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OS 17 DE HEMINGUAY

Um amigo me envia a lista dos livros que Heminguay preferia.
Fico feliz em saber que dos 17 títulos, 7 estão entre meus 17 favoritos e que 10 eu já li.
Os dezessete são:
ANNA KARENINA de Tolstoi. OS BUDDENBROOK de Thomas Mann. O MORRO DOS VENTOS UIVANTES de Emilly Bronte. MADAME BOVARY de Flaubert. GUERRA E PAZ de Tolstoi.
CONTOS de Turgueniev. OS IRMÃOS KARAMAZOV de Dostoievski. HUCKLEBERRY FINN de Mark Twain. WINESBURG OHIO de Sherwood Anderson. RAINHA MARGOT de Alexandre Dumas. A PENSÃO TELLIER de Maupassant. AUTOBIOGRAFIA de Yeats. O VERMELHO E O NEGRO de Stendhal. A CARTUXA DE PARMA de Stendhal. DUBLINENESES de Joyce.
Há ainda um livro de W.H. Hudson, que desconheço e um livro de George Moore, que pelo que sei é autor jamais traduzido para o português.
Desses volumes, entre meus tops estão os dois de Stendhal e Anna de Tolstoi. O MORRO DOS VENTOS UIVANTES é meu livro mais querido e a coletãnea de James Joyce, DUBLINENSES,  é das melhores coisas que já li.
A lista mostra o quanto Heminguay era bom leitor. Ele tem gosto impecável.
Sinto a falta de Proust e de Cervantes. Mas assim como Henry James, eles estão distantes demais do universo de Heminguay.
Posso depois me arrepender, mas esta é minha lista:
Anna Karenina de Tolstoi.
No Caminho de Swann de Proust.
Dom Quixote de Cervantes.
Retrato de Uma Senhora de Henry James.
O Morro dos Ventos Uivantes de Emilly Bronte.
O Vermelho e o Negro de Stendhal.
A Cartuxa de Parma de Stendhal.
Dublinenses de James Joyce.
O Sol Também se Levanta de Heminguay.
Contraponto de Aldous Huxley.
As Viagens de Gulliver de Swift.
Candido de Voltaire.
Scoop! de Evelyn Waugh.
As Cidades e a Serra de Eça de Queirós.
Brás Cubas de Machado de Assis.
O Planeta do Sr. Sammler de Saul Bellow.
Passagem Para a India de E.M. Foster.
   Felizmente a liste de Heminguay não engloba poesia e teatro. Peças de Shakespeare e poemas de Yeats, Keats, Pessoa, Eliot e Wallace Stevens já acabariam com qualquer ranking.
   E fica a dúvida: Montaigne é filosofia, diário ou o que?

AS ILHAS DA CORRENTE- ERNEST HEMINGUAY

Releio mais uma vez este que é um dos últimos livros de Heminguay. Foi um fiasco. Mas, não sei porque, é dos livros que mais gosto.
Sei que ele é vazio. Dividido em 3 partes, na primeira lemos sobre um pai que vive em ilha tropical, confortávelmente só. Tem um amigo bêbado, ocasionais casos com prostitutas nativas e escreve. Seu casamento foi um fracasso e ele se culpa por isso. Três filhos vêm o visitar. Há uma longa pesca e lautos jantares. E o tom dessa primeira parte é de desencanto, monotonia. Mas ao lado disso, há uma soberba descrição do mar, da praia, do sol. Há a descrição da comida, e este livro abre nosso apetite, há receitas nele que fiz em casa, bebidas. Ao lado da dor do tempo perdido, existe uma descrição do prazer, dos apetites, e do sol. O sol brilha forte todo o tempo, e tudo é mar...
Na segunda parte a ex-esposa vem o visitar. Um dos filhos morre em desastre de avião ( é época de guerra ) e a dor se instala de vez. Heminguay se desnuda na forma como o personagem enfrenta a dor. A esposa é exemplo de elegância e os tons sombrios se instalam. Se gosto do livro é por sua primeira parte.
Na terceira, ele parte em barco à caça de submarino nazista que foi visto por lá. Aqui Heminguay se perde. Como aventura é inconvincente, como narração, repetitiva. Se já li este livro 3 vezes, esta terceira parte foi lida apenas uma. E basta.
Há um belo filme de Franklyn Schaffner que segue este livro. George C. Scott nasceu para ser Heminguay. De certo modo ele é mais Heminguay que o escritor. No filme, a parte um é esticada, a parte três diminuída. É o que eu faria.
Ernest Heminguay tem quatro livros que gosto ( ainda ). O SOL TAMBÉM SE LEVANTA é o melhor. Seus livros de contos são todos bons. O volume onde recorda sua vida em Paris é ótimo. E este imperfeito AS ILHAS DA CORRENTE. Vazio, às vezes tolo, sem rumo.
Mas há algo na descrição da vida, do azul do mar e da força do sol que nos cativa. Heminguay teve o DUENDE.... a força vital que os espanhóis descrevem. Só que ele cometeu um erro: vulgarizou esse DUENDE. E o perdeu. Toda a parte final da vida de Heminguay é a dor dessa perda, a impotência criadora.
Mas ele o revê, longe, em certos parágrafos deste livro. VALE!!!!

O SOL TAMBÉM SE LEVANTA- ERNEST HEMINGUAY

Poucos livros foram tão importantes em minha vida e poucos livros são tão opostos àquilo que acredito e me tornei. Relendo agora ( sexta vez? ), O SOL TAMBÉM SE LEVANTA se revela aquilo que ele é: a tentativa mais apurada de se escrever com objetividade fria. Sêneca e folhas de jornais vivem em suas frases. Heminguay deve muito de sua fama ao que foi e não ao que escreveu. E nisso ele é o oposto de Joyce e Proust. Criou-se, até os anos 60, o mito de que sua vida fora glamurosa, aventureira, vasta. O típico escritor americano: viril e ativo. Uma licença, um álibi para que homens pudessem escrever, para que escritores do Kentucky não se sentissem maricas. Mas as coisas mudaram, e o autor que parecia heróico revelou-se um mentiroso, pior, um macho vaidoso. Em tempos de politicamente correto, Heminguay se tornou out e Scott Fitzgerald muito in. Waaaal.... O livro descreve um grupo de amigos na Paris de 1920. De lá eles vão à Espanha ver as touradas e é só. Sob vários pontos de vista, nada acontece no livro. Sob o meu ponto de vista, tudo que pode acontecer acontece. Jake Barnes é o herói. Um herói derrotado e impotente. Um homem que jamais transparece o que sente ( quem lembrou de Humphrey Bogart acertou ). Ele ama e é amado por Lady Brett, uma ninfomaníaca. O amor impossível. Robert Cohn é um inseguro jovem judeu. Ele ama a moça e é usado por ela ( ninguém no livro prima pelo caráter ). Há ainda um escocês bonachão e um grego. Como se pode ver, a trama é ínfima. Não é por aí que se dá valor ao livro, é pelo que ele não fala. Quando lançado O SOL TAMBÉM SE LEVANTA se tornou uma febre e Heminguay uma estrela, por quê? Por não falar. Alí, pela primeira vez, estava um romance sobre o vazio. Os personagens nada fazem de especial, eles apenas estão lá, em seus lugares. Há um tédio abissal ao redor deles, e todos têm a consciência disso, mas mesmo assim, eles vivem. Viajam, tentam sentir, amar, e sempre perdem. Não possuem raízes, não pertencem a nada, nada possuem, são impotentes em carne e em alma. Falam frases que escondem tudo o que deveria ser dito. Exibem risos, coragem, liberdade, mas estão presos em frieza, memória e desalento. Heminguay passou o resto da vida tentando repetir o sucesso deste livro. Em termos de vendas o suplantou com POR QUEM OS SINOS DOBRAM. Mas jamais teve o gosto de ser tão moderno outra vez. Ter lido este livro aos 21 anos com certeza mudou minha vida. No mínimo perdi a vergonha de ser vazio e aprendi que se pode escrever simples, sem grandes frases e sem emoções violentas. Tentei ser Jake Barnes e tentei achar minha Lady Brett. Não rolou. Com o tempo me redescobri como não-heminguayano, mas este livro, este fino e elegante livro, tem algo de muito certo, de muito verdadeiro e de muito dificil de repetir. Quem sabe o quê?