez um filme maravilhoso e ela ganhou o Oscar de atriz ( vencendo Gena Rowlands e Liv Ullmann ! ). Sua Alice é apaixonante e o filme tem a mais engraçada e deliciosa relação mãe/filho que já assistí. È um filme vivo, ágil, eletrizante e engraçadissimo ! Apesar de a vida de Alice ser uma desgraça... Veja o começo do filme : a criança Alice canta e num corte de 27 anos mais tarde, vemos a câmera correr e invadir a vida atual de Alice ( ao som do Mott the Hoople. O filme é do tempo do glitter. Lembra muito, no visual, Quase Famosos de Crowe ). Temos aqui três atos : o primeiro é drama puro. Alice perde o marido e cai na estrada. No segundo, ela conhece Keitel e o filme mostra o que é : comédia amarga. No ato três ela acaba em lanchonete e encontra o amor. O filme, que já era perfeito, ainda fica melhor. O elenco todo brilha ( o filho é um tipo de jovem Woody Allen que ouviu muito T.Rex... hilário ! ), Jodie é uma menina-macho que adora roubar, Keitel é um doido infantil e Kris um cowboy maduro. Mas Ellen teve aqui uma chance de ouro. Nos apaixonamos por sua Alice otimista e tão judiada. Quanto a Martin... ele vinha de dirigir Mean Streets e aqui, sempre com a câmera na mão, em movimento, usando cores claras e quentes e deixando os atores improvisarem muito, faz uma de suas maiores e melhores obras-primas e seu mais divertido filme. Única tristeza desta delícia : ela acaba. Alice deveria durar para sempre, ser box de 50 discos. Obrigatório para quem ama cinema, vida e mulheres. Nota trocentos zilhões.
A GLÓRIA DE MEU PAI de Yves Robert
Marcel Pagnol foi teatrólogo, poeta, romancista e cineasta. Foi acima de tudo um embaixador do que a França tem/teve de melhor. Este filme, baseado em suas memórias de infância, foi sucesso imenso nos anos 90 na Europa. Que filme ! Lí o livro e posso dizer que o filme é melhor. E é corajoso, pois é um filme sobre a alegria, a felicidade e o prazer de viver. Ou seja, o que vemos é desprovido de drama, de suspense e de vilões. Uma família feliz viaja em férias para a Provence. Caçam, comem, bebem, vivem. E é só isso. O filme nunca surpreende, acompanhamos a história com prazer calmo, discreto e feliz. Quando termina pensamos : é só isso ? Mas então, ao acordar no dia seguinte, nos pegamos com saudades de seu mundo. Pois o mundo do filme é nosso melhor universo. O lugar onde se fez nossa arte, nossa boa-vida, nosso amor. Tudo que nele é mostrado é atemporal, é encantador e nada tem de extraordinário. Nota 7.
O CASTELO DE MINHA MÃE de Yves Robert
Continuação do filme acima. Mostra mais uma vez as mesmas coisas. O achei melhor que o primeiro. Os franceses são desconcertantes. Fazem os filmes mais chatos do mundo. Verborrágicos e metidos. Mas também fazem, como ninguém mais, filmes sobre o prazer de viver. Tudo aqui é prazer : a luz, os pássaros, a comida, o vinho. Observe o gigantesco pão. Observe a cena em que as janelas são abertas. As caminhadas. É um filme feito de luz, de gente de bom coração. Mostra uma sociedade que não poderia ter acabado. Tem, em seu final, o único travo amargo de todo o filme : Marcel adulto, cineasta famoso, recorda a morte de sua mãe. Uma frase é dita : " e é isso a vida: momentos alegres cercados por imensas tristezas..." O filme é momento de alegria. Nota 8.
Este filme causou profunda impressão em sua época. Mostrava com clareza a crise de toda uma geração. Cenas como a da lanchonete são usadas até hoje como exemplo de atuação ( Jack, aqui em atuação fantástica. ) O filme está longe de ser uma obra-prima. Algumas cenas são ruins. Mas ele tem algo de muito profundo, muito sincero e principalmente : ele inventou o tal "filminho independente tristinho ". Acompanhamos a crise de nosso herói com interesse e assistimos Jack Nicholson criar o perfeito herói existencial. Seu personagem está no limite. É uma figura de Antonioni em filme cem por cento americano. O final, uma longa tomada silenciosa, dolorosa e árida, é sim uma obra-prima. Jack nunca mais foi tão sincero. Ele é o desamparo, e faz isso sem uma careta, um grito, uma esquisitice. É de verdade. Este filme, irregular, fica em sua memória. Nota 8.
A BONECA DO DEMÔNIO de Tod Browning com Lionel Barrymore e Maureen O'Sullivan
Uma decepção. Os primeiros minutos são aquele delicioso terror dos anos 30, mas depois a melosa trama MGM toma conta de tudo. Browning, o gênio dos góticos da Universal, afunda no romantismo Metro. Não é a toa que ele abandonaria o cinema logo em seguida. Nota 3.
A PELE de Steven Shainberg com Nicole Kidman e Robert Downey Jr.
Uma pretensiosa bobagem. O filme tenta mostrar o porque de Diane Arbus fotografar gente esquisita. Inventa, lógico, um motivo romântico, e afunda numa chatice moderninha. Nicole está fria e distante e Downey alheio. O filme é lixo pseudo-sério. Nota Zero.
DOLLS de Takeshi Kitano
O visual é bonito. Frio com cores quentes, bem japonês. Mas em sua tristeza pop-teen, Kitano nada tem a dizer. Filmes deprê só se justificam quando têm grandes atuações ou quando são cheios de significados´poéticos. Aqui os atores não podem atuar ( são pastiches ) e o significado se esgota em dez minutos. É imperdoávelmente chato, vazio, sem vida. Como um belo boneco jogado ao canto, ele não respira, não se move, nada diz. Exemplo supremo da confusão que há entre arte e tédio, profundidade e tristeza. Ser triste não é ser profundo, e ser entediado e entediante não significa "filme de arte". Nota 4 pelo visual bonito.
A VIDA DE LOUIS PASTEUR de William Dieterle com Paul Muni
Muni foi grande ator. Aqui se mostra a luta de Pasteur para ter suas idéias aceitas. Filme biográfico da Warner : curto, objetivo, simples. Se assiste com prazer. Se esquece logo. Nota 6.
VIDAS AMARGAS de Elia Kazan com James Dean, Julie Harris e Raymond Massey
Tem alguma coisa muito irritante aqui. É James Dean. Que ator foi esse ? Ele popularizou essa coisa de que o ator deve ser "artista" e portanto deve criar sua atuação única. Então TUDO o que Dean faz é criativo : se ele pega um copo ele o pega pela borda, criativamente. Quando corre, corre de lado, braços para a esquerda e pernas para a direita. Todas as falas têm gemidos, tosse, pausas e murmúrios incompreensíveis. Ele anda tropeçando, senta-se criativamente e até o olhar é "original" : torto, semi-cerrado, louco. Foi um gênio ou um retardado ? Com James Dean termina a era dos atores "naturais" : Cary Grant, Bogart, James Stewart. Nasce a era do ator "criativo", era que dura até hoje ( Vemos tudo de Sean Penn, Nicholas Cage e principalmente de Johnny Depp em Dean. ) O filme, baseado em Steinbeck, fala do amor de pai e filho. O pai não o aceita e tudo o que ele faz é errado. A fotografia é belíssima, mas, que coisa ! James Dean estraga o filme !!!!!!!! Nota 6.
MOSQUETEIROS DA INDIA de James W. Horne com Laurel e Hardy
Uma das alegrias da vida é saber que O Gordo e o Magro existiram. Seu humor ingênuo é delicioso. Como acontece com Keaton, amamos seus filmes porque amamos a eles mesmos. Laurel foi um gênio e Hardy o complementa com perfeição. A vontade é de vê-los para sempre. Enquanto houver humor "do bem" ( os irmãos Marx são o humor "do mal" ) eles viverão. Not 7.
ALICE NÃO MORA MAIS AQUI de Martin Scorsese com Ellen Burstyn, Kris Kristofferson, Harvey Keitel e Jodie Foster
Ellen exigiu que o desconhecido Scorsese a dirigisse aqui. Ele fez um filme maravilhoso e ela ganhou o Oscar de atriz ( vencendo Gena Rowlands e Liv Ullmann ! ). Sua Alice é apaixonante e o filme tem a mais engraçada e deliciosa relação mãe/filho que já assistí. È um filme vivo, ágil, eletrizante e engraçadissimo ! Apesar de a vida de Alice ser uma desgraça... Veja o começo do filme : a criança Alice canta e num corte de 27 anos mais tarde, vemos a câmera correr e invadir a vida atual de Alice ( ao som do Mott the Hoople. O filme é do tempo do glitter. Lembra muito, no visual, Quase Famosos de Crowe ). Temos aqui três atos : o primeiro é drama puro. Alice perde o marido e cai na estrada. No segundo, ela conhece Keitel e o filme mostra o que é : comédia amarga. No ato três ela acaba em lanchonete e encontra o amor. O filme, que já era perfeito, ainda fica melhor. O elenco todo brilha ( o filho é um tipo de jovem Woody Allen que ouviu muito T.Rex... hilário ! ), Jodie é uma menina-macho que adora roubar, Keitel é um doido infantil e Kris um cowboy maduro. Mas Ellen teve aqui uma chance de ouro. Nos apaixonamos por sua Alice otimista e tão judiada. Quanto a Martin... ele vinha de dirigir Mean Streets e aqui, sempre com a câmera na mão, em movimento, usando cores claras e quentes e deixando os atores improvisarem muito, faz uma de suas maiores e melhores obras-primas e seu mais divertido filme. Única tristeza desta delícia : ela acaba. Alice deveria durar para sempre, ser box de 50 discos. Obrigatório para quem ama cinema, vida e mulheres. Nota trocentos zilhões.
A GLÓRIA DE MEU PAI de Yves Robert
Marcel Pagnol foi teatrólogo, poeta, romancista e cineasta. Foi acima de tudo um embaixador do que a França tem/teve de melhor. Este filme, baseado em suas memórias de infância, foi sucesso imenso nos anos 90 na Europa. Que filme ! Lí o livro e posso dizer que o filme é melhor. E é corajoso, pois é um filme sobre a alegria, a felicidade e o prazer de viver. Ou seja, o que vemos é desprovido de drama, de suspense e de vilões. Uma família feliz viaja em férias para a Provence. Caçam, comem, bebem, vivem. E é só isso. O filme nunca surpreende, acompanhamos a história com prazer calmo, discreto e feliz. Quando termina pensamos : é só isso ? Mas então, ao acordar no dia seguinte, nos pegamos com saudades de seu mundo. Pois o mundo do filme é nosso melhor universo. O lugar onde se fez nossa arte, nossa boa-vida, nosso amor. Tudo que nele é mostrado é atemporal, é encantador e nada tem de extraordinário. Nota 7.
O CASTELO DE MINHA MÃE de Yves Robert
Continuação do filme acima. Mostra mais uma vez as mesmas coisas. O achei melhor que o primeiro. Os franceses são desconcertantes. Fazem os filmes mais chatos do mundo. Verborrágicos e metidos. Mas também fazem, como ninguém mais, filmes sobre o prazer de viver. Tudo aqui é prazer : a luz, os pássaros, a comida, o vinho. Observe o gigantesco pão. Observe a cena em que as janelas são abertas. As caminhadas. É um filme feito de luz, de gente de bom coração. Mostra uma sociedade que não poderia ter acabado. Tem, em seu final, o único travo amargo de todo o filme : Marcel adulto, cineasta famoso, recorda a morte de sua mãe. Uma frase é dita : " e é isso a vida: momentos alegres cercados por imensas tristezas..." O filme é momento de alegria. Nota 8.
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