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JUNIOR BONNER - CINCINATTI KID, DOIS FILMES COM O REI DO COOL.

Steve McQueen teria, se vivo, a mesma idade de Clint Eastwood. Mas ele morreu em 1980, aos 50 anos. Câncer. É triste imaginar quantos filmes ele teria feito em todos esses anos. Talvez até mesmo houvesse algo com Clint. Rambo foi feito para ele. E com Steve teria sido bem diferente. No cinema de ação dos anos 80-90 ele teria de dado muito bem. E daria aos filmes seu estilo extra ultra cool. Não se preocupe leitor, vou explicar como é esse cool em McQueen. ----------- Vejmos JUNIOR BONNER. Feito por Sam Peckinpah em 1972, não é um filme violento. É Peckinpah em modo leve. McQueen é um cowboy dos anos de 1970. Ele vive na estrada. É famoso em rodeios. Volta à sua cidade. Lá reencontra sua mãe, o pai, o irmão. O pai, Robert Preston, é um paquerador, beberrão, campeão de rodeios aposentado. O irmão, Joe Don Baker, se tornou um comerciante ambicioso. E a mãe, Ida Lupino, é carinhosa e ainda ama o pai de McQueen. Há uma briga de bar, bebida, rodeios, e um touro que McQueen deve domar. Nada no filme é sensacional. Ele é lento. Plácido. Sem nada de incrível ou fora do comum. São pessoas normais em vidas normais em um cenário diferente. O filme não emociona, mas após vê-lo sentimos vontade de continuar dentro dele. E isso se deve a Steve McQueen. Gostamos de o ver na tela. Ele é, de certo modo, um fracasso. Mas o tempo todo ele não sente dor alguma. Há melancolia em Junior Bonner ( o nome do personagem é esse ), há saudade e até solidão; mas Steve lida com esses sentimentos com calma, discressão, sem grandes discursos ou cenas de drama. Ele testemunha os erros da família, ele vence o touro, mas não explode, não faz estripulias, não exagera. Fosse feito por Jack Nicholson, Junior Bonner iria quebrar coisas e rir feito doido, fosse feito por De Niro ele bateria em todos ou partiria em desespero; se Al Pacino iria demonstrar mais inteligência e mais pretensão, mas como Steve ele é cool. Ele fala com o corpo, com o gestual, o modo de andar e de estar na tela. ---------------- Cincinatti Kid é anterior, de 1965, e foi dirigido por Norman Jewison. É uma grande produção com Ann Margret, Edward G. Robinson, Karl Malden. Trilha sonora, exagerada como sempre, de John Willians. O filme começa com um enterro negro em New Orleans. Kid é um campeão de poker. E irá enfrentar o maior de todos, o veterano Eddie G. Robinson. Ann Margret é uma megera que é casada com o bobalhão Karl Malden. O filme é muito, muito bom, e o jogo final é uma aula de edição ( do futuro diretor Hal Ashby ). Steve quer vencer. E se foca apenas nisso. Tudo nele é a espera do jogo, do grande encontro. Há nele uma violência contida que não irá explodir nunca. Ele transa com sua namorada, Tuesday Weld, e com Ann Margret, mas mesmo aí sua mente está no jogo. O estilo de McQueen é diferente do outro filme, Junior Bonner. Aqui ele é mais perigoso, menos melancólico, é angustiado, ambicioso, quase vil. O filme é mais que ele mas é dele. Esse o caráter da grande estrela, tudo se torna dela e só dela. Por maior que o filme seja ele tem um só dono, e não é o produtor ou o diretor, é a estrela. --------------- Steve McQueen não é maior que Clint Eastwood porque não teve saúde para o ser. Mas em 1972 ou 1965 ele era muito maior que Clint. Sua morte deixou um espaço sem dono nas telas. Dúzias de atores tentaram ocupar esse lugar. Não chegaram nem perto.

PEDRO MILOS FORMAN/ O MESTRE/ PRESTON STURGES/ STEVE MCQUEEN/ OSCAR 2013

   Antes vou falar sobre o Oscar de amanhã. Bem, cada ano ele se torna mais irrelevante, mas não dá pra ignorar. Neste ano tem um monte de filmes "bacaninhas" e nenhum filme ótimo. Pelo menos não estamos em nivel tão baixo quanto 2011, quando uma série de filmes de arte-lixo-fake concorreu ( e foram derrotados, felizmente, pelo Discurso do Rei, excelente ). Infantil o prêmio se torna cada vez mais, mas ás vezes ele ainda acerta. O melhor filme em inglês do ano não concorre a melhor filme ou direção. Anna Karenina é um filme sofisticado demais para um prêmio que se faz teen. O diretor Joe Wright faz mais um grande filme e dessa vez nos dá o prazer de uma féerie de cores e de sons. Arte superior. Porcos não apreciam pérolas. Dos indicados deve dar Argo, filme que tenho preguiça de ver. Ben Affleck será melhor diretor. Hollywood ama atores que dirigem. Se unirá a Warren Beaty, Clint Eastwood, Mel Gibson, Kevin Costner. Day-Lewis vencerá melhor ator e Emmanuelle Riva a melhor atriz. Anne Hathaway será coadjuvante e Seymour Hoffman o masculino. Ou seja, vai ser tudo um tédio mortal. Dos indicados eu adoraria ver a vitória de Os Miseráveis. É o único indicado que me surpreendeu. Muito melhor do que eu esperava, nada tem de xaroposo. Diretor votaria em Tom Hooper. Assim ele seria o segundo inglês na história a ter dois Oscars ( o primeiro é David Lean ). Melhor ator Hugh Jackman, de longe o melhor. Atriz Helen Mirren em Hitchcock. Jamais daria o coadjuvante para Anne, seria Amanda Seyfried e ator coadjuvante Christoph Waltz. Tá bom? Vamos aos filmes que assisti na semana....
   O MESTRE de Paul Thomas Anderson com Joaquim Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams
Anderson é um bom diretor mas ele precisa dar um tempo e viajar, descansar, se renovar. Seus filmes sempre foram chatos, mas em troca da chatice nos davam momentos de belo cinema. Ele criava. Ousava. Mas, ultimamente, seus filmes se tornam cada vez mais crispados, áridos, mal-humorados, solenes, quase mortos.  O cinema de Anderson sempre foi cristão. Todos os seus filmes falam sobre a perda do pai, a dor e a ressurreição. Às vezes de forma explícita, como em Magnólia, onde até a passagem bíblica da queda dos sapos comparece. Sangue Negro é o filme em que o diabo vence. Anderson entrega os pontos e admite, gnósticamente, que a partir de certo momento de nossa história Deus foi exilado. Puritano. O cinema de Anderson é hiper-puritano. Hawthorne e Melville são suas fontes. A ironia que dava a força vital a seus filmes vinha de Robert Altman, diretor que foi seu mestre. Boogie Nights e Magnólia são filmes à Altman feitos por um cara que nunca foi doidão. Com o tempo Anderson foi trocando a influência saudável de seu mentor hippie por um cinema mais clássico, um tipo de William Wyler intelectual. Não está dando certo. Mesmo admirando suas intenções, mesmo torcendo por ele, seus filmes são chatos, sempre chatos. Aqui, puritanamente, ele condena os falsos religiosos, os vendilhões do templo. Ótimas intenções, mas o tiro sai pela culatra. O único ser vivo em todo o filme é Seymour Hoffman. Ele parece ser humano e real. Todos os outros são tipos unilaterais, sofrem de sintomas, não são "ricos". Sem nota.
   AS TRÊS NOITES DE EVA de Preston Sturges com Henry Fonda e Barbara Stanwyck
O mundo inteiro não deve estar errado. Todos adoram esta comédia do mais valorizado dos diretores americanos. Mas eu não. Então concluo que o errado deva ser eu. Certo? Fonda faz seu tipo bom rapaz ingênuo, e Stanwyck é uma vigarista que o seduz. É um filme ok, mas não vi sua criatividade tão decantada. Nota 5.
   SHENANDOAH de Andrew V. McLaglen com James Stewart
Se voce suportar a carolice de seu começo, onde Stewart faz um pai de familia, viúvo, voce verá um bom filme de ação em sua parte final.  Ele, Stewart, tenta ser neutro na guerra de secessão, não consegue. A guerra invade sua vida e sua familia se despedaça. É filme da fase final da carreira de Stewart, ele atua no piloto automático, repete as falas como um Lincoln de segunda mão. Mas a parte final é boa, e tem uma bela fotografia. Nota 6.
   CROWN, O MAGNÍFICO de Norman Jewison com Steve McQueen e Faye Dunaway
Um dos filmes mais vaidosos e exibicionistas de todos os tempos. O ano é 1968. Steve McQueen era então O Cara. Uma mistura de Sean Connery com Paul Newmann. O inventor do cool, o feio atraente, o cara muito macho e muito sexy. Ele se exibe como um milionário que se torna fora da lei só para espantar o tédio. Faye vinha de Bonnie e Clyde. Era a atriz da moda. Faz uma sexy e elegante agente de seguros que tenta capturar McQueen. O fotógrafo do filme é Haskell Wexler, o mais moderninho de então. O filme é todo "esperto". A tela dividida em quadros, imagens fracionadas, ângulos arrojados. A trilha sonora é de Michel Legrand. Cheia de bossa, jazzistica, a trilha que hoje Soderbergh adora. E o diretor, Jewison, vinha de sucessos em série. Resultado de tudo isso? Um super-sucesso de box-office. Mas não é um grande filme. Tanta exibição faz dele uma coisa fria, distante, sem emoção. É como ver uma revista de moda, o filme é lindo, chic, gostosão, mas sem mais nada que essa casca. Nota 6.
   PEDRO, O NEGRO de Milos Forman
Uma obra-prima. Finalmente descubro uma obra-prima!!!! Há quanto tempo!!!!! Aleluia!!!!!!!!! Feito na libertária Tchecoslováquia de 1966, Milos Forman com este filme influenciou todo o novo cinema americano de então.  O filme parece documentário, parece reportagem. É jovem, é fresco, é vivo, é maravilhoso. Com câmera na mão e atores de rostos inesquecíveis. Pedro é um adolescente. Ele trabalha como vigia de mercado e tenta engatar namoro. Sempre calado, os enormes olhos em dúvida constante, Pedro é um dos mais perfeitos retratos de um adolescente já vistos em filme. Mas todos os outros também são ótimos. O pai, um durão que não o entende, a mãe, submissa, os amigos, feios, ansiosos, brigões, e as meninas. Há tanto amor pelos personagens que o filme chega a comover. E há humor, o humor tcheco, absurdo, ácido. A cena do Hóy ( quem assistir saberá do que falo ), é uma das mais hilárias que já vi. Creiam-me, é um filme obrigatório. Vendo-o voce entende o quão pouco é preciso para se fazer um grande filme. Voce percebe que arte e diversão podem andar juntas. Melhor que Estranho no Ninho ou que Amadeus, é o grande filme do grande Milos Forman. PS: Maravilhosas cenas nas ruas e nos mercados da Praga de então. Nota DEZ !!!!!!!
  

CLINT EASTWOOD/ JEWISON/ HELEN MIRREN/ DE NIRO/ HUMPHREY BOGART/ TRUMAN CAPOTE/ JENNIFER JONES

   CAÇADOR BRANCO de Clint Eastwood
É o filme em que Clint faz o papel de John Wilson, diretor de cinema que parte à Africa para fazer um filme. É lógico que esse diretor é John Huston e que o filme é UMA AVENTURA NA AFRICA. Em 1989 foi este o filme, feito após Bird, que calou a boca da crítica que via em Clint um mero Charles Bronson que dirigia. O filme é belíssimo e tem uma grande interpretação do Eastwood ator. Nota Dez.
   ROLLERBALL, OS GLADIADORES DO FUTURO de Norman Jewison com James Caan
Eu odiei muito este filme! E o pior é que ele foi refilmado recentemente ( e foi um fiasco outra vez ). Fala de um futuro onde grandes corporações dominam tudo. E regem um esporte, o Rollerball, tipo de patinação onde vale tudo, inclusive matar. Jewison, que fez alguns bons filmes nos anos 60, erra feio aqui. Tem todo um pseudo-clima de 2001, uma seriedade tola, um visual pessimista e personagens desinteressantes. Um trombolho insuportável. Fuja!!!! Nota Zero.
   A TEMPESTADE de Julie Taymor com Helen Mirren, Chris Cooper, Alfred Molina, Djimon Noujou, Tom Conti e David Strathiam
Tenho uma enorme dificuldade para falar deste filme. O motivo principal é que sou apaixonado pela peça de Shakespeare. A Tempestade é uma sinfonia de poesia com algumas das mais belas falas já pensadas por um homem. É um texto canônico. Pois bem, Taymor toma algumas liberdades com a peça. Primeiro transforma Próspero em Próspera. Helen Mirren faz o papel. O mago que domina uma ilha se torna maga. Ok. Mas... porque? Segunda mudança: Miranda, a filha de Próspero/a vira uma magrelinha típica de filmes como Crepúsculo. E é óbvio que tanto Ariel como o amado de Miranda usam rostos e roupas de filmes teen. São todos péssimos. O filme abusa de efeitos especiais, luta para ser atraente aos jovens novos- românticos- tristinhos. Se torna um tipo de Shakespeare vampiro- pop. Em papéis menores, bons atores, atores que fiz questão de citar. E uma criação maravilhosa de Djimon Noujou, um Calibã cheio de lama e de ira, meio bicho, que domina o filme. Observe o modo como ele olha, como ele move o corpo. Uma pena o resto do filme não acompanhar esse nível. Julie Taymor faz concessões sobre concessões. Nota 3.
   OS ESPECIALISTAS de Gary McKendry com Jason Statham, Robert de Niro e Clive Owen
Os filmes de ação têm dois problemas hoje. O primeiro é a falta de vilões "aceitáveis". Os bandidos não podem ser mais simples comunas ou ladrões do terceiro mundo. Uma série de tabus, de leis do politicamente correto impede a criação de bandidos que não sejam parte do próprio país produtor do filme. Assim, os vilôes hoje são sempre parte de alguma corporação americana ou de algum grupo de ex-agentes ocidentais. Aqui os vilões são ex-soldados ingleses. Usando isso, faz de conta que o filme é "consciente". Eu prefiro a liberdade escapista de antes, os bandidos eram do mal e pouco importava de onde eles vinham ou de que raça haviam surgido. O segundo problema é aquele que aflige todo filme de ação desde que o cinema existe, a incompreensão do público "inteligente". Desde os anos 20 que filmes de ação são chamados em seu tempo de descerebrados, para trinta anos depois serem chamados de clássicos. Foi assim com Raoul Walsh, com Hawks, com Curtiz e com Hitchcock. Foi assim com Spielberg e Ridley Scott. Em seu tempo todos são chamados de vazios ou infantis, depois de algum tempo se descobre seu charme, sua eficiência, seu apelo. Creia-me, o western em seu tempo era tratado como lixo, assim como os filmes de pirata e de espiões. Hoje são o melhor do passado. Dito isso, este filme nunca será um clássico e jamais se tornará um novo Bullit ou Dirty Harry. Mas me divertiu e me deixou ligado. Jason nasceu para ser o "solitário", o cara que se vira sózinho. De Niro, pasmem, está aceitável como um velho assassino. É bacana ver em meio aquelas rugas e barba branca o velho olhar de MEAN STREETS. É o homem que fez Taxi Driver!!!! E temos Owen, que insiste em seu olhar de pedra e voz de robot. Funciona. Mas continua a me incomodar estes tempos em que assassinos assumidos são aceitos como "heróis". Matar é bonito? É cool ? Nota 6.
   O DIABO RIU POR ÚLTIMO de John Huston com Humphrey Bogart, Jennifer Jones, Robert Morley, Gina Lollobrigida e Peter Lorre.
Vejo pela terceira vez o muito famoso filme escrito por Truman Capote para John Huston. Foi o maior fracasso da vida de Huston ( que é cheia de fracassos ), é o grande "magnífico fiasco". Mas aconteceu algo de surpreendente com o filme, e com o tempo, a partir dos anos 70, ele foi criando uma fama de cult, de filme adiante de seu tempo, de modernismo radical. Hoje é chamado de obra-prima. Não é. É uma coisa estranha, carnavalesca, viva. De alegria estremada, fala de grupo de malandros, que ancorados na Itália, tentam dar golpes. É famoso o modo como ele foi feito. O roteiro era escrito por Capote no hotel, noite adentro, Huston pegando as folhas e as filmando pela manhã. Bogart nada entendia e acabou por brigar com Huston ( Bogey era o produtor e perdeu muito dinheiro com o filme ). Jennifer Jones está maravilhosa, de peruca loura, fazendo uma mentirosa obsessiva que seduz Bogey e é traída pelo marido. Todos os atores estão excelentes e são tipos engraçadíssimos. O filme é cheio de cenas hilárias. Há um naufrágio, árabes no deserto, policiais italianos e cenas de pastelão. Uma festa, mas... há algo nele que não funciona. As cenas não se grudam umas as outras, o filme parece não andar. É estranho, o filme é fascinante, nada intelectual, leve e alegre, mas ao mesmo tempo ele é truncado, sem rumo, vago. Sem dúvida um dos mais originais. Nota 7.

DONEN/ CARY GRANT/ BURT LANCASTER/ AL PACINO/ POWELL/ CAPRA

ARABESQUE de Stanley Donen com Gregory Peck e Sophia Loren
No inicio dos anos 60 foi moda fazer filmes do tipo "mistério-policial-chic". Donen fez em 63 o melhor deles: Charada. Aqui ele tenta fazer um filme tão bom quanto aquele. Infelizmente não consegue ( Pudera! ninguém mais conseguiu fazer outro Charada.) Mas este Arabesque não é ruim. Diverte e é bonito de se ver. Sophia nunca esteve tão perfeita e Peck é sempre ok ( Embora não sirva pra comédia. Suas cenas de humor naufragam ). Stanley Donen é o soberbo diretor que ajudou Gene Kelly a fazer Cantando na Chuva e que depois provou sua maestria com Sete Noivas para Sete Irmãos. Donen sabia dar a seus filmes um toque sublime de leveza, brilho, chique, humor e muita inteligencia. Em 1994 foi homenageado no Oscar e sua dança com seu prêmio é dos melhores momentos da academia. Nota 6.
NIGHTFALL de Jacques Tourneur com Aldo Ray, Brian Keith e Anne Bancroft
Ótimo policial noir. Tourneur foi um daqueles caras que sabia fazer qualquer tipo de filme. O que ele dava a todos os seus trabalhos era senso de ação, clima, e boas interpetações. Este filme tem tudo isso, e mais um enorme fatalismo pessimista. Tudo dá errado para seus personagens vulgares. Uma excelente diversão. Nota 8.
O LADRÃO DE BAGDÁ de Michael Powell com Sabu, June Duprez
Em que pese a maravilha de foto ( Georges Perinal ), o filme é muito irregular. Na verdade Powell dirigiu apenas um quarto do filme. Korda e Whelan dirigiram o resto. Isso lhe dá uma alternancia de ritmos, climas que não evoluem. Mas funciona como fantasia solta e tem seus momentos. Mas não espere demais. Nota 5.
ESTE MUNDO É UM HOSPICIO de Frank Capra com Cary Grant, Peter Lorre, Raymond Massey
Um filme que é todo falho. É a versão nas telas de peça de imenso sucesso. Fala de duas velhinhas que aliviam a vida de velhos solitários: elas matam esses infelizes. Mas a comédia não funciona. O motivo? Todos os personagens são irritantemente histéricos. Mesmo o maravilhoso Cary Grant está fora do tom. Dá para se perceber seu desconforto. Nota 4.
O HOMEM DE ALCATRAZ de John Frankenheimer com Burt Lancaster e Telly Savallas
Baseado em fatos reais. Um homem anti-social, ruim, é preso. Ele odeia as pessoas e idolatra sua mãe ( uma assustadora/edipiana Thelma Ritter ). Na prisão, um diretor passa a persegui-lo ( um odiável Karl Malden ), porque ele não se encaixa em seu plano de prisões ultra-racionais. Por acidente, esse preso cria um canário na cela, e passa, com o tempo, a ser uma das maiores autoridades do mundo em ornitologia. Sem jamais sair da prisão. O filme é muito dificil. Todo filmado dentro das celas, sem sol, sem alegria, nada apelativo. Lancaster está contido, seco, bastante viril e o resto do elenco está a sua altura. Frankenheimer, um dos grandes da época, sabe filmar esse tipo de tema. A câmera testemunha, não julga, mostra e jamais escancara. Não é fácil acompanhar vida tão árdua, mas caraca! Vale muito a pena. Nota 7.
O IMPÉRIO DAS ARANHAS de John Bud Cardos com William Shatner É um thrash fuleiro sobre aranhas que matam e aprontam. É versão pobre de Os Pássaros. Voce se senta e se deixa ver, e de repente se pega gostando. Nota 5.
ANNA CHRISTIE de Clarence Brown com Greta Garbo
Peça de Eugene O'Neill, ou seja, pessimismo ao extremo. Garbo prova mais uma vez ser grande atriz. Faz um papel sem nenhum glamour. Mas o filme, feito no inico do cinema falado tem um enorme problema: seu peso. No começo do falado, os aparelhos de gravação de som eram imensos, isso fazia com que câmera e atores não pudessem se mover. O que temos são longas cenas sem movimento ( isso seria resolvido no ano seguinte ). Chato pacas! Nota Zero.
JUSTIÇA PARA TODOS de Norman Jewison com Al Pacino, Jack Warden e Christine Lahti
No tempo em que o cinema americano era adulto, se fez este filme. É sobre um advogado que tem de defender de processo por estupro, o juiz que ele mais detesta. O roteiro de Barry Levinson mistura drama pesado e comédia louca, funciona e muito. Jewison, diretor engajado, mostra a vida de travestis, pequenos ladrões, julgamentos falhos e escritórios cheios de processos infindáveis. Pacino vai enlouquecendo e sua atuação é das melhores coisas que ele já fez. A explosão que ele sofre no final é das cenas mais citadas pelos jovens atores. Mas há mais: o filme é maravilhosamente rico. Um juiz que tenta se enforcar, um outro fascista, um advogado que enlouquece, um travesti sensível, todos são meio loucos neste filme que parece faiscar em mil direções, mas que jamais se perde. Posso dizer que se voce é daqueles meninos que ainda não descobriram o cinema adulto dos 70, que ainda pensa que Rede Social e Cisne Negro são o máximo...bem, veja este filme e depois a gente conversa. Há aqui uma complexidade fílmica não afetada maravilhosa. E há Pacino. Nota 9.
NESTE MUNDO E NO OUTRO de Michael Powell com David Niven e Kim Hunter
Uma obra-prima. Fantasia pura e poesia soberba em filme que trata de espíritos e anjos sem jamais ser fofo ou lacrimoso. Sério e socialmente nobre, Powell era um gênio. Este filme, diferente de tudo o que voce já viu, é testemunho de alma sem igual. Ver e crer. Nota DEZ!!!!!!
PARALELO 49 de Michael Powell com Laurence Olivier, Raymond Massey e Leslie Howard
Um grupo de nazis, perdidos no Canadá, tentam escapar. Coragem de Powell, o filme, feito durante a segunda guerra, tem nazis como personagens centrais e mostra os alemães como não-vilões. O filme, claro, ataca o nazismo, mas exibe o fato de que os alemães não são todos ruins e mais, que há soldados alemães inocentes. Fora isso, é uma aventura de primeira com deslumbrantes paisagens canadenses. Mais um show de Powell. Nota 7.

WOODY/DUSTIN/BRESSON/EDDIE/VIDOR/2012

O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ de Joel Coen com Billy Bob Thorton, Frances McDormand
Para o filme noir funcionar é preciso carisma. Você tem de torcer por alguém, se identificar, se ver no bandido ou no policial. Bogart, Alan Ladd e Mitchum tiravam isso de letra. Quando eles surgem na tela voce está no papo. Billy Bob é legal. Mas não é carismático. O filme perde o interesse. Não torcemos por ele, não odiamos Frances. Bola fora dos Coen. Nota 2.
O CAMERAMAN de Edward Sedgwick com Buster Keaton
Aqui Buster é um péssimo cameraman que tenta alcançar algum sucesso para conquistar a secretária do chefe. Eis a diferença entre os gênios : Chaplin nos faria chorar e sairia como mártir derrotado e poético; os irmãos Marx destruiriam o escritório e esnobariam a secretária; WC Fields odiaria a secretária, mudaria o enredo no meio do filme e teríamos outra coisa no final- um filme de ressaca; Laurel e Hardy fariam tudo errado até o final : que seria uma explosão; e Harold LLoyd salvaria a secretária de algum incêndio e se tornaria um herói. Buster Keaton trabalha com afinco, acaba aprendendo o oficio, jamais desiste, e consegue se superar no final. É o mais persistente e portanto, o mais heróico dos comediantes de gênio. O filme é uma obra-prima de invenção, de truques de camera, de enredo simples e jamais cansativo. Buster é o cara ! Nota DEZ.
LANCELOT DU LAC de Robert Bresson
Eis o cinema de Bresson : a idade média como ela deveria ter sido ( mas não´foi ). No iníco o sangue jorra de corpos mutilados... será o Monty Python ? Mas então vemos que se trata de um filme sobre o amor de Lancelot por Guinevere ( e nos lembramos que Merlin era francês ). Bresson não funciona aqui. É uma idade média sem mistério, sem bruma, sem magia. O filme é colorido, bonito, seco. O melhor retrato medieval ainda está em Bergman. Nota 5.
ZELIG de Woody Allen com Woody e Mia Farrow
Como uma mulher tão bonita como Maureen O'Sullivan pode ter sido mãe de Mia Farrow ? Este filme, falando do filme, é um pseudo documentário sobre um tal de Zelig, um homem-camaleão. Quando com chineses ele se tornava um chinês, quando entre negros, um negro. O filme é criativo, engraçado e bastante curto ( 78 minutos ). Mas dá uma certa frustração. Gostaria de ver Zelig falar : o filme é todo narrado e exibido como jornal de cinema, fotos e som. De qualquer modo, cenas como a dos nazistas, Zelig negro e as sessões de hipnotismo são hilárias. 7.
KRAMER VS, KRAMER de Robert Benton com Dustin Hoffman e Meryl Streep
Em entrevista recente Hoffman diz que guarda dois arrependimentos na carreira : a de não ter aceitado filmar com Fellini e Bergman. Ele pensou na época que teria tempo para fazer filmes com os dois. Não teve. " Diretores como eles não existem mais". Fellini o convidou para ser o Casanova. Dustin recusou e Donald Sutherland ficou com o papel. Bergman o chamou para a Hora do Amor em 1970 ( Bergman achava Hoffman um ator tão bom quanto Max Von Sydow ). Dustin preferiu fazer O Pequeno Grande Homem. Em 1977 Bergman tentou de novo. Era para fazer O Ovo da Serpente. Foi esnobado novamente. Bom...... se não existem mais Federicos e Ingmars, existem Bentons de montão. Este é um filme quadrado. Nada é invenção, tudo é convenção. O pai é abandonado pela esposa. É um publicitário bem sucedido. Ao ter de criar o filho vê a carreira ir pro espaço. E a megera ainda volta querendo o garoto ! Meryl é a megera. Ganhou seu primeiro Oscar aqui. Mas o filme é de Hoffman. Ele o salva do ridículo. Graaaande ator, seu Kramer é absolutamente verdadeiro. Uma aula de como ser gente-comum, gente banal, vulgarmente como nós todos somos. Ele dá um show. Kramer é um dos filmes mais detestados por fãs de cinema radiciais pelo fato de no Oscar de 1979 ter derrotado Apocalypse Now e All that Jazz ( além de O Vencedor, Muito Além do Jardim e Blade Runner ). Que culpa tem Kramer ? Ele tem cara de prêmio. O filme é comum, Dustin Hoffman nunca é. Nota 7.
48 HORAS-PARTES 1 E 2 de Walter Hill com Nick Nolte e Eddie Murphy
Deliciosos filmes de ação. O primeiro, de 1982, ainda tem jeito de filme dos anos 70. Tenta-se mostrar a psicologia dos personagens. É mais triste, vazio e árido. O segundo, de 1990, já é ação pura. Mais tiros, pulos, sangue e inverossimilhanças. Os dois são dominados por Murphy, ele é bom pra caramba ( e no segundo cria a persona do burro de Shrek , confira ). Dois bons exemplos da bela safra ( 72/92 ) de filmes de ação. Nota 7.
O MAGNÍFICO de Philipe de Brocca com Jean-Paul Belmondo, Jacqueline Bisset e Vittorio Caprioli
Veja a história : um agente secreto, Bob Sanclair, salva o mundo livre de bandidos da Albânia. Sangue jorra, mulheres são beijadas, golpes de karate. Um corte. Na verdade é um escritor- gripado, sujo, relaxado- quem escreve sobre Bob Sanclair. O filme é engenhoso : ele se balança entre a vida real do autor e a fantasia do que escreve. Desse modo, a vizinha linda e distante ( uma Bisset maravilhosa. Impossível beleza maior ! ) se torna a garota de Sanclair e o editor dos livros é o vilão. Trata-se de uma comédia deliciosa, um sátira à Bond e a filmes sanguinolentos. Belmondo esbanja carisma, ele é adorável, comediante de brilho genuíno. Quem não gosta de cinema francês terá aqui uma humilhante surpresa. Cenas como a dos personagens do livro parando de falar porque uma tecla da máquina de escrever emperrou são criativamente fantásticas. Mas também acontecem cenas reescritas, mudanças de tom, hesitações e exageros à granel. Comparar este filme com aquele lixo de Will Ferrel demonstra onde estamos hoje : oceano de pretensão vazia. Nota 8.
O PÃO NOSSO de King Vidor
Há quem considere Vidor o maior diretor que os EUA já tiveram. Não foi. Mas nobre e corajoso não houve igual. Este filme, totalmente socialista, foi feito com o dinheiro da sua casa hipotecada ( Vidor já era famoso. Mas ninguém queria financiar um filme sobre socialistas fazendeiros ) então ele vendeu tudo o que tinha e fez o filme. Seria como se Daniel Filho vendesse suas coisas para fazer um filme sobre os sem terra. Feito no auge da depressão, ele é didático e ultrapassado em seu otimismo marxista. Mas caramba, o ser-humano precisa crer em algo ! King Vidor acreditou sempre. O filme é raro e é uma peça de dignificação da profissão de cineasta. Nota 7.
STREET SCENE de King Vidor com Sylvia Sidney
Obra-prima do cacete !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Adaptando sua própria peça, Elmer Rice, importante autor de teatro americano, o cara que trouxe a vida das ruas para o palco; nos dá um texto que é milagroso. Os diálogos faíscam e ricocheteiam. King Vidor, em momento de supremo brilho, mostra a vida da rua. Todo o filme se passa na calçada. Fofoqueiras, prostitutas, imigrantes ( um italiano, um judeu comunista - o filme fala abertamente de anti-semitismo e de marxismo- e irlandeses tolos ). O centro é uma família em que a mãe chifra o marido abertamente e a filha é cortejada pelo patrão. O marido irá matar a esposa e vemos que não haverá futuro algum para a filha ( feita por Sylvia Sidney, excelente e belíssima ). O clima é todo urgente, febril e sórdido. Vemos o intelectual judeu em sua passividade assustada ( o filme é de 1931 e antecipa o espírito de opressão contra os judeus que nascia na Alemanha ), as vizinhas vigiando tudo o que todos fazem, os comentários hipócritas. King Vidor, gigante personalidade, nos dá um filme perfeito. Tomadas de Nova York, janelas com seus moradores, crianças nas ruas, carros engarrafados, polícia na rua... um filme vivo e mais de vinte anos adiante de seu tempo. E tem Sylvia Sidney... que linda ! Obrigatório. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
NO CALOR DA NOITE de Norman Jewison com Sidney Poitier e Rod Steiger
Em 1967 todo cinéfilo queria ver a vitória de Bonnie e Clyde nos Oscar. Afinal, Bonnie foi o Pulp Fiction de seu tempo. Mas assim como Tarantino perdeu para o Forrest Gump, Clyde perdeu para este filme. Que assim como Gump, é um ótimo filme. Fala sobre racismo. Mas o tom nunca é pesado. Porque há um genuíno prazer aqui : Steiger e Poitier brincam com seus papéis. Se voce quer ver dois atores brilharem e terem prazer em trabalhar veja este filme. Poitier como Mr, Tibbs faz o negro policial perdido no sul hiper-racista. Steiger, genial, é o delegado gorducho, caipira, arrogante e hilário. O filme é o trabalho dos dois, todo o resto é secundário. Nos divertimos intensamente, rimos e ficamos nervosos, mas o prazer está sempre aqui. Para ajudar há uma trilha sonora sublime, de Quincy Jones. Mereceu tantos prêmios ? É melhor que Bonnie e Clyde ? Que importa ? É genuíno cinema pop, do mais alto profissionalismo. Rod Steiger foi melhor ator e Jewison perdeu o de melhor direção para Mike Nichols. Nota 8.
2012 de Uma equipe de espertos Produtores
Em 1977, numa entrevista, George Lucas dizia que é muito fácil produzir emoção na platéia de cinema : pegue um ratinho e torça seu pescoço- está criada a emoção. Difícil é criar personagens, caráter, enredo. Lucas estava certo. O que faz Star Wars ficar são seus tipos. 2012 é um rato tendo seu pescoço torcido. Filma-se o fim de todos os ratos. Emociona ? Claro ! É tão emocionante quanto ver um motoboy ser atropelado e tem tanta arte quanto filmar uma video-cacetada. Porém, lógico, tem uma habilidade técnica espantosa. Habilidade que só o dinheiro traz. No mais, não consigo deixar de perceber que tudo aquilo é desenho animado. Não me venha falar em siglas bacanas; trata-se de animação. Não me convence : as cidades parecem cidades de cartoon. Do rato torcido eu teria pena e indignação, aqui, me deu vontade de rir. Nota 3.
A ÚLTIMA TEMPESTADE de Peter Greenaway com John Gielgud e Michel Blanc
Já se levou Peter a sério. Entre 82/92 ele foi considerado o cara. Um artista refinado, o futuro do cinema, o mais intelectual. Hoje, ele é o que é : um chato pretensioso. Seus filmes são barrocos : um carnaval de cenários coloridos, gente passando, letreiros, música minimalista, vestidos imensos, muita nudez, textos longuíssimos. É um anti-Von Trier com o mesmo espírito de Von Trier : enganação de quem nada tem a dizer de verdadeiro. Este filme, cheio de imagens "lindas", cenas postas sobre cenas, tela dividida, bailarinos de fundo, Gielgud recitando Shakespeare, é uma besteira. Tem tudo de ruim dos anos 80. Rico, afetado, luxuoso, bonito, erudito, chic e muuuuito vazio. Nota 2.