The Epic Of Gilgamesh In Sumerian



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GILGAMESH, AQUELE QUE VIU O ABISMO

   Gilgamesh é meio humano meio deus. Rei de Ur, ele estupra filhos e filhas, é cruel, não tem limites. Da água surge o primeiro homem moderno, feito de barro. Gilgamesh é freado por ele, e os dois se tornam amigos. Juntos vencem lutas, viajam, exploram. Mas o humano morre e descobrindo a morte, Gilgamesh entra em crise. Vagueia pelo mundo. No final, encontra alguma paz ao entender que Ur justifica sua vida.
   Até o fim do século XIX não se sabia desta saga. Então ela é descoberta no Iraque. São 12 tabuinhas de barro com os hieróglifos assírios. Datam de 2000 antes de Cristo. São 1500 anos mais velhos que Homero ou que a Bíblia. Estão para eles como Santo Agostinho para nós. São de uma humanidade velha de 4000 anos. Inimaginável de tão arcaica. Ler Gigalmesh é quase ver o começo do humano.
   Eles acreditavam no dilúvio. Uma parte do épico fala de dilúvio e da arca. A deusa do amor é a mesma da guerra, e a amizade entre homens era muito mais importante que a relação homem e mulher. O sexo era explícito, se transava muito e a prostituta era quase uma sacerdotisa. Não se fala de exércitos. As lutas eram individuais. O homem tinha de ser peludo, barba longa, cabelo longo, pelos no corpo. Havia ainda leões e ursos no oriente e já se destruíam florestas virgens para conseguir lenha. As armas eram de bronze. Centenas de deuses, o mais poderoso era Sharmat, o sol.
  Há um espírito triste no poema. Mas não melancolia. É uma tristeza animal, indolente, que se resolve com sangue. Não há filosofia. A dor da morte se resolve com a ação. Os porquês são respondidos com luta.
  Gilgamesh sumiu por 2000 anos. Não se fala dessa obra após o ano zero de nossa era. E volta a ser lido a partir de 1910. Da introdução não há ideia mais perturbadora que aquela que diz que a escrita não se explica pela evolução. Ela não nasce aos poucos. Ela surge em uma cultura já completa, com verbo, sujeito, rima e sentença. Como isso se deu é impossível saber. Na Babilônia, na China, entre os Sumérios e egípcios, ela não vem como imitação de outra escrita, ela nasce do oral, do zero, do nada. E explode já feita grande. Não há sinal de evolução, de lenta construção. Não há rascunho.
  Gilgamesh é isso.

The Walker Brothers - The Sun Ain't Gonna Shine Anymore - Scott Walker ...



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scott walker, 30th century man, Proms 15



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SCOTT WALKER, UM GÊNIO QUE DESCUBRO AGORA.

   Uma das coisas que diferenciam uma pessoa realmente interessada em arte e outras superficialmente ligadas é a pesquisa. Acabo de ler o livro sobre Bowie, e nele, leio que o artista londrino foi sempre interessado e influenciado por Jacques Brel e Scott Walker. Brel, compositor, ator e cantor belga, me é conhecido desde meus 18 anos, mas Walker eu jamais escutei. Ouço falar dele muitas vezes, ele é citado por Thom Yorke e Jonny Greenwood, Damon Albarn e Robert Plant, Pulp e Johnny Marr. E Bowie, insistentemente. Há um momento no livro, logo após a gravação de Heroes, em que Brian Eno aparece na Suíça com Nite Flight, album recém lançado por Scott Walker. O americano fazia então, por sincronia, o disco que Eno queria fazer E NÃO CONSEGUIA. No documentário recente, produzido por Bowie, que posto acima, Eno diz que Walker o humilha até hoje. Nite Flight parece ter sido gravado em 2010, 2020, é do ´século XXXI.
  Scott Walker é americano do interior e formou em 1964 o grupo Walker Brothers. Venderam quase tanto quanto os Beatles e em 1966 se mudaram para Londres. Os Brothers não se chamavam Walker e nem eram irmãos. O som deles, se escutado hoje, e eu os ouvi pela primeira vez ontem, é ainda muito, muito interessante. Orquestral, complexo, ele é pop e nostálgico, cheira a anos 60, e ao mesmo tempo tem uma riqueza melódica e sentimental atemporal. A orquestração é digna de Bacharach ou melhor, de John Barry. Mas o maior valor é a voz de Scott: é um estupendo cantor, seu timbre é aquele que Bowie tentou alcançar e raramente conseguiu, é a voz que Thom Yorke precisava ter e sonhou ter, é a voz etérea, sofrida, composta, forte de um homem.
  Mas a genialidade vem em seus primeiros seis discos solo. Gravados entre 1967 e 1984, os 3 primeiros foram big hits, mesmo com toda sua estranheza, os demais são fracassos de vendas e monumentos de arte. Como os descrever? É como se Morrissey cantasse Beatles com a voz de Tom Jones. Ou como se Bryan Ferry tivesse voz. Ouço e apesar de nunca haver escutado, sinto como se desde sempre conhecesse aquilo. A música de Walker é como um tipo de ambiente ( Eno ), um lugar cheio de mistério, onde a gente mora sem saber que lá está. Dá medo. Muito medo. Scott Walker tem a voz de Jung. Ele mergulha fundo no inconsciente musical e volta à tona com objetos insuspeitos. Tão noturno como Astral Weeks, tão inquieto como Arthur Lee, e sem se parecer em nada com Van Morrisson ou com a banda Love.
  Uma das alegrias da pesquisa curiosa é descobrir gente que sempre esteve lá mas que a gente não via. Scott Walker abre todo um universo vibrante e a ser explorado. Seus últimos discos, de 2004 e 2010, não me agradam. Parece que ele empacou num tipo de monotonia escura. Mas penso que são tristes demais, pesadelos em forma de sinfonia atonal. O que mais posso dizer? Voce tem de ouvir Scott Walker. Ao menos uma vez. Mesmo que voce nada entenda.
  PS: Não é rock. Nada de blues, country ou soul há nele. É filho da canção francesa e alemã. 

David Bowie – Sweet Thing-Candidate-Sweet Thing (Repr.) - Live at the Un...



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David Bowie - BBC Live - Diamond Dogs & John, I'm Only Dancing (January ...



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O HOMEM QUE VENDEU O MUNDO - DAVID BOWIE POR PETER DOGGET

   Não é uma biografia de Bowie. O autor analisa todas as canções que o rei dos anos 70 compôs, em ordem de composição, e no processo nos conta a saga do londrino genial naquilo que ele viveu de melhor, a década de 70, segundo o autor, a mais triste das décadas.
   Peter Dogget escreve muito bem. Sua descrição das canções, para quem as conhece, são perfeitas. Ele aponta TODAS as influências, entrega os plágios, descreve o som de um modo saboroso. Temos vontade de correr e reouvir tudo. E descobrir aquilo que nunca escutamos ( muito pouco em meu caso ). Segundo o autor, Bowie amava Judy Garland, era seu maior ídolo, e perto dela vinham Sinatra, Sammy Davis Jr e Marlene Dietrich. Bowie era doido por cinema, por artes visuais, e o rock era apenas o meio onde ele cresceu, o modo natural de se fazer grande. Mas não sua paixão central. Daí sua importância primordial: Bowie é o cara que traz para o rock aquilo que não era do rock. Ele o vê como ator, como performer. É um artista que interpreta o papel de rock star. Ou de menestrel folk. Ou de inovador pop.
  Ele poderia ter sido um folk star até 1970. Sua maior influência era a dupla Simon e Garfunkel. E Neil Young. Ao conhecer Tony Visconti, produtor de gênio, Ken Scott, engenheiro de som mágico, e Mick Ronson, seu guitarrista de blues e arranjador de extremo gosto, Bowie abraçou o rock. E o modificou para sempre.
  Ele era um grande leitor. E em 1970 lia aquilo que aqui no Brasil Paulo Coelho lia. Ocultismo. Cabala. Crowley. Hermes Menegisto. Nietzsche. Impressiona a energia de Bowie. Ele estava sempre em movimento, gravando, compondo, fazendo shows, escrevendo roteiros, indo a exposições, lendo, e se drogando muito. Entre 74 e 76 ele foi o rei do pó.
  O autor desgosta de várias canções de Bowie. Isso dá certa isenção ao livro. Ele acha Transformer de Lou Reed banal, e Raw Power mal é citado. Ziggy, o LP, é visto como importante e criativo, porém, musicalmente pouco instigante. As letras são o foco da genialidade de Bowie. Diamond Dogs é para ele uma obra-prima de invenção sonora. Uma massa de sons, ruídos, harmonias e símbolos ocultistas digno de um feiticeiro. Peter considera Dogs e Station To Station os mais altos pontos da vida de Bowie. ( Low e Hunky Dory vindo em seguida ). O autor destrói Lodger, considerado frouxo, e dá um retrato sublime de Young Americans, o auge da voz de David.
  No final ele fala por alto do Bowie dos anos 80, 90 e 2000. O livro foi escrito um ano antes de sua morte. Outside e Heathen são considerados tão bons quanto Low ou Dogs, mas são irrelevantes. O mundo do século XXI não ouvia mais Bowie. Apenas os fãs. Os clones fizeram dele um tipo de matriz. Um molde. Mas não um cantor relevante. Bowie era um artista para descobertas e não para nostalgia. Quando fez 33 anos, em 1980, deixou de ser um descobridor e se tornou um diluidor. Juntou dinheiro como nunca. Mas o artista já dera seu recado.
  Peter destaca Bowie em 1992, na homenagem à Mercury, rezando o Pai Nosso no palco, ao fim de Underpressure. Para Peter aquele era o verdadeiro Bowie. No mais inadequado dos lugares, no mais inesperado dos momentos, ele larga sua ironia e reza DE VERDADE. Ironia dentro da ironia, a ironia de não ser irônico. A luta de Bowie, luta para ser alguém, não pela fama, mas ser alguém que se possa chamar de PESSOA, acaba no retiro. Seu corpo fraqueja. Ele para de procurar. Encerra.
  Leia o livro e veja a descrição que ele faz do começo de Station To Station. É exatamente o que senti na época ao ser pego de surpresa pelo som esquisito do disco. Não parecia rock. Não era pop. Não era negro. Não era nada. Mas era alguma outra coisa.
  Nunca haverá outro Bowie porque o mundo do rock não precisa de artistas. E quando eles surgem, e Damon, Peter ou Harvey tentam o ser, tudo que podem fazer é estender Low ou Dogs ou Scary em novas frentes. Bowie ao parir a arte no rock, a arte depressiva e expressiva, matou o futuro dessa arte, que precisaria ser sempre nova, mas que por sua causa sempre pareceria derivada. Bowie trouxe ao rádio o que Eno, Lou, Can, Faust, Neu e John Cale faziam para poucos. No processo ele amplificou sua cópia. Vestiu o rock de arte. E vendeu o invendável como estilo e charme.
  Foda.

O RINOCERONTE BRANCO.

   O último rinoceronte branco se foi. Não há mais machos da espécie, apenas fêmeas. Deixaram de fazer parte deste mundo. Testemunhas quietas de milhares e milhares de eventos, durante milênios pastaram pelas savanas e pelas selvas cumprindo seu destino.
  Mas voce pode perguntar: Pra que servia um bicho desses? E eu te respondo: Pra que serviu extinguir ele? O que nós ganhamos com isso?
  Posso dizer o que ganhamos: Vergonha. Maior pobreza animal. A culpa perante a natureza que o criou para existir e desparecer em seu tempo, aos poucos, e sendo substituído por outro rino. Apressamos seu fim, criamos seu fim de forma artificial. Reis da artificialidade, negamos cada vez mais a natureza e nos tornamos estéreis, flácidos, engordados e inchados de ego e de satisfação que não dura um suspiro.
  Eu não perdoo. O fim do Tigre branco. O fim do Tylacino. O fim do Rino. O mundo fica mais vazio e o crime fica sem motivo. Como espécie somos bobos, crianças que matam sem motivo, quebram coisas sem saber para que elas servem. Somos a maior das criações e ao mesmo tempo a mais fútil das coisas vivas.
  Todo animal é nobre por ser apenas aquilo que ele nasceu para ser.
  Somos nobres quando negamos aquilo que aparentemente nascemos para ser. Mas tragado pelo hedonismo babaca e pelo ato sem consequência, nos tornamos nada mais que um predador de barriga cheia. Um execrável excremento.

AMOR AOS FILMES

   Posso dizer com toda a certeza, que desde meus 20 e poucos anos, nunca tive tão pouco interesse pelo cinema. Mais que em qualquer outra arte, o cinema para mim só existe como paixão enquanto parece ser uma descoberta. Quando eu tinha 14 anos de idade, o cinema era um mundo todo novo. Depois, aos 28, 29 anos, descobri a história mais antiga do cinema. E aos 40, comecei minha coleção de dvds. Com o tempo essa coleção se completou e percebi que 85% dos grandes filmes não eram mais inéditos para mim. Eu planejara ser a hora então de perseguir as novidades, eu passara a ter tempo para o cinema de agora. Mas esse cinema me fez brochar. As manias e os vícios do cinema dos anos 2000 mataram minha paixão e me deram tédio. O cinema morreu. Ele hoje vive como um tipo de passatempo ou uma rememoração daquilo que ele um dia foi. O CINEMA É AGORA AQUILO QUE O TEATRO É DESDE 1900. OU O QUE O JAZZ É DESDE 1960.
  Melhor dizendo, é circo.
  Mas eu vejo filmes ainda. Poucos. Nos últimos meses assisti estes...
  TEMPESTADE, PLANETA EM FÚRIA de Dean Devlin com Gerard Butler, Abbie Cornish.
Mais um fim de mundo. No futuro um satélite nos protege do kaos. Mas ele é sabotado. Butler é o cara que construiu a coisa e vai lá a consertar. Sim, voce já viu esse filme contado de mil formas iguais. Alguém disse que os efeitos especiais já estão em decadência. Eles eram usados para aperfeiçoar um filme. Agora são apenas o mínimo que se espera de qualquer filme. Este é comum. Nem bom nem ruim.
  O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS de Sofia Coppola. com Nicole Kidman, Colin Farrel, Kirsten Dunst, Elle Fanning.
Que filme ruim! Uma refilmagem flácida, tola, capenga, metida a besta, do filme de 1971 de Don Siegel com Clint Eastwood. O original é uma produção esquisita. Um filme de horror, de dor e de medo, em que um soldado confederado é castrado por um bando de mulheres. Clint dá sua primeira interpretação séria, faz um pobre homem ferido que se pavoneia em meio a seu harém, mas que acaba como um objeto quebrado e inútil. Aqui, Sofia, em seu pior filme, pesa a mão no esteticismo árido e o filme não existe. O que era sutil e erótico se torna pesado e falso. Um completo fiasco.
  KINGSMAN, O CÍRCULO DOURADO de Mathew Vaughan com Mark Strong, Colin Firth.
Fraco. O primeiro foi um bom filme, divertido, leve, nada pretensioso. Este é hiper produzido, histérico e se enrola numa história muito forçada. Nada de especial.
  A MALDIÇÃO DA MOSCA de Don Sharp
A mosca da cabeça branca, de 1957, é um pequeno clássico de horror. Foi refilmado por Croenenberg em 1986. Esta é uma continuação do primeiro filme feita em 1965. É ruim. Se perde num romance bobo e não tem uma só pitada de medo. Lixo.
  DESTINATION GOBI de Robert Wise com Richard Widmark
O pior filme de Wise, um diretor que sabia tudo de cinema. A história é fraca, não temos interesse em ver um grupo de soldados na Mongolia.
  BOEING BOEING de John Rich com Tony Curtis e Jerry Lewis.
Feito em 1965, é uma comédia inacreditavelmente machista. Hoje seria impossível de ser feita. Tony é um playboy jornalista que namora 3 aeromoças ao mesmo tempo. Ele mente para a as 3. Jerry vem dos EUA e tenta tirar uma casquinha das meninas. O filme é feito de diálogos maliciosos e de Tony lutando para salvar suas mentiras. Lembro de assistir com meu irmão na TV, por volta de 1976. A gente acreditou que essa seria nossa vida de adultos.
  A PAIXÃO DE UMA VIDA de John Ford com Tyrone Power e Maureen O´Hara.
Ò John Ford ! Este é um dos menos queridos de seus filmes, e mesmo assim ele conseguiu me fazer lembrar da paixão que eu tive um dia por filmes...É a história, simples, singela, ingênua, de um rapaz que passa toda sua vida numa academia que forma oficiais. Juventude, casamento, velhice e morte. Ford canta, não conta, canta sua saga cotidiana e encanta quem ainda crê nesses valores antigos e preciosos. Ele filma fácil. Ele ama seus personagens. Ele é sincero. Amei este filme.
  KIM de Victor Saville com Dean Stockwell e Errol Flynn.
Não, não é nem um terço do que poderia ser. Muito Dean e pouco Errol. Envelheceu mal esta fantasia juvenil passada num oriente de cartoon.
  NUNCA ME DIGA ADEUS de James V. Kern com Errol Flynn e Eleanor Parker.
Começa mal. Muitas cenas com a menina que divide seu ano entre seu pai e sua mãe divorciados. O pai, Errol sendo Errol, é um playboy que adora festas e inventa histórias. A mãe ainda gosta dele, mas está descrente. O filme cresce ao deixar Errol exercer sua suavidade esperta. Ele carrega o filme nas costas.
 

A speck in the cosmos: the inner frontiers of Raoul Walsh’s Pursued



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RAOUL WALSH

   O cinema de ação foi criado por 4 ases e um coringa. Os 4 são William Wellman, John Ford, Michael Curtiz e Raoul Walsh. O coringa é Howard Hawks. Hoje é aniversário de Walsh e sem saber disso vi ontem um filme dele. The Tall T. não é um dos grandes filmes de Raoul, mas é um bom filme. O que o deixa um pouquinho gasto é seu humor fora de lugar. Dos cinco nomes citados, apenas Hawks tinha humor natural. Os outros quatro sempre são leves, mas jamais engraçados ( mesmo que Ford tente, ele consegue atingir o dom da alegria, mas não nos faz rir, mas em cenas de brigas ou em família nos faz felizes ).
  Walsh é o mais velho deles. Começou como ator nos anos de 1910, ficou cego de um dos olhos em um acidente, e com tapa olho de pirata, passou à direção. Nos anos 20 fez 3 grandes clássicos de aventura. Seu Robin Hood é ainda o mais animado. Walsh inventou um tipo de cinema de ação todo centrado na comunidade. Ford destaca o indivíduo, Wellman dá foco à dor e à absolvição, Curtiz é aquele que luta por ser impessoal e Hawks é o mais pessoal dos cinco. Curtiz seria o ancião contando uma história e Hawks o jovem que a vive sem se apressar.
  Walsh dá um panorama geral, depois destaca uma ação. Em seguida escolhe o herói e planta sua prova de superação. Vem o desenvolvimento da personalidade e então a chegada do grande teste. Esse esqueleto está presente em todos seus filmes de ação. Vemos onde e quando se passa o filme, depois vem a ação que vai repercutir por todas as duas horas de espetáculo. Em seguida somos apresentados ao herói e acompanhamos seu cotidiano. Se anuncia a volta da grande prova e então vem o risco e a vitória. Ao final, o novo começo.
  Um filme de ação ruim apresenta uma cena de ação inicial sem qualquer significado. Ela acontece sem qualquer peso e sem história. Mata-se, corre-se ou foge-se sem qualquer consequência futura.
  Um filme ruim não apresenta seu ambiente. Mal entendemos onde e quando a coisa acontece. E pior que tudo, vemos o herói apenas em ação. Ele não se torna uma pessoa, ele é somente um tipo de máquina de ação.
  Pior de tudo, a prova final não existe. O filme ruim tem tantas provas que nenhuma se torna definitiva. Cada ação nada significa porque todas são transitórias. Elas nada resolvem. São um tipo de dança sem propósito.
 Walsh sabia construir a ação por instinto. Ele havia sido caçador, pescador, marinheiro e mineiro. Tudo isso até os 20 anos de idade. Ele vivera cenas de ação. Não as aprendera no cinema, as sentira na vida. Desse modo, ele as construía como coisas reais, e não como a fantasia de um mundo sem tempo e sem lugar. Cada ato tem um peso e cada peso tem um preço. Tudo leva à um fim. Um destino ou uma conclusão.
  Quanto a moral da história, ela não existe. Walsh conta uma aventura. E ele pensa que a moral está na aceitação dessa aventura. Mais nada. Para ele, viver é agir. E mais nada.